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RESUMO:
Os medos podem ser variados, porém todos nós indivíduos sociais, possuímos
medo, sejam eles pequenininhos ou daqueles paralisantes. O fato é que ele, o medo,
consegue influenciar o mundo social e dentre tantas outras afirmações que poderíamos
fazer, argumentamos que ele consegue impelir os indivíduos a consumirem. Nesta
perspectiva, o objetivo mais geral do artigo é discutir as possibilidades de vias de
consumo em função do sentimento de medo e, mais especificamente, do consumo
provocado pela violência, no que tange à realidade da sociedade moderna e ocidental. A
análise está baseada em uma pesquisa de vitimização, onde foram aplicados 615
questionários por amostragem probabilística domiciliar definida com um erro amostral
de 4% com um intervalo de confiança de 95%. Neste survey, o público-alvo foram os
moradores da área urbana com 16 anos de idade ou mais. Os dados nos apresentam que
movidos pelo medo os indivíduos deixam de circular por determinados lugares, mudam
as suas formas de sociabilidade e de consumo e, aos poucos, vão se tornando
consumidores da “indústria do medo”. Os mais abastados privatizam a segurança se
fecham em condomínios, apart hotéis, edifícios, cercas elétricas, carros blindados;
enquanto os mais pobres recuam do convívio social da rua e se fecham em suas casas;
tudo isso como um recurso para evitar o risco ao qual o indivíduo se sente exposto.
1
Professor Doutor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Coordenador do
Grupo de Pesquisa em Conflitos e Segurança Social – GPECS.
2
Estudante de graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia (UFRB)
1. INTRODUÇÃO
No cotidiano da vida social os nossos medos podem ser variados, porém todos
nós indivíduos sociais, sentimos medo; o medo é um sentimento inerente à vida em
sociedade e pode em muitos casos ser objetivo ou subjetivo. Contudo, o fato em
destaque neste trabalho é que ele, o medo, está sempre presente e consegue influenciar o
mundo social, as nossas sociabilidades, enfim, ele influencia mesmo que indiretamente
na organização social e cotidiana das pessoas, inclusive nas suas formas de consumo.
Neste sentido, o presente artigo pretende analisar as possibilidades e as vias de consumo
que o sentimento de medo provoca nos indivíduos, sobretudo, aquelas oriundas do
medo da violência presente na realidade da sociedade moderna e ocidental.
Ademais, concordando com Caldeira (2000), entendemos que umas das grandes
consequências que podem advir dessa reorganização proposta pela prática do consumo
de produtos e serviços de segurança privada é que ela demarca uma nova via de
segregação social; onde quem poder pagar para ter acesso a esses meios assume um
lugar de maior conforte frente à insegurança constatada na sociedade moderna,
enquanto aqueles que não possuem o mesmo poder de consumo se sentem mais
expostos, e tentam usar de outros meios para burlar esse sentimento, como veremos
mais detalhadamente ao decorrer do texto.
Com isso, partindo daquilo que acima foi definido enquanto uma cultura do
consumo; articulamos aqui essa cultura com o consumo de bens e serviços ofertados no
campo da segurança pública que tem a pretensão de promover segurança aos indivíduos
e, que por sua vez, também deve cumprir as mesmas dimensões ou concepções acima
destacadas, isto é: a expansão da produção capitalista de mercadorias; o uso das
mercadorias de forma a criar vínculos ou estabelecer distinções sociais; os prazeres
emocionais do consumo.
4. Analise de dados
Observe o gráfico:
Gráfico 1: Gostaria de saber se, nos últimos 12 meses
tomou medidas de segurança para sua residência:
31%
SIM
Não
69%
8% Cães de guarda
2% Alarme
5%
Câmeras de vídeo
4%
Vigia nas rua
6%
2%
16% Aumentou a altura do muro ou grade
O que vemos aqui é que a cidade passa a ser uma “cidade de grades”, ora aquele
que é indicado por 38% como a primeira medida de segurança tomada em suas
moradias é justamente a instalação de “grades nas portas e janelas”, tendo em vista que
essa é uma medida que não afeta apenas diretamente aquele que tomou a medida para
da sua residência, mas no entanto muda efetivamente toda a configuração da paisagem
da cidade, afetando assim um contexto de maior proporção, provocando naquelas que
passam por essas ruas a leitura de que existe uma veemente insegurança local, que vem
a ser burlada por estas mesmas grades associadas a outros meios, como veremos.
Gráfico 3: Segunda medida de segurança
11% 9% 2%
Troca de fechaduras, tranacas extras
nas portas e janelas, além das
fechaduras principais
Interfone
Alarme
2% Câmeras de vídeo
2%
2% Vigia nas rua
23% 2%
Aquela que ficou eleita como a segunda medida de segurança mais utilizada
entre nossos entrevistados é justamente com 27% das indicações, o “Aumentou a altura
do muro ou grade” o que comunga com aquilo que é apresentado enquanto mudança de
cenário urbano, identificada na questão anterior e principalmente com aquilo que nos é
apresentado pela Caldeira (2000). Pensar que as cidades estão se tornando cidades de
muros e de grades, é também repensar é eficácia do estado no cumprimento do seu
papel de ofertar segurança para esses sujeitos, onde os mesmos tentam se assegurar por
através de outras vias, estas se diferenciam dentre as classes econômicas, mesmo assim
não deixam de existir em função do poder aquisitivo, sejam de menor custo, como
apenas a implantação das grades e o crescimento dos muros ou mais complexas que
demandam um maior despendimento econômico. Vejamos:
Gráfico 4: Terceira medida de segurança
9%
27%
Interfone
Câmeras de vídeo
28%
Vigia nas rua
Aumentou a altura do muro ou grade
Cerca elétrica sobre o muro
18%
18%
5. CONCLUSÃO
Partindo de tudo que foi apresentado no texto, entendemos que movidos pelo
medo os indivíduos mudam as suas formas de sociabilidade e de consumo e, aos
poucos, vão se tornando consumidores do que poderíamos chamar de uma “indústria do
medo”, fazendo assim uma alusão ao mercado de segurança privada. Os mais abastados
privatizam a segurança se fecham em condomínios, apart hotéis, edifícios, cercas
elétricas, carros blindados; enquanto os mais pobres recuam do convívio social da rua e
se fecham em suas casas; tudo isso como um recurso para evitar o risco ao qual o
indivíduo se sente exposto.
DOUGLAS, Mary. O uso dos bens. In: O mundo dos bens: para uma
antropologia do consumo./ Mary Douglas, Barin Isherwood; tradução Plínio Dentzien.
Rio de Janeiro. Ed: UFRJ. 2004. P101-118.
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. –
Rio de Janeiro: Ed.: Guanabara, 1987.