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Noções de

François Bayle

Gabriel Garcia de Sousa


Lennon Strabelli
Pedro Arruda
Biografia Básica e Dados de François Bayle

● Nascido em 1932 em Tamatave - Madagascar


● Trabalhou por 30 anos no GRM (Groupe de Recherches Musicales) em Paris e
se aposentou, em 1997.
● Conviveu com Pierre Schaeffer (1910 - 1995) dentro do GRM. Bayle fez parte
do grupo de discípulos que participou da produção do Traité des Objets
Musicaux.
● Escreveu o livro: Musique Acousmatique (Éditions Buchet-Chastel) , publicado
em 1993 e Michel Chion (1947) escreveu o livro: François Bayle - Parcours d’un
Compositeur - (Trajetória de um compositor)
Pierre Schaeffer
Quatro Modelos de Escuta

● Écouter: Ouvir algo ou alguém e a partir deste, tentar encontrar a fonte usando o
som como intermediário;
● Öuir: Perceber passivamente pelo ouvido, forma mais elementar;
● Entendre: Indica uma intenção de escuta. Escolha de escutar algo pra descrevê-lo;
● Compendre: Chegar a um significado a partir do som.
Quatro modelos de escuta por Chion

(3) e (4) (1) e (2)


Abstrato Concreto

(4) Comprendre (1) Écouter (1) e (4)


Objetivo

(3)Entendre (2)Öuir
(2) e (3)
Subjetivo
Escuta Reduzida

● Escutar um som apenas por ele mesmo;

● Tira a importância da fonte sonora e de seu possível significado;

● Époché.
Objeto Sonoro

● Centro da teoria e da música de Schaeffer;

● Fenômeno ou evento sonoro percebido como um todo, uma unidade coesa;

● Correlato da escuta reduzida;

● “O objeto sonoro é o ponto de encontro entre uma ação acústica e uma intenção de escuta”.
Música e experiência - Os Caminhos da Experiência

● Duas formas de falar de música através da experiência interior.

● Primeira: Sendo a mais cautelosa, julga os aspectos técnicos, práticos e


metodológicos.

● Segunda: Sendo a mais imprudente, envolve a irrupção das imagens sonoras e seus
efeitos. (Experiência eletroacústica).
Experiência com a Música Eletroacústica

Condições de acesso a essa experiência:

- Material (estúdio, aparatos)


- Técnica (Escuta, percepção e solfejo fundado num alargamento musical)
- Estilo ( extensão da música tradicional, contínuo sonoro)
Por uma música invisível: A Função da
música
Bayle define caminhos, ou uma sequência de passos para a criação e escuta musical.

I - Compositor ouve.

II - Compositor compõe.
Uma nova cadeia se inicia:

III - Compositor executa ou transfere ao intérprete. VIII- Aquisição da escuta.

IV - Escuta e atividade do Intérprete. IX - Expansão para outros locais.

V - Ilhas de Iniciativas.

VI - Que são assumidas de acordo com sua aptidão, texto e audiência.

VII - Ponto de fechamento - Comunicação aconteceu.


SIGNIFICADO DA MÚSICA POR BAYLE

Hipóteses:

1 - A música tem um significado. Contém e descreve ideias.

2 - Criamos o Significado.

3 - A inter-relação desses dois níveis de significado.


Os Meios e os Fins da Música Eletroacústica

1 - ESTÚDIO

2 - O COMPOSITOR

3 - O MODELO

4 - TRAIÇÃO DA ALTA FIDELIDADE

5 - O ESPAÇO DO OLHO QUE ESCUTA


Projeção Acusmática... ou Interpretação-Jogo

1. Sobre a atividade da projeção;


2. Sobre a utilização dos canais;
3. Sobre o arranjo dos alto falantes;
4. Sobre o espaço de projeção;
5. Sobre a “encenação acústica”

"Vamos entender, portanto, que um trabalho acusmático da música requer, após a


verificação da instalação do dispositivo, tantos ensaios parciais e gerais, tanta precisão musical
quanto um trabalho orquestral.”
O Gênero Acusmático
”Estas consequências coerentes declinam da mesma raiz ( AKOUSMA: Percepção auditiva) os estágios
de um pensamento perceptivo na construção.”

O Artigo de François Guerin: “Aperçu du genre électroacoustique au Quebec” (Visão Geral do


Gênero Eletroacústico em Quebec.) , de 1993, estipula que:

Acusmático

Misto

MÚSICA ELETROACÚSTICA Live

Informático

Multimídia

Ambiental
O Gênero Acusmático

Pierre Schaeffer -> Isolar a informação sonora de seu “complexo


audiovisual”, criando condições para essa nova escuta.

François Bayle -> “Uma música que é desenvolvida e produzida em


estúdio e se projeta em sala, como o cinema”.
DIFERENÇA ENTRE MÚSICA ELETROACÚSTICA E
MÚSICA ACUSMÁTICA

Eletroacústica → Meio técnico. Não é um estilo ou uma filosofia.


(Extensão do domínio instrumental)

Acusmática → Tipo de música eletroacústica e uma escola de


compositores que seguem essa filosofia. (Extensão do domínio
perceptivo)
Campo acusmático

● Relacionado diretamente com a ideia de uma moldura de um


quadro.

● “O campo acusmático constitui esse teatro de representação ou,


na tela do silêncio e do não-visível, os sons projetados funcionam
como imagens-de-sons, fragmentos de significado, pensamento
fora das palavras, linguagem das aeroformas.”
Arquétipo
Imagens mentais que aparecem para nós e servem como uma forma de conduzir a escuta.

● Arquétipo estático: o que nos lembra do horizonte, da gravitação, temperatura, clima,


coisas que definem a paisagem e sua população.

● Arquétipo dinâmico: o que se relaciona com uma captura, a simulação, a previsão do antes
e do depois, a aparição, a aproximação, a distância, a noite, o dia, a direita, a esquerda, o
espaço, a luz, a sombra.

● Arquétipo da posição: baseia a diferença entre interior e exterior, representa a escala do


corpo, a situação dominante / dominado, a aparição dos inúmeros eventos que nos
cercam.
Escuta e Compreensão

● A experiência do corpo: o corpo sonoro como linguagem e símbolo;

● A impressão dos fatos: a experiência e sua representação;

● O engajamento da escuta: uma forma de pensamento e significado.


Primeira Ideia: a Imagem Percebe o elo dos
Lugares do Audível
● Comentário sobre a Escuta Reduzida
● Imagem como alternativa ao Objeto Sonoro
● O visível e o sonoro como uma complementaridade funcional.

Eventos Níveis

acústico físico: o canal extrai uma modulação (relação sinal / ruído)

sonoro fisiológico: o ouvido detecta um evento (ouïr)

auditivo psicológico: a escuta percebe um "atuante" (écouter)

musical simbólico: um sistema de representação funciona (entendre)

imaginal figurativo: um sistema simbólico funciona (compendre)


Segunda Ideia: na imagem, o sonoro admite uma
reinterpretação infinita

● A imagem como alternativa ao real;

● Ruptura acusmática previne o auxílio do olho na busca por significado;

● Fluxo interpretativo das formas dinâmicas do campo acusmático acontece a


partir de representações que circulam do local ao global, da saliência a
pregnância.
Terceira ideia: o campo acusmático é construído a
partir das promessas de um sonoro valorizado

● Ouvinte tem relação de perigo e desejo com a música;

● “Disperso, multiplicado, ainda não preenchido (nunca), o sujeito se torna


um centro de escuta, o foco das imagens-que-desfilam. Formas, cujas
saliências, as iscas, geram desejos, pregnâncias. E quem, graças a este
fato, se oferece à sua fantasia em contínua reorganização.”
I-SON (Imagem de Som)
-Schaeffer e a fundamentação teórica , Bayle e a produção musical;

-O i-son como substituto do conceito de objeto sonoro;

-Bayle participou da produção do Tratado dos Objetos Sonoros;

-A Cognição, a Semiótica Peirceana e a Morfogênese fizeram-no


chegar à uma nova nomenclatura acerca do objeto sonoro;

-O código musical e a representação gráfica. A música eletroacústica


constrói seu código a partir da percepção pura;

-O i-son é a distinção perceptiva, o entremeio do som puro, e a


imagem mental.
Camadas Morfológicas

1- Anamorfose: Transformações. Inversão, Torção, Deformação, etc;

2-Metamorfose: Produção da imagem, a partir de outras;

3-Morfogênese: Análise das imagens, para a criação de novas.


ACOUSMONIUM

-1951: Schaeffer funda o GRM, com enfoque na pesquisa e na teorização a partir de


experiências.

-1968: Bayle começa a notar a diminuição do público de concertos organizados pelo GRM.
Distanciamento das novas descobertas e o público;

-Idealização do Acousmonium com a premissa de reconquistar o interesse do público e


conquistar o público das orquestras tradicionais;

-O que é o Acousmonium? É um sistema de difusão sonora projetado em 1974 por Bayle para
ser usado originalmente pelo GRM, que visa estender ao nível de uma sala de concertos a música
eletroacústica e trazer o público novamente para próximo do gênero. Inicialmente, composto
por 80 alto-falantes de diversos tamanhos e formatos.
Rascunhos de Bayle na Idealização do Acousmonium
Acousmonium, 1974
François Bayle trabalhando no
Acousmonium em 1974
François Bayle e Pierre Schaeffer no GRM
O Acousmonium Hoje
Indicações de Escutas pelo próprio autor

Para o novo ouvinte:

Tremblement de Terre très doux (1978) - “ É a minha obra mais misteriosa, mas é um
mistério simples como um conto de fadas.”

Para o ouvinte habituado:

Fabulæ (1992) e Son Vitesse-Lumière (1984) - “São minhas obras mais sofisticadas.”
Toupie Dans le Ciel (1979-80)

● Faz parte do ciclo de peças Erosphère, que contém:


-Tremblement de terre très doux
-La fin du bruit
-Eros Bleu
-Eros Noir

● Estereofônica
● Desenvolvida sobre o som real de peão
● Massa X Granulação
● Grave X Agudo
● Intervalos Perceptíveis X Intervalos Não-Perceptíveis
Toupie Dans le Ciel (1979-80)

“A substância desta peça extraordinária foi desenvolvida sobre o som real de pião, um ritmo-
melódico padrão, e um fluxo eletrônico simples. Esta é a inversão dos modos tradicionais de
composição. Enquanto os sons agudos e o ritmo permanecem imperturbáveis, constantes –
podendo ser ouvida como minimalista – variações (perturbando, dessincronizando, variando
intensidade e mobilidade, etc.) cria constante movimento, tornando o material sonoro em algo
vivo virtualmente, que se reafirma constantemente, sempre sendo renovado. Nossa atenção é
pega em um ninho de som, definido nos sons graves por um pedal “rolante”, e nos agudos
pela ininterrupção. Esse contínuo cresce e decresce. Se esta música é um acalanto, é o
acalanto de um tigre! Essa proteção, esconde ferocidade e trata tudo com maior poder, pois
não se mostra sob a luz do dia. Só é interrompida por grandes sons graduais de fricção do arco,
e às vezes desencadeando explosões elétricas que nascem em zigue-zagues. Durante estas fendas
sonoras (que o autor chama de “céus”). O inexorável vem de um fim e de repente, liberdade e
leveza surgem.” (BAYLE)
Bibliografia
BAYLE, F. Musique Acousmatique - propositions… ...positions. Institut National de l’Audiovisuel &
Éditions Buchet/Chastel, Paris, 1993

BAYLE, F. Entretien avec François BAYLE: l’Acousmonioum. 2017, disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=1tsEdyw0s8c&t=>. Acesso em: 16/04/2019

CHION, M. Guide to Sound Objects. Middlesex University Press, Londres. Tradução de Christine
North e John Dack, 2009

DESANTOS, S; ROADS, C; BAYLE, F. Acousmatic Morphology: an interview with François Bayle.


Computer Music Journal, Vol 21, No. 3, pp 11-19, The MIT Press, 1997, acessado em
16/04/2019. Link: <https://www.jstor.org/stable/3681010>

MENEZES, F. Música Eletroacústica: História e Estética. 2ª Edição, EDUSP, São Paulo, 2009

SCHAEFFER, P. Treatise on Musical Objects. University of California Press. Tradução de Christine


North e John Dack, 2017.

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