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- INTRODUÇÃO:
Este trabalho consiste em analisar as políticas de morte adotadas pelo governo
Bolsonaro no período de 2020 a 2021, sua ineficiência e como as desigualdades sociais
contribuíram para os altos índices de óbitos no Brasil no período pandêmico do novo corona
vírus(covid-19). A partir do conceito de necropolitica do historiador, filósofo e teórico político,
Achille Mbembe, são introduzidos os conceitos de trauma cultural e das narrativas de
relativação de Alexander Jeffrey, e a partir de Mariana Thorstensen Possas, Andrija Oliveira
Almeida e Karla Matias realizar uma breve introdução a questão da valorização da morte e sua
democratização, justificação e naturalização.
-DESENVOLVIMENTO:
A morte de uns assegura a existência de outros, isso é o que Foucault denominou de
biopoder, um poder exercido tanto em território quanto em corpos. Partindo da perspectiva do
contexto pandêmico onde não há leitos hospitalares para toda a população brasileira, a morte
de uns significa vida para outros, ou ao menos chances contra um vírus que dizimou 376.567
pessoas desde 16 de março de 2020 até 21 de abril de 2021, a morte está presente nesse mundo
de soberania que segundo Mbembe é a capacidade de definir quem são os corpos descartáveis,
os sem importância ou substituíveis, para pensar sobre soberania e o poder que atua sobre esse
corpos é importante defini-los, dar nome a essa discriminação que é tanto colonizadora quanto
racista, a definição de raça está em todos os processos políticos, sempre favorecendo uma em
detrimento de outra.
O poder político se apropria da morte como objeto de gestão, tomando medidas que
definem quem deve morrer, como deve morrer e o que acontece com o corpo após o óbito, a
necropolitica é uma política de morte e de controle, desde a promoção de condições mortíferas
como: a precarização da vida, a passividade que permite a morte (o deixar morrer) e a morte
em si, formando uma população de mortos que mesmo após a morte fornece lucro, o corpo é
aproveitado, explorado e lucrativo até quando está estático, os necrotérios, cemitérios e
funerárias se beneficiam da morte em massa, para o estado deixar morrer significa ter menos
gastos do que fazer viver, o mesmo falhou na sua função de garantir saúde a população, quando
os profissionais da saúde precisam escolher quem vai utilizar os respiradores porque não tem
o suficiente para todos eles estão praticando a necropolitica, optando por fornecer
equipamentos a quem tem mais chances de melhora ou aos que estão em estado mais crítico,
não há a opção de salvar a todos, não por falta de profissionalismo, mas de investimento, 8%
do PIB do Brasil é direcionado ao Sistema Único de Saúde, menos de 4% é para o setor público
e 5,4 para o setor privado, ambos os setores estão superlotados enquanto os hospitais
pertencentes aos militares se encontram com leitos vazios, o descaso estatal não é apenas
incompetência ou um plano que deu errado, mas uma política de morte que está funcionando a
todo vapor.
A morte como entretenimento não é um fator exclusivo do período atual, diariamente a
morte é tratada como um fator natural, elas são apresentadas e justificadas oficialmente como
fator de segurança pública, o governo vem tentando tirar de si a responsabilidade pelas mortes
atribuindo a elas uma realidade imutável onde nada poderia modifica-las, nem mesmo as ações
governamentais de políticas públicas. A grande concentração de mortes segundo Possas,
Almeida e Matias tem o mesmo endereço, estão concentradas nas periferias onde a
desigualdade social é a variável mais importante para determinar a taxa de mortalidade, mesmo
que o vírus possa ser contraído por todas as classes econômicas e sociais, as classes de mais
prestígio possuem acesso a leitos com mais facilidade, podem realizar o distanciamento social
sem se preocupar com o que comer, com as inúmeras contas ou com os medicamentos caso
fique doente.
“A atual pandemia como experimentada no Brasil deixa à mostra, com
especial dramaticidade, as desigualdades sociais, a concentração de renda, a
precarização das condições de trabalho dos mais pobres, além de lançar luz
sobre o processo de desestruturação e subfinanciamento do Sistema Único de
Saúde (SUS) e sobre as consequências concretas desse processo”
- CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Portanto, é necessário que as políticas públicas sejam elaboradas no contexto
pandêmico visando a manutenção da vida e não como uma política da morte que produz e
escolhe os corpos, pois isso é reduzir uma parcela da população apenas a um corpo, visto como
um objeto e manuseado como se fosse descartável, tratados como se fossem coisas e não de
seres humanos individuais que possuem singularidades, há uma desumanização quando a morte
ocorre em grande escala, ela passa a ser naturalizada e justificada. Quando a necropolitica
ocorre de maneira expansiva como está sendo com a covid-19 que ultrapassa fronteiras
territoriais ela passa a ser noticiada, a questão está em como isso ocorre, no Brasil uma das
maiores emissoras de televisão fez da morte algo lucrativo, o jornal Record TV no dia 20 de
abril de 2021 entre as notícias do dia fez propaganda de um plano funerário, uma oportunidade
perfeita, aterrorizar os telespectadores com os altos índices de óbito para em seguida oferecer
uma garantia caso haja alguma fatalidade. O jogo de narrativas é crucial para determinar como
o país enxerga um determinado fenômeno, a partir de falas do presidente podemos ver que a
gestão política atual carece de maturidade, sensibilidade, humanização e respeito aos corpos
vivos e mortos, valorizando as suas trajetórias e vivências e não apenas o episódio de sua morte,
o morto é culpado até por sua morte, perguntam que circunstâncias o levaram a ser contagiado
e como foi exposto ao vírus, quando o questionamento deveria partir da população aos agentes
públicos sobre o que eles tem feito para solucionar o problema que não se trata apenas de um
caso isolado mas inúmeros casos com a mesma doença, não sendo apenas responsabilidade do
cidadão mas daquele que os governa.
REFERÊNCIAS:
- MBEMBE, Achille. “Necropolítica” em: Arte & Ensaios, n. 32; dezembro 2016. Disponível
em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993/7169. Acesso em 18 de abril de
2021.
- POSSAS, Mariana; ALMEIDA, Andrija e Matias, Karla. ‘E daí?‘: Respostas à pandemia e
gestão da morte no Brasil em: Revista Dilemas. Reflexões da pandemia 2020. Disponível em:
https://www.reflexpandemia.org/texto-47. Acesso em 21 de abril de 2021.
Covidímetro. Disponível em: http://www.macae.rj.gov.br/. Acesso em 18 de abril de 2020.
Qual é o gasto diário de saúde do Brasil por habitante? Em: Jornal Estadão 12 de novembro
de 2020. Disponível em: https://summitsaude.estadao.com.br/desafios-no-brasil/qual-e-o-
gasto-diario-de-saude-do-brasil-por-habitante/. Acesso em 20 de abril de 2020.