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Trata-se de um capítulo a ser elaborado para

o livro "Pandemonium: nueva normalidad o


crisis civilizatoria?". Estamos encaminhando
o resumo à sua apreciação por avaliar que,
entre as seções temáticas do livro, aquela
sob sua coordenação é a mais compatível com
o conteúdo do nosso artigo.

Nosso resumo segue em arquivo anexo e também


no corpo deste email. Evidentemente, estamos
nos comprometendo com o envio do artigo
completo no prazo estabelecido.

Ficamos, desde já, à sua disposição para o q


ue estiver ao nosso alcance.

Forte abraço, Igor

Título:
Covid-19: a dialética do negacionismo e a si
ngularidade brasileira

Autores:
Gilberto Maringoni e Igor Fuser

Resumo:
Quais seriam as razões e argumentos para que
o governo brasileiro de Jair Bolsonaro
tenha, desde o início da pandemia, negado
evidências científicas e sanitárias, o que
levou o país a um quadro de descontrole de
infecções? O Brasil não é o único país da
América Latina entre os que apresentam
quadros especialmente graves no contexto da
disseminação da Covid-19, considerando-se
como principal critério o número de mortes
por milhão de habitantes. Mas é o único em
que o governo sabotou, intencionalmente,
desde o início e de forma contínua, todos os
esforços racionais de combate à doença. A
pesquisa buscará descrever o crescimento das
ondas virais, as tentativas de obter
soluções de eficácia duvidosa, como a
imunidade de rebanho, e investigar as
possíveis motivações do governo para seguir
nessa direção, com graves consequências
sanitárias, econômicas, sociais e políticas.
Nossa hipótese é que o bolsonarismo se valeu
da negação de medidas preventivas racionais
– como isolamento espacial, auxílio
financeiro de emergência e vacina – como
fator de coesão e identidade da base social
de apoio ao governo de extrema-direita, a
partir de uma ideia distorcida de coragem e
virilidade e de teorias conspiratórias
contra a Organização Mundial de Saúde e a
China.

2.

Araujo, R. P.; SARMIENTO, E. ; LEAO, K. S. V. S. . A América Latina frente a pandemia do


Covid-19. BOLETIM DO TEMPO PRESENTE, v. 9, p. 1-5, 2020.

Os pesquisadores brasileiros Elize Massard da Fonseca, Nicoli


Nattrass, Lira Luz Benites Lazaro & Francisco Inácio Bastos, no
artigo “Political discourse, denialism and leadership failure in
Brazil’s response to COVID-19” escreveram o seguinte:
Líderes como Bolsonaro são considerados populistas
de direita. Entre eles estão o presidente Rodrigo
Duterte nas Filipinas, o ex-presidente dos Estados
Unidos Donald Trump e Matteo Salvini na Itália. (...)
Os populistas são adeptos de jogar com os medos das
pessoas, muitas vezes usando desinformação para fazer
isso. Particularmente importante para este estudo é o
fato de que os populistas de direita modernos tendem a
"rejeitar evidências científicas, atacar a mídia
independente, questionar a independência judicial e
rejeitar as regras internacionais multilaterais".1

Vacinar a População e Superar Bolsonaro - Para o


Bem do Brasil e da América Latina
15/06/2021

Danielle Araújo*
Carta FoMerco, v. 1, n. 5, maio 2021.
https://www.fomerco.com.br/informativo/view?
TIPO=7&ID_INFORMATIVO=215

Em junho de 2020, o Brasil contava com aproximadamente 30 mil mortos.


Naquele momento, estávamos atônitos e com medo. Agora, em junho de 2021, estamos
com mais de 450 mil mortos. Seguimos com medo, porém, de certa forma acomodados,
algo aconteceu. O que precisamente? O Brasil parece ter entrado numa rota de colisão
com a vida, baile macabro onde as desgraças, antes de serem superadas, são tomadas
por outras.
Historicamente, sabemos que o Brasil tem muitas dívidas com o que chamamos de
democracia, no sentido pleno da palavra. As desigualdades históricas, herdeiras de um
passado colonial escravocrata, se mantêm de forma vívida na realidade brasileira. Nossa
história, porém, sempre oscilou entre apaziguar as contradições . Se, por um lado, havia
tentativas de promover a inclusão social por meio de políticas e programas, ao mesmo
tempo, a concentração de riqueza só aumentava. Expansão do ensino privado, e ainda
assim as universidade públicas seguiam sendo as melhores. Assim, temos um país que,
apesar das desigualdades sociais gigantescas, não deixou de oferecer um sistema de
saúde de cobertura universal. Nos atormentavámos com o presente, sem deixar de
1
Elize Massard da Fonseca, Nicoli Nattrass, Lira Luz Benites Lazaro & Francisco Inácio Bastos (2021): Political
discourse, denialism and leadership failure in Brazil’s response to COVID-19, Global Public Health, DOI:
10.1080/17441692.2021.1945123
sonhar com o futuro, mas de alguma forma o país do amanhã, viu o sonho tornar-
se pesadelo.
O golpe de 2016 provocou uma fratura
institucional inimaginável no Estado brasileiro, e
consequentemente em toda a sociedade. Temos clareza de
que muitos dos problemas que nos assolam não nasceram com o golpe. Há muitas
questões que nos recusamos a encarar como: o racismo estrutural, fundamentado em
questões raciais nas diferenças regionais e na misoginia.
O fruto mais espantoso do golpe de 2016 foi, assim, a chegada ao poder de algo
coisificado, o coiso, dizíamos, que é o misto da insanidade opulência neurótica o mofo
dos porões da ditadura. Não há dúvidas de que a eleição de Bolsonaro foi o resultado de
um grande trauma em que racismo, misoginia e xenofobia foram coadunadas a uma
política ultra neoliberal, que colocou o Estado democrático de direito em situação de
Justo nesse momento de fragilidade somos
risco.
tomados pela maior crise sanitária do século,
a pandemia da Covid-19. O contexto político não
poderia ser pior. A população brasileira foi atacada
de uma só vez por uma doença mortal e, nesse
momento de maior fragilidade, nas mãos de uma
espécie de serial killer com faixa verde e amarela.
Por um lado, sabemos desde o início da pandemia que
as recomendações de isolamento social e
higienização seriam difíceis de cumprir, diante dos
problemas históricos do Brasil. Como solucionar, de
uma hora para outra, casas superlotadas, transporte
urbano precário, mercado informal gigantesco, falta
de saneamento básico, água potável, etc.?
A pandemia também apresentou de forma cruel as
desigualdades internas e externas. No Brasil, as
pesquisas mostraram que o vírus foi mais letal entre
os mais pobres, negros, moradores da periferia e
com baixa escolaridade. Foram nos locais de
pobreza, sejam as favelas urbanas ou nos recônditos
da floresta em embarcações e ônibus lotados, que o
vírus pôde apresentar sua potência. Ele também foi
mais letal entre as mulheres, que são maioria no
mercado informal e as grandes responsáveis pelo
sustento de crianças. Do ponto de vista mundial, observamos países que já
vacinaram grande parte da sua população e outros que não conseguiram adquirir nem a
primeira dose - um apartheid das vacinas, como apontou o presidente da OMS, Tedros
Adhanom.
Por outro lado, embora as demandas da OMS
tenham nos deixado com a sensação de tragédia
iminente, o nosso desafio era e ainda é muito maior.
A postura de Bolsonaro, desde o princípio da
pandemia, foi a de direcionar as pessoas para o
contágio e a possibilidade da morte. Em meio a
uma crise global, que dia-a-dia é agravada, a Covid-
19 foi potencializada como arma biológica para
eliminar populações e condená-las à morte, e não
há outra palavra para nomear tudo isso do que
genocídio.
Com Bolsonaro, a máquina do Estado se torna uma
máquina voltada para o extermínio, seja pelo descaso
intencional, seja pela legalização de mais armas para as
milícias, seja pela liberação de agrotóxicos . E não podemos
esquecer das chacinas onde o extermínio de cidadão pelo
Estado não só é permitido, como leva o nome de
“operação”. O caminho do caos segue seu curso e o exército pesa a mão na
produção de cloroquina, foram mais de 5 milhões, sem contar os 480 mil de
hidroxicloroquina.
A atual Comissão
Parlamentar de Inquérito – CPI, que investiga
as ações do governo durante a pandemia, identificou que cerca de
265 mil medicamentos sem comprovação científica foram
enviados às comunidades indígenas do Acre e Roraima. Enquanto
o Exército produzia cloroquina, o Ministério da Saúde ignorou
cerca de 11 e-mails da Pfizer que tentavam negociar a venda das
vacinas contra a Covid-19 a tempo de iniciar a vacinação em
2020
Além de tomar vacina, o Brasil precisa tomar consciência de que a tragédia que
estamos vivendo tem uma dimensão incomparável e irreparável. Diante desse quadro,
apontar a ignorância do governo, ou seu descaso, é pouco, pois estamos diante da
irracionalidade fascistóide que predomina na gestão de Bolsonaro. Mais do que
descaso, identifico uma articulação entre a crueldade e a
capitalização da morte para insuflar condutas agressivas e
inimagináveis para uma vida em sociedade - passeatas diante de
hospitais, agressões a profissionais de saúde, manifestações pró-
ditadura. Ao aglomerar e desrespeitar regras que protegem e
cuidam da saúde da população, o dito presidente, não nega a
morte, mas a vida. São atos premeditados que nos amordaçam
com o horror.
Vacinar a população e superar Bolsonaro – para o bem do Brasil e da América
Latina — é a missão mais urgente do país, e são ações inseparáveis, realizar uma dessas
ações e deixar a outra de lado implicará na continuidade do teatro de horrores. Com
Bolsonaro, o país tornou-se um pária internacional, totalmente
isolado, em contraste com o que conquistou em fóruns mundiais e regionais em outros
tempos.
Antes do desmonte da UNASUR e do MERCOSUL a América do Sul vinha
ampliando as políticas de integração regional. O Conselho de Saúde da
UNASUR, criminosamente desmontado pelos governos de direita, formulou
importantes diretrizes para a implementação de políticas integradas de saúde pública e
vigilância sanitária entre os países sul-americanos. Da mesma forma o Mercosul, o mais
duradouro bloco regional das Américas, teria um papel importante no combate a
pandemia, seja na área de pesquisa e produção de vacinas, seja na articulação junto à
OMC e aos BRICS para a quebra de patentes, garantindo vacinas para os países mais
pobres do sul global.
Não podemos achar que a vacinação para todos e a retomada da
economia mundial, por si só, será suficiente para a superação dos
traumas deixados pela pandemia e pelo genocida. É irreparável a dor
daqueles que tiveram suas vidas abreviadas, das pessoas que foram
privadas da presença dos entes queridos. Mães que perderam filhos,
filhos que perderam os pais, um país que a cada dia perde a maior de
todas as suas riquezas; milhares de vidas, futuros que se vão. A política
da morte se instala em meio a dores e indiferenças, o luto é o
reconhecimento desde a alma da sensação de perda, sem ele negamos
morte e desvalorizamos a vida. Até o momento, esses gestos de respeito
não chegaram e não chegarão. Diante de tantos traumas, vacina, impeachment
ou voto certo, são os únicos caminhos para retomar a vida, que mesmo com suas
contradições não pode perder a esperança de ser bonita.
Referências
SOARES, L. E. O Brasil e seu duplo: uma discussão sobre os extremismos que marcam o momento
político no país. São Paulo: Todavia, 2019.

Mundo vive apartheid de vacinas contra Covid-19, diz director da OMS. O Globo, São Paulo, 17, maio.
de 2021. Disponível: . Acesso em: 17 de maio.2021.
https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2021/05/17/mundo-vive-apartheid-de-vacinas-contra-covid-19-diz-diretor-da-oms.ghtml

FERREIRA, Victor. O Exército reduziu a produção de medicamentos para transplantados enquanto


fabricava cloroquina. Globo News, São Paulo. 10, maio de 2021. Disponivel: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2021/05/10/exercito-reduziu-

. Acesso em: 17 maio. 2021.


producao-de-medicamento-para-transplantados-enquanto-fabricava-cloroquina.ghtml

PASSARELLI, Vinicius. Registro de novas armas no Brasil quase triplica durante o governo
Bolsonaro. Central Brasileira de Notícias, São Paulo, 15/01/2021. Disponível: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/328780/registro-
de-novas-armas-no-brasil-quase-triplica-d.htm

BRANDALISE , Silvia. O Brasil não pode ser quintal de agrotóxicos banidos, diz médica que trata
câncer infantil. Entrevistadora Dagmara Spautz. NSC Total, Blumenau. 26, mar, de 2019.
Disponível: .
https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/o-brasil-nao-pode-ser-quintal-de-agrotoxicos-banidos-diz-medica-que-trata

América Latina ultrapassa a marca de 1 milhão de mortes por covid-19. CNN Brasil, 23, maio.de 2021.
Disponível: . Acesso em: 23 de maio. 2021.
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/05/23/america-latina-supera-1-milhao-de-mortes-por-covid-19

* Doutora em Antropologia Social e professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana


– UNILA.
Imagem: A nova obra do artista Kobra homenageia as vítimas do coronavírus no mundo e pede fé para
enfrentar a pandemia

Arquivo: AL pandemia e crise.junho

Rir de percalços da vacinação é marca do bolsonarismo


16/06/2021

https://noticias.uol.com.br/colunas/coluna-entendendo-bolsonaro/2021/06/16/rir-de-percalcos-da-vacinacao-e-marca-do-bolsonarismo-online.htm?
fbclid=IwAR2qCMXXObnoCH2SCn1HDRExLIOuEDimpqfXNYz6eQ0KO6MVW7_cjFMqXYc

Enquanto a comunidade científica e as autoridades sanitárias do mundo quebram a


cabeça para entender as curvas epidemiológicas no interior de cada realidade, os
bolsonaristas riem. Para
o bolsonarismo, rir das tragédias é um
marcador de identidade, um gesto de insubordinação e
passo adiante rumo à utopia de um antigoverno. *
Murilo Cleto

Nas últimas semanas, o jornalismo tem se dedicado a repercutir estudos e hipóteses


que ajudam a explicar por que alguns países têm tido dificuldade em controlar a
pandemia, mesmo com uma cobertura vacinal mais ampla. Enquanto Israel e Estados
Unidos, por exemplo, têm conseguido fazer despencar rapidamente a curva de
contaminações e mortes, Chile e Uruguai seguem numa situação difícil. Há algo que
salta aos olhos para quem acompanha o compartilhamento dessas notícias no
Facebook: rigorosamente todas elas são inundadas por reações de
riso. Como se sabe, em 2016 a rede de Mark Zuckerberg liberou cinco opções além
do usual "curtir" para as interações. A ideia era tornar o comando o ma

...........................

O bolsonarismo sempre canta vitória

Muito já se disse sobre o papel da máquina de desinformação bolsonarista, mas é


possível seguir por outro caminho. Não importa o que aconteça, o bolsonarismo
sempre canta vitória. Recorro a um primeiro exemplo mais distante: quando foi
divulgado o conteúdo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020,
depois de um primeiro período de descoordenação, a direita governista passou a
difundir a ideia de que aquelas imagens na verdade teriam garantido, com dois anos e
meio de antecedência, a reeleição do presidente. O que se revelou ali era grave:
Bolsonaro assumia que queria a Polícia Federal (PF) prestando contas de seus atos
pessoalmente a ele. M

Mas os bolsonaristas comemoraram. Estaria ali, com os palavrões e os ataques aos


adversários políticos e demais poderes, a demonstração de que aquele Jair que se
conhecia através das redes sociais e da comunicação institucional era de verdade -
em meio a um sistema de mentira. A bala de prata que a oposição tanto ficou
esperando para enfim obter o impeachment sempre esteve ali. Aliás, antes mesmo da
divulgação do vídeo. Na coletiva que convocou para horas depois do desembarque do
então ministro da Justiça Sergio Moro, Bolsonaro já tinha dito que queria interferir na
PF, sim. Ele nunca se defendeu.

O bolsonarismo nunca se defende. O bolsonarismo não se explica


nem se defende porque isso seria se submeter ao escrutínio da
opinião pública. Seria reconhecer a legitimidade dos órgãos de
vigilância e os freios e contrapesos de uma democracia funcional.
Mas, aos bolsonaristas, uma democracia funcional não
interessa. É na crise generalizada que eles se criam - e é
apostando no aprofundamento dela que se perpetuam. Além da reunião
ministerial, há outros exemplos ainda mais excêntricos de comemoração bolsonarista.
Quando, no ano passado, a inflação de alimentos disparou, os
governistas disseram tratar-se de um desdobramento natural das
medidas de isolamento social para conter o avanço da covid-19 -
medidas essas a que eles sempre se opuseram. Essa também teria sido
a causa da debandada da montadora Ford do Brasil.

Quando surgem notícias de atrasos na vacinação de outros países,


os bolsonaristas comemoram. Já por aqui, eles não prestam contas
sobre os atrasos, os e-mails da Pfizer, nada disso. O que fazem é, com
esses ganchos, debochar de quem cobra algo de Brasília. Daqui a uns anos, é
possível que uma comemoração em particular seja lembrada como representativa dos
tempos atuais. O
presidente também celebrou quando um
voluntário dos testes da Coronavac morreu. "Mais uma que
Bolsonaro ganha", comentou sobre a interrupção dos
testes com o imunizante desenvolvido pelo laboratório
Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, do governo
do estado de São Paulo - a mesma vacina que, dois meses
atrás, era responsável por 80% dos imunizados contra a
covid no Brasil.
(...)

Mas quem deve explicações são os outros. O bolsonarismo, nunca. Quando o


presidente foi questionado sobre os gastos literalmente milionários de suas férias,
Bolsonaro prometeu gastar mais. Não raro, todas essas notícias mencionadas acima
vêm acompanhadas de muitas risadas. Uma primeira hipótese para esse
comportamento, portanto, é que o "haha" apareceu como uma oportunidade para a
direita governista jogar esse jogo de, como uma torcida na arquibancada, comemorar
tudo que acontece em campo como se fosse um gol a favor. Tomou gol? Comemora.
Cartão? Também. É por isso que o presidente tem gostado tanto das tais "motociatas".
Elas lhe dão as imagens perfeitas para o seu propósito, quque é comemorar sempre.
É como se Bolsonaro estivesse, a todo instante, dando uma volta olímpica. Nesse
sentido, os passeios de moto parecem ter renovado aquele espírito de marcha que
vinha perdendo força nas ruas. Sem dúvidas, trata-se de um
duplo
movimento: mostrar-se pequeno demais diante do sistema, que
teoricamente ele combate, mas grande o suficiente para ser
carregado por multidões, a imagem clássica do "pequeno-
grande homem" descrita por Theodor Adorno em sua análise
da propaganda fascista. São essas multidões, aliás, a cada dia
mais fanatizadas que o blindam de prestar contas sobre
qualquer coisa - como não vai prestar sobre o volume escandaloso de recurso
público injetado na realização desses comícios fora de época. Por mais que se
incomode, o bolsonarismo comemora as críticas e cobranças porque as toma como
evidência de que o presidente está no caminho certo. Isso é o que basta para que se
considerem com a razão. Ao clicar na carinha do riso diante dessas notícias críticas ao
governo, o que faz o bolsonarismo é, primeiro, enviar uma mensagem de insubmissão,
ou seja, não reconhecer a legitimidade do emissor e, segundo, filtrar o consumo da
notícia para quem chegar depois, já possivelmente influenciado pela reação que
acompanha o post matriz.

A utopia bolsonarista
Mas tem mais. Numa publicação de maio, o filósofo Moysés Pinto Neto sintetizou
assim a estratégia da nova extrema-direita brasileira: "governar
é
desgovernar. É preciso se infiltrar em todos os órgãos de estado e
desativá-los por dentro, criando os 'antiministros' cuja única função
é liberar as forças sociais destrutivas dos seus obstáculos formais
para que a força prevaleça"
Exemplos não faltam. Ricardo Salles, do Meio Ambiente, é investigado por atuar em
favor de quem desmata ilegalmente a Amazônia; o ex-chanceler Ernesto Araújo criou
mais inimigos do que parceiros pelo mundo; Abraham Weintraub, ex-ministro da
Educação, odiava visceralmente as universidades públicas. O
Brasil já teve
inúmeros ministros ruins. Mas esse não é o caso. O primeiro
escalão do governo Bolsonaro é composto por antiministros,
de fato. Seu papel é destruir aquilo que sua pasta deveria
tomar conta.
Na piauí de maio, Miguel Lago foi além: "Bolsonaro deseja uma sociedade pré-
hobbesiana, aquela que não precisa de nada nem ninguém. Uma sociedade onde
os mais fortes mandam e podem recorrer a qualquer recurso para fazer valer o
gozo de seus impulsos". O professor da Universidade de Columbia repercute, no
mesmo texto, as reflexões de Roberto Andrés sobre o fenômeno.

Em diferentes artigos, Andrés trata sobre a obsessão que os bolsonaristas têm com o
trânsito e com os limites legais que insistem em igualar os "cidadãos de bem" aos
meros cidadãos que estão do lado de fora dos muros do Vivendas da Barra. Eis um
dos grandes marcadores de diferença, segundo Lago, entre essa nova extrema-direita
e os movimentos fascistas históricos: "o nazismo e o fascismo são construções
coletivas - abomináveis, sim, mas ainda assim construções coletivas. O bolsonarismo
é a desconstrução de qualquer forma de coletividade". Quando chegou a
pandemia, o bolsonarismo se viu diante da maior oportunidade para mostrar a que
veio. Não surpreende, portanto, que Luiz Henrique Mandetta tenha caído
justamente quando resolveu aparecer como um ministro de verdade. Como
demonstra em detalhes o relatório do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito

Sanitário ( CEPEDISA), da USP, o governo Bolsonaro apostou todas as fichas


que tinha na tentativa de promover a chamada "imunidade de rebanho",
defendida por diversos conselheiros no Planalto. A ideia era simples: deixar o vírus
correr solto para contaminar o maior número possível de brasileiros e, assim,
garantir a sobrevivência dos mais fortes, que, imunes, tocariam a vida adiante.
Bolsonaro retardou repasses a outros entes federativos; fez campanha contra
vacinas; sabotou medidas de isolamento; pagou - só porque foi pressionado -
parcas indenizações a empresas e trabalhadores para que ficassem em casa;
desaconselhou o uso de máscaras; debochou de doentes; chamou a comoção
de frescura; e perguntou até quando vamos ficar chorando. Se o presidente está
atrás de um novo programa de transferência de renda, é porque entende que precisa
dele para ser reeleito e manter o projeto de destruição em marcha. Não faz muito
tempo que, mesmo pagando e eventualmente capitalizando sobre ele, sugeriu que o
que o auxílio emergencial produz um "povo dominado". Além da rebeldia, portanto,
os "haha" distribuídos às pencas no Facebook têm outro elemento em comum.
Eles estão por toda parte, é verdade, mas sobretudo em notícias que repercutem
percalços do enfrentamento à pandemia. Nas que versam sobre a persistência
no número de mortes e infecções, apesar da vacinação, elas são quase
predominantes.Enquanto a comunidade científica e as autoridades
sanitárias do mundo quebram a cabeça para entender as curvas
epidemiológicas no interior de cada realidade - considerando
eficácia de imunizantes, taxas de isolamento, práticas culturais,
fatores sociopolíticos etc. -, os bolsonaristas riem .
. No caso específico dos contratempos envolvendo vacinas, especialmente a
Coronavac, o deboche cumpre essa dupla função: rejeitar a
legitimidade de todos esses esforços de imprensa e ciência no combate à pandemia e
comemorar, a posteriori, uma batalha narrativa que havia sido perdida, com a adesão
em massa da população brasileira aos imunizantes depois de um primeiro momento
de desconfiança - elevada a níveis sem precedentes graças à campanha surrealmente
patrocinada pelo governo. O
que para qualquer grupamento
partidário poderia significar um suicídio político - rir de
milhares de mortes todos os dias -, para os bolsonaristas é
um marcador de identidade. A nova extrema-direita ri de quem tenta
encontrar uma solução para as mazelas do mundo porque sempre está em vantagem,
já que usa qualquer deslize do sistema como combustível. Como não tem nada a
propor, mas só a desativar na estrutura do Estado, o bolsonarismo nada de braçada
em meio ao caos e usa todo contratempo como uma evidência de que sempre esteve
É como se dissessem: "ocorreu algo de
certo sobre não fazer nada.
errado no combate à pandemia, mas quem disse que era
para combatê-la?". Em março, uma reportagem da revista Veja
contou os bastidores da relação de Bolsonaro com os mais
próximos em Brasília: "O presidente não governa. Passa os dias a
contar piadas no palácio", disse um ministro. Ninguém pode acusá-
lo de incoerência. *
Murilo Cleto é historiador, especialista em História Cultural, mestre em Ciências
Humanas: Cultura e Sociedade e pesquisador das novas direitas no Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade Federal do Paraná

https://noticias.uol.com.br/colunas/kennedy-alencar/2021/05/27/pais-tem-menos-vacinas-e-mais-mortes-devido-a-bolsonaro-prova-dimas-
covas.htm?utm_source=facebook&utm_medium=social-
media&utm_campaign=noticias&utm_content=geral&fbclid=IwAR2TyxgnYSQ8_Q1ZaHsT2Z-1LRmT2WY6bstm0bw7zVRbidxiENY5R5eKUN0
https://revistaforum.com.br/politica/chioro-de-acordo-com-dimas-covas-poderiamos-ter-evitado-no-minimo-250-mil-obitos-so-com-a-coronavac/?
fbclid=IwAR3nxqAAJLgrC5KwbACQ8POQYp_tkiJ3_wZo6E4CxhFLXaqaCeRaLed2cTg

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/08/como-o-brasil-se-compara-a-outros-
paises-em-mortes-por-covid-casos-confirmados-e-vacinas-aplicadas.ghtml

https://jornal.usp.br/universidade/desinformacao-sobre-vacina-da-covid-19-aumenta-
com-o-inicio-da-imunizacao/

Após a OMS declarar o início da pandemia em março de 2020, o Presidente do Brasil, Jair
Bolsonaro, fez um pronunciamento em 24/03/2020 incentivando a abertura de comércios e
escolas, indo contra as indicações dos cientistas em relação ao isolamento social. Segundo a
CNN entre março e abril do mesmo ano, o índice de isolamento social caiu na grande
maioria dos estados, e segundo dados do painel coronavírus e do site inloco, percebe-se
que as
regiões com maiores taxas de incidência e mortalidade
por milhão de habitantes são as regiões com estados com
menor índice de isolamento. Pode-se concluir que as medidas negacionistas
tomadas levaram a uma maior disseminação da doença.

Outra ação anticientífica foi a desinformação em relação a vacina. A união pró-vacina, uma
iniciativa do Instituto de Estudos Avançados que monitora grupos de antivacina na internet,
relatou 368 publicações com alegações falsas sobre a vacina, como a falta de eficácia, supostos
perigos, conspirações políticas envolvendo os imunizantes, entre outros. A disseminação dessas
notícias desencoraja as pessoas a se imunizarem contra o vírus, e a recusa quanto a vacina pode
levar a um novo surto da doença, como já foi provado em 1908.

Em suma, o posicion

https://agencia.fapesp.br/negacionismo-cientifico-a-producao-politica-e-cultural-de-
desinformacao/34028/

Brasil: pandemia, crise política e judicialização


LEONARDO AVRITZER
https://latinoamerica21.com/br/brasil-pandemia-crise-politica-e-judicializacao/

11 MAIO, 2021

O Brasil está imerso em várias crises. A primeira e mais importante é a crise da democracia. Após
décadas de construção democrática bem-sucedida, gerada pelo consenso em torno dos resultados
eleitorais, a capacidade de implementar políticas sociais bem-sucedidas e maior confiança na democracia.
Todos estes elementos se desintegraram rapidamente após o processo de impeachment da ex-presidenta
Dilma Rousseff, cujo ponto de partida foi o não reconhecimento dos resultados das eleições de 2014.
O processo de erosão da confiança na democracia foi também um processo de hiper-expansão das
prerrogativas do sistema judiciário e das instituições de controle , muito além da
desejada e necessária autonomia para a democracia. A Suprema Corte, especialmente, acumulou
prerrogativas a partir de 2012 e começou a usar essas prerrogativas politicamente. Enquanto isso, a
Operação Lava Jato, inicialmente uma operação anticorrupção, tornou-se uma operação
fortemente politizada. Nas eleições presidenciais de 2014 e 2018, o Juiz Sérgio Moro
agiu politicamente.

O problema militar

Finalmente, ressurge o problema militar. O Brasil deixou o problema da interferência militar


na política sem solução durante sua transição para a democracia. O artigo 142 da Constituição permite a
intervenção dos militares para garantir a lei e a ordem. Desde a desastrosa missão no Haiti, a liderança de
um setor antidemocrático nas Forças Armadas foi fortalecida. Os generais Braga Netto e Augusto
Heleno (este último acusado de graves violações dos direitos humanos no Haiti)
ganharam proeminência na liderança das Forças Armadas, que hoje entra na arena
política e exerce pressão sobre as instituições democráticas.

Jair Bolsonaro e seu governo são o resultado destas formas de relativização


da democracia pelas elites políticas, judiciais e militares no Brasil. Bolsonaro
foi uma figura política inexpressiva até 2017. Até então, o bolsonarismo era mais um movimento do que
uma forma de governo e a candidatura do capitão aposentado era vista como uma candidatura de protesto.

Bolsonaro catapultou-se para o centro da cena política em alguns episódios: no julgamento do


impeachment da ex-presidente Dilma, ele ganhou destaque ao defender a memória do torturador Carlos
Alberto Brilhante Ustra; no episódio do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula da Silva, ele
fez parte da articulação do Estado-Maior das Forças Armadas que pressionou a Suprema Corte.
Finalmente, Bolsonaro e sua comitiva se beneficiaram da intervenção militar no Rio de Janeiro e do
grande impulso para as políticas das milícias que ele tornou possível.

O problema de Jair Bolsonaro desde o início de seu governo tem sido estabelecer alguma relação entre o
movimento para atacar o sistema político que ele dirigia e algo que expressasse minimamente uma certa
capacidade de governar. Bolsonaro trouxe poucos políticos com qualquer capacidade gerencial para seu
ministério como Sérgio Moro, Onix Lorenzoni ou Luís Henrique Mandetta, mas quase imediatamente o
foco da ação governamental foi em ministros fortemente ideológicos como o ex-ministro da Educação
Abraham Weintraub ou o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.

A política de Bolsonaro durante a pandemia

Desde o início da pandemia do coronavírus, a ideia de substituir políticas


públicas metódicas por formas ideológicas de gestão tem impactado o
Ministério da Saúde com resultados trágicos para a população brasileira.
Bolsonaro havia nomeado Luiz Henrique Mandetta para o Ministério da Saúde, um ministro com perfil
centrista e formação técnica na área, em absoluta dissonância com quase todos os outros membros de
seu ministério. Assim, a crise do coronavírus caiu nas mãos de um ministro centrista, em um governo
que quase não tem centristas, e de um ministro com capacidade técnica.

Jair Bolsonaro investiu para interromper a resposta brasileira à pandemia. Primeiro, ele investiu contra
a política de isolamento social e, em 16 de abril de 2020, o capitão conseguiu implementar sua
política anti-vida com a demissão do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

Após a posse do novo ministro, General Eduardo Pazuello, o governo


desativou as inter-relações federais no momento decisivo da luta contra a
Covid-19, depois concordou em prescrever à população remédios de
eficácia não comprovada e finalmente desorganizou completamente a
campanha de vacinação no país. O resultado, ou mortes, não demorou a aparecer e até este
momento o Brasil está vivendo sua maior crise de saúde, que é também uma crise
política.

O governo Bolsonaro enfrenta dois conflitos que já selaram seu destino como um governo fraco: um
conflito com o Congresso e um conflito com a Suprema Corte. Bolsonaro
teve episódios diferentes com o Congresso durante seus dois anos no cargo. No início da administração
do capitão, a tensão entre o governo e o Congresso estava sobre as agendas relacionadas com armas e
educação superior, ao mesmo tempo em que o presidente da Câmara viabilizava a agenda econômica do
bolsonarismo.

Estamos vivendo agora um confronto de dimensões muito maiores: com a abertura de uma comissão de
investigação no Senado, a oposição e os membros independentes da Câmara estão assumindo a liderança
nas investigações sobre o desempenho do presidente e de seus ministros na pandemia.

O segundo conflito do presidente é com a Suprema Corte. No primeiro ano de governo,


a Suprema Corte manteve uma posição de equidistância do governo, intervindo ocasionalmente em
alguns conflitos. Com
o início da pandemia, os conflitos entre a Suprema Corte
e o governo Bolsonaro se intensificaram, especialmente após a decisão da
corte em favor da autonomia dos governadores e prefeitos para lidar com a
pandemia. A relação tornou-se ainda mais tensa com as ações do decano da corte em relação à
interferência política do presidente.

Estes dois conflitos que o Presidente Jair Bolsonaro enfrenta são incomuns em uma democracia em
funcionamento. São a expressão de um populismo autoritário que procura reforçar as ações de um
presidente que não tem nenhuma preocupação com a governança ou que a transformou em
opiniões sobre a pandemia, a vacinação e o pacto federal.

Leia mais no texto original: (https://www.poder360.com.br/coronavirus/governo-se-empenhou-em-disseminar-covid-19-diz-usp-em-estudo-para-


cpi/)
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ENTREVISTA FAPESP SOBRE NEGACIONISMO E IGNORÃNCIA

Negacionismo científico: a produção política e cultural de desinformação


02 de setembro de 2020




Karina Toledo | Agência FAPESP – Antes restrito a grupos articulados em torno de interesses religiosos ou econômicos específicos e aos
amantes de teorias da conspiração, o negacionismo científico tem ganhado corações e mentes nos últimos anos por intermédio das redes sociais.
Com a chegada da COVID-19, o fenômeno se intensifico
(...)

eria esse processo de institucionalização do negacionismo na figura de líderes políticos comprometido a eficácia das medidas de combate à
pandemia em países como Brasil, Estados Unidos e Reino Unido? Essa é a hipótese que vem sendo investigada pelo pesquisador da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) Renan Leonel, em parceria com colegas da Columbia University (Estados Unidos) e da
University of Vienna (Áustria).
O projeto, intitulado Viral agnotology: COVID-19 denialism amidst the pandemic in Brazil, United Kingdom, and United States (Agnotologia viral:
negação da COVID-19 em meio à pandemia no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos)

Partimos do pressuposto que esse comportamento estaria relacionado com a produção de desinformação e com o surgimento de um novo
movimento: o negacionismo científico como política de Estado, incorporado no discurso oficial. Levantamos então a hipótese de que esse
processo de oficialização do negacionismo na figura de líderes políticos teria comprometido, nesses três países, a eficácia das medidas de
combate à pandemia

(..)

Por que o impacto da desinformação foi maior aqui?


Leonel – O Brasil foi o mais impactado pela produção sistemática de desinformação por ter uma educação para a ciência bem menos consolidada
que a britânica e norte-americana, além de uma população com menos anos de estudo em média. Além disso, os instrumentos de comunicação
científica, que são necessários para contrabalancear a produção de ignorância e fazer a informação chegar até as pessoas, são mais frágeis no
país. Nosso levantamento mostra que os jornais brasileiros não tinham uma abordagem sólida no que se refere às evidências científicas sobre o
novo coronavírus. Boa parte da comunicação científica no Brasil foi feita por pessoas de fora dos órgãos oficiais, como youtubers, blogueiros e
comentaristas convidados pelos veículos de imprensa. Os Estados Unidos têm meios de comunicação científica bem mais antigos e estruturados,
o que se deve ao fato de terem um sistema nacional de ciência e tecnologia bem maior e que recebe muito mais dinheiro. Mas os dois países são
semelhantes no que se refere à desconfiança da população na comunicação científica oficial, ou seja, na ciência comunicada pela grande mídia.

(...) produção de ignorância parece aumentar sempre que há um desgaste histórico na parceria entre governantes e cientistas, pois isso
compromete a comunicação científica. A desinformação, portanto, não é uma consequência das redes sociais. A natureza do conteúdo não
mudou, mas as mídias digitais aceleraram sua disseminação e elevaram o patamar de alcance, possibilitando um impacto muito maior. Hoje é
muito fácil encontrar na internet material com ou sem base científica para falar sobre qualquer coisa. E as pessoas compartilham essas
informações muitas vezes sem qualquer referência sobre a autoria ou qualquer controle sobre a veracidade do conteúdo. As próprias redes sociais
se transformaram em um ator – um ator técnico, não humano – que interfere na disseminação do conhecimento. A teoria sociológica propõe a
existência de grupos responsáveis por controlar a produção e a disseminação de conhecimento na sociedade e fazer a governança da
desinformação. Mas esses atores parecem ter perdido o controle em tempos de redes sociais. Embora a produção de ignorância não seja
originalmente minha área de estudo, me interessei em propor esse projeto por entender que a produção de ignorância em si está se tornando um
ator que pode comprometer os instrumentos de produção do conhecimento.

(...) https://agencia.fapesp.br/negacionismo-cientifico-a-producao-politica-e-cultural-de-desinformacao/34028/

..............................

Pandemia, desigualdade e geopolítica


ANDRÉS SERBIN

A pandemia tem causado o maior dano econômico, político e social à humanidade desde a Segunda Guerra Mundial.
Em nível internacional, a primeira – e mais óbvia – vítima tem sido a cooperação internacional e sua capacidade de
fornecer os bens públicos globais necessários. Particularmente em um mundo caracterizado por desigualdades entre
os habitantes do planeta e entre as nações.

A América Latina e o Caribe são as regiões em desenvolvimento mais afetadas pela pandemia. Elas representam 8,4%
da população mundial, mas concentra 30% das mortes por COVID-19 e sofrem sua pior contração do PIB, com uma
queda de 7,7% em 2020.

A pandemia causou o fechamento de 2,7 milhões de empresas, com uma destruição dramática do emprego que afeta
principalmente jovens e mulheres e uma queda drástica no comércio, nos investimentos estrangeiros e nas remessas
de dinheiro.

Como consequência desta deterioração das economias da região, a desigualdade e a pobreza têm aumentado.
Enquanto nos anos anteriores a América Latina havia conseguido reduzir a pobreza, de 45,2% da população em 2001
para 30,3% em 2019, como resultado da pandemia o número de pessoas pobres na região aumentará em 28,7 milhões,
atingindo 33% de sua população total.

Em termos gerais, como aponta um relatório da CEPAL, o impacto da pandemia na região tem sido brutal e tem
ampliado as lacunas estruturais na desigualdade, afetando, em particular, os setores mais vulneráveis da sociedade.

Mas o mundo todo está enfrentando uma pandemia ampliada pela desigualdade social, o que requer um estudo
profundo não só das causas estruturais que levaram a este impacto desigual em cada sociedade, mas também dos
vários efeitos da transição que vive o sistema internacional.

A desigualdade que caracteriza a América Latina e que tem levado à propagação da pandemia devido à falta de
suprimentos médicos e vacinas que contribuam para uma resposta de saúde consistente não é exclusiva da região.

A assimetria entre nações em seu acesso a esses elementos a nível mundial também marca a dinâmica global atual.
Um nacionalismo das vacinas emerge nas nações economicamente mais poderosas que acumulam suprimentos
médicos em excesso, exacerbando a escassez de vacinas entre as nações marginalizadas e a distância entre o mundo
desenvolvido e o mundo em desenvolvimento. Os países ricos têm 14% da população mundial, mas adquiriram mais da
metade das doses de vacinas disponíveis para comercialização.

Neste contexto, dada a escassez de vacinas na América Latina devido à produção insuficiente e à acumulação pelos
países ricos, entra em jogo -com todo o seu peso– a geopolítica das vacinas.

Em uma região devastada pela desigualdade e pela ausência de recursos sanitários, a “diplomacia das vacinas” gera
uma debandada para fornecer um bem público global e reforçar o “poder brando” de algumas potências.

O vácuo deixado pelas nações ocidentais e algumas grandes corporações farmacêuticas na assistência à região está
sendo preenchido pela crescente presença e influência da Rússia e da China, e até mesmo da Índia, atualmente em
meio a uma catástrofe sanitária.

Um fato que não escapa do crescente peso da Eurásia no processo de deslocamento do dinamismo econômico
mundial e da influência política e projeção do Ocidente para o Oriente.

Mas as desigualdades persistem -tanto dentro das sociedades latino-americanas quanto no âmbito do sistema
internacional- enquanto, parafraseando von Clausewitz, a saúde pública global parece ser a continuação da política
por outros meios.

https://latinoamerica21.com/es/lucha-por-la-igualdad-o-agenda-globalista-para-diezmar-la-poblacion-mundial/

24 JUNIO, 2020

¿Una agenda globalista para diezmar la población mundial?


JUAN DANIEL ELORZA

Desde hace algunos años las calles de las principales ciudades latinoamericanas vienen siendo el escenario de
multitudinarias manifestaciones para denunciar y detener un supuesto plan macabro que pretende, entre otras cosas,
diezmar la población mundial, subvertir la naturaleza humana mediante mentiras anticientíficas, adoctrinar y
corromper a la infancia, acabar con las libertades civiles, destruir a la familia y desmantelar la dignidad humana. Se
trata de marchas en contra de una Agenda globalista autoritaria que impone una presunta “Ideología de Género”. El
relato sobre tal imposición es capaz de movilizar personas de una amplia variedad de estratos de la población, y
aunque no se pueda afirmar que todas ellas estén al tanto de los motivos para los que son sacadas a la calle, sí es
posible sostener que lo hacen comprometidas con una cruzada moral por la vida, la niñez y la familia. Esta cruzada ha
de ser librada en América Latina, el último baluarte en pie, toda vez que en las democracias del llamado Primer mundo
esta batalla ya está perdida.

La amplia capacidad de convocatoria de estos movimientos anti Ideología de Género depende de que sus
reivindicaciones no sean políticas sino morales, pero mirando con atención comprobamos que los artífices de tales
marchas y denuncias son plataformas vinculadas a potentes lobbies políticos y a organizaciones religiosas con
representación parlamentaria. Varios de estos foros de la familia, organizaciones provida y colectivos por la defensa
de los hijos han logrado trascender fronteras; hoy las democracias latinoamericanas experimentan la construcción de
redes transnacionales de movilización que van conquistando amplias cuotas de poder dentro de los diversos sistemas
nacionales. Como toda manifestación ciudadana, éstas también son una demostración de fuerza, lo que se traduce en
votos, no siempre puestos a disposición de proyectos democráticos. Basta recordar cómo este discurso fue definitivo
para el rechazo del llamado Plebiscito por la Paz en Colombia o para la elección del presidente Bolsonaro en Brasil.
Resulta bastante singular la composición del bando que acusa la existencia de una Ideología de Género. Bajo este
paraguas se dan cita tanto los sectores más conservadores de la sociedad cercanos a la iglesia católica y a las
denominaciones protestantes, como los sectores más liberales que abogan por la reducción del estado y su no
intromisión en las relaciones sociales y familiares. Las alianzas aquí no se tejen en términos de derecha/izquierda. Los
promotores teóricos de este movimiento propagan el discurso virulento, catastrofista y polarizador que tanto gusta en
las redes sociales. Pastores evangélicos, ultracatólicos militantes o locuaces anarcocapitalistas, hasta hace poco
desconocidos, han logrado gran predicamento mediático a cuenta de sus encendidas arengas en contra de la Ideología
de Género. Y como los algoritmos no entienden de justicia sino de clicks, no se ha dudado en utilizar el miedo, la
exageración, la tergiversación y la manipulación teórica.

Llama la atención cómo opera el relato de la ʹconstrucción del enemigo ʹ por parte de estos actores y su capacidad de
incluir fenómenos muy distintos y a veces incompatibles en un gran bloque monolítico que llaman “Lobby de género”.
En éste queda incluido todo lo que huela a feminismo, los colectivos LGTBIQ+, quienes abogan por el control de la
natalidad o por la descriminalización del aborto, las personas que luchan por erradicar la violencia machista, las que
pretenden educar en la no discriminación, y la llamada Nueva Izquierda. En esta narrativa también son adversarios
los mass media, las Naciones Unidas, los gobiernos que han aprobado leyes a favor de la igualdad o de salud sexual y
reproductiva, o políticas públicas contra la discriminación y, por supuesto, los magnates George Soros y Bill Gates.
El enemigo entonces es una gran variedad de cosas que conforman lo que se ha bautizado como “Dictadura global de
género”. Así, en la lógica de la cruzada, toda persona que luche contra una dictadura queda redimida por el halo de la
legítima resistencia a la opresión.

La consecuencia más peligrosa de esto es la gran polarización social que se está consiguiendo mediante una versión
simplificada de la realidad, fácil de digerir para la persona bien intencionada y poco informada, pero que mete en el
mismo saco fenómenos muy diferentes, demonizando luchas históricas por la justicia social. Según esta versión,
reconocer derechos de las minorías equivale a aplastar los de las mayorías, ya que se considera que la mera igualdad
formal ante la ley es suficiente y que las voces por la igualdad real y efectiva no son más que cantos de
adoctrinamiento e ingeniería social.

Este escenario de polarización toma la forma de una auténtica guerra cultural.

Este escenario de polarización toma la forma de una auténtica guerra cultural. Pero hay que reconocer que, en buena
parte, esta guerra fue declarada como reacción al surgimiento, en el seno del propio feminismo, de las teorías
deconstructivas de género que entronizan en el centro de su pensamiento a la inconsistente dicotomía
naturaleza/cultura y convierten la política de la sexualidad en política de las identidades de género, radicalizando y
desenfocando las posturas de los movimientos sociales por la igualdad. Este activismo se decantó por una actitud
más beligerante que disidente, retando con sus formas a las fuerzas más reaccionarias de nuestras sociedades. El
desafío fue aceptado y la herejía declarada; el durmiente ha despertado. Hoy, las tesis filosóficas sobre el sistema
sexo/género son sacadas de contexto y adulteradas para azuzar el miedo frente a la descomposición social y
antropológica y, paradójicamente, este clima de confrontación pone en riesgo las justas conquistas históricas del
movimiento feminista.

Quienes entran en la batalla para defender tales conquistas suelen enrocarse en una estrategia discursiva equivocada:
limitarse a negar que exista cosa tal como una “Ideología de Género” y afirmar que lo que suscriben es una
“perspectiva de género”. Esta estrategia implica entrar al juego de la polarización y sólo consigue que un debate
social tan importante termine relegado al plano meramente terminológico. Pues, aunque aquel rótulo haya sido
acuñado para caricaturizar al enemigo, desmontarlo exige presentar una definición de “ideología”, pero el actual
estiramiento conceptual del término hace que esa defensa acabe siendo necesariamente ideológica. Y es que resulta
paradójico que, tanto ultraconservadores como ultraliberales, los dos mayores rivales de Marx, terminen acogiéndose
precisamente a la noción marxista de ideología como “falsa conciencia” para denostar a su enemigo. Sin embargo, la
generalización de esta emotiva palabreja puede ser aprovechada para despojarla de sus connotaciones peyorativas y
polarizadoras.

A mi juicio, los movimientos por la igualdad bien podrían apropiarse de la expresión Ideología de Género para
resignificarla, como hicieron en los noventa con en término queer (marica). De lo contrario, seguirán enzarzados en
infructuosas batallitas dialécticas perdiendo oportunidades de oro para explicar a las sociedades latinoamericanas
que la defensa de la igualdad y la no discriminación es algo valioso en sí mismo. Mientras eso no suceda, la narrativa
apocalíptica de una oscura agenda para diezmar la población mundial seguirá ganando adeptos que pondrán sus votos
al servicio de los fines que sus movilizadores decidan.

https://latinoamerica21.com/br/pandemia-desigualdade-e-geopolitica/

25 MAIO, 2021

GRAGNANI, Juliana. Por que dizer ‘tomei cloroquina e por isso me curei’, como faz Bolsonaro, é uma ‘falácia’ e não prova nada. BBC, Londres, 27, de agosto
de 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-53896553>. Acesso em: 02, de novembro de 2021.

RUDDY, Jefferson. ‘Sobram estudos mostrando que kit-covid não funciona’, diz Natalia Pasternak à CPI. Senado Notícias, Brasília, 11, de junho de 2021.
Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/06/11/sobram-estudos-mostrando-que-kit-covid-nao-funciona-diz-natalia-pasternak-a-cpi>.
Acesso em: 02, de novembro de 2021.
https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2019/01/16/alerta-maximo-contra-pseudociencias (acesso: 24/10/2021)

https://jornal.usp.br/atualidades/pesquisadora-esclarece-riscos-gerados-pelas-pseudociencias/ (acesso: 24/10/2021

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