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Do original alemão
Tradução de
CARLOS KATER
© Copyright 1960 by
UNIVERSAL EDITION A. G., Wien
Anton Webern
"
"
"
"
"
"
"
"
2ª. edição
"
Antigoa Typographia
iv
Bibliografia.
1. Música - História e crítica - Século 20
I. Reich, Willi, 1898 - II. Título
CDD-709.52
-701
84-2194 CDD-780.904
ÍNDICE
Introdução 1
Observação do tradutor 5
Prefácio de Wi11i Reich 7
1
2 " CARLOS KATER
– variações
– integração das dimensões horizontal e vertical (. . . multi-di-
recionalidade)
Essa postura de tomar as coisas pela raiz amplia ex-
traordinariamente as fronteiras do fato musical. Estabelece um
novo divisor entre passado e futuro, influenciando, de diversas
maneiras, a partir do final de 1940, compositores como: Messiaen,
Boulez, Stockhausen, Nono, Cage, Berio, Feldman, Stravinsky,
Santoro, Krieger, Willy, Gilberto e muitos outros.
Desconhecer Webern é desconhecê-.los.
É também desconhecer Bach, Josquin, Machaut,
é desconhecer . . .
OBSERVAÇÃO DO TRADUTOR
1
As notas da tradução francesa estão indicadas por (ndtf), as de Willi
Reich por (W.R.) e as minhas por (ndt).
5
6 " CARLOS KATER
CARLOS KATER
2
Essas conferências foram trabalhadas na disciplina Composição II,
ministrada no 29 semestre de 1981, no Instituto de Artes do Planalto
(IAP) da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
PREFÁCIO
1
A revista musical 23 — eine Wiener Musikzeitschrift — foi editada por
Willi Reich, com o estímulo de Alban Berg, de 1932 a 1937. Ela repre-
sentou um importante meio de divulgação, e de apoio, da música
nova, particularmente da produção da segunda escola de Viena. Entre
seus colaboradores regulares figuravam Ploderer, Krenek e Adorno
(ndt).
7
8 " WILLI REICH
2
Em graus distintos, isso pode ser também notado em várias das car-
tas escritas por Webern a Hildegard Jone e Josef Humplik. Aliás, a
leitura delas já havia suscitado o seguinte comentário de Stravinsky:
“Poderia dizer-se (de Webern), padre de uma pequena cidade de inte-
rior cujo universo não ultrapassa os limites de sua paróquia — de fato,
ele faz parecer meu universo distante um milhão de quilômetros. Suas
maneiras e seu jeito de ser são igualmente de vilarejo e . . . sacerdotais”
(ndt).
PREFÁCIO " 9
WILLI REICH 3
3
Willi Reich (1898-1980) musicólogo e crítico musical suíço, nascido
em Viena. Estudou, como aluno particular, teoria musical e composi-
ção com Alban Berg, de 1927 a 1935, e com Anton Webern, de 1936 a
1938 (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA
1
“O Facho”, nº. 885/7, de fim de dezembro de 1932. Esse periódico vie-
nense foi editado pelo polemista austríaco Karl Kraus (1874-1936),
que a partir de 1911 assume sozinho a responsabilidade de sua reda-
ção. Sua celebridade deve-se aos textos de caráter incendiário aí pu-
blicados (ndt).
11
12 " ANTON WEBERN
2
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832): com a publicação de duas
de suas primeiras obras em 1774 ele se torna um dos líderes da jovem
escola “Tempestade e Ímpeto”. Sua viagem à Itália, 1786-1788, repre-
senta uma nova etapa de seu pensamento, caracterizada pela ruptura
com o romantismo, conseqüência da linha neo-clássica desenvolvida
desde 1779 aproximadamente. Sua “Farbenlehre” (“Teoria das Cores”),
é proposta em 1810 (ndt).
14 " ANTON WEBERN
3
Trata-se da palestra intitulada “Neue und veraltete Musik oder Stil und
Gedanke” (“Música nova e música obsoleta ou estilo e idéia”) , proferida
por Schoenberg no Kulturbund de Viena em janeiro de 1933 (W.R.).
Seu texto está incluído nos escritos reunidos de Schoenberg, publi-
cados por Leonard Stein, sob o título “Estilo e Idéia”. Possui, portanto,
uma versão em inglês (Belmont Music Publishers/Faber & Faber Li-
mited) e também em francês (Ed. Buchet/Chastel) (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 17
Série harmônica 10 11 12 13 14 15 16
5 6 7 8 9 bœ nw w
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1 2
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w Sons harmônicos
Som
fundamental
4
Provavelmente esta seria a realização do “paralelogramo de forças”
mencionado por Webern, mas ausente na edição de Willi Reich (ndt).
II
19
20 " ANTON WEBERN
envia o “Rei dos Elfos” 1, mas ele nem o olha. O célebre encontro
de Goethe e Beethoven certamente não ocorreu como se des-
creve de maneira habitual, pois Beethoven sabia muito bem se
comportar socialmente e não era nenhum “tolo louco”; certa-
mente ele se encolerizou, mas não podemos imaginá-lo como um
“selvagem”. E Nietzsche? Schopenhauer, Goethe, Nietzsche, quan-
tos nomes ilustres: Nietzsche aborda Wagner de um ponto de
vista intelectual e filosófico, e não de um ponto de vista musical.
Com “Parsifal”, Wagner se transpõe para um campo com o qual
Nietzsche não estava de acordo. O catolicismo de “Parsifal” foi
oficialmente o motivo da ruptura; como vocês vêem, algo de
extra-musical. Sem dúvida, ele foi forçado a encontrar um subs-
tituto: Bizet.
É sempre a mesma coisa: os medíocres são supervalorizados, e
os grandes, rejeitados. Seguramente um Nietzsche refletia sobre
cada palavra que dizia e escrevia. Se ele então falava de música,
o motivo de sua ruptura com Wagner não poderia ter sido algo
extra-musical. Vocês vêem como é difícil captar idéias em música.
Senão estes gênios não teriam se equivocado assim: Foram jus-
tamente as idéias que eles não compreenderam. Não consegui-
ram nem mesmo pressenti-las !
Continuemos: Strindberg: Vocês já leram o que ele diz sobre Wag-
ner? Que ele roubou de Mendelssohn suas melhores passagens.
A isto acrescentou ainda uma confusão: ele identificava a Wal-
quíria com Nora e não suportava Ibsen.
E, mais recentemente: Karl Kraus ! Esse é um ponto interessante.
Não tenho necessidade de dizer tudo o que Karl Kraus representa
para mim, quanto o considero. Mas nesse domínio ele se engana
redondamente. Tomemos o seu célebre aforismo: a “música que
banha a orla do pensamento” ! Isso mostra de maneira muito clara
como ele é absolutamente incapaz de imaginar que na música
1
“Erlkönig”, canção composta em 1815; o texto é do próprio Goethe (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 21
2
Movimento intelectual e artístico que ocorreu na Alemanha no final
do século XVIII, caracterizado pelo retorno à natureza, predominância
dos sentimentos e revolta contra as regras morais e sociais. Sturm,
tempestade, e Drang, ímpeto. Esse nome é emprestado de uma peça
do escritor alemão Friedrich M. von Klinger (1752-1831), datada de
1776 (ndt).
3
“Vem um pássaro voando”, tema de dança popular, provavelmente de
origem austríaca; sua melodia está na pagina 64 (ndt).
22 " ANTON WEBERN
26
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 27
1
O termo fasslichkeit pode ser também traduzido por compreensibili-
dade ou inteligibilidade. Por motivo de coerência com a linha de pen-
samento de Webern, particularmente no parágrafo seguinte, preferi
utilizar a expressão apreensibilidade que, embora menos abrangente
que as anteriores, significa a possibilidade de conhecimento mais
imediato através do julgamento ou da percepção, e nesse sentido
mais adequada aqui (ndt).
28 " ANTON WEBERN
2
Zusammenhang, normalmente traduzido ao longo dessas conferên-
cias por coerência; esse termo pode significar também: unidade, coe-
são, correlação ou simplesmente relação (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 29
tenha passado noites em claro —, ele sabia: deve ser assim ! Por
quê? Não se fez isso por diversão; uma necessidade absoluta
conduziu seu criador, que não pôde agir de outra maneira. A idéia
é distribuída no espaço, não está mais contida numa linha apenas
— esta não seria suficiente para exprimi-la; somente a união das
vozes possibilita a expressão da idéia na sua plenitude. Seguiu-se
então um rápido florescimento da polifonia, do qual pretendo
dar-lhes prova. Trataremos, na próxima vez, dos princípios que
governaram a exploração progressiva do domínio sonoro, dos re-
cursos naturais dos sons.
(7 de março de 1933)
IV
1
Algumas referências: em 30 de janeiro de 1933, Hitler tornou-se
chanceler da Alemanha. Max von Schillings, presidente da Academia
de Artes da Prússia, onde Schoenberg lecionava composição desde
1926, devia em seguida declarar ter recebido do Ministério da Edu-
cação a tarefa de “purgar a Academia de toda influência judaica”. Em
31
32 " ANTON WEBERN
17 de maio de 1933, isto é, pouco mais de dois meses após esta con-
ferência de Webern, Schoenberg viajava de Berlim para a França a
fim de escapar às perseguições anti-semitas (ndtf).
2
Sem dúvida aquela que o próprio Webern já podia intuir: em 1938 ele
é representado, assim como Ernst Krenek e Oskar Schlemmer, numa
exposição organizada pelos nazistas em Dusseldorf, cujo título era:
“Arte degenerada’’ (ndt).
3
Em 1934, a Orquestra Sinfônica dos Trabalhadores Vienenses, cujos
destinos Webern presidiu durante vários anos com sucesso, tem suas
atividades paralisadas. Em 5 de maio desse mesmo ano, Webern é
obrigado a escrever à Sra. Emil Hertzka, diretora da Universal Edition,
solicitando ajuda financeira. Mas, por pior que isto fosse, sua situação
ficaria ainda mais sombria: em 1939 ele perdia seu cargo na rádio
austríaca e se via sem alunos (cf. carta a W. Reich de 20 de outubro
de 1939) (ndtf).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 33
4
Os neerlandeses aos quais Webern de maneira constante se refere
ao longo de suas conferências são, sem dúvida, os representantes da
Escola Franco-Flamenga dos séculos XV e XVI — 1ª. Escola Neerlan-
desa (da Borgonha) e 2ª. Escola Neerlandesa (Flamenga) — como por
exemplo: Guillaume Dufay, Gilles Binchois, Hugo e Arnold de Lantins,
Johannes Ockeghem, Jacob Obrecht, Heinrich Issac, Josquin des
Près, Pierre de la Rue, etc. (ndt).
34 " ANTON WEBERN
5
Ver nota 3 da primeira conferência, p. 16.
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 35
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38
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 39
intervalo. Vocês vêem uma vez mais, que tudo isso está de acordo
com a natureza: não podia haver maior ou menor — a terça era
sentida como dissonância, ninguém ousava utilizá-la.
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1
Seguramente Webern comenta aqui sobre um outro exemplo musical
que não está presente na edição original; ainda: esta ilustração de L.
Senfl é composta, não de seis, mas de cinco vozes (ndt).
42 " ANTON WEBERN
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Ex. 8
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3
Essa colocação de Webern logo em seguida ao exemplo de Bach pode
ter um significado mais amplo do que aparenta. Provavelmente ele
refere-se aqui à técnica “indispensável à vitalidade da ‘música nova’:
o desenvolvimento por variação, de onde nasceu o estilo dos grandes
clássicos vienenses, e cujo primeiro inovador foi J. S. Bach (ndt).
VI
45
46 " ANTON WEBERN
ram além dos modos eclesiásticos. Vemos então duas dessas es-
calas se distinguirem progressivamente e levar vantagem sobre
as demais: elas correspondem aos modos maior e menor atuais.
E é notável que foi a necessidade de conclusão, a necessidade de
uma nota sensível, que faltava nos outros modos eclesiásticos,
que levou à preferência por esses dois modos. Essa sensível foi
em seguida transposta para as outras escalas, que se tornaram
então idênticas às duas primeiras. Assim, os acidentes deram o
golpe de misericórdia ao mundo dos modos eclesiásticos, e nas-
cimento ao mundo dos nossos modos maior e menor.
Vejamos agora a mais recente conquista do domínio sonoro ! Os
modos maior e menor reinaram até nossos dias, mas, desde
aproximadamente um quarto de século, existe uma nova música
que renunciou à predominância desse “duplo gênero” para cons-
tituir uma única escala: a gama cromática.
Como se chegou à superação do maior e menor? Os elementos
destruidores nasceram, assim como na dissolução dos modos
eclesiásticos, dos esforços para se encontrar uma forma singular
de conclusão. Os dois casos são portanto, totalmente análogos !
Em relação a esse desejo de definir exatamente a tonalidade no
final de uma peça — na “cadência” — surgiu uma série de acor-
des de tal natureza que não podiam ser mais relacionados ine-
quivocamente a uma única tonalidade. Surgiram os acordes
vagantes, acordes ambíguos, que, a partir de sua utilização no
final da peça, foram também introduzidos ao longo de sua exten-
são. O curso das obras adquiriu assim cada vez mais significados,
até que se chegou a um momento quando esses acordes ambí-
guos predominaram e acabou-se por renunciar totalmente à tô-
nica.
Em que época ocorreu tudo isso? Digamos inicialmente quando
e onde o gênero maior-menor se estabeleceu. Foi no período que
se seguiu à escola neerlandesa, época que por várias vezes já
mencionei, e que corresponde ao nascimento da ópera italiana.
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 47
1
“o segredo dos neerlandeses, inacessível aos profanos, residia essen-
cialmente num conhecimento aprofundado de todas as relações con-
trapontísticas possíveis entre os sete sons da gama diatônica. [. . .] Mas
os cinco sons restantes não tinham nenhuma função em suas regras.
[. . .] Muito contrariamente, Bach, que conhecia mais segredos do que
os neerlandeses jamais imaginaram, soube ampliar essas regras ao
ponto de fazê-las englobar os doze sons da escala cromática. E ele
trata esses doze sons de tal maneira que seríamos tentados a fazer
48 " ANTON WEBERN
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53
54 " ANTON WEBERN
1
Entenda-se aqui quadros isolados enquanto seções fechadas ou “nu-
meros” (Air, Coro, Recitativo, etc.) que são justapostos uns aos outros
sem uma relação de continuidade musical aparente (ndt).
2
Em alemão, “Kehraus”: última seção de dança (ndtf) .
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 55
3
Beethoven havia dito: Bach não é um riacho, é um oceano !”; como se
sabe a palavra alemã Bach significa riacho (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 59
4
Essa colocação de Webern merece uma atenção toda particular, pois
ele se refere nessa frase àquilo que consideramos o ideal formal we-
berniano. A “fusão das duas coisas” significa a interpenetração dos
dois métodos fundamentais de apresentação das idéias musicais nas
suas formas mais evoluídas: polifonia e melodia acompanhada (in-
corporada das aquisições harmônicas da última fase); portanto, abo-
lição da fronteira entre as dimensões horizontal e vertical,
equivalência desses dois eixos, considerados como aspectos de uma
mesma realidade musical. Essas dimensões serão assim absorvidas
no interior de uma concepção mais totalizante — multi-direcional —,
que Webern, como nenhum outro compositor de sua época, foi capaz
de perceber e lançar as bases. Ela é retratada no quadrado mágico
com o qual encerra seu ciclo de conferências de 1932; cf., p. 153 (ndt).
60 " ANTON WEBERN
62
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 63
1
Como se sabe, o acorde de sétima diminuta é constituído de dois trí-
tonos sobrepostos. Se tomamos, por exemplo, o acorde formado
pelas notas: si, ré, fá e lá bemol, obtemos as seguintes possibilidades
de resolução: (si - fá) dó e (ré - lá bemol) mi bemol; e enarmonica-
mente: (mi sustenido - si) fá sustenido e (sol sustenido - ré) lá (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 65
2
Sua peça para coral, Entflieht auf leichten Kähnen, opus 2 de 1908,
pode ser considerada o início de uma produção não centrada exclu-
sivamente nas relações tonais estritas. Ele acompanha de perto as
tentativas realizadas desde 1906, aproximadamente, por Schoenberg
em direção ao atonalismo, que se concretizarão plenamente no úl-
timo movimento do Segundo Quarteto de Cordas, opus 10 (1907-8)
de seu mestre. Webern propriamente só efetuará o passo decisivo
para sua libertação do sistema tonal com os dois grupos de Lieder,
opus 3 e opus 4, de 1908-9 (ndt).
66 " ANTON WEBERN
3
É provável que essa “tônica”, à qual Webern se refere, signifique sim-
plesmente relações localizadas de certos sons, em que um deles
possa ser interpretado como predominante; e isto com base no po-
tencial atrativo, nas relações de afinidade, nos sons polarizantes que
cada nota possui e acaba assim por determinar, conforme o caso; re-
giões de magnetismo em torno de uma freqüência dada. A esse res-
peito, ver: Morte, ou transfigurações da harmonia, de E. Costère (ndt).
4
Esse “nós” é uma forma de expressão, pois, diferentemente de
Schoenberg e Berg, apenas Webern manterá a direção de seu traba-
lho no universo serial, sem nenhuma preocupação de caráter nostál-
gico aparente (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 67
contrária: uma vez que a tônica não existe mais, ou melhor, uma
vez que os acontecimentos progrediram a tal ponto que a tônica
não é mais indispensável, sentimos a necessidade de impedir que
um som qualquer predominasse, que a repetição de um dado
som lhe “conferisse vantagem” sobre os demais.
Naturalmente, não é possível compor sem repetição, senão a
peça estaria já terminada quando os doze sons tivessem sido
enunciados. Como imaginar isso? Como não repetir? Quando a
repetição não atrapalha? Disse que a composição estaria con-
cluída após a enunciação dos doze sons; e durante a sucessão
desses doze sons, nenhum deles deveria ser repetido ! Mas po-
demos realizar uma centena de sucessões simultaneamente ! Isto
é possível desde que a sucessão se realize completamente, sem
nenhuma repetição de sons no seu interior.
Isso foi percebido. Pode ocorrer também um acorde de doze sons
— tais acordes já foram escritos —, e, em seguida, uma reapre-
sentação da série, que pode ainda ser ouvida simultaneamente a
outra coisa, desde que se respeite o mesmo critério.
Assim, está expressa a lei: sucessão dos doze sons — e nada mais !
Alguns fatos notáveis influíram aqui, não fatos teóricos, mas re-
sultantes de nossa experiência auditiva. Sentimos, por exemplo,
que era inconveniente a repetição de um som no interior de um
tema. E eis o ponto essencial — prestem atenção ! Vocês enten-
derão agora como nasceu esse estilo: não foi apenas devido à
perda da tonalidade, mas ainda, e muito objetivamente, a partir
do desejo de coerência.
O que aconteceu? Uma sucessão de doze sons. Sua ordenação
não foi fruto do acaso; escolheu-se uma forma particular de série
capaz de determinar a composição em todo seu decurso. Os doze
sons são organizados numa ordem especial, cuja seqüência está
na base de toda a composição. E nessa ordem eles devem se su-
ceder sempre ! Assim, uma seqüência determinada dos doze sons
está onipresente na obra.
68 " ANTON WEBERN
5
“Metamorphose der pflanze”, figurando inicialmente na “Tentativa para
e.plicar a metamorfose das plantas” (1789-1790) e depois nos “Cader-
nos de morfologia” — seis cadernos escritos entre 1817 e 1824 (ndt).
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA " 69
6
“Die Jakobsleiter”, oratório para solistas, coros e orquestra; sua com-
posição — inicialmente realizada entre 1917 e 1922, depois retomada
em 1944 e novamente abandonada — permaneceu, assim como i-
númeras outras composições, inacabada (ndt).
7
A ‘’Serenata’’ foi publicada em 1923. “No terceiro movimento, o tema
consiste numa sucessão de quatorze sons, dos quais onze apenas são
diferentes, e esses quatorze sons se encontram constantemente uti-
70 ANTON WEBERN
(ndt).
7
A foi publicada em 1923. No terceiro movimento,
o tema consiste numa sucess o de qua torze sons, dos quais
onze apenas s o diferentes, e esses quatorze sons? se en
contram constantemente utilizados ao longo de toda a pe a.
[...] O quarto movimento, , uma verdadeira compo
?
si o com doze sons. A t cnica aqui relativamente
? primi
tiva, porque essa foi uma das primeiras pe as es critas
estritamente segundo esse m todo. (Extra tos de uma carta
de Schoenberg a Nicolas Slonims ky, 3 de junho de 1937.)
(ndtf).
8
Na verdade, na , ltima das , opus
O CAMINHO PARA A MÚSICA NOVA 71
1
Acho excelente teu plano para Mondsee. Gostaria somente
de recomendar que, se poss vel, ordene as an lises de tal
maneira que pela escolha das obras o desenvolvimento
? l
gico em dire o composi o com doze sons seja ?eviden
ciado. Por exemplo, os franco? amengos e Bach para o
contraponto; Mozart para o fraseado e tamb m para
? o tra
balho mot vico; Beethoven, mas tamb m Bach, para? o desen
volvimento; Brahms, e, eventualmente Mahler, para o
tratamento da complexidade e da varia o. Creio que essas
73
74 ANTON WEBERN
2
Tom se traduz por som . Portanto, literalmente, atonal
privado de som . Atonal acabou sendo usado corrente
?
mente, mas Schoenberg na verdade nunca aceitou esse
termo, que sempre lhe pareceu impr prio, preferindo
? a ex
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 75
3
justamente a id ia que Schoenberg considera essencial na
arte. No texto , ele ?co
loca: .. .toda a terminologia musical imprecisa,? e a maio
ria de suas palavras utilizada em v rios sentidos. Na su
acep o mais corrente, id ia sin nimo de tema, melodia,
frase ou motivo. Mas, na minha opini o, a totalidade de
uma pe a que constitui uma id ia, a id ia que seu autor qu
trazer luz . Tenta precisar sua de ni o: Cada vez que
uma nota qualquer acrescentamos outra, lan a?se ?uma d
vida sobre o signi cado da nota inicial.
..] e a[.adi o de
notas seguintes ajudar ou n o a solu o desse problema.
Provocou?se assim uma impress o de incerteza, de? dese
quil brio, que vai se acentuar com a seq ncia..da O pe a .
m todo pelo qual ser restabelecido o equil brio? compro
metido , a meu ver, a verdadeira id ia de uma composi o.
76 ANTON WEBERN
8, p. 45 (ndt).
5
Ou frases cadenciais (ndt).
6
Webern iniciou seus estudos com Schoenberg no outono de
1904. Em 1908 comp e a para orquestra, opus 1
de seu catalogo: obra escrita ainda enquanto aluno de
Schoenberg, mas que este considera como marco do nal da
aprendizagem de seu disc pulo (ndtf).
7
Mais precisamente: escritas em fevereiro e agosto de 1909,
elas foram publicadas nesse mesmo ano (ndtf) .
8
A produ o musical de Schoenberg pode ser dividida em
quatro fases. A primeira, caracterizada pelas refer
? ncias
nais, dura at 1908. A partir dessa data desenvolve?se
? a s
gunda, conhecida por atonal , e que corresponde
suspens o da tonalidade. A fase serial ou dodecaf
? nica pro
priamente dita estende?se de 1920 a 1936. de 1920
? o pri
meiro uso consistente do princ pio serialista, e
78 ANTON WEBERN
9
A respeito do que foi dito nesse encontro, e sobre a rela
entre ambos nessa poca, Schoenberg se manifesta mais
tarde, em 1951 : No
que me diz respeito, ao contr rio (de Webern), eu
? tinha o h
bito de lhe expor imediatamente e integralmente minhas
novas id ias. A nica exce o se refere ao meu m todo de
composi o com doze sons, que por muito tempo mantive
secreto, porque Webern se apressava imediatamente em tirar
partido de tudo que eu pudesse escrever, dizer ou projetar.
Lembro?me mesmo de lhe ter dito na poca: Neste? mo
mento, estou absolutamente desorientado . , in:
(ndt).
10
Cf. nota 6 (da confer ncia anterior), p. 81 . Uma
? outra pas
sagem da carta, j citada, de Schoen berg dirigida
? a N. Slo
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 79
11
Principalmente, de Schoenberg: op. 4, os
, op. 5,
op. 7 e a op. 9; de A. Be
e a op. 1; de Webern: a
op. 1 e o coral a capela
op. 2 (ndtf).
12
Re exos n tidos destes protestos podem ser observados em
toda a Europa a partir da d cada de 30. No Brasil
? eles ocor
reram no nal da d cada de 40, particularmente atrav s das
rea es da escola nacionalista, como se pode observar
? nes
tes curtos trechos da
(S o Paulo, 1950), assinada por Camargo Guarnieri:
? Dode
cafonismo m sica cerebrina e falaciosa
..] [.
corres
?
ponde ao Abstracionismo em Pintura, ao Hermetismo em
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 81
82
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 83
1
Provavelmente h um engano nesse exemplo: v rias? possi
bilidades desse acorde podem ocorrer aqui por enarmonia;
por m, uma vez que se indica d como refer ncia, o f deve
ser bequadro, resultando assim no acorde de subdominante
menor com as caracter sticas mencionadas (ndt).
2
(texto tirado
de , de
Goethe ), para vozes e orquestra, opus 89 (1882) (ndt).
84 ANTON WEBERN
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u
da , o sexto grau da subdominante menor (em d maior:
o acorde f ?? l be mol? r bemol, a sexta napolitana?
segundo grau rebaixado de d maior).
Esse exemplo j mostra claramente o caminho que
? po
deria levar ao trabalho com doze sons. (Voc s j sabem
que a estrutura de todo o sistema repousa no fato de qu
se consideram os diversos sons da gama como graus, e
que se podem interpretar de v rias maneiras as rela es
citar Brahms como exemplo, do
que Wagner. Em Wagner a harmonia possui um ?signi
cado muito abrangente, mas, no que se refere? s rela
es harm nicas, Brahms mais rico.
Um estado de tonalidade suspensa tinha sido criado.
Ao nal, o ouvido n o teve mais necessidade de ? uma t
nica. Os doze sons foram postos num n vel de igualdade.
A escala de tons inteiros: um absurdo a creditar que
tem origem na m sica oriental ou do Extremo Oriente?!
Origina?se unicamente da necessidade de express o.
1
( Hojotohoh?! na , de Wagner.) A gama de tons
inteiros compreende seis sons apenas. De novo? algo cor
rosivo para a velha tonalidade?! Sua primeira utiliza
sob forma de acordes de seis vozes, encontra?se em
, de Debussy, e na pe a para orquestra de
Schoenberg, que tem o mesmo t tulo. Tais acordes
? pu
deram ser empregados sem preparo e sem resolu o.
Sua origem de natureza mel dica.
Schoenberg a rma: Todas as rela es s o poss veis?!
Essa maneira de explorar as coisas, de jamais nome ?la
pelo verdadeiro nome, de substituir incessante mente o
acordes de base por outros, preferindo deixar em aberto
1
Trata?se do motivo chamado grito de apelo das Walqu rias
e que se ouve desde o in cio do 2… ato, cantado por Brunni
85
86 ANTON WEBERN
(ndtf).
2
, para orquestra, opus 34,
composta em 1929?30 (ndt).
3
Franz Schreker (1878?1934), compositor e regente austr aco,
foi respons vel pela audi o de muitas obras contempor
?
neas, como os de Schoenberg, por exemplo. Sua
produ o, enquanto compositor, orientou?se fundamental
?
mente m sica de cena, onde se destacam tr s peras de
grande import ncia: (1913?15),
(1915?18) e especialmente (1901?10).
Esta ltima possui um signi cado particular devido? in u n
cia exercida na concep o formal da pera, de Alban
a situa o na qual se
? en
contrava a tonalidade durante o nal de sua? exist n
cia. Quero apresentar?lhes a prova de que ela realmente
morreu. Quando tivermos provado isso, tornar?se?
? in
til ocuparmo?nos de uma coisa que n o existe mais.
Falamos na ultima vez dos acordes constru dos sobre a
gama de tons inteiros e chegamos em seguida a um
acorde de seis sons numa passagem crom tica (f ???l ??
d sustenido???sol???si???r sustenido, ou: mi bemol???
si???l ???r bemol???f ). A simples adi o de tal acord
outro constru do de maneira an loga produz j um
acorde de doze sons.
Com tudo isso nos aproximamos de uma cat strofe: l906,
1
a );
de Schoenberg (acordes de quarta?!
em 1908, Schoenberg escreve uma m sica que n ?o per
tence mais a nenhuma tonalidade. As rela es ?com a to
nalidade principal tornaram?se cada vez mais frouxas.
Isso gerou uma situa o que permitia nal mente ? dispen
sar a pr pria tonalidade. A possibilidade de ?uma modu
la o r pida nada tem a ver com esse processo. Mas foi
porque quisemos assegurar o tom fundamental, ?am
pliando assim a tonalidade precisamente porque nos
1
Para quinze instrumentos, opus 9. A s rie de cin co quarta
ascendentes consecutivas (r ?sol?d ?f ?si bemol?mi bemol)
exposta desde o in cio pela trompa, constitui um? dos fun
87
88 ANTON WEBERN
2
A respeito da postura de Webern quanto s id ias, projetos
e produ es de seu mestre, ver nota 9 (confer ncia I), p.82
(ndt).
3
Trata?se certamente de (Rond ) para piano,? es
crito em 1906, publicado sem n mero de opus e reperto
?
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 89
4
Alexander von Zemlinsky (1872?1942), regente de orquestra
e compositor. De 1897 a 1900 Schoenberg estuda com ele
harmonia e contraponto, e em 1901 casa com sua irm
? Mat
hilde. Foi o nico professor regular que Schoenberg teve.
Embora seja dif cil precisar a in u ncia de Zemlinsky, sab
se que Schoenberg tinha por ele um grande respeito
? e cre
ditou?lhe, no nal da vida, a maioria de seu conhecimento
sobre problemas e t cnicas composicionais (ndt).
5
Na lista cronol gica das obras de Webern, estabelecida por
H. Moldenhauer, encontra?se em 1906 um
de Cordas, em d maior (mas que recebe o n… 107;
sua composi o , portanto, anterior quela do
de que We bern fala mais acima) e, em 1907, um
, em d maior?d menor (n mero
122). Essas s o as duas nicas partituras que poderiam
? cor
responder descri o feita por We bern de sua obra (ndt
90 ANTON WEBERN
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& 68 Rb œ Rb œ R bœ 4 ‰ r rn œrn œrn œ n Rœ J R J #œ
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Ex.15 — Arnold Schoenberg: opus 15, nº VII.
e come a outra.
Observemos agora os opus 15, de Schoen
?
berg?! N meros II e V: nenhum retorno t nica; mesmo
assim, qualquer pessoa percebe quando o m. N mero
VII [o acompanhamento tocado com uma s m ?o]: ob
servem como no nal Schoenberg retorna ao que foi
apresentado no in cio (Ex.15)?!
S os meios utilizados que s o diferentes. A can o
volta ao seu in cio. Para quem tem um senso de forma
mais re nado, a pe a est bem acabada, e para quem
tem sensibilidade, uma repeti o teria sido uma
? trivial
dade.
( )
7
, opus 15, texto de S. George,
1908?9 (ndt).
que foram os opus 15 que inau
?
1
guraram esse novo per odo da m sica.Voc s ainda
se recordam da primeira can o do opus 14 de ?Schoen
berg ( ... ), que tem dois? sus
tenidos na armadura e termina em si menor. No n mero
II dos tamb m seria poss vel determinar
uma tonalidade, especialmente na parte nal; ?poder a
mos considerar que est na tonalidade de sol maior e
acrescentar no m o acorde de sol 2maior.
1
No programa do concerto Schoenberg escreveu: Com essas
melodias sobre poemas de Stefan George consegui ?pela pri
meira vez me aproximar de um ideal expressivo e formal que
eu vislumbrava depois de anos. Escritas na sua maior parte
antes das , op. 11, elas se situam, de fato,
entre as primeiras obras atonais . Pode?se relacionar a
aten o extrema dada por Webern ao opus 15 de Schoen
?
berg com aquilo que Adorno diz sobre a d cima quarta
? me
lodia da cole o:.. .a mais audaciosa e avan ada, sem
nenhuma refer ncia a uma arquitetura tradicional,
? comple
tamente re colhida nela mesma, imaterial na sua escrita. Su
import ncia para o futuro n o poderia ser subestimada: tudo
em Webern partiu dela. (ndtf).
2
Essa coloca o de Webern ca mais clara quando se ? consi
dera especialmente a linha vocal: embora em toda? sua ex
92
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 93
molto rit.
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π bleiben, aber etwas steigern S
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espress.
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doch mein Traum ver - folgt nur ei - nes. molto rit.
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gg n˙ ˙.
S n˙ ˙. b œ- w w
Ex.16 — Arnold Schoenberg: opus 15, nº II
.
tens o possamos notar uma relativa polariza o sobre sol,
nos ltimos nove compassos ela mais acentuada (ndt).
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 95
4
, opus 9, compostas entre
1911 e 1913 (ndt).
5
Josef Matthias Hauer (1883?1959) foi um m sico, te rico e
compositor austr aco, que de maneira in dependente
? desen
volveu pesquisas sobre a t cnica dodecaf nica, e em 1919
96 ANTON WEBERN
98
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 99
Tema:
&b c œ. œ. œ. œ. ˙ ˙ ˙- .
œ.
Ex. 17 — “ ”, de Beethoven.
1
n… 1, opus 7, 1904?5 (ndt).
2
Percebe?se isso desde a reentrada do tema inicial. Ele par
primeiramente estar concebido sob a forma de uma melodia
(no 1… violino) acompanhada (pela viola e violoncelo); mas
quando reaparece no compasso 30, a linha mel dica?
? ?ex
posta no come o da obra pelo violoncelo como um simples
baixo retomada pelos dois violinos, enquanto que a
melodia do 1… violino passa ao violoncelo. Essas mudan as
de registro p em em evid ncia a verdadeira estrutura do
tema: trata?se de fato de um contraponto a tr s vozes. Uma
an lise muito penetrante do projeto contrapont stica posto
em obra nesse pode ser encontrada consul
?
tando?se o proveitoso ensaio de Berg,
(ndtf).
100 ANTON WEBERN
1
A palavra espelho empregada aqui apenas para a rela o
de invers o de maneira geral tamb m aplicada a todas
as outras O RO
formas, que na realidade s o deriva es
por espelhamento da s rie original: IO RI
101
102 ANTON WEBERN
(ndt).
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 103
2
Para sete instrumentos, aos quais se acrescenta uma voz de
baixo que canta o n… 217, de Pe trarca. A linha vocal
exp e continuamente a forma original de uma s rie de doze
sons; cf. nota 7, confer ncia 8, p. 74 (ndtf).
3
, op. 17, com
?
posto em tr s semanas do ver o de 1909,so bre texto de
Marie Pappenheim.
quadros, op. 18, escrito entre outubro de 1908
? e no
vembro de 1913. O libreto e do pr prio Schoenberg (ndtf).
4
, op. 7, composta entre 1917 e 1922,
a partir do drama (inacabado) de Georg B chner. Cada uma
de suas quinze cenas est constru da ainda sobre uma forma
musical tradicional: su te, raps dia, passacale,? rond , fa
sia, fuga, etc. (ndt).
5
A s rie inicial da , de Alban Berg, por exemplo,
? con
t m os intervalos poss veis, da segunda menor s tima
104 ANTON WEBERN
maior:
nw nw bw bw bw
& nw nw nw nw bw bw bw
(ndtf) .
6
Nesse sentido, as s ries mais remarc veis de We bern s o
aquelas do , op. 24 e do
, op. 28. A pri meira constitu da de quatro formas
diferentes de uma mesma gura de tr s sons:
nw nw #w nw
& nw bw bw nw #w #w nw nw
figura inicial RI RO IO
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 105
nw #w nw bw nw bw nw
& bw nw nw nw #w
B A C H
figura inicial inversão transposição
(ndtf) .
s minhas ltimas exposi es,? gos
taria hoje de falar sobre a utiliza o pr tica da nov
t cnica. Inicialmente, por m, desejo responder
? per
gunta que me foi feita: Como poss vel a liberdade de
cria o se estamos sujeitos prescri o da s rie que
base de toda a composi o?
Formulada de maneira incisiva, a resposta seria:
? n o po
der amos fazer a mesma pergunta a prop sito da es cala
de sete sons? Na base temos hoje doze sons onde antes
existiam sete; na verdade, o compromisso com a s rie
extremamente r gido, mas tais compromissos sempre
existiram, em particular nas formas polif nicas rigoros
como o c non e a fuga, que est o vinculadas a? um de
terminado tema. A , de J.S.Bach, composta
com base num nico tema:
&b c ˙ ˙ ˙ ˙ #˙ œ œ ˙ œœœœ
Ex.18
1
, op. 26, composto entre 1923 e 1924 (ndt).
108 ANTON WEBERN
2
, Viena, 1910?11; revisado em 1921. Possui
? tra
du o em espanhol, de Ramon Barce; (Ma?
drid: Real Musical Editores, 1974). (ndt)
O CAMINHO PARA A COMPOSIÇÃO COM DOZE SONS 109
bw nw nw nw
& nw bw #w bw nw nw # w
nw
Ex. 20
3
Essa sinfonia uma das obras mais representati ?vas do pen
samento weberniano. Comp e?se de dois movimentos. O
primeiro tem a forma de c non duplo por movimento
? con
tr rio, e estruturado de ma neira sim trica em raz o dos
v rios espelhamentos no eixo vertical. O segundo em
forma varia o: tema seguido de sete varia es e coda. Ve
an lise detalhada em anexo, pp. 131?153 (ndt) .
4
Isto , metade das transposi es da forma origi nal (O) e
retr grado (RO) coincidem. O mes mo ocorre entre a invers
(IO) e seu retr gra do (RI). Ver p. 153 o repert? rio dessa
mas (ndt).
5
Essa varia o realizada somente pelas cordas. O c non
duplo, em movimento contr rio, se estrutu ra da ?maneira se
110 ANTON WEBERN
6
As se es se correspondem na rela o retr grada, cujo eixo
representado pela 4». varia o. Uma an lise apurada da
Sator Arepo Tenet Opera Ro tas ,
com a qual Webern encerra sua confer ncia de 2 de
mar o de 1932, admite, entre outras, a seguinte ? tradu
1
o: O semeador Arepo mant m a obra num mo vimento
circular . Este quadrado m gico, no qual We bern disp s
a f rmula, ilustra claramente o princ pio fundamental d
t cnica de doze sons a equival ncia entre
fundas? rie
mental, invers retr
o, gradoe in vers do
o retr grado
!?
Complementando essas confer ncias, gostaria inicial
?
mente de acrescentar algumas anota es feitas? entre se
tembro de 1936 e fevereiro de 1938, per odo em que fui
um dos alunos particulares de Webern e estudei
? morfo
logia sob sua orienta o. Eu ia ent o uma vez por seman
sua casa, em Maria Enzersdorf, perto de M dling,
? e du
rante o retorno, no trem, apressava?me em anotar
? mi
nhas experi ncias com ele. N s analis vamos quase que
exclusivamente obras cl ssicas. Duas vezes apenas, ele
falou detalhadamente de sua pr pria cria o: da
2
op. 21 e do op. 22. A prop sito desta ltima
obra, ele observou enquanto analis vamos o
da Sonata para piano Op. 14 n… 2 de Beethoven , que
acabava de constatar a absoluta analogia entre a forma
1
Nome pr prio de origem ignorada (ndt).
2
Para clarinete, saxofone tenor, piano e violino, composta
entre 1928 e 1930 (ndt).
111
112 ANTON WEBERN
3
As palavras sublinhadas est o conforme o original (W.R.).
4
Sua composi o foi iniciada em 1936 e conclu da em 26 de
mar o de 1938 (ndt)Æ
5
Rudolf Kolish (1896?1978), violinista austr aco e cunhado
Schoenberg. Foi aluno de Schreker e Schoenberg (teoria e
composi o), e em 1922 formou o Quarteto Kolish,? respon
s vel por primeiras audi es de m sica nova, especialmente
de Schoen berg, Berg e Webern (ndt).
114 ANTON WEBERN
6
( A luz dos olhos ), opus 26, para coro misto
e orquestra, sobre texto de Hil degard Jone, foi composta e
1935 e, apresentada pela primeira vez neste festival
? da So
ciedade In ternacional de M sica Contempor nea (SIMC) sob
a dire o de H. Scherchen. Esta uma das poucas obras cujo
sucesso de p blico Webern presenciou (ndt).
CORRESPONDÊNCIA COM WILLI REICH 115
7
O convite foi realizado pelo Dr. Werner Reinhart. Passamos
belas horas com Webern em fevereiro de 1940, em ?Wintert
hur e Basel (W.R.).
8
Subentendido: na Europa. De fato, (Op. 4,
n… 4) apenas havia sido cantada em New York, em ?18 de ja
neiro de 1925 por Greta Torpadie (ndtf).
9
Entretanto, no concerto, organizado pela SIMC, de
? 10 de fe
vereiro de 1940, em Basel, foi apresentada a vers o integr
116 ANTON WEBERN
10
para violino e piano op. 7 (1910) (ndtf).
CORRESPONDÊNCIA COM WILLI REICH 117
12
Webern se refere ao terceiro movimento da(ndt).
118 ANTON WEBERN
13
, para orquestra, opus 30; composi o terminada em
ns de 1940 (ndt).
14
A estr ia das ocorreu em Winterthur, no dia 3 de
mar o de 1943, sob a dire o do Dr. Her mann Scherchen.
CORRESPONDÊNCIA COM WILLI REICH 119
15
Essa a ltima obra composta por Webern. Durante
algum tempo ele hesitara em determinar a ordem nal das
seis partes que a constituem, como se pode observar nesta
e nas cartas seguintes (ndt).
16
Essa primeira pe a , terminada em 31 de julho de 1941,
122 ANTON WEBERN
20
A primeira apresenta o das , op. 30,
124 ANTON WEBERN
22
A composi o estava terminada h exatamente um m s. Ela
se tornar nalmente a segunda parte daquilo que Webern
chama ainda orat rio . No dia 21 de janeiro de ?1943, We
bern tinha tamb m ter minado uma outra ria para baixo?
CORRESPONDÊNCIA COM WILLI REICH 125
24
Ela ser terminada no dia 3 de novembro de 1943 ?e consti
tuir nalmente a terceira parte do op. 31 (ndtf) .
126 ANTON WEBERN
25
As , op. 23, para voz e piano foram de ?fato apre
sentadas em primeira audi o no concerto programado, em
5 de dezembro de 1943. As can es do op. 25 (1934), no
entanto, s tiveram sua estr ia em 16 de mar o de 1952, em
New York (ndt).
26
Dia 3 de dezembro de 1943, comemora o dos sessenta
CORRESPONDÊNCIA COM WILLI REICH 127
28
Erwin Ratz (1898?1973) music logo austr aco. A partir de
1917 teve aulas particulares com Schoen berg, assumindo um
papel importante na divulga o da obra de seu mestre. Foi
128 ANTON WEBERN
33
Opus 31, ltima obra conclu da de Webern
. ) .
(
34
Pode?se ler, nos esbo os datados de 26 de janei ro de 1944
o t tulo , seguido da in dica o: 1
. Encontra ?se em seguida a s rie da obra: