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UnB - Universidade de Brasília

Aluna: Maria Clara Neres da Ponte


Matrícula: 200023888
Professor: Denylson Cardoso
Disciplina: História da Educação
Turma: 4N1234

Boaventura de Sousa Santos nasceu em Coimbra, em 15 de Novembro de 1940. É Doutorado


em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973) e Professor Catedrático Jubilado
da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da
Universidade de Wisconsin-Madison. Foi também Global Legal Scholar da Universidade de
Warwick e Professor Visitante do Birkbeck College da Universidade de Londres. Além disso,
é Diretor Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Coordenador
Científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa.
Suas obras são escritas e publicadas de forma extensiva nas áreas de sociologia do direito,
sociologia política, epistemologia, estudos pós-coloniais, sobre os temas dos movimentos
sociais, globalização, democracia participativa, reforma do Estado, direitos humanos. Possui
trabalho de campo realizado em Portugal, Brasil, Colômbia, Moçambique, Angola, Cabo
Verde, Bolívia e Equador. Suas obras podem ser encontradas traduzidas em espanhol, inglês,
italiano, francês, alemão, chinês, romeno e dinamarquês.
Em seu texto “A cruel pedagogia do vírus”, Boaventura aborda pontos que podem ser
observados na sociedade pela pandemia do COVID-19. Em seu primeiro capítulo de título
“Vírus: tudo o que é sólido e se desfaz no ar”, traz os potenciais conhecimentos que
decorreram da pandemia do coronavírus, colocados como sendo:
- “A normalidade da exceção": Mostra uma crise passageira (que é explicada pelos
fatores que a provocam) e uma crise que se torna permanente (é a causa que explica
todo o resto). Colocando como objetivo da crise permanente, a sua não resolução. E
deixa claro, que a pandemia veio apenas para agravar uma situação de crise a que já
estávamos sujeitos.
- “A elasticidade do social”: As necessidade que a pandemia traz de mudança dos
modos de viver dominantes que sempre são estipulados em cada época da história, e
como elas se tornam possíveis de maneira repentina, como se sempre tivesse sido
assim. Mostrando que a ideia de que não há alternativa ao modo de vida imposto pelo
hipercapitalismo não está correta, pois as alternativas sempre voltam da pior maneira
possível.
- “A fragilidade do humano”: Um sentimento de segurança é criado através da rigidez
aparente das soluções sociais, mas com a pulverização do surto, essa segurança se
evapora. A pandemia gera uma consciência de comunhão planetária, que é
democrática.
- “Os fins não justificam os meios”: Traz as consequências negativas da pandemia na
atividade econômica, e não esquece de abordar como consequência positiva a
diminuição da poluição atmosférica. Além disso, lembra que a The Economist mostra
que as epidemias são menos letais em países democráticos e fala sobre como as fake
news afetam isso.
- “A guerra de que é feita a paz”: A vontade de demonização da China, e aborda como
motivação deste fato a guerra comercial entre China e EUA.
- “A sociologia das ausências”: Provocação de uma comoção mundial. Existência das
zonas de invisibilidade, sendo elas locais vulneráveis, de dificuldade que são
ocultados para não gerar má fama, e coloca que elas poderão se multiplicar cada vez
mais.
Em seu segundo capítulo, dado como “A trágica transparência do vírus”, aponta a
necessidade da política ser mediadora entre as ideologias, necessidades e aspirações dos
cidadãos. Traz o termo de cidadão estranho, sendo que este não possui deveres, apenas
direitos. Coloca a pandemia como uma alegoria, onde o sentido dela é o medo caótico
generalizado e a morte sem fronteiras causada por um inimigo invisível (o vírus), faz a
assimilação do o invisível todo-poderoso (o deus das religiões) e o infinitamente pequeno (o
vírus), onde em tempos atuais, o ser invisível todo-poderoso pode ser encontrado nos
mercados.
Ainda, coloca em questão o reino das causas, o qual é um reino das mediações entre o
humano e o não humano, sendo ele composto por três unicórnios, estes unicórnios seriam
segundo Leonardo da Vinci um ser intemperante e incapaz de se dominar, e com o deleite que
as donzelas lhe proporcionam, esquecem a sua ferocidade e selvageria. Segundo Boaventura,
os três unicórnios que compõem o reino das causas, desde o século XVII são: o capitalismo, o
colonialismo e o patriarcado.
No capítulo 3, o autor aborda que as quarentenas são sempre discriminatórias, e cita alguns
grupos específicos que são mais prejudicados por conta do sofrimento injusto causado pela
exploração capitalista, incluindo a discriminação racial e sexual, sendo eles: as mulheres, os
trabalhadores precários, informais, autônomos, os trabalhadores da rua, os sem-abrigo ou
populações de rua, os moradores nas periferias pobres das cidades, favelas, barriadas, slums,
caniço, etc, os internados em capos de internamento para refugiados, imigrantes,
indocumentados ou populações descoladas internamente, os deficientes e os idosos. Aborda
os questionamentos sobre a vida que esses determinados grupos possuem fora da pandemia e
como a pandemia pode impactá-los, questiona também o fato de muitos já viverem em
quarentena mesmo antes do cenário pandêmico. Além disso, coloca em pauta o fato de que a
quarentena deixa ainda mais visível as diferenças sociais destes grupos.
No quarto capítulo, são apontadas lições que podem ser tiradas da pandemia do COVID-19,
sendo elas:
1- Foi uma crise grave, com letalidade muito significativa e rápida. Cita a poluição
atmosférica como uma crise grave, mas de progressão lenta e isso faz com que ela passe
despercebida. Com base nisso, trata a pandemia do coronavírus como uma manifestação do
modelo de sociedade que surgiu globalmente, sendo este modelo, caracterizado pela
exploração sem limites dos recursos naturais. Daí as pandemias, seriam a punição que
sofremos por essas violações, é um método de auto-defesa da Natureza.
2- Fala que a pandemia é menos discriminatória que as os outras violências cometidas na
nossa sociedade, mas também discriminam à respeito de sua prevenção, expansão e
mitigação, pelo simples fato de que uma grande parte da população não tem condições de
seguir as recomendações dada pela Organização Mundial de Saúde.
3- Faz uma crítica ao capitalismo e diz que enquanto modelo social, ele não tem futuro, diz
que ele não pode subsistir como único. Aborda o fato de que o neoliberalismo crescente
dominado pelo capital financeiro global levou todas as áreas sociais à se tornarem áreas de
investimento privado, que devem seguir o modelo de gerar o máximo de lucro, deixando de
lado a lógica de um serviço público, e ignorando também os princípios de cidadania e direitos
humanos. Menciona que os governos que não seguem tanto o ideário neoliberal, estariam a
atuais mais eficientemente contra a pandemia.
4- Crítica à extrema-direita por inúmeras de suas características, como por exemplo, a pulsão
anti-sistema, a manipulação grosseira dos instrumentos democráticos, a xenofobia, o racismo,
o ataque à investigação científica independente, entre outras. Aponta a maior falha dos
governos de extrema-direita em lidar com o cenário da pandemia.
5- Acentua a presença do colonialismo e do patriarcado na sociedade atual e como eles são
reforçados nos momentos de crise aguda. Fala sobre a maior vulnerabilidade dos corpos
racializados e sexualizados em cenários pandemias, pelas condições de vida que lhes são
impostas socialmente, quando o surto ocorre, eles estão mais expostos a propagação do vírus
e se encontram em locais onde os cuidados da saúde não chegam, realizam tarefas com mais
riscos.
6- Fala sobre como as pandemias mostram como o capitalismo neoliberal deixou o Estado
incapacitado para responder às emergências, é possível ver como não conseguem disfarçar a
sua incapacidade, a falta de previsibilidade em relação a emergências.
Por fim, no capítulo 5, intitulado como “O futuro pode começar hoje”, neste o autor conclui
afirmando que a pandemia e a quarentena trazem à tona que é possível que as sociedades se
adaptem a novos modos de viver quando preciso. Além disso, é uma situação propícia a
pensar em alternativas para o modo de viver, produzir, consumir, conviver, entre outros.
Outrossim, aborda o regresso à normalidade, como não sendo fácil para todos, e questiona
sobre possíveis problemas a serem encontrados durante esse percurso. E por fim diz “A
quarentena provocada pela pandemia é afinal uma quarentena dentro de outra quarentena”
(p.32)
Trago agora as minhas ponderações acerca da obra, meu interesse pela obra foi aumentando
de acordo com o avanço da leitura, me identifico muito com a forma que o autor pensa e fala
sobre todos os aspectos citados. Foi uma leitura de grande reflexão.
Um dos capítulos que mais me atraiu foi o capítulo 3, onde o autor descreve grupos da
sociedade que foram mais prejudicados pelo cenário da pandemia, e estive vivenciando de
perto a realidade de alguns desses grupos, como o dos autônomos, já que em minha casa
minha mãe é autônoma e foi muito complicado precisar parar e não conseguir dinheiro para
sobreviver nesse período, assim como o cenários dos idosos, pois moro com meus avós, meu
avô ainda trabalhava, e precisou ficar em casa o que afetou muito o seu psicológico.
É muito impactante a forma que o autor aborda as desigualdades sociais que estão presentes
na sociedade e que convivemos todos os dias, mesmo sem perceber, nos faz ver que se o
nosso cenário não está tão bom, ainda existem cenários piores. No mesmo contexto, é
doloroso ver como o capitalismo e a competição pelo lucro, deixa essa realidade a cada dia
pior e mais visível.
Por fim, quero citar um último ponto que me chamou muita atenção, o modo como o autor
fala da crise ambiental e como ele coloca a pandemia como consequência disso, de fato talvez
seja realmente uma forma da Natura se defender do que nós, humanos, praticamos contra
eles.
Gostei muito do texto, me chamou muita atenção, o modo como o autor faz crítica a diversos
assuntos, como o capitalismo, o governo de extrema-direita e como isso esteve muito
presente em nosso país durante a pandemia. Acredito que ter uma certa vivência de algumas
realidades apresentadas no texto, fez como que me impactou ainda mais, por ter feito parte do
meu dia a dia durante esse período tão complexo e desafiador, e por mais que tenha sido
possível nos adaptarmos para diversas situações, foram muitos desafios a serem superados
em um curto período.
Indico este texto para qualquer indivíduo que tenha interesse em assuntos de questões sociais,
principalmente com foco em políticas sociais, econômicas. Além disso, pessoas que tenham
interesse em assuntos relacionados à pandemia e o seu impacto na sociedade no geral.

Bibliografia
SANTOS, Boaventura De Sousa. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Almedina, 2020.
ISBN 978-972-40-8496-1.

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