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ISSN: 2236-4366
Reitor
Marcelo Augusto Santos Turine
Vice-Reitora
Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Nalvo Franco de Almeida Junior
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Esporte
Marcelo Fernandes Pereira
Diretora da Faculdade de Artes,
Letras e Comunicação
Vera Lúcia Penzo Fernandes
Coordenador do Curso de Música
Licenciatura
Gustavo Rodrigues Penha
Coordenação Geral
Luis Felipe Oliveira (UFMS)
Coordenação Artística
William Teixeira (UFMS)
Coordenação Executiva
Gustavo Rodrigues Penha (UFMS)
Mariana de Araújo Stocchero (UFMS)
Monitores
Adriana Souza da Silva Leticia Maria Nunes Lechuga
André Luiz Terêncio Ramão Natália Santos Almeida
Evelyn Nayara Verga de Lima Vanessa Araújo da Silva
Gabriela Simões Lima Vinícius Alves Maciel
Gilberto Pereira Rodrigues Victoria Talamini Rojas
Giulia Leal Reis Pinho (auxílio diagramação)
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
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Anais
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It is with immense gladness that we present to the academic community the Abstract
Book of 14th International Symposium on Cognition and Musical Arts, our SIMCAM
14. In this year of 2019, the symposium accomplishment is overlaid with a special
character due to the additional challenges that have stood in front of all which were
involved with its production. Notwithstanding difficulties, the sentient action of
people — in the end, institutions are nothing more than the people that constitute them
— from the Brazilian Association of Cognition and Musical Arts (ABCM) and Federal
University of Mato Grosso do Sul (UFMS) was what make possible to overcome them,
especially in times of great uncertainty. Beyond the actions, a scientific event is not
possible without funds and in this sense we own to praiseworthily acknowledge the
National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) and the
UFMS Office for Extension, Culture and Sports (PROECE), by means of the 2019
PROFE Public Call, and the Social Service of the Commerce (SESC). We shall express
our deep gratitude for the Brazilian and foreigner researchers that have accepted the
invitation to partake in the numerous academic activities which constitute SIMCAM
14 programme, especially because in the time the invitations were made we did not
know whether we could afford even for the air fares. Last, but not least, we manifest
out acknowledgment to all associated researchers that, with their work and
contributions, keep ABCM alive — SIMCAM 14 was conceived for you all, and it is
an honor to have you in Campo Grande, MS, Brazil.
12 (ABCM)
Sejam bem-vindo(a)s ao SIMCAM 14!
Em nome da diretoria da Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais (ABCM) quero
dar as boas vindas a todos os conferencistas brasileiros e estrangeiros, pesquisadores, professores,
alunos e colaboradores de tantas instituições do Brasil e do exterior, que vieram participar desta
edição do Simpósio, contribuindo significativamente para a ampliação do conhecimento na
área da cognição musical. O SIMCAM retorna à região Centro-Oeste, onde já esteve em três
edições, sinalizando um claro avanço da área, particularmente no Brasil, tendo recebido a
submissão de mais de 110 trabalhos. Isto ocorre num momento em que a Associação vem se
preparando para colaborar ainda mais efetivamente no agenciamento da interação entre os
pesquisadores dedicados à cognição musical, a partir da consolidação de variados serviços via
website. A aproximação das ações entre os pesquisadores é nossa prioridade e para isto
procuramos desenhar um simpósio mais produtivo em termos de debates e trocas, visando
modelos cada vez mais semivirtuais e multicentros para as próximas edições do evento.
Gostaríamos de agradecer o empenho de toda a comissão organizadora do SIMCAM 14, em
especial do coordenador geral do evento, Dr. Luis Felipe Oliveira, que conduziu da melhor
forma a parceria da ABCM com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), assim
como a relação com as instituições de apoio como o CNPq e o SESC/MS. E da mesma forma
agradecemos à diretora científica do Simpósio, Dra. Regina Antunes Teixeira dos Santos, e aos
diretores de avaliação e pareceristas pelo trabalho enriquecedor que ofereceram, assim como a
todos os pesquisadores convidados e autores de trabalhos, performers, alunos monitores, enfim,
a todos que possibilitaram a realização exitosa de mais um SIMCAM.
Saudações e um ótimo simpósio a todos!
Marcos Nogueira
Diretor Presidente
ABCM President
Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais
Anais
Resumo
O que se entende por análise schenkeriana é um método analítico desenvolvido por Heinrich
Schenker em diversos textos, sintetizado na obra Der freie Satz, publicada postumamente em 1935
(em inglês foi publicada em 1979 com tradução de Ernest Oster). Essa metodologia, bastante
difundida desde então, apoia-se sobre a compreensão de Schenker sobre a estrutura tonal e as suas
formas de organização em múltiplos níveis, dentro de uma teoria que procura estabelecer os
princípios da coerência tonal. É importante ressaltar que apesar de muitos conceitos schenkerianos
se correlacionarem a aspectos psicológicos e filosóficos da música, o próprio autor não fez grandes
incursões a esses domínios. Entretanto, teorias surgidas posteriormente dentro do domínio da
cognição musical parecem oferecer justificativas interessantes para diversos conceitos analíticos
schenkerianos que são relacionados a processos de escuta estrutural. Destacamos o trabalho de
Leonard Meyer e, posteriormente, de David Huron, que investigam ambos a noção de expectativa
musical. Neste artigo, verificamos se existe confluência entre as formulações lacônicas de Schenker
e as teorias psicológicas de Meyer e Huron, especialmente com relação ao conceito schenkeriano
de estrutura fundamental ( rsatz).
Palavras-c ave: análise schenkeriana, cognição musical, expectativa musical, significação musical
Abstract
What one understands by the term Schenkerian analysis is an analytical method developed by
Heinrich Schenker in several texts, synthetized in the work Der freie Satz, posthumously published
in 1935 (in English it was published in 1979 in a translation by Ernest Oster). This methodology,
very well know thus far, bears over Schenker’s comprehension on tonal structure and its forms of
organization in several levels, within a theory that seek to stablish the principles of tonal coherence.
It is of importance to stress that although several Schenkerian concepts correlate to psychological
and philosophical aspects of music, he himself did not make any incursion into these domains.
However, theories which have posteriorly arisen within the domain of music cognition seems to
furnish interesting justifications to several Schenkerian analytical concepts which are related to
processes of structural hearing. We emphasize the work of Leonard Meyer and, after, of David
Huron, that investigate both the notion of musical expectation. In this paper we verify whether
there is confluence between the laconic formulations of Schenker and the psychological theories of
Meyer and Huron or not, especially with relation to the Schenkerian concept of fundamental
structure ( rsatz).
e words: Schenkerian analysis, music cognition, musical expectation, musical meaning
IN RODU ÃO
O que se entende por análise schenkeriana é um método analítico
desenvolvido por Heinrich Schenker em diversos textos, sintetizado na
obra Der freie Satz, publicada postumamente em 1935, meses após a morte
do autor (em inglês foi publicada em 1979 com tradução de Ernest Oster).
Essa publicação pode ser considerada a síntese do pensamento musical
desenvolvido pelo musicólogo ao longo de seus escritos, que de maneira
sucinta pode ser entendido como a busca por uma lógica gerativa do
sistema tonal. A maneira gráfica que Schenker encontra em Fünf rlinie-
Tafeln (publicado originalmente em edição bilíngue em 1932) e em Der
Freie Satz¹ para representar as relações estruturais existentes em uma obra
musical tonal é, acreditamos, o que tornou seu nome tão difundido na área
da análise e da teoria musical, especialmente na musicologia em língua
inglesa. A síntese final da teoria schenkeriana da coerência tonal decorre
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Figura 1. Três modelos de estrutura fundamental postulados por Schenker (In: Forte & Gilbert,
1982, p. 133).
rigorosa do que uma cadência comum deve ser, com relação à condução de
voz. Destarte, toda a coerência tonal, do nível da frase ao nível da forma
musical como um todo, decorre da estrutura cadencial em sua forma mais 333
restrita, a estrutura mais básica e primordial na música tonal. A união da
linha fundamental sobre um baixo arpejado (sobre as fundamentais) é a
unidade indissociável (Schenker, 1979, p. 11) que confere coerência às obras
musicais. Nas palavras de Schenker (1979, p. 6, grifos do autor): “Coerência
musical pode ser alcançada apenas através da estrutura fundamental no nível
profundo e suas transformaç es nos níveis intermediário e superficial.”³
Semper idem sed non eodem modo⁴ (1979, p. 6) é a máxima que Schenker
emprega para elucidar que a generalidade do modelo de estrutura funda-
mental é a forma mais abstrata e imutável, portanto perene nas mais variadas
obras que formam o repertório tonal, assumindo um papel gerativo na
descrição schenkeriana da forma musical.
A estrutura fundamental está sempre criando, sempre presente
e ativa; este “presente contínuo” na visão do compositor
certamente não é mais admirável do que aquele que emana da
verdadeira experiência de um momento no tempo: nesse
espaço muito diminuto sentimos algo muito parecido com a
percepção do compositor, isto é, o encontro do passado, do
presente e do futuro. (Schenker, 1979, p. 18, aspas do autor)
Isso que é sempre igual, que está sempre presente, que é a origem de todo
e qualquer desdobramento contrapontístico individual sintetiza, para o
autor, o fluxo temporal entre o passado, o presente e o futuro na escuta, algo
que o compositor vivencia no processo criativo. Se há algo permanente em
todas as obras, há individualidades que as diferenciam. Os três níveis de
descrição propostos pelo musicólogo – profundo, intermediário e superficial
– possibilitam se compreender e visualizar graficamente suas inter-relações.
A Figura 2 apresenta a análise do coral Ich bin s, ich sollte büssen de J.B. Bach
publicada por Schenker (Schenker & Salzer, 1969, pp. 32-33). Nesta análise
podemos perceber que o autor descreve a peça musical em cinco níveis: o
nível profundo ( rsatz, acima no gráfico); três níveis intermediários (Schicht 1,
2 e 3); e o nível superficial (abaixo). Estruturalmente, a obra configura-se como
a variável mais simples do modelo de estrutura fundamental: 3–2–1, respec-
tivamente do – si – lá na tonalidade de Lá Maior. Quando Schenker diz que
“sentimos algo como a percepção do compositor” entendemos o sentido
gerativo que ele dá à estrutura fundamental, ao sugerir que o compositor, ao
compor com as notas que escolhe, as direciona tendo em mente o caminho
estrutural que devem seguir. A genialidade da composição encontra-se justa-
mente na maneira de conduzir o caminho melódico e harmônico de modo
logicamente coerente sobre uma mesma e imutável estrutura primordial.
Há, portanto, relações de dependência entre notas que desempenham uma
função estrutural e notas que servem a artifícios ornamentais. (O alinhamento
vertical entre os diversos níveis no gráfico da Figura 2 possibilita se verificar
rapidamente quais são as notas da estrutura fundamental na superfície
musical. ) O que cada um dos níveis analíticos faz é reduzir gradualmente as
configurações musicais às suas estruturas fundamentais. Ao formular sua
teoria da música tonal, da coerência tonal, Schenker entende que o processo
gerativo (composicional) e perceptivo (analítico) operam pelos mesmos
princípios. Disso deduzimos que ele confere à obra musical uma realidade
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Figura 2. Análise gráfica do coral Ich bin s, ich sollte büssen de J.S. Bach publicada em Schenker &
Salzer (1969, pp. 32-33, reproduzida aqui a partir de Dunsby & Whittall, 2011, pp. 38-39)
válida, seria o mesmo que dizer que a escuta não é vetorial, mas matricial.
Schenker chega a falar em escuta de curto-alcance e de longo-alcance, sendo
a última aquela que confere coerência ao que ouvimos através da apreensão dos 335
prolongamentos de nível intermediário. Se a capacidade cognitiva se limitasse
meramente a um processo de curto alcance a escuta do que chamamos de
superfície musical “degenerar-se-ia ao caos” (1979, p. 18).
CONSIDERA ES DE ME ER E URON SO RE
ES RU URA FUNDAMEN AL
Apesar de Schenker desenvolver sua teoria da coerência tonal, ele não
faz incursões aprofundadas à aspectos filosóficos ou psicológicos da escuta
e da significação musicais. Sua escrita aforística em Der freie Satz postula
ideias que podem ser confrontadas a teorias e modelos encontrados na área
da cognição musical. Neste presente texto apenas esboçamos de maneira
muito sucinta uma correspondência entre a ideia de uma teleologia da
escuta¹ propiciada pela estrutura profunda da organização tonal com a
noção de expectativa musical, conforme desenvolvida por Meyer (1956) e
Huron (2006), e descrita em termos lógico-semióticos em trabalhos que
publicamos anteriormente (Oliveira, 2010; Oliveira et al., 2010).
Hanslick (1994, pp. 87-88) talvez tenha sido o primeiro a sugerir
explicitamente que a base da compreensão musical é o seguir-se às intenções
do compositor, que ora corroboram a direção sugerida ao ouvido e ora a
contradizem. Mas como Meyer aponta (1956, p. 4), Hanslick não consegue
explicar “de que maneira uma sucessão abstrata, não referencial de sons se
torna significativa”¹¹ – Schenker tampouco consegue, ainda que sua hipótese
seja mais convincente. Meyer, por sua vez, buscou o aporte teórico da
psicologia da Gestalt – com uma implícita base semiótica, diga-se – para
oferecer uma explicação de como a percepção gera expectativas no processo
de escuta. O argumento proposto é o de que a mente busca, sempre, pelos
padrões mais simples e estáveis, de forma que as expectativas geradas na escuta
musical seguem aos princípios gerais que guiam os processos perceptivos
(e.g., boa continuidade, fechamento, similaridade, simetria, proximidade,
relação figura-fundo etc). Em um certo sentido, poder-se-ia explicar por que
um padrão estrutural 5–4–3–2 tem como consequência derradeira o 1 e não
qualquer outro grau da escala; os princípios de fechamento, completude e boa
continuidade justificam o 1 como conclusão natural do padrão estabelecido.
Huron (2006), 50 anos depois, foi além de postular que a percepção
musical é guiada por princípios gerais, buscando estabelecer bases empíricas
que suportassem a ideia de que a direcionalidade da escuta não é um
processo natural – baseado na série harmônica como queria Schenker, ou
baseado nos princípios da Gestalt como queria Meyer – mas é fruto de
aprendizagem. Ele chama de aprendizagem heurística o modo pelo qual
aprendemos pela exposição a padrões recorrentes. Tomemos um exemplo
específico: por que os modelos de rsatz de Schenker são todos descen-
dentes? Schenker argumenta que apesar de as cadências poderem variar
suas direções melódicas na condução das vozes, “isso contrasta muito
significativamente com a estrutura fundamental, cuja voz superior, a linha
fundamental, conhece apenas a direção descendente” (1979, p. 17). Ou
seja, não há explicação de por que assim o é. Meyer, por sua vez, vai um
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
deixa pistas que nos induzem a considerar que tanto aspectos objetivos do
repertório que lhe interessava quanto subjetivos da experiência musical
dialogam com a sua concepção um tanto mística da natureza do fenômeno 337
musical. Ele nos diz que a estrutura fundamental é um fenômeno de
contraponto derivado da própria constituição da série harmônica, que é
vertical em sua constituição, mas horizontalizada em nossa elaboração
artística da natureza (1979, pp. 10-11). Como Schenker cria que a estrutura
fundamental fosse a unidade gerativa da música, apreendê-la é fundamental
para a composição, para o ensino e para a performance da música. A história
do desenvolvimento da polifonia é, para ele, a história da gradual capacidade
de ouvir a estrutura fundamental por aqueles capazes de fazê-lo. Ao longo
dessa história, se temos a capacidade de ouvir cada obra como uma sequência
que segue seu próprio destino¹³ – ou uma escuta teleológica nos termos de
Meyer – é porque a força atuante do rsatz se manifesta em nosso domínio
psicológico. Percebe-se na concepção schenkeriana de unidade (ou indiví-
duo) musical que música é essencialmente ideia, e como tal possui ao
mesmo tempo poder gerativo e descritivo – análise e composição são duas
maneiras (complementares) de se relacionar à ideia musical.¹⁴
Outro ponto que nos parece digno de nota é a crítica de Meyer (1956,
p. 52) com relação à concepção schenkeriana de rsatz, que se estabelece
em dois sentidos: (i) a consideração da estrutura fundamental como uma
estrutura estática; e (ii) sobre o apego ao passado na visão schenkeriana de
estrutura fundamental. Com relação ao primeiro sentido de sua crítica,
Meyer afirma:
A discussão precedente aponta os perigos de concentrar-se muita
atenção sobre a estrutura da obra musical como um único termo
sonoro interpretado como um todo estático. Os discípulos de
Schenker também não se atentaram suficientemente deste perigo.
Muita ênfase sobre o nível arquitetônico mais alto não apenas
tende a minimizar a importância de significados conforme surjam
em outros níveis estruturais como também levam a uma
interpretação estática do processo musical.¹ (1956, p. 52)
CONSIDERA ES FINAIS
Este trabalho, considerando seus limites editoriais, certamente não esgota
o assunto, mas acreditamos que estabelece uma correlação entre a teoria
schenkeriana da coerência tonal com as formulações psico e musicológicas
de Leonard Meyer sobre as bases dos processos de significação e emoção
musicais: a noção de expectativa musical. David Huron, por sua vez, mais
recentemente, conseguiu descrever algumas regularidades estatísticas que
corroboram os modelos schenkerianos de estrutura fundamental, assim
como a noção de expectativa musical, inclusive oferendo bases neurológicas
a esta noção.¹
A título de fechamento gostaríamos apenas de retomar a sugestão de
Schenker de que a natureza individual de uma obra é uma ideia, cujo todo é
irredutível a um ou outro nível estrutural de maneira isolada (1979, p. 3; cf.
nota 12). Em outros termos, pode-se dizer que a obra musical é um signo. De
forma que o estudo geral dos signos, isto é, a semiótica, pode oferecer grande
auxílio tanto à teoria schenkeriana da coerência tonal quanto aos modelos de
significação baseados na noção de expectativa musical. Inclusive, reforçamos,
o próprio entendimento dos processos inferenciais, com especial destaque
dado à inferência abdutiva, certamente colabora na descrição das relações
entre passado, presente e futuro na experiência musical significativa e afetiva.
Contudo, trazer as contribuições de C.S. Peirce a essa atualização cognitiva
da teoria schenkeriana será objeto de futuros trabalhos, decorrentes dos
desenvolvi-mentos do projeto de pesquisa em andamento.
Anais
Notas
1 Empregaremos como fonte bibliográfica as edições em língua inglesa. Com relação a essas
obras em particular, Five Graphic Music Analysis (SCHENKER & SALZER, 1969) e Free 339
Composition (SCHENKER, 1979).
2 Harmonielehre e Kontrapunkt também foram traduzidas para o inglês (SCHENKER, 1954;
SCHENKER, 1987).
3 Lê-se no original: “Musical coherence can be achieved only through the fundamental structure in the
background and its transformations in the middleground and foreground.” Todas as traduções são nossas.
4 Traduz-se do latim como: Sempre o mesmo, mas não do mesmo modo.
5 No original lê-se: “The fundamental structure is al ays creating, al ays present and active this
continual present in the vision of the composer is certainly not a great onder than that hich issues
from the true experiencing of a moment of time in this most brief space e feel something very like the
composer s perception, that is, the meeting of past, present and future.”
6 A análise schenkeriana utiliza-se de uma simbologia que confere aos caracteres musicas significados
próprios, porém explicar tal simbologia está além dos alcances deste trabalho. Não obstante,
compreendê-la não é imprescindível para acompanhar o argumento que apresentamos aqui.
7 No original consta: “every linear progression is comparable to a point of the nger – it s direction and
goal are clearly indicated to the ear.
8 No original lê-se: “the sparseness of diatony in the background and the fullness of tonality in the
foreground are the one and the same.”
9 É interessante pensar-se na correlação não somente da escuta, mas também do solfejo através
de um entendimento analítico de uma obra, especificamente com relação a direções do
movimento melódico (cf. nesse sentido Bortz, 2013).
10 O termo teleológico, aplicado no sentido de uma escuta dirigida, é empregado por Meyer
(1967, p. 82 et seq.).
11 Lê-se no original: “the manner in hich an abstract, non-referential succession of tones becomes
meaningful.”
12 Meyer (1956, p. 52) critica a concepção schenkeriana de estrutura fundamental por
considerá-la estática, em primeiro lugar, e por ser uma escuta que se apoia sobre o passado, em
segundo lugar. Consideraremos estas questões mais a frente.
13 Schenker (Cf. op. cit., p. 3) assume a visão hegeliana de que a origem carrega em si o destino
de cada indivíduo, o que se aplica ao domínio do social, do indivíduo ou das ideias. Para ele o
indivíduo musical se constitui pela união dos níveis estrutural, intermediário(s), superficial, que
correspondem à origem, ao desenvolvimento e ao presente.
14 Portanto, o objetivo da análise schenkeriana não é – e nunca foi – chegar-se à estrutura
fundamental de uma obra, mas compreender como a ideia musical se configura naquela obra,
como um todo, como um indivíduo (algo por um lado indivisível, por outro único, que
estabelece distinção perante os outros).
15 No original consta: “The preceding discussion points up the dangers of concentrating too much
attention upon the structure of the musical ork as a single sound term interpreted as a stable hole. The
disciples of Schenker have not been su ciently a are of this danger. Too much emphasis upon the highest
architectonic level not only tends to minimize the importance of meanings as they arise and evolve on other
architectonic levels but it also leads to a static interpretation of the musical process.”
16 No original lê-se: “The very conception of chord prolongation, so important to their vie of musical
gro th, is a semantic confession that the musical process is, in spite of their explicit statements to the contrary,
basically seen as static. If hat occurs after a given structural harmony prolongs it, the implication is that
the music is heard more in relation to the past than in relation to hat is still to come.
17 No original: “ hile the past of any sound term is of great importance, it is of importance mainly because
our expectations as to impeding events are based upon our experience and remembrance of the past.”
18 Não estamos afirmando que processos de significação ou emoção musicais sejam exclusiva e
unicamente ligados à escuta estrutural, mas sem dúvida consideramos que esse tipo de escuta é
importante em tais processos.
19 Cf. Oliveira et a. (2010) e Oliveira (2010) para uma breve descrição das bases neurológicas
dos processos de antecipação.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019
Refer ncias
Bortz, G. (2013). Direção e movimento em solfejos tonais. Percepta, 1(1), 111–123.
340 Dunsby, J., & Whittall, A. (2011). Análise musical na teoria e na prática. Curitiba:
Editora UFPR.
Forte, A., & Gilbert, S. (1982). Introduction to Schenkerian analysis. Nova Iorque: W.W.
Norton & Company.
Hanslick, E. (1994). Do belo musical um contributo para a revisão da estética da arte dos
sons. Convite à Música. Lisboa: Edições 70.
Huron, D. (2006). S eet anticipation music and the psychology of expectation.
Cambridge, MA: The MIT Press.
Meyer, L. B. (1967). Music, the arts, and ideas patterns and predictions in t entieth-century
culture. Chicago: Chicago University Press.
Meyer, L. B. (1956). Emotion and Meaning in Music. Chicago: Chicago University
Press.
Oliveira, L. F. (2010). A emergência do signi cado em m sica. (Doutorado, Programa de
Pós-graduação em Música – área de concentração em Fundamentos Teóricos,
Instituto de Artes). Campinas: Universidade Estadual de Campinas.
Oliveira, L. F., Haselager, W. F. G., Gonzalez, M. E. Q., & Manzolli, J. (2010). Musical
listening and abductive reasoning: contributions of C.S. Peirce’s philosophy to the
understanding of musical meaning. Journal of Interdisciplinary Music Studies, 4, 45–70.
Schenker, H. (1987). Counterpoint. Schirmer Books: Nova Iorque: Schirmer Books.
Schenker, H. (1979). Free Composition. Nova Iorque: Longman.
Schenker, H., & Salzer, F. (1969). Five graphic music analyses. Nova Iorque: Dover
Publications.
Schenker, H. (1954). Harmony. Chicago e Londres: The University of Chicago Press.