Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Título:
Covid-19: a dialética do negacionismo e a si
ngularidade brasileira
Autores:
Gilberto Maringoni e Igor Fuser
Resumo:
Quais seriam as razões e argumentos para que
o governo brasileiro de Jair Bolsonaro
tenha, desde o início da pandemia, negado
evidências científicas e sanitárias, o que
levou o país a um quadro de descontrole de
infecções? O Brasil não é o único país da
América Latina entre os que apresentam
quadros especialmente graves no contexto da
disseminação da Covid-19, considerando-se
como principal critério o número de mortes
por milhão de habitantes. Mas é o único em
que o governo sabotou, intencionalmente,
desde o início e de forma contínua, todos os
esforços racionais de combate à doença. A
pesquisa buscará descrever o crescimento das
ondas virais, as tentativas de obter
soluções de eficácia duvidosa, como a
imunidade de rebanho, e investigar as
possíveis motivações do governo para seguir
nessa direção, com graves consequências
sanitárias, econômicas, sociais e políticas.
Nossa hipótese é que o bolsonarismo se valeu
da negação de medidas preventivas racionais
– como isolamento espacial, auxílio
financeiro de emergência e vacina – como
fator de coesão e identidade da base social
de apoio ao governo de extrema-direita, a
partir de uma ideia distorcida de coragem e
virilidade e de teorias conspiratórias
contra a Organização Mundial de Saúde e a
China.
2.
Danielle Araújo*
Carta FoMerco, v. 1, n. 5, maio 2021.
https://www.fomerco.com.br/informativo/view?
TIPO=7&ID_INFORMATIVO=215
Mundo vive apartheid de vacinas contra Covid-19, diz director da OMS. O Globo, São Paulo, 17, maio.
de 2021. Disponível: . Acesso em: 17 de maio.2021.
https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2021/05/17/mundo-vive-apartheid-de-vacinas-contra-covid-19-diz-diretor-da-oms.ghtml
PASSARELLI, Vinicius. Registro de novas armas no Brasil quase triplica durante o governo
Bolsonaro. Central Brasileira de Notícias, São Paulo, 15/01/2021. Disponível: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/328780/registro-
de-novas-armas-no-brasil-quase-triplica-d.htm
BRANDALISE , Silvia. O Brasil não pode ser quintal de agrotóxicos banidos, diz médica que trata
câncer infantil. Entrevistadora Dagmara Spautz. NSC Total, Blumenau. 26, mar, de 2019.
Disponível: .
https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/o-brasil-nao-pode-ser-quintal-de-agrotoxicos-banidos-diz-medica-que-trata
América Latina ultrapassa a marca de 1 milhão de mortes por covid-19. CNN Brasil, 23, maio.de 2021.
Disponível: . Acesso em: 23 de maio. 2021.
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/05/23/america-latina-supera-1-milhao-de-mortes-por-covid-19
https://noticias.uol.com.br/colunas/coluna-entendendo-bolsonaro/2021/06/16/rir-de-percalcos-da-vacinacao-e-marca-do-bolsonarismo-online.htm?
fbclid=IwAR2qCMXXObnoCH2SCn1HDRExLIOuEDimpqfXNYz6eQ0KO6MVW7_cjFMqXYc
...........................
A utopia bolsonarista
Mas tem mais. Numa publicação de maio, o filósofo Moysés Pinto Neto sintetizou
assim a estratégia da nova extrema-direita brasileira: "governar
é
desgovernar. É preciso se infiltrar em todos os órgãos de estado e
desativá-los por dentro, criando os 'antiministros' cuja única função
é liberar as forças sociais destrutivas dos seus obstáculos formais
para que a força prevaleça"
Exemplos não faltam. Ricardo Salles, do Meio Ambiente, é investigado por atuar em
favor de quem desmata ilegalmente a Amazônia; o ex-chanceler Ernesto Araújo criou
mais inimigos do que parceiros pelo mundo; Abraham Weintraub, ex-ministro da
Educação, odiava visceralmente as universidades públicas. O
Brasil já teve
inúmeros ministros ruins. Mas esse não é o caso. O primeiro
escalão do governo Bolsonaro é composto por antiministros,
de fato. Seu papel é destruir aquilo que sua pasta deveria
tomar conta.
Na piauí de maio, Miguel Lago foi além: "Bolsonaro deseja uma sociedade pré-
hobbesiana, aquela que não precisa de nada nem ninguém. Uma sociedade onde
os mais fortes mandam e podem recorrer a qualquer recurso para fazer valer o
gozo de seus impulsos". O professor da Universidade de Columbia repercute, no
mesmo texto, as reflexões de Roberto Andrés sobre o fenômeno.
Em diferentes artigos, Andrés trata sobre a obsessão que os bolsonaristas têm com o
trânsito e com os limites legais que insistem em igualar os "cidadãos de bem" aos
meros cidadãos que estão do lado de fora dos muros do Vivendas da Barra. Eis um
dos grandes marcadores de diferença, segundo Lago, entre essa nova extrema-direita
e os movimentos fascistas históricos: "o nazismo e o fascismo são construções
coletivas - abomináveis, sim, mas ainda assim construções coletivas. O bolsonarismo
é a desconstrução de qualquer forma de coletividade". Quando chegou a
pandemia, o bolsonarismo se viu diante da maior oportunidade para mostrar a que
veio. Não surpreende, portanto, que Luiz Henrique Mandetta tenha caído
justamente quando resolveu aparecer como um ministro de verdade. Como
demonstra em detalhes o relatório do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito
https://noticias.uol.com.br/colunas/kennedy-alencar/2021/05/27/pais-tem-menos-vacinas-e-mais-mortes-devido-a-bolsonaro-prova-dimas-
covas.htm?utm_source=facebook&utm_medium=social-
media&utm_campaign=noticias&utm_content=geral&fbclid=IwAR2TyxgnYSQ8_Q1ZaHsT2Z-1LRmT2WY6bstm0bw7zVRbidxiENY5R5eKUN0
https://revistaforum.com.br/politica/chioro-de-acordo-com-dimas-covas-poderiamos-ter-evitado-no-minimo-250-mil-obitos-so-com-a-coronavac/?
fbclid=IwAR3nxqAAJLgrC5KwbACQ8POQYp_tkiJ3_wZo6E4CxhFLXaqaCeRaLed2cTg
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/08/como-o-brasil-se-compara-a-outros-
paises-em-mortes-por-covid-casos-confirmados-e-vacinas-aplicadas.ghtml
https://jornal.usp.br/universidade/desinformacao-sobre-vacina-da-covid-19-aumenta-
com-o-inicio-da-imunizacao/
Após a OMS declarar o início da pandemia em março de 2020, o Presidente do Brasil, Jair
Bolsonaro, fez um pronunciamento em 24/03/2020 incentivando a abertura de comércios e
escolas, indo contra as indicações dos cientistas em relação ao isolamento social. Segundo a
CNN entre março e abril do mesmo ano, o índice de isolamento social caiu na grande
maioria dos estados, e segundo dados do painel coronavírus e do site inloco, percebe-se
que as
regiões com maiores taxas de incidência e mortalidade
por milhão de habitantes são as regiões com estados com
menor índice de isolamento. Pode-se concluir que as medidas negacionistas
tomadas levaram a uma maior disseminação da doença.
Outra ação anticientífica foi a desinformação em relação a vacina. A união pró-vacina, uma
iniciativa do Instituto de Estudos Avançados que monitora grupos de antivacina na internet,
relatou 368 publicações com alegações falsas sobre a vacina, como a falta de eficácia, supostos
perigos, conspirações políticas envolvendo os imunizantes, entre outros. A disseminação dessas
notícias desencoraja as pessoas a se imunizarem contra o vírus, e a recusa quanto a vacina pode
levar a um novo surto da doença, como já foi provado em 1908.
Em suma, o posicion
https://agencia.fapesp.br/negacionismo-cientifico-a-producao-politica-e-cultural-de-
desinformacao/34028/
11 MAIO, 2021
O Brasil está imerso em várias crises. A primeira e mais importante é a crise da democracia. Após
décadas de construção democrática bem-sucedida, gerada pelo consenso em torno dos resultados
eleitorais, a capacidade de implementar políticas sociais bem-sucedidas e maior confiança na democracia.
Todos estes elementos se desintegraram rapidamente após o processo de impeachment da ex-presidenta
Dilma Rousseff, cujo ponto de partida foi o não reconhecimento dos resultados das eleições de 2014.
O processo de erosão da confiança na democracia foi também um processo de hiper-expansão das
prerrogativas do sistema judiciário e das instituições de controle , muito além da
desejada e necessária autonomia para a democracia. A Suprema Corte, especialmente, acumulou
prerrogativas a partir de 2012 e começou a usar essas prerrogativas politicamente. Enquanto isso, a
Operação Lava Jato, inicialmente uma operação anticorrupção, tornou-se uma operação
fortemente politizada. Nas eleições presidenciais de 2014 e 2018, o Juiz Sérgio Moro
agiu politicamente.
O problema militar
O problema de Jair Bolsonaro desde o início de seu governo tem sido estabelecer alguma relação entre o
movimento para atacar o sistema político que ele dirigia e algo que expressasse minimamente uma certa
capacidade de governar. Bolsonaro trouxe poucos políticos com qualquer capacidade gerencial para seu
ministério como Sérgio Moro, Onix Lorenzoni ou Luís Henrique Mandetta, mas quase imediatamente o
foco da ação governamental foi em ministros fortemente ideológicos como o ex-ministro da Educação
Abraham Weintraub ou o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.
Jair Bolsonaro investiu para interromper a resposta brasileira à pandemia. Primeiro, ele investiu contra
a política de isolamento social e, em 16 de abril de 2020, o capitão conseguiu implementar sua
política anti-vida com a demissão do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
O governo Bolsonaro enfrenta dois conflitos que já selaram seu destino como um governo fraco: um
conflito com o Congresso e um conflito com a Suprema Corte. Bolsonaro
teve episódios diferentes com o Congresso durante seus dois anos no cargo. No início da administração
do capitão, a tensão entre o governo e o Congresso estava sobre as agendas relacionadas com armas e
educação superior, ao mesmo tempo em que o presidente da Câmara viabilizava a agenda econômica do
bolsonarismo.
Estamos vivendo agora um confronto de dimensões muito maiores: com a abertura de uma comissão de
investigação no Senado, a oposição e os membros independentes da Câmara estão assumindo a liderança
nas investigações sobre o desempenho do presidente e de seus ministros na pandemia.
Estes dois conflitos que o Presidente Jair Bolsonaro enfrenta são incomuns em uma democracia em
funcionamento. São a expressão de um populismo autoritário que procura reforçar as ações de um
presidente que não tem nenhuma preocupação com a governança ou que a transformou em
opiniões sobre a pandemia, a vacinação e o pacto federal.
Karina Toledo | Agência FAPESP – Antes restrito a grupos articulados em torno de interesses religiosos ou econômicos específicos e aos
amantes de teorias da conspiração, o negacionismo científico tem ganhado corações e mentes nos últimos anos por intermédio das redes sociais.
Com a chegada da COVID-19, o fenômeno se intensifico
(...)
eria esse processo de institucionalização do negacionismo na figura de líderes políticos comprometido a eficácia das medidas de combate à
pandemia em países como Brasil, Estados Unidos e Reino Unido? Essa é a hipótese que vem sendo investigada pelo pesquisador da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) Renan Leonel, em parceria com colegas da Columbia University (Estados Unidos) e da
University of Vienna (Áustria).
O projeto, intitulado Viral agnotology: COVID-19 denialism amidst the pandemic in Brazil, United Kingdom, and United States (Agnotologia viral:
negação da COVID-19 em meio à pandemia no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos)
Partimos do pressuposto que esse comportamento estaria relacionado com a produção de desinformação e com o surgimento de um novo
movimento: o negacionismo científico como política de Estado, incorporado no discurso oficial. Levantamos então a hipótese de que esse
processo de oficialização do negacionismo na figura de líderes políticos teria comprometido, nesses três países, a eficácia das medidas de
combate à pandemia
(..)
(...) produção de ignorância parece aumentar sempre que há um desgaste histórico na parceria entre governantes e cientistas, pois isso
compromete a comunicação científica. A desinformação, portanto, não é uma consequência das redes sociais. A natureza do conteúdo não
mudou, mas as mídias digitais aceleraram sua disseminação e elevaram o patamar de alcance, possibilitando um impacto muito maior. Hoje é
muito fácil encontrar na internet material com ou sem base científica para falar sobre qualquer coisa. E as pessoas compartilham essas
informações muitas vezes sem qualquer referência sobre a autoria ou qualquer controle sobre a veracidade do conteúdo. As próprias redes sociais
se transformaram em um ator – um ator técnico, não humano – que interfere na disseminação do conhecimento. A teoria sociológica propõe a
existência de grupos responsáveis por controlar a produção e a disseminação de conhecimento na sociedade e fazer a governança da
desinformação. Mas esses atores parecem ter perdido o controle em tempos de redes sociais. Embora a produção de ignorância não seja
originalmente minha área de estudo, me interessei em propor esse projeto por entender que a produção de ignorância em si está se tornando um
ator que pode comprometer os instrumentos de produção do conhecimento.
(...) https://agencia.fapesp.br/negacionismo-cientifico-a-producao-politica-e-cultural-de-desinformacao/34028/
..............................
A pandemia tem causado o maior dano econômico, político e social à humanidade desde a Segunda Guerra Mundial.
Em nível internacional, a primeira – e mais óbvia – vítima tem sido a cooperação internacional e sua capacidade de
fornecer os bens públicos globais necessários. Particularmente em um mundo caracterizado por desigualdades entre
os habitantes do planeta e entre as nações.
A América Latina e o Caribe são as regiões em desenvolvimento mais afetadas pela pandemia. Elas representam 8,4%
da população mundial, mas concentra 30% das mortes por COVID-19 e sofrem sua pior contração do PIB, com uma
queda de 7,7% em 2020.
A pandemia causou o fechamento de 2,7 milhões de empresas, com uma destruição dramática do emprego que afeta
principalmente jovens e mulheres e uma queda drástica no comércio, nos investimentos estrangeiros e nas remessas
de dinheiro.
Como consequência desta deterioração das economias da região, a desigualdade e a pobreza têm aumentado.
Enquanto nos anos anteriores a América Latina havia conseguido reduzir a pobreza, de 45,2% da população em 2001
para 30,3% em 2019, como resultado da pandemia o número de pessoas pobres na região aumentará em 28,7 milhões,
atingindo 33% de sua população total.
Em termos gerais, como aponta um relatório da CEPAL, o impacto da pandemia na região tem sido brutal e tem
ampliado as lacunas estruturais na desigualdade, afetando, em particular, os setores mais vulneráveis da sociedade.
Mas o mundo todo está enfrentando uma pandemia ampliada pela desigualdade social, o que requer um estudo
profundo não só das causas estruturais que levaram a este impacto desigual em cada sociedade, mas também dos
vários efeitos da transição que vive o sistema internacional.
A desigualdade que caracteriza a América Latina e que tem levado à propagação da pandemia devido à falta de
suprimentos médicos e vacinas que contribuam para uma resposta de saúde consistente não é exclusiva da região.
A assimetria entre nações em seu acesso a esses elementos a nível mundial também marca a dinâmica global atual.
Um nacionalismo das vacinas emerge nas nações economicamente mais poderosas que acumulam suprimentos
médicos em excesso, exacerbando a escassez de vacinas entre as nações marginalizadas e a distância entre o mundo
desenvolvido e o mundo em desenvolvimento. Os países ricos têm 14% da população mundial, mas adquiriram mais da
metade das doses de vacinas disponíveis para comercialização.
Neste contexto, dada a escassez de vacinas na América Latina devido à produção insuficiente e à acumulação pelos
países ricos, entra em jogo -com todo o seu peso– a geopolítica das vacinas.
Em uma região devastada pela desigualdade e pela ausência de recursos sanitários, a “diplomacia das vacinas” gera
uma debandada para fornecer um bem público global e reforçar o “poder brando” de algumas potências.
O vácuo deixado pelas nações ocidentais e algumas grandes corporações farmacêuticas na assistência à região está
sendo preenchido pela crescente presença e influência da Rússia e da China, e até mesmo da Índia, atualmente em
meio a uma catástrofe sanitária.
Um fato que não escapa do crescente peso da Eurásia no processo de deslocamento do dinamismo econômico
mundial e da influência política e projeção do Ocidente para o Oriente.
Mas as desigualdades persistem -tanto dentro das sociedades latino-americanas quanto no âmbito do sistema
internacional- enquanto, parafraseando von Clausewitz, a saúde pública global parece ser a continuação da política
por outros meios.
https://latinoamerica21.com/es/lucha-por-la-igualdad-o-agenda-globalista-para-diezmar-la-poblacion-mundial/
24 JUNIO, 2020
Desde hace algunos años las calles de las principales ciudades latinoamericanas vienen siendo el escenario de
multitudinarias manifestaciones para denunciar y detener un supuesto plan macabro que pretende, entre otras cosas,
diezmar la población mundial, subvertir la naturaleza humana mediante mentiras anticientíficas, adoctrinar y
corromper a la infancia, acabar con las libertades civiles, destruir a la familia y desmantelar la dignidad humana. Se
trata de marchas en contra de una Agenda globalista autoritaria que impone una presunta “Ideología de Género”. El
relato sobre tal imposición es capaz de movilizar personas de una amplia variedad de estratos de la población, y
aunque no se pueda afirmar que todas ellas estén al tanto de los motivos para los que son sacadas a la calle, sí es
posible sostener que lo hacen comprometidas con una cruzada moral por la vida, la niñez y la familia. Esta cruzada ha
de ser librada en América Latina, el último baluarte en pie, toda vez que en las democracias del llamado Primer mundo
esta batalla ya está perdida.
La amplia capacidad de convocatoria de estos movimientos anti Ideología de Género depende de que sus
reivindicaciones no sean políticas sino morales, pero mirando con atención comprobamos que los artífices de tales
marchas y denuncias son plataformas vinculadas a potentes lobbies políticos y a organizaciones religiosas con
representación parlamentaria. Varios de estos foros de la familia, organizaciones provida y colectivos por la defensa
de los hijos han logrado trascender fronteras; hoy las democracias latinoamericanas experimentan la construcción de
redes transnacionales de movilización que van conquistando amplias cuotas de poder dentro de los diversos sistemas
nacionales. Como toda manifestación ciudadana, éstas también son una demostración de fuerza, lo que se traduce en
votos, no siempre puestos a disposición de proyectos democráticos. Basta recordar cómo este discurso fue definitivo
para el rechazo del llamado Plebiscito por la Paz en Colombia o para la elección del presidente Bolsonaro en Brasil.
Resulta bastante singular la composición del bando que acusa la existencia de una Ideología de Género. Bajo este
paraguas se dan cita tanto los sectores más conservadores de la sociedad cercanos a la iglesia católica y a las
denominaciones protestantes, como los sectores más liberales que abogan por la reducción del estado y su no
intromisión en las relaciones sociales y familiares. Las alianzas aquí no se tejen en términos de derecha/izquierda. Los
promotores teóricos de este movimiento propagan el discurso virulento, catastrofista y polarizador que tanto gusta en
las redes sociales. Pastores evangélicos, ultracatólicos militantes o locuaces anarcocapitalistas, hasta hace poco
desconocidos, han logrado gran predicamento mediático a cuenta de sus encendidas arengas en contra de la Ideología
de Género. Y como los algoritmos no entienden de justicia sino de clicks, no se ha dudado en utilizar el miedo, la
exageración, la tergiversación y la manipulación teórica.
Llama la atención cómo opera el relato de la ʹconstrucción del enemigo ʹ por parte de estos actores y su capacidad de
incluir fenómenos muy distintos y a veces incompatibles en un gran bloque monolítico que llaman “Lobby de género”.
En éste queda incluido todo lo que huela a feminismo, los colectivos LGTBIQ+, quienes abogan por el control de la
natalidad o por la descriminalización del aborto, las personas que luchan por erradicar la violencia machista, las que
pretenden educar en la no discriminación, y la llamada Nueva Izquierda. En esta narrativa también son adversarios
los mass media, las Naciones Unidas, los gobiernos que han aprobado leyes a favor de la igualdad o de salud sexual y
reproductiva, o políticas públicas contra la discriminación y, por supuesto, los magnates George Soros y Bill Gates.
El enemigo entonces es una gran variedad de cosas que conforman lo que se ha bautizado como “Dictadura global de
género”. Así, en la lógica de la cruzada, toda persona que luche contra una dictadura queda redimida por el halo de la
legítima resistencia a la opresión.
La consecuencia más peligrosa de esto es la gran polarización social que se está consiguiendo mediante una versión
simplificada de la realidad, fácil de digerir para la persona bien intencionada y poco informada, pero que mete en el
mismo saco fenómenos muy diferentes, demonizando luchas históricas por la justicia social. Según esta versión,
reconocer derechos de las minorías equivale a aplastar los de las mayorías, ya que se considera que la mera igualdad
formal ante la ley es suficiente y que las voces por la igualdad real y efectiva no son más que cantos de
adoctrinamiento e ingeniería social.
Este escenario de polarización toma la forma de una auténtica guerra cultural. Pero hay que reconocer que, en buena
parte, esta guerra fue declarada como reacción al surgimiento, en el seno del propio feminismo, de las teorías
deconstructivas de género que entronizan en el centro de su pensamiento a la inconsistente dicotomía
naturaleza/cultura y convierten la política de la sexualidad en política de las identidades de género, radicalizando y
desenfocando las posturas de los movimientos sociales por la igualdad. Este activismo se decantó por una actitud
más beligerante que disidente, retando con sus formas a las fuerzas más reaccionarias de nuestras sociedades. El
desafío fue aceptado y la herejía declarada; el durmiente ha despertado. Hoy, las tesis filosóficas sobre el sistema
sexo/género son sacadas de contexto y adulteradas para azuzar el miedo frente a la descomposición social y
antropológica y, paradójicamente, este clima de confrontación pone en riesgo las justas conquistas históricas del
movimiento feminista.
Quienes entran en la batalla para defender tales conquistas suelen enrocarse en una estrategia discursiva equivocada:
limitarse a negar que exista cosa tal como una “Ideología de Género” y afirmar que lo que suscriben es una
“perspectiva de género”. Esta estrategia implica entrar al juego de la polarización y sólo consigue que un debate
social tan importante termine relegado al plano meramente terminológico. Pues, aunque aquel rótulo haya sido
acuñado para caricaturizar al enemigo, desmontarlo exige presentar una definición de “ideología”, pero el actual
estiramiento conceptual del término hace que esa defensa acabe siendo necesariamente ideológica. Y es que resulta
paradójico que, tanto ultraconservadores como ultraliberales, los dos mayores rivales de Marx, terminen acogiéndose
precisamente a la noción marxista de ideología como “falsa conciencia” para denostar a su enemigo. Sin embargo, la
generalización de esta emotiva palabreja puede ser aprovechada para despojarla de sus connotaciones peyorativas y
polarizadoras.
A mi juicio, los movimientos por la igualdad bien podrían apropiarse de la expresión Ideología de Género para
resignificarla, como hicieron en los noventa con en término queer (marica). De lo contrario, seguirán enzarzados en
infructuosas batallitas dialécticas perdiendo oportunidades de oro para explicar a las sociedades latinoamericanas
que la defensa de la igualdad y la no discriminación es algo valioso en sí mismo. Mientras eso no suceda, la narrativa
apocalíptica de una oscura agenda para diezmar la población mundial seguirá ganando adeptos que pondrán sus votos
al servicio de los fines que sus movilizadores decidan.
https://latinoamerica21.com/br/pandemia-desigualdade-e-geopolitica/
25 MAIO, 2021
GRAGNANI, Juliana. Por que dizer ‘tomei cloroquina e por isso me curei’, como faz Bolsonaro, é uma ‘falácia’ e não prova nada. BBC, Londres, 27, de agosto
de 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-53896553>. Acesso em: 02, de novembro de 2021.
RUDDY, Jefferson. ‘Sobram estudos mostrando que kit-covid não funciona’, diz Natalia Pasternak à CPI. Senado Notícias, Brasília, 11, de junho de 2021.
Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/06/11/sobram-estudos-mostrando-que-kit-covid-nao-funciona-diz-natalia-pasternak-a-cpi>.
Acesso em: 02, de novembro de 2021.
https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2019/01/16/alerta-maximo-contra-pseudociencias (acesso: 24/10/2021)