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II – O Antifrágil
Algumas coisas se beneficiam dos impactos; elas prosperam e crescem quando são
expostas à volatilidade, ao acaso, à desordem e aos agentes estressores, e apreciam a
aventura, o risco e a incerteza.
No entanto, apesar da onipresença do fenômeno, não existe uma palavra para
designar exatamente o oposto de frágil.
Vamos chamá-lo de antifrágil.
A antifragilidade não se resume à resiliência ou à robustez.
O resiliente resiste a impactos e permanece o mesmo; o antifrágil fica melhor.
Essa propriedade está por trás de tudo o que vem mudando com o tempo: a evolução,
a cultura, as ideias, as revoluções, os sistemas políticos, a inovação tecnológica, o
sucesso cultural e econômico, a sobrevivência das empresas, as boas receitas (por
exemplo, sopa de galinha ou steak tartare com uma gota de conhaque), o surgimento
de cidades e culturas, os sistemas jurídicos, as florestas equatoriais, a resistência
bacteriana… até mesmo a nossa própria existência como espécie neste planeta.
E a antifragilidade determina o limite entre o que é vivo e orgânico (ou complexo),
como o corpo humano, e o que é inerte, digamos, um objeto físico como o
grampeador em sua mesa.
O antifrágil…
… aprecia a aleatoriedade e a incerteza, o que também significa – acima de tudo –
apreciar os erros, ou pelo menos certo tipo de erro.
A antifragilidade tem uma propriedade singular de nos capacitar a lidar com o
desconhecido, de fazer as coisas sem compreendê-las – e fazê-las bem.
Permita-me ser mais incisivo: somos muito melhores agindo do que pensando, graças
à antifragilidade.
Eu preferiria ser ignorante e antifrágil a extremamente inteligente e frágil, em
qualquer ocasião.
É fácil perceber coisas em torno de nós que apreciam um pouco de estressores e de
volatilidade: sistemas econômicos, seu corpo, sua nutrição (diabetes e muitas
doenças modernas similares parecem estar associados à falta de aleatoriedade na
alimentação e à ausência de um agente estressor, a fome ocasional), sua psique.
Há até mesmo contratos financeiros que são antifrágeis – explicitamente projetados
para se beneficiar da volatilidade do mercado.
A antifragilidade nos faz entender melhor a fragilidade.
Da mesma forma que não podemos melhorar a saúde sem reduzir a doença, ou
aumentar a riqueza sem, primeiro, diminuir os prejuízos, antifragilidade e fragilidade
são graus em um espectro.
Não predição
Ao apreender os mecanismos da antifragilidade, podemos construir um guia amplo e
sistemático da tomada de decisões não preditiva, dominado pela incerteza e aplicável
nos negócios, na política, na medicina e na vida em geral – onde quer que reine o
desconhecido, em qualquer situação em que haja aleatoriedade, imprevisibilidade,
opacidade ou a compreensão incompleta das coisas.
É muito mais fácil descobrir se algo é frágil do que prever a ocorrência de um evento
capaz de prejudicá-lo.
A fragilidade pode ser medida; o risco, não (à exceção de cassinos ou da mente de
pessoas que se dizem ‘especialistas em risco’).
Isso oferece uma solução para o que chamei de o problema do Cisne Negro – a
impossibilidade de calcular os riscos de importantes e raros acontecimentos e prever
sua ocorrência.
A sensibilidade aos danos causados pela volatilidade é remediável, mais ainda do
que a predição do evento que poderia causar o dano.
Portanto, propomos que nossas abordagens atuais para predições, prognósticos e
gerenciamento de risco sejam mantidas em sua mente.
Em cada domínio ou área de aplicação, propomos regras para conduzir o frágil na
direção do antifrágil, reduzindo a fragilidade ou aproveitando a antifragilidade.
E quase sempre conseguiremos detectar a antifragilidade (e a fragilidade) usando um
teste simples de assimetria: tudo o que surgir a partir de eventos aleatórios (ou de
certos impactos) e que apresentar mais vantagens do que desvantagens será
antifrágil; o inverso será frágil.
Privação da antifragilidade
Basicamente, se a antifragilidade é uma propriedade de todos aqueles sistemas
naturais (e complexos) que sobreviveram, privar esses sistemas de volatilidade,
aleatoriedade e agentes estressores os prejudicará.
Eles enfraquecerão, morrerão ou serão destruídos.
Viemos fragilizando a economia, nossa saúde, a vida política, a educação (ou seja,
quase tudo…) ao suprimir a aleatoriedade e a volatilidade.
Assim como passar um mês na cama (de preferência, com a versão integral de
Guerra e paz e acesso a todos os 86 episódios de Família Soprano) causa atrofia
muscular, os sistemas complexos se enfraquecem e até mesmo morrem quando são
privados de agentes estressores.
Grande parte do nosso mundo moderno e estruturado tem nos prejudicado com
políticas de cima para baixo e mecanismos (apelidados neste livro de ‘ilusões
soviéticas de Harvard’) que fazem precisamente isto: ofendem a antifragilidade dos
sistemas.
Essa é a tragédia da modernidade: assim como os pais neuroticamente
superprotetores, aqueles que estão tentando ajudar são, muitas vezes, os que mais
nos prejudicam.
Se quase tudo aquilo que vem de cima para baixo fragiliza e bloqueia a
antifragilidade e o crescimento, tudo que vai de baixo para cima prospera sob a
quantidade certa de tensão e desordem.
O processo de descoberta (ou de inovação, ou de progresso tecnológico) em si
depende de ajustes antifrágeis e da assunção agressiva de riscos, mais do que da
educação formal.
No entanto…
… quando a identificamos, temos medo e reagimos de forma exagerada.
Por causa desse medo e dessa necessidade de ordem, alguns sistemas humanos, ao
alterarem a lógica invisível ou não tão visível das coisas, tendem a ser expostos a
danos causados por Cisnes Negros e a quase nunca se beneficiarem.
Chega-se à pseudo-ordem quando se busca a ordem; só se consegue alguma ordem e
controle quando se aceita a aleatoriedade.
Os sistemas complexos estão cheios de interdependências – difíceis de se detectar – e
de respostas não lineares.
‘Não linear’ significa que, quando se dobra a dose de, digamos, um medicamento, ou
quando se dobra o número de funcionários em uma fábrica, não se obtém o dobro do
efeito inicial, mas sim muito mais ou muito menos.
Dois fins de semana na Filadélfia não são duas vezes tão agradáveis quanto apenas
um – falo por experiência própria.
Quando a resposta é colocada em um gráfico, não se apresenta como uma linha reta
(‘linear’), e, sim, como uma curva.
Neste cenário, associações causais simples são equivocadas; é difícil perceber como
as coisas funcionam observando as partes isoladas.
Sistemas complexos criados pelo homem tendem a desenvolver cascatas e cadeias
descontroladas de reações que fazem diminuir e, inclusive, eliminam a
previsibilidade, além de gerarem um superdimensionamento dos acontecimentos.
Assim, o mundo moderno pode estar se aprimorando em conhecimento tecnológico,
mas, paradoxalmente, tem tornado as coisas muito mais imprevisíveis.
Agora, por razões relacionadas ao aumento do que é artificial, ao afastamento de
modelos ancestrais e naturais e à perda de robustez devido a complicações na
concepção de tudo, o papel dos Cisnes Negros está crescendo…
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