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Filosofia e Ciência: um antídoto contra o negacionismo e suas variantes

Beatriz Santos Olegário

O negacionismo é o ato de negar-se a acreditar em uma informação estabelecida em áreas como a


ciência e a história. Os negacionistas são vistos como irracionais, pois não acreditam em consensos
obtidos por amplo e profundo estudo e escoram suas crenças em informações falsas e teorias
conspiratórias.

A pandemia de Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2 ou Novo Coronavírus, vem produzindo
repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala global, mas também
repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos sem precedentes na
história recente das epidemias.

A estimativa de infectados e mortos concorre diretamente com o impacto sobre os sistemas de


saúde, com a exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica do sistema
financeiro e da população, a saúde mental das pessoas em tempos de confinamento e temor pelo
risco de adoecimento e morte, acesso a bens essenciais como alimentação, medicamentos,
transporte, entre outros.
O negacionismo representou um prejuízo dramático para o enfrentamento da COVID-19, custou a
vida de milhares de brasileiros, nos colocou no segundo lugar do número de mortes no mundo e
certamente está fazendo o Brasil ser representado por uma piada internacional. Porque nessa hora,
para que todos fizessem o sacrifício, temos de recorrer às figuras de autoridade, que vão dizer, vai
ser muito difícil, mas faço em nome de alguém.

E nessa hora encontramos uma divisão na política sanitária, marcada por uma hesitação e pela
negação do consenso científico. Vai ser um preço que ainda não temos a justa medida, porque no
momento em que a batalha está sendo travada não se percebe o impacto capilar de alguém que
está confrontando a ciência como o principal instrumento que temos para lidar com um adversário
que vem da natureza.

Nesse momento de crise mundial, Ciência, Pesquisa e Inovação têm sido as palavras-chave na busca
por respostas que ajudem a combater o Coronavírus. As Instituições de Ciência e Tecnologia-ICT,
como Institutos Federais, Universidades e organizações de Pesquisa aparecem como protagonistas
na busca por soluções que ajudem a sociedade.
A tentativa de deslegitimar a ciência é nociva para a sociedade, especialmente nesse momento de
crise sanitária. O Brasil possui vasta experiência no enfrentamento de epidemias e a reconhecida
expertise em pesquisas e práticas relacionadas à Saúde Pública. Conforme lembra Miranda de Sá, as
epidemias estiveram na origem da criação de algumas importantes instituições, como o Instituto
Butantã em São Paulo e do Instituto Soroterápico no Rio, atual Fiocruz, criados para a produção de
vacina e soro contra a peste bubônica, que chegou ao Brasil na virada do século 19 para o século 20.
O combate ao negacionismo científico passa, necessariamente, por dois caminhos: a) pela
qualificação da educação básica e; b) pelo diálogo entre comunidade científica e sociedade.
A qualificação da educação envolve um “letramento científico” que supere a transmissão de
conhecimentos prontos, como meras informações. Como todos os indivíduos passam (ou deveriam)
pela escola, esta se torna estratégica.
A ideia de que “está no livro, então é verdade” é colaborativa para o negacionismo, já que não abre
espaço para pensar a produção do conhecimento, desconstruindo-o e reconstruindo-o. É necessário
aprender como a Ciência procede, seus métodos, técnicas, teorias e conceitos. Uma educação
científica é marcada pela preocupação de ensinar a pensar cientificamente, de questionar as
aparências, de checar fontes e informações. Esse tipo de educação deve estar presente já no ensino
básico. A transmissão de “conhecimentos prontos” retira suas bases do saber e pouco contribui
para o pensamento crítico/reflexivo. Não se trata de formar nesse nível de ensino cientistas, mas
agentes dotados de condições de compreender o que é ou não Ciência e entender a sua
importância para a sociedade.

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