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autor
MARILDA FRANCO DE MOURA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial luis claudio dallier saldanha; roberto paes; gladis linhares;
karen bortoloti; marilda franco de moura
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-194-9
Prefácio 7
1. Behaviorismo 7
1.1 Teoria da Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem 9
2. Gerativismo 27
3. Sociolinguística 51
3.1 Sociolinguística 53
3.2 Fenômenos Inerentes às Línguas do Mundo:
Variação e Mudança Linguística 54
3.3 A Variação Linguística – Contexto social 55
3.3.1 Tipos de Variação Linguística 56
3.3.2 A Variação no Português Brasileiro:
Fenômenos Linguísticos em Variação 58
3.4 Níveis de linguagem 61
3.5 A Noção de Erro 63
3.6 O Preconceito Linguístico 66
4. Funcionalismo 73
Bons estudos!
5
1
Behaviorismo
Neste capítulo, vamos retomar as teorias da escola Behaviorista e a análise do
comportamento.
OBJETIVOS
• Verficiar as condições de emergência do Behaviorismo em que a Psicologia busca uma
definição enquanto ciência;
• Conhecer a linha de evolução do Behaviorismo;
• Apresentar as abordagens do Behaviorismo Metodológico Jonh Broadus Watson; Beha-
viorismo de Skinner e as teorias comportamentalistas junto às dos teóricos como Ivan Petro-
vich Pavlov e Edward L. Thorndike.
8• capítulo 1
1.1 Teoria da Aquisição e Desenvolvimento
da Linguagem
O Behaviorismo é uma escola que acha que todo mundo pode ser condicionado o tempo
todo”; “Tudo se resume em comportamentos que são respostas a estímulos recebidos”;
“Skinner usa a teoria do arco reflexo para explicar o comportamento humano”; “O behavio-
rismo tenta a modificação de comportamento inadequado através de condicionamentos”;
capítulo 1 •9
“O behaviorismo baseia-se no comportamento apresentado, em seus sintomas, sem
dar maior importância às causas deste comportamento”; “No behaviorismo “visa modi-
ficar o comportamento através do condicionamento”; “Não leva em conta os aspectos
subjetivos ou de introspecção”; “No behaviorismo não há enfoque no indivíduo e suas
contingências individuais: procura-se constatar regras gerais para o grupo social e/
ou sociedade humana como um todo”; “Para o behaviorismo, o sujeito é apenas um
corpo que se comporta, sem subjetivismos que expliquem tal comportamento"; “O
principal esquema conceitual do behaviorismo é o S-R”; “Behaviorismo está ligado
com Pavlov e seus cães, é reducionista e não leva em conta a grandeza do ser huma-
no”. STARLING (2000, p. 7)
AUTOR
John Broadus Watson (09/01/1878 – 25/09/1958)
– Nascido em Travelers Rest, Carolina do Sul, Psicólo-
go estadunidense nascido em Travelers Rest, próximo a
Greenville, Carolina do Sul, que lançou as bases teóri-
cas da psicologia do comportamento, o behaviorismo ou
comportamentalismo. Aluno discreto durante sua edu-
cação média, entrou para a University of Chicago para
frequentar o curso de Filosofia, mas desiludido com a
orientação, mudou para Psicologia. Doutor em Neurop-
sicologia na University of Chicago (1903), onde já en-
sinava psicologia, defendendo uma tese sobre a relação
entre o comportamento dos ratos brancos e o sistema
nervoso central. Foi nomeado professor de psicologia
animal da Universidade John Hopkins, de Baltimore (1908), onde desenvolveu pesquisas fun-
damentais sobre o comportamento de ratos e macacos. Tornou-se conhecido no mundo cientí-
fico após a publicação do artigo Psychology as a Behaviorist Views It (1913), onde estabeleceu
rigidamente pela primeira vez os princípios fundamentais do behaviorismo. Suas teses foram
10 • capítulo 1
ampliadas em Behavior: an Introduction to Comparative Psychology (1914), Psychology from
the Standpoint of a Behaviorist (1919) e finalmente, em Behaviorism (1925).
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JohnBroa.html acesso 20-7-2015
AUTOR
Burrhus Frederic Skinner (20/03/1904
– 18/08/1990) Pesquisas em psicologia
experimental e propositor do Behaviorismo.
Nasceu em Pensilvânia, onde viveu até ir
para o colégio. Segundo seu próprio rela-
to, seu ambiente da infância era estável e
não lhe faltou afeto. Também tinha interesse
pelo comportamento dos animais. Lia muito
sobre eles e mantinha um estoque de tar-
tarugas, cobras, lagartos, sapos e esquilos
listrados. Numa feira rural, ele observou cer-
ta vez um bando de pombos numa apresen-
tação; anos mais tarde, ele treinaria essas
aves para realizar uma variedade de façanhas.
Fonte: http://www.buscadorerrante.com/wp/2009/skinner/ acesso 20-7-2015
capítulo 1 • 11
Para entender o Behaviorismo de Skinner, faz-se necessário um retorno às
pesquisas dos seus principais precedentes e influenciadores.
AUTOR
Ivan P. Pavlov (1883) desenvolvou estudos fisiológicos
começando pelas influências do sistema nervoso sobre
o coração e depois sobre a digestão. Ao estudar o pro-
cesso digestivo dos animais, inventou um aparelho que
media a saliva dos cães ao receberem o alimento. Com
essa máquina, acabou descobrindo que a saliva dos ani-
mais era produzida antes do recebimento da alimentação.
Buscando investigar essa descoberta, Pavlov montou um
experimento específico para o estudo da reação salivar do
animal. Tal experimento consistia em apresentar um som
segundos antes da entrega de um alimento (carne em
pó), que ao entrar em contato com a boca produzia saliva.
Após inúmeras repetições desse procedimento, foi percebido que o cão salivava apenas com a
apresentação do som, o alimento não era mais apresentado e, ainda assim, ocorria a salivação
do animal. Pavlov denominou essa reação produzida de reflexo condicionado e o processo que
o originou de condicionamento respondente, hoje conhecido também como condicionamento
clássico. (MILHOLLAN; FORISHA, 1978).
Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) – Conhecido por sua teoria sobre o condicionamento
clássico, e as pesquisas sobre fisiologia e digestão.
http://www.notablebiographies.com/images/uewb_08_img0547.jpg
COMENTÁRIO
Condicionamentos respondentes – são respostas reflexas dadas por meio de estímulos. EX: a
contração pupilar diante da luz, a salivação em resposta à comida, o suor em resposta ao calor.
12 • capítulo 1
1. Antes do condicionamento 2. Antes do condicionamento
Resposta Resposta
Sem
Comida Salivação Som salivação
© HOWSTUFFWORKS
Salivação Som Salivação
Resposta Estímulo Resposta
Comida incondicionado condicionado condicionada
capítulo 1 • 13
ATENÇÃO
Pavlov – Comportamento respondente pode ser condicionado. Experimento usando um
cão: Ao tocar uma campainha e oferecer, ao mesmo, tempo carne ao cão várias vezes, o som
passou a provocar a salivação no cão, mesmo sem apresentar a carne.
Essas pesquisas feitas por Pavlov foram suas principais contribuições para
os posteriores estudos de Skinner.
Jonh B. Watson (1913) propõe uma mudança na análise do objeto de estudo
da psicologia, escrevendo “Psychology as the Behaviorist Views it”, em que o ob-
jeto de estudo dessa ciência fosse o comportamento humano, rejeitando todas
as “entidades” mentalistas (SKINNER, 2006).
O advento dessa descoberta ocorreu pelo fato de que, no contexto da épo-
ca, a preocupação da Psicologia era a mente ou as estruturas mentais. Do con-
trário, essas modificações criaram polêmica na sociedade científica da época.
Veio, então, a necessidade da Psicologia de enquadrar-se nas ciências naturais.
No contexto cultural da época, os autores norte-americanos da época lutavam
por uma mudança na Psicologia. Mas foi Watson quem acabou por elucidar da
melhor forma tais mudanças.
Assim, a escola Behaviorista foi estruturada para ser uma nova abordagem
no campo científico. Matos (1995) afirma que os principais fatores da proposta
inicial de Watson eram:
• o estudo do comportamento;
• oposição ao mentalismo, ignorando o estado mental, a consciência e os
sentimentos;
• a adesão ao evolucionismo biológico, comparando os comportamentos
humanos a dos animais; adoção do determinismo materialístico; uso de proce-
dimentos objetivos na coleta de dados;
• realização de experimentação controlada;
• observação consensual; e a utilização dos conhecimentos fisiológicos.
14 • capítulo 1
metodológica (ligada à coleta de dados à experimentação), que refletem sobre
o pensamento cientifico. Dentro destas tendências destacam-se: O Positivismo
Social, lógico e operacionismo.
Acesso em 25.junho.2015
capítulo 1 • 15
No behaviorista metodológico (clássico ou mediacionista) aceitaria esta frase como um
bom exemplo de descrição do comportamento de ver, tanto quanto aceitaria meu regis-
tro da salivação de um cão como evidência desta salivação. Meu registro equivaleria a
duas evidências: que vi o cão salivar, e, mais ainda, que o cão salivou! Este registro seria
aceito porque outras pessoas também poderiam relatar ter visto o cão salivar, isto é, a
salivação de um cão é observável consensualmente, assim como também aceitariam
que vejo vocês aqui se outras pessoas relatassem o mesmo fato. Mas o que está em
pauta aqui não é o “salivar de um cão”, e sim o “meu ver” essa salivação; não é a pre-
sença de vocês e sim aquilo que tomo como evidência dessa presença o meu ver. Este
é um ponto difícil, já que somente eu posso ter acesso a meu ato de ver (dito em outras
palavras quando eu vejo um cão salivando, eu vejo o cão salivando, e eu me vejo vendo).
http://www.itcrcampinas.com.br/txt/behaviorismometodologico.pdf.
Acesso em 22.junho.2015.
ATENÇÃO
Watson – Condicionamento respondente em seres humanos. Experimento usando uma
criança: Condicionou respostas de choro em uma criança ao mostrar-lhe um rato branco. A
criança só chorou quando o olhar do rato ficou aterrorizante em função de um som forte que
soou durante sete vezes.
16 • capítulo 1
Figura 1.2 – Uso de um método experimental na investigação do comportamento animal
http://www.uniriotec.br/~pimentel/disciplinas/ie2/infoeduc/aprgato.jpg
Dentre as várias respostas dadas a uma mesma situação, as que forem acompanha-
das ou seguidas de perto pela satisfação do animal, mantendo-se iguais as demais
condições, tornar-se-ão mais firmemente conectadas à situação de modo que, quando
esta ressurgir, tenderão a reaparecer; as que forem acompanhadas ou imediatamente
seguidas por desconforto, as demais condições mantendo-se iguais, terão enfra-
quecidas suas conexões com tal situação, de forma que quando esta se repetir, elas
terão menor tendência a ocorrer. Quanto maior a satisfação ou o desconforto, maior o
fortalecimento ou enfraquecimento da conexão. - Lei do Efeito" (Thorndike, 1911)
capítulo 1 • 17
observado por uma posição behaviorista. Está centrado no condicionamento
operante, que em meio à experiência premia o indivíduo até ele ficar condicio-
nado à ação.
Matos (1995, p. 31) afirma
O termo radical foi empregado em dois sentidos: por negar radicalmente (i.e., negar
absolutamente) a existência de algo que escapa ao mundo físico, isto é, que não
tenha uma existência identificável no espaço e no tempo (como a mente, a cons-
ciência e a cognição); e por radicalmente aceitar (i.e., aceitar integralmente) todos os
fenômenos comportamentais.
Uma pessoa pode observar o funcionamento do seu corpo, o que não garante que
esteja fazendo uma descrição da fisiologia do mesmo e tampouco que explique a
causa do seu comportamento. Ainda fez parte da obra desse autor a corroboração da
importância da busca pela causalidade dos comportamentos e valorizou, ainda mais, o
estudo do ambiente.
18 • capítulo 1
Em um de seus experimentos, Skinner anlisou as reações de um pombo.
Colocou-o em uma caixa com um botão iluminado, água e comida. Ao desejar
a comida, o pombo teria que bicar o botão e teria o acesso ao alimento. A es-
pectativa na experiência de Skinner fora concluída, o pesquisador percebeu o
comportamento do pombo e a dependência entre a resposta e a consequência,
ou seja, sempre que o o pombo desejasse a sua comida, automaticamente ele
bicava no botão iluminado e esta era liberada.
©© WIKIPEDIA
Figura 1.3 – (1950) Numa experiência, um dos pombos de Skinner bica no botão de luz
colorida a fim de receber uma recompensa alimentar. Fonte: http://www.minnesotaalumni.
org/s/1118/images/editor/Minnesota/winter2012/skinner_pigeon.jpg
capítulo 1 • 19
SI SR
Figura 1.5 –
20 • capítulo 1
CURIOSIDADE
Resposta: pupilas contraem (realizada por meio do estado emocional). Com a iluminação elas
se contraem e se dilatam.
capítulo 1 • 21
1. Ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais.
2. Negligência os dons inatos e argumenta que todo comportamento é adquirido
durante a vida do indivíduo.
3. Apresenta o comportamento simplesmente como um conjunto de respostas
a estímulos, descrevendo a pessoa como um autônomo, um robô, um fantoche ou
uma máquina.
4. Não tenta explicar os processos cognitivos.
5. Não considera as intenções ou os propósitos.
6. Não consegue explicar as realizações criativas – na Arte, por exemplo, ou na
Música, na Literatura na Ciência ou na Matemática.
7. Não atribui qualquer papel ao eu ou à consciência do eu.
8. É necessariamente superficial e não consegue lidar com as profundezas da men-
te ou da personalidade.
9. Limita-se à previsão e ao controle do comportamento e ao controle do comporta-
mento e não apreende o ser, ou a natureza essencial do homem.
http://skinnercafeeufgd.blogspot.com.br/2012/04/concepcoes-erradas-
sobre-o-behaviorismo.html. Acesso em 20.junho.2015.
22 • capítulo 1
Figura 1.8 – http://image.slidesharecdn.com/condicionamentooperante-130508052416-
phpapp01/95/aprendizagem-no-condicionamento-operante-15-638.jpg?cb=1367991836
capítulo 1 • 23
A hipótese ou explicação behaviorista apresentava a aquisição dos conhe-
cimentos por meio das experiências vividas. A aprendizagem aconteceria por
meio de respostas bem-sucedidas a determinados estímulos do meio.
SA R SC
Essa concepção teve sua influência na Linguística, pois levou a uma compreen-
são da aquisição da linguagem a partir da ideia de que esse processo se dá por meio
da resposta a estímulos. No caso da aquisição da língua, o uso da fala dá-se por uma
resposta linguística, enquanto o estímulo pode ser linguístico ou não.
O linguista norte-americano Leonard Bloomfield, por exemplo, entendia que
“a criança herda a capacidade de pronunciar e de repetir sons vocais sob diferen-
tes estímulos. A articulação torna-se um hábito, e a criança, numa etapa seguinte,
passa a imitar os sons que ouve” (CEZARIO; MARTELOTTA, 2008, p. 207).
©© DAYNA MORE | DREAMSTIME.COM
Figura 1.10 –
24 • capítulo 1
Na perspectiva behaviorista, a criança associa os sons com os objetos para,
depois, associar uma palavra a algo que está ausente. Por exemplo, se uma crian-
ça diz “aga” (“água”), diante de um estímulo como “sede”, terá sua resposta re-
forçada caso sua mãe pegue água. Em contrapartida, as respostas erradas a de-
terminados estímulos seriam abandonadas, já que não haveria reforço externo.
Para a hipótese behaviorista, a sequência “estímulo > resposta > reforço”
explicaria a aprendizagem linguística (CEZARIO; MARTELOTTA, 2008, p. 207).
Entretanto, essa explicação formulada pelo estruturalismo americano foi alvo
de muitas objeções. Noam Chomsky destaca-se entre os que criticam a aborda-
gem “Estruturalista” e “Behaviorista”, propondo uma teoria para a aquisição da
linguagem que vamos apresentar em seguida.
ATIVIDADES
01. Qual é o objeto de estudo da Psicologia, na corrente behavioristas. Explique.
REFLEXÃO
Este capítulo buscou apresentar o Behaviorismo, procurando apontar as suas condições de
emergência e buscar transformações na Psicologia. Foram abordados o Behaviorismo Metodo-
lógico (Jonh Broadus Watson); Behaviorismo Radical de Burrhus Frederic Skinner e as teorias
comportamentalistas junto às dos teóricos como Ivan Petrovich Pavlov, e Edward L. Thorndike.
Verificou que o behaviorismo é direcionado a uma concepção mais humanística
do comportamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEZARIO, Maria M.; MARTELOTTA, Mário E. Aquisição da linguagem. In: CORREA, Letícia Maria
Sicuro. Aquisição da linguagem: uma retrospectiva
dos últimos trinta anos. DELTA [online]. 1999, vol.15, n.spe, p. 339-383.
LYONS, John. Linguagem e linguística. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981.
MARTELOTTA, Mário E. (Org .) Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008.
capítulo 1 • 25
MATOS, Maria Amélia. Behaviorismo metodológico e behaviorismo radical. In: MILHOLLAN, Frank;
FORISHA, Bill E. Skinner e Rogers: maneiras contrastantes de encarar a educação. São Paulo:
Summus, 1978.
RANGE, B. Psicoterapia comportamental e cognitiva. Campinas:Psy II 1995.
SKINNER, Burrrhus Frederic. (1972). Tecnologia do ensino. (Rodolpho Azzi, Trad.). São Paulo:
Herder, Ed. da universidade São Paulo, 1972.
______. Sobre o Behaviorismo. (M. P. Villalobos, Trad.). São Paulo: Cultrix, 2006. (Trabalho original
publicado em 1974).
______.Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
STENBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000
26 • capítulo 1
2
Gerativismo
Neste capítulo, vamos conhecer alguns aspectos do Gerativismo, corrente da
Linguística, fundamentada nas ideias e pesquisas de Noam Chomsky, um dos
principais linguistas do século XX, ativista e crítico da política externa dos Es-
tados Unidos e da globalização. Vamos trabalhar a compreensão de língua e a
teoria que apresenta para a aquisição da linguagem. Além disso, teremos opor-
tunidade de examinar conceitos como competência, desempenho, faculdade
da linguagem, gramática gerativa e gramática universal, bem como a implica-
ção desses conceitos no uso da língua.
OBJETIVOS
• Conhecer os principais conceitos e as contribuições de Noam Chomsky sobre aquisição
da linguagem;
• Comparar diferentes abordagens teóricas sobre aquisição da linguagem;
• Identificar implicações dos conceitos de competência, desempenho e gramaticalidade no
uso da língua.
28 • capítulo 2
2.1 A Faculdade da Linguagem
Temos em nosso código genético uma capacidade que nos permite adquirir e
desenvolver a linguagem, considerando que esta acontece no espaço das rela-
ções sociais. Aristóteles afirmava que “o homem, por ser dotado de linguagem,
é um ser social e político, pois é ele quem detém o uso da palavra para interagir
com o outro. Estas relações podem se efetivar através da linguagem”.
Podemos definir a linguagem como sendo:
um sistema constituído por elementos que podem ser gestos, sinais, sons, símbolos
ou palavras, que são usados para representar conceitos de comunicação, ideias,
significados e pensamentos. Neste contexto, podemos então dizer, que esta capaci-
dade verbal, ou não verbal, é um dos maiores atributos do homem que facilmente o
distingue do animal. (LYONS, 1987, p. 17)
Neste aspecto, aprendemos algo sobre a natureza humana por meio da lin-
guagem que o homem interage? No bojo desta questão, Noam Chomsky de-
fende que “a linguagem é a manifestação”, de modo mais geral, de estruturas
cognitivas complexas, e essas estruturas nos indicam que: “Ao estudarmos as
particularidades das línguas naturais, sua estrutura, organização e utilização,
podemos esperar obter algum conhecimento das características específicas da
inteligência humana” (CHOMSKY, 1976, p. 10).
AUTOR
Noam Chomsky é reconhecido como importante linguista e ativista político. Ferrenho crítico do ca-
pitalismo globalizado e da política externa americana, ele é um tipo de
“socialista libertário”. Ao contrário dos estruturalistas, Chomsky en-
tende a linguagem como um meio para exprimir pensamentos e não
um sistema social de comunicação através do uso de símbolos. (Cf.
PASSMORE, 1988, p.33).
Avram Noam Chomsky – 7/12/1928 - Linguista, filósofo e
ativista político norte-americano
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6e/
Chomsky.jpg
capítulo 2 • 29
Com tal perspectiva, podemos chegar ao “interesse intelectual mais vas-
to”, a filosofia racionalista e a hipótese inativista, Chomsky (1965, p. 132 apud
DUARTE, 2000) explicita:
Nada chega a nossa mente dos objetos externos através dos órgãos dos sentidos,
aparte certos movimentos corpóreos, mas mesmo estes movimentos e as figuras
que deles surgem, não são concebidos por nós na forma que assumem nos órgãos
dos sentidos... Logo segue-se que as ideias dos movimentos e das figuras são, elas
próprias, inatas em nós. E tanto mais inatas devem ser as ideias de dor, cor, som e
semelhantes, para que, na ocasião de certos movimentos corpóreos, a nossa mente
possa ter essas ideias, pois elas não possuem nenhuma semelhança com os movi-
mentos corpóreos.
CONEXÃO
Para uma rápida consulta à biografia de Chomsky, acesse http://educacao.uol.com.br/bio-
grafias/ult1789u302.jhtm.
Caso deseje, você pode visitar a página oficial de Chomsky em: http://www.chomsky.info/
30 • capítulo 2
Alguns fatores confirmariam a teoria do inatismo na aquisição da linguagem:
• Nossa rápida especialização fonêmica;
• A rapidez com que as crianças adquirem uma linguagem extremamente
complexa, em contato com uma quantidade bem menor de estímulos;
• Todas as crianças parecem adquirir esses aspectos da linguagem na mes-
ma sucessão e aproximadamente no mesmo tempo;
• Os humanos possuem diversas estruturas fisiológicas que servem exclu-
sivamente para a fala;
capítulo 2 • 31
• Os humanos possuem diversas estruturas fisiológicas que servem exclusivamente
para a fala;
• As características universais documentadas ao longo do vasto conjunto de línguas
humanas (centenas de padrões universais têm sido documentados por todas as línguas
ao redor do mundo).
http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/t_2002/t_2002_renato_
aposo_e_francine_vaz/Inato.htm.
Acesso em 23-07-2015.
32 • capítulo 2
denomina “Faculdade da linguagem”. Assim, os estímulos externos não expli-
cariam a aquisição da linguagem nem teriam valor científico (DUARTE, 2000).
Na verdade, Chomsky defende que o mecanismo inato “explica o fato de as
crianças serem capazes de inferir, a partir da sua percepção do mundo externo,
a estrutura gramatical de sua língua em pouquíssimo tempo” (DUARTE, 2000).
Percebemos, então, que “Chomsky parte da hipótese de que existe um mó-
dulo linguístico em nossa mente, constituído de princípios responsáveis pela
formação e compreensão das expressões linguísticas, e especificamente dedi-
cado à língua” (VIOTTI, 2007, p. 2).
É a esse módulo linguístico que Chomsky denomina faculdade da lin-
guagem, que “é inata, ou seja, todos os seres humanos nascem dotados dela.
A faculdade da linguagem é parte da dotação genética da espécie humana”
(VIOTTI, 2007, p. 2).
Diferentemente de Saussure, para quem a faculdade da linguagem “é algo
que capacita os homens a produzirem e compreenderem todas as manifesta-
ções simbólicas, inclusive a língua”, para Chomsky, a faculdade da linguagem
“é um módulo da mente especificamente associado à língua, e não a outras lin-
guagens (como a pintura, a música, a dança etc.)”(VIOTTI, 2007, p. 2).
A faculdade da linguagem é, então, um módulo cognitivo independente e
especificamente associado à língua. Essa faculdade da linguagem, no seu esta-
do inicial, na criança, é chamada por Chomsky de “Gramática Universal” (GU).
Essa faculdade da linguagem, em seu estado inicial, ou seja, no estado em que ela está
quando a criança nasce, é considerada uniforme em relação a toda a espécie humana.
Ou seja, ela é igual em todas as crianças, quer sejam elas surdas ou ouvintes, quer ve-
nham elas a ser falantes de português, de inglês, de língua de sinais brasileira, de língua
de sinais nicaraguense. Todo ser humano é dotado da faculdade da linguagem, e toda
criança parte do mesmo estado inicial em seu processo de aquisição de primeira língua.
Esse estado inicial da faculdade da linguagem, que é parte da dotação genética da
espécie humana, e, portanto, inato, chama-se gramática universal. (VIOTTI, 2007, p. 3).
capítulo 2 • 33
2.2 Gramática Universal – Princípios e
Parâmetros
Para Chomsky (1981 apud PAIVA, 2008), a teoria da GU deve observar duas
condições:
1. Deve ser compatível com a diversidade das gramáticas existentes (de
fato, possíveis).
2. Deve sofrer restrições nas suas opções, pois cada uma dessas gramáti-
cas se desenvolve na mente com base em evidências bastante limitadas.
Gramática universal
34 • capítulo 2
inato, a linguagem é adquirida porque a “propriedade essencial da linguagem
é proporcionar meios para expressão de infinitos pensamentos e reação apro-
priada a uma série de situações novas”.
Desse modo, Chomsky (1981, p. 7 apud PAIVA, 2008) não deixa de idealizar
a aquisição da linguagem, pois a gramática universal é “tomada como uma ca-
racterização do estado inicial pré-linguístico da criança” e a experiência, por
sua vez, fixa os parâmetros da gramática universal, fornecendo uma gramáti-
ca nuclear.
Não deixa de ser interessante a comparação que VIOTTI (2007, p.3-4) faz en-
tre a teoria de Chomsky e a própria existência de um ser vivo:
capítulo 2 • 35
A língua pode ser comparada a um ser vivo: ao nascer, esse ser traz em seus genes
a capacidade de crescer, de se desenvolver, de amadurecer. Se esse ser vivo recebe
nutrientes, ele cresce e se desenvolve. Se não, ele não sobrevive. O mesmo acontece
com a informação genética da faculdade da linguagem: em seu estado inicial, que é a
gramática universal, ela tem uma pré-disposição genética para crescer e se desenvol-
ver e se tornar uma gramática estável, como a do português, do japonês, das libras, da
ASL. Mas, para isso, ela precisa receber nutrientes, ou seja, ela precisa ser exposta a
um ambiente linguístico; se isso não acontecer, essa informação linguística inata não
vai sobreviver. (VIOTTI, 2007, p. 3-4)
INPUT
Dotação genética Capacidade para adquirir
(dados e estímulos aos
(dispositivo inato) e usar a língua
quais se é exposto)
36 • capítulo 2
Se a hipótese Behaviorista e a contribuição do Estruturalismo norte-ameri-
cano não foram suficientes para dar conta de uma explicação satisfatória para
a questão da aquisição da linguagem, a proposta de uma teoria que abarcasse
a complexidade de tal fenômeno encontraria grande aceitação e repercussão
nos meios acadêmicos. Tal fato não deixou de ser notório, apesar de suscitar,
também, novas polêmicas e novas críticas, o que é comum no contexto cientí-
fico e acadêmico.
Assim, foi com a chamada hipótese do inatismo, teoria defendida por
Noam Chomsky, de que o ser humano é dotado de uma gramática inata, que os
racionalistas buscaram uma explicação sobre a aquisição da linguagem.
capítulo 2 • 37
e princípios da interpretação, que são inatos, e não derivados da experiência”
(DUARTE, 2000, p. 18). Conforme essa perspectiva,
38 • capítulo 2
gerativa está relacionada “com as possibilidades de cada língua de gerar ex-
pressões” (NASI, 2007).
O gerativismo mantém um interesse naquilo que as línguas têm em co-
mum, resgatando de certo modo a tradição da gramática universal.
Para Lyons (1981), o gerativismo está centrado na distinção entre compe-
tência e desempenho (performance). Inicialmente, vamos entender a compe-
tência como uma capacidade para adquirir e usar uma língua, e o desempenho
como o uso que fazemos dessa competência ou o uso da própria língua.
Assim, a competência pode ser descrita como um “conjunto de normas in-
ternalizadas, ou regras, que nos permite emitir, receber e julgar enunciados de
nossa língua” (PERINI, 1985, p. 27).
O desempenho pode ser caracterizado como o uso que fazemos da língua,
enquanto resultado de complexos fatores linguísticos e extralinguísticos, ou
seja, “o desempenho é, afinal, aquilo que efetivamente realizamos quando fa-
lamos (ou quando ouvimos, ou escrevemos ou lemos)” (PERINI, 1985, p. 27).
Temos observado que Chomsky entende a língua como “um sistema de
princípios radicados na mente humana” (VIOTTI, 2007, p. 1).
Diferentemente de Saussure, que entendia de forma generalizada a língua
como um sistema de signos, Chomsky compreende a língua como um conjunto
de sentenças.
capítulo 2 • 39
Isso quer dizer que no gerativismo supõe-se que “a criança já nasce com um
conhecimento da língua (em algum sentido da expressão). Isso implica dizer
que a competência “não consiste, portanto, simplesmente em ser capaz de ter
um desempenho competente; incorpora também o fato de que se tem o domí-
nio de certos princípios” (PASSMORE, 1988).
Devemos supor que uma criança inglesa está especificamente “programada” para
aprender inglês, e uma francesa para aprender francês? Claro que não; uma criança
inglesa educada na França falará um francês perfeito em vez de inglês. A “compe-
tência” da criança é, para Chomsky, universal. Ela nasce com a capacidade de falar;
e falará inglês ou francês ou chinês, se crescer no ambiente linguístico apropriado.
Todavia, se supusermos que ela possui uma “gramática universal”, temos de supor que
essa gramática (uma vez que é uma gramática) tem de ser restritiva, excluindo certas
línguas como humanamente impossíveis. Assim, escreve Chomsky em Language and
Mind: “Quando nasce, a criança não pode saber que linguagem vai aprender, mas tem
de saber que a sua gramática tem de ser de uma forma determinada, de tal modo que
exclua muitas línguas concebíveis. ” Dotado deste “conhecimento tácito”, ela seleciona
uma hipótese “permissível” sobre a gramática da língua que está a usar. E, corrigindo
esta hipótese à luz da experiência, chega finalmente a ter um “conhecimento da sua
língua”, de modo a ser capaz de rejeitar parte da sua experiência linguística como
“defeituosa e desviante’, isto é, como desempenhos agramaticais. O caso da fonolo-
gia, afirma Chomsky, é aquele que mais fortemente sustenta esta análise. Apesar de
outros sons serem fisicamente possíveis, todas as línguas fazem aparentemente uso
de um conjunto limitado de sons. Não poderia haver uma língua que contivesse sons
diferentes? Se houvesse, de acordo com Chomsky, não a poderíamos aprender tão
depressa e tão eficientemente como aprendemos as nossas línguas. E, do mesmo
modo, ele crê que fomos programados para aprender um certo conjunto de regras
sintáticas e semânticas e apenas os membros desse conjunto. (PASSMORE, 1988)
40 • capítulo 2
Por exemplo, quando, numa determinada situação de fala, repentinamen-
te nos esquecemos de algo que estávamos falando, podemos identificar uma
“falha de nossa memória ou de nossa atenção, que influi na exteriorização de
nossa língua”. No entanto, essa seria uma questão de desempenho ou perfor-
mance, e não de competência. Tal fato não quer dizer que desconhecemos nos-
sa língua, “significa apenas que tivemos um problema de natureza psicológica
no uso do conhecimento que temos de nossa língua” (VIOTTI, 2007, p. 5).
Judith Greene (1980) também oferece um exemplo para esclarecer o que
seria competência e desempenho. Ela compara as regras de condução de um
carro com a competência, e o uso dessas regras seria o desempenho:
capítulo 2 • 41
Uma pessoa com baixo nível de escolarização tem uma competência do português
igual à de um estudante universitário. Entretanto, sua performance tende a ser
bastante diferente, ou seja, sua habilidade de uso de sua competência em situações
sociais de diversas naturezas é mais limitada. (VIOTTI, 2007, p. 5)
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Figura 2.1 – A língua é adquirida antes mesmo da escola, por isso a criança aprende na
escola uma variedade da língua que ela já domina.
42 • capítulo 2
em que a língua falada era o português. Consequentemente, “os dois desenvol-
veram a mesma língua, a mesma competência” (VIOTTI, 2007, p. 6).
Verificamos que, no exemplo citado, é o desnível sociocultural e econômico
que instaura uma diferença em termos de performance, e não de competência.
Na perspectiva da gramática gerativa, “a competência continua sendo a
mesma, tanto no caso da pessoa que convive com pessoas de alta escolarização,
quanto no caso da pessoa que convive com analfabetos” (VIOTTI, 2007, p. 6).
capítulo 2 • 43
A gramática de estado finito foi considerada inadequada porque “inúmeros
exemplos de linguagem significativa não podem ser gerados em uma base de
palavra em palavra”, ou seja, uma gramática finita não pode dar conta das pos-
sibilidades infinitas da língua, ela não pode representar as propriedades recur-
sivas de determinada língua (GARDNER, 2003, p. 201).
A gramática estruturalista foi rejeitada porque “a mera atenção à forma em
que as frases são construídas não consegue captar regularidades importantes
da língua”. A gramática estrutural só consegue gerar, com grande dificuldade,
algumas sentenças, além de não conseguir captar ou explicar muitas das regu-
laridades que qualquer falante percebe, além de não oferecer nenhum meca-
nismo para combinação de sentenças (GARDNER, 2003, p. 201).
Diante da inadequação desses dois métodos, Chomsky, então, adotou um
novo nível de estruturas linguísticas que eliminariam as dificuldades aponta-
das e possibilitariam a explicação de todo o conjunto de sentenças da língua.
Em sua gramática gerativa ou transformacional, Chomsky postula “uma sé-
rie de regras pelas quais as sentenças podem ser relacionadas umas às outras e
onde uma sentença (a representação abstrata de uma sentença) pode ser con-
vertida ou transformada em outra” (GARDNER, 2003, p. 202).
44 • capítulo 2
central em sua teoria “os princípios que constroem signos linguísticos de um
tipo particular, como sentenças, por exemplo” (VIOTTI, 2007, p. 6). Conforme
destaca Ferreira (1999, p. 131):
GRAMATICAL AGRAMATICAL
capítulo 2 • 45
ATIVIDADES
01. Em sua elaboração teórica sobre a aquisição da linguagem, Noam Chomsky defende a
ideia de que:
a) A criança, ao adquirir uma língua, faz parte de um processo que não é natural e do qual
tem consciência.
b) O input e a dotação genética contribuem para a capacidade de adquirir a língua e usá-la.
c) O input é recebido pela criança diretamente, sem qualquer filtragem.
d) O input não corresponde a teoria do inatismo nem aos dados aos quais a criança é
exposta.
e) A gramática universal não está relacionada com a filtragem do input.
46 • capítulo 2
c) Mercadu ao Centrá, tarde à, vai sádoba nóis.”
d) “Nós vamos ao Mercado Central, sábado, à tarde.”
e) “As moças de Belo Horizonte e de Minas Gerais são lindas.” Conforme a teoria de
Chomsky, quais frases podem ser consideradas “gramaticais”? Conforme a gramática
escolar ou normativa, quais frases não são gramaticais?
REFLEXÃO
Na teoria gerativa de Chomsky, uma questão importante “é saber como a gramática se de-
senvolve na mente de um falante” (VIOTTI, 2007, p. 10).
A posição de Chomsky se situa em um dos lados de um debate sobre a aquisição da lin-
guagem: “de um lado estão aqueles que acreditam que a língua é um objeto externo à mente
humana; de outro, estão aqueles que, como Chomsky, consideram que a língua é um objeto
mental” (VIOTTI, 2007, p. 10).
A primeira posição entende que “um falante chega ao conhecimento de sua língua por
meio de um sistema de aprendizagem, que envolve processos de observação, memorização,
associação etc.”. Chomsky e seus seguidores, ao contrário, defendem que “os seres huma-
nos nascem dotados de um conjunto de estruturas linguísticas mentais altamente abstratas
e geneticamente determinadas, que funcionam como um mapa, orientando o processo de
aquisição de língua pela criança” (VIOTTI, 2007, p. 10).
Esse “conjunto de estruturas mentais que são parte de nossa dotação genética se chama
gramática universal”, ou seja, “esse conjunto de estruturas linguísticas mentais é concebido
como sendo geneticamente determinado”. Desse modo, se essas estruturas são geneticamen-
te determinadas e o conjunto de todos os seres humanos constitui uma única espécie, temos,
então, um conjunto de estruturas que precisa ser universal (VIOTTI, 2007, p. 10).
Assim, podemos concluir que o gerativismo apresenta a gramática universal (dotação
genética) e o ambiente (estímulos externos) em que a criança cresce como os dois fatores
fundamentais na aquisição da linguagem:
O Gerativismo assume que, além da gramática universal ou predisposição genética, o
ambiente em que a criança cresce tem um papel importante na aquisição da língua. Apesar
de já nascer com a gramática universal, uma criança que for privada de um ambiente linguís-
tico não vai desenvolver língua nenhuma. Chomsky defende que, apesar de todos começar-
mos com um mesmo conhecimento linguístico - a gramática universal, esse conhecimento
vai se desenvolver de maneira diferente, caso vivamos em um ambiente em que se fale o
português, o alemão ou alguma língua de sinais. É da interação da gramática universal com
capítulo 2 • 47
o ambiente linguístico que se desenvolvem as gramáticas dos falantes de qualquer língua
natural (VIOTTI, 2007, p. 10-11).
LEITURA
Para uma abordagem crítica da aquisição da linguagem e sua relação com teoria do desen-
volvimento, confira o livro Aquisição da linguagem e problemas do desenvolvimento linguísti-
co, organizado por Letícia M. S. CORRÊA e publicado pela PUC/Rio e Edições Loyola.
Outra recomendação é o livro Aquisição da linguagem: teoria e pesquisa. O livro é orga-
nizado por Alina Spinillo, Glória Carvalho e Telma Avelar e publicado pela Editora da Univer-
sidade Federal de Pernambuco.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEZARIO, Maria M.; MARTELOTTA, Mário E. Aquisição da linguagem. In:
CORREA, Letícia Maria Sicuro. Aquisição da linguagem: uma retrospectiva dos últimos trinta
anos. DELTA [online]. 1999, vol.15, n.spe, p. 339-383.
DUARTE, Fábio B. O Empirismo, o mentalismo e o racionalismo nos estudos da linguagem.
SOLETRAS, Rio de Janeiro – UERJ, v. 2, n. –, p. 18-31, 2000.
GREENE, Judith. Psicolinguística: Chomsky e a psicologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
KEHDI, V. A morfologia e a sintaxe portuguesas na obra de J. Mattoso Câmara Jr. São Paulo,
1998. Tese de Livre Docência.
LEMOS, Cláudia T. G. Desenvolvimento de linguagem e processo de subjetivação. Com Ciência,
2001. Disponível em: http://www.com-ciencia.br/reportagens/linguagem/ling17.htm .
LYONS, John. Linguagem e linguística. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981.
MARTELOTTA, Mário E. (Org .) Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008. CHOMSKY, Noam.
Aspects of the theory of syntax. Massachusetts: The MIT Press Cambridge, 1965.
_____. Linguagem e a mente. In: LEMLE, Miriam; LEITE, Yonne (Org.). Novas perspectivas
linguísticas. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1973.
PAIVA, Vera L. M. O. Modelo da gramática universal. In: A complexidade da aquisição de segunda
língua: revisando e conciliando teorias. Mimeo, 2008. PASSMORE, John. Chomsky, os estruturalistas
e a fundação da linguística moderna. Trad. Pedro Santos. In:____. Recent philosophers. London:
Duckworth, 1985.
48 • capítulo 2
PERINI, Mário Alberto. A gramática gerativa: introdução ao estudo da sintaxe portuguesa. 2. ed. Belo
Horizonte: Vigília, 1985.
STENBERG, Robert J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2000.
VIOTTI, Evani. A língua para Noam Chomsky. In: Introdução aos estudos linguísticos. Florianópolis:
UFSC, Mimeo, 2007.
capítulo 2 • 49
50 • capítulo 2
3
Sociolinguística
Este capítulo expõe uma das áreas da Linguística que tem maior proficuidade
no campo de análise atualmente: a Sociolinguística, área de estudo divulgada
por Willian Labov. Neste capítulo, vamos estudar as relações entre a língua e a
sociedade, a partir da constituição e desenvolvimento de uma importante área
dos estudos linguísticos.
OBJETIVOS
• Fornecer informações sobre as diferentes metodologias desenvolvidas no campo
da Sociolinguística;
• Conhecer a história e os pressupostos teóricos da Sociolinguística;
• Reconhecer as variedades linguísticas da língua portuguesa;
• Identificar implicações da variação linguística no uso e no aprendizado da língua.
52 • capítulo 3
3.1 Sociolinguística
A Sociolinguística é uma área dos estudos linguísticos que foi, inicialmente,
muito divulgada pelo norte-americano Willian Labov. Essa nova área surgiu
voltada para a função social da linguagem e a influência dos fatores sociais so-
bre a língua, situando-se dentro da Linguística como a área que trata das rela-
ções entre linguagem e sociedade.
A linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a função deno-
tativa da linguagem não é senão uma entre outras; entre estas ocupa uma posição
central a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa de fato ou
acha que ocupa na sociedade em que vive. As pessoas falam para serem “ouvidas”, às
vezes para serem respeitadas e também para exercer uma influência no ambiente em
que realizam os atos linguísticos. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autori-
dade cumulada pelo falante e concentrá-la num ato linguístico (Boudier, 1977).
Os casos mais evidentes em relação a tal afirmação são também os mais ex-
tremos: discurso político, sermão na igreja, aula, etc.
Entendida como manifestação da vida em sociedade, o estudo da língua
pode ligar-se à sociologia, abrindo-se, a partir daí, campos novos de pesquisa,
em especial o da sociolinguística. (Preti, 1994, p.12).
O termo Sociolinguística ganha força e se fixa somente na década de
1960, impulsionado por um congresso ocorrido em 1964 na Universidade da
Califórnia, em Los Angeles. Dois anos depois, em 1966, o organizador do evento,
Willian Bright, decidiu reunir e publicar os trabalhos que lá se apresentaram. A
publicação contou com um texto introdutório de sua autoria, intitulado ‘As di-
mensões da Sociolinguística’, e a obra geral recebeu o título de Sociolinguistics.
Como os problemas que envolvem a língua e a sociedade são muitos e va-
riados, as dificuldades em se delimitar o campo de pesquisa sociolinguístico
persistiram desde o início de suas pesquisas nas décadas de 1950 até a década
seguinte, na qual o congresso ocorreu.
capítulo 3 • 53
3.2 Fenômenos Inerentes às Línguas do
Mundo: Variação e Mudança Linguística
54 • capítulo 3
afirmação. Tal fato ocorre porque nas últimas quatro décadas temos assistido a
um crescente interesse pelo estudo da linguagem em uso no contexto social e,
consequentemente, ao estabelecimento de diversos enfoques sob a designação
Sociolinguística (Cf. CAMACHO, 2004, p. 49).
capítulo 3 • 55
CONEXÃO
No vídeo “Norma culta e variedade linguística”, você pode conferir em torno da relação entre
a língua padrão e as opiniões de linguistas e educadores sobre controvérsias que costumam
existir variedades linguísticas: https://www.youtube.com/watch?v=pWvuF0U9zv4
CONEXÃO
Veja algumas situações em que as variações linguísticas são exemplificadas assistindo ao
vídeo do programa Palavra Puxa Palavra, da MultiRio.
Educopédia - SME/RJ: https://www.youtube.com/watch?v=_Y1-ibJcXW0
56 • capítulo 3
• Socioletos, isto é, variações faladas por comunidades socialmente definidas, lingua-
gem padrão ou norma padrão, padronizada em função da comunicação pública e da
educação.
• Idioletos, isto é, uma variação particular a uma certa pessoa, registros, o vocabulário
especializado e/ou a gramática de certas atividades ou profissões.
• Etnoletos, para um grupo étnico.
• Ecoletos, um idioleto adotado por uma casa.
CURIOSIDADE
Segundo Alkmin (2004, p. 41), no século XVI:
(...) as construções sintáticas do tipo “se esta gente, cuja valia e obra tanto amaste/ não
queres que padeçam vitupério” (Concordância do sujeito gente com o verbo flexionado no
plural) – hoje consideradas incorretas – são encontradas em Os Lusíadas, de Camões (1572).
Hockett (1963 apud PRETI, 2003, p. 14) apresenta a seguinte classificação para os
idioletos: a) idioleto produtivo: conhecimentos linguísticos utilizados pelo indivíduo
ao se expressar na fala; b) idioleto receptivo: conhecimentos passivos do indivíduo,
provenientes da linguagem dos emissores que ouve.
capítulo 3 • 57
a) geográficas: envolvem as variações regionais.
b) sociológicas: as variações provenientes da idade, sexo, profissão, nível
de estudos, classe social, localização, dentro da mesma região, raça, as quais
podem determinar traços originais na linguagem individual.
c) contextuais: tudo aquilo que pode determinar diferenças na linguagem
do locutor por influências alheias a ele: o assunto, o tipo de ouvinte, o lugar em
que o diálogo ocorre e as relações que unem os interlocutores.
Bright (apud Pretti, 2003, p.16) identifica pelo menos três dimensões da
diversidade linguística. Essas “dimensões se encontrariam condicionadas aos
vários fatores definidos socialmente com os quais a diversidade linguística se
encontra correlacionada”.
Assim, para Bright (apud. Pretti, 2003, p.16), as dimensões são:
a) do emissor: a identidade social do emissor – diferenças de fala se corre-
lacionam com a estratificação social;
b) do receptor: identidade social do receptor – relevante onde quer que vo-
cabulários especiais de respeito sejam usados em se falando com superiores;
c) da situação e do contexto: engloba todos os elementos relevantes pos-
síveis no contexto de comunicação, com exceção da identidade dos indiví-
duos envolvidos.
58 • capítulo 3
O brasileiro diz Maria, o português nasaliza mais e
Diferenças fonéticas (no pronuncia Mãria; no Brasil, pronunciamos mais as
modo de pronunciar os vogais do que em Portugal. Pronunciamos os “es” de
sons da língua) Fernando Pessoa, ao passo que os portugueses quase
não os pronunciam: “Fernando Pssoa”.
Diferenças semânticas
Diferenças semânticas (palavras com significados
(palavras com significados
diferentes)
diferentes)
Diferenças no uso da
Diferenças no uso da língua
língua
Já não se fala mais português como antigamente. Todos os brasileiros que vão a
Portugal voltam impressionados com as diferenças de expressões entre os dois
capítulo 3 • 59
países irmãos. Com o passar do tempo, deixamos de usar várias palavras, eles
lá inventaram novas e nós aqui criamos também um monte delas. A verdade é
que, se hoje um repórter português viesse de Portugal para o Brasil para fazer
uma entrevista com o presidente Itamar, é bem provável que os dois necessitas-
sem de um bom intérprete.
60 • capítulo 3
3.4 Níveis de linguagem
Temos visto que a língua não é utilizada de forma invariável. Mesmo num país
em que se adota o português como língua oficial, encontramos variações no
uso da língua. Já sabemos que a língua pode variar de uma região para outra,
fazendo surgir os “falares” ou dialetos; varia de acordo com as camadas ou clas-
ses sociais, sendo mais próxima da norma culta nos segmentos sociais mais
escolarizados; varia de acordo com o registro, manifestando as diferenças entre
a língua escrita e a língua oral; varia, ainda, conforme o grupo que a utiliza, fa-
zendo surgir os jargões de determinadas profissões e as gírias entre adolescen-
tes ou “tribos”, como a dos surfistas. Vanoye (1981, p. 31) propõe uma distinção
entre níveis de linguagem a partir da diferenciação entre a língua falada e a lín-
gua escrita, numa gradação de informalidade na língua falada e de formalidade
na língua escrita. Confira:
Linguagem descuidada,
LINGUAGEM Conversação informal, incorreta, linguagem lite-
FAMILIAR não “elaborada” rária que procura imitar a
língua falada
capítulo 3 • 61
No entanto, essa classificação de níveis de linguagem não é completa. Além
de não incluir a diversidade no uso da língua nos meios eletrônicos atuais, com
a profusão de escritas e falas nos chats, e-mails e sites de relacionamentos, a
distinção entre os níveis de linguagem não deixa de ser imprecisa, como admite
o próprio Vanoye:
Essas distinções são um pouco fluidas, uma vez que se estabelecem segundo crité-
rios heterogêneos. A distinção linguagem popular/linguagem cuidada, por exemplo,
apoia-se num critério sociocultural, ao passo que a distinção linguagem informal/lin-
guagem oratória se apoia sobretudo numa diferença de situação (o mesmo indivíduo
não empregará a mesma linguagem ao fazer um discurso e ao conversar com os
amigos num bar).
Ademais, na expressão oral, as incorreções gramaticais são geralmente função de
restrições materiais: dificilmente poderá um comentarista esportivo manter uma
linguagem cuidada ao descrever e comentar uma partida ao vivo. De modo geral, a lin-
guagem cuidada emprega um vocabulário mais preciso, mais raro, e uma sintaxe mais
elaborada que a da linguagem comum. A linguagem oratória cultiva efeitos sintáticos,
rítmicos e sonoros, e utiliza imagens. As linguagens familiar e popular recorrem às
expressões pitorescas, à gíria, e a muitas de suas construções são tidas como “incor-
reções graves” nos níveis de maior formalidade. A língua escrita é, geralmente, mais
elaborada que a língua falada [...}. Aí os níveis são menos numerosos e diretamente
relacionados com o condicionamento sociocultural. (VANOYE, 1981, p. 31-32)
De todo modo, o que mais importa é a constatação de que não temos uma
língua uniforme e invariável. Apesar de a língua portuguesa ser a nossa língua,
o idioma oficial de alguns países como o Brasil, ela se manifesta dentro do prin-
cípio da variação linguística. Neste item nos ocupamos da chamada variedade
padrão, da língua culta, mas isso não deve nos levar a ignorar os diversos usos da
língua que encontramos no dia a dia. No contexto escolar, é muito importante o
educador considerar que a língua culta ou padrão é a que detém o prestígio na
sociedade, mas isso não deve levar ao preconceito ou à discriminação daquele
aluno que ainda usa variedades da língua menos prestigiadas ou valorizadas. Se
a escola deve levar o aluno ao conhecimento e ao domínio da língua padrão, ela
não deve assumir essa responsabilidade pela negação das variações linguísti-
cas nem pelo preconceito linguístico. A sala de aula deve ser, ao mesmo tempo,
62 • capítulo 3
o espaço da diversidade e do aprendizado da língua padrão, da variedade que
mais prestígio tem na sociedade. Isso nem sempre é fácil e, muitas vezes, leva a
situações inusitadas e desafiadoras.
capítulo 3 • 63
Há, sem dúvida, uma tradição em se prestigiar a língua escrita. Talvez por
ter características mais conservadoras, transformar-se mais lentamente e estar
sob a proteção da ortografia.
A escrita manifesta-se sempre em descompasso com as transformações da
fala, cuja dinâmica do uso lhe traz alterações contínuas, naturais e bem mais
velozes. Mas tanto a escrita quanto a fala de uma língua apresentam variações e
mudam com o tempo e com os inúmeros estímulos que recebem.
De acordo com Preti (2003, p. 65), “a língua escrita sempre constituiu, em
todas as épocas, um fator de unificação linguística, pois suas transformações
são bem mais lentas do que as apresentadas continuamente pelo ato da fala no
tempo e no espaço”.
Para a Sociolinguística, a variação verificada na fala não é um problema; é
simplesmente uma característica do fenômeno linguístico. A Sociolinguística
não se preocupa com o invariável, mas com as diversidades. A clássica noção
de erro linguístico parte do princípio de que a língua não é variável, mas sim
um sistema a ser respeitado no seu aspecto estrutural e formal sem nenhuma
interferência de outra ordem.
Os estudos linguísticos apresentam uma reformulação da noção de erro
porque esse conceito torna-se contraditório diante da abordagem do fenôme-
no linguístico feita pela Sociolinguística.
Você precisa lembrar que a fala é anterior à escrita e que existem, ainda, lín-
guas ágrafas, ou seja, línguas que são somente faladas e não têm escrita. Sendo
assim, parece haver uma inconsistência ao se apontar como errados fenôme-
nos que se manifestam numa dimensão cujas regras não estão rigorosamente
de acordo com as ocorrências da dimensão da escrita.
É como se, ao falar e escrever, estivéssemos em jogos diferentes e num de-
terminado momento as regras de um passassem a valer para o outro, como se
nem as regras nem os jogos tivessem particularidades: “Os gramáticos imagi-
nam a fala como o lugar do erro, incorrendo no equívoco de confundir a língua
com a gramática codificada” (MARCUSCHI 1993).
Se a língua em seu uso é a manifestação de uma variação, existem opções
que podem ser mais ou menos adequadas, dependendo da situação discursiva,
do objetivo do falante.
A fala e a escrita exigem exercícios e mecanismos diferentes para ajustar,
regular e adequar os seus conteúdos aos modos de interação, a fim de que eles
cumpram bem a sua função, o seu propósito.
64 • capítulo 3
CONEXÃO
Assista ao vídeo "Comunicação oral e as variantes linguísticas", com o pesquisador Cláudio
Bazzoni, e reflita sobre o uso da fala fora da norma culta no contexto escolar. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v= em2EXTcSyAY.
capítulo 3 • 65
Entender a diversidade em que se manifestam as línguas, sobretudo na sua
dimensão sonora, e reconhecer o português não padrão como também legíti-
mo é valorizar as diferenças e combater uma das muitas formas de preconceito:
o Linguístico!
66 • capítulo 3
Sabemos que a norma padrão desfruta de prestígio absoluto em relação a
outras variedades. Tamanha é a sua importância ou valorização que a inobser-
vância às suas regras gera reações de preconceito não só de classe, mas de de-
sautorização do próprio discurso. A impressão que temos é de que mais vale
uma mentira proposta na norma padrão do que o mais brilhante argumento
exposto numa variedade não padrão. Quem nunca ouviu pessoas dizerem que
não entenderam nada do que determinado político disse, mas se encantaram
com a beleza das suas palavras?
A propósito, na novela “A língua de Eulália”, uma das personagens, Emília,
expõe seu pensamento sobre as características de Eulália. Num raciocínio mui-
to comum, a saber, o de rejeitar o conteúdo em função da forma como foi apre-
sentado, afirma: “- Mas ela fala tudo errado. Isso para mim estraga qualquer
sabedoria. ” (BAGNO, 2005, p. 14). Ou seja, é dada à norma padrão um valor que
ultrapassa a questão meramente linguística.
Indiferente a todas as variedades, o preconceito linguístico parece alimen-
tar-se de uma expectativa de uso que parte da classe social de maior prestígio em
relação aos usos das demais. A variação dessa classe, que se auto define como
usuária do melhor português, representaria a “norma subjetiva”, também de-
nominada por Castilho (1988) como “norma implícita” ou “padrão ideal”.
Vale a pena retomar o argumento de Travaglia (2003, p. 64) de que pode pa-
recer "natural exigir que o aluno aprenda a norma culta para utilizá-la em de-
terminadas situações sociais de comunicação social", enquanto se considera
absurdo, por exemplo, exigir que alguém aprenda "o dialeto caipira para falar
com o pessoal da zona rural de determinadas regiões do país (sobretudo sul de
Minas Gerais e parte de São Paulo)".
Assim, os falantes da norma culta esperam "que o caipira aprenda seu modo
de falar para circular entre eles, mas o contrário não acontece: os caipiras não
“exigem” que os falantes da norma urbana culta aprendam seu dialeto para cir-
cular entre eles". A conclusão é que "aprender dialeto caipira será sempre uma
“concessão” dos membros do outro grupo social, por interesse científico, ou por-
que isso pode ser interessante, cômico, exótico etc." (TRAVAGLIA, 2003, p. 64).
capítulo 3 • 67
ATIVIDADES
01. Se levarmos em conta que “aipim”, “mandioca” e “macaxeira” podem designar a mesma
coisa, em regiões diferentes, é possível afirmar que tal fenômeno linguístico diz respeito ao
fato de :
a) a língua não apresentar variações linguísticas.
b) a relação entre significante e significado ser motivada, ou seja, a relação nunca é arbi-
trária ou convencional.
c) um mesmo significado poder corresponder a diversos significantes, no caso, evidencian-
do a variação diatópica.
d) um significante sempre possuir um único significado.
e) um significado nunca corresponder a mais de um significante
De acordo com o texto, há no Brasil uma variedade de nomes para a Manihot utilissima,
nome científico da mandioca. Esse fenômeno revela que:
a) A planta é nomeada conforme as particularidades que apresenta, recebendo diversos
nomes porque se trata de uma planta diferente em cada caso e, ainda, porque não é
comum uma língua possuir mais de um nome para uma mesma planta ou ingrediente.
68 • capítulo 3
b) Mandioca é o nome específico para a planta que existe somente na Amazônia, sendo os
demais nomes designações para outro tipo de planta.
c) Existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta, exemplifican-
do a ocorrência da variação linguística.
d) Os nomes designam espécies diferentes da planta, conforme a região, confirmando a
uniformidade da língua portuguesa.
e) A expressão “pão-de-pobre” confirma a uniformidade da língua, demonstrando a unida-
de e não variação da língua portuguesa.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(Oswald de Andrade)
04. Conforme Luiz Carlos Cagliari, “Certo e errado são conceitos pouco honestos que a so-
ciedade usa para marcar os indivíduos e classes sociais pelos modos de falar e para revelar
em que consideração os tem... Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois mar-
ca as diferenças linguísticas com marcas de prestígio ou estigma”. Essas marcas de prestígio
ou estigma consideram como parâmetro ou base do falar correto:
a) a norma padrão;
b) a língua falada na periferia dos grandes centros;
capítulo 3 • 69
c) os falares rurais;
d) a língua falada pelas classes sociais desfavorecidas;
e) a valorização das variações, ou seja, de todo uso da língua.
REFLEXÃO
No estudo da Sociolinguística e da abordagem do Funcionalismo, você deve ter percebido o
valor atribuído ao contexto e aos aspectos sociais no uso da língua, em oposição às aborda-
gens apresentadas anteriormente e vinculadas ao Estruturalismo e ao Gerativismo. Entretan-
to, isso não quer dizer que os formalistas, como Saussure e Chomsky, negavam que a língua
tenha funções sociais e cognitivas. Na verdade, uma importante diferença entre formalistas
e funcionalistas se resume no fato de que as funções sociais para os formalistas não interfe-
rem no sistema da língua nem constituem objeto de estudo da Linguística. Os funcionalistas,
por sua vez, não negam a forma, mas compreendem que a língua é mais do que sequência
de unidades linguísticas, já que seu uso implica o contexto social. Tudo isso nos mostra que
as duas abordagens se situam, em algum grau, em polos opostos. Temos, então, uma visão
dicotômica da língua que deveria ser superada por uma visão holística, integrando forma e
função; individual e social; sujeito e objeto; subjetivo e objetivo, entre outros aspectos distin-
tos, mas não necessariamente opostos.
LEITURA
Leia o artigo “O conceito de erro em Língua”, de Ernani Terra, e confira algumas implicações
da abordagem sociolinguística em relação ao uso da língua e a correção gramatical. Disponível
em: http://benditalingua.blogspot.com/2013/03/o-conceito-de-erro-em-lingua-ernani.html
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2004.
CASTILHO, A. T. de. Variação linguística, norma culta e ensino da língua materna. In: Subsídios à
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VANOYE, Francis. Usos da linguagem. Problemas e Técnicas na Produção Oral e Escrita. São Paulo,
SP: Martins Fontes, 1981.
capítulo 3 • 71
72 • capítulo 3
4
Funcionalismo
Neste capítulo, vamos estudar o Funcionalismo, uma outra corrente da Lin-
guística que se distingue tanto do estruturalismo quanto do gerativismo. Ela es-
tuda a relação entre a estrutura gramatical das línguas e o seu uso em diversas
situações ou contextos de comunicação. Assim, retomando o que foi aprendido
até agora, vamos conhecer melhor essas formas diferentes de tratar os fenôme-
nos da linguagem verbal. Esse estudo abordará essa corrente em sua vertente
europeia e norte-americana.
OBJETIVOS
• Compreender os referenciais teóricos e os princípios do Funcionalismo.
• Estudar a relação entre a estrutura gramatical das línguas e o seu uso em diversas situa-
ções ou contextos de comunicação.
• Conhecer as diferentes formas de tratar os fenômenos da linguagem verbal.
74 • capítulo 4
4.1 Funcionalismo: Europeu e Norte-
Americano
CONCEITO
Segundo neves (1997: 149), é de 1923 o artigo de Vilém Mathesius em que vem apresen-
tada a definição de frase elaborada sobre base funcional, em Praga, na Tchecoslováquia, e
que tem seus estudos divulgados, especialmente, na publicação conhecida pela sigla TCLP:
Travuax du Cercle Linguistique de Prague”.
CURIOSIDADE
Círculo de Praga – estudos no campo da fonologia, trouxe inovações no campo da sintaxe
e do discurso.
capítulo 4 • 75
Embora a escola de Praga seja inspirada numa tradição formalista e estru-
turalista, oposta ao Funcionalismo, nela foram desenvolvidas pesquisas na
direção do funcionalismo, com os primeiros estudos no campo da fonologia
e principalmente com as teorias Roman Jakobson, que propôs um modelo pa-
drão para a comunicação.
CONCEITO
“O funcionalismo é uma corrente linguística que difere do estruturalismo e gerativismo, se
preocupa em estudar a relação entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes con-
textos comunicativos em que elas são usadas.” (Cunha, 2010).
LINHAS ESTUDIOSOS/SEGUIDORES
Muitos são os teóricos que ultimamente têm versado acerca do conceito e nos
serviram de base para ampliar os estudos nessa corrente. Vale F. de Saussure, Karl
Bühler, Friedrich Kainz, Révész, Mattoso Câmara, C. Bally, Vendryès, John Searle,
Ludwig Wittgenstein, J. Hessen, E. Cassirer, Henri Delacroix, Eugenio Cosseriu,
A. Pagliaro, Lázaro Carreter, Marouzeau, Hjelmslev, Malinowski e Martinet.
Os membros do Círculo divulgaram, após pesquisas, que a estrutura das lín-
guas é determinada por suas funções, ou seja, a motivação comum é a relação
76 • capítulo 4
entre linguagem e o uso desta no contexto social. “A linguagem é vista como
uma ferramenta cuja forma se adapta as funções que exerce e, desse modo, ela
pode ser explicada somente com base nessas funções, que são em última análi-
se comunicativas. ” (Pezatti, 2004).
Para nossa breve introdução, lançamos mão do estudo particularizado de
cada membro do círculo para dar destaque às abordagens funcionalistas.
Para tratarmos dos diferentes tipos de Funcionalismo, primeiramente va-
mos pontuar que a abordagem funcionalista "se preocupa em estudar a relação
entre a estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunica-
tivos em que elas são usadas” (CUNHA, 2010). Os pressupostos teóricos e os
princípios da abordagem funcionalista estão relacionados com a visão de que
a estrutura ou o sistema da língua são determinados pelas funções que têm de
exercer nas situações de comunicação na sociedade.
Vamos abordar o Funcionalismo em sua vertente europeia e norte-ameri-
cana. O Funcionalismo europeu destaca-se por sua contribuição para o estudo
do fonema, das funções da linguagem e da análise gramatical ou da chamada
perspectiva funcional da sentença.
Alguns nomes da Escola Linguística de Praga, como Roman Jakobson,
Nikolaj Trubetzkoy e Wilhem Mathesius, são referências importantes nos es-
tudos linguísticos de orientação funcionalista. A contribuição dessa corrente
linguística é mais expressiva na fonologia, com a definição do fonema e das
suas funções. Também é conhecida a associação que alguns membros da esco-
la de Praga fizeram entre as ideias de Saussure e as do psicólogo vienense Karl
Bühler. Daí resultou o esquema das funções da linguagem, desenvolvido por
Jakobson (RODRIGUES; SANTOS, 2008, p. 284).
COMENTÁRIO
Nas funções da linguagem, Jakobson identificou seis ênfases ou funções no uso da língua
a partir dos elementos do processo de comunicação. Assim, se a ênfase ou destaque na
comunicação recai sobre o emissor, tem-se a função expressiva ou emotiva.
Se o destaque é dado ao receptor: função conativa ou apelativa. Quando sobressai o
código: função metalinguística. Se o destaque é o canal ou meio: função fática. No caso do
referente receber mais atenção: função referencial. Por último, a ênfase na mensagem cor-
responde à função poética.
capítulo 4 • 77
Além dos estudos sobre o fonema e acerca das funções da linguagem, os
linguistas de Praga propuseram uma análise gramatical que ficou conheci-
da como perspectiva funcional da sentença, principalmente por influência
de Mathesius.
Vamos exemplificar esse tipo de análise gramatical a partir das sentenças
a seguir:
(A) Fernanda chegou hoje pela manhã;
(B) Hoje pela manhã Fernanda chegou.
78 • capítulo 4
O Funcionalismo norte-americano teria um antecedente na tendência para
o funcionalismo encontrada no linguista Edward Sapir e no seu entendimen-
to de que "a língua é indissociável da cultura do povo que a fala" (RODRIGUES;
SANTOS, 2008, p. 286). No entanto, os estudos funcionalistas se estabelecem em
meados dos anos 1970, com destaque para a publicação The Origins of Syntax in
Discourse, texto pioneiro de Gillian Sankoff e Penelope Brown, em 1976.
Contrária à forte influência dos gerativistas nos Estados Unidos, os funcio-
nalistas norte-americanos não consideravam pertinente "fazer análise sintáti-
ca de exemplos sem tomar por base tanto o contexto linguístico como a situa-
ção extralinguística" (RODRIGUES; SANTOS, 2008, p. 286).
Desse modo, a sintaxe estaria vinculada a outras competências comunicati-
vas, pois haveria uma forte vinculação entre discurso e gramática. A sintaxe ou
a ordem de uma frase apresentam determinada forma "em razão de estratégias
de organização da informação empregas pelos falantes no momento da intera-
ção discursiva" (CUNHA; OLIVEIRA; MARTELOTTA, 2003, p. 163).
Na perspectiva funcionalista, a língua é um instrumento de interação so-
cial, cuja função é promover a comunicação. Para Neves (1997:16), uma "gramá-
tica funcional tem sempre em consideração o uso das expressões lingüísticas
na interação verbal, o que pressupõe uma certa pragmatização do componente
sintático-semântico do modelo linguístico." Um dos objetivos das teorias das
funções da linguagem é verificar o modo como determinada língua é usada por
seus falantes, ou seja, as funções por ela exercidas com intenções no momento
da enunciação.
Nichols (1984. apud. Neves, 2004:6) atribui conceitos sobre função
a) Sinônimo de interdependência;
b) Sinônimo de propósito;
c) Sinônimo de contexto;
d) Sinônimo de relação;
e) Sinônimo de significado.
capítulo 4 • 79
• Função metalinguística (ligada ao próprio código linguístico);
• Função poética (ligada à mensagem).
O linguístca Michael Halliday propões uma teoria para explicar fatos intrín-
secos à língua:
• Função Ideacional - A linguagem serve para expressar um conteúdo;
• Função Interpessoal - A linguagem serve como um recurso para interagir
em um evento de fala;
• Função Textual - A linguagem contextualiza as unidades linguísticas, fa-
zendo as operar no co-texto e na situação.
80 • capítulo 4
Assim, uma palavra pode ter seu conteúdo semântico alterado em função
de seu sentido lexical ter sua importância diminuída diante do seu significado
gramatical. Um exemplo seria a evolução semântica do advérbio "embora" ("em
boa hora" – com o sentido de ir em boa hora ou num momento propício) para
a conjunção concessiva "embora" (como na frase "Ele foi trabalhar, embora es-
teja doente!").
capítulo 4 • 81
como fenômeno mental", enquanto os funcionalistas, como Halliday, "tendem
a percebê-la como um fenômeno social". Assim, comparando as duas aborda-
gens, é possível concluir que os "formalistas estudam a linguagem como um
sistema autônomo, enquanto os funcionalistas a estudam na relação com sua
função social” (RODRIGUES; SANTOS, 2008, p. 254-255).
Na perspectiva funcionalista, a língua é concebida como "forma de intera-
ção social realizada por meio de enunciações", constituindo-se num produto
sócio histórico. Vale lembrar que essa concepção de língua como interação so-
cial tem grande influência nos estudos linguísticos das últimas décadas, o que
se pode notar nas teorias da variação linguística, na pragmática e na análise do
discurso, abordagens linguísticas que "adotam o princípio de que a linguagem
é ação e não meramente instrumento de comunicação" (RODRIGUES; SANTOS,
2008, p. 254).
Desse modo, a visão ou concepção funcionalista da linguagem considera a
língua sob uma perspectiva interacional, incorporando "as intenções comuni-
cativas dos interlocutores às descrições" sobre a estrutura ou funcionamento
da língua. A linguagem, então, é concebida como instrumento de interação ver-
bal" nos contextos sócio históricos.
Sintetizando as diferenças entre formalismo e funcionalismo, teremos o se-
guinte quadro baseado em RODRIGUES; SANTOS (2008, p. 255):
82 • capítulo 4
ASPECTOS FORMALISMO FUNCIONALISMO
• Dimensão gramatical:
UNIDADE DE descrição e explicação • Função que a língua exerce em
ANÁLISE do níveis fonológico, contexto.
morfológico e sintático
• A competên-
cia linguística;
• O papel do código • A competência
na comunicação; sócio-comunicativa;
OBJETO DE • As regularidades • A análise de ações performati-
ESTUDO nas combinações vas dos usuários com um objeti-
dos constituintes; vo específico e em determinados
• A identificação de contextos.
enunciados bem forma-
dos ou não.
capítulo 4 • 83
(tempos verbais) em distância espacial (pronomes demonstrativos), passíveis de
citação individual (número singular) ou de citação em grupo (número plural).
Quer do ponto de vista mental, quer do ponto de vista vocal, a concepção
da linguagem pode ser considerada como uma espécie de arte, elaborada pelo
esforço criador do homem.
A ideia de que a função da linguagem deva ter órgão biologicamente a ela
destinados, em outros âmbitos que não o da linguagem “ a arte de pensar é em
parte a arte de construir símbolos; na medida em que o pensamento consiste
nisso, a sua perturbação acarreta a afasia, ou, pelo menos, a afasia é uma das
expressões dessa perturbação mais profunda” (DELACROIX, 1930, p. 551).
ATIVIDADE
01. Os pressupostos teóricos do Funcionalismo estão relacionados com
a) uma abordagem formal da língua.
b) a visão de que a estrutura da língua é determinada pelas funções que têm de exercer
nas situações de comunicação na sociedade.
c) a abordagem formalista, que não confere importância aos aspectos das estruturas lin-
guísticas numa determinada situação social.
d) a aceitação integral das ideias do Estruturalismo e do Gerativismo.
e) análises formais da língua encontradas em Saussure
REFLEXÃO
A importância do estudo das funções da linguagem é fundamental no intercurso para as pes-
quisas sobre gramaticalização. Moura Neves (2004, p.5-15) dedica-se à questão um capítulo
intitulado “A questão das funções da linguagem” e outro “O Funcionalismo em Linguística”
(op. cit, p . 15-23).
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CUNHA, Angélica Furtado da. Funcionalismo. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de
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capítulo 4 • 85
86 • capítulo 4
5
Linguística
e Ensino de
Gramática
Após a discussão sobre as diferentes concepções de língua e diferentes mode-
los teóricos com objetivos distintos, que buscam descrever o sistema linguís-
tico, ou, em outros casos, sistematizá-lo, passaremos a apresentar, neste capí-
tulo, as noções fundamentais acerca da relação entre Linguística e ensino de
gramática. Profissionais da Língua sabem que o principal objetivo do ensino
de língua deva ser auxiliar o aluno a desenvolver a competência comunicativa/
discursiva, ou seja, a compreender a interação dinâmica da língua e a produção
de diferentes gêneros textuais, e a entender que sistemas linguísticos se situam
“aquém e além do signo".
OBJETIVOS
• Refletir sobre os instrumentos teóricos básicos que permitam descrever e analisar os fe-
nômenos gramaticais.
• Estruturar as proposições sobre o ensino de gramática que pode resultar em um trabalho
pertinente para a vida dos alunos;
• Analisar e descrever os diversos planos do inter-relacionamento da língua com os contex-
tos sociais do seu uso;
• Refletir e aplicar os conhecimentos adquiridos à análise do uso linguístico aos falantes da
língua portuguesa.
• Rever os elos entre os diferentes estudos linguísticos referentes à concepção de língua e
os respectivos modelos gramaticais.
88 • capítulo 5
5.1 Noções Fundamentais Acerca da
Relação entre Linguística e Ensino de
Gramática
A constituição do texto escrito em Língua Portuguesa tem sido tema de estudos
e de pesquisas no âmbito da Linguística. Durante muito tempo, dizia-se que
falar bem português era usar um vocabulário culto, talvez até recorrer ao dicio-
nário. No entanto, isso não é bem assim. Falar bem é saber usar palavras con-
textualizadas e saber adequá-las a cada situação de comunicação, sejam elas
formais ou informais.
Tomemos, como ilustração, uma situação formal, numa entrevista, numa
apresentação pública, que é indispensável o uso da variedade padrão e formal
da língua. Já numa conversa em festa, na rua, com os amigos ou familiares, a
língua padrão não seria adequada, seria muito formal, o que distanciaria o in-
terlocutor da itneração.
Frente a essa compreensão, retomaremos os conceitos de língua e gramáti-
ca apresentadas pelas gramáticas normativas.
A autora ainda afirma que, o falante deve conhecer as leis, regras de combi-
nação das unidades da língua, um bom vocabulário para que haja compreensão
com o interlocutor no ato de comunicação. Nessa definição de língua, depreen-
de-se que a gramática normativa, ou gramática da norma padrão recupera os
pressupostos estruturalistas, conforme é explicado a seguir.
Sarmento (2005) traz a seguinte acepção: “Norma culta ou norma-padrão
é a variedade linguística de maior prestígio social usada numa comunidade.”
(SARMENTO, 2005, p.18).
capítulo 5 • 89
Cipro Neto e Infante (2008), traz a seguinte definição:
A gramática normativa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão linguístico que social-
mente é considerado modelar e é adotado para ensino nas escolas e para a redação dos
documentos oficiais. [...] Nas línguas que têm forma escrita, como é o caso do português,
o papel da gramática normativa é apontar o que configura a existência de um padrão
linguístico uniforme [...] (CIPRO NETO; INFANTE, 2008, p. 14-15, grifos dos autores).
Um professor que tenta fazer isso geralmente não obtém qualquer resultado, exceto
um verbalismo vazio, uma repetição de palavras pela criança, semelhante à de um
papagaio, que simula um conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na
realidade oculta um vácuo.
90 • capítulo 5
5.2 Ensino de Gramática: Abordagens,
Problemas e Propostas
AUTOR
Fez seus estudos superiores na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Minas Gerais, onde
cursou Licenciatura Plena em Letras: Português-Inglês. Hoje é Professor de Língua Portugue-
sa e Linguística e pesquisador do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de
Uberlândia. Foi professor do ensino fundamental e médio por quase duas décadas. Mestre em
Letras (Língua Portuguesa) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ),
Doutor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com Pós-Douto-
rado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
http://www.ileel.ufu.br/travaglia/
capítulo 5 • 91
Cabe à escola (professor), em primeira instância, enfrentar os preconceitos
linguísticos, ensinando o respeito à diferença e libertando-se de mitos quanto a
língua (como o da existência de uma única forma certa de se falar, por exemplo)
a fim de conscientizar os alunos sobre a necessidade de adequação da lingua-
gem utilizada ao contexto de comunicação.
Aula de Português
Carlos Drummond de Andrade
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender
A linguagem
na superfície estrelada de estrelas,
sabe lá o que ela quer dizer?
92 • capítulo 5
96) faz uma reflexão: “Saber falar significa saber uma língua. Saber uma lín-
gua significa saber uma gramática. Saber uma gramática não significa saber de
cor algumas regras que se aprendem na escola ou saber fazer algumas análises
morfológicas e sintáticas”.
Não se trata de abolir a gramática da sala de aula, pois ela também faz parte
da aprendizagem de uma língua. Porém, é preciso vê-la e usá-la como uma fer-
ramenta para o melhor desenvolvimento das práticas comunicativas.
Neves (2002: 226) propõe a seguinte caracterização para o uso de uma língua.
capítulo 5 • 93
Veja um exemplo de ROMAN JAKOBSON (2007, p. 3):
Ao ler no jornal de hoje: "OPA permite a [pág.31] alta de preço do porco". Pessoalmente,
eu não sei o que seja OPA, mas conheço o sentido das palavras "permite", "preço", "alta"
e "porco". Como "porco" pode ser definido do ponto de vista linguístico? "Porco significa
carne de suíno usada como alimento". Tal contexto equacional é perfeitamente aceitável
para a comunidade linguística, da mesma forma que o enunciado inverso segundo o qual
a carne de suíno usada como alimento chama-se "porco". O enunciado só nos informa,
de fato, a significação lexical da palavra "porco" em português. Há diferentes maneiras
de interpretar a palavra "porco" por meio de outros signos. Empregamos uma circunlocu-
ção, e podemos sempre fazê-lo: Pierce dá uma definição incisiva do principal mecanismo
estrutural da linguagem quando mostra que todo signo pode ser traduzido por outro signo
no qual ele está mais completamente desenvolvido. Em lugar de um método intralingual,
podemos usar um modo interlingual de interpretação ao traduzir a palavra "porco" para
outra língua. O método seria Inter semiótico se recorrêssemos a um signo não-linguístico,
por exemplo a um signo pictórico. Mas em todos esses casos substituímos signos por
signos. O que resta, então, de uma relação direta entre a palavra e a coisa?
"Você disse porco ou porto?" Perguntou o Gato. "Eu disse porco, respondeu Ali-
ce".9 Dentro deste enunciado [pág.37] específico, o destinatário felino se esfor-
ça por captar uma escolha linguística feita pelo remetente. No código comum
do Gato e de Alice, em português corrente, a diferença entre uma oclusiva velar
e uma oclusiva dental, mesmo se todo o restante for igual pode modificar a signi-
ficação da mensagem. Alice usou o traço distintivo "velar/ dental" rejeitando o se-
gundo para escolher o primeiro dos dois termos opostos e, no mesmo ato de
fala ela, combinou essa solução com alguns outros traços simultâneos, pois /k/
é surdo por oposição a /g/ sonoro, e oclusivo por oposição a /r/ vibrante velar.
94 • capítulo 5
Assim, todos esses atributos foram combinados em um feixe de traços distintivos:
no que se chama um fonema. O fonema /k/ é precedido e seguido pelos fonemas
/p/, /o/, /r/ e /o/, os quais são, eles próprios, feixes de traços distintivos produzidos
simultaneamente. Pode-se dizer que a concorrência de entidades simultâneas e a
concatenação de entidades sucessivas são os dois modos segundo os quais n’s, que
falamos, combinamos os constituintes linguísticos. ROMAN JAKOBSON (2007, p. 2)
O estudo sobre a seleção do léxico e combinação de frases não pode ser limi-
tada ao sistema fonológico mas deve estender-se também ao sistema gramatical.
Apresentamos aqui apenas alguns ensaios preliminares nesse sentido, e tais es-
forços merecem ser continuados com o estudo sobre concepção de gramática.
capítulo 5 • 95
Percebemos, esquematicamente, uma evolução no fundamento da gramá-
tica escolar que se inicia como prescrição passa para as bases lógico-filosóficos
dos gregos, transforma-se na expressão psicológica da alma do povo no roman-
tismo e chega aos dias atuais assediada pelos formidáveis conhecimentos acu-
mulados pela linguística geral.
Os vinte séculos de tradição dão à gramática escolar uma força poderosa
que explica a formidável resistência dos professores da língua a qualquer tenta-
tiva de mudança pedagógica.
A tradição gramatical constitui elemento de estabilidade linguística para
fins práticos, mas precisa ter uma relação para que a sua funcionalidade al-
cance resultados mais compensadores e adequado à realidade do mundo em
que vivemos.
A linguística geral estabeleceu os fundamentos teóricos necessários à cons-
trução da gramática descritiva sem intenções normativas. A descrição linguís-
tica é aberta, podendo tomar como objeto de estudo qualquer dialeto ou re-
gistro de língua, também chamada de gramática sincrônica. Pensamos ainda
no estudo dos vários estudos de uma dada língua natural, observando as suas
transformações ao longo do tempo, da sua história e temos a gramática histó-
rica ou diacrônica.
Podemos entender também gramática como organização, um conjunto de re-
gras. Quando essas regras devem ser seguidas, quando estiverem a serviço de um
ideal da comunidade, firmados por uma larga tradição escolar, estaremos diante
da gramática normativa. Portanto, estão embutidos nessa concepção a gramá-
tica como algo definido e absoluto e para ela seriam agramaticais frases abaixo,
perfeitamente permitidas pela gramática de variedades não cultas da língua:
a) Vende-se casas.
b) Eu vi ele ontem.
c) Me empresta o material?
d) A menina que eu saí com ela.
e) Os menino saiu correndo.
f) Nóis estuda pros homi dá imprego.
g) O professor pediu para mim escrever um texto que está tudo certo.
96 • capítulo 5
permitindo associar a cada expressão dessa língua uma descrição estrutural e
estabelecer suas regras de uso, de modo a separar o que é gramatical do que é
agramatical”. Travaglia (1996: 27) traz um conceito de gramática: “tudo o que
atende às regras de funcionamento da língua de acordo com determinada va-
riedade linguística”. O critério é propriamente linguístico e objetivo, pois não
se diz que não pertencem à língua formas e usos presentes no dizer dos usuá-
rios da língua e aceitas por estes como próprias da língua que estão usando.
Dessa forma, os exemplos de variedades não cultas da língua serão consi-
derados como gramaticais, porque atendem às regras de funcionamento da
língua em uma de suas variedades. Saber gramática significa ser capaz de dis-
tinguir, nas expressões de uma língua, as categorias, as funções e as relações
que entram em sua construção, descrevendo com elas sua estrutura interna e
avaliando sua gramaticalidade.
Afirma ainda Travaglia (op.cit.) que “São representantes dessa concepção as gra-
máticas feitas de acordo com as teorias estruturalistas que privilegiam a descrição
da língua oral e as gramáticas feitas segundo a teoria gerativa-transformacional” que
trabalha com enunciados ideias, ou seja, produzidos por um falante-ouvinte ideal.
A gramática normativa, que é aquela que estuda apenas os fatos da língua pa-
drão, da norma culta de uma língua, norma que se tornou oficial. Baseia-se em
geral, mais nos fatos da língua escrita e da pouca importância a variedade oral
da norma culta, que é vista, conscientemente, ou não, como idêntica a escrita.
capítulo 5 • 97
Ao lado da descrição da norma ou variedade culta da língua (análise de estruturas, uma
classificação de formas morfológicas e lexicais), a gramatica normativa apresenta e dita
normas de bem falar e escrever, normas para a correta utilização oral e escrita do idio-
ma, prescreve o que se deve e o que não se deve usar na língua. Essa gramática consi-
dera apenas uma variedade da língua como válida, como sendo a língua verdadeira.
98 • capítulo 5
Portanto a gramática descritiva trabalha com qualquer variedade da língua e não
apenas com a variedade culta e dá preferência para a forma oral desta variedade.
Podemos, então, ter gramática descritiva de qualquer variedade da língua.
capítulo 5 • 99
e textual–discursivo, e que seria implícita, porque o falante não tem consciên-
cia dela, apesar de ela estar em sua mente e permitir que ele a utilize normal-
mente quando em ato de fala.
Gramática explícita – representada por todos os estudos linguísticos que bus-
cam explicitar sua estrutura, constituição e funcionamento. Ex: Sublinhar os ad-
jetivos nas frases/textos. Classificar morfologicamente/sintaticamente as palavras
sublinhadas nas frases/textos. Classificar as palavras quanto ao número de sílabas.
Gramática reflexiva – representa o raciocínio sobre as variedades linguísti-
cas, é a gramática em explicitação. Pode ser de dois tipos:
Ex: Diferenças entre palavras sinônimas (ex: belo e bonito, ganhar e vencer).
Diferenças acarretadas pela inversão de palavras (ex: homem grande e grande
homem, "Maria só veio à reunião." e "Maria veio à reunião só."). Diferenças na
concordância (ex: Comprei uma calça e um cinto preto/pretos.). Diferenças en-
tre a negação do adjetivo e o uso do antônimo formado por prefixo ( ex: "não ser
favorável" e ser "desfavorável").
100 • capítulo 5
Gramática histórica – é a que estuda uma sequência de frases evolutivas de
um idioma. Estuda a origem e a evolução de uma língua, acompanhando-lhe as
fases desde o seu aparecimento até o momento atual.
Gramática de uso – desenvolve-se um trabalho voltado para o conhecimen-
to prático da língua. Pode e deve ser trabalhada a partir de produções orais e es-
critas, inclusive dos alunos. São realizadas atividades de produção e compreen-
são textual, exercícios estruturais (ex: transformação da voz ativa para passiva,
substituição de nomes por pronomes, junção de frases através de elementos
conectivos, ampliação de frases, etc.), de vocabulário (ex: processos de forma-
ção de palavras, campos semânticos, sinônimos, antônimos, homônimos, hi-
perônimos, hipônimos, etc.) , de variedades linguísticas.
CONEXÃO
Leia mais sobre ensino e gramática em: http://www.webartigos.com/artigos/analise-
entre-as-gramaticas-normativa-descritiva-e-reflexiva-que-gramatica-cabe-a-escola-
ensinar/87004/#ixzz3hNrrmBId
capítulo 5 • 101
• Saber o que é um substantivo, adjetivo, verbo, artigo, preposição, sujeito, predicado, etc.
não significa ser capaz de construir bons textos, empregando bem esses conhecimentos.
Quando se enfatiza a importância das atividades de revisão é por esta razão: trata-se de
uma oportunidade privilegiada de ensinar o aluno a utilizar os conhecimentos que possui,
ao mesmo tempo que é fonte de conteúdos a serem trabalhados. Isso porque os aspec-
tos gramaticais – e outros discursivos como a pontuação – devem ser selecionados a
partir dos das produções escritas dos alunos. O critério de relevância dos aspectos iden-
tificados como problemáticos – que precisam, portanto, ser ensinados prioritariamente
– deve ser composto pela combinação de dois fatores: por um lado, o que pode contribuir
para maior adequação e legibilidade dos textos e, por outro, a capacidade dos alunos em
cada momento.
• A propriedade que linguagem tem de poder referir-se a si mesma é o que torna pos-
sível a análise da língua e o que define um vocabulário próprio, uma metalinguagem. Em
relação a essa terminologia característica, é preciso considerar que, embora seja peculiar
a situações de análise linguística (em que inevitavelmente se fala sobre língua) , não se
deve sobrecarregar os alunos com um palavreado sem função, justificado exclusivamente
pela tradição de ensiná-lo. O critério do que deve ser ou não ensinado é muito simples:
apenas os termos que tenham utilidade para abordar os conteúdos e facilitar a comunica-
ção nas atividades de reflexão sobre a língua excluindo-se tudo o que for desnecessário
e costuma apenas confundir os alunos.
Isso não significa que não é para ensinar fonética, morfologia ou sintaxe,
mas que elas devem ser oferecidas à medida que se tornarem necessárias para
a reflexão sobre a língua. "
A linguagem verbal possui vínculo com o pensamento do sujeito, logo deve
ser compreendida em uma situação de enunciação. Cabe ao professor, buscar
atividades que contemplem as diversas situações sócio comunicativas em que
o aluno será exposto, seja em situação científica e ou profissional. Para tanto, o
102 • capítulo 5
trabalho, em sala de aula, com os diferentes tipos de gêneros discursivos podem
trazer para o estudo da Língua Portuguesa a realidade quanto ao uso da língua e
à possibilidade de participação social, de acesso à informação e de expressão e
defesa de pontos de vista, cumprindo assim o papel fundamental da Educação.
A seleção de bons textos (literários ou não literários) e de exercícios e contex-
tualizados trará um alcance de um ensino satisfatório da Língua Portuguesa,
um ensino que busque a aquisição e a produção de conhecimento por meio
da linguagem.
Tal mudança de conduta quanto ao ensino da Língua Portuguesa, que pro-
põe uma rediscussão sobre o ensino da Gramática, depende não só da elabora-
ção de material didático adequado, mas principalmente da formação de pro-
fessores interessados em discutir sobre “O que é ensinar Língua Portuguesa”.
Para ampliar seus conhecimentos, sobre educação e linguística, estudo e ensi-
no de gramática/texto e da Língua materna, leia mais:
TRAVAGLIA, Luís Carlos. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez,
2003.
______________Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gra-
mática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996.
REFLEXÃO
Os estudos de gramática têm objetivo maior aprimorar o desempenho linguístico dos
falantes, levar o aluno a uma postura de reflexão sobre a língua e a linguagem. Isso significa
conhecer a estrutura gramatical que organiza os textos, as regras que permitem diferentes
possibilidades de combinar palavras para construir frases, para atingir o que realmente inte-
ressa: transformar as frases em enunciados produzidos em situação de diálogo, num dado
momento, numa dada situação, com uma determinada intenção.
O ensino da Língua Portuguesa deve buscar desenvolver no aluno a não só a habilidade
de compreensão de discursos e de reflexão sobre os mesmos, mas também aguçar neles a
vontade de produzir e difundir ideias.
capítulo 5 • 103
LEITURA
Leia mais sobre ensino e gramática em: http://www.webartigos.com/artigos/analise-
entre-as-gramaticas-normativa-descritiva-e-reflexiva-que-gramatica-cabe-a-escola-
ensinar/87004/#ixzz3hNrrmBId
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo gramática? In: LOPES, Harry Vieira et alii [orgs.] Língua
portuguesa: o currículo e a compreensão da realidade. São Paulo: Coordenadoria de Estudos e
Normas Pedagógicas, 1991.
JAKOBSON, ROMAN (In Linguística e Comunicação, p.. 3, Trad. de IZIDORO BLIKSTEIN e JOSÉ
PAULO PAES, Editora Cultrix, SP. 2007.
NEVES, Maria Helena de Moura (2000). Gramática de usos do Português. São Paulo, Ed. da
Unesp, 2002.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental:
língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
PERINI, Mário. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 1997.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, ALB. Mercado de Letras,
1996, 96 p., Coleção Leituras do Brasil.
TRAVAGLIA, Luís Carlos. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.
______________Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus.
São Paulo: Cortez, 1996.
VIGOTISKI, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BECHARA, E. (1999) Moderna Gramática Portuguesa. Edição revista e ampliada. Rio de Janeiro:
Editora Lucerna.
ILARI, Rodolfo. A Linguística e o ensino da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
PERINI, Mário. Gramática descritiva do português. 2 ed. São Paulo: Ática, 1996.
______Para uma nova gramática do português. 8 ed. São Paulo: Ática, 1995.
104 • capítulo 5
GABARITO
Capítulo 1
Capítulo 2
01. a) A criança, ao adquirir uma língua, faz parte de um processo que não é natural e do
qual tem consciência.
02. a) Uma língua é um conjunto abstrato de regras psicológicas que constituem a compe-
tência de uma pessoa como falante. Essas regras colocam uma classe ilimitada de frases à
disposição do falante, das quais ele fará uso em situações concretas.
03. COMPETÊNCIA – Gramatical; é o saber abstrato que temos em nossa mente.
DESEMPENHO – O fazer, o uso da competência em situação de fala específica, ou seja a
aplicação das regras gramaticais.
Chomsky preocupava-se com o FAZER (desempenho), enquanto base para o desenvolvi-
mento de estudos da linguagem.
04. Gramatical – 1), 2), 3)
Agramatical – 4), 5)
Capítulo 3
01. b) a relação entre significante e significado ser motivada, ou seja, a relação nunca é
arbitrária ou convencional.
capítulo 5 • 105
02. c) Existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta, exemplifi-
cando a ocorrência da variação linguística.
03. a) A existência de variedades linguísticas no português falado no Brasil.
04. d) a língua falada pelas classes sociais desfavorecidas.
Capítulo 4
01. b) a visão de que a estrutura da língua é determinada pelas funções que têm de exercer
nas situações de comunicação na sociedade.
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ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 107
ANOTAÇÕES
108 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 109
ANOTAÇÕES
110 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 111
ANOTAÇÕES
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