Você está na página 1de 85

Língua Portuguesa I

Magna Maria de Oliveira Ramos

São Cristóvão/SE
2009
Língua Portuguesa I
Elaboração de Conteúdo
Magna Maria de Oliveira Ramos

Projeto Gráfico e Capa


Hermeson Alves de Menezes

Diagramação
Lucílio do Nascimento Freitas
Neverton Correia da Silva
Nycolas Menezes Melo

Ilustração
Luzileide Silva Santos

Reimpressão

Copyright © 2009, Universidade Federal de Sergipe / CESAD.


Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e grava-
da por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a
prévia autorização por escrito da UFS.

FICHA CATALOGRÁFICA PRODUZIDA PELA BIBLIOTECA CENTRAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Ramos, Magna Maria de Oliveira.


O48l Lingua portuguesa I / Magna Maria de Oliveira
Ramos -- São Cristóvão: Universidade Federal de
Sergipe, CESAD, 2009.

1. Português. 2. Língua portuguesa. 3. Letra. I. Título.

CDU 811.134.3
Presidente da República Chefe de Gabinete
Luiz Inácio Lula da Silva Ednalva Freire Caetano

Ministro da Educação Coordenador Geral da UAB/UFS


Fernando Haddad Diretor do CESAD
Antônio Ponciano Bezerra
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky Vice-coordenador da UAB/UFS
Vice-diretor do CESAD
Reitor Fábio Alves dos Santos
Josué Modesto dos Passos Subrinho

Vice-Reitor
Angelo Roberto Antoniolli

Diretoria Pedagógica Núcleo de Avaliação


Clotildes Farias (Diretora) Guilhermina Ramos (Coordenadora)
Hérica dos Santos Mota Carlos Alberto Vasconcelos
Iara Macedo Reis Elizabete Santos
Daniela Souza Santos Marialves Silva de Souza
Janaina de Oliveira Freitas
Núcleo de Serviços Gráficos e Audiovisuais
Diretoria Administrativa e Financeira Giselda Barros
Edélzio Alves Costa Júnior (Diretor)
Sylvia Helena de Almeida Soares Núcleo de Tecnologia da Informação
Valter Siqueira Alves João Eduardo Batista de Deus Anselmo
Marcel da Conceição Souza
Coordenação de Cursos
Djalma Andrade (Coordenadora) Assessoria de Comunicação
Guilherme Borba Gouy
Núcleo de Formação Continuada
Rosemeire Marcedo Costa (Coordenadora)

Coordenadores de Curso Coordenadores de Tutoria


Denis Menezes (Letras Português) Edvan dos Santos Sousa (Física)
Eduardo Farias (Administração) Geraldo Ferreira Souza Júnior (Matemática)
Haroldo Dorea (Química) Janaína Couvo T. M. de Aguiar (Administração)
Hassan Sherafat (Matemática) Priscilla da Silva Góes (História)
Hélio Mario Araújo (Geografia) Rafael de Jesus Santana (Química)
Lourival Santana (História) Ronilse Pereira de Aquino Torres (Geografia)
Marcelo Macedo (Física) Trícia C. P. de Sant’ana (Ciências Biológicas)
Silmara Pantaleão (Ciências Biológicas) Vanessa Santos Góes (Letras Português)

NÚCLEO DE MATERIAL DIDÁTICO

Hermeson Menezes (Coordenador) Neverton Correia da Silva


Edvar Freire Caetano Nycolas Menezes Melo
Isabela Pinheiro Ewerton
Lucas Barros Oliveira

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


Cidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos”
Av. Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze
CEP 49100-000 - São Cristóvão - SE
Fone(79) 2105 - 6600 - Fax(79) 2105- 6474
Sumário
AULA 1
Por que Morfossintaxe? .................................................................... 07

AULA 2
Introdução à Morfologia ..................................................................... 13

AULA 3
A estrutura da palavra ....................................................................... 19

AULA 4
Morfemas da língua portuguesa ........................................................ 29

AULA 5
Segmentação de morfemas e alomorfias .......................................... 37

AULA 6
Classes e funções (Substantivo) ....................................................... 47

AULA 7
Introdução à Sintaxe ......................................................................... 55

AULA 8
Sujeito ........................................................................................65

AULA 9
Adjunto adnominal e complemento nominal ...................................... 79

AULA 10
Aposto.........................................................................................87
Aula

POR QUE MORFOSSINTAXE?


1
META
Levar o aluno a reconhecer a importância da morfossintaxe para o estudo da língua em diversos
níveis e aplicações.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
compreender as razões que levaram os estudiosos a associarem conteúdos de duas
disciplinas, Morfologia e Sintaxe para análise lingüística;
distinguir os critérios mórficos, sintáticos e semânticos, para melhor compreensão da língua, no
que concerne ao estudo das classes e funções.

PRÉ-REQUISITOS
Estudos de Morfologia e Sintaxe realizados até o nível médio.

(Fonte: http://www.clul.ul.pt).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Caro aluno, seja bem-vindo ao estudo desta disciplina! Você deve


estar pensando o que vai aprender em Língua Portuguesa I. Ao verificar-
mos a ementa, observamos que seu conteúdo é interdisciplinar, pois par-
te de dois planos de descrição da língua, a Morfologia e a Sintaxe, ou seja,
da Morfossintaxe, nome sofisticado e composto. A palavra Morfossintaxe
vem de dois radicais gregos: “morphé = forma” e “syn+taxis”; esta última
significa arranjo entre classes, colocação de termos, uns ao lado de ou-
tros, numa sociedade de palavras. Enquanto a Morfologia estuda o vocá-
bulo mórfico (a palavra) e suas unidades mínimas significativas, os
morfemas, a Sintaxe observa a função dos vocábulos na frase. Apesar de
hoje se fazerem estudos de Morfologia e Sintaxe em períodos diferentes,
optamos por seguir os currículos mais modernos em cujas ementas estão
seus conteúdos associados, pois são muito estreitas as relações entre tais
disciplinas. Tudo isso é interessante e provocador!
Dividiremos o nosso curso em duas unidades. Na primeira, apresen-
taremos estudos morfológicos, uma análise dos morfemas e de sua classi-
ficação; na segunda unidade, teremos como foco de nosso estudo as fun-
ções sintáticas de termos oracionais que contraem função com o Sujeito.
Vamos dar início, pois, a uma trajetória que nos levará, sem dúvida,
ao conhecimento de um mundo fascinante; estaremos diante de classes e
funções que se ligam e se auxiliam numa rede de palavras entrelaçadas de
significados múltiplos. Com um pouco de esforço e dedicação, você verá
como é fácil e atraente a aprendizagem dos conteúdos da disciplina Lín-
gua Portuguesa I.

(Fonte: http://www.blogcdn.com).

8
Por que morfossintaxe?
Aula

MORFOSSINTAXE 1
Que tal entendermos um pouco dos planos de descrição da nossa
língua? Como podemos descrevê-la?
Você sabia que nas gramáticas há uma divisão de suas partes em pla-
nos. Por exemplo: a Fonologia é o primeiro plano, pois tem como núcleo o
fonema, que é uma unidade mínima distintiva. Depois temos a Morfologia,
cujo estudo se baseia na palavra e em suas possibilidades de divisão em
unidades mínimas significativas, os morfemas. Seguindo em direção ao
plano mais abrangente, chegamos à Sintaxe, que focaliza a palavra na
frase e sua função em relação a um grupo de palavras na qual está inserida
para transmitir uma idéia. Neste plano, ela deixa de ser vista numa área
um tanto restrita e passa a ser analisada no período simples ou composto.
Outro plano muito estudado é o textual. Vemos neste os mecanismos de
coesão textual e a coerência entre as partes, além da expressão, pois estamos
diante de um texto que começa a partir da frase. Nas disciplinas de Pro-
dução de Texto nos detemos a estudar tal plano. A Semântica, por sua
vez, é também uma área de estudo que se encontra em outras áreas, o
que, aliás, é comum, tendo em vista a importância da interdisciplinaridade.
Você fique atento e curioso a tudo, meu caro aluno. Logo verá como as
disciplinas se auxiliam e interdependem. Não há um dado científico sem
que seja necessário olhar, criticar, e apelar para outra área afim. Seria
limitar a visão do cientista que há em você.
Você aprendeu que a língua portuguesa é descrita por planos ou áreas
interligadas, embora os gramáticos marquem a divisão desses itens em
capítulos separados. O que existe de fato é uma organização dos estudos
lingüísticos, ao dividir tais assuntos, apenas para efeito didático. São con-
teúdos interdisciplinares que se comunicam inevitavelmente.
O vernáculo tem vastíssimo vocabulário e cada palavra empregada
por seu usuário tem forma, função e sentido, agrupando-se em uma clas-
se. Por exemplo, a palavra pá é uma forma constituída de dois fonemas,
que tem uma função lexical (apresenta a significação básica da palavra)
que pode ser extralingüística, sem recorrer ao som ou à grafia. Significa
um objeto utilizado para limpeza doméstica.
Carreter, filólogo espanhol, diz-nos que a forma “é o aspecto sob o
qual se nos apresenta um elemento lingüístico, abstraindo-se-lhe a função e
o sentido”. Saussure, o pai da Lingüística, considera que “as formas e as
funções são solidárias e, para não dizer impossível, seria difícil separá-las”.
A classificação das palavras coloca em primeiro lugar o critério for-
mal ou mórfico, segundo as oposições formais que a palavra assume, para
exprimir funções gramaticais flexionais ou derivacionais.
Não podemos separar o sentido das formas e funções, pois não se
pode isolar o som do seu significado, nem a idéia do som, pois temos duas
faces do signo, o significante (físico, som) e o significado (abstrato, idéia).

9
Língua Portuguesa I

Nossa língua, caríssimo aluno, é rica em construções formais. Tome-


mos como exemplo o substantivo pedra. Dele derivam as palavras pedrinha,
pedrada, pedreiro, pétreo, petrificar, empedrado, apedrejar, pedregulho, etc. Se olhar-
mos um verbo e suas formas, mesmo o de construção regular tem muitas
desinências, ou seja, bastantes variações de modo –tempo e número– pes-
soa. O verbo é a palavra mais variável da língua portuguesa. Imagine que as
construções possíveis de um verbo qualquer nos transmitem “n” sentidos.
Nem todas as palavras têm abundância em relação à forma. A palavra pires,
por exemplo, tem piresinho e o plural piresinhos. É pobre quanto à forma, em
contraste com a palavra ferro, que apresenta uma riqueza formal impressio-
nante. A forma é vista no critério formal ou morfológico, mas ainda pode-
mos estudar a palavra, observando-se o critério funcional ou sintático e o
critério semântico, que se detém no sentido.

CONCLUSÃO

Assim iniciamos o contato com esta disciplina, aprendendo que a


língua tem de ser estudada em critérios heterogêneos, ora destacando-se
o mórfico, ora o sintático, ora o semântico, de acordo com o ângulo da
pesquisa, sem determinar uma hierarquia dos critérios, para não cometer-
mos o erro de adotar uma visão rígida ou até mesmo preconceituosa. Por
uma questão de esclarecimento, esta disciplina visa ao estudo de alguns
aspectos morfossintáticos da língua portuguesa.

RESUMO

A disciplina Língua Portuguesa I tem seu conteúdo básico voltado


para aspectos mórficos e sintáticos associados, por ser tão estreita a rela-
ção entre a forma e a função das palavras. Morfossintaxe é o que vamos
estudar, porque a Morfologia e a Sintaxe não podem ser vistas separada-
mente. As palavras têm formas e se agrupam (sintaxe) numa sociedade
de palavras. São vasos comunicantes e, para conhecermos melhor a lín-
gua, devemos reconhecer a possibilidade de descrevê-la em vários pla-
nos. Logo, a Fonologia, a Morfologia, a Sintaxe e a Semântica se auxiliam,
sem que um seja mais importante do que o outro, embora o programa
desta disciplina tenha um conteúdo voltado para a morfossintaxe com
enfoque no Sujeito.

10
Por que morfossintaxe?
Aula

ATIVIDADES 1
1. Escolha uma palavra da língua portuguesa (um verbo ou substantivo) e
analise-a sob vários planos. Você verá que existe uma interdependência
entre as áreas de estudo e não há possibilidade de estudá-la sob um critério
apenas.
2. Por que hoje se prefere estudar morfossintaxe? Os programas de Língua
Portuguesa são feitos com esta combinação. Você sabe por quê?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Para a primeira questão vou tomar como exemplo a forma verbal


“amasse”.
“Amasse”
- Sob o critério formal é variável. É um verbo regular de 1ª conjugação
(C I).
- Sob o aspecto sintático ou funcional é núcleo do predicado verbal,
pois tem noção forte (significação básica no predicado).
- Sob o critério semântico, indica modo, tempo, número e pessoa, e
dá ainda uma idéia hipotética.
Para responder à segunda questão, releia os conceitos que lhe foram
passados no início da aula.

REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. São Paulo:


Companhia Editora Nacional, 1972.
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1986.
LUFT, Celso Pedro. Moderna Gramática Brasileira. Porto Alegre: Glo-
bo, 1976.
MACEDO, Walmírio. Análise sintática em nova dimensão. Rio, 1977.
MACAMBIRA, José Rebouças. Estrutura morfo-sintática do Portu-
guês. São Paulo: Pioneira, 1974.

11
Aula

INTRODUÇÃO À MORFOLOGIA
2
META
Expor os princípios básicos da Morfologia, segundo a Gramática Descritiva.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
conhecer as noções introdutórias da Morfologia, numa perspectiva da Lingüística;
compreender os conceitos fundamentais da Morfologia como base para a análise morfológica.

PRÉ-REQUISITOS
Conhecer os planos em que a língua portuguesa pode ser descrita. Sabemos que a Morfologia
e a Sintaxe são áreas de estudo que se comunicam.

(Fonte: http://karinaghiglino.files.wordpress.com)>
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Você viu que a Morfologia e a Sintaxe são planos da descrição da


língua que aparecem juntos na morfossintaxe, levando-se em considera-
ção o fato de se auxiliarem, privilegiando as interrelações entre os dois
níveis. No entanto, Joaquim Mattoso Câmara Júnior, o pai da Linguística,
no Brasil, observa o caráter autônomo da Morfologia, valendo-se da idéia
de relação associativa ou paradigmática. Por exemplo, o substantivo gato,
através de suas relações de oposição no paradigma, é masculino e singu-
lar, valores morfológicos. Veja bem, podemos estudar Morfologia,
conceituá-la, embora saibamos que a referência à Sintaxe e a outros pla-
nos de descrição é constante.
De um ponto de vista metodológico, vamos nos deter um pouco no
estudo da Morfologia, visando à observação de aspectos sincrônicos, ou
seja, do “aqui e agora”, porque os mecanismos de funcionamento de um
idioma antecedem as explicações de caráter histórico ou diacrônico. Por
exemplo, do verbo comer derivaram comida, comilança, comilão, conduzindo-
nos à conclusão de que seu radical é com (diferentemente do radical latino
ed). Logo, não interessa ao estudo da Morfologia saber que no passado o
radical do verbo comer era ed, comedere. Ao realizar aspectos sincrônicos, a
língua é vista no contexto atual.

(Fonte: http://blogs.ya.com).

14
Introdução à morfologia
Aula

MORFOLOGIA 2
Quando surgiu o termo lingüístico Morfologia? Você deve estar curi-
oso, não? Devemos lembrar-lhe, meu caro aluno, que os gramáticos clás-
sicos, na Antiguidade greco-latina, já dividiam a gramática em três partes:
flexão, ou “acidentia”, a derivação, ou formação de palavras e a sintaxe.
Consideravam as palavras como indivisíveis, sem fazerem qualquer alu-
são ao morfema. Somente no final do século XVIII, a descoberta do
sânscrito (antiga língua sagrada dos hindus), permitiu o reconhecimento
de uma estrutura interna das palavras com a depreensão de unidades mí-
nimas como raízes e afixos. Veja que, de alguns séculos antes de Cristo
até o século XVIII, não tínhamos estudos de morfemas. Somente na se-
gunda metade do século XIX, por volta de 1860, a palavra morfologia foi
utilizada pela Lingüística, referindo-se à flexão e à derivação. No Brasil, o
professor e linguista Mattoso Câmara lançou o seu livro “Princípios de
lingüística geral” em 1942. Conforme você aprendeu, trata-se de uma
ciência muito nova.
Qual é o objeto da Morfologia? O que tal ciência estuda?
Vejamos primeiro a definição bastante didática de Leonor Cabral:
“uma definição de morfologia que a considere como um componente se-
parado da sintaxe e tendo como unidade mínima e máxima de seu objeto,
respectivamente, o morfema e a palavra, seria: parte da gramática que
descreve as unidades mínimas de significado, sua distribuição, variantes e
classificação, conforme as estruturas onde ocorrem, a ordem que ocu-
pam, os processos na formação de palavras e suas classes.” Assim, vemos
que, diferentemente de Saussure, que não via a Morfologia como objeto
autônomo, outros linguistas importantes, inclusive Mattoso Câmara, re-
conhecem a possibilidade de estudá-la separadamente da Sintaxe.

DIVISÃO DA MORFOLOGIA

Você sabia que podemos dividi-la em dois ramos de estudo?


Os estudiosos (linguistas) estabelecem diferenças entre tipos de
Morfologia, a flexional e a derivacional. As flexões ou desinências (DMT,
DNP, DG e DN) modo-temporais, número-pessoais, de gênero e número,
respectivamente, são vistas na Morfologia Flexional. “A flexão é uma vari-
ação de caráter morfossintático”, segundo Maria Nazaré Laroca (1994). A
variação é uma exigência da concordância nominal ou verbal. Ex.: “Tu ga-
nhaste vários prêmios?” Há uma dependência da palavra “tu”, com o verbo
ganhaste (2ª singular), bem como das formas de plural em vários e prêmios.
A flexão ou variação de verbos e nomes é uma série fechada e cons-
tante, pois há uma previsibilidade no sistema interno da língua. Por exem-
plo: “Vou ao clube”; se o plural da primeira pessoa é vamos, não posso

15
Língua Portuguesa I

acrescentar aí um significado novo. O plural de “belo rapaz” é “belos rapa-


zes” e disso não posso fugir. A flexão é também algo que tem estabilidade
semântica. Há séculos o plural de flor é flores, sem extensão de sentido.
Agora você vai aprender do que trata a Morfologia Derivacional, o
outro ramo dessa interessante área de estudo. Também chamada de lexical,
seu objeto de pesquisa é a estrutura das palavras e os processos de forma-
ção do léxico; consiste numa série aberta à possibilidade de criação de
novas palavras. Uma oposição lexical estabelece a diferença no léxico ou
dicionário. Exemplo: amar (verbo), amante (substantivo) e amado (adje-
tivo ou verbo) são palavras diferentes. Já na flexão as desinências verbais
e nominais ou os elementos “não-gramaticais” são selecionados pala gra-
mática, sem mudança de classe ou significado. Através das flexões, não
criamos palavras; isso marca uma oposição com a derivação, que, ao in-
cluir prefixos e sufixos a uma base, cria novos vocábulos. Exemplo: amar
(verbo), amador (substantivo).
Agora vamos entender noções de conjunto e estrutura. A língua é
uma estrutura organizada, ou seja, dispõe letras do alfabeto de modo a
formar palavras; isso no caso das línguas alfabéticas. O conjunto são as
peças jogadas sem ordenação. Exemplo: “mroa”. Se dispusermos tais le-
tras numa certa ordem, teremos Roma, Omar, ramo, amor, mora, estruturas
da língua com forma e sentido, além da função sintática.

CONCLUSÃO

A Morfologia, consequentemente, tem certa autonomia em relação à


Sintaxe, sem contudo deixar de fazer constantes referências ao critério
funcional ou sintático. Cabe-nos delimitar os campos de análise, focali-
zando ora um, ora outro, sem diminuir o valor deste ou daquele. Saber
criticar, julgar, marcar as diferenças entre áreas afins é importante para a
descrição linguística.
Não se perca nestas águas, meu caro aluno; a viagem pelo universo
dos estudos morfossintáticos pode ser tranqüila. Só depende de você!!

RESUMO

A Morfologia deve ser estudada ao lado da Sintaxe, contudo é possí-


vel separá-las para efeito didático, pois tem como objeto de análise os
morfemas da língua portuguesa. Reconhecendo sua autonomia, podemos
fazer a análise morfológica voltada para a Morfologia Flexional ou
Derivacional, esta última também chamada de Lexical. A primeira visa
ao estudo das flexões verbais e nominais (DMT, DNP, DG e DN) en-
quanto a segunda propõe-se a estudar o processo de formação de pala-

16
Introdução à morfologia
Aula

vras, suas classes e funções (lexicais ou gramaticais). Também você viu


que a língua é uma estrutura; isso requer ordem e ligação entre as partes,
2
para ter sentido. Caso contrário, é apenas um conjunto de elementos sol-
tos, que não chegam a estabelecer uma comunicação.

ATIVIDADES

1. Conceitue Morfologia.
2. Estabeleça a diferença entre Morfologia Flexional e Derivacional.
3. Identifique, nos exemplos abaixo, os fenômenos de flexão e derivação:
a)irmãs
b) descentralizar
c) correríamos
d) bonequinhas
e) filhote
f) falaríamos
g) deslealdade
h) aspereza
i) vozes
j) amável

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

A primeira questão deve ter uma resposta original, ou seja, uma


conceituação do aluno, que pode ser baseada em diversas leituras.
Ao responder à segunda questão, escreva o que entendeu desses
ramos da Morfologia, exemplificando cada um deles.
Para responder à terceira questão, observe o modelo abaixo:
tristeza – sufixo “ez” (derivação)
impossível – prefixo “im” e sufixo “vel” (derivação)
meninas – “a”desinência de gênero (flexão), “s” desinência de número
(flexão)
amavas –”va” e “s” (flexões de modo-tempo e número-pessoa,
respectivamente)

17
Língua Portuguesa I

REFERÊNCIAS

CÂMARA JR., J. Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis:


Vozes, 1970.
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1986.
LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. Manual de morfologia do por-
tuguês. Juiz de Fora, UFJF, 1994.
MACAMBIRA, José Rebouças. Estrutura morfo-sintática do Portu-
guês. São Paulo: Pioneira, 1974.
KEHDI, Valter. Morfemas do Português. 4 ed. São Paulo: Ática,., 1998.
KOCH, Ingedore Villaça; SILVA, Maria Cecília P. de Souza. Lingüística
aplicada ao português: Morfologia. São Paulo: Cortez Editora,1989.

18
Aula

A ESTRUTURA DA PALAVRA
3
META
Descrever a estrutura nominal, representando os elementos que constituem o vocábulo formal
(nome).

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
identificar os elementos que compõem a estrutura dos vocábulos formais ou mórficos.

PRÉ-REQUISITOS
Introdução à Morfologia e estudo dos seus conceitos básicos.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Meu caro aluno, nas aulas anteriores, vimos alguns conceitos básicos
de Morfologia e a importância dos estudos linguísticos nesse campo. Es-
tudar os morfemas da língua portuguesa, tanto nos mecanismos de flexão,
quanto nos de derivação, tem-nos levado a uma melhor compreensão da
língua, de sua estrutura e dos processos de formação das palavras. Você
aprenderá nesta aula como as unidades mínimas significativas estruturam
o vocábulo mórfico, também chamado de palavra. Na língua oral, a pala-
vra é difícil de ser definida, embora facilmente a reconheçamos na cadeia
sonora. Na língua escrita, há mais sistematização, pois a seqüência de
sons possíveis ocorre entre espaços e/ou sinais de pontuação. De qual-
quer forma, percebemos que sua definição gera dificuldades à luz da Lin-
güística. Isso você constatará, e logo tudo se tornará mais claro.

(Fonte: http://www.clicabrasilia.com.br).

20
A estrutura da palavra
Aula

O QUE É A PALAVRA? 3
1. Prefixo (P)
2. Radical (Rd)
3. Sufixo (S)
4. Vogal temática nominal (VTN)
5. Radical (Rd)
6. Sufixo (S)
7. Desinência de gênero (DG)
8. Desinência de número (DN)
Você já pensou nisso? Veja bem, não é fácil definir essa unidade lin-
güística que pode ter apenas um morfema, a exemplo de sol e mar. Nesses
casos, são monomorfêmicos.
A palavra ainda pode se constituir de vários morfemas, como em

in felic idad e, sabor os a s


1 2 3 4 5 6 7 8

E se tiver somente um radical, é classificada de simples. Temos como


exemplos
cafezal, deslealdade, cadeirinha etc.
Quando a palavra tem dois ou mais radicais, é uma estrutura com-
posta. Ex: pé-de-cana; pó-de-arroz; guarda-chuva. No entanto, ocorre um
problema de definição, pois há formas distintas para uma só palavra. Te-
mos mesa (singular) e mesas (plural), mas se tomarmos a palavra manga,
como exemplo, ela pode ser forma do verbo mangar (3ª pessoa do singu-
lar do modo indicativo); aparece como substantivo manga (fruta) e man-
ga (parte da camisa), ou seja, uma forma (um morfe) para três palavras
(morfemas distintos). Citando aqui outros exemplos, temos formas ver-
bais em venderemos, venderíamos, vendeste para o mesmo verbo. Porém, a
venda (substantivo) é uma palavra distinta porque seu radical tem signifi-
cado diferente. Outro exemplo, mar e mares são duas formas da mesma
palavra; já maresia, por ter significação diferente, é uma palavra distinta.
A palavra é uma estrutura, pois a seqüência de letras é reconhecida no
léxico. Se em vez da palavra Roma, escrevêssemos ou falássemos mroa,
ninguém nos entenderia e essa não seria uma seqüência possível.

A ESTRUTURA DA PALAVRA

Sabemos que a língua é uma estrutura.


Por muitos séculos a palavra foi considerada indivisível, ainda que
apresentasse variações na forma, como as flexões verbais. Entretanto,
formamos palavras a partir de outras palavras; então somos forçados a

21
Língua Portuguesa I

reconhecer que elas podem ser unidades compostas ou ainda complexas.


Quando constituídas de dois ou mais morfemas são compostas; por exem-
plo, a palavra mesa é constituída de radical “mes” e da vogal temática “a”,
ou seja, de dois elementos. Também consideramos composto o substanti-
vo ou adjetivo formado de dois ou mais radicais. Temos muitos exemplos
na nossa língua, como pé-de-moleque, arranha-céu, caneta-tinteiro, azul-mari-
nho, etc. Há estruturas que têm mais de um radical (composição) e admi-
tem sufixo, a exemplo de:
horti fruti granj eiro, que é complexa porque sofreu dois processos
Rd Rd Rd S
de formação, a composição e a derivação sufixal.
O nome (palavra que abriga outras classes que não o verbo e as clas-
ses conectivas) se constitui de um ou mais elementos mórficos. Vejamos
alguns exemplos pela tabela apresentada por Zanoto (1986, p. 52).

CONSTITUIÇÃO MÓRFICA DO NOME

O nome pode estar constituído de um único elemento mórfico, o


radical. Esse radical pode ser ampliado por morfemas derivacionais,
desinências, podendo haver uma vogal temática.
Alguns exemplos de como pode apresentar-se morficamente
estruturado o nome:

Rd
Flor

Rd + VTN
árvor- e

Rd + VTN + DN
flor- e- -s

R + SD + VTN + DN
flor- (e)zinh -a -s

Pref. + Rd + SD + SD + DG + DN
des- - atual- iz- -ad- -a- -s

Como você viu, há três tipos básicos de morfemas que constituem o


nome:
1. O radical (semantema), que dá significação básica;
2. Os morfemas derivacionais (prefixos e sufixos), que formam novas
palavras;

22
A estrutura da palavra
Aula

3. Os morfemas flexionais (desinências), que especificam o gênero e o


número.
3
4. Os morfemas classificatório (vogais temáticas nominais e verbais);
Este último elemento, a vogal temática, não existe nos nomes atemáticos,
a exemplo de cajá, vovô, ruim, entre tantos outros vocábulos oxítonos.
Examinaremos com mais detalhes esses elementos, iniciando pela
caracterização da raiz e do radical. Nesta viagem pelo campo da
Morfologia, vamos até Zanoto (1986, p. 35-39).

RAIZ E RADICAL

Diz Saussure que raiz é o “elemento irredutível e comum a todas as


palavras da mesma família” (1972, 255). Celso Luft, por sua vez, afirma
que “é a parte significativa central das palavras, obtida pela eliminação
dos afixos, vogal temática e desinência” (1972, 90). É, portanto, o
semantema de Vendryes, ou o lexema de André Martinet. É o elemento
que se repete em todas as palavras cognatas, às vezes com pequenas va-
riações (alomorfes). Sob o aspecto sincrônico, a raiz (Rz) coincide com o
radical primário (Rd). “PEDR-” é a raiz ou o radical primário de “PEDR-
a”, “PEDR-eiro”, “PEDR-ada”, “PEDR-ificar”, “em-PEDERN-ido”, e
demais palavras cognatas, isto é, da mesma família morfológica.
Em cada série de cognatos, abaixo, a raiz aparecem em destaque.
1. TERR-a, TERR-inha, en-TERR-ar
2. LETR-a, LETR-eiro, LETR-ado
3. FOLH-a, FOLH-ar, des-FOLH-ado
4. CABEL-o, CABEL-udo, des-CABEL-ado
5. GUERR-a, GUERR-ear, a-GUERR-ido
Ao radical primário podem ir sendo acrescidos sufixos e prefixos.
Acrescentando-se um afixo, o radical será secundário; dois, terciário; três,
quaternário; quatro, quinário; e assim segue.
Observe o quadro abaixo:

Vocábulo Rd Primário ou Rz Rd secundário Rd terciário Rd quaternário

1.civilização civil civiliz- civilizaçã-


2. infelicitar felic infelic infelicit-
3. desenterradas terr- enterr- desenterr- desenterrad-
4. desenganchar ganch- enganch- desenganch-
5. nacionalização nacion- nacional nacionaliz- nacionalizaçã-

23
Língua Portuguesa I

Chega-se à raiz ou ao radical, eliminando-se os afixos, as desinências


e a vogal temática.
Muitas vezes são postos em oposição radical e desinência, sem desta-
car os diversos estágios de radicais. É útil introduzir, nesse caso o conceito
“radical final” (Rf), ou simplesmente radical, que se obtém eliminando-se
as desinências e a vogal temática. Em, por exemplo, “desestabilizar”, o Rf é
“desestabiliz-”, subtraindo-se, portanto, a VT “-a”, e a desinência “-r”.
Observe:

Vocábulo Rz (ou Rd primário) Rf

1. iletrado LETR- iletrad-


2. descobrimento COBR- descobriment-
3. empobrecer POBR- empobrec-
4. engraçadinhas GRAÇ- engraçadinh-
5. ajustávamos JUST- ajust-

Também existe o conceito de raiz e radical sob o aspecto diacrônico.


Raiz seria o elemento historicamente original, primeiro, do qual teriam de-
rivado os vocábulos da mesma família etimológica. Esse conceito, porém,
foge ao interesse desse trabalho descritivo sincrônico, mesmo porque, caso
interessasse, deveria ser objeto de pesquisas muito penosas e, não raro, de
resultados pouco animadores, mais conjecturais que definitivos.

AFIXOS

Os afixos são segmentos fônicos acrescidos antes, no meio, ou de-


pois do radical (primário ou não), constituindo, respectivamente, prefi-
xos, infixos ou sufixos. São, pois, morfemas aditivos, representados por
formas presas.
O termo “afixo” é abrangente e pode englobar tanto morfemas
derivacionais como flexionais. Os afixos flexionais, que em português são
sufixais, são mais comumente denominados desinências.
a) Prefixo – É um acréscimo feito antes do radical. Serve para derivar
palavras.
Os prefixos normalmente alteram com alguma profundidade as pala-
vras às quais se agregam. “Imoral”, “contrapor”, “desonesto”, por exem-
plo, têm significados antônimos a “moral”, “pôr” e “honesto”. Outras ve-
zes o prefixo não chega a ter força antonímica, mas mesmo assim, introduz
alterações bastante intensas: “repor”, “retrovisor”, “anteprojeto”.
Grande parte dos prefixos são herança de proposições gregas e lati-
nas, algumas com existência atual. Foi esse aspecto que levou Mattoso
Câmara a afirmar que a prefixação é o caso de composição e não de deri-

24
A estrutura da palavra
Aula

vação vocabular. É uma posição extremada, carecendo, parece-nos, de


apoio na realidade lingüística, uma vez que os prefixos são formas presas,
3
não se comportam mais como preposições e estão longe de se igualarem a
radicais quanto à sua carga semântica.
b) Sufixo – É um morfema acrescido após o radical, para derivar nova
palavra (derivação sufixal). Os sufixos flexionais são denominados
desinências (D).
A função dos sufixos derivacionais é acrescentar ao elemento básico
uma idéia secundária (derivação), ou enquadrar a palavra em uma das
classes gramaticais; às vezes, as duas coisas juntas. Acrescentando, por
exemplo, à base “salt(o)” o sufixo “-it(ar)”, estaremos, de um lado, adici-
onando à significação básica contida no semantema uma idéia acessória,
que é a ação de dar saltos de maneira, digamos, diminutiva, e, de outro
lado, estaremos enquadrando o vocábulo na classe gramatical dos verbos.
É comum, também, não ocorrer a mudança de classe gramatical, ficando
o sufixo somente com a primeira função: “casa: “casinha”, “chuva”:
“chuvarada”, “quebrar”: “quebrantar”.
O prefixo e o sufixo podem ser acrescidos conjuntamente à base
mórfica, resultando daí palavras derivadas por parassíntese. Os dois afixos,
nessa derivação parassintética, são corresponsáveis pela nova acepção
que se introduz. Seria o caso de considerá-los um morfema descontínuo,
iniciando com o prefixo, interrompendo-se na base e culminando com o
sufixo: “a-manh-ec(er)”, “a-pedr-ej(ar)”, “des-alm-ad(o)”.

VOGAL TEMÁTICA

A vogal temática (VT) é um segmento fônico que se acrescenta ao


radical (primário ou não) para agrupar vocábulos (nomes e verbos) em
categorias.
A vogal temática agrupa os verbos em três categorias, correspondendo
às três conjunções verbais:
1. Verbos de vogal temática “-a”: primeira conjugação
2. Verbos de vogal temática “-e”: segunda conjugação
3. Verbos de vogal temática “-i”: terceira conjugação
Os nomes também formam três categorias, conforme a vogal temática
que têm:
“-a”: sala, poeta, porta;
“-e” presente, alegre, norte (às vezes “-i”: cáqui);
“-o”: muro, alto, sério (às vezes “-u”: céu, europeu).
Assim, o “-o” e “-e” átonos finais, nos nomes, são a vogal temática
desses nomes. O “-a” átono final será vogal temática, se não representar
flexão de gênero: o “-a” de “artist-a”, “telefonem-a”, “borrach-a” é vogal
temática. Mas o “-a” de “mestr-a”, “bel-a”, “nov-a” é desinência de gêne-

25
Língua Portuguesa I

ro feminino (o masculino é forma não marcada; sem desinência de gêne-


ro). O “-a” átono final será, então, desinência de feminino, quando se
opuser a um masculino sem esse “-a”. Do contrário será vogal temática.
O radical somado à vogal temática formam o tema, que serve de
base para o acréscimo das desinências.
Os nomes que não possuem vogal temática , portanto, sem tema, são
chamados de atemáticos. São atemáticos os oxítonos terminados por vo-
gal: ô, ó, ê, é, á, ã, i, u. Ex.: capô, paletó, dendê, jacaré, alvará, irmã, bisturi,
bauru. No singular, os nomes terminados em l, r, e/s não apresentam
vogal temática, que reaparece no plural: mar, mares; vez, vezes; mal, males.
A flexão e a derivação sujeitam a vogal temática a frequentes mudan-
ças morfofonêmicas, como:
a) supressão: mes-a + inha: mesinha, mestr-e + a: mestra;
b) crase: laranj-a + al: laranjal, carinh-o + oso: carinhoso;
c) ditongação: azul + es: azuis, sal + es: sais (cai a consoante “-l” do
radical e a vogal temática “-e” transforma-se na semivogal “-i”).
A vogal temática do verbo será estudada mais exaustivamente na
próxima disciplina, ou seja, em Língua Portuguesa II.

FLEXÕES NOMINAIS

Desinência de gênero (DG)


A flexão de gênero se dá pelo acréscimo do morfema aditivo sufixal,
ou seja, acrescentando-se ao radical a desinência do gênero feminino um
“a”. O “a” átono final só é marca de gênero quando se opõe à forma
masculina correspondente sem essa marca. Exemplos:

Ele / Ela DG

pato pata
cantor cantora } DG
mestre mestra

DESINÊNCIA DE NÚMERO (DN)

O número dos nomes variáveis (substantivos, artigos, numerais, ad-


jetivos e pronomes) é determinado pela presença do morfema de plural
“s”. O singular caracteriza-se pela ausência dessa marca.
Exemplo: casas (substantivo plural) / casa (substantivo singular)

os (plural ) o (singular) artigo


belos (plural) belo ( singular) adjetivo
primeiros ( plural) primeiro ( singular ) numeral

26
A estrutura da palavra
Aula

CONCLUSÃO 3
Você observou como os vocábulos formais da nossa língua se consti-
tuem? A partir da base ou do radical, podemos formar muitas outras pala-
vras e, nesse aspecto, por ser tão variável e dinâmica, a língua vai ampli-
ando seu léxico, criando novas estruturas.

RESUMO

Como você percebeu, a língua é uma estrutura, um todo organizado


em partes. O vocábulo formal ou mórfico, que também chamamos de
palavra, é formado de unidades mínimas carregadas de significado, os
morfemas. São os (prefixos radicais, os afixos e sufixos), as desinências de
gênero e número e as vogais temáticas nominais; isso porque só estamos
nos referindo aos nomes (substantivo, adjetivo, pronome e artigo). Há
palavras que só têm o radical. Ex.: cajá, flor, tatu, dá entre outras.
Há vocábulos como mais de um elemento, como:

sol ar, / cafe zal, / menin a s.


Rd S Rd S Rd DG DN

Assim, a palavra pode se flexionar, através de desinências de gênero e


número ou se expandir, criando vocábulos pelo acréscimo de prefixos e sufixos.

ATIVIDADES

1. Você poderia listar palavras constituídas de vários morfemas? (Cite


dez exemplos, separando os morfemas e, em seguida, denominando-os).
2. Cite dez exemplos de palavras compostas de dois ou mais radicais.
3. Por que a Linguística considera são (verbo) e são (adjetivo) palavras
diferentes?
4. Por que os vocábulos porta e portas são uma só palavra?

27
Língua Portuguesa I

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

1. Para responder à primeira questão, encontre palavras que tenham


mais de um elemento mórfico. Exemplos:

cam - a, in -feliz, leal dad e


Rd VTN P Rd Rd S VTN

2. Encontramos na língua portuguesa muitas palavras compostas, a


exemplo de sem-terra, lança-perfume, camisa-dez. Agora escolha você os
exemplos que pedimos acima.
3. Cada palavra tem o seu significado, segundo o contexto linguístico
em que se insere. Para termos a mesma palavra, não podemos ter
sentidos diferentes.
4. Na formação do plural, há uma idéia de acréscimo no sentido
quantitativo, permanecendo inalterada a significação básica da palavra.

REFERÊNCIAS

CÂMARA Jr., J. Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis:


Vozes, 1970.
ZANOTO, Nomélio. Estrutura mórfica da Língua Portuguesa. Caxias
do Sul: EDUCS, 1986.

28
Aula

MORFEMAS DA LÍNGUA
4
PORTUGUESA

META
Explicar a classificação dos morfemas da língua portuguesa quanto ao significado e quanto ao
significante.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
Classificar os morfemas da língua portuguesa quanto ao significado e quanto ao significante.

PRÉ-REQUISITOS
Conhecer os princípios básicos da Morfologia.

(Fonte: http://2.bp.blogspot.com).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Nas aulas anteriores, vimos alguns princípios básicos da Morfologia.


Continuaremos a explicar o que estuda essa ciência, para não perdermos
o rumo, nesta incrível aventura pelo mundo das palavras, da sua consti-
tuição através de formas (morfes) e do significado que estabelecem
(morfemas). Nesta unidade, estamos na área dos morfemas, ou seja, das
unidades mínimas significativas a que pode chegar a divisão do vocábu-
lo. Interessa à Morfologia a palavra ou o que está aquém da palavra. Por
exemplo, em “voz” só há o morfema radical, pois é um vocábulo
indivisível, como “mar”, “café”, “cajá”, “sapoti”, “sol”. Por falar em “sol”,
você já pensou como o “o” aberto lembra o que nos transmite esta pala-
vra? Ela irradia luz, alegria, calor e não caberia a esta idéia o som de “u”
ou “ô”, que acha?
Vamos adiante e, à medida que lemos, avançamos, aprendemos a
gostar desta disciplina, por conhecermos um pouco mais do critério de
análise linguística que é mórfico ou morfológico.

(Fonte: http://images.google.com.br).

30
Morfemas da língua portuguesa
Aula

CLASSIFICAÇÃO DOS MORFEMAS 4


Os morfemas da língua portuguesa podem ser classificados sob dife-
rentes critérios. Tomamos o critério funcional, para caracterizá-los quan-
to ao significado e, em seguida, usaremos o critério formal no sentido de
fazermos uma classificação dos morfemas quanto ao significante.

MORFEMAS QUANTO AO SIGNIFICADO

Esse critério de análise funcional observa o sentido dos morfemas e


as funções que exercem na palavra. Há morfemas lexicais, que são os
radicais; como vimos na aula anterior, eles contêm a significação básica
do vocábulo. Há palavras que só têm 1 morfema lexical; cajá, por exem-
plo, pois o radical é indivisível; então só há função lexical. Existem outras
que têm morfema lexical e morfemas gramaticais. Por exemplo, em
“cafezinho” cafe + zinh + o, o morfema lexical é cafe e os demais, zinh e
o são gramaticais, pois acrescentam idéias ao radical e existem em função
dele.
Considerando lexical = radical, os gramaticais podem ser os outros
morfemas.
Os morfemas gramaticais são:
a) Flexionais – as desinências verbais (DMT e DNP) e as nominais (DG e
DN)
b) Derivacionais (os afixos) prefixos e sufixos
c) Classificatórios (vogais temáticas nominais vogais temáticas verbais)

MORFEMAS FLEXIONAIS

As desinências verbais e nominais são flexões; fazem parte do siste-


ma fechado e não formam palavras novas. As desinências verbais são de
modo e tempo (DMT) e número-pessoa (DNP). Não nos deteremos no
estudo do verbo nessa disciplina, mas dá para se perceber que há uma
possibilidade e constância nos tempos, modos, bem como em se tratando
do número e da pessoa verbal.
Exemplos:
1. am – lexical
a – gramatical classificatório
va – gramatical flexional
mos – gramatical flexional
Há morfemas flexionais nos nomes (substantivos e adjetivos) e pro-
nomes:
2. garot – lexical
inh – gramatical derivacional (sufixo)

31
Língua Portuguesa I

a – gramatical flexional (DG)


s – gramatical flexional (DN)
3. lind-a – DG
lind-a-s –DN
4. el-a – DG
el-a-s – DN

MORFEMAS DERIVACIONAIS

Os afixos (prefixos e sufixos) formam palavras novas; são criações


dos falantes e se abrem à possibilidade de recriação, com o surgimento de
neologismos, pois são abertos, imprevisíveis. Vamos encontrá-los atrela-
dos ao radical (lexical), passando informações gramaticais, internas. To-
dos esses morfemas têm um sentido e uma função.

MORFEMAS CLASSIFICATÓRIOS

Esses morfemas inserem a palavra num grupo (nomes ou verbos) e


são vogais temáticas, ou seja, de uso constante.
Ex: Ele cas-a-rá
VTN (1ª conjugação)

A cas-a
VTN (vocábulo paroxítono terminado em “a” átono final)

ATIVIDADES

Classifique os morfemas quanto ao significado:


(MODELO) amorosa: am - or - os - a
L gram. deriv. gram. deriv. gram. flexional

1. infeliz = in+ feliz


2. deslealdade = des +leal+ dad+e
3. solar = sol +ar
4. café = café
5. mesas = mes + a + s
6. corríamos = corr + i(a) + mos
7. simpática = sim+ pat + ic + a
8. estável = est + á + vel
9. cordinha = cord + inh + a
10. refizéssemos = re +fiz + é +sse + mos

32
Morfemas da língua portuguesa
Aula

Todas as unidades mínimas acima passam informações ao radical


(lexical) e têm função gramatical , isto é, interna.
4
Você deve estar-se perguntando qual é o objetivo do estudo dos
morfemas. É claro que nesse curso temos de aprender os mecanismos de
funcionamento da língua para tentarmos entender “as mil faces secretas”
da palavra, peça fundamental da área de conhecimento que abraçamos.

MORFEMAS QUANTO AO SIGNIFICANTE

Sob o aspecto formal, veremos como se classificam os morfemas.


Nesse caso, interessam, mais os traços distintivos do morfema. Classifi-
cam-se em aditivos, subtrativos, zero, alternativos, cumulativos,
descontínuos, portmanteau, de ordem ou posição.
1. Aditivos: São morfemas que se acrescentam ao radical.
Exemplo: filh + ot + e ( 2 morfemas aditivos)
Rd aditivo aditivo

des- nivel + a + ment- o (4 aditivos)


aditivo rd aditivo aditivo aditivo

2. Subtrativo: Morfema encontrado pela ausência da marca ocorrida por


subtração.
Exemplos: réu – ré / órfão – órfã

3. Zero: Este morfema só existe em comparação. Por exemplo:


a) casa 0 (sem número)
casa s
b) bel+o+0 (sem desinência de gênero)
bel+0+a (sem vogal temática)
c) am+a+va+mos
am+ a+ va+ 0 (zero)

4. Alternativos: São morfemas que indicam alternâncias:


a) de pessoa: fiz (eu) – fez (ele/ ela)
b) de gênero: avô – avó
c) de tempo: pode – pôde

5. Descontínuo: esse tipo de morfema aparece na língua portuguesa com


verbos no futuro do presente e no futuro do pretérito, em mesóclise.
Exemplos: vender-te-ia
comprar-te-ei

Como observamos, houve uma ruptura ou quebra de continuidade.

33
Língua Portuguesa I

No francês “ne pas” = não. Ocorre nas frases negativas. Ex: Je ne sais
pas = Eu não sei.
6. Cumulativos: Esses morfemas acumulam noções de modo e tempo e nú-
mero –pessoa. Só ocorrem nas formas verbais e não podem ser separados.
Ex: falá va mos
DMT DNP
canta re is
DMT DNP

7. Reduplicativos: Nesse caso, o radical é repetido, podendo ocorrer alte-


rações de sentido, que seja leve ou profunda.
Ex: tinga= branco (tupi)
Titinga = mancha branca

Outros exemplos: Zezé/ Dudu/ dodói/ bombom

8. De ordem ou posição: Morfema que altera o sentido na maioria das vezes.


Conta certa/ certa conta
Homem grande/ grande homem

9. Portmanteau: Também chamado de palavra de valise, por começar mais


de um vocábulo.
Ex: nestas=( em+ est+ a+ s)
daquilo=( de+ aquilo)

CONCLUSÃO

O estudo de morfemas engloba tanto a análise de aspectos funcio-


nais, isto é, a sua classificação quanto ao significado, como a análise de
aspectos formais, que é a classificação dos morfemas quanto ao
significante, para uma melhor compreensão desse campo da Morfologia.
Além disso, foi pertinente no que diz respeito às formas (significantes) de
um mesmo morfema (significação), ou seja, os dois juntos num só estudo.

34
Morfemas da língua portuguesa
Aula

RESUMO 4
Esta aula visa à apresentação dos tipos de morfemas e sua classifica-
ção. Sabemos que podem ser vistos sob o critério funcional, sendo lexicais
(radicais) e gramaticais (demais morfemas). Estes, por sua vez, classifi-
cam-se em flexionais (DMT, DNP, DG e DN), derivacionais (prefixos e
sufixos) e classificatórios (vogais temáticas nominais e verbais) cada um
com sua função, de acrescentar aspectos gramaticais à base ou radical.
Apresentamos ainda os tipos de morfema quanto ao significante
enfatizando os aspectos formais dos morfemas. São nove tipo: aditivos,
subtrativos, zero, alternativos, cumulativos, portmanteau, de ordem ou
posição, reduplicativos e descontínuo.

ATIVIDADES

1. Classifique os morfemas abaixo quanto ao significado


a) tesouraria – tesour- ari-a
b) deslizaríamos – desliz- a- ria- mos
c) cordel –cord - el
d) forró – forró (indivisível)
e) capacidade – capaci- dad-e
f) imperatriz –imper (a) - triz
g) chapeleiro – chapel - eir -o
h) rata – rat- a

2. Classifique os morfemas quanto ao significante


a) daquele (de+aquele) ________________________________
b) vovó ________________________________
c) maçã / maçãs ________________________________
d) avó/ avô ________________________________
e) falar-te-ei ________________________________
f) garot+ad+a ________________________________
g) gel+a+deir –a ________________________________
h) órfão / órfã ________________________________
i) feliz / infeliz ________________________________
j) corr+e+sse+mos ________________________________
k) professor_- / professor a ________________________________
l) neste (em+este) ________________________________
m) dodói ________________________________

35
Língua Portuguesa I

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Abaixo você verá exemplos com as respostas.


Na primeira questão, temos de classificar os morfemas quanto ao
significado. Por exemplo, na palavra cafezinho há três morfemas: cafe
– zinh - o
cafe: lexical
zinho: gramatical derivacional sufixo
o: gramatical classificatório vogal temática nominal

O vocábulo anim-a-çã-o, por exemplo, tem quatro morfemas que se


classificam:
anim – lexical
a – gramatical classificatório (vogal de ligação)
çã – gramatical derivacional (afixos )

Na segunda questão, temos a classificação dos morfemas quanto ao


significante.
Tomemos como exemplo as questões abaixo com as respostas:
1. dir-te-ei – descontínuo
Ocorre a mesóclise
2. corre-corre – reduplicativo
3. cantarei – cant + a + re + i
Aditivo cumulativo cumulativo aditivo
aditivo

BIBLIOGRAFIA

KEHDI, Valter. Morfemas do português. São Paulo, Ática, 1987.


SADMAN, Antonio José. Morfologia Geral. São Paulo. Contexto, 1991.
ZANOTO, Normélio. Estrutura mórfica da língua portuguesa. Caxias
do Sul, EDUCS, 1986.

36
Aula

5
SEGMENTAÇÃO DE MORFEMAS E
ALOMORFIAS

META
Demonstrar a segmentação do vocábulo mórfico em morfemas.
Apresentar alomorfes da língua portuguesa.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
depreender os diversos tipos de morfemas, a partir da segmentação dos vocábulos do léxico;
reconhecer a ocorrência da alomorfia.

PRÉ-REQUISITOS
Conhecer os princípios básicos da Morfologia.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Nas aulas anteriores estudamos os morfemas e sua classificação quanto


à função e à forma. Como depreender morfemas? Eis a pergunta. Você já
estudou sílaba, claro. Agora é bem diferente porque as unidades menores
em que pode ser dividida a palavra têm de carregar um sentido. Por exem-
plo, em “leite” temos 2 morfemas: leit = rd e e = vogal temática nominal.

O elemento 1 (leit) comporta a significação básica, que pode ser até


extralinguística, isto é, o radical me permite pensar no leite ou até desenhá-
lo. Já a vogal temática, neste caso, bem como outros morfemas gramati-
cais encontrados em outras palavras, só têm sentido quando atreladas ao
radical de que dependem.
Nesta aula, meu caro, você verá exemplos de segmentação, algo que
se vai tornando familiar ao aluno. Pouco a pouco não sentirá dificuldades
para segmentar vocábulos, principalmente se tiver o hábito de exercitar
tal atividade.
A outra parte da aula é sobre alomorfia, um fato linguístico bastante
comum na nossa língua. Os alomorfes são formas diferentes de se dizer a
mesma coisa, a partir das mudanças morfofonêmicas (na forma e no som),
muito recorrentes no nosso léxico.

38
Segmentação de morfemas e alomorfias
Aula

A SEGMENTAÇÃO DO VOCÁBULO MÓRFICO 5


Veja bem, agora vamos aprender a segmentar o vocábulo em
morfemas. Para depreendê-los, partimos de um princípio que se chama
“comutação”. Isto consiste na substituição, na troca de morfemas a partir
de uma base comum ou radical. Por exemplo, temos os radicais “ferr” e
“pedr”. Veja as distinções, as diferenças de um para outro morfema
depreendido formando outras palavras.

eir-o
é- o
ferr agem
ad-ur-a
os- o
inh- o

ad-a
eir-o
eir-a
pedr egulh-o
egos-o
a
o

eo
petr ific-a-r
óle-o

Conforme você pode observar, a partir da unidade mínima radical


podemos formar outras palavras dele derivadas. E assim depreendemos
morfemas. Fique atento a alguns exemplos de segmentação do vocábulo:
1. brasileiro = brasil – eir – o
2. fórceps = fórceps (indivisível)
3. durex = dur- ex
4. indivisível = in- divis- í- vel
5. mares = mar- e- s
6. molecada = molec- ad- a
7. cemitério = cemit- éri- o
8. flautim = flautim
9. riacho = ri- ach-o
10. borracharia = borrach-ari-a
11. filhote = filh-ot-e
12. falaste = fal-a-ste

39
Língua Portuguesa I

13. improvável = im-prov-á-vel


14. alvoroço =alvoroç-o
15. amei = am-e-i
16. amaríamos = am- a- ría- mos
17. freguesia = fregues- i – a
18. marquesa = marqu- esa
19. terrestre = terr- e- str-e
20. aquático= aqu-at-ic-o
21. farol= farol
22. maléfico= mal- ef- ic-o
23. informação = inform-a-çã-o
24. emparedado= em- pared- ad- o
25. escritora= escrit-or-a
26. ator = at-or
27. atriz= at-riz
28. imperatriz= imper(a)-triz
29. condessa= cond-essa
30. cafeína=café-ína
31. solúvel= solú-vel
32. espelhinho= espelh-inh-o
33. organizar= organ-iz-a-r
34. menininha= menin-inh-a
35. leoa= leo-a
36. padaria= pad-ari-a
37. réu= ré-u
38. cantávamos= cant-á-va-mos
39. leite= leit-e
40. pata (fem.)= pat-a
41. charmoso= charm- os -o
42. falaste= fal-a-ste
43. cafeteira= cafe-teir-a
44. cipó = cipó
45. lápis= lápis
46. rapidez= rapid-ez
47. mesa= mes-a
48. formosa= form-os-a
49. conduzir= con-duz-i-r
50. doçura= doç-ur-a

A segmentação feita pelos linguistas considera a vogal temática no-


minal (VTN), como vimos nos exemplos acima. Já a NGB não separa a
vogal temática nominal, desconsiderando-a. Se fizermos um paralelo, te-
remos, por exemplo:

40
Segmentação de morfemas e alomorfias
Aula

NGB
cama (indivisível)
Lingüística
cam–a (VTN)
5
delici-oso (sufixo) delici-os-o (VTN)
ferv-ura (sufixo) ferv-ur-a (VTN)
pau-l- ada paul-ad-a (VTN)
consoante de ligação rd
cafe- t - eira (sufixo) cafe- teir- a (VTN)
rd cons. de ligação rd s

Outros elementos não considerados na análise morfológica pela


Linguística são as vogais e consoantes de ligação, por não terem significa-
ção. São utilizados por motivação fonológica. Você observou bem? É
preciso estudar os afixos para segmentar vocábulos.
Exemplo:
a) gas|ômetro
rd 2 vogais de ligação (NGB)

b) gaso – incorporado ao radical, gerando alomorfia (lingüística)


rd

ALOMORFES DO LÉXICO PORTUGUÊS

Vamos falar agora de alomorfes. Você deve estar pensando a respeito


desse nome. Pois bem, digo-lhe que não é difícil saber sua significação. É
uma palavra composta de origem grega: “alo”= outras e “morfes” = for-
mas. São diferentes formas para um mesmo morfema. Na língua portu-
guesa há milhares de ocorrências de alomorfia, pois em qualquer parte da
palavra ela acontece, com bastante frequência, sem que o falante se dê
conta das alterações na forma de muitos morfemas, pois são empregadas
automaticamente.
Sabemos que morfemas são abstratos, significados que se concreti-
zam pelos morfes, ou seja, significantes. Então, ao usarmos palavras com
alomorfes de radical, por exemplo, pedr e petr; romp e rupt, não perce-
bemos que são apenas diferenças na forma, pois o conteúdo é igual. Ex:
pedr|a e pétr|eo / romper e ruptura
Os alomorfes são encontrados na análise morfológica, partindo-se de
três condições:
Pedreo e petra
a) Um não pode ocupar o lugar do outro;
Ex: Não posso dizer pedr|eo, nem petr|a São formas inaceitá-
veis.
b) Devem ser da mesma família; os sinônimos não são exemplos de
alomorfias, pois as famílias dos morfes são diferentes.

41
Língua Portuguesa I

Ex: branco e alvo têm a mesma significação, mas não são alomorfes.

c) Os alomorfes têm de apresentar uma diferença, nem que seja mínima,


na cadeia sonora.
Ex: 1. inábil infeliz alomorfias de prefixo
[i n a b i w] [iN f e l i s]

2. andava > alomorfia de vogal temática


andei > alomorfia de vogal temática

No primeiro exemplo, percebemos que não há diferença quanto à


grafia, no entanto, os prefixos têm pronúncias diferentes (“n” articulado
em inábil e “n” não pronunciado em infeliz) constituindo-se alomorfes,
pois são formas diferentes para a mesma idéia, ou morfema.

Exemplos de alomorfias:

42
Segmentação de morfemas e alomorfias
Aula

CONCLUSÃO 5
A segmentação é, portanto, um recurso para o reconhecimento das
partes que compõem o vocábulo e de sua significação, para a estrutura e
formação das palavras. Faz-se ainda necessário compreender a alomorfia
como algo inerente à língua, sua evolução e dinâmica. As alterações ocor-
ridas foram geradas por sucessivas acomodações às regras internas do
próprio sistema lingüístico ou às criações dos falantes.

RESUMO

Esta aula trata de segmentação dos vocábulos em morfemas lexicais


(rd), flexionais (desinências), derivacionais (afixos) e classificatórios
(vogais temáticas), ou seja, apresenta a decomposição dos vocábulos em
unidades mínimas significativas, levando o aluno à compreensão da es-
trutura das palavras. Ainda discorremos sobre alomorfes, que são for-
mas diferentes de um mesmo morfema, por exemplo leit-e / láct - e-a. Há
na nossa língua centenas de casos de alomorfia, que ocorrem não só no
radical, mas também em outros morfemas que compõem a palavra.

ATIVIDADES

1. Verifique os alomorfes abaixo e indique em que tipo de morfema se


encontram:
a) pede ( )
peço
b) geladeira ( )
cafeteira
c) trouxestes ( )
trouxerdes
d) corr i a ( )
corr i e is

2. Segmente os vocábulos abaixo, quando possível:


a) amoroso:
b) estudavam:
c) florzinha:
d) mares:
e) sol:
f) inseparável:
g) pata:

43
Língua Portuguesa I

h) quando:
i) angelical:
j) caderneta:
k) bicudo:
l) arborizado:
m) mangueira:
n) frutífera:
o) alcoólica:
p) lapiseira:
q) lual:
r) ensolarado:
s) ruptura:
t) nupcial:
u) decapitar:
v) recompor:
w) corríamos:
x) gorducha:
y) encadernação:
z) mirante:
aa) invencível:
bb) joguinho:
cc) mensalidade:
dd) teimosia:

3. Veja os pares abaixo; indique sim ou não nos parênteses ao lado, em


relação à ocorrência de alomorfia.
a) ( ) arborizado / árvore
b) ( ) mensalidade / mesada
c) ( ) canta re i / cant a rá s
d) ( ) milharal / cafezal
e) ( ) negro / nigérrimo
f) ( ) infeliz / impossível

44
Segmentação de morfemas e alomorfias
Aula

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES


5
Abaixo você verá exemplos de como realizar as atividades.
Na primeira questão, há pares de alomorfes, em quais morfemas?
Assim você deve responder:
a) le i (alomorfe no radical)
leg
b) imoral (alomorfes no prefixo)
incapaz
c) amaríamos (alomorfe de modo e tempo)
amaríeis

Na segunda questão, tente segmentar os vocábulos em morfemas,


observando as desinências, os afixos e as vogais temáticas.
Ex:
azul – não se divide
azulado – azul + ad + o
Rd S VTN
meninas – menin + a +s
filhinhas – filh+ inh+ a+s
gatão – ga + ã + o
milharal – milh + Aral

Lembre-se de que para a verificação da existência de alomorfia


observa-se apenas o som e não a grafia do morfema.

REFERÊNCIAS

KEHDI, Valter. Morfemas do português. São Paulo, Ática, 1987.


SADMAN, Antonio José. Morfologia Geral. São Paulo. Contexto, 1991.
ZANOTO, Normélio. Estrutura mórfica da língua portuguesa. Caxias
do Sul, EDUCS, 1986.

45
Aula

6
CLASSES E FUNÇÕES
(SUBSTANTIVO)

META
Explicar as relações entre as classes e as funções sintáticas;
Expor a morfossintaxe do substantivo e suas funções sintáticas.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
conhecer os critérios mórficos funcionais das classes gramaticais e suas funções sintáticas;
distinguir o substantivo das demais classes e compreender sua função sintática.

(Fonte: http://2.bp.blogspot.com).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Olá, meu caro aluno, estamos juntos nessa aula, cuja exposição pre-
tende mostrar as relações entre as classes e suas funções sintáticas; esta
disciplina trata de aspectos morfológicos e funcionais, observando nos
critérios abordados que há uma relação muito estreita entre a Morfologia
e a Sintaxe. O estudo das classes é morfológico, no entanto, as relações
que essas classes estabelecem têm função sintática e facilitam a análise
dos componentes da mesma frase verbal. Modernamente realizamos es-
tudos morfossintáticos para tornar mais claras as funções exercidas pelos
termos da oração. Podemos dizer que a Morfologia é disciplina auxiliar da
Sintaxe. Vamos começar a aula expondo o que são classes gramaticais.

(Fonte: http://www.ienh.com.br)

48
Classes e funções (Substantivo)
Aula

CLASSES DE PALAVRAS 6
Desde a Antiguidade greco-latina estudiosos e filósofos falam em
classes gramaticais. Platão, filósofo grego que viveu no século IV a.C. já
falava em classes principais e Aristóteles (384 a.C 322 a.C), seu discípu-
lo, a elas se referiu na “Arte Poética”, distinguindo as duas mais importan-
tes: nome e verbo. Dizia o grande estudioso que “verbo e nome distin-
guem-se pela presença ou ausência de tempo. De lá para cá outros se
detiveram nesse estudo e, na Baixa Idade Média, ou seja, a partir do sécu-
lo XI já havia oito classes: nomes, verbo, particípio, artigo, pronome, pre-
posição, advérbio e conjugação, que deveriam ser focalizados nas gramá-
ticas nessa sequência.
Veja que interessante! Em pleno século XX, Mattoso Câmara Junior
(1904-1970) considera nome (substantivo e adjetivo) e verbos classes
principais que se opõem, tal qual os gregos antigos consideravam. O ver-
bo tem categorias de modo e tempo, número e pessoa acumuladas numa
só forma, o que não ocorre com o substantivo. Na disciplina Língua Por-
tuguesa II você verá com mais detalhes os estudos sintáticos relaciona-
dos ao verbo. Cabe a este programa estudar as classes de “valor estático”
(Câmara Jr., 1968, p. 280) ligadas ao sujeito e abrangem atualmente subs-
tantivos e adjetivos. Agora, é preciso que você entenda que os substanti-
vos constituem uma classe independente dos adjetivos, pois podem ser
empregados sozinhos com significado. Já os adjetivos precisam dos subs-
tantivos e a estes se juntam para especificar algo; os adjetivos são classes
adjuntas, sem significado completo quando vistos isoladamente.

AFINAL, QUANTAS CLASSES HÁ NA


ATUALIDADE?

A gramática tradicional lista dez classes: artigo, adjetivo, numeral,


pronome, substantivo, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjei-
ção. Nas gramáticas oficiais são privilegiados os critérios semânticos e
morfológicos para definir tais classes. Por exemplo, o substantivo é defi-
nido como uma palavra variável (critério morfológico) que nomeia os
seres (critério semântico), deixando de lado o critério funcional ou sintá-
tico. Em parte, sete classes do sistema antigo foram mantidas, indo o
particípio para as classes dos verbos e juntavam-se às sete classes o nu-
meral, o adjetivo e a interjeição. Como você pode ver, é algo complexo
delimitar esse campo de estudo. São várias correntes de pensamento,
muitas não citadas aqui, o que nos leva a crer que existem desde os tem-
pos antigos uma necessidade de se classificar, para organizar o estudo por
traços afins, semelhantes. Todas as línguas têm classes que pertencem a

49
Língua Portuguesa I

conjuntos ilimitados, abertos, como os substantivos, por exemplo, que


Neologismos
aparecem em neologismos a cada dia. O significado dos substantivos
Palavras novas. diz respeito à experiência no mundo, pois são palavras cheias. Já outras,
como o artigo, são mais vazias de significação e têm um número limitado,
portanto, fechado ao surgimento de novos artigos.
Hoje a Linguística observa outros critérios para o estudo das classes
principais: nome, verbo e pronomes e das classes adjuntas: adjetivo, ad-
vérbio, artigo e numeral. Há ainda classes conectivas: preposição, con-
junção e pronomes relativos (conjunção pronominal). Aparece na atuali-
dade o critério sintático ou funcional, segundo o qual há classes princi-
pais e classes marginais,ou adjuntas.

E POR FALAR EM SUBSTANTIVO...

Aqui nos deteremos no estudo do substantivo, classe de palavra con-


siderada nuclear¸ sob o critério sintático. Todo substantivo é núcleo de
um grande constituinte da frase que é o sintagma nominal. Há dois sóis
neste sistema de palavras da língua portuguesa: substantivo e verbo; as
demais classes gravitam em função dessas duas. No entanto, deixemos o
verbo e vamos falar do substantivo.
O substantivo tem sempre a função nuclear que pode estar na área
do sujeito ou do predicado. Exemplo: Meu filho saiu cedo (filho = núcleo
do sujeito). Em, “quero água gelada”, a única palavra com função subs-
tantiva é água, núcleo do objeto direto (área do predicado); mais adiante
estudaremos o sujeito e o predicado.
Morfologicamente, o substantivo admite flexões de gênero, número,
e grau. exemplos: gatão/gata; bola/ bolas; gato/ gatinho/gatão, sendo
bastante variáveis; só o verbo é mais variável do que o substantivo. Pelo
processo de conversão, qualquer palavra pode ser substantivada, se lhe
antepusermos um artigo. Exemplos: O não, o nada, o talvez, o ele (letra),
o mas, o quando, e todos os termos do léxico.
“Joãozinho perguntou se o nada era substantivo e teve como respos-
ta um sim. ‘O nada é um ser’, disse o mestre de Português. ‘É antes um
não-ser’, retrucou-lhe Joãozinho. ‘É um ser negativo’, esclareceu o pro-
fessor. A esta altura seria necessário evocar o espírito de um grande filó-
sofo para resolver um problema de Português” (Macambira, 1999, p. 35).
Interessante o texto, não? Destaca a dificuldade de se conceituar o
substantivo. As gramáticas tradicionais o definem como “palavra variá-
vel que nomeia os seres em geral”. Tal definição adota o critério morfico
(variável) e o semântico (idéia), no entanto restringe, limita
conceitualmente, deixa lacunas por ser muito superficial. Não há na defi-
nição o critério sintático ou funcional.

50
Classes e funções (Substantivo)
Aula

Se observarmos o substantivo sob o critério sintático, podemos afir-


mar que ele contrai função com todas as classes. Até mesmo com os ad-
6
vérbios de exclusão só, somente e apenas existe possibilidade de relação
sintático-semântica com o substantivo. Exemplos:
1. Apenas você irá comigo. (advérbio).
2. Duas meninas saíram. (numeral).
3. A blusa rasgou-se. (artigo).
4. Meu filho chegou. (pronome).
5. Querido amigo João. (adjetivo).
6. Maria vai de carro. (substantivo).
7. Maria e José são casados.
(conj.) (adjetivo)
8. O café com leite estava bom.
(artigo) (preposição)
9. Aquele menino é forte como um touro.
(pronome) (adjetivo) (conj.)
10. O caldo de cana estava delicioso.
(substantivo) (subst.)

Você observou que não há possibilidade de construção frasal sem o


substantivo, do ponto de vista semântico? Mesmo numa frase unimembre
de oração sem sujeito, como “Chove”, há na estrutura profunda a idéia de
tempo. Nesse caso, o período é constituído apenas de verbo, o que torna
dispensável a presença do substantivo sob o aspecto sintático.
A palavra “substantivo” vem de “substância” matéria de que é feito
o ser. Sem a existência do ser o que haveria? Os semanticistas afirmam
que o substantivo é mais forte do que o verbo. Este último, embora indi-
que processo, ação estado, fenômeno, depende do ser. Já os linguistas, ao
privilegiarem o critério sintático, julgam o verbo elemento mais essencial
do que o substantivo, por criar a possibilidade da existência de frases sem
nomes como agentes da ação verbal. Na verdade, são critérios válidos e
consideráveis a partir da análise adotada. Adotaremos aqui o critério sin-
tático, que julga o verbo elemento mais essencial do que o substantivo,
por ser suficiente para constituir uma oração.
Posteriormente, estudaremos as flexões de gênero e número do subs-
tantivo. O grau também será visto em enfoque especial mais adiante, no
decorrer do curso.

51
Língua Portuguesa I

CONCLUSÃO

Vimos a importância da classificação para melhor compreensão da


língua, que agrupa os elementos por traços afins. O substantivo, uma das
classes principais é sempre núcleo de alguma função sintática e podemos
dizer que se coloca como núcleo ao redor do qual “giram” as outras clas-
ses, excetuando o verbo, pois este concorre com o substantivo em impor-
tância para o estudo da frase verbal. Podemos dizer que o substantivo e o
verbo são dois sóis dessa imensa constelação de palavras.

RESUMO

Nessa aula apresentamos as classes de palavras, um pouco de sua


história que remonta a Antiguidade greco-romana, quando Platão e
Aristóteles já falavam em nomes (substantivo) e verbos como classes prin-
cipais. Mais adiante, gramáticos latinos expuseram sua idéias a respeito
das partes do discurso, Dionísio da Trácia escreveu a primeira gramática
do Ocidente Techne grammatike, cuja influência sobre as outras foi incon-
testável. Ele identificava oito classes: artigo, verbo, particípio, pronome,
preposição, advérbio e conjunção e até a Idade Média permaneceu esta
divisão.
Modernamente, Pereira (1943) reconhece que o estudo das classes
(taxonomia) é do domínio da Morfologia. A NGB (Nomenclatura Gra-
matical Brasileira), a partir dos anos 50, lista dez classes, seis variáveis –
substantivo, adjetivo, artigo, pronome, numeral e verbo – e quatro invari-
áveis: advérbio, preposição, conjunção e interjeição.
Sabemos que o substantivo, objeto de estudo dessa disciplina, será
visto como classe principal, ao lado do verbo. As duas estão no centro da
significação lingüística. Interessa-nos tratar do substantivo porque é uma
classe que também tem função nuclear e, mais adiante, veremos que o
sujeito, importante foco de estudo dessa disciplina, tem função substanti-
va. Em suma, nos processos sintáticos, o substantivo é um dos elementos
essenciais para a construção dos padrões frasais na língua portuguesa, um
dos pilares sobre o qual se constrói o período.

52
Classes e funções (Substantivo)
Aula

ATIVIDADES 6
1. Responda ao que se pede:
a) Por que é tão importante agrupar as palavras em classes?
b) Quais as classes centrais da nossa língua? Justifique sua resposta.

2. Pesquise em qualquer gramática ou pela internet sobre “classes grama-


ticais”, exemplificando.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Você pode simplificar as respostas. No caso da pesquisa, indique


como se relacionam as classes adjuntas com as classes principais,
com quais termos contraem função sintática.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do português. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática do português. São Paulo:
Nacional, 1972.
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 5 ed. São Paulo: Ática, 1985
DUARTE, Paulo Mosânio Texeira e Lima. Classes e categorias em
português. Ceará: Edições UFC/INEP, 2000.

53
Aula

7
INTRODUÇÃO À SINTAXE

META
Expor informações básicas sobre sintaxe.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
levar o aluno a compreender o que seja sintaxe de regência, de colocação e de concordância.

PRÉ-REQUISITOS
Estudos básicos de sintaxe.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Vamos aprender um pouco de sintaxe? O que você acha desse assun-


to já tão discutido no nível médio? Parece algo incompreensível. Para
muitos alunos, não há jeito de se armazenarem tantas informações e reter
na mente as aulas vistas. No entanto, você pode compreender melhor,
evitando decorar o assunto. É só entrar no mundo das relações
sintagmáticas.
Estruturas sintáticas são estruturas da sintaxe. O termo sintaxe vem
do grego antigo sýntaxis, substantivo verbal que literalmente significa ar-
ranjo ou colocação junto. Tradicionalmente, ele se refere ao ramo da gramáti-
ca que se ocupa dos meios pelos quais as palavras, com flexões apropria-
das, são combinadas para mostrar conexões dentro da frase.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).

56
Introdução à Sintaxe
Aula

O QUE É SINTAXE? 7
A Sintaxe é parte da gramática que estuda a combinação de palavras
ou sintagmas para formar frase, bem como a função dessas palavras ou
sintagmas dentro da frase.
Lembremos que frase ou enunciado com sentido completo é uma
unidade sócio-comunicativa mínima, ou seja, funciona satisfatoriamente
na comunicação por se bastar do ponto de vista semântico-discursivo.
Assim, um enunciado como ‘Socorro!’ (frase situacional) é uma frase. A
frase é sempre acompanhada de uma melodia que lhe é característica,
única marca que nos permite reconhecer a sequência linguística como
frase, no que respeita àquelas que não apresentam verbo. Vejam mais um
exemplo: ‘Que loucura!’(frase nominal).
Já a oração (frase verbal) é uma estrutura linguística que pode apre-
sentar um sujeito e um predicado. Nessa estrutura, o predicado é condi-
ção da sua existência. Vejamos o exemplo: “Joãozinho dormiu”. Nessa
seqüência, ‘Joãozinho’ é o sujeito e ‘dormiu’ o predicado. Somente as
orações que constituem unidades sócio-comunicativas atingem o ‘status’
de frase, pois por sabemos que há orações que não têm o sentido comple-
to, não sendo frases.
Além do enfoque à Morfologia para entendermos os estudos
morfossintáticos, nesta disciplina nos deteremos na exposição do sujeito
do período simples e nas funções sintáticas ligadas ao sujeito. Não nos cabe
expor o período composto, assunto que será visto em Língua Portuguesa II.

O QUE É UM SINTAGMA?

Em sentido restrito, um sintagma é uma construção que se faz no


plano das estruturas sintáticas, tendo lexias (unidade de comportamento
de um vocábulo, dentro de uma unidade maior) como constituintes. O
elemento necessário, pressuposto para que ele se configure, é um subs-
tantivo ou um verbo; um ou outro podem articular-se ou não como ele-
mentos marginais, inclusive com outros sintagmas, de valor adjetival ou
adverbial. Da articulação entre um sintagma nominal (SN) e um sintagma
verbal (SV) nasce a oração “Pássaros voam” e “Os pássaros de plumagem
colorida voam sobre a lagoa do Pantanal” a mesma oração. Segundo Hjelmeslev,
a oração “é a maior unidade lingüística cuja análise pode conduzir à for-
mação de padrões estruturais invariantes”. O conjunto desses padrões
constituirá a tipologia das orações possíveis em uma língua.
A oração é o tipo frasal dominante em português, ou seja, a frase
verbal que aparece com mais frequência na estrutura sintática da língua
portuguesa. A oração é uma unidade de nível superior, pois estabelece
uma conexão sintática entre dois ou mais elementos sintáticos. Em “Má-

57
Língua Portuguesa I

rio olha a rua”, não há apenas três elementos sintáticos, mas quatro e
o quarto elemento é o conjunto, ou seja, a oração. Na frase: “Chove”
há um elemento no centro, sem nenhum marginal, mas a comunica-
ção se estabeleceu porque o verbo foi um elemento suficiente, ten-
do em vista o contexto em que ele se colocou. Na oração Chove não
se deu essa conexão porque não houve uma relação de dependência
entres dois elementos. Temos uma frase verbal unimembre, isto é,
estruturada em um único elemento.
As estruturas sintáticas em português pressupõem um princípio
organizatório da frase. Quando as palavras se organizam em
sintagmas, e estes em orações, fazem-no graças à conexão em ter um
termo central (regente, subordinante) e um termo marginal (regido,
subordinado). A frase nominal e a frase verbal (oração) organizam-
se por subordinação. Nenhuma frase se formaliza unicamente pela
coordenação de seus termos; coordenam-se termos em uma frase já
estruturada por subordinação. Sequências de nomes coordenados não
constituem uma estrutura frasal; cada um deles é, por si, uma frase
nominal unimembre.
Nas relações de dependência que se estabelecem entre dois ele-
mentos desses, um é o central, o outro é o marginal. (como já disse-
mos no parágrafo anterior). O marginal pressupõe o central, mas o
inverso não é verdadeiro.
Pode-se dizer que, na sílaba, a consoante pressupõe a vogal; no
vocábulo, afixos pressupõem um radical; no sintagma nominal, o ar-
tigo e o adjetivo pressupõem um substantivo; na oração, o pressu-
posto é o verbo, elemento central com que se articulam os demais,
imediata ou mediatamente. Muitas de nossas gramáticas, certamen-
te orientadas pela NGB, que é o roteiro oficial, não se aproximam as
noções de regência e subordinação, só mencionado esta última quando
vão tratar do período composto. A gramática tradicional propõe uma
divisão da sintaxe, colocando os seguintes aspectos como subdivi-
são do fenômeno sintaxe:
a) de concordância
b) de regência
c) de colocação
A NGB não esclarece a relação hierárquica que há entre eles; já Flá-
via Carone explica a seguinte ordem para mecanismos sintáticos, pelo
nível de importância:
Regência – é a própria alma da sintaxe, pois diz respeito às relações
de dependência entre as partes.
Colocação – é apenas um dos procedimentos gramaticais de que se
vale a língua para estabelecer a regência.
Concordância – é o ocasional reforço morfológico de uma relação sintática.

58
Introdução à Sintaxe
Aula

A REGÊNCIA 7
A regência, vista num primeiro aspecto, consiste na subordinação pela
preposição, de um substantivo a outro (regência nominal) e na relação
subordinada pela preposição, de um complemento ao verbo (regência
verbal). Como sabemos, a eliminação dos casos nominais latinos, em ro-
mance, deu ao uso das preposições uma relevância fundamental como
instrumento sintático.
A regência nominal pode ser vista, em muitos casos, entre um adjeti-
vo e um substantivo ou palavra com “valor de substantivo”. Vários tipos
de preposições podem ser usadas nestas construções sintáticas, a depen-
der do termo regente:
- Ele é natural de Alagoas
- A fome é nociva ao talento humano
- Os poderosos não têm respeito ao (para com o, com) o trabalho do proletário.
- O menino estava curioso de (por) folhear os diversos livros.
Na regência verbal, as preposições essenciais (a, para, em, de por,
com, etc.) associam-se a determinados verbos para a eles subordinarem
os complementos básicos que necessariamente os acompanham. Assim,
os complementos, com exceção do objeto direto e de algumas circunstân-
cias adverbiais, caracterizam-se por uma preposição, cuja significação gra-
matical com eles se combina de modo especial. É costume dizer que um
verbo pode exigir uma dada preposição, mas o que há na realidade é apa-
recimento sistemático de certo tipo de complemento com determinado
verbo. E, por sua vez, o tipo de complemento condiciona a escolha da
preposição a na regência do complemento do verbo aspirar. Do mesmo
modo, o verbo incorporar pode ter um complemento com a preposição em
(lugar), a (direção) ou com (associação). Às vezes – é certo – trata-se de
uma “servidão gramatical” na fase atual da língua. Assim, o complemen-
to de gostar é com a preposição de, em virtude da significação primeira do
verbo (tomar o gosto ou sabor). Quando o complemento era “partitivo”
(ie) indicava a pequena porção que era destacada para aquele fim. É claro
que a significação gramatical das preposições abrange necessariamente o
plano fundamental locativo, e o das relações dele derivado. Neste último
se acha a significação de referência da preposição a (que está ligada a sua
função no objeto indireto), o de finalidade da preposição para a, a de
meio da preposição por, e assim por diante.
A interdependência entre o nível abstrato das significações gramaticais
das preposições e o nível da expressão locativa é bem ilustrada com a regên-
cia para indicar o agente na frase nominal dita “passiva”, que, como sabemos,
resulta da transposição de uma frase verbal, em que o objeto direto passa a
sujeito paciente. Era a preposição de que regia o complemento de agente na
fase arcaica da língua e esse uso persiste esporadicamente na língua literária:

59
Língua Portuguesa I

“Quem de muitos é temido, a muitos teme.”


Na fase clássica começa pela preposição por:
Este menino é amado por todos.

Observada sob um segundo prisma, a regência se estabelece no nível


sintático, numa relação segundo o qual constituinte incluídos em unida-
des maiores se relacionam assimetricamente. A idéia é que um constitu-
inte determina, de alguma maneira, a forma do outro. Em português, po-
demos ver este fenômeno entre o sujeito e o verbo, por exemplo, ou entre os
constituintes de um sintagma nominal. A regência também, se manifesta
sob a forma de concordância e de aparecimento dos pronomes oblíquos.
Assim, diz-se que o verbo concorda com o sujeito, ou seja, o sujeito de-
terminaria a foram do verbo. Podemos encaixar o fenômeno de concor-
dância dentro de uma categoria gral de “regência” entendida como uma
classe de fenômenos de vinculação entre os termos particulares de estru-
turas. O caso da ocorrência de pronomes oblíquos, como em:

-Romeu comeu a melancia


O. D.
Consequência diretamente visível de uma função sintática.
-Romeu comeu-a.

Neste caso, parece ser um fenômeno mais complexo que o da concor-


dância, porque não são tão claros quais os termos vinculados: objeto di-
reto será uma relação entre um sintagma nominal e o verbo da oração, ou
antes, entre um sintagma nominal e o todo da oração?
Conforme analisamos, parece-nos que as estruturas sintáticas estão
em função da regência, fator principal das relações sintáticas.

A CONCORDÂNCIA

Dissemos que a concordância é um ocasional reforço morfológico


de um processo sintático, em uma relação que existiria sem ele. Quan-
do alguém fala ou escreve: nóis tá bem ou nóis ta mior, não se deixou
de estabelecer uma relação sintática, embora não tenha ocorrido con-
cordância entre os termos do sintagma oracional. O emissor conse-
guir se comunicar, utilizando a língua popular, sem deixar de lado a
ordem, ou seja, o mecanismo sintático de colocação. E houve uma
relação de subordinação com o sujeito nóis, termo regente, e o
predicado tá mior, termos regidos.
No caso da coordenação de dois ou mais substantivos, cria-se um pro-
blema para se associar a todos eles um dado adjetivo, como já tratamos
anteriormente: A e amizade verdadeira. Para expressões como essa, a língua

60
Introdução à Sintaxe
Aula

criou alternativa de uma concordância global, com o objetivo no plural


masculino, usado bastante na língua literária: amor e amizade verdadeiros.
7
A concordância verbal é em português o mecanismo sintático funda-
mental para a indicação de um substantivo sujeito: Pedro e Joaquim chega-
ram. Caso inventarmos a posição a posição do predicado podemos dizer:
Chegou Pedro e Joaquim – verbo anteposto concorda com o mais próximo.

A COLOCAÇÃO

É o terceiro mecanismo sintático para relacionar os constituintes em


relação uns aos outros. Esse mecanismo não existia no latim, pois a colo-
cação era inteiramente livre, do ponto de vista gramatical. Havia natural-
mente colocações mais usuais, mas que em nada concorriam para a
depreensão do significado frasal.
Em português, a colocação não se fixou rigidamente (como ocorreu
na língua francesa), mas já figura como um mecanismo sintático, embora
um tanto precário.
Há um princípio básico que consiste em atribuir ao último termo do
enunciado o máximo valor informativo. Podemos observar diferentes sen-
tidos informativos para uma mesma frase ao se alterar a colocação:

- Eu saio às três horas. – (A que horas?)


- Às três horas eu saio. – (O que eu faço às três horas?)
- Às três horas saio eu. – (Quem sai às três horas?)

É esse o processo que está imanente na colocação para o adjetivo e


substantivo no grupo nominal. Tanto é possível a anteposição do adjeti-
vo ao substantivo, quanto a sua posposição. A posposição é uma pauta
fundamental, porque a função do adjetivo é acrescentar uma nova infor-
mação a respeito do substantivo. É essencialmente um elemento descriti-
vo, suplementar para a informação contida no substantivo.

- Amigo fiel / Fiel amigo

A posposição é um dado importante, porque dela resulta uma estru-


tura sintática muito nítida, principalmente quando há dois nomes em
sequência, como determinado (substantivo) e determinante(adjetivo) e
nenhum deles tem marca formal ou semântica de adjetivo, neste caso a
colocação do adjetivo é em segundo lugar:

- Amigo urso. (amigo ingrato)


- Urso amigo. (urso companheiro)

61
Língua Portuguesa I

Vimos que a anteposição do adjetivo é possível como recurso


estilístico, pois está condicionada à alteração da sua carga informativa.
Em outros termos, a posposição do adjetivo é essencialmente denotativo;
isso contrasta com a predominância de uma conotação, mas ou menos
forte, que a anteposição do adjetivo implica. Compreende-se que os adje-
tivos de predicados de fácil repercussão conotativa são indiferentes quanto
à colocação.

- Eu sou feliz.
- Feliz eu sou. (mais enfático).

CONCLUSÃO

A sintaxe é uma área de estudo também importante para a produção


de texto; a organização da estrutura frasal em processos sintáticos, lógi-
cos e ajustados à regência, colocação e concordância exigidas permite a
elaboração de textos coerentes e coesos. A compreensão de processos
sintáticos possibilita ainda a interpretação correta das ideias transmitidas
pelo texto e um melhor conhecimento da relação que as palavras estabe-
lecem e suas funções no grupo em que se inserem.

RESUMO

Esta aula trata da sintaxe, definindo-a como área de estudo da língua


que se ocupa das funções que uma palavra ou expressão exerce no grupo
de que faz parte, além de apresentar divisões da sintaxe.
Vimos que em regência, colocação e concordância são mecanismos
sintáticos, sendo a regência a alma da sintaxe, pois estabelece um princí-
pio de subordinação entre pares, que é a base da comunicação linguística.
A sintaxe de colocação pode alterar sentidos ou ainda tornar o texto mais
claro ou enfático. O terceiro e último aspecto é a concordância, pois sua
ausência não desorganiza a frase; apenas deixa de estabelecer a harmonia
necessária para dar elegância ao enunciado.
Outro assunto abordado na aula é a importância do sintagma, por ser
constituinte básico da oração; esta é vista como unidade de comunicação
que contém verbo (SV) associado a um substantivo ou palavra de função
substantiva (SN). Logo, entendemos que o elemento principal para o es-
tudo da sintaxe é a frase verbal a que chamamos de período.

62
Introdução à Sintaxe
Aula

ATIVIDADES 7
1.O que você entendeu por sintaxe? Cite as divisões da sintaxe na gramá-
tica e a ordem de importância segundo a linguística.
2. Explique o que é sintagma nominal e exemplifique numa frase.
3. Por que numa oração não pode faltar o sintagma verbal?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Leia o texto da aula e pesquise em gramática o que seja regência,


colocação e concordância.
Sobre o sintagma nominal, lembramos que o nome é substantivo, e
todo sintagma nominal tem como núcleo um substantivo. Uma frase
pode ter vários sintagmas nominais.
Para a terceira questão, observe o verbo, como núcleo do SV, elemento
nuclear, básico da oração; o verbo se associa ao substantivo (SN)
para com ele constituir uma frase. Sem o verbo não há oração, a não
ser que ele esteja elíptico (escondido) e possa ser retomado facilmente.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, José Carlos de. Iniciação à Sintaxe do português. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática do português. São Paulo:
Nacional, 1972.
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 5 ed. São Paulo: Ática, 1985.
KURRY, Adriano da Gama. Novas lições de análise sintática. São Paulo:
Ática, 1985. Série Fundamentos.
PERINI. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática 1986.

63
Aula

8
SUJEITO

META
Conceituar SUJEITO e apresentar suas possibilidades de manifestação, na ótica sintagmática.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
reconhecer seqüências lingüísticas na função de sujeito;
analisar as estruturas da língua no papel de sujeito;
distinguir os diversos tipos de sujeito, segundo a NGB.

PRÉ-REQUISITOS
Aula sobre sintaxe.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Prezado aluno, nesse momento do curso, convido-o a desvendar as


relações sintático-sintagmáticos das frases e/ou orações na perspectiva
da categoria sintática conhecida como sujeito. Nesse sentido, iremos per-
correr a trilha da chamada análise sintática. Esse terreno é instigador por
exigir do transeunte a ativação de mecanismos lógico-cognitivos que se
sobrepõem à ativação predominante da memória, o que, muitas vezes,
torna-se uma prática cansativa. Quanto mais você se voltar ao desenvol-
vimento das relações sintáticas dos enunciados, tanto maior será o seu
envolvimento nesse trabalho. Iniciemos, então, a nossa viagem.

(Fonte: http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br).

66
Sujeito
Aula

UM POUCO DE HISTÓRIA 8
Desde o início das investigações lingüístico-filosóficos a respeito da
linguagem, feitas pelos gregos, assunto de que você deve ter tomado co-
nhecimento ou relembrado, no seu corso de lingüística, há referências à
noção de sujeito. Nesse sentido, Platão, ao definir substantivo e verbo,
associa substantivo a sujeito e verbo a predicado. (LYONS, 1979: 363).
Na tradição grega, entretanto, o estudo sistemático da sintaxe só aparece
na obra de Apolônio Píscolo, no século II a.C.
Essa tradição atinge a cultura romana, o mundo medieval, o
Renascimento, sofre modificações nos séculos XVII, XVIII e XIX. Con-
tudo, a gramática de Dionísio da Trácia e os estudos de Apolônio Píscolo
constituem o alicerce dos nossos gramáticos escolares, que correspondem,
por essa razão, ao que se chama de Gramática Tradicional:
Nessas gramáticas podemos ver que há, ao pensamento de Platão
nessa mesma perspectiva há afinidade no que respeita a noção de sujeito
como “o membro da proposição do qual se declarou alguma coisa” (PE-
REIRA, 1920: 201) é predominante nos nossos gramáticos escolares.
Nesse sentido, veja-se a definição seguinte: “-Sujeito: o ser de quem se
diz algo”; (LIMA, 2008: 234). Convém lembrar a relação de dependência
concernente às noções de sujeito e predicado, o que veremos a seguir: “-
Predicado: aquilo que se diz do sujeito” (Idem). Essa mesma relação é
depreendida da afirmação de que “O SUJEITO é o ser sobre o qual se faz
uma declaração; o PREDICADO é tudo aquilo que se diz do SUJEITO”,
(CUNHA & CINTRA, 1985, p. 119).
Vocês já devem ter percebido que sujeito é uma categoria dependen-
te do predicado. Assim, essas duas categorias sintáticas se manifestam
em um nível lingüístico a ela superior correspondente ao que denomina-
mos de frase e/ou oração.

SUJEITO NA PERSPECTIVA LINGÜÍSTICA

O surgimento do estruturalismo lingüístico com as conhecidas


dicotomias saussureanas, sobremaneira a dicotomia relacionada às rela-
ções associativas e sintagmáticas, acarretou uma nova maneira de abor-
dar os fenômenos da linguagem. Nessa ótica, esses fenômenos devem ser
distinguidos segundo as relações depreendidas entre os termos da língua.
Relações manifestadas entre termos ausentes da cadeia da fala, mas pre-
sentes na mente dos falantes constituem as relações associativas. Rela-
ções estabelecidas entre elementos igualmente presentes na cadeia da fala
correspondem às relações sintagmáticas. Essas relações configuram o
conceito de sintagma.

67
Língua Portuguesa I

Assim, no que respeita ao estudo das frases e/ou orações, as relações


aí existentes constituem os chamados sintagmas.
Nessa perspectiva, a sintaxe se volta para todas as relações verificadas
no eixo sintagmático da língua. Dessa forma, o estudo do SUJEITO se
inclui na vertente sintagmática da língua.
Retornando o que vocês estudaram referente aos sintagmas, citamos
Inez Sautchuk que, embora aceite o conceito de sintagma em sentido
amplo, prefere considerar sintagma “toda construção sintática que cons-
titua um ‘bloco’ significativo ou funcional no eixo horizontal, firmado a
partir de uma ou mais de uma unidade lingüística de nível imediatamente
inferior”, (SAUTCHUK, 2004, p. 39). Esses blocos apresentam mobili-
dade específica relacionada às funções sintáticas a eles relacionados.
Em uma frase como Os livros estão na estante, à seqüência ‘Os li-
vros’ constitui um sintagma, um bloco funcional, pois nenhum dos seus
elementos pode se deslocar isoladamente sem que se desrespeitem as leis
sintáticas da língua. Esses desrespeito geraria uma seqüência não consi-
derada frase da língua como o exemplo seguinte:

Os estão livros na estante.

O deslocamento do bloco ‘Os livros’, na frase – “Os livros estão na


estante”, não acarretaria à seqüência a perda do status de frase da língua,
o que pode ser comprovado no exemplo seguinte:

Estão os livros na estante.

Todo sintagma, lembrando o visto na sétima aula, apresenta um cerne


um núcleo portador de carga semântica bio-sócio-cultural depreendida do
morfema lexical nele existente, segundo o que vocês estudaram na discipli-
na Lingüística. É esse núcleo que nos permite o reconhecimento de
sintagmas nominais, sintagmas adjetivos e de sintagmas verbais. No sintagma
nominal, o elemento nuclear é um lexema-substantivo ou uma palavra que
o substitua. O lexema-adjetivo é condição do sintagma adjetivo ou adjetival.
Já o lexema-verbo constitui o núcleo do sintagma verbal.
Na frase ‘O menino passeava muito feliz’. ‘O menino’ constitui um
sintagma nominal, cujo núcleo é o lexema-substantivo ‘menino’; ‘muito
feliz’ é um sintagma adjetival, pois o seu núcleo é o lexema-adjetivo ‘fe-
liz’ e ‘passeava muito feliz’ é um sintagma verbal já que o seu núcleo é o
lexema-verbo ‘passeava’.
Retomando a noção de sujeito, o nosso interesse se volta ao sintagma
nominal já que apenas os sintagmas nominais ou seus substitutos prono-
minais podem exercer a função sintática de sujeito.
Retomamos a idéia de que toda oração necessariamente apresenta
um sintagma verbal (SV). O SV, repetimos, é constituinte obrigatório da

68
Sujeito
Aula

oração. Essa obrigatoriedade não se estende ao constituinte racional de-


nominado de sujeito. A noção de sujeito deve fugir a incursões semânti-
8
cas, por serem elas, segundo Sautchuk, passíveis de falhas. A autora afir-
ma, em relação ao sujeito, que “considerá-lo termo essencial da oração já
apresenta uma série de exceções, pois, como se sabe, há numerosos casos
de orações sem sujeito em português”. (SAUTCHUK, 2004, p. 56).
Vejamos exemplos de orações sem sujeito:

- Nunca mais haverá discórdia.


- Entardecia.
- São doze horas..

Inez Sautchuk, na obra citada, considera a impropriedade da defini-


ção de sujeito com “o termo sobre qual se afirma algo”. Lembra a autora
não só a existência das orações sem sujeito mais ainda evidencia, em
orações da língua portuguesa, a presença de termos sobre os quais se
afirma alguma coisa, termos esses que não exercem a função sintática de
sujeito. Nesse sentido, seguem-se exemplos:

1. Joãozinho olhava o brinquedo do amigo.


2. Maria se encantava com os brinquedos da vitrine.

Na frase 1, segundo a afirmação de que sujeito é “o termo que exprime o


ser de quem se afirma alguma coisa” (KURY, 2000, p. 21), o brinquedo seria
sujeito, já que dele se afirma que é posse do amigo. Na frase 2, de forma seme-
lhante, ‘as bonecas’ seria sujeito, pois delas se afirma que ‘estão na vitrine’.
Continuando o questionamento sobre as inconsistências das defini-
ções de sujeito encontrado nas gramáticas escolares, Inez lembra a im-
propriedade da informação de que sujeito é o termo que pratica a ação
expressa pelo verbo, uma vez que há orações em que o sujeito não pratica
a ação, em que a estrutura verbal seja considerada voz passiva.
Observamos os exemplos:

1. O jovem continuava pensativo.


2. O jovem apanhou dos seqüestradores.

Tanto em 1, quanto em 2, “O jovem funciona como sujeito”. Entre-


tanto, ‘O jovem’ não realizou qualquer ação.
Diante dessas inconsistências verificadas nas definições de sujeito
encontrados nos gramáticos escolares, um caminho menos tortuoso para
a sua compreensão e consequentemente para sua depreensão é a obser-
vação da estrutura sintática da oração, em português.
Em português, as orações se organizam segundo “uma disposição
dos sintagmas na cadeia falada que obedece a um determinado padrão de

69
Língua Portuguesa I

construção, que podemos agora chamar de padrão sintático de construção”


(SAUTCHUK, 2004, p. 58).
Esse padrão corresponde à disposição: sujeito, verbo, complemento (SVC).
A posição de sujeito será sempre ocupada, como já foi dito, por um sintagma
nominal ou por um termo substituto de natureza substantiva. Ele deve ocu-
par, na ordem direta da língua, a primeira posição da construção SVC.
Diante dessa compreensão morfossintática do sujeito, Inez Sautchuk
propõe um caminho prático no sentido de se encontrar o sujeito das ora-
ções da língua portuguesa. Esse método consiste no seguinte: procurar, nas
orações, quaisquer termos não introduzidos por preposição – o que carac-
terizaria o sintagma preposicionado –, que possam ser substituídos por pro-
nomes pessoais do caso reto. Nesse sentido, necessário se torna que se
isolem as orações cujos sujeitos devem ser encontrados. Após essa etapa,
as orações isoladas devem ser transformadas em perguntas hipotéticas. As
respostas a essas perguntas devem substituir, com propriedade, sintagmas
nominais por pronomes retos. Os sintagmas possíveis dessa substituição
correspondem aos sujeitos dessas orações, já que apenas pronomes pesso-
ais do caso reto podem ser substituídos de sujeito das orações.
Seguem-se exemplos:

1. Saíram do prédio todos os moradores.


- Saíram do prédio todos os moradores?
- Sim, eles saíram do prédio.
2. Chegou hoje, na escola, o representante do MEC.
- Chegou hoje, à escola, o representante do MEC?
- Sim, ele chegou hoje, a escola.
3. Na primavera, surgem as flores e as árvores.
- Na primavera, surgem as flores e as árvores?
- Sim, na primavera, elas surgem.

A dificuldade encontrada no caso da depreensão dos sujeitos propos-


tos, o que configura a ordem inversa em português, pode ser vencida,
principalmente pelos alunos dos cursos fundamental e médio com a utili-
zação desse método proposto pela Inez Saltchuk.

CLASSIFICAÇÃO TRADICIONAL DO SUJEITO

O sujeito é classificado nas nossas gramáticas tradicionais da seguinte forma:


- Simples
- Composto
- Oculto, desinencial ou elíptico
- Indeterminado
- Inexistente (oração sem sujeito).

70
Sujeito
Aula

Agora vamos relembrar a vocês essas noções gramaticais, embora


aceitemos o ponto de vista de Saltchuk no sentido de que o conhecimen-
8
to dessa nomenclatura de classificação em nada contribui no que respeita
ao uso da língua. Conhecer essa classificação lhe será útil no ensino da
sintaxe tradicional, exigência de muitos programas de língua portuguesa.
O sujeito simples é aquele formado por um único, núcleo. Assim, um úni-
co pronome reto substituirá o único núcleo existente. Seguem-se exemplos:

1. Apareciam as primeiras velas da embarcação.


- Apareciam as primeiras velas da embarcação?
- Sim, elas apareciam.
2. Caminhava, todas as manhãs, o jovem estudante.
- Caminhava, todas as manhãs, o jovem estudante?
- Sim, ele caminhava, todas as manhãs.

Em relação ao sujeito composto, dois ou mais sintagmas nominais


são trocados por um só pronome nominal. Seguem-se os exemplos.

1. Estudavam bastante o jovem e a sua namorada.


- Estudavam bastante o jovem e a sua namorada?
- Sim, eles estudavam bastante.

Vocês devem ter na lembrança o conceito de sujeito oculto, também


chamado de elíptico ou desinencial, aquele sujeito “marcado na própria
desinência verbal”. (SAUTCHUK, 2004, p. 63). Como vocês já devem
ter compreendido, no reconhecimento desse sujeito, não há substituição
de sintagma nominal por pronome reto. Há o acrescentamento de um
pronome reto no que respeita a oração observada.
Observem-se os exemplos:

1. Encontrou o menino o livro desejado, embora já estivesse


desesperançado.
- Encontrou o menino o livro desejado, embora já estivesse
desesperançado?
- Sim, o menino encontrou o livro desejado, embora ele já estivesse
desesperançado.
2. Encontramos o tesouro perdido.
- Encontramos o tesouro perdido?
- Sim, nós encontramos o tesouro perdido.
3. Ocorreram fatos desagradáveis naquele condomínio. Inquietaram os
moradores.
- Inquietaram os moradores?
- Sim, eles inquietaram os moradores.

71
Língua Portuguesa I

Atenção:
Em português, só há sujeito oculto no que respeita a pronomes de
terceira pessoa do singular ou do plural, quando há orações correlacionadas,
como nos exemplos de número 1 e número 2.
A indeterminação do sujeito apresenta uma maior complexidade. As
orações de sujeito indeterminado trazem o verbo na terceira pessoa do
plural ou na terceira pessoa do singular acompanhado da partícula se.
Na depreensão desse tipo de sujeito é possível aplicar o método prá-
tico da Inez Sautchuk. Necessário se faz então o acrescentamento na
oração observada de “duas ou três variações de um pronome reto de 3a
pessoa, ou seja, ele(s), elas(s), você(s)” (SAUTCHUK, 2004, p. 64).

1. Falaram muito a respeito do caso.


- Falaram muito a respeito do caso?
- Sim, eles, elas, vocês falaram muito a respeito do caso.
2. Falava-se da corrupção.
- Falava-se da corrupção?
- Sim, (ele, ela, você) falava da corrupção.

Atenção:
Em construções com verbos na 3a pessoa do singular ou do plural
acompanhados do pronome se, necessário se torna reconhecer os casos
de se (pronome apassidade).
Esse reconhecimento é feito através da substituição da seqüência ver-
bo e partícula se pela construção de passivo analítico correspondente. Efe-
tuada essa substituição, afasta-se a hipótese de indeterminação do sujeito e
a técnica de pergunta/resposta, através da substituição de sintagma nomi-
nal ou de sintagmas nominais por pronomes retos indicará o sujeito.
Observe:

1. Vende-se roupa de criança.


- Vende-se roupa de criança?
- Sim, roupa de criança é vendida. (Sim, ela é vendida).

Há ainda que falar das orações que não possuem sujeito, o que cons-
titui os chamados casos de sujeito inexistente. Nessas orações, o verbo,
chamado de impessoal, apresenta-se na 3a pessoa do singular. O método
da Sautchuk contempla esses casos, pois, na terceira pergunta/resposta,
nada é substituído ou acrescentado.
Atenção:

1. Há muitos alunos na sala.


- Há muitos alunos na sala?
- Sim, há muitos alunos na sala.

72
Sujeito
Aula

2. Faz muito frio em Santa Catarina.


- Faz muito frio em Santa Catarina?
8
- Sim, faz muito frio em Santa Catarina

Reiteramos que toda essa técnica de reconhecimento do sujeito foi


retirada do livro Prática de Morfossintaxe de Inez Sautchuk.

CONCLUSÃO

Uma das justificativas do estudo do sujeito é a de que, o conheci-


mento se auto-justifica. Além disso, conhecer o sujeito das orações facili-
ta a compreensão dos textos e a depreensão das relações discursivas. De
outro modo, professores de língua portuguesa não podem descuidar desse
tipo de conhecimento.

RESUMO

A noção de sujeito já se encontra na Tradição Lingüística da Grécia.


Essa noção é retomada pelas nossas gramáticas escolares; inclusive as
hodiernas. Com os avanços dos estudos lingüísticos, a partir dos propostos
de Ferdinand de Saussure, sobretudo, no que respeita as relações associativas
e sintagmáticas, desenvolveu-se a teoria dos sintagmas e da sua organiza-
ção em unidades superiores como frases e/ou orações. Servindo-se então
dessa perspectiva lingüística, Inez Sautchuk revisita o estudo do sujeito na
gramática tradicional, a ele faz críticas pertinentes e apresenta sua proposta
sintática de reconhecimento e de classificação do sujeito.

ATIVIDADES

Encontre o sujeito das orações seguintes, utilizando-se no método apre-


sentado.
a) “Vieram os refrescos”. (Graça Aranha).
b) “Poucas reses conseguiram chegar ao bebedouro”. (Rodolfo Teófilo).
c) “Chegaram à fazenda noves bois”. (M. de Maricá).
d) “Sua bondade e a grandeza de atitudes eram por todos elogiados”. (Idem).
e) “Toda a cordilheira aparecia coberta por um nevoeiro escuro”. (J. de Alencar).
f) “Floriano caminhava pensativo”. (Érico Veríssimo).
g) “A terrível sacerdotisa parou”. (Herculano).

73
Língua Portuguesa I

h) “Jardim, horta, pomar, pastagens e plantios circunvizinhos eram divi-


didos por viçosas e verdejantes sebes de bambus, piteiras, espinheiros e
gravatás”. (B. Guimarães).
i) “Arma-se o estrado no meio da rua”. (C. D. de Andrade).
j) “A cólera te cega, velho cacique...”
k) “Toda a gente o julga uma fera”. (G. Ramos).
l) “Os homens vêm tristes”. (Paulo Setúbal).
m) “Hoje deve ser cinco de janeiro”. (I. L. Brandão).
n) “Nunca houve semelhante caso em nossa cidade”. (L. F. Teles).

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Encontre o sujeito das orações seguintes, utilizando-se no método


apresentado.
a) “Vieram os refrescos”. (Graça Aranha).
- Vieram os refrescos?
- Sim, eles vieram.
O sujeito é ‘os refrescos’ expressão substituída por ‘eles’.
b) “Poucas reses conseguiram chegar ao bebedouro”. (Rodolfo Teófilo).
- Poucas reses conseguiram chegar ao bebedouro?
- Sim, elas conseguiram chegar ao bebedouro.
O sujeito é ‘poucas reses’ seqüência substituída por ‘elas’.
c) “Chegaram à fazenda noves bois”. (M. de Maricá).
- Chegaram à fazenda noves bois?
- Sim, eles chegaram à fazenda.
O sujeito é ‘nove bois’, expressão substituída por ‘eles’.
d) “Sua bondade e a grandeza de atitudes eram por todos elogiados”. (Idem).
- Sua bondade e a grandeza de atitudes eram por todos elogiados?
- Sim, eram elas por todos elogiados
O sujeito é a construção ‘Sua bondade e a grandeza de atitudes’,
pois foi substituído pelo pronome ‘eles’.
e) “Toda a cordilheira aparecia coberta por um nevoeiro escuro”.
(J. de Alencar).
- Toda a cordilheira aparecia coberta por um nevoeiro escuro?
- Sim, ela aparecia coberta por um nevoeiro escuro.
O sujeito é ‘toda a cordilheira’ já que essa construção foi substituída
pelo pronome ‘ela’.
f) “Floriano caminhava pensativo”. (Érico Veríssimo).
- Floriano caminhava pensativo?
- Sim, ele caminhava pensativo.
O sujeito é ‘Floriano’ seqüência substituída pelo pronome ‘ele’.

74
Sujeito
Aula

g) “A terrível sacerdotisa parou”. (Herculano).


8
- A terrível sacerdotisa parou?
- Sim, ela parou.
O sujeito é ‘A terrível sacerdotisa’ construção substituída por ‘ela’.
h) “Jardim, horta, pomar, pastagens e plantios circunvizinhos eram
divididos por viçosas e verdejantes selvas de bambus, piteiras,
espinheiros e gravatás”. (B. Guimarães).
- Jardim, horta, pomar, pastagens e plantios circunvizinhos eram
divididos por viçosas e verdejantes sebes de bambus, piteiras,
espinheiros e gravatás?
- Sim, eles eram divididos por viçosas e verdejantes sebes de bambus,
piteiras, espinheiros e gravatás.
O sujeito é ‘jardim, horta, pomar, pastagens e plantios circunvizinhos’
passagem substituída pelo pronome ‘eles’.
i) “Arma-se o estrado no meio da rua”. (C. D. de Andrade).
- Arma-se o estrado no meio da rua?
- Sim, ele se arma no meio da rua.
O sujeito é ‘o estrado’ substituído por ‘ele’.
j) “A cólera te cega, velho cacique...”
- A cólera te cega, velho cacique?
- Sim, ela te cega, velho cacique.
O sujeito é ‘A cólera’, passagem substituída por ela.
k) “Toda a gente o julga uma fera”. (G. Ramos).
- Toda a gente o julga uma fera?
- Sim, ela o julga uma fera.
O sujeito é ‘Toda a gente’, seqüência substituída por ela.
l) “Os homens vêm tristes”. (Paulo Setúbal)
- Os homens vêm tristes?
- Sim, eles vêm tristes.
O sujeito é ‘Os homens’, passagem substituída por ‘eles’.
m) “Hoje deve ser cinco de janeiro”. (I. L. Brandão)
- Hoje deve ser cinco de janeiro?
- Sim, hoje deve ser cinco de janeiro
Essa oração não possui sujeito, já que nada lhe foi substituído ou
acrescentado.
n) “Nunca houve semelhante caso em nossa cidade”. (L. F. Teles)
- Nunca houve semelhante caso em nossa cidade?
- Sim, nunca houve semelhante caso em nossa cidade.
Essa oração não possui sujeito, já que nada lhe foi substituído ou
acrescentado.

75
Língua Portuguesa I

Os professores Celso Cunha e Lindlej Cintra são estudiosos


renomados na área da língua portuguesa. Celso Cunha brasileiro e
Lindlej Cintra, português, contribuíram com excelência para o
conhecimento do Português do Brasil e do Português de Portugal.

Rocha Lima, segundo Antônio Houairs, merece ser homenageado


pela contribuição dada “à preservação e excelência da nossa língua”.
Brasileiro, atuou no magistério. É importante lembrar que sua
Gramática Normativa incorpora “doutrina, exposição e síntese”.

Adriano da Gama Kury é exímio estudioso da língua portuguesa.


Suas lições de Análise Sintática constituem material necessário a
todos que desejam percorrer a trilha da sintaxe, principalmente os
estudantes dos Cursos de Letras.

John Lyons é um lingüístico que nasceu em Manchester (Inglaterra)


em 1932. Doutorou-se em 1959 em Cambridge, onde ensinou
Lingüística. Sua Introdução à Lingüística Teórica permite um
conhecimento geral das teorias lingüísticas desenvolvidas a partir do
estruturalismo sansureano, além de apresentar um recorte muito
pertinente relativo às tradições lingüísticas da antiguidade.

Eduardo Carlos Pereira é conhecido pelos críticos como um


importante estudioso do seu tempo. Foi o primeiro professor de
português do Ginásio da Capital, em SP, de 1895 até 1923. Além de
português, o prof. Eduardo ensinou latim durante um ano nesse
mesmo ginásio.

Inez Sautchuk é mestra e doutora em Filologia e Língua Portuguesa


pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo. Foi professora de língua portuguesa, no
ensino fundamental e médio. É professora no ensino superior de São
Paulo, desde 1988. Ministra aulas nos cursos de graduação e de pós-
graduação.

76
Sujeito
Aula

REFERÊNCIAS 8
CUNHA, Celso; CUNHA, Lindlej. Nova gramática do português con-
temporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
LIMA, C. H. da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa.
47 ed. Rio de Janeiro: José Olimpio, 2008.
KURY, Adriano G. Novas lições de análise sintática. 9 ed. São Paulo:
Ática, 2000.
LYONS, John. Introdução à lingüística teórica. São Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional, 1979.
PEREIRA, Eduardo C. Gramática expositiva. 10 ed. São Paulo: Cole-
ção de obras de O Estado de São Paulo, 1920.
SAUTCHUK, Inez. Prática de morfossintaxe. Barueri/SP: Manole, 2004.

77
Aula

9
ADJUNTO ADNOMINAL E
COMPLEMENTO NOMINAL

META
Explicar a função adjetiva do adjunto adnominal, um acessório do núcleo do sujeito e de outros
núcleos, mostrando as classes adjuntas.
Apresentar a importância do complemento nominal, termos integrante da função substantiva.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
identificar os adjuntos adnominais do sujeito no período simples;
reconhecer o complemento nominal e sua importância para a integração das idéias na frase.

PRÉ-REQUISITOS
Aula sobre sintaxe.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).
Língua Portuguesa

INTRODUÇÃO

Estamos aqui novamente com disposição para o trabalho com a


aprendizagem da disciplina em foco. Vamos passar a expor agora noções
básicas de termos da oração ligados ao Sujeito, no caso o adjunto
adnominal e o complemento nominal.
Os termos acessórios da oração são adjunto adnominal, adjunto ad-
verbial, aposto e vocativo. È importante saber que todos esses termos
são unidades sintáticas menores que se incluem dentro do sujeito ou do
predicado, girando sempre em torno de nomes.
Nesta aula, iremos estudar um termo acessório da oração, o adjunto
adnominal. Esse termo, na oração, determina um substantivo ou equivalente.
Todavia, aqui nesta aula, também falaremos um pouco do comple-
mento nominal que apesar de ser um termo integrante da oração também
faz referência ao nome.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).

80
Adjunto adnominal e complemento nominal
Aula

ADJUNTO ADNOMINAL 9
O adjunto adnominal é um termo que determina um substantivo
(ou palavra de natureza substantiva); portanto sua função é atribuir uma
qualidade ao determinante.
Veja: O rapaz feliz passeia.
|Adj. Adn.|

- O substantivo “rapaz” é determinado pelo artigo “o” e caracterizado


(determinado) pelo adjetivo “feliz”.
- Entende-se que o rapaz é feliz independentemente da prática da ação de
passear. Portanto “rapaz” foi caracterizado, adjetivado, pelos adjuntos
adnominais.

Adjunto Adnominal é determinante de:


Substantivo - O rapaz feliz.
Pronome substantivo - Alguns dos alunos saíram.
Numeral substantivo - Dois dos alunos saíram.

- O A. A. só acompanha o substantivo ou uma palavra substantivada.

AS DIFERENTES CLASSES GRAMATICAIS DO


ADJUNTO ADNOMINAL

A função de adjunto adnominal pode ser exercida por palavras de


diferentes classes gramaticais.

Adjetivo linda bola


Locução Adjetiva bola de basquete
Artigo O presente
Pronome Meu presente
Numeral Duas bolas

Veja esta frase:


Avistava-se a velha casa de paredes escuras.
| Adj. Adn. |

Aqui se vê o termo de paredes escuras preposicionado; portanto o


adjunto adnominal aparece preposicionado quando representado por lo-
cução. (prep. + subst.)

81
Língua Portuguesa

ADJUNTO ADNOMINAL DETERMINANTE DE


UM SUBSTANTIVO ABSTRATO

A viagem do diretor foi adiada.


Adj. Adn.

- Aqui o adjunto adnominal representa o ser que pratica a ação.


- Entende-se que o diretor é que praticaria a ação de viajar sendo o
agente da ação.
Observação:
Se o substantivo abstrato representa o ser que é alvo da ação, não
podemos dizer que o terrno é A. A. e sim Complemento Nominal.
Veja: A viagem ao Rio foi adiada.
C. N.

Entende-se aqui que o Rio é alvo da ação de viajar.


Então, quando o substantivo determinado for abstrato devemos ob-
servar se ele é alvo ou agente da ação.

ADJUNTO ADNOMINAL X COMPLEMENTO


NOMINAL

Tenha cuidado para não confundir o A. A. do C. N. Você acabou de


ver que o determinante do substantivo abstrato pode ser C. N.
Então vamos estudar mais um pouco sobre isto.
Você aprendeu que o adjunto Adnominal é um termo acessório, de
valor adjetivo, que serve para especificar ou delimitar o significado de um
substantivo.
Já o Complemento Nominal é um termo integrante da oração, neces-
sário para completar o sentido de nomes: substantivos, adjetivos ou de
advérbios que não possuem sentido completo dentro da frase.
Portanto, antes de classificar o A. A. pense nisso:

A buzina me assustou - sentido completo


A buzina do carro me assustou - sentido completo mais detalhado
A. A. (termo acessório)

Hoje faremos a compra... (de quê ?) - sentido incompleto


Hoje faremos a compra do carro - sentido completo
C. N. (termo integrante)

82
Adjunto adnominal e complemento nominal
Aula

COMPLEMENTO NOMINAL 9
Como os verbos, muitos nomes (substantivos, adjetivos e, mais rara-
mente, advérbios) podem ter sentido incompleto. E, por essa razão, pre-
cisam de um complemento, um termo que os torne claros: a esse termo
damos o nome de complemento nominal (CN), pois completa o sentido
de um nome.
O complemento nominal aparece sempre regido de preposição.
EX.: Espero que você tenha feito uma boa leitura do texto.
“Leitura” é , nessa oração, núcleo do objeto direto da locução verbal
“tenha feito”. Note que, nessa oração, fez-se a leitura de algo. Leitura é,
portanto, um nome transitivo, e “do texto” é seu complemento nominal.
Observe ainda outras expressões: ...fundação da cidade.
... homenagem à maior cidade.

As duas expressões destacadas completam os substantivos abstratos,


constituindo, portanto, complementos nominais. – além de ser alvo da ação.

ADJUNTO ADNOMINAL X PREDICATIVO

Cuidado para não confundir adjunto do núcleo do objeto com o


predicativo do objeto.
Ela deixou a mãe assustada.
O. D. Predicativo do O. D.

Ela comprou a blusa azul. - núcleo: blusa; azul: adj. adn.


O. D.
Observe que o predicativo atribui ao objeto direto uma característica
temporária.
Já o Adj. Adn. descreve uma característica constante, permanente.
OBSERVAÇÃO:
Para não se confundir, você pode tentar deslocar a palavra para outro
lugar da oração. O predicativo pode ser deslocado para perto do verbo,
enquanto que o adj. adn.. não pode.
Veja: Ela deixou assustada a mãe.
Ela comprou azul a blusa.

83
Língua Portuguesa

CONCLUSÃO

É importante observar que ao núcleo substantivo, qualquer que seja


a função deste, pode juntar-se um termo de valor adjetivo, para acrescen-
tar-lhe um dado novo à significação : o adjunto adnominal.
E também devemos observar que o complemento nominal, geral-
mente, integra o sentido de nomes que correspondem a um verbo transi-
tivo, normalmente relacionado pela forma ou pelo sentido.
Desta forma saberemos sempre definir quando é adjunto adnominal
ou complemento nominal.

RESUMO

Como vimos:
O A. Adn. acompanha apenas o substantivo, caracterizando-o.Tem
sentido ativo.
O C.N. acompanha um substantivo, um adjetivo, um advérbio e tem
sentido passivo, sofre a ação.
O A.Adn. pode ser um artigo, um adjetivo, um pronome, um nume-
ral, ou uma locução adjetiva, iniciada por preposição.
O A. Adn. acompanha um substantivo abstrato sendo agente da ação.
O A. Adn. não pode ser deslocado para perto do verbo quando apa-
recer no predicado como determinante do objeto direto.

ATIVIDADES

1. Todos os termos destacados funcionam como adjunto adnominal.exceto:

a) ( ) Digam que sou um homem sem orgulho.


b) ( ) Quero dantes a tua pele sem rugas.
c) ( ) Na estação de Vassouras, entraram no trem.
d) ( ) Eu quero a estrela da manhã.
e) ( ) Acalmava-se a contemplação desse jardim.

2. Em todos os itens, o termo destacado liga-se a substantivo abstrato.


Classifique-o, escrevendo entre parênteses o número:
(1) para adjunto adnominal
(2) para complemento nominal

84
Adjunto adnominal e complemento nominal
Aula

a) ( ) “Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rastro.”


b) ( ) “A recordação é uma traição à natureza.”
9
c) ( ) “ Meus olhos são pequenos para ver o deslizar do peixe sob a mina.”
d) ( )” Meus olhos são pequenos para ver o transporte das caixas de
comida.”

3. Em todos os itens, o termo destacado é complemento nominal, exceto em:


a) ( ) “Estou farto do lirismo comedido.”
b) ( ) “Estavam todos absortos na vida, confiantes na vida.”
c) ( ) “Passei trinta anos longe dela.”
d) ( ) “Minha alma estava naquele instante vazia de mim.”
e) ( ) “Lembra-se da figura vaga do finado amigo.”

REFERÊNCIAS

KEHDI, Valter. Morfemas do português. São Paulo: Ática, 1987.


SADMAN, Antonio José. Morfologia Geral. São Paulo: Contexto, 1991.
ZANOTO, Normélio. Estrutura mórfica da língua portuguesa. Caxias
do Sul: EDUCS, 1986.

85
Aula

10
APOSTO

META
Apresentar o aposto, termo acessório, sua relação com o sujeito e classificação segundo a
NGB.

OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
compreender a relação do aposto com o substantivo e classificar os tipos de aposto em relação
ao sujeito ou à oração.

PRÉ-REQUISITOS
Aulas de sintaxe.

(Fonte: http://www.gettyimages.com).
Língua Portuguesa I

INTRODUÇÃO

Olá! Estamos de volta. Nesta aula estudaremos mais um termo aces-


sório da oração: o aposto. Sabemos que o aposto tem como núcleo um
substantivo e sua relação se dá com outro substantivo. Como o enfoque
dessa disciplina é o sujeito e o aposto a ele se relaciona, faz sentido estudá-
lo agora, já que o sujeito tem função substantiva.
Há termos acessórios que modificam o sentido de nomes, outros modi-
ficam verbos. No sujeito e no predicado estão incluídos ou encaixados to-
dos os outros termos da oração, que são as unidades menores; no entanto,
o predicado será estudado posteriormente, na próxima disciplina.
Vamos ao estudo!

(Fonte: http://www.gettyimages.com).

88
Aposto
Aula

O APOSTO 10
Aposto é um termo de valor substantivo que identifica, explica, de-
senvolve ou resume um substantivo da oração, independente da função
que este exerce.
O aposto é representado por um substantivo ou por expressão
substantivada, frases e até orações. Em alguns casos, ele vem separado
do termo que o identifica por vírgulas, por dois pontos e por travessões.
Nossa Terra, o Brasil, carece de políticas sociais.
aposto
- Entende-se que o termo “o Brasil” se refere a um mesmo ser, ao sujeito
Nossa Terra.

Vendeu-se tudo: a casa, o carro, os móveis.


aposto
- Entende-se aqui que explica-se através da enumeração o termo tudo.

CLASSIFICAÇÃO DO APOSTO

De acordo com a relação que estabelece com o termo a que se refere,


pode-se classificar o aposto como:

a) Explicativo - separa-se do substantivo qa que se refere por uma pausa,


marcada na escrita por vírgulas, travessões ou dois pontos.

Ricardo, meu amigo, tem uma guitarra.

b) Enumerativo - é usado para desenvolver idéias que foram resumidas


ou abreviadas num termo anterior.

Nada impedia seus planos: tristezas, dores, dificuldades.

c) Recapitulativo – é o aposto usado para resumir termos anteriores. É


expresso geralmente por um pronome indefinido.

O barulho da rua, o frio intenso, a Luiz da lareira tudo o incomodava.

d) Comparativo

Seu senso crítico, eterno indagador, levou-o a questionar aquele caso.

e) Há ainda o aposto especificativo que por não vir marcados por sinais
de pontuação, merece atenção. Ele aparece junto com a substantivo de

89
Língua Portuguesa I

sentido genérico, sem pausa, para especificá-lo ou individualizá-lo. É cons-


tituído por substantivo próprio.

O poeta Castro Alves....


(O nome próprio se juntou a um nome comum.)

O rio Tietê atravessa a cidade de São Paulo.


(Pode ligar-se ao nome através de preposição)

CONCLUSÃO

O aposto não se refere apenas a um termo da oração, mas ao conjunto


de idéias e expressões. É uma palavra substantiva de valor substantivo. O
aposto se refere a um substantivo, explicando-o ou resumindo-o ou ainda
especificando-o. É sempre colocado depois, logo, é o segundo substantivo.

RESUMO

Como vimos:
O aposto se refere a um substantivo com a função de equivalência.
O aposto pode ser classificado em explicativo, recapitulativo,
enumerativo, especificativo.
O aposto é separado do termo a que ele se refere por vírgulas ou
dois-pontos. Somente o aposto especificativo não é marcado por sinais
de pontuação.

ATIVIDADES

1. Sublinhe nas frases abaixo o aposto:


a) Não aceitou a casa, mas aceitou o advogado, um contraparente do Palha.
b) A capa, primeiro presente do marido, ia-lhe muito bem.
c) Alegaram que Quincas Borba, um demente manifesto, não podia testar.
d) Ouro Preto, uma antiga capital de Minas, figura entre as principais
cidades históricas.

90
Aposto
Aula

REFERÊNCIAS 10
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37 ed. Rio
de Janeiro: Lucerna, 1999.
LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 24 ed.
São Paulo: José Olympio, 1985.
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa. 9 ed.
São Paulo: Saraiva, 2007
CIPRO NETO, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramática da Língua
Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1997

91

Você também pode gostar