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Sumário

FREUD........................................................................................................................1
Medo – Aspectos psicológicos da crise- Diante da pandemia – aspectos subjetivos....2
O que fazer?Além dos óbvios?...................................................................................4
Como podemos sair dessa?........................................................................................5
O que nos ensina – volto a Freud e Lacan...................................................................7
Vírus como um terceiro da nossa polaridade. Nosso comum......................................8

FREUD

Freud não pensa em termos políticos, sociológicos. Mas em termos


metapsicológicos, dinâmicos. Luta que é a vida, impulsos. Dentro de sua
lógica, de aspectos inconscientes, podemos pensar no declínio,
decadência de nossa sociedade.

Crítica e resignação.

Freud sofreu muito. Era judeu. Perdeu a filha Sophie para a gripe
espanhola.
Guerra. Ascensão do nazismo já doente. Foi perseguido pela intolerância.

Nessa situação da Sophie, ele escreve uma carta a um amigo e comenta


que não dá para culpar a peste. Freud não é um ressentido. Apesar de seu
pessimismo, ele parece abraçar a vida. Tampouco é cristão.

Freud: não há salvação, não há redenção. Não tem prescrição. Psicanálise


não é pronto-socorro.
Medo – Aspectos psicológicos da crise- Diante da pandemia – aspectos
subjetivos

- Excepcionalidade da situação: Situação inédita, nunca dita, nunca vivida.


É muito novo isso no Brasil. A gente está sendo obrigado a acolher aquilo
que não acolhe, como a velhice e a doença.

Está todo mundo tendo que trabalhar isso em si, algo foi profundamente
abalado nessa história toda. Antes, muitas pessoas pensavam: 'Ah! eu vou
para Europa, vou para Nova York. Ou vou aproveitar que aqui está essa
coisa, e vou para a praia'.
Agora não tem mais para onde ir. Todos estamos vivendo essa
vulnerabilidade, essa ameaça de morte. É um marco na história da
humanidade.

. O medo faz parte desse processo. Quem não está com medo está com
problema. Deboche do presidente, por exemplo.

- Nos coloca para pensar sobre qual é a regra que nos preside:
confinamento nos faz pensar: do ponto de vista subjetivo cada qual vai
interpretar essa situação segundo suas próprias formas de funcionamento
e de leitura do mundo.

- O que nos faz pensar: encarna nosso imaginário sobre a origem do mal
que vem sempre de um Outro, como os bárbaros da antiguidade. A peste
nos ameaça porque não ataca apenas nossos corpos, mas nossas
identidades, nossos sentimentos de pertença e de filiação a uma
determinada ordem.

- Diante da peste: duas tarefas: enfrentar o medo e de fazer frente à


angústia. O medo nos faz agir, avaliar riscos e calcular estratégias. Diante
do medo podemos atacar ou fugir. Ele nos incita a tomar medidas
protetivas, obedecer restrições de contato social ou métodos de higiene e
limpeza. Podemos pensar que Só um tolo desfaz do medo apegando-se à
ideia de que não há motivo para o temor, que a fé nos protegerá ou que a
doença é apenas uma invenção imaginativa.
O problema começa quando o medo do que vem de fora se contamina
com a angústia com o que vem de dentro.

Percebe-se assim como a ideia de contaminação é uma ideia objetiva


(transmissão real de um vírus que toma meu corpo, ou de alguém que me
importa) e subjetiva (um exemplo: da questão da desigualdade que se
aflora e coloca a política em cena, 2 da passagem simbólica da cultura
entre nativos e estrangeiros – caso de racismo aparece. (reação do
camaronês Samuel Eto'o e o marfinense Didier Drogba, reagiram com revolta às

declarações de dois médicos franceses que sugeriram o teste de vacinas contra

o coronavírus na África, sugeriu que o continente fosse usado para os testes porque "não tem

máscaras, nem tratamento" para a doença. E nesse aspecto, a doença é o


pretexto ideal para ativar preconceitos, invocar fantasmas e revitalizar
complexos infantis. Aqueles que não suportam conviver com algo que não
conhecem e por isso negam a existência da realidade da crise do
coronavírus. “Não é surpreendente que exista uma atitude refratária que
nega o que a contraria. É uma situação mundial, que toca a nossa relação
com o outro”

- três reações básicas: agir como um tolo, idiota. Como confuso ou


desespero.

Tolo: (desconhece, ignora a importância do medo). Desprevenido e


desinformado, ele irá em busca de culpados. Ele não é corajoso porque
não reconhece os riscos e resolve atravessá-los mesmo assim. Ele
simplesmente não quer saber do perigo, por isso também não toma
providências. Ele debocha. Quando algo dá errado nos dirigimos
inevitavelmente à busca de culpados e responsáveis, como se estes, uma
vez localizados, nos autorizassem a voltar a dormir o sono dos justos.
Quando o presidente chega e fala: 'vai ser uma gripezinha porque eu
tenho uma história de atleta', ele se coloca como um ser não vulnerável, é
um deus.

- O confuso é aquele que lida com a angústia tentando transformá-la


inteiramente em medo real. Ele estocará quilos de papel higiênico, andará
com tonéis de álcool gel no bolso e saberá tudo que todos os governantes
falam, mas também acompanhará todos os boatos e disseminará todas as
hipóteses.

- Deseperado, reage no sentido de transformará todo o medo, gerado pela


indeterminação, em motivo para incremento de angústia.

O que fazer?Além dos óbvios?

Acalmar-se. É um verbo pronominal oblíquo. Ele chama o pronome


oblíquo. se. Ou Seja: algo que ninguém pode fazer por você. Não é um
outro que me acalma. É um engano pensar que mais notícia, mais estoque
de máscara ou papel higiênico ou comida enlatada venha pacificar a
angústia.

O medo se combate com precaução e medidas objetivas.

A angústia: com cuidado e trabalho subjetivo.

Neste sentido a pandemia tem muito a nos ensinar, especialmente quanto


a nossas ilusões de controle e dominação sobre o mundo e nosso destino.
A crença digital de que somos muitos importantes e tantas outras
promessas nos fazem acreditar que somos soberanos sobre nossas vidas.
Daí aparece um pequeno micro-organismo, bastante limitado do ponto de
vista de sua capacidade reprodutiva e de sua estrutura biológica de RNA e
nos derruba.

Corona – vírus, termo que vem porque sua forma microscópica se


assemelha a uma coroa. O rei é ele. Ele tirou o homem do trono. Nosso
narcisismo se dobra.

Mas pode ser uma experiência profundamente transformadora.

EM TERMOS PRÁTICOS:

- Reconstituir um cotidiano. Não ficar num deslizamento errático.

- Arrume a casa. Coloque uma flor. Um lençol confortável. Caso Alane.

- Arte, literatura. Ficção. Mais que netflix.

- Perceba seus sonhos. Altere o olhar, perspectiva. Longe, perto.

Como podemos sair dessa?


Não há um só modo. Não haverá uma forma única de sair disso. Talvez
essa pandemia tire o melhor e o pior de nós.

Benjamin: Guerra – perda da experiência. Incapacidade de narrar essa


história. Escrever é importante. Frei Betto. Nos faz pensar em quem vive
preso.
Repensar o que estava errado. Não voltarmos ao normal.

Nos planos subjetivos e políticos.

Descobrir que podemos muito menos do que pensamos.

Aceitar o imponderável que nos governa e acolher com humildade o que


ainda não dominamos. Tirar o peso de uma coroa imaginária.

Revisao dos valres, transvolaracao desses, outra forma de ver o mundo.


Uma revisão e questionamento: como é o caso das relações de produção
que produzem a pauperização do trabalho e a financeirização da
economia que promove a extrema concentração de riqueza.

Poderá ensejar questionamentos sobre o sistema capitalista e a


possibilidade de seu reordenamento. “Há novas formas de troca social e
econômica que podem ser imediatamente implantadas. Há um
reposicionamento óbvio, massivo, do papel do Estado. Tornou-se ridículo
neste momento dizer vamos reduzir o Estado. E onde estão os que
defendem isso?

Dinheiro especulativo é falso, capital vazio. Especulação imobiliária.


Pauperização, precarização, uberização da vida.

Superestimação do valor. Narcisismo. Consumo.

Necropolítica: deixa o Sus se ferrar, deixa o trabalho se ferrar, deixa os


pobres, os sem teto, sem casa, sem terra, os Cras, o Bolsa Família. Deixa
morrer!
Bolsonaro: além de uma certa limitação cognitiva e/ou moral? Uso
obsceno da lei para sacanear. Nos faz desconfiar da palavra. Governo que
nunca precisou de pandemia para abertamente flertar com a ditadura e
com a tortura. Com a supressão das liberdades, fechamento do congresso.

Repactuação em que podemos ter uma mudança nas regras e nas


relações, como por exemplo no que se refere à ocupação imobiliária ou à
ocupação do território. “Isso está afetando pessoas que vão morrer,
porque estão em lugares muito pequenos. E por outro lado existem
imóveis fechados nas grandes metrópoles, que são produtos da
especulação. Isso está errado”, afirma.

Todo o rol de questões que envolvem a sociedade, como salários,


aluguéis, contas públicas e a dificuldade daqueles que não tem nenhum
salário vai fazer com que a sociedade olhe para pauperização que estava
sendo produzida e sinta agora a necessidade de haver um repactuamento.

O que nos ensina – volto a Freud e Lacan


Lacan e Freud de certa forma nos convidam a pensar no anti-utilitarismo.
É o que estamos vivendo. Acabou a produção, forçadamente. Estamos em
tempo morto.

A lei do dia a dia é revogada e surge uma brecha na ordem das coisas.

Tempo que talvez seja essencial para revitalizazr a nossa experiência de


vida. Como consequência dessa quarentena, para além do desemprego,
etc, posso ver o meio ambiente agradecendo. Talvez o pior que nos
aconteça seja voltar ao nomral que éramos.

- A pandemia nos lembra da nossa impotência, dessa condição que


Nietzsche e Freud já falavam. Da nossa falta de controle. Há uma força
invisível maior que a mão do mercado. A natureza. Que sofre diante de
nossa imprudência, imperícia, negligência, arrogância.
Tenho plena consciência do perigo que enfrento ao tornar públicos esses
meus pensamentos: não quero de modo alguém ser cínica com o
sofrimento das pessoas. Precisamos de solidariedade total e
incondicional, além de uma resposta coordenada globalmente. O que
quero dizer é que pode ser uma experiencia transformadora. Mas
dolorosa. Isso sim.

Vírus como um terceiro da nossa polaridade. Nosso comum.

O cenário atual não representa uma oportunidade de despertar surtos de

empatia e humanitarismo, e tem poucas chances de promover algum tipo

de redenção. Mas pode ser uma chance de levantar discussões sobre a

efetividade da atual política econômica neoliberal, especialmente no

Brasil. Depois de guerra, vem direitos dos homens, bem estar social.

Talvez nos ajude a inventar novas maneiras de vivermos juntos. Quero


que isso aconteça, mas não acredito.

"Temos agora um acontecimento que se impõe a todos nós. Não é um

assunto de opinião, onde um lado está ganhando ou perdendo. Todos

estamos perdendo. Acredito que essa situação retoma uma ideia bem

parecida com as narrativas que ao longo da história inspiraram

solidariedade, humildade e atos do tipo.

"A resposta que me parece mais inteligente é todos nós enfrentarmos a

situação juntos. A história mostrou que isso é efetivo em casos de crise".

Talvez saiamos dela como uma sociedade que lava mais as mãos, usa
mais álcool gel, beija menos e evita aglomerações _ ao menos por um
tempo. Não sei se as marcas dessa crise serão profundas o suficiente
para haver mudanças radicais; desejo que sim, desconfio que não.

“Ninguém tem o direito de obedecer” - HA

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