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Atlantic Council

ADRIENNE ARSHT
LATIN AMERICA CENTER

COMÉRCIO E
INVESTIMENTOS
BRASIL-EUA:
Aprofundando as Relações
Econômicas Bilaterais
Por Abrão Neto, Daniel Godinho, Ken Hyatt e Lisa Schineller
Colaboração de Roberta Braga
O Adrienne Arsht Latin America
Center amplia o entendimento
das transformações regionais
por meio de trabalhos de alto
impacto que moldam a conversa
entre os formuladores de políticas,
a comunidade empresarial e a
sociedade civil. O Centro se foca
no papel estratégico da América
Latina em um contexto global, com
prioridade em questões políticas,
econômicas e sociais que definirão
a trajetória da região agora e nos
próximos anos. Algumas linhas
de programação incluem: crise
da Venezuela; México-EUA e laços
globais; China na América Latina;
futuro da Colômbia; um Brasil em
mudança; trajetória da América
Central; combate à desinformação; e
a mudança de padrões comerciais..
Jason Marczak atua como diretor do
centro.

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Este relatório foi escrito e publicado


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Atlantic Council
1030 15th Street NW, 12th Floor
Washington, DC 20005

ISBN-13: 978-1-61977-101-7

Março 2020

Capa: Sergio Souza/Unsplash.


Guarujá, SP, Brazil.
COMÉRCIO E
INVESTIMENTOS
BRASIL-EUA:
Aprofundando as Relações
Econômicas Bilaterais
Por Abrão Neto, Daniel Godinho, Ken Hyatt e Lisa Schineller
Colaboração de Roberta Braga
Índice
APRESENTAÇÃO   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   2

SUMÁRIO EXECUTIVO   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   3

UM NOVO CAPÍTULO PARA AS RELAÇÕES BRASIL-EUA  � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   5

APROFUNDANDO O COMÉRCIO E OS INVESTIMENTOS


ENTRE BRASIL E ESTADOS UNIDOS   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   7

Rumo a um Acordo Abrangente de Livre Comércio    � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   7

Obstáculos institucionais e potenciais oportunidades � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   8

A perspectiva dos Estados Unidos   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   9

A perspectiva do Brasil   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   13

EXPANDINDO O INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO    � � � � � � � � � � � � � � � � � �   18

Reformas domésticas: preparando terreno para mais investimentos   � � � � � � � �  19


Vias bilaterais para o aprofundamento dos investimentos  � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �  22
PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   26

Curto prazo — 2020  � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �  26

Médio e longo prazo — 2021 em diante � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �  29

CONCLUSÃO   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   30

AGRADECIMENTOS   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   31

SOBRE OS AUTORES   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   32

REFERÊNCIAS   � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �   34
comércio e investimentos brasil-eua

Apresentação

O ano 2020 representa uma virada de página para o Hemisfério


Ocidental, região que em 2019 testemunhou manchetes dom-
inadas por incertezas à medida que novos governos entraram
e saíram de cena, tensões comerciais cresceram e cidadãos
foram às ruas dar voz ao seu descontentamento com o status quo.
Por anos, as oportunidades advindas de uma relação bilateral mais forte
entre o Brasil e os Estados Unidos foram subestimadas. Entretanto, há um
grande potencial para se produzir benefícios consideráveis para ambas as
sociedades. E tal potencial deve ser maximizado.
Embora governos e empresas americanas e brasileiras tenham começado
a aproveitar os benefícios das sinergias que os dois países compartilham,
ainda existem obstáculos que impedem uma realidade comercial plena e
bem-sucedida.
Os Estados Unidos e o Brasil se beneficiariam de um relacionamento
comercial e de investimentos mais próximo e sólido, que ampliaria o cresci-
mento e a prosperidade de ambos os países, a curto e a longo prazo. O
aprofundamento das relações econômicas também renderia dividendos
em outras áreas, traduzindo-se em maiores oportunidades de cooperação
estratégica bilateral. Este artigo entende que este é o momento e que 2020
é um ano crucial para o avanço substancial dos laços econômicos bilaterais.
Tendo como base o progresso já alcançado ao longo dos últimos anos, este
relatório incorpora a contribuição e a experiência dos setores privados e de
formuladores de políticas públicas dos Estados Unidos e do Brasil, a fim de
oferecer uma visão renovada e um novo impulso para o fortalecimento do
comércio e dos investimentos bilaterais, sugerindo etapas concretas para
o aprofundamento da relação comercial e estabelecendo as bases para um
possível acordo de livre comércio (ALC) entre os dois países.
À medida que o equilíbrio de poder global se altera, que o mundo enfrenta
novos obstáculos ao crescimento econômico e que a América Latina se
prepara para enfrentar mais incertezas em meio a novos choques externos,
os dois países têm, estratégica e economicamente, diversos motivos para
aprofundar suas relações comerciais. O estreitamento desses laços fornecerá
maior segurança neste momento crítico.

Jason Marczak
Diretor, Centro para
a América Latina
Adrienne Arsht
Atlantic Council

2
Sumário Executivo

A o examinar o horizonte global hoje é inev-


itável perceber as tendências que estão,
fundamentalmente, reformulando a ordem
mundial. Novos atores globais adquirem
protagonismo, à medida que os países reavaliam
suas abordagens sobre colaboração e cooperação.
Mudanças tecnológicas evoluem a velocidades sem
comércio eletrônico, entre outras áreas. Em estreita cola-
boração com seus setores privados, os Estados Unidos e
o Brasil devem continuar trabalhando na identificação de
gargalos específicos à redução de incertezas no comér-
cio e na finalização um acordo de reconhecimento mútuo
entre Operadores Econômicos Autorizados (OEA).
Ações de curto prazo também incluem a ampliação do
precedentes — mudanças que introduziram a quarta uso de documentos eletrônicos no comércio bilateral e a
revolução industrial, gerando novos questionamentos troca de experiências sobre boas práticas regulatórias,
sobre como resolver desafios globais. Essas tendências envolvendo a realização de análises de impacto e de
transformadoras estão afetando o mundo e o mercado. consultas públicas, bem como o estabelecimento de um
Mudanças, no entanto, também trazem imensas órgão central de coordenação regulatória entre os dife-
oportunidades. rentes órgãos governamentais (“whole-of-government
Nesse contexto, os Estados Unidos e o Brasil estão sin- approach”).
gularmente posicionados para avançar em direção a uma Os dois países precisam trabalhar juntos para ir além
relação econômica bilateral mais robusta. Enquanto os do projeto piloto de Global Entry e assegurar a partici-
dois países buscam alcançar esse objetivo, o Centro para pação plena do Brasil no programa para a entrada nos
a América Latina Adrienne Arsht do Atlantic Council, Estados Unidos de viajantes brasileiros pré-aprovados.
juntamente com parceiros especialistas americanos e É preciso também iniciar negociações sobre um acordo
brasileiros, explora os benefícios que uma maior aproxi- para evitar a dupla tributação e considerar a implemen-
mação econômica pode oferecer. O objetivo é: propor- tação de um mecanismo em nível de vice-presidentes
cionar novas ideias e impulsionar o aprofundamento das para supervisionar o relacionamento bilateral (em
relações bilaterais em um momento de grande sinergia coordenação com diálogos e grupos existentes). Os
entre as lideranças de ambos os países. Estados Unidos e o Brasil também podem aumentar a
Este relatório, de autoria de dois especialistas ame- cooperação em relação a países terceiros e em fóruns
ricanos e dois brasileiros, apresenta propostas para internacionais nas áreas de investimento e de política
os Estados Unidos e o Brasil aprofundarem seus laços comercial.
comerciais e de investimento estrangeiro direto (IED). Os Estados Unidos devem continuar a apoiar o pro-
Sobretudo, ele destaca os obstáculos institucionais e as cesso de acessão do Brasil à Organização de Cooperação
oportunidades para a redução de barreiras comerciais e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que poderá dar
e para o aprimoramento da convergência a curto prazo. energia e consolidar importantes reformas econômicas
Simultaneamente, articula os benefícios de um acordo domésticas no Brasil.
abrangente de livre comércio a longo prazo, bem como A partir de 2020, aproveitando o impulso do pro-
o que pode ser feito para que os países fortaleçam seus gresso feito a curto prazo, os Estados Unidos e o Brasil
laços de investimentos. Além disso, o relatório destaca, devem iniciar e concluir negociações para um Acordo
por meio de notas explicativas, as perspectivas dos Abrangente de Livre Comércio (ALC) e para um Acordo
autores sobre temas-chave, além de oportunidades para de Investimentos.
setores específicos. Um comércio bilateral baseado em regras interna-
Em 2020, os Estados Unidos e o Brasil têm a oportuni- cionais, aberto, transparente e inclusivo é chave para o
dade de focar em conquistas práticas e de curto prazo crescimento sustentável e a prosperidade dos Estados
que podem cimentar os próximos passos em direção a Unidos e do Brasil. Ao enfatizar os efeitos de uma par-
um acordo abrangente de livre comércio. ceria bilateral mais sólida, este relatório fornece uma
Nas áreas de comércio, as recomendações incluem nova perspectiva sobre os benefícios de aprofundar
a negociação da primeira etapa de um acordo de as relações comerciais e de investimentos entre os
comércio, que poderia abranger regras bilaterais sobre dois países. O momento de elevar essa parceria para o
administração aduaneira e facilitação do comércio, boas próximo nível é agora.
práticas regulatórias, barreiras técnicas ao comércio e

3
comércio e investimentos brasil-eua

Oficial da base de Alcântara, no Maranhão, Brasil,


14 de setembro de 2018. O Brasil e os Estados
Unidos assinaram um acordo de salvaguardas
tecnológicas em 18 de março de 2019, durante a
primeira visita do presidente Jair Bolsonaro aos
Estados Unidos.
reuters/adriano machado

4
Um Novo Capítulo para as
Relações Brasil-EUA

O s Estados Unidos e o Brasil têm uma longa


e próspera relação, que remonta a 1824,
quando os Estados Unidos se tornaram
um dos primeiros países a reconhecer a
independência do Brasil.1
Ao longo das décadas, o Brasil e os Estados Unidos
avançaram na promoção de um maior engajamento em
superávit de US$ 8,5 bilhões apenas em bens.3 Os prin-
cipais produtos na pauta de importações brasileiras dos
Estados Unidos são aeronaves, máquinas e equipamen-
tos, produtos petrolíferos, eletrônicos e instrumentos
ópticos e médicos.
O número de intercâmbios de estudantes entre o
Brasil e os Estados Unidos pode ser considerado um
setores de mútua importância estratégica. Entre eles outro exemplo da importância dessa relação — o Brasil
estão os setores aeroespacial, automotivo, de energia, de é o nono país que mais envia estudantes aos Estados
turismo, de defesa e segurança, de saúde, de infraestru- Unidos.4 De acordo com o Sistema de Informação de
tura, entre muitos outros. Estudantes e Intercâmbio de Visitantes (SEVIS, em
A referida parceria é caracterizada por uma visão inglês), do Departamento de Imigração e Alfândega dos
compartilhada de crescimento e prosperidade, ao Estados Unidos, o número de estudantes brasileiros nos
mesmo tempo em que o ponto de vista de cada país Estados Unidos aumentou 13,1% entre 2017 e 2018.5 De
sobre o papel dos setores público e privado na liderança 2018 a 2019, o salto foi de 9,8%, representando o segundo
do crescimento variou ao longo do tempo. Números maior aumento percentual de estudantes internacionais
recentes dão uma ideia dos benefícios mútuos por trás de qualquer país nesse período.6
dessa relação bilateral. Em 2019, o comércio bilateral de Não se pode negar que os Estados Unidos e o Brasil
bens e serviços chegou a mais de US$ 100 bilhões. são parceiros e aliados essenciais. Contudo, as duas
Para o Brasil, os Estados Unidos são um parceiro maiores economias das Américas ainda precisam
econômico e comercial crucial. Em 2019, os Estados remover barreiras para maximizar o potencial de seus
Unidos foram o segundo maior parceiro comercial bra- laços de comércio e de investimentos.
sileiro. Os Estados Unidos são o destino mais importante O momento positivo atual das relações bilaterais
para as exportações brasileiras de serviços e de produtos apresenta uma oportunidade única para impulsionar e
manufaturados. Em termos de IED, enquanto os fluxos da aprofundar laços econômicos desta duradoura parceria.
China têm acelerado nos últimos anos (especialmente As essenciais reformas em curso no Brasil para fortalecer
nos setores de energia e infraestrutura), os Estados a economia e o papel do setor privado fazem deste um
Unidos continuam sendo a maior fonte de IED para o momento oportuno para avançar e atingir os resulta-
Brasil em termos de estoque — com um volume cinco dos-chave a curto prazo, posicionando os países para
vezes maior que a da China — refletindo a amplitude e a aprofundar e expandir comércio e investimentos a longo
profundidade do relacionamento bilateral.2 prazo.
Os Estados Unidos também se beneficiam de sua No decorrer de 2019, as administrações de Donald
relação com o Brasil. Sendo a maior democracia e econo- Trump, Presidente dos Estados Unidos, e de Jair
mia da América Latina, o Brasil ocupa o décimo-quarto Bolsonaro, Presidente do Brasil, assumiram compro-
lugar no ranking global de parceiros comerciais dos missos para aproximar ainda mais as duas economias,
Estados Unidos e o segundo lugar como destino de mer- aumentando a prosperidade, aprimorando a segurança e
cadorias americanas na região. De acordo com a USTR promovendo a democracia e a soberania nacional.
(sigla em inglês para Representante dos Estados Unidos Em março de 2019, em sua primeira visita bilateral
para Comércio, a principal autoridade do governo amer- ao exterior após assumir a presidência, o Presidente
icano para questões comerciais), em 2018 os Estados Bolsonaro se reuniu com o Presidente Trump em
Unidos tiveram um superávit comercial de US$ 30,6 Washington, DC, acompanhado por sete de seus vinte
bilhões em bens e serviços com o Brasil, incluindo um e dois ministros, entre eles Paulo Guedes, Ministro da

Estatisticamente, as importações relatadas por um país não coincidem necessariamente com as exportações relatadas por sua contraparte comercial. Vários fatores,
incluindo avaliação e tempo, explicam essas diferenças. Também podem ocorrer discrepâncias nos dados de IDE gerados por cada país. O Banco Central do Brasil e o 5
Bureau of Economic Analysis podem estar usando diferentes metodologias para medir o IDE.
comércio e investimentos brasil-eua

Economia, Sérgio Moro, então Ministro da Justiça Brasil. O acordo foi aprovado pelo Congresso brasileiro
e Segurança Pública, e Ernesto Araújo, Ministro das em novembro de 2019 e o início dos lançamentos está
Relações Exteriores. A visita definiu uma agenda bilateral previsto para 2021.10 Esse acordo faz parte do amplo
que priorizou a expansão da cooperação em comércio e esforço para expandir a cooperação bilateral para além
investimentos, defesa, segurança e inovação. do comércio. Os Estados Unidos também designaram
Em mais de uma ocasião, os líderes de ambos os o Brasil como um “aliado prioritário extra-Otan”, facil-
países manifestaram a intenção de negociar um acordo itando a compra de armas e equipamentos de defesa dos
comercial, a despeito dos complexos — e ainda exis- Estados Unidos pelo Brasil.11
tentes — desafios que travaram essas negociações no O Fórum de CEOs Brasil-EUA, que se reuniu em
passado.7 Os dois presidentes assumiram até o momento Washington, DC, em novembro de 2019, após um inter-
vários compromissos específicos relacionados ao comér- valo de quatro anos, também estabeleceu as bases para
cio. Concordaram em construir uma parceria de prosper- uma colaboração mais profunda. As recomendações
idade para aumentar os empregos e reduzir barreiras ao conjuntas dos CEOs incluíram “propostas para aumentar
comércio e investimento, enfatizando a exploração de o comércio bilateral, a cooperação em infraestrutura,
novas iniciativas para facilitar o comércio, os investimen- a colaboração no setor de tecnologia e melhorias no
tos e boas práticas regulatórias. Eles também apoiaram a desenvolvimento da saúde, educação e mão-de-obra”.12
celebração de um acordo de reconhecimento mútuo de Eles recomendaram “várias medidas para avançar as
seus programas de OEA. discussões em direção ao objetivo de longo prazo de um
Como demonstração da vontade mútua para resolver acordo de livre comércio, com foco especial na entrada
algumas disputas comerciais de longa data, o Presidente do Brasil na OCDE, nas reformas tributárias, facilitação
Bolsonaro anunciou a intenção de expandir o acesso de comércio e um Acordo de Dupla Tributação (ADT)”.13
dos Estados Unidos aos mercados brasileiros de trigo e A própria agenda de reformas econômicas do Brasil
carne suína, enquanto o Presidente Trump indicou que também tem ajudado a criar as bases para o aprofunda-
os Estados Unidos tomariam medidas para retomar as mento das relações. A Reforma da Previdência, aprovada
importações de carne bovina do Brasil. O Brasil também em outubro de 2019, fortaleceu as finanças públicas bra-
firmou o compromisso de ampliar a cota anual de impor- sileiras, especialmente a longo prazo, ao aliviar a pressão
tações de trigo isentas de tarifas para 750 mil toneladas sobre o orçamento público nos próximos anos.14 Mais
métricas (t).8 importante é que esta é a primeira reforma entre outras
Conforme escrito na Declaração Conjunta firmada planejadas para resolver os desafios fiscais do Brasil — a
entre os dois países, o Presidente Trump ofereceu seu essencial reforma tributária é uma das mais aguardadas
apoio para a acessão do Brasil à OCDE — processo delas.
iniciado em 2017, a partir da manifestação formal de Ao passo em que os Estados Unidos e o Brasil buscam
interesse brasileiro em ser membro da organização, — e fortalecer a agenda bilateral, este relatório realça as
o Presidente Bolsonaro anunciou que o Brasil começará possibilidades de se avançar em oportunidades de curto
a renunciar ao tratamento especial e diferenciado nas e longo prazo no comércio de bens e serviços. Em 2020,
negociações da Organização Mundial do Comércio o relatório propõe a conclusão da primeira etapa de um
(OMC). acordo comercial, incluindo um conjunto de temas não
O Brasil anunciou também que deixaria de exigir o tarifários; esforços coordenados para garantir a acessão
visto de turista para os cidadãos americanos entrarem do Brasil à OCDE; a conclusão de um acordo de reconhe-
no país, medida que entrou em vigor em junho de 2019, cimento mútuo entre programas de OEA; a continuidade
e ambos presidentes concordaram em trabalhar para no aprimoramento de boas práticas regulatórias e coop-
incluir o Brasil no Programa Global Entry dos Estados eração regulatória; o aprimoramento da cooperação em
Unidos.9 Eles também decidiram retomar as atividades política comercial em terceiros países; e a participação
do Fórum de CEOs Brasil-EUA. plena do Brasil no Programa Global Entry. A partir de
Nas frentes de defesa e segurança, os países assinaram 2021, o documento sugere a conclusão de um Acordo de
o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que permite o Livre Comércio, e um Acordo de Dupla Tributação e um
lançamento de satélites e foguetes usando tecnologia Acordo de Investimentos.
americana a partir do Centro Espacial de Alcântara, no

6
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos
Donald Trump apertam as mãos durante reunião bilateral na cúpula dos
líderes do G20 em Osaka, Japão, 28 de junho de 2019. Os dois líderes
manifestaram interesse em aprofundar o relacionamento econômico bilateral.

Aprofundando o Comércio e
os Investimentos entre Brasil
e Estados Unidos
RUMO A UM ACORDO e empregos.15 Um ALC também criaria um arcabouço
jurídico de longo prazo, integrando ainda mais ambas
ABRANGENTE DE as duas economias e moldando padrões bilaterais de

LIVRE COMÉRCIO comércio e de investimentos no futuro.


Por mais positivo que possa ser um ALC, trata-se de
um objetivo de longo prazo. Resultados mutualmente

O
Brasil e os Estados Unidos há muito discutem a benéficos demandariam tempo, recursos e capital
reuters/kevin lamarque

potencial negociação de um ALC. Essa seria a político. Há várias fases no processo de negociação
iniciativa econômica e comercial mais ambiciosa de um ALC. No caso dos Estados Unidos, é necessário
e abrangente que ambos os países poderiam almejar. notificar o Congresso antes do início das negociações
Estudos estimam que um ALC entre Estados Unidos comerciais. São necessárias avaliações especiais e
e Brasil teria um impacto positivo não só no Produto consultas ao Congresso antes do início das negociações,
Interno Bruto (PIB) e na renda nacional dos dois países, incluindo uma análise de diferenças tarifárias existentes
mas também nas exportações e importações, salários sobre produtos agrícolas e uma avaliação pela Comissão

7
comércio e investimentos brasil-eua

O Brasil e os Estados Unidos há muito


discutem a potencial negociação de um
ALC. Essa seria a iniciativa econômica e
comercial mais ambiciosa e abrangente
que ambos os países poderiam almejar.

de Comércio Exterior dos Estados Unidos sobre sensibil- levar a uma nova decisão do Mercosul concedendo aos
idades nas importações de produtos agrícolas. membros plena autonomia para negociar acordos. Essa
No lado brasileiro, é necessário decidir se o acordo divergência também poderá provocar o “rebaixamento”
seria negociado em conjunto com o Mercado Comum do status do Mercosul de “mercado comum incompleto”
do Sul (Mercosul), ou se será apenas um compromisso para uma “área de livre comércio” — o que permitiria a
bilateral — o que implicaria mudanças na atual estrutura seus membros alterarem unilateralmente suas tarifas de
jurídica do Mercosul. importação. Por outro lado, uma abordagem pragmática
Assim que sejam formalmente iniciadas as nego- por parte do governo argentino abriria espaço para a
ciações, seriam necessárias múltiplas rodadas de nego- manutenção da cooperação em acordo com os atuais
ciação para que sejam acordadas uma variedade de mecanismos do Mercosul.
questões técnicas, envolvendo diversas equipes nego- Qualquer alteração do quadro normativo do Mercosul
ciadoras, consultas com o setor privado e instruções exige o consenso de todos os seus membros, inclusive
políticas. Se um acordo for alcançado, as partes da Argentina. Isso também vale para alterações mais
entrariam na reta final com revisões legais, assinaturas, simples, como no caso da Decisão CMC 32/00, que esta-
aprovações do Congresso e, finalmente, a ratificação. belece que as preferências tarifárias concedidas a ter-
Em resumo, o caminho para um ALC é longo. Ainda ceiros devem ser negociadas conjuntamente. O retorno
assim, várias medidas podem ser tomadas para pavimen- a uma área de livre comércio implica arranjos jurídicos e
tar o caminho de um eventual acordo. políticos ainda mais demorados e complexos.
A eventual saída do Brasil do Mercosul, conforme
aventada ao menos na retórica de algumas autoridades,
seria um último recurso, com consequências drásticas.
Mencionada decisão poderia ter impacto nas nego-
OBSTÁCULOS ciações comerciais em curso do Mercosul com terceiros

INSTITUCIONAIS países, bem como nas negociações recentemente final-


izadas com a União Europeia (uma vez que tal acordo
E POTENCIAIS ainda não foi assinado e o mandato da União Europeia
foi para negociar com o Mercosul como bloco, e não
OPORTUNIDADES com países individuais). Também levaria a prolongadas
discussões sobre as tarifas que seriam aplicadas no

C
omo membro do Mercosul, o Brasil é obrigado a comércio entre o Brasil e os demais sócios do Mercosul.
negociar acordos tarifários como parte do bloco Todas as alternativas parecem vir acompanhadas de
comercial.16 um custo substancial para o equilíbrio político na região,
Até o momento, a administração do Presidente além de exigirem tempo e energia consideráveis.
Bolsonaro manteve o compromisso de negociar acordos Nesse contexto, do ponto de vista brasileiro, a
de livre comércio como parte do Mercosul; especial- negociação de um ALC com os Estados Unidos é uma
mente, após concluir com êxito as negociações com incrível oportunidade, porém não é uma tarefa simples:
a União Europeia e a Associação Europeia de Livre as negociações teriam que ocorrer em conjunto com o
Comércio (European Free Trade Association, EFTA, em Mercosul (o que implicaria a anuência dos demais sócios
inglês) em 2019 — blocos que representam em conjunto e a disposição dos Estados Unidos em negociar com
um PIB de US$ 20 trilhões. esses países como um bloco comercial) ou de forma
Porém, a mudança de governo na Argentina, sob bilateral entre Brasil e Estados Unidos (o que demandaria
a presidência de Alberto Fernández desde dezembro a necessidade de ajustes das regras do Mercosul).
de 2019, pode impactar os próximos passos. Apesar Ainda assim, o ano de 2020 oferece uma janela impor-
da longa relação de parceria e aliança entre Brasil e tante para alternativas que possam abrir caminho para
Argentina, os dois governos têm visões distintas sobre um eventual ALC.
questões relacionadas à integração global, o que poderá

8
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, a
vice-presidente uruguaia Lucia Topolansky, o
presidente paraguaio Mario Abdo Benitez e
A PERSPECTIVA DOS o ministro das Relações Exteriores do Chile
Teodoro Ribera participam de uma cúpula do
ESTADOS UNIDOS Mercosul, em Bento Gonçalves, Rio Grande do
Sul, Brasil, 5 de dezembro de 2019.

D
urante a visita do Presidente Bolsonaro a Washington,
em março de 2019, os presidentes Trump e Bolsonaro se
comprometeram a “aprimorar o trabalho da Comissão
de Relações Econômicas e Comerciais Estados Unidos-
Brasil, criada sob o Acordo de Cooperação Econômica e
Comercial (ATEC, em inglês), para explorar novas iniciativas Ainda que um ALC
que facilitem o comércio, os investimentos e as boas práticas
regulatórias”.17 deva continuar a ser o
Em um gesto histórico, o presidente Trump saudou os
esforços em curso no Brasil na implementação de reformas
objetivo almejado por
econômicas domésticas essenciais, bem como de um Estados Unidos e Brasil,
arcabouço regulatório em consonância com os padrões da
OCDE.
dadas as prioridades
Do ponto de vista dos Estados Unidos, o momento é propício domésticas, resultados
para os dois países se engajarem em conversas produtivas que
resultarão em benefícios para ambas as partes. O relaciona- a curto prazo são
mento pessoal dos dois presidentes, bem como suas diretrizes fundamentais para
reuters/diego vara

para reavaliar as relações comerciais entre os dois países,


constituem uma oportunidade única para diálogo e resultados estabelecer as bases de
concretos.
Ainda que um ALC deva continuar a ser o objetivo almejado
um eventual acordo.
por Estados Unidos e Brasil, dadas as prioridades domésticas,

9
comércio e investimentos brasil-eua

Patent Prosecution resultados a curto prazo são fundamentais para estabelecer


as bases de um eventual acordo. Os pilares para um potencial
Highway (PPH) e as ALC entre o Brasil e os Estados Unidos serão as iniciativas de
curto prazo que, se implementadas com êxito ao longo deste
oportunidades para a ano, cimentarão o caminho para o ALC e para as diversas
indústria farmacêutica recomendações de longo prazo apresentadas neste relatório.

Em 1º de dezembro de 2019, o Brasil lançou um


Foco em bens
projeto-piloto para aceleração da concessão de

E
patentes (Patent Prosecution Highway — PPH, mbora os Estados Unidos e o Brasil tenham feito
em inglês), que substitui acordos bilaterais progresso na área de comércio e de investimentos ao
existentes e do qual os Estados Unidos agora longo dos anos, o Brasil continua entre os países com
fazem parte. O novo e padronizado PPH tem as mais altas barreiras tarifárias. À medida que os Estados
como objetivo solucionar questões referentes Unidos e o Brasil trabalham para aprofundar o comércio de
ao atraso na concessão e ao consequente bens, os Estados Unidos tentarão aproveitar oportunidades
acúmulo de solicitações por patentes — situação para o aprimoramento da cooperação regulatória, a identifi-
ressaltada pelas empresas farmacêuticas como cação e eliminação de barreiras técnicas e a identificação de
um obstáculo ao aprofundamento das relações novas janelas para harmonizar normas e procedimentos de
comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil avaliação.
— proporcionando agilidade nas análises de Em 2017, as tarifas MFN (sigla para Nação Mais Favorecida,
patentes em todas as áreas de tecnologia. O novo em inglês) aplicadas pelo Brasil foram de 10,2%, em média,
acordo é significativamente mais amplo do que para produtos agrícolas e 13,9% para produtos não agrícolas.
os anteriores, permitindo solicitações de todas As tarifas máximas consolidadas pelo Brasil na OMC são
as áreas de tecnologia e fornecendo tetos anuais
de 55% para produtos agrícolas e 35% para produtos não
mais elevados para todas essas solicitações.
agrícolas.
Além de unificar e padronizar processos, a Os exportadores americanos enfrentam significativa incer-
resolução elimina a exigência de que o Instituto teza em razão de aumentos e reduções frequentes das tarifas.
Nacional de Propriedade Industrial (INPI) De acordo com o Banco Mundial, a tarifa média ponderada
publique uma resolução para cada acordo de do Brasil foi de 8,3% em 2015, a taxa mais alta entre as econo-
cooperação assinado. mias emergentes e desenvolvidas.
A fim de combater o acúmulo de solicitações De acordo com o USTR, o Brasil impõe tarifas relativamente
sem análise, além do PPH, o INPI também adotou altas em uma variedade de setores: automotivo, autopeças,
um plano para reduzir o backlog de patentes em químico, plásticos, tecnologia da informação e comunicação
pelo menos 80% nos próximos dois anos, e para (TICs), máquinas industriais, aço, têxtil e vestuário.18
que os resultados finais das análises de patentes Além das tarifas, os bens industriais dos Estados Unidos
sejam emitidos em menos de dois anos, em média, também enfrentam barreiras não tarifárias, incluindo
a partir do pedido de avaliação. Tal esforço já licenças de importação, padrões técnicos, procedimentos
tem produzido bons resultados. Nos primeiros de avaliação de conformidade e normas técnicas. A título
seis meses da iniciativa, o backlog de patentes ilustrativo, os Estados Unidos e o Brasil adotam diferentes
diminuiu 18%. abordagens para o reconhecimento de padrões internacio-
nais. Os procedimentos de avaliação de conformidade para
brinquedos e equipamentos médicos são exemplos de áreas
À medida que os Estados para discussão e avanço.19 A complexidade no cumprimento
de requisitos específicos nacionais é particularmente onerosa
Unidos e o Brasil trabalham para para pequenas e médias empresas (PMEs). Essas medidas
aprofundar o comércio de bens, não tarifárias geram gastos adicionais de tempo e dinheiro
para as empresas e consumidores. Segundo estimativas com
os Estados Unidos tentarão dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
aproveitar oportunidades para o Desenvolvimento (UNCTAD/TRAINS) e da ONU Comtrade, o
equivalente ad valorem das medidas não tarifárias no Brasil
aprimoramento da cooperação é de quase 12%.20
Embora algumas dessas medidas sirvam a objetivos
regulatória, a identificação e legítimos de saúde e segurança, uma porcentagem maior
eliminação de barreiras técnicas de produtos está sujeita a tais medidas no Brasil do que no
mundo. De acordo com o Banco Mundial, por exemplo, a
e a identificação de novas parcela de importações brasileiras sujeitas a medidas sani-
janelas para harmonizar normas tárias e fitossanitárias e a barreiras técnicas é de 66% e 89%,
respectivamente, comparados a 26% e 61%, respectivamente,
e procedimentos de avaliação para o resto do mundo.21

10
Um funcionário
enche o tanque
de um carro com
gasolina em um
posto da Petrobras
no Rio de Janeiro,
Brasil, em 30
de setembro de
2015. O aumento
da cooperação
regulatória entre
Brasil e Estados
Unidos pode gerar
oportunidades para
o setor de energia
no Brasil.

Aprimoramento de práticas e a desenvolver planos de ação para “alcançar objetivos


concretos que abordem cada questão de forma
regulatórias e oportunidades mutuamente benéfica”. De acordo com o Departamento
de Estado dos Estados Unidos, o fórum representa uma
para o setor de energia abordagem “whole-of-government” de colaboração
público-privada.
No que diz respeito ao comércio, é preciso priorizar uma
maior cooperação regulatória entre os Estados Unidos e O Brasil possui um setor de energia diversificado,
o Brasil, com o intuito de identificar e eliminar barreiras no entanto, é necessário mais capital para o
técnicas desnecessárias. Essa cooperação deverá desenvolvimento futuro de seus recursos energéticos.
incluir a ampliação da cooperação entre os órgãos Nesse contexto, o aperfeiçoamento regulatório é
reguladores do Brasil e dos Estados Unidos, a fim de crucial para que se atinja o objetivo de atrair mais
identificar oportunidades para a harmonização de investimentos.
padrões técnicos e de procedimentos de avaliação de
A administração atual tem procurado reduzir o papel
conformidade (por exemplo, o reconhecimento mútuo
do Estado na economia e promover uma maior
de procedimentos de avaliação da conformidade). Além
concorrência. O Brasil almeja transformar o cenário
disso, os dois países devem fomentar a adoção de
do mercado de energia e tornar-se o maior produtor
boas práticas regulatórias, envolvendo a realização de
mundial de petróleo e gás em 2040.
análises de impacto e consultas públicas, bem como o
estabelecimento de um órgão central de coordenação No setor de gás natural, é necessário aprimorar
regulatória entre os diferentes órgãos governamentais infraestruturas e desenvolver o mercado de gás por
(“whole-of-government approach”). meio da adoção de um marco regulatório adequado
e do incentivo ao investimento do setor privado. Os
As questões expostas ao longo deste relatório se
desafios de transporte permanecem, tendo em vista que
aplicam de maneira singular a setores fundamentais
a maioria das reservas estão no oceano e precisam ser
para a prosperidade e o crescimento dos Estados
transportadas para a costa. Embora o desenvolvimento
Unidos e do Brasil.
da tecnologia para a perfuração do pré-sal no Sul
O setor de petróleo e gás, em particular, é promissor.
ajude no transporte, o desafio de trazer energia para o
Tal como em outras áreas, no setor de energia há
Nordeste do Brasil continua. Desse modo, o aumento
uma janela de oportunidade nos próximos anos para
de investimentos e a expansão da infraestrutura serão
o avanço das discussões e consequente adoção de
fundamentais para o desenvolvimento do setor de
medidas concretas.
energia no Brasil, uma área central para o investimento
Em 2019, após a visita do Presidente Bolsonaro americano.
a Washington, DC, os Estados Unidos e o Brasil
O setor também pode se beneficiar da transferência
anunciaram a intenção de criar o Fórum de Energia
de conhecimento proveniente dos Estados Unidos,
reuters/ricardo moraes

Brasil-EUA (sigla USBEF, em inglês), uma estrutura


especialmente no que se refere ao aprimoramento da
bilateral de cooperação entre governos na área de
regulamentação e do incentivo ao investimento.
energia.
Por fim, a obtenção de licenças ambientais leva um
Sob o USBEF, os Estados Unidos e o Brasil
tempo considerável no Brasil, em alguns casos até cinco
comprometeram-se a identificar questões técnicas,
anos. A otimização do processo de Licenciamento
regulatórias e de políticas públicas de interesse mútuo,
Ambiental pode contribuir para corrigir esse gargalo.

11
comércio e investimentos brasil-eua

Há também oportunidades para melhorar a logística Ganhos relevantes para


comercial e a facilitação do comércio entre os Estados os Estados Unidos
Unidos e o Brasil. O Brasil ratificou o Acordo de

D
Facilitação do Comércio da OMC em 2016 e continua a ada a dimensão da economia brasileira e a
avançar em sua implementação. implementação bem-sucedida de Acordos de
Empresas americanas continuam manifestando suas Livre Comércio dos Estados Unidos com outros
preocupações em relação aos onerosos requisitos doc- países importantes da região, é evidente que um ALC
umentais aplicáveis às importações de determinados EUA-Brasil traria benefícios econômicos concretos para
bens (equipamentos pesados, por exemplo). Embora os Estados Unidos.
tenha havido significativo progresso em alguns setores Em primeiro lugar, um ALC fortaleceria a cooper-
(dispositivos médicos, por exemplo), a imprevisibilidade ação comercial hemisférica, estimulando a plenitude
e os atrasos no processo de desembaraço aduaneiro da relação bilateral entre os Estados Unidos e o Brasil.
continuam a ser problemáticos em outros setores (pro- Como o Brasil é de longe a maior economia da América
dutos farmacêuticos, por exemplo). do Sul, a redução de barreiras comerciais ampliaria
O Brasil aperfeiçoou o ambiente de facilitação do esse importante mercado às empresas americanas. Um
comércio no país por meio da implementação do ATA estudo de 2016 estimou que um ALC adicionaria US$ 24
Carnet , um processo aduaneiro internacional que bilhões ao PIB dos Estados Unidos, além de gerar em
permite a exportação e importação temporárias de torno de cem mil empregos.26 O aumento de empregos
mercadorias com isenção de impostos por até um ano, foi projetado em todos os estados americanos.
de acordo com a Câmara Internacional de Comércio.22 A remoção de tarifas reduziria o custo das impor-
Outro progresso na área de facilitação de comércio tações dos Estados Unidos para o consumidor brasileiro
no Brasil tem ocorrido com as tratativas com vistas a e tornaria as exportações americanas mais competitivas
um acordo de reconhecimento mútuo com os Estados no Brasil em relação a outros países concorrentes pelo
Unidos para o programa de OEA. O OEA é uma iniciativa mercado brasileiro (por exemplo, China, União Europeia
que várias administrações aduaneiras têm buscado e outros países do Mercosul). Um ALC poderia aumentar
implementar para facilitar o comércio global. Ela fornece também a previsibilidade do comércio bilateral para
incentivos a alfândegas, importadores e exportadores os exportadores americanos. Segundo um relatório
que optam por atuar em parceria para melhorar a produzido pelo USTR em 2018 sobre barreiras comer-
segurança da cadeia de suprimentos, de acordo a ciais enfrentadas pelos Estados Unidos (National Trade
Organização Mundial das Alfândegas (OMA).23 O acordo Estimate Report on Foreign Trade Barriers by the Office
mútuo refere-se a dois países que concordam em mutu- of the United States Trade Representative), dadas as
amente reconhecer autorizações de OEA. disparidades entre as tarifas consolidadas e as tarifas
aplicadas pelo Brasil, exportadores americanos enfren-
Foco em serviços tam incertezas, que dificulta a avaliação dos custos de se
fazer negócios com o Brasil. Um ALC, que incluiria elim-

O
Brasil tem mais restrições ao comércio de ser- inação ou redução de tarifas e barreiras não tarifárias,
viços do que a média dos países da América retiraria essa imprevisibilidade.
Latina, de acordo com o Índice de Restrição Um acordo de boas práticas regulatórias proporcio-
ao Comércio de Serviços (STRI, em inglês), do Banco naria o desenvolvimento de abordagens regulatórias
Mundial, com as pontuações mais restritivas em serviços mais convergentes entre os Estados Unidos e o Brasil,
financeiros e profissionais, que são essenciais para o e reduziria ou eliminaria requisitos regulatórios desnec-
crescimento da produtividade e competitividade.24 essariamente onerosos, redundantes ou divergentes.
As empresas americanas enfrentam barreiras em Um acordo de boas práticas regulatórias também
diversos setores de serviços. Por exemplo, barreiras nos permitiria uma cooperação regulatória mais eficiente.
serviços audiovisuais incluem: impostos mais elevados Ele aumentaria a transparência do processo regulatório,
sobre filmes estrangeiros e a exigência de percentuais oferecendo uma lógica clara para novas atividades
de programação brasileira em canais de “transmissão regulatórias, bem como encorajando a cooperação para
aberta”. Nos serviços de entrega expressa são cobra- minimizar a ocorrência de resultados divergentes.
dos 60% de impostos sobre mercadorias importadas Ademais, um ALC poderia otimizar o processo de
através do desembaraço simplificado; não há uma concessão de licenças de importação para as empresas
faixa de isenção de minimis para produtos de baixo americanas, removendo barreiras de entrada e per-
valor; o sistema de liberação automática para entre- mitindo a essas empresas acesso ao mercado brasileiro
gas expressas é parcialmente financiado; e os limites de forma mais rápida e econômica.
de valor por remessa são de apenas US$ 10 mil para Por fim, o fortalecimento das relações econômicas
exportações e US$ 3 mil para importações. Por fim, nos bilaterais, por meio de um ALC, certamente teria con-
serviços financeiros, há a exigência de que brasileiros sequências positivas para as relações não-econômicas
sejam diretamente responsáveis pela administração das entre os dois países.
subsidiárias de bancos estrangeiros e, nos serviços de
telecomunicação, diversos requisitos de conteúdo local
(sigla LCR, em inglês).25

12
Bandeiras dos principais países parceiros da OCDE:
Brasil, Indonésia, Índia, África do Sul, China, 18 de
abril de 2019. Os Estados Unidos endossaram o
pedido de acessão do Brasil à OCDE.

Um acordo de boas
práticas regulatórias A PERSPECTIVA DO BRASIL
proporcionaria o
desenvolvimento de
N
os últimos anos, o Brasil tem caminhado com mais
determinação em direção a uma maior integração
abordagens regulatórias comercial com o resto do mundo. As negociações
entre o Mercosul e a União Europeia ganharam fôlego com
mais convergentes a troca de ofertas em maio de 2016 e aceleraram a partir de
entre os Estados 2017. No mesmo ano, o Mercosul engajou-se em negociações
comerciais com a Associação Europeia de Livre Comércio
Unidos e o Brasil, e (EFTA, em inglês) e, em 2018, lançou negociações com
reduziria ou eliminaria Cingapura, Canadá e Coreia do Sul.
A Argentina, sob a presidência de Mauricio Macri, e o Brasil,
requisitos regulatórios sob a presidência de Michel Temer e, depois, de Bolsonaro,
iniciaram uma fase de maior convergência técnica e política,
desnecessariamente no tocante às negociações comerciais, permitindo o avanço
onerosos, redundantes do Mercosul nas iniciativas acima. A modernização do próprio
Mercosul também teve avanços com a adoção de um acordo
ou divergentes. Um de investimentos (2017), um acordo de compras governamen-
hervé cortinat/oecd/flickr

acordo de boas tais (2018) e a revisão de diretrizes sobre os regulamentos


técnicos comuns (2018).
práticas regulatórias Em nível bilateral, o Brasil assinou seu primeiro acordo
de compras governamentais em 2016 (Peru), ratificou seus
também permitiria uma primeiros acordos de investimentos com vários países da
cooperação regulatória América Latina e da África e, em 2018, assinou um ALC com o
Chile. O acordo com o Chile, pela primeira vez na história bra-
mais eficiente. sileira, incluiu capítulos sobre comércio eletrônico, comércio

13
Soja é carregada em um caminhão em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, em 27 de março de
2012. A agricultura será o foco de uma potencial negociação de um ALC.

e gênero, facilitação de comércio, micro, pequenas e preparar o caminho para um ALC.


médias empresas, meio ambiente, entre outros. Em seu primeiro ano de mandato, o Presidente
Em 2017, o Brasil manifestou formalmente o interesse Bolsonaro postou no Twitter, ao menos cinco vezes, o
em se tornar membro da OCDE e se tornou um obser- seu desejo de iniciar negociações comerciais ou for-
vador do Acordo sobre Compras Governamentais (GPA, talecer as relações comerciais com os Estados Unidos.27
em inglês) da OMC. No nível multilateral, o Brasil tem sido À medida que as eleições de 2020 nos Estados Unidos
um dos propositores mais ativos de discussões sobre se aproximam, a pertinência de explorar abordagens
facilitação de investimentos e comércio eletrônico. mais ágeis, como a assinatura da primeira etapa de um
Sob a presidência de Bolsonaro, a transição brasileira acordo comercial poderia produzir resultados relevantes
em direção a uma política comercial mais ambiciosa e, ao mesmo tempo, constituir um passo incremental em
ganhou impulso adicional. A atual administração atribuiu direção a um futuro ALC.
prioridade máxima à integração comercial, tendo con- Em geral, o setor privado brasileiro parece concordar
cluído com sucesso as negociações de acordos comer- com a ideia de que um ALC geraria ganhos para os dois
ciais com a União Europeia e a EFTA (2019) e avançado lados, sendo entendido como uma iniciativa mutuamente
nos processos negociadores com Cingapura, Canadá benéfica. Entidades empresariais no Brasil, como a
e Coreia do Sul. O Brasil também iniciou diálogos com Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham
outros parceiros, tais como Japão, Líbano, Indonésia e Brasil), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a
Vietnã. Além disso, em 2020, o Brasil manifestou inter- Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
esse em aderir ao GPA da OMC como membro pleno. já se manifestaram publicamente a favor de um ALC com
reuters/paulo whitaker

Do ponto de vista brasileiro, o momento é propício os Estados Unidos.


para uma discussão sobre um ALC com os Estados
Unidos. Essa parece ser uma das principais prioridades Foco em bens
do governo brasileiro, em perfeito acordo com suas

O
atuais diretrizes de política comercial. Levando em conta s Estados Unidos têm uma tarifa média baixa,
a atual convergência política existente entre os chefes de particularmente para os bens industriais. De
Estado de ambos os países, este é o momento ideal para acordo com o USTR, a tarifa média ponderada

14
aprofundando o comércio e os investimentos entre brasil e estados unidos

para a importação de bens não-agrícolas é atualmente


de 2%, sendo que metade desses produtos ingressam no
mercado americano com isenção tarifária.28
Do ponto de vista das exportações, poder-se-ia dizer
que o Brasil não ganharia muito com a redução das Compras Governamentais: um
barreiras tarifárias sobre produtos industriais em um novo horizonte para o Brasil
eventual ALC. Essa seria, porém, uma análise muito rasa.
No universo tarifário americano, há vários pontos fora Quando se trata de compras governamentais, o
da curva. Vestuário e acessórios são um bom exemplo: a Brasil é um novato no cenário global. O Brasil
tarifa média para roupas de malha é de 18,7% e para itens assinou seu primeiro acordo internacional de
que não são de malha, 15,8%. Lã natural, fios e tecidos compras governamentais apenas em 2016, com o
têm uma tarifa de 13,1%. Calçados possuem tarifa de 11,8%. Peru. Desde então, a posição do país se fortaleceu:
As tarifas de importação para joias, pedras preciosas e em 2017, o Brasil assinou um acordo no âmbito
metais preciosos são de 5,9% e para móveis e roupas de do Mercosul e, em 2018, com o Chile. Em 2019, o
cama, 5,7%.29 Mercosul concluiu negociações de acordos com a
Além disso, os Estados Unidos têm se utilizado de União Europeia e a EFTA, ambos com capítulos sobre
medidas restritivas no âmbito da Seção 232 da Lei de compras governamentais. Além disso, o bloco está
Expansão Comercial, de 1962, com base em argumentos em negociação com Cingapura, Canadá e Coreia do
de segurança nacional, que resultam no aumento unilat- Sul. Embora ainda não seja um membro, em 2017, o
eral de tarifas ou em restrições quantitativas a determi- Brasil tornou-se um observador do GPA, da OMC,
e, em 2020, anunciou sua intenção de se tornar um
nadas exportações brasileiras.
membro pleno.
Em 2018, os Estados Unidos impuseram um adicional
tarifário de 10% sobre as exportações brasileiras de Predomina no Brasil uma visão positiva sobre esses
alumínio e passaram a restringir as exportações bra- acordos, uma vez que ajudam a conferir maior
sileiras de aço por meio de cotas rígidas, cujos volumes transparência às compras do governo brasileiro
foram limitados com base na média dos anos de 2015 a e melhoram a qualidade dos gastos públicos,
2017. Sob esse mesmo mecanismo, está em curso uma sobretudo em um momento em que o governo
investigação sobre automóveis e peças automotivas que enfrenta crescentes e desafiadoras restrições
poderá afetar as exportações brasileiras. orçamentárias. É improvável, portanto, que o tópico
Para além das tarifas, os bens industriais brasileiros de compras governamentais seja uma questão
estão sujeitos a testes, avaliações de conformidade ou de grande controvérsia, pelo menos por parte do
ajustes em produtos e processos para o cumprimento governo brasileiro, se e quando discutido à mesa de
de requisitos técnicos para comercialização nos Estados negociações com os Estados Unidos. Entretanto, isso
Unidos. A intensificação de iniciativas setoriais de coop- não significa que haverá apoio irrestrito dos setores
eração regulatória e a negociação de regras para evitar privados diretamente afetados por um possível
barreiras técnicas (sigla TBT, em inglês) desnecessárias acordo, sendo razoável esperar em alguns casos
poderiam, portanto, ter impactos positivos substanciais que eles busquem preservar o mercado brasileiro e
na redução de custos e prazos no comércio bilateral. demandem reciprocidade no mercado americano.
O acesso de produtos agrícolas brasileiros ao mercado Por outro lado, algumas medidas que integram o Buy
dos Estados Unidos também enfrenta restrições con- American Act podem ser objeto de especial atenção
sideráveis na forma de tarifas e restrições quantitativas. para os negociadores brasileiros, como aquelas
Embora representem apenas cerca de 5% das expor- que restrinjam a possibilidade de participação
tações brasileiras para os Estados Unidos (2018), existe de empresas brasileiras ou exijam altos limites de
um potencial considerável para a sua expansão.30 conteúdo local para compras governamentais nos
Os Estados Unidos e o Brasil são líderes mundiais Estados Unidos, incluindo, por exemplo, projetos de
na produção e exportação de produtos agrícolas. São infraestrutura, defesa e energia. O governo brasileiro
concorrentes ferozes no mercado global, mas podem se avalia que negócios brasileiros são potencialmente
complementar em áreas específicas, como no caso do afetados por medidas restritivas nas compras
etanol, açúcar e carne. Os dois países também podem governamentais dos Estados Unidos nos setores
trabalhar em conjunto para acessar novos mercados têxtil, de alimentos e produtos siderúrgicos.34
internacionais e desenvolver padrões comuns para pro-
dutos agrícolas.
As barreiras ao livre comércio no setor agrícola são
bastante elevadas em ambos os países. No lado amer-
icano, há restrições para as exportações brasileiras
de açúcar, algodão, complexo de soja, tabaco, suco
de laranja e laticínios, que enfrentam cotas ou tarifas
altas para entrar no mercado dos Estados Unidos. Em
muitos casos, as tarifas impostas fora das cotas são
de facto proibitivas. Em outros casos, as exportações

15
comércio e investimentos brasil-eua

brasileiras não são legalmente permitidas para ingressar


no mercado americano, geralmente devido à exigência Ganhos relevantes para o Brasil
de certificação ou à aplicação de medidas sanitárias e

U
fitossanitárias (sigla SPS, em inglês), como nos casos da m ALC não geraria benefícios para as exportações
carne de frango, abacate, caqui, figo, carambola, entre brasileiras apenas em decorrência da eliminação
outros.31 ou redução de barreiras tarifárias e não tarifárias,
As negociações sobre os produtos agrícolas tendem a mas também em razão de criação de mercado e redução
ser altamente sensíveis, uma vez que envolvem arranjos de custos comerciais na hipótese da definição de com-
políticos há muito consolidados e interesses específicos. promissos bilaterais sobre facilitação de comércio, TBT,
Caso os Estados Unidos e o Brasil decidam se engajar em SPS, comércio eletrônico, entre outras áreas.
discussões sobre esses tópicos como parte das nego- Caso os dois países concluam um ALC, a expectativa
ciações do ALC, incluindo temas como regras bilaterais é de aumento das exportações brasileiras de máqui-
de SPS e a eliminação ou redução de barreiras tarifárias nas e equipamentos, vestuário, calçados, produtos de
a importações, é de se esperar um difícil caminho pela aço, granitos e pedras ornamentais, pisos e móveis de
frente. madeira, aeronaves, autopeças e equipamentos de trans-
porte, entre outros setores. Obviamente, os produtos
Foco em serviços agrícolas mencionados na seção anterior também pode-
riam ganhar maior participação no mercado americano.

O
s Estados Unidos são o principal destino das Além dos ganhos de exportação, um ALC traria ganhos
exportações brasileiras de serviços. Em 2017, nas áreas de importação, investimentos e no fortaleci-
os Estados Unidos representaram mais de mento geral da economia brasileira. No lado das impor-
50% das vendas brasileiras de serviços no exterior, tações, um ALC daria ao Brasil acesso mais competitivo
totalizando cerca de US$ 16 bilhões, de acordo com a insumos (por exemplo, plásticos e produtos químicos),
as estatísticas comerciais brasileiras. Em 2018, as bens de capital e produtos de consumo e tecnologia (por
exportações para os Estados Unidos caíram para exemplo, fármacos, automóveis e produtos alimentares).
US$ 8,7 bilhões. Os serviços mais relevantes exportados Um ALC contribuiria para tornar a produção e as
foram serviços técnicos, desenvolvimento de aplicativos exportações brasileiras mais competitivas, corroborando
e serviços financeiros, entre outros. o mote de “importar para exportar” e a tendência global
Em 2018, os Estados Unidos ficaram atrás apenas da de aumento do conteúdo importado nas exportações.
Holanda como principal país de origem das importações Esses ganhos de competitividade podem ser maiores se
brasileiras de serviços. O valor total de serviços com- acompanhados por reformas domésticas para aumentar
prados dos Estados Unidos pelo Brasil foi de US$ 12,5 a produtividade e reduzir os custos de produção locais
bilhões. Os setores relevantes incluíram a concessão de e por investimentos em infraestrutura e na capacitação
royalties de produção, a locação de máquinas e equi- da força de trabalho. Um ALC também aumentaria o
pamentos, serviços de publicidade e a concessão de bem-estar geral da população brasileira, que teria acesso
licenças para a utilização de software. mais barato a bens de consumo duráveis e não duráveis.
É importante observar que, tanto nos fluxos de Da mesma forma, os fluxos de serviços entre os dois
exportação como nos de importação, as estatísticas ofi- países poderiam se beneficiar amplamente de um acordo
ciais dos Estados Unidos diferem significativamente das comercial que aprimore as condições de acesso a mer-
estatísticas brasileiras. Como referência, os dados amer- cados e traga maior previsibilidade e segurança jurídica.
icanos de 2018 indicam que as exportações de serviços Para o Brasil, considerando a proeminência dos Estados
dos Estados Unidos para o Brasil totalizaram US$ 28,2 Unidos como destino de suas exportações de serviços,
bilhões (mais que o dobro dos dados brasileiros) e as um ambiente mais favorável criado por um ALC seria um
importações de serviços do Brasil pelos Estados Unidos avanço bem-vindo.
alcançaram US$ 6,1 bilhões.32 Como consequência, os Um acordo comercial ambicioso também funcionaria
Estados Unidos tiveram um superávit comercial de como um catalisador para o aumento dos investimentos
serviços de cerca de US$ 22 bilhões. É preciso que os diretos dos Estados Unidos no Brasil (não apenas para
dois governos procurem explicações que justifiquem tais atender ao mercado doméstico brasileiro, mas também
disparidades e que garantam um entendimento comum para que o país possa ampliar seu papel como uma
sobre as estatísticas do comércio bilateral. plataforma de exportação), além de incentivar mais
Em que pesem as diferenças estatísticas, a relevância empresas brasileiras a expandir seus negócios ou investir
do comércio bilateral de serviços sugere que a nego- nos Estados Unidos.
ciação de um acordo de serviços entre o Brasil e os Por fim, um ALC geraria renda e empregos no Brasil.
Estados Unidos poderia gerar benefícios substanciais De acordo com o estudo realizado pela Amcham Brasil e
para ambos os países. Do lado brasileiro, setores que pela Fundação Getúlio Vargas, um ALC aumentaria o PIB
poderiam se beneficiar de tal acordo incluem os serviços do Brasil em até 1,3% (mais de US$ 38 bilhões) até 2030,
financeiros, serviços jurídicos e contábeis, serviços ger- gerando exportações adicionais de até US$ 25,7 bilhões
enciais, serviços de tecnologia da informação, serviços e importações adicionais de até US$ 28,1 bilhões nesse
de marketing e recreação, entre outros.33 período.35

16
Equipe instala
equipamentos de
telecomunicações
no estado americano
de Utah, em 3 de
dezembro de 2019.

Questões-chave no debate sobre ao Acordo de Madri relativo ao Registro Internacional de


Marcas da Organização Mundial de Propriedade Intelectual
Propriedade Intelectual (PI) (OMPI), lançou um marco universal de PPH e assinou
um novo Memorando de Entendimento (sigla MoU, em
Os Estados Unidos e o Brasil adotaram, historicamente, inglês) sobre PPH entre o INPI e o Escritório Americano
abordagens divergentes no debate sobre propriedade de Patentes e Marcas (sigla USPTO, em inglês), válido por
intelectual. Um exemplo foi a disputa bilateral na OMC, cinco anos, para todas as áreas de tecnologia.38 Também
no início dos anos 2000, sobre a conformidade da lei digno de nota foi o lançamento de um plano nacional
brasileira de patentes, que permitiu ao governo brasileiro para combater o backlog de pedidos de patentes sem
conceder licenças compulsórias em circunstâncias conclusão no Brasil, que otimiza a avaliação de patentes e
especiais — negando os direitos de patentes de empresas visa reduzir o acúmulo em 80% até 2021, já tendo obtido
estrangeiras em prol de uma produção local mais resultados relevantes.39
barata ou da importação de medicamentos genéricos,
principalmente em decorrência do programa brasileiro de As questões listadas no relatório Special 301
combate à AIDS.36 provavelmente farão parte das discussões caso o Brasil
e os Estados Unidos iniciem negociações sobre um
Outros exemplos de diferenças quanto a questões de acordo comercial abrangente. A posição dos Estados
propriedade intelectual podem ser encontrados no Unidos sobre proteção à propriedade intelectual é
relatório USTR Special 301 de 2019, que novamente substancialmente mais agressiva que a do Brasil, o que
colocou o Brasil na lista de países que, no entendimento significa negociações desafiadoras.
dos Estados Unidos, não protegem nem aplicam direitos
de PI de maneira adequada ou eficaz. O relatório do Uma análise do Acordo Estados Unidos-México-Canadá
USTR para o Brasil apresentou alegações de deficiência (sigla USMCA, em inglês) confirma a mais recente posição
na aplicação adequada ou eficaz de direitos de PI na dos Estados Unidos sobre PI. Entre outros pontos, o novo
fronteira; níveis altos de falsificação e pirataria, incluindo capítulo de PI requer que o prazo mínimo de copyright
a pirataria on-line, o uso de software não licenciado e seja o tempo de vida do autor mais setenta anos; exige
filmagens ilícitas; pirataria com o uso de dispositivos que os procedimentos de aplicação de direitos de PI sejam
de streaming e lentidão nos processos de oposição em disponibilizados para o ambiente eletrônico; fornece
relação a marcas registradas. O relatório também alegou proteção avançada de segredos comerciais; fornece
a ausência de leis e regulamentos de proteção contra salvaguardas processuais para o reconhecimento de
o uso comercial desleal, bem como a divulgação não novas indicações geográficas (IG), incluindo altos níveis
autorizada de dados gerados a fim de obter aprovação de proteção contra concessões de IG que impediriam
reuters/george frey

para a publicidade de produtos farmacêuticos e incentivou os produtores americanos de usar designações comuns;
a promulgação de legislação para aumentar as penas em e estabelece disposições mais rigorosas para garantir
crimes de PI.37 a aplicação de direitos, incluindo autoridade ex officio
para que agentes detenham mercadorias suspeitas de
Por outro lado, é importante destacar o progresso recente falsificação ou pirataria em todas as fases de entrada,
do Brasil. Em 2019, o país aderiu ao Protocolo referente saída e trânsito no território dos parceiros.

17
Av. Jair Ribeiro da Silva em Interlagos, São Paulo, Brasil. O
Brasil e os Estados Unidos tomaram medidas para promover
um engajamento mais profundo em setores de importância
estratégica mútua, incluindo infraestrutura.

Expandindo o Investimento
Estrangeiro Direto

O s benefícios e a importância de fortalecer


os investimentos mútuos entre o Brasil
e os Estados Unidos são evidentes —
especificamente para as exportações,
tecnologia, pesquisa e desenvolvimento e criação
de empregos —, conforme demonstrado no Mapa
de Investimentos Bilaterais Brasil-EUA, pela Agência
representaram a maior parte do estoque de IED dos
Estados Unidos no exterior (60% na Europa, 15% na Ásia
— com maior foco na Austrália, Japão e Cingapura -, 7%
no Canadá e com um percentual menor, 1,9% na China). A
América Latina e outros países do Hemisfério Ocidental
responderam por 16% dos investimentos americanos,
concentrados principalmente nos centros financeiros do
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos Caribe, incluindo Bermudas, ao invés das duas maiores
(Apex-Brasil).40 economias da região, Brasil e México, onde foram inves-
Porém, embora a relação bilateral de IED seja mutual- tidos respectivamente apenas 1,1% e 1,9% (igual à China).
mente benéfica, ela permanece desigual. Em 2018, o De acordo com dados do Banco Central do Brasil,
estoque de investimento direto dos Estados Unidos o estoque de IED no Brasil foi de US$ 738 bilhões em
sergio souza/unsplash

no exterior foi de US$ 5,95 trilhões, de acordo com o 2018 (dos quais quase 70% são participações acionárias
Escritório de Análise Econômica dos Estados Unidos de capital próprio e o restante, dívida financiada). De
(Bureau of Economic Analysis — BEA). O Brasil foi o acordo com o método de cálculo que examina o uso de
destino de US$ 71 bilhões, cerca de 1% do total.41 países intermediários, geralmente por questões fiscais,
De acordo com os cálculos de um dos autores, para a determinação do investidor final, os Estados
usando dados do BEA, as economias desenvolvidas Unidos são o maior investidor no Brasil, respondendo por

18
expandindo o investimento estrangeiro direto

O Brasil é um dos principais


destinos de investimentos
americanos na América Latina,
tanto em termos de IED quanto
US$ 118 bilhões em IED financiado por capital próprio.
Isso representa 24% do IED total financiado por capital
de investimentos em portfólio.
próprio (reinvestimento de lucros ou fluxos diretos, em Isso ocorre não apenas porque
vez de empréstimos entre empresas do mesmo grupo
ou endividamento) no Brasil. Os Estados Unidos também
o Brasil é a maior economia
respondem por outros US$ 16 bilhões em IED financia- da região, mas também pela
dos por endividamento (de acordo com a metodologia
de cálculo descrita acima). A maioria do significativo amplitude de seus mercados
estoque de IED americano no Brasil está investido nos
setores de serviços financeiros e de manufatura.42
de dívidas e de capitais.
O Brasil é um dos principais destinos de investimentos
americanos na América Latina, tanto em termos de IED
quanto de investimentos em portfólio. Isso ocorre não
apenas porque o Brasil é a maior economia da região,
mas também pela amplitude de seus mercados de
dívidas e de capitais. Ainda assim, o Brasil continua a
REFORMAS DOMÉSTICAS
receber uma pequena parcela do investimento total dos
Estados Unidos. Há espaço para estreitar os laços de
PREPARANDO
investimentos entre os dois países. TERRENO PARA MAIS
O momento é propício para preparar o terreno em
direção a uma maior relação de IED. As administrações INVESTIMENTOS
dos Estados Unidos e do Brasil compartilham uma filo-
sofia semelhante de fortalecimento da participação do
setor privado na economia. O governo Bolsonaro expan- A Reforma Tributária do Brasil
diu o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI),

P
iniciado durante o governo Temer, com foco em Parcerias ara preparar o terreno para maiores investimentos
Público-Privadas (PPP) e concessões. O governo bra- de empresas americanas e de outros países, a
sileiro estima que o programa se aplicará a mais de cem expectativa de investidores é por avanços na
novos projetos, totalizando cerca de R$ 1,3 trilhão. Os reforma do sistema tributário brasileiro. Atualmente, a
projetos abrangem rodovias, ferrovias, portos, aeropor- complexidade do sistema tributário no país por vezes
tos, energia, petróleo e gás, e telecomunicações. Isso diminui o ritmo de investimento. Os impostos federais,
abre uma variedade de possibilidades para empresas estaduais e locais, que se sobrepõem, contribuem para
americanas. Certamente, embora não se possa dizer que uma concorrência por investimentos entre os estados
as empresas americanas figuram entre os grandes atores com um complexo sistema de créditos tributários.
do mercado global de infraestrutura, oportunidades para Segundo o relatório Doing Business 2020, do Banco
pequenas e médias empresas podem surgir. Mundial, o pagamento de impostos leva mais de 1.500
Tendo como objetivo acelerar o crescimento impulsio- horas por ano no Brasil, comparado com as 140 horas
nado por investimentos e promover ganhos gerais de na China e as 240 no México.43 Esforços para simplificar
produtividade, IED dos Estados Unidos pode melhorar as o sistema, tais como a criação de um sistema unificado
perspectivas de investimento e crescimento do Brasil e de declaração de impostos, o uso de faturas eletrônicas
vice-versa. Entretanto, abrir as portas para maiores inves- e um sistema de pagamento eletrônico para tributos
timentos, seja nos próximos anos ou década, implica a da previdência social e sobre a folha de pagamento,
solução de entraves aos negócios, algo de fundamental começaram a descomplicar o processo.
importância para as empresas. Ainda assim, sob a perspectiva dos Estados Unidos,
As reformas domésticas nos sistemas tributário e o prosseguimento das reformas aliviaria algumas das
cambial brasileiros, bem como as medidas adotadas dificuldades de investimento no Brasil. Uma reforma
para reduzir o custo de se fazer negócios no país, abrirão tributária abrangente é uma oportunidade de cooper-
caminho para um ambiente de investimento mais eficaz. ação e aprimoramento dos laços econômicos entre os
Do ponto de vista bilateral, iniciar conversas sobre um dois países.
acordo para evitar dupla tributação e, a longo prazo, Os poderes executivo e legislativo brasileiros estão
negociar um potencial acordo bilateral de investimentos discutindo múltiplas versões de uma reforma tributária,
ofereceria aos Estados Unidos e ao Brasil novas e impor- o que poderia levar à diminuição dos custos de se
tantes oportunidades para o aumento de IED. fazer negócios no país, com a simplificação do sistema

19
comércio e investimentos brasil-eua

Do ponto de vista bilateral, iniciar conversas


sobre um acordo para evitar dupla tributação
e, a longo prazo, negociar um potencial acordo
bilateral de investimentos ofereceria aos
Estados Unidos e ao Brasil novas e importantes
oportunidades para o aumento de IED.

tributário e a redução das taxas de imposto de renda. liberando recursos valiosos nas empresas para inves-
Potencialmente, esse seria um grande passo para um timentos mais produtivos e eficientes. Tais mudanças
país que há muito discute a necessidade de uma reforma tornariam o ambiente de investimentos brasileiro mais
tributária, mas que nunca teve vontade política para atraente para as empresas americanas.
avançar nesse sentido. Ademais, o risco de aumento de impostos é muito
A reforma tributária mais provável deve incluir a baixo. Todas as propostas de reforma tributária apresen-
simplificação de impostos federais, integrando de três a tadas até o momento procuram manter a carga tributária
cinco impostos — o Programa de Integração Social (PIS), inalterada.
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
(COFINS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Reformas para facilitar os negócios no
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e o
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — em um
Brasil

O
Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), o que aliviaria o bstáculos administrativos no Brasil, como os
impacto sobre as cadeias produtivas mais longas, além custos de abertura de empresas, concessão de
da redução da taxa de imposto de renda sobre pessoas licenças de construção e registro de proprieda-
jurídicas e a introdução de um imposto sobre dividendos. des também afetam o IED dos Estados Unidos — e do
O governo está avaliando a reforma ideal em função resto do mundo — no Brasil, principalmente para empre-
das necessidades de arrecadação e viabilidade política. sas de pequeno e médio porte.
Várias propostas de reforma tributária foram apresenta- O elevado número de dias, procedimentos e custo
das. Em fevereiro de 2020, Davi Alcolumbre, presidente financeiro para abrir um negócio, registrar propriedades
do Senado, anunciou a criação de uma Comissão Mista e obter licenças de construção são obstáculos para os
da Reforma Tributária, composta por vinte deputados e investimentos.
vinte senadores.44 O Brasil, no entanto, avançou nessas áreas em 2018 e
Neste ínterim, o Congresso brasileiro já está discutindo 2019. O processo de registro de novos negócios ficou
propostas de reforma tributária potencialmente mais mais rápido, os custos de certificados digitais foram
ambiciosas, exigindo uma emenda constitucional, e que reduzidos e os sistemas eletrônicos de registro de pro-
implicariam na simplificação e fusão do ICMS estadual priedades melhoraram com a adoção de pagamentos e
com o IVA federal. É isso que sugere a Proposta de certificados on-line.
Emenda Constitucional (PEC) 45, que criaria um IVA Ainda assim, as regulamentações ainda variam entre
para todos os bens e serviços no Brasil.45 as 27 unidades da federação e os mais de cinco mil
O governo e o presidente da Câmara dos Deputados, municípios do Brasil. Governos anteriores criaram um
Rodrigo Maia, preveem que uma reforma tributária seja sistema federal para simplificar e unificar os requisitos
aprovada ainda em 2020. No entanto, qualquer potencial de registro de empresas (REDESIM), motivados pelos
reforma ainda enfrenta obstáculos, incluindo a falta de esforços de otimização dos governos locais.
definição de pontos prioritários, projetos de lei concor- Os custos, porém, continuam altos. Para os investi-
rentes na Câmara e no Senado e as eleições municipais dores americanos, a criação de um “balcão único” para
de 2020, que provavelmente reduzirão a carga horária a abertura de negócios, a implementação de processos
de trabalho do Legislativo brasileiro. eletrônicos e um processo mais célere para a obtenção
Um progresso significativo nas frentes complexidade de licenças ambientais e participação em licitações
de impostos e distorções tributárias, simplificando o governamentais poderiam melhorar o ambiente de
sistema tributário brasileiro, incentivaria um ambiente investimentos significativamente. Com a criação de
de investimentos mais produtivo no Brasil, reduzindo um balcão único e a digitalização dos processos pelo
obstáculos tributários aos investimentos e diminuindo governo, investir no Brasil seria muito mais simples.
os custos para o pagamento de impostos. As várias No que tange à facilidade de se fazer negócios no
propostas têm o potencial de reduzir os custos de litígio, Brasil, é importante observar que o país avançou no

20
expandindo o investimento estrangeiro direto

A nota de dois reais


brasileiros. O Brasil está
abrindo caminho para
maiores investimentos
com a implementação
de reformas domésticas
importantes, incluindo
na sua legislação
cambial (FX).

combate à corrupção, após as investigações recentes do mercado financeiro, mas para todas as empresas
da Operação Lava Jato. Embora o Brasil seja adepto americanas.
de uma série de medidas de combate à corrupção A atual legislação cambial brasileira remonta à década
da Organização de Cooperação e Desenvolvimento de 1920 e inclui mais de quatrocentas normas (algumas
Econômico (OCDE) — incluindo a Recomendação delas contraditórias) contidas em cerca de quarenta
do Conselho para os Atores de Cooperação para o diferentes fontes de legislação. Isso reduz a eficiência
Desenvolvimento sobre a Gestão de Risco de Corrupção, e aumenta a incerteza jurídica para investimentos
a Recomendação do Conselho para o Combate à estrangeiros entrando e saindo Brasil, além de impactar
Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em fluxos comerciais e a participação em cadeias globais de
Transações Comerciais Internacionais, Recomendação produção.
do Conselho sobre Medidas Tributárias para Ampliar Em outubro de 2019, o governo enviou ao Congresso
o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos um Projeto de Lei (5387/2019) que propõe simplificar,
Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais, modernizar e aumentar a segurança jurídica para o
entre outras —, o progresso contínuo de combate à cor- sistema de câmbio e os fluxos de capital (tanto os fluxos
rupção provavelmente contribuiria para o aumento de brasileiros para o exterior quanto a entrada de capital
investimentos dos Estados Unidos no Brasil. estrangeiro). A legislação proposta visa reduzir a buro-
cracia e alinhar a regulamentação cambial do Brasil às
Reforma da legislação do mercado de melhores práticas globais, consistentes com os padrões
da OCDE, incluindo questões relativas à lavagem de din-
câmbio brasileiro heiro, contraterrorismo e disseminação de dados.

A
modernização da legislação do mercado de A legislação dá autoridade e flexibilidade ao Conselho
câmbio brasileiro (foreign exchange — FX, em Monetário Nacional (CMN) e ao Banco Central para
inglês) é um elemento essencial da agenda do redigir e alterar normas infralegais, por sua vez facilitando
benjamin thompson/flickr

Banco Central do Brasil sob a atual administração. A uma adaptação mais rápida às mudanças nos mercados
diminuição de restrições e complexidades na regulação financeiros globais e ao mesmo tempo em preservando
do mercado cambial do Brasil pode aumentar a par- o compromisso com boas práticas de gestão de riscos.
ticipação do país nas cadeias globais de produção e O projeto prevê a incorporação de novos modelos de
levar a uma integração mais profunda com a economia negócios, como as fintechs, uma maior conversibilidade
global, o que seria atraente não apenas para as empresas do real, entre outros. Ele poderia simplificar o acesso e

21
comércio e investimentos brasil-eua

melhorar a atratividade para investidores americanos e De acordo com a revista Global Trade, “as mudanças
estrangeiros no Brasil — seja portfólio ou IED -, inclusive no regime de tributos corporativos dos Estados Unidos
para projetos de infraestrutura ou concessões de longo também levaram, no final de 2017, a um aumento de 78%
prazo. de empresas reinvestindo lucros acumulados no exterior,
Como exemplo, a legislação proposta provavelmente nos Estados Unidos”.
eliminaria a assimetria das obrigações sobre os clientes, No entanto, os Estados Unidos ainda lideram o fluxo de
que serão mais proporcionais, a depender do perfil de entrada de IED. Historicamente, empresas e investidores
risco do tamanho e do segmento de uma empresa. Isso estrangeiros elegeram os Estados Unidos como um dos
reduziria custos para as empresas dos Estados Unidos. lugares mais seguros do mundo para se investir.
Outro exemplo de normas cambiais onerosas para as Segundo investidores, isso se deve a vários fatores,
empresas americanas é o fato que, de acordo com a leg- entre os quais: o tamanho do mercado consumidor,
islação vigente, todo investimento estrangeiro deve ser um estabelecido sistema jurídico, uma regulação de
registrado junto ao Banco Central, independentemente negócios bem definida, a força de trabalho do país, bem
do tamanho da transação. Esse processo é geralmente como sua infraestrutura e estabilidade econômica geral.48
custoso, especialmente para as pequenas empresas. Apesar de os Estados Unidos estarem ranqueados
Além disso, transações cambiais em qualquer operação entre os países mais simples e menos burocráticos para
de comércio exterior (seja importação ou exportação), se começar um negócio, incertezas, principalmente em
devem ser reportadas junto às instituições financeiras torno da imigração e do comércio internacional, contin-
relevantes, frequentemente com onerosas taxas adi- uam a deter o investimento.
cionais. As reformas propostas visam mudar o controle
dessas transações para uma abordagem baseada em
risco, permitindo que a instituição financeira/operador
de câmbio decida qual documentação ou registro é
necessário, de acordo com as avaliações de risco, assim VIAS BILATERAIS PARA
diminuindo os custos para as empresas.
A legislação proposta também pode reduzir assime-
O APROFUNDAMENTO
trias relativas a transações de correspondentes bancários
internacionais denominadas em reais e operações finan-
DOS INVESTIMENTOS
ceiras de comércio exterior ao tornar mais fácil o estabe-

A
lecimento de contas de custódia denominadas em reais s reformas domésticas feitas pelo Brasil nos
no Brasil e no exterior. Com o tempo, a nova legislação sistemas tributário, administrativo e cambial vão
poderia levar o real a se desenvolver como uma moeda certamente melhorar o ambiente de investimen-
plenamente conversível nos mercados globais de capital. tos no país. Ainda assim, para promover mais IED, Brasil
Tanto o IED americano de origem financeira — bancos e os Estados Unidos, além das reformas domésticas em
e fintech — quanto o de origem não-financeira provavel- andamento, devem trabalhar por dois acordos bilaterais
mente se beneficiariam da aprovação dessa legislação, significativos.
considerando, assim, mais atraente investir no Brasil.
Um Acordo de Dupla Tributação
A Reforma Tributária dos Estados

U
m acordo para evitar a dupla tributação (ADT) é
Unidos de fundamental importância quando se trata da

E
m 2017, o governo Trump aprovou a Lei de Cortes atração de IED. Essa ideia foi reforçada pelas reco-
de Impostos e Empregos (sigla TCJA, em inglês), mendações do Fórum de CEOs EUA-Brasil, realizado
uma das mudanças mais robustas no sistema em novembro de 2019, que refletiam as prioridades e
tributário federal do país desde meados de 1980. Em perspectivas dos setores privados dos dois países.
termos de IED, a reforma dos tributos corporativos dos Os ADTs aumentam a segurança jurídica do investi-
Estados Unidos afetou alíquotas efetivas tanto para mento entre países, com cláusulas sobre execução
investimentos domésticos nos Estados Unidos quanto jurídica, intercâmbio de informações e solução de
para investimentos internacionais em que os investi- controvérsias. Eles também lidam com um elemento
dores ou os recebedores do investimento residiam nos concreto em relações de IED: o estabelecimento de
Estados Unidos. De acordo com a Tax Foundation, o regras sobre a distribuição do imposto de renda entre
TCJA reduziu a alíquota do imposto de renda corpora- os países de residência e de origem dos investimentos,
tivo de 35% para 21% —reduzindo a alíquota do país de tendo assim consequências práticas para as empresas
quase 40% para cerca de 25%, o que colocou os Estados investidoras. Em resumo, os ADTs reduzem a carga
Unidos um pouco acima da média da OCDE de 24%.46 tributária agregada em cinco operações cruciais para
Embora a reforma tenha tido, em geral, um efeito posi- negócios entre fronteiras: lucros, dividendos, juros, roy-
tivo, o IED global caiu 19% em 2018, para cerca de US$ 1,2 alties e serviços.
trilhão, em parte devido ao repatriamento, por empresas Segundo a CNI, e sem detalhar muito as exceções, os
americanas, de US$ 300 bilhões em lucros acumulados impostos retidos na fonte para pessoas estrangeiras
para se aproveitar da redução de impostos.47 são de 30% nos Estados Unidos e 0% no Brasil em

22
expandindo o investimento estrangeiro direto

pagamentos de dividendos; 30% nos Estados Unidos e 15%


no Brasil em juros; 30% nos Estados Unidos e 15% no Brasil
em royalties; 30% nos Estados Unidos e 15% no Brasil em
serviços.49 Em todas essas operações, ADTs levariam a uma
tributação menor para investidores estrangeiros.
Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos têm vários ADTs
em vigor.50 No entanto, há diferenças importantes entre eles.
As primeiras negociações bilaterais datam de 1949 e, até o Os ADTs aumentam
momento, não houve resultados. Na década de 1960, um
acordo foi alcançado, mas depois rejeitado pelo Congresso
a segurança jurídica
dos Estados Unidos. Atualmente, a distância entre os dois do investimento entre
modelos de acordo — americano e brasileiro — vem diminu-
indo com a alteração de algumas cláusulas importantes pelo países, com cláusulas
Brasil, como a do crédito tributário fictício (tax sparing) e a sobre execução
do crédito presumido (matching credit).
Ainda que a estrutura dos ADTs brasileiros seja muito sem- jurídica, intercâmbio de
elhante à da OCDE, o modelo diverge das diretrizes da OCDE
em algumas cláusulas, ao contrário dos Estados Unidos. Dado
informações e solução
o contexto recente da decisão e dos esforços do Brasil para de controvérsias.
ingressar na OCDE, há de se imaginar um caminho mais fácil
para as negociações. Isso é particularmente importante para
a discussão sobre preços de transferência (transfer-pricing),
um tópico controverso em discussões anteriores. O Brasil
terá que alterar sua legislação e caminhar em direção às
regras da OCDE para poder ingressar na Organização. Os
esforços nesse sentido já começaram e podem ser decisivos
em qualquer discussão formal com os Estados Unidos.
Uma das cláusulas mais controversas e que afastam as
posições negociadoras diz respeito ao tax sparing e ao
matching credit. Estimulada pela OCDE no passado, mas
depois abandonada, a cláusula de tax sparing prevê uma
isenção da tributação no país de residência dos impostos que
não foram de fato pagos ou que foram “poupados” (spared,
em inglês) .51 Sua lógica é evitar que incentivos fiscais justa-
mente criados para atrair investimentos estrangeiros se
tornem ineficazes. Em tese, o objetivo é manter o espaço de
políticas públicas para a atração investimentos dos países
em desenvolvimento, mesmo diante de ADTs firmados com
países desenvolvidos. Sem entrar no mérito dos resultados
questionáveis desse tipo de cláusula, o fato é que o Brasil Ainda há uma grande
costumava incluir cláusulas de tax sparing em muitos de seus
acordos, enquanto os Estados Unidos não as adota em seus oportunidade em
ADTs.
No entanto, desenvolvimentos recentes indicam que essa
relação aos serviços. A
cláusula específica pode não ser mais um problema. O Brasil crescente importância
assinou acordos com a Suíça, os Emirados Árabes Unidos e
Cingapura que não incluem cláusulas de tax sparing. Ainda dos serviços para
a ser confirmada como uma nova orientação de política produtos e exportações
pública, essa é uma demonstração de flexibilidade sem
precedentes das autoridades brasileiras nessa questão. Além de alto valor agregado é
disso, o Brasil reduziu o nível de tributação de juros e serviços
de 15%, como na maioria dos acordos anteriores, para 10%
incontestável.
nos mais recentes.
Ainda há uma grande oportunidade em relação aos
serviços. A crescente importância dos serviços para produtos
e exportações de alto valor agregado é incontestável.
A legislação nacional brasileira classifica a maioria dos
serviços como serviços técnicos, levando à tributação de
quase todos os serviços importados. Em sentido contrário, o
modelo da OCDE prescreve a tributação de serviços apenas

23
comércio e investimentos brasil-eua

no país de residência, prática também seguida pelos cenário de atraso do país como exportador de capitais, o
Estados Unidos. governo brasileiro finalmente decidiu rever seu relaciona-
Em geral, os Estados Unidos tributam apenas mento com os acordos de investimento.
serviços no país de origem no caso de estabelecimento A visão era de que o Brasil sempre fora um dos prin-
permanente, que é basicamente entendido como pre- cipais destinatários de IED do mundo, mesmo sem ter
sença física. Os acordos brasileiros para evitar a dupla acordos de investimento em vigor; logo, os acordos de
tributação adotam o conceito de estabelecimento investimento não seriam necessários para atrair IED, mas
permanente, porém uma interpretação rasa dada pela sim para promover investimentos brasileiros no exterior.
legislação nacional torna rara a aplicação dessa regra. Isso é fundamental para entender o que se tornariam
No entanto, parece haver aqui um espaço para con- os inovadores Acordos de Cooperação e Facilitação
vergência, já que alguns dos ADTs americanos trazem de Investimentos (ACFI) brasileiros. Assinados desde
definições flexíveis para “estabelecimento permanente”, 2015 com muitos países da África, Ásia e América Latina,
bem como um tratamento diferenciado para “serviços tais acordos focam principalmente em cláusulas de
técnicos”. facilitação de investimentos, governança institucional,
No geral, um ADT bilateral pode permitir que empre- prevenção de controvérsias e mitigação de riscos, ao
sas brasileiras nos Estados Unidos tenham o mesmo contrário dos BITs tradicionais, com foco em cláusulas de
tratamento que concorrentes de outros países que já proteção de investimentos.
possuem acordos com o país, beneficiando seus investi- Um dos principais dispositivos do modelo brasileiro é a
mentos com uma carga tributária menor. implementação pontos focais ou ombudsmen em cada
Além de nivelar o tratamento dos investidores brasile- país e que funcional como um “balcão único” facilitador
iros, um acordo bilateral também beneficiaria empresas na relação entre investidores e o governo. Questões e
domésticas, que poderiam importar serviços fundamen- problemas relacionados a investimentos podem ser trat-
tais para tecnologia e competitividade. ados diretamente com o ombudsman, que é responsável
por dar a assistência adequada e apoio governamental,
Um Acordo Bilateral de Investimentos além de conectar-se com outras autoridades relevantes
quando necessário. Além disso, um Comitê Conjunto,

N
o debate sobre oportunidades para o aumento composto por representantes dos governos das duas
dos investimentos bilaterais entre o Brasil e os partes, também trabalha na prevenção de controvérsias
Estados Unidos, atenção especial deve ser dada e na solução amigável de quaisquer questões que envol-
à negociação de um potencial acordo bilateral de vam investimentos bilaterais. Se uma disputa não puder
investimentos. ser resolvida por meio dessa estrutura de prevenção, ela
De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre poderá ser levada aos procedimentos de arbitragem
Comércio e Desenvolvimento (sigla UNCTAD, em inglês), entre os Estados. As cláusulas ISDS não estão incluídas
em 2017, havia 3.322 acordos bilaterais de investimen- nos ACFI brasileiros.
tos (sigla BIT, em inglês) ou tratados com provisões de No que se refere à facilitação de investimentos, domi-
investimentos assinados no mundo.52 Enquanto até 2015 nante nos ACFI, constam cláusulas focadas na promoção
os Estados Unidos já tinham assinado trinta e oito BITs, a de fluxos de investimentos, abordando questões como
maioria ainda em vigor, o Brasil era um dos poucos países vistos, licenças e certificações, capacitação, entre outras.
que não tinha sequer um único acordo internacional de Os ACFI também preveem a negociação de questões
investimentos em vigor.53 suplementares importantes aos investimentos, esta-
Embora o Brasil tenha inicialmente acompanhado a belecendo uma estrutura que pode evoluir e se adaptar
onda de BITs dos anos 90 — 14 acordos assinados, em mais facilmente, de acordo com as necessidades dos
sua maioria, com países europeus — esses acordos investidores. O caso dos vistos, por exemplo, é uma
foram posteriormente rejeitados pelo Congresso bra- inovação interessante. Em geral, os acordos de inves-
sileiro, que alegou inconstitucionalidade em algumas das timentos não cobrem essa questão, entretanto, como
disposições. sabem muitos investidores, as dificuldades na obtenção
As críticas foram dirigidas às cláusulas de resolução de e renovação de vistos de negócios podem dificultar
controvérsias investidor-Estado (sigla ISDS, em inglês), significativamente a evolução dos projetos. Os ACFI per-
bem como à questão da expropriação indireta. Como mitem condições especiais para vistos de negócios, tais
consequência, os BITs se tornaram um tabu no Brasil. O como prazos reduzidos, múltiplas entradas e validade
país evitou a discussão por anos, enquanto o número estendida.
de acordos internacionais de investimentos no mundo Finalmente, como esperado em qualquer acordo sobre
cresceu. investimentos, também constam medidas usuais de
O crescimento econômico brasileiro na década de proteção de investimento, tais como não discriminação
2000 impulsionou as empresas brasileiras a aumentarem (tratamento nacional e nação mais favorecida), expro-
seus investimentos no exterior. O Brasil passou a ser visto priação direta, compensação, transferência de divisas e
— e também a se ver — não apenas como um beneficiário cláusulas de transparência.
de IED, mas também como investidor em outros países, As regras de proteção mencionadas acima formam a
principalmente na América Latina e na África.54 Nesse base dos BITs assinados pelos Estados Unidos ao longo

24
Navio e contêineres no Porto de Santos, São Paulo,
Brasil, 23 de setembro de 2019. O enfrentamento
dos principais desafios coletivos introduzidos por
atritos comerciais e outras barreiras ao comércio
e investimento abrirá novas portas para empresas
americanas e brasileiras.

dos anos. Porém, o modelo americano é muito mais que mesmo nas situações em que é permitido o uso de
abrangente. As perspectivas dos Estados Unidos e do ISDS, os investidores primeiramente precisam recorrer a
Brasil são, de fato, bem diferentes, já que o Brasil não soluções locais e tribunais domésticos. A arbitragem se
inclui ISDS, expropriação indireta ou cláusulas de trata- torna uma opção apenas se não houver uma solução. Há
mento justo e equitativo. exceções para alguns setores com disposições especiais,
Ainda que, no passado, essas diferenças tenham como o de petróleo e gás.
tornado a negociação de um BIT difícil de se imaginar, Apesar de não ser um determinante per se para atrair
os avanços recentes indicam o contrário. Há uma janela IED, um acordo bilateral de investimentos trata de
concreta para negociações bilaterais. questões importantes para os investidores. Ao abordar
Primeiramente, os Estados Unidos começaram a adotar a facilitação de investimentos, os acordos podem reduzir
uma nova perspectiva sobre a cláusula mais controversa, os custos de transação que, se somados, são efetiva-
que costumava afastar as posições de negociação com o mente onerosos. De modo geral, um acordo bilateral de
Brasil. O acordo recentemente assinado entre os Estados investimentos certamente ajudará a oferecer um melhor
Unidos, o México e o Canadá (USMCA) não prevê mais ambiente de negócios entre os dois países.
ISDS entre o Canadá e os Estados Unidos, incluindo uma Em resumo, há uma janela de oportunidade para
reuters/amanda perobelli

cláusula de expiração de apenas três anos. a exploração tanto de um acordo de dupla tributação
A ISDS ainda pode ser usada entre o México e os quanto de um tratado bilateral de investimentos. No
Estados Unidos, mas apenas em certos casos. Por contexto do movimento brasileiro de ingresso à OCDE,
exemplo, os investidores podem reivindicar questões o Brasil terá que modificar sua legislação e avançar
sobre expropriação e não discriminação, porém cláusulas em direção às regras da organização. Os esforços
de tratamento justo e equitativo não podem ser reivindi- nesse sentido já começaram e podem ser decisivos em
cadas na ISDS, na maioria dos casos. Mais importante é qualquer discussão formal com os Estados Unidos.

25
comércio e investimentos brasil-eua

Principais Recomendações

N o intuito de estabelecer as bases para uma maior


integração econômica entre os Estados Unidos
e o Brasil, este relatório propõe as seguintes
recomendações para a apreciação dos governos
dos dois países. Estas sugestões têm por objetivo enfrentar
os principais desafios decorrentes de conflitos comerciais e
outras barreiras ao comércio e aos investimentos, além de
criar um arcabouço benéfico para promover o fluxo bilateral
de bens, serviços e capitais.

CURTO PRAZO — 2020 de regras sobre a distribuição do imposto de renda entre


os países de residência e de origem traz benefícios práti-
Os Estados Unidos e o Brasil devem: cos para as empresas que investem em ambos os países.
O cenário parece promissor dado que tanto os Estados

1 Concluir a primeira etapa Unidos quanto o Brasil estão revisando seus modelos de
de um acordo comercial ADT. Em particular, a decisão do Brasil de aderir à OCDE
requer que o país modifique suas práticas de preços de
O Brasil e os Estados Unidos devem concluir a primeira transferência. A negociação de um ADT representaria
etapa de um acordo comercial com compromissos em uma oportunidade adicional, política e prática, para o
um conjunto de temas de interesse como facilitação Brasil avançar no processo de adesão às regras da OCDE.
de comércio e cooperação aduaneira, boas práticas Nesse contexto, Estados Unidos e o Brasil deveriam
regulatórias, barreiras técnicas ao comércio, comércio lançar negociações formais de um ADT o quanto antes,
eletrônico e combate à corrupção. Em uma aborda- o que enviaria um forte sinal da importância desse tema.
gem mais ambiciosa, o acordo também poderia incluir

3
capítulos sobre serviços, investimentos e compras Criar um mecanismo de alto nível
governamentais. para supervisionar e fortalecer
A negociação de uma primeira etapa de um acordo o relacionamento bilateral
comercial tem mais chances de ser concluída no curto
prazo, além de reduzir o número de questões a serem Os Estados Unidos e o Brasil devem considerar a criação
tratados em uma futura negociação de acordo de livre de um mecanismo de alto nível para supervisionar e for-
comércio. Do lado brasileiro, desde que não se discuta talecer o comércio e os investimentos bilaterais, liderado,
preferências tarifárias, as negociações podem ocorrer idealmente, pelos vice-presidentes de cada país. Esse
bilateralmente, sem o envolvimento dos outros países mecanismo criaria um quadro estratégico para guiar
membros do Mercosul e sem a necessidade de mudanças as relações bilaterais, aprimoraria o diálogo bilateral e
nas regras atuais do bloco. manteria os governos constantemente engajados.
Um acordo nesse formato teria valor econômico rele- Através desse mecanismo, os dois governos se reunir-
vante para os dois países: estabeleceria um conjunto de iam regularmente e acompanhariam o progresso a partir
regras e compromissos que facilitariam e promoveriam o de metas definidas conjuntamente. Além disso, esse
comércio bilateral; proporcionaria previsibilidade e segu- foro poderia oferecer orientação política para futuros
rança jurídica para estimular investimentos bilaterais; e trabalhos técnicos.
serviria de pilar para a conclusão de um potencial ALC Para tal, seria necessário: a participação de repre-
no futuro. sentantes de ambos os governos nos níveis político e
técnico; a observância de um cronograma periódico

2 Iniciar negociações de um acordo de reuniões; uma agenda de trabalho estratégica e o


para evitar a dupla tributação monitoramento sistemático de seus resultados; e o
estabelecimento de um canal formal para a participação
Um acordo bilateral para evitar a dupla tributação (ADT) do setor privado (incluindo a interação com o Fórum de
impulsionaria os fluxos bilaterais de investimentos. Além CEOs, recentemente reativado).
de beneficiar o ambiente de negócios, o estabelecimento O mecanismo deveria trabalhar em coordenação com

26
principais recomendações

outros diálogos e grupos bilaterais já estabelecidos, a


fim de garantir maior coerência e fluidez entre eles. Esses 5 Iniciar esforços para aumentar o intercâmbio
de informações e a cooperação no
desenvolvimento de padrões técnicos em setores
grupos incluem a Comissão de Relações Econômicas
e Comerciais EUA-Brasil (sob o ATEC), o Diálogo emergentes, trabalhando em estreita colaboração
Comercial Brasil-EUA, o Diálogo de Cooperação em com os setores privados de ambos os países
Defesa e o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento Os dois países devem iniciar um esforço para aprimo-
de Infraestrutura, entre outros. rar o intercâmbio de informações e a cooperação no
desenvolvimento de padrões técnicos nas áreas de

4 Aprimorar boas práticas regulatórias e a inteligência artificial, IOT e edição de genoma. Essas tec-
cooperação regulatória, trabalhando em nologias transformadoras estão redefinindo a indústria
estreita colaboração com o setor privado e os negócios e possibilitando o surgimento de novos
produtos e serviços. O desenvolvimento de padrões
Os Estados Unidos e o Brasil devem continuar com- internacionais garante que os consumidores possam
partilhando boas práticas regulatórias, com foco em usar produtos e serviços de tecnologia em todo o mundo,
análises de impacto regulatório e consultas públicas, independentemente do país de origem ou do mercado.
transparência no desenvolvimento e implementação de Considerando que os Estados Unidos e o Brasil tradi-
práticas regulatórias e maior atenção a uma abordagem cionalmente utilizam abordagens distintas no desen-
whole-of-government (por meio da criação de um órgão volvimento de seus padrões técnicos, há risco de que
central de coordenação regulatória entre os diferentes padrões individuais de cada país sirvam como obstáculo
órgãos governamentais). a futuras inovações, investimentos e transações comerci-
Como os Estados Unidos e o Brasil adotam aborda- ais em setores cruciais no século XXI.
gens diferentes para o desenvolvimento de normas e Para que se concretizem plenamente os benefícios
padrões técnicos, bem como para os procedimentos de dessas tecnologias — e que se enfrentem os desafios
avaliação da conformidade — o que pode aumentar os relacionados a elas — a colaboração entre os setores
custos para empresas que desejam se engajar no comér- público e privado é fundamental. Com esse fim, este
cio bilateral —, os dois países deveriam identificar um ou relatório encoraja os Estados Unidos e o Brasil a partici-
dois setores para maior cooperação regulatória. Setores parem de organismos internacionais de desenvolvimento
em potencial incluem petróleo e gás, saúde, defensivos de padrões técnicos baseados em consenso e orientados
agrícolas, produtos químicos, inteligência artificial e pelas demandas da indústria, beneficiando desenvolve-
internet das coisas (sigla IOT, em inglês). Na escolha de dores e usuários dessas tecnologias.
qualquer setor, é fundamental o envolvimento e o inter- Essa iniciativa resultaria em uma maior e mais apro-
esse dos setores privados de cada país. priada adoção — e uso — dessas tecnologias de ponta,
A mencionada cooperação regulatória deve incluir um gerando mais competitividade e melhores oportuni-
entendimento mais profundo dos sistemas regulatórios dades de comércio e investimentos.
de cada país e o papel de seus reguladores, explorando a

6
possibilidade de validação mútua dos resultados de aval- Coordenar esforços para garantir o início efetivo
iação de conformidade e facilitando o acesso a ambos os do processo de acessão do Brasil à OCDE
mercados.
Tanto no intercâmbio de boas práticas regulatórias A partir do recente anúncio de apoio do governo ameri-
quanto no aprimoramento da cooperação regulatória, cano para que o Brasil seja o próximo membro a aderir à
Brasil e Estados Unidos devem incentivar e criar opor- OCDE, os dois países devem coordenar esforços, junto à
tunidades para a participação do setor privado. Embora Organização e seus membros, para iniciar formalmente o
o aprimoramento de boas práticas regulatórias deva processo de acessão brasileiro ainda neste ano.
ser priorizado no curto prazo, os esforços técnicos e o Tal medida desencadearia os procedimentos na OCDE
envolvimento com o setor privado precisam ser manti- para iniciar a revisão da legislação e das políticas públi-
dos ao longo do tempo. cas brasileiras. Nesse ínterim, o Brasil deve continuar seu
O Memorando de Entendimento (MoU) com respeito à esforço doméstico para incorporar o “acervo” (“acquis”)
Cooperação Conjunta sobre Boas Práticas Regulatórias, da OCDE, expandindo sua posição como país não
firmado em 2018 entre, do lado brasileiro, a Secretaria- membro com o maior número de instrumentos em vigor.
Executiva do Câmara de Comércio Exterior (Camex) Simultaneamente, o Brasil e os Estados Unidos pode-
e a Casa Civil, e, do lado americano, a Administração riam cooperar, tecnicamente, em questões específicas
de Comércio Exterior dos Estados Unidos (ITA) e o — tais como tributação, movimento de capitais, investi-
Escritório de Informações e Assuntos Regulatórias mentos e boas práticas regulatórias — que terão que ser
(OIRA), poderia ser utilizado como base para esse tratadas pelo Brasil em sua trajetória para se integrar ao
esforço. bloco.

27
comércio e investimentos brasil-eua

7 Concluir um Acordo de Reconhecimento


Mútuo entre programas de Operadores
Econômicos Autorizados (OEA)
9 Implementar a participação plena
do Brasil no Programa Global Entry
para a entrada de viajantes brasileiros
Em sintonia com a declaração conjunta dos Presidentes pré-aprovados nos Estados Unidos
Trump e Bolsonaro, de março de 2019, os Estados Em 2019, os presidentes Trump e Bolsonaro se compro-
Unidos e o Brasil devem priorizar a conclusão das etapas meteram a tomar as medidas necessárias para possibil-
necessárias para o reconhecimento mútuo de seus pro- itar a participação do Brasil no Programa de Viajantes
gramas de OEA. Isso aliviaria a burocracia aduaneira e Confiáveis “Global Entry” dos Estados Unidos. Os dois
reduziria custos e prazos no comércio bilateral de bens. países assinaram uma declaração conjunta em novembro
Os programas nacionais de OEA oferecem vanta- de 2019, a qual lista critérios gerais de elegibilidade para
gens para empresas de todos os portes e setores. Os cidadãos brasileiros e lançaram um programa-piloto para
exportadores se beneficiam da redução nas inspeções um grupo de até vinte participantes do Fórum de CEOs
de produtos e da liberação mais rápida nas fronteiras. EUA-Brasil.
Os programas de OEA também aumentam a eficiência Como próximo passo, os dois países devem trabalhar
das administrações aduaneiras, permitindo uma melhor para permitir a participação plena do Brasil no Programa
alocação de recursos, principalmente no que diz res- Global Entry dos Estados Unidos, expandindo o alcance
peito a inspeções de cargas desconhecidas e de alto a todos os cidadãos brasileiros elegíveis. Isso agilizaria
risco. Consequentemente, isso também contribui para o a entrada de viajantes brasileiros de baixo risco no ter-
aumento dos fluxos comerciais. ritório dos americano, contribuindo para o aumento de
O Brasil e os Estados Unidos se comprometeram pela negócios e investimentos bilaterais.
primeira vez a reconhecer mutuamente seus programas Essa recomendação demanda ações adicionais do
de OEA em 2015. Essa medida requer o envolvimento Executivo brasileiro, especificamente da Polícia Federal
do Ministério da Economia brasileiro, em particular da e da Receita Federal, incluindo o desenvolvimento de um
Receita Federal, e da autoridade aduaneira dos Estados sistema eletrônico para processar as solicitações. Isso
Unidos (US Customs and Border Protection) para que deverá ser feito em estreita cooperação e alinhamento
se estabeleça um conjunto padrão de requisitos de com a autoridade aduaneira dos Estados Unidos (US
segurança, que permitiriam aos programas de cada país Customs and Border Protection).
reconhecer os resultados de validação do outro.

10
O acordo permitiria que empresas de baixo risco inscri- Aumentar a cooperação bilateral
tas no programa de um país sejam automaticamente de políticas públicas em terceiros
aceitas no programa do outro, proporcionando proced- países e fóruns internacionais nas áreas
imentos aduaneiros mais rápidos e menos burocráticos de comércio e investimentos
para essas empresas.
Os Estados Unidos e o Brasil têm capacidade para influ-

8 Adotar certificados fitossanitários enciar outros governos em uma variedade de tópicos de


eletrônicos no comércio bilateral comércio, investimentos e outras questões de políticas
públicas. Os dois países devem identificar e desenvolver
Os Estados Unidos e o Brasil devem concluir a adoção de uma agenda para trabalharem juntos para moldar as
certificados fitossanitários eletrônicos (ePhyto), em sub- regras de comércio e investimentos nas áreas onde
stituição aos documentos em papel. O ePhyto é a versão compartilham interesses comuns. Com a coordenação de
eletrônica de um certificado fitossanitário, contendo os esforços na defesa de certas políticas, os dois países têm
mesmos dados da versão em papel. a oportunidade de aumentar sua influência em questões
A adoção desse documento padrão no comércio importantes no cenário internacional.
bilateral agilizaria os procedimentos administrativos e Possíveis áreas para essa cooperação incluem segu-
reduziria custos e burocracia nas exportações de mer- rança alimentar e comércio agrícola, facilitação de
cadorias sujeitas a certificação fitossanitária, facilitando comércio e de investimentos, biotecnologia, IA, IOT e
o comércio de produtos agrícolas. Além disso, o ePhyto edição de genomas.
poderia reduzir o risco de certificados fraudulentos e
o número de cargas retidas na alfândega, tornando o
processo mais seguro e confiável.
A troca de certificados eletrônicos poderia ser feita
por meio do ePhyto Hub, desenvolvido pela Convenção
Internacional para Proteção dos Vegetais (CIPV). Em
linha com a 17ª edição do Diálogo Comercial Brasil-EUA,
realizada em 2019, o Brasil está trabalhando para opera-
cionalizar por completo sua participação no ePhyto Hub
até o início de 2020.

28
principais recomendações

MÉDIO E LONGO PRAZO:


A PARTIR DE 2021
Os Estados Unidos e o Brasil devem:

1 Concluir um Acordo Abrangente


de Livre Comércio 3 Coordenar esforços técnicos e políticos
para concluir a acessão do Brasil à OCDE

Um ALC seria a iniciativa econômica mais ambiciosa na O processo de acessão do Brasil à OCDE não será
esfera bilateral, dado o seu potencial para criar um marco fácil. O país terá um longo caminho para cumprir o
jurídico abrangente para apoiar o avanço da integração roteiro de compromissos a ser proposto pela entidade
entre os Estados Unidos e o Brasil. Esse acordo repre- e para adotar por completo o conjunto de decisões e
sentaria um instrumento poderoso para ampliar os fluxos recomendações da OCDE. Tais compromissos incluem
bilaterais de comércio e de investimentos. uma série de reuniões nos comitês da organização
Embora a conclusão de uma primeira etapa de acordo e rodadas de negociação com membros individuais.
comercial no curto prazo possa gerar resultados impor- Durante todo esse processo, a coordenação com os
tantes e tornar o processo de negociação de um ALC Estados Unidos, em relação a esforços técnicos e políti-
menos complexo, a negociação dos temas restantes cos, será essencial para que a acessão seja concluída
será um exercício desafiador, especialmente no que diz com êxito.
respeito a temas de acesso a mercados. Até outubro de 2019, o Brasil já havia aderido a mais
Para terem êxito, os dois governos precisarão do de oitenta dos duzentos e cinquenta e três instru-
envolvimento não apenas do executivo, mas também no mentos que formam o “acervo” da OCDE. O Brasil
âmbito do poder legislativo. Outro aspecto fundamental continua avançando na incorporação de várias boas
será assegurar ampla transparência e diálogo com os recomendações no setor de agricultura/alimentos,
setores privados de ambos os países. Dados os interes- cooperação tributária, BEPS, compartilhamento de
ses econômicos em jogo, um processo aberto e inclusivo informações fiscais para crimes graves, proteção de
será decisivo para se alcançar resultados positivos. e-commerce, entre outras. O Brasil já está discutindo
ativamente com a OCDE quase setenta instrumentos

2 Concluir um acordo para evitar adicionais e, como próxima etapa, já identificou um con-
a dupla tributação junto de cerca de sessenta medidas a serem discutidas
no futuro. Nesse processo, inerentemente político, o
Com o lançamento de negociações formais, a Receita apoio contínuo dos Estados Unidos será fundamental.
Federal do Brasil e o Departamento do Tesouro dos

4
Estados Unidos (US Treasury) devem estar preparados Concluir um acordo bilateral
para um processo demorado e intenso em recursos de investimentos
humanos. Mesmo que as chances atuais de um resultado
bem-sucedido sejam consideravelmente maiores do que O Brasil e os Estados Unidos já têm vários acordos de
no passado, não se pode subestimar os desafios. Além investimentos em vigor com diferentes países. A tendên-
da questão dos preços de transferência, a tributação de cia internacional mais recente destaca a relevância de
serviços aparece como um dos tópicos mais difíceis, em uma abordagem cada vez mais ativa sobre facilitação
particular diante das restrições fiscais brasileiras. de investimentos. Dessa forma, caso Brasil e Estados
Somado ao trabalho técnico necessário para resolver Unidos resolvam negociar entre si, será desejável buscar
diferenças e encontrar soluções, será fundamental apoio o equilíbrio entre disposições sobre proteção de investi-
político de alto nível em ambos os governos. mentos e sobre facilitação de investimentos.
A conclusão de um acordo bilateral de investimentos
poderia reduzir os custos de transação e fornecer mais
segurança ao ambiente de negócios bilateral. Para atingir
esse objetivo será necessário o envolvimento técnico de
diversas agências em cada governo. Também será neces-
sária a aprovação do legislativo de ambos os países.

29
comércio e investimentos brasil-eua

Conclusão

O s Estados Unidos e o Brasil têm uma


oportunidade única de explorar novos
caminhos para o aprofundamento de
suas relações bilaterais de comércio e de
investimentos. A fim de estabelecer as bases para o
aumento dessa integração econômica, este relatório
sugere oportunidades importantes que podem ser
Em 2020, o governo dos Estados Unidos declarou
formalmente seu apoio ao Brasil como o próximo país
a entrar na OCDE. Como próximo passo, os dois países
devem coordenar esforços junto à organização e a seus
membros para que o processo do Brasil se inicie formal-
mente ainda neste ano.
Da mesma maneira, em conformidade com a
aproveitadas no curto prazo e que contribuiriam para declaração dos presidentes Trump e Bolsonaro em 2019,
abrir caminho para objetivos de horizonte mais largo, os Estados Unidos e o Brasil devem celebrar um Acordo
incluindo a celebração de um acordo de livre comércio. de Reconhecimento Mútuo entre seus programas de
Para alcançar um pacote de compromissos que OEA, a fim de aumentar a eficiência nas trocas de bens
facilitem e promovam o comércio bilateral, o Brasil e e na atuação das administrações aduaneiras. Os dois
os Estados Unidos devem explorar, ainda em 2020, a países também têm a oportunidade de adotar certifica-
conclusão da primeira etapa de um acordo comercial, dos fitossanitários eletrônicos (ePhyto) para agilizar pro-
composto por capítulos sobre facilitação de comércio, cedimentos administrativos e reduzir custos e burocracia.
boas práticas regulatórias, comércio eletrônico, entre Partindo do pressuposto que a facilitação no trânsito
outros temas. A conclusão de um acordo comercial de pessoas contribui para o comércio, os dois países
neste formato proporcionaria resultados imediatos, com devem tomar as medidas necessárias para promover a
maior previsibilidade e segurança jurídica para os fluxos participação plena do Brasil no Programa de Viajantes
bilaterais, bem como serviria de base para um possível Confiáveis “Global Entry” dos Estados Unidos, em linha
ALC no futuro. com o compromisso assumido em 2019 pelos presi-
Para impulsionar o investimento estrangeiro direto, os dentes Trump e Bolsonaro.
dois países devem estabelecer negociações sobre um Para além de suas próprias fronteiras, Brasil e Estados
acordo para evitar a dupla tributação. Um ADT beneficia- Unidos devem atuar de forma coordenada na defesa
ria o ambiente de negócios e estabeleceria regras sobre de políticas de comércio e investimentos em terceiros
a distribuição do imposto de renda entre os países de países, aumentando sua influência em questões impor-
residência e de origem, com benefícios para investidores tantes de políticas públicas.
de ambos os lados. As oportunidades a curto prazo mencionadas acima
Os Estados Unidos e o Brasil também devem con- abrem caminho para a celebração de um acordo de livre
siderar a criação de um mecanismo governamental de comércio, de um acordo para evitar a dupla tributação
alto nível para supervisionar e fortalecer o comércio e e de um acordo bilateral de investimentos. Em conjunto,
os investimentos bilaterais, liderado, idealmente, pelos esses instrumentos proporcionariam mais comércio e
vice-presidentes de cada país. Esse mecanismo seria investimentos, melhorando o cenário econômico dos
responsável por criar um quadro estratégico para apri- Estados Unidos e do Brasil.
morar o diálogo bilateral e manter ambos os governos O caminho para uma relação econômica mais profunda
engajados. entre os Estados Unidos e o Brasil nunca foi e não será
O aprimoramento de boas práticas regulatórias e da fácil. Porém, com vontade política e apoio dos setores
cooperação regulatória em setores como petróleo e privados dos dois países, as duas maiores economias das
gás, saúde, químicos, inteligência artificial e IOT abrirão Américas têm o potencial de maximizar sua relação.
diversas portas para os dois países. O desenvolvimento Os Estados Unidos e o Brasil já são parceiros comerci-
de padrões internacionais em tecnologias emergentes ais importantes. Nas áreas de comércio e de investimen-
também garante que os consumidores usem produtos e tos, uma colaboração mais profunda é um próximo passo
serviços de tecnologia , independentemente do país de natural à prosperidade e ao crescimento econômico de
origem ou do mercado. ambos os países.

30
31
comércio e investimentos brasil-eua

Agradecimentos

O aprofundamento do comércio e do IED


é um esforço bilateral entre os Estados
Unidos e o Brasil, tal qual foram os
esforços realizados neste relatório. Esta
publicação inclui uma série de atores do governo e dos
setores privados dos Estados Unidos e do Brasil.
Por sua parceria e apoio, o Centro para a América
Agradecemos a Jason Marczak, diretor do Centro para
a América Latina Adrienne Arsht, por sua orientação,
e aos outros senior fellows do Centro para a América
Latina Adrienne Arsht Ricardo Sennes e André Soares,
por suas valiosas contribuições ao longo desse processo.
Um agradecimento também a Valentina Sader,
diretora assistente do Centro para a América Latina
Latina Adrienne Arsht do Atlantic Council gostaria de Adrienne Arsht e a Sarah Hennessy e Frederico Froes,
agradecer as contribuições de seus autores Ken Hyatt, que deram apoio à pesquisa para esta publicação.
Abrão Neto, Daniel Godinho, Lisa Schineller e Roberta Agradecemos ainda a Susan Cavan e o editor do relatório.
Braga, além dos stakeholders e parceiros locais que Agradecimentos também a Donald Partyka e Nikita
ajudaram a tornar esta publicação uma realidade. Um Kataev pelo belo design e a Bárbara Zocal da Silva e
agradecimento especial a Renata Vargas Amaral, por Daniel Alano pela tradução deste relatório.
contribuir no relatório com sua experiência legal. Por fim, o Atlantic Council agradece profundamente
Um agradecimento especial àqueles que participaram à Apex-Brasil, cujo generoso apoio e parceria tornaram
das mesas-redondas consultivas em Washington, DC, e possível esse abrangente esforço de definir os próximos
paralelamente ao Fórum de Investimentos Brasil (BIF), passos práticos para o fortalecimento do comércio e do
realizado em São Paulo, Brasil. Um reconhecimento investimento bilateral entre Brasil e os Estados Unidos.
especial aos Embaixadores Sérgio Amaral e Benoni Belli, Em particular, o Atlantic Council gostaria de agradecer
que ajudaram a cultivar a ideia inicial dessa parceria, a Sergio Segovia, presidente da Apex-Brasil, bem como
bem como ao Embaixador Nestor Forster e à Embaixada Augusto Souto Pestana, Igor Isquierdo Celeste, Gustavo
do Brasil nos Estados Unidos, por suas contribuições e Ferreira Ribeiro, Karen Ferreira Kiyomi Hayashi e Cintia
parceria. Marques Faleiro.
Agradecemos também aos muitos stakeholders que
contribuíram por meio de consultas, incluindo líderes
das indústrias de energia, defesa, agronegócio, fárma-
cos, bioquímica e siderurgia, líderes da federação das
indústrias, entre outros.

32
Sobre os Autores
Abrão Árabe Neto Ken Hyatt
Abrão Árabe Neto é vice-presidente executivo da Ken Hyatt é assessor sênior do Albright Stonebridge
Amcham Brasil, organização sem fins lucrativos que Group (ASG) e co-fundador e sócio da CMPartners,
representa mais de cinco mil empresas de vários setores assessorando clientes da empresa em questões com-
econômicos, responsáveis por aproximadamente 33% do plexas de negociação, comércio e investimento nos
PIB do Brasil. mercados internacionais.
Entre 2016 e 2018, atuou como secretário de comércio Antes de ingressar na ASG, Hyatt atuou no US
exterior do Brasil, tendo participado de diversas nego- Department of Commerce como subsecretário interino
ciações de comércio e de investimentos, em âmbito e subsecretário adjunto de comércio internacional.
regional e multilateral, bem como liderado no Brasil Além disso, supervisionou as estratégias e operações
medidas de facilitação de comércio e aprimoramento do da Administração de Comércio Internacional (ITA, em
comércio exterior. inglês), com um orçamento anual de aproximadamente
Servidor público da carreira de analista de comércio US$ 500 milhões e mais de 2.200 funcionários em todo
exterior desde 2013, Abrão Neto também atuou como o mundo. As atribuições da ITA são: contribuir para o
secretário adjunto de comércio exterior e diretor de desenvolvimento da política comercial dos EUA; iden-
negociações internacionais no Ministério da Indústria, tificar e resolver problemas de acesso ao mercado e
Comércio Exterior e Serviços do Brasil. conformidade; promover a competitividade dos EUA e a
Antes de servir ao governo brasileiro, Neto trabalhou força das empresas estadunidenses na economia global;
como advogado na área de comércio internacional e administrar leis comerciais dos EUA; e empreender
como coordenador do departamento de comércio exte- uma série de esforços de promoção comercial, de
rior e relações internacionais da Federação das Indústrias investimentos e de defesa comercial. Nesse posto, Hyatt
do Estado de São Paulo (Fiesp). trabalhou com uma gama de empresas estadunidenses,
Em 2008, participou de programa de capacitação ajudando-as a alcançar seus objetivos internacionais,
de advogados na missão permanente do Brasil junto e com governos estrangeiros, desenvolvendo e imple-
à OMC, em Genebra. Em 2017, ele foi agraciado pelo mentando políticas de comércio e investimento. Além
governo brasileiro com a Ordem de Rio Branco, no grau disso, ele coliderou a criação da SelectUSA, a agência de
Comendador. atração de investimentos do governo dos EUA, liderou o
Abrão Neto é doutor em direito internacional apoio do governo dos EUA à BrandUSA, a organização
pela Universidade de São Paulo e mestre em direito nacional de promoção de turismo dos EUA, e coliderou
econômico internacional pela Pontifícia Universidade o desenvolvimento da Estratégia Nacional de Viagens
Católica de São Paulo. Também foi pesquisador visitante e Turismo dos EUA. Em 2017, ele foi agraciado pelo
na Georgetown University, em Washington, DC. governo brasileiro como Comandante da Ordem de Rio
Branco.
No início de sua carreira, Hyatt foi diretor da Conflict
Management Inc. e consultor de administração da Bain &
Company nos escritórios de Boston, Londres e Munique.
Na Bain, ele liderou equipes de consultores, analisando e
implantando uma variedade de projetos estratégicos e
organizacionais nas principais empresas multinacionais
dos EUA e da Europa, com foco no desenvolvimento de
estratégias, fusões e aquisições, vendas e estratégia de
marketing e treinamento.
Hyatt é doutor em Direito, pela Harvard Law School,
e bacharel pela Yale University. Ele também participou
do Projeto Harvard Negotiation, ministrando seminários
para executivos de negócios e de direito, e para outros
estudantes de pós-graduação.

33
comércio e investimentos brasil-eua

Daniel Marteleto Godinho Roberta Braga


Daniel Marteleto Godinho, fellow no Centro para a Roberta Braga é diretora associada do Centro para a
América Latina Adrienne Arsht, atua atualmente como América Latina Adrienne Arsht do Atlantic Council, onde
diretor de estratégias corporativas da WEG, fornecedora lidera projetos sobre desenvolvimento econômico e
global de soluções de tecnologias elétricas industriais, políticos do Brasil, e disinformation e misinformation
com sede no Brasil. Desde 2003, Godinho construiu sua na América Latina. Nos últimos quatro anos, ela também
carreira no serviço público como analista de comércio liderou trabalhos sobre integração comercial, energia e
exterior, atuando em vários cargos. De 2013 a 2016, combate à corrupção na região. Durante o seu período
Godinho atuou como Secretário de Comércio Exterior no Atlantic Council, Braga ajudou a lançar o projeto
do Brasil (SECEX — Mdic). Entre 2016 e 2017, trabalhou #ElectionWatch Latin America, cujo objetivo era expor
como consultor sênior do Banco Interamericano de a desinformação em torno das eleições no Brasil, no
Desenvolvimento (BID). México e na Colômbia. Além disso, executou projetos
Godinho é bacharel em Direito, pela Universidade sobre o impacto do acordo USMCA na energia e a crise
Federal de Minas Gerais, e bacharel em Relações do petróleo na Venezuela; e gerenciou o trabalho de
Internacionais, pela Pontifícia Universidade Católica de combate à corrupção antes da Cúpula das Américas de
Minas Gerais. Quanto a pós-graduação, possui especial- 2018. Também gerencia estratégias e alcance de mídia e
ização em comércio exterior com ênfase em empresas comunicação do Centro.
de pequeno porte, pela Universidade Católica de Brasília, Anteriormente, Braga trabalhou como analista
e mestrado em direito internacional e economia, pelo de comunicação estratégica no US Department of
World Trade Institute, instituição ligada às Universidades Homeland Security, e deu suporte a negócios corpora-
de Berna, Friburgo e Neuchâtel na Suíça. tivos e relações públicas na Promega Corporation, uma
empresa internacional de biotecnologia, sediada em
Lisa M. Schineller Madison, Wisconsin.
Frequentemente, ela fornece comentários em inglês
Lisa M. Schineller é diretora administrativa da S&P e português sobre questões políticas e econômicas
Global Ratings. Schineller é Diretora-executiva de rating na América Latina. Seus trabalhos já foram publicados
soberano e de finanças públicas internacionais para as na Newsweek, e citados no The New York Times, Wall
Américas, logo responsável por análises de soberanos Street Journal, Financial Times, Axios; e no Brasil, no
que cobrem créditos importantes, tais como Argentina, O Globo e Estado de S. Paulo. Brasileira de nascença,
Brasil e México. Seu trabalho também contempla várias Braga é uma falante nativa de português e inglês, fluente
instituições multilaterais, como o Banco Internacional em espanhol.
para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Ela possui mestrado em Diplomacia Pública e
Associação Internacional de Desenvolvimento (AID). Comunicação Global pela Elliott School of International
Com outros analistas, ela coordena entidades relaciona- Affairs, da George Washington University; e é Bacharel
das aos governos, regional e globalmente. Entre 2008 em Jornalismo e Segurança Global pela Universidade de
e 2013, Schineller também atuava meio-período como Wisconsin-Madison.
economista-chefe da América Latina da S&P Global
Ratings.
Schineller foi professora adjunta da Escola de Relações
Internacionais e Públicas da Columbia University de
2006 a 2009. Na ocasião, ela fez parte do desenvolvi-
mento e ensino do curso intitulado “Problemas de
crescimento econômico na América Latina”, voltado aos
estudantes de mestrado. Ela continua sendo convidada
para ministrar palestras em vários cursos da School of
International and Public Affairs e da Business School.
Antes de ingressar na S&P Global Ratings em agosto
de 1999, Schineller trabalhou por mais de três anos
como Economista da pasta da França e Economista de
petróleo mundial na Divisão de Finanças Internacionais,
do Federal Reserve Board of Governors, em Washington,
DC. Além de ter sido economista na Exxon Company
International, Corporate Affairs. Na Exxon, ela analisou
e projetou desenvolvimentos econômicos e energéticos
na América Latina (principalmente no Brasil) e Europa.
Schineller é doutora em Economia, pela Yale University,
e bacharel em Economia e em Língua Espanhola, pelo
Wellesley College. Entre 1992 e 1994, após a conclusão de
seu doutorado, ela foi professora assistente na Faculdade
de Gestão, da McGill University.

34
35
comércio e investimentos brasil-eua

Notas
1 Randig, Rodrigo. Argentina: O Primeiro País a Recon- 12 Joint Communique from the U.S.-Brazil CEO Forum. US
hecer a Independência do Brasil. Fundação Alexandre Department of Commerce. 25 de novembro de 2019. Di-
de Gusmão. 2017. Disponível em: http://www.itamaraty. sponível em: https://www.commerce.gov/news/press-re-
gov.br/images/ficha_pais/artigo-argentina.pdf leases/2019/11/joint-communique-us-brazil-ceo-forum
2 Os Estados Unidos detêm 15% do Investimento Estrangeiro 13 Joint Communique from the U.S.-Brazil CEO Forum. US
direto (IDE) no Brasil, equivalente a US$ 119 bilhões de dólares Department of Commerce. 25 de novembro de 2019. Di-
em 2017 (em contraste com um valor menor de US$ 95 bilhões sponível em: https://www.commerce.gov/news/press-re-
de dólares, com uma metodologia que inclui o investimento leases/2019/11/joint-communique-us-brazil-ceo-forum
imediato, destacando o uso de intermediários pelas empresas 14 Brazil pensions: Victory for Jair Bolsonaro as reform passes.
americanas). Essa posição dos EUA (mais de 80%) assume a BBC News. 24 de outubro de 2019. Disponível em: https://
forma, principalmente, de participação por capital próprio, lucros www.bbc.com/news/world-latin-america-50151327
reinvestidos ou fluxos, em vez de dívidas ou empréstimos entre
empresas do mesmo grupo. Embora a China tenha aumentado 15 Impact of a US-Brazil Trade Agreement. Brazil-US
para 2,7% do estoque de IDE em 2017, o equivalente a US$ 21 bil- Business Council. Disponível em: https://www.us-
hões de dólares, quase três vezes mais do que os US$ 7,9 bilhões chamber.com/sites/default/files/documents/files/
de dólares em 2010, os Estados Unidos continuam a ser mais busbc_trade_agreement_initiative_report.pdf
significativos. De acordo com o Centro de Políticas para o Novo 16 Conforme a Decisão CMC 32/00, do Conselho do Mercado
Sul (Policy Center for the New South), enquanto o Banco Central Comum do Mercosul estabelece, as preferências de tarifas a
do Brasil indicou fluxos de investimento chinês no Brasil acumu- terceiros países, não membros da Associação Latino-Ameri-
lados em US$ 20,7 bilhões de dólares, entre 2014 e o primeiro cano de Integração, devem ser negociadas conjuntamente.
semestre de 2018, a Secretaria de Assuntos Internacionais do 17 Declaração Conjunta do Presidente Donald J. Trump
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (SEAIN/ e do Presidente Jair Bolsonaro. The White House. 19
MPDG) estimou um montante de US$ 28,6 bilhões de dólares. de março de 2019. Disponível em: https://www.white-
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files/2013%20NTE%20Brazil%20Final.pdf tive. Disponível em: https://ustr.gov/sites/default/
4 Atualmente, o Brasil é o nono país líder em todo o mun- files/2013%20NTE%20Brazil%20Final.pdf
do no envio de estudantes para os Estados Unidos. US 19 Idem.
Embassy and Consulates in Brazil. US Mission Brazil. 18
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Reuters. Disponível em: https://www.reuters.com/article/us-usa- http://www.wcoomd.org/-/media/wco/public/global/pdf/
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10 Brazil Senate Approves Technology Safeguard Agree- de agosto de 2019, 28 de junho de 2019). Sobre relações comer-
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notas

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41 BEA Source: Bureau of Economic Analysis, Direct In-
vestment by Country and Industry, 2018.
42 Relatório de Investimento Direto do Banco Cen-
tral do Brasil 2019. Disponível em: https://www.
bcb.gov.br/estatisticas/tabelasespeciais.
43 Doing Business 2020. World Bank. 24 de outubro de
2019. Disponível em: https://www.doingbusiness.org/
en/reports/global-reports/doing-business-2020.
44 Alcolumbre promete comissão da reforma tributária até
próxima semana. Exame. 5 de fevereiro de 2020. Disponível
em: https://exame.abril.com.br/economia/alcolumbre-prom-
ete-comissao-da-reforma-tributaria-ate-proxima-semana/.
45 Brazilian Tax Reform—Framework and What to Expect.
Bloomberg Tax. 22 de janeiro de 2020. Disponível em: https://
news.bloombergtax.com/daily-tax-report-international/
brazilian-tax-reform-framework-and-what-to-expect.
46 York, Erica. The Benefits of Cutting the Corporate Income Tax
Rate. The Tax Foundation. 14 de agosto de 2018. Disponível em:
https://taxfoundation.org/benefits-of-a-corporate-tax-cut/.
47 Miles, Tom. Global FDI skids 19 percent on Trump tax re-
form, may rebound in 2019 - U.N. Reuters. 21 de janeiro
de 2019. Disponível em: https://www.reuters.com/article/

37
Atlantic Council Board of Directors
CHAIRMAN Ahmed Charai Mian M. Mansha Clyde C. Tuggle
*John F.W. Rogers Melanie Chen Chris Marlin Melanne Verveer
Michael Chertoff William Marron Charles F. Wald
EXECUTIVE CHAIRMAN
*George Chopivsky Neil Masterson Michael F. Walsh
EMERITUS
Wesley K. Clark Gerardo Mato Ronald Weiser
*James L. Jones
*Helima Croft Timothy McBride Olin Wethington
CHAIRMAN EMERITUS Ralph D. Crosby, Jr. Erin McGrain Maciej Witucki
Brent Scowcroft *Ankit N. Desai John M. McHugh Neal S. Wolin
Dario Deste H.R. McMaster *Jenny Wood
PRESIDENT AND CEO
*Paula J. Dobriansky Eric D.K. Melby Guang Yang
*Frederick Kempe
Thomas J. Egan, Jr. *Judith A. Miller Mary C. Yates
EXECUTIVE VICE CHAIRS Stuart E. Eizenstat Dariusz Mioduski Dov S. Zakheim
*Adrienne Arsht Thomas R. Eldridge *Michael J. Morell
HONORARY DIRECTORS
*Stephen J. Hadley *Alan H. Fleischmann *Richard Morningstar
James A. Baker, III
VICE CHAIRS Jendayi E. Frazer Virginia A. Mulberger
Ashton B. Carter
*Robert J. Abernethy Ronald M. Freeman Mary Claire Murphy
Robert M. Gates
*Richard W. Edelman Courtney Geduldig Edward J. Newberry
Michael G. Mullen
*C. Boyden Gray Robert S. Gelbard Thomas R. Nides
Leon E. Panetta
*Alexander V. Mirtchev Thomas H. Glocer Franco Nuschese
William J. Perry
*John J. Studzinski John B. Goodman Joseph S. Nye
Colin L. Powell
*Sherri W. Goodman Hilda Ochoa-Brillembourg
TREASURER Condoleezza Rice
Murathan Günal Ahmet M. Oren
*George Lund George P. Shultz
*Amir A. Handjani Sally A. Painter
Horst Teltschik
SECRETARY Katie Harbath *Ana I. Palacio
John W. Warner
*Walter B. Slocombe John D. Harris, II *Kostas Pantazopoulos
William H. Webster
Frank Haun Carlos Pascual
DIRECTORS Michael V. Hayden W. DeVier Pierson
Stéphane Abrial
Amos Hochstein Alan Pellegrini
Odeh Aburdene
*Karl V. Hopkins David H. Petraeus
Todd Achilles
Andrew Hove Lisa Pollina
*Peter Ackerman
Mary L. Howell Daniel B. Poneman
Timothy D. Adams
Ian Ihnatowycz *Dina H. Powell McCormick
*Michael Andersson
Wolfgang F. Ischinger Robert Rangel
David D. Aufhauser
Deborah Lee James Thomas J. Ridge
Colleen Bell
Joia M. Johnson Michael J. Rogers
Matthew C. Bernstein
Stephen R. Kappes Charles O. Rossotti
*Rafic A. Bizri
*Maria Pica Karp Harry Sachinis
Dennis C. Blair
Andre Kelleners C. Michael Scaparrotti
Linden Blue
Astri Kimball Van Dyke Rajiv Shah
Philip M. Breedlove
Henry A. Kissinger Stephen Shapiro
Myron Brilliant
*C. Jeffrey Knittel Wendy Sherman
*Esther Brimmer
Franklin D. Kramer Kris Singh
R. Nicholas Burns
Laura Lane Christopher Smith
*Richard R. Burt
Jan M. Lodal James G. Stavridis *Executive
Michael Calvey Committee
Douglas Lute Richard J.A. Steele
James E. Cartwright Members
Jane Holl Lute Mary Streett List as of
John E. Chapoton
William J. Lynn Frances M. Townsend April 27, 2020
The Atlantic Council is a nonpartisan
organization that p­ romotes
constructive US leadership and
engagement in i­nternational a­ ffairs
based on the central role of the
Atlantic community in m ­ eeting
today’s global ­challenges.
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www.AtlanticCouncil.org

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