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Tribunal Superior Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

23/08/2022

Número: 0600816-55.2022.6.00.0000
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Juíza Auxiliar - Ministra Maria Claudia Bucchianeri
Última distribuição : 19/08/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Extemporânea/Antecipada
Objeto do processo: Trata-se de Representação formulada pela COLIGAÇÃO PELO BEM DO BRASIL
em face da CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES - CUT, sob a seguinte alegação:

- propaganda eleitoral antecipada negativa, em que a representada veiculou vídeo ofensivo à honra
do Senhor Jair Messias Bolsonaro, em seu canal do YouTube, na data de 19 de julho de 2022,
vinculando não apenas as mortes de brasileiros pala COVID-19 ao Chefe de Estado, mas a suposta
intenção do Presidente da República em praticar o ato.

Destacam-se os seguintes trechos:

" Título: O MESSIAS DO APOCALIPSE


Necropolítica não é só deixar morrer, é fazer morrer, Achille Mbembe
Está sendo super dimensionado o poder destruidor desse vírus (suposta fala do Presidente da
República) "

" Subtítulo: NEGACIONISMO Gripezinha ou Resfriadinho (suposta fala do Presidente da República)


Vê um cara pulando em esgoto ali, sai e mergulha, e não acontece nada com ele" (suposta fala do
Presidente da República)
Ô, cara, quem fala de (morte), eu não sou coveiro, tá? (suposta fala do Presidente da República) "

" Subtítulo: FALTA DE EMPATIA Quando você tiver com falta de ar, aí que vai para o hospital
(suposta fala do Presidente da República)
Lamento, quer que eu faça o quê? (suposta fala do Presidente da República) "

" Subtítulo: DESINFORMAÇÃO Se você virar um chimp, virar um jacaré (suposta fala do Presidente
da República)
O cara que entra na onda da vacina é um idiota útil (suposta fala do Presidente da República) "

" Subtítulo: MESSIAS DO APOCALIPSE Tem que deixar de ser um país de marias (suposta fala do
Presidente da República)
Chega de frescura, de mimimi (suposta fala do Presidente da República) "

" Subtítulo: EM BREVE FORA DO PALÁCIO "Vão ficar chorando até quando" (suposta fala do
Presidente da República) "
Requer-se, na presente Representação, concessão da tutela de urgência, a fim de que seja
diligenciado junto ao responsável pelo canal da representada a imediata retirada do vídeo
apontado nas razões desta representação, sob pena de caracterização de crime de desobediência,
e, ao final, que seja condenada a representada à pena do art. 36, §3º, da LE, em patamar máximo.
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
COLIGAÇÃO PELO BEM DO BRASIL MARINA FURLAN RIBEIRO BARBOSA NETTO
(PP/REPUBLICANOS/PL) (REPRESENTANTE) (ADVOGADO)
ADEMAR APARECIDO DA COSTA FILHO (ADVOGADO)
MARINA ALMEIDA MORAIS (ADVOGADO)
EDUARDO AUGUSTO VIEIRA DE CARVALHO (ADVOGADO)
TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO NETO (ADVOGADO)
CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES-CUT
(REPRESENTADA)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
15795 23/08/2022 21:40 Decisão Decisão
2258
index: REPRESENTAÇÃO (11541)-0600816-55.2022.6.00.0000-[Propaganda Política -
Propaganda Eleitoral - Extemporânea/Antecipada]-DISTRITO FEDERAL-BRASÍLIA

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

REPRESENTAÇÃO (11541) Nº 0600816-55.2022.6.00.0000 (PJe) – BRASÍLIA – DISTRITO


FEDERAL

Relatora: Ministra Maria Claudia Bucchianeri


Representante: Coligação Pelo Bem do Brasil (PP/REPUBLICANOS/PL)
Advogados(as): Tarcisio Vieira de Carvalho Neto e outros(as)
Representada: Central Única dos Trabalhadores (CUT)

DECISÃO

Trata-se de representação, com pedido de liminar, ajuizada pela Coligação Pelo


Bem do Brasil (PP/REPUBLICANOS/PL) em desfavor da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
em razão de suposta propaganda eleitoral antecipada, na modalidade negativa,
consubstanciada em publicação de um vídeo de 37 segundos, postado em seu canal do
YouTube, em 19.7.2022 (https://www.youtube.com/watch?v=DC5r7mtM4Bw).
Na petição inicial, a representante afirma, em síntese, que (ID 157941004):
a) as falas soltas e descontextualizadas do presidente da República foram
laçadas em cima de imagens do período da pandemia, vinculando não apenas as mortes de
brasileiros pela Covid-19 ao Chefe de Estado, mas a suposta intenção do presidente da
República em praticar o ato (“fazer morrer”), o que reforça a gravidade dos atos praticados;
b) o material, denominado “Messias do Apocalipse”, imputa ao presidente da
República a responsabilidade pelas mortes de brasileiros pela Covid-19 e a pratica dos atos
com a intenção de “acabar com brasileiros”, pois, logo após “Messias do Apocalipse”, cita-se a
frase de Achille Mbembe (“Necropolítica não é só deixar morrer, é fazer morrer”) e, em seguida,
mostra-se a imagem de um cemitério com covas abertas (p. 6);
c) o que se verifica é uma grave tentativa de desumanizar o Presidente Jair
Bolsonaro, ao afirmar categoricamente no vídeo a “falta de empatia dele”, buscando reduzir –
por meio ilegítimo – os potenciais votos destinados ao Presidente Jair Bolsonaro [o não
voto] (p. 10);
d) por outro lado, o pedido de não voto explícito se denota claramente pela
grosseira e criminosa responsabilização do presidente da República pelas mortes dos
brasileiros pela Covid-19, fazendo clara alusão ao “extermínio de pessoas mais humildes”, e
também pela frase final “em breve fora do Palácio” (p. 11); e
e) dada a grande capilaridade dos sindicatos e das entidades de classe no
tecido social, é evidente que a atuação política dessas entidades deve ocorrer cum grano salis
no limite necessário e suficiente para a defesa das categorias patronais ou dos
trabalhadores que representem, sob pena de ocorrência de atos abusivos e lesivos ao
processo eleitoral (art. 22 da LC no 64/1990).
Daí os pedidos cautelar e de mérito, assim delineados pela coligação representante
(ID 157941004, p. 14-15):

Assinado eletronicamente por: MARIA CLAUDIA BUCCHIANERI - 23/08/2022 21:40:29 Num. 157952258 - Pág. 1
https://pje.tse.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22082321402901600000156642096
Número do documento: 22082321402901600000156642096
A concessão da tutela de urgência requestada, a fim de que seja diligenciado junto
ao responsável pelo canal da representada a imediata retirada do vídeo apontado
nas razões desta representação, sob pena de caracterização de crime de
desobediência;

Ao final, seja reconhecida a prática do ilícito acima revelado e condenada a


representada à pena do art. 36, §3º, da LE, em patamar máximo, dados o requinte,
a gravidade, a extensão e a reprovabilidade da conduta;

Subsidiariamente, caso não se entenda pela prática de propaganda eleitoral


antecipada, seja determinada a remoção do vídeo, ex vi art. 27, VI e 57-C da Lei
das Eleições.

É o relatório. Decido.

Passo a apreciar o pedido de tutela provisória de urgência formulado pela


representante.
Consoante relatado, o objeto desta representação é um vídeo de aproximadamente
37 segundos, intitulado “O Messias do Apocalipse”, e que foi postado em 19.7.2022 no canal
da CUT no YouTube.
No referido vídeo, diversas falas públicas feitas pelo Presidente da República e
candidato à reeleição, Jair Messias Bolsonaro, a respeito da pandemia de Covid-19 e do
processo de vacinação para a doença são veiculadas, juntamente com imagens públicas dos
períodos mais agudos da doença (hospitais lotados, covas abertas, pessoas enterrando entes
queridos, entre outras).
Para além das falas e imagens públicas, o vídeo traz as seguintes legendas, ao
longo de seus 37 segundos:

1. “Necropolítica não é só deixar morrer, é fazer morrer também” (Achille Mbembe);

2. “Negacionismo”;

3. “Falta de empatia”;

4. “Desinformação”; e

5. “Em breve fora do palácio”.

Na espécie, necessário enfrentar controvérsia jurídica que antecede o próprio


debate sobre a configuração, ou não, no referido conteúdo, de propaganda eleitoral antecipada
negativa.
Rememora-se o entendimento pacífico deste Tribunal Superior, de que “o ilícito
de propaganda antecipada pressupõe, de um lado, a existência de pedido explícito de votos ou,
de outro, quando ausente esse requisito, manifestação de cunho eleitoral mediante uso de formas
que são proscritas durante o período de campanha ou afronta à paridade de armas” (AgR-REspe
nº 060037-59/MA, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 9.8.2022).
Isso porque o vídeo questionado e que está hospedado no canal mantido pela CUT
no YouTube, a meu sentir, independentemente da existência ou não de pedido explícito de voto
ou não voto (temática pertinente ao debate em torno da configuração de propaganda
extemporânea) tem clara conotação eleitoral e faz alusão ao processo eleitoral que se
avizinha.

Assinado eletronicamente por: MARIA CLAUDIA BUCCHIANERI - 23/08/2022 21:40:29 Num. 157952258 - Pág. 2
https://pje.tse.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22082321402901600000156642096
Número do documento: 22082321402901600000156642096
No entanto, nos termos do preceito normativo previsto no art. 57-C, § 1º, inciso I, da
Lei nº 9.504/1997, “é vedada, ainda que gratuitamente, a veiculação de propaganda eleitoral na
Internet, em sítios de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos [...]”.
Isso significa, portanto, em sede de cognição sumária, a possível configuração de
uso de forma proscrita (canal de pessoa jurídica em mídia social) na divulgação de material que
contém conteúdo eleitoral.
Destaca-se o entendimento deste Tribunal Superior de que “a participação de
pessoas jurídicas em atos de propaganda eleitoral, em período de pré-campanha ou de
campanha eleitoral, é incompatível com o posicionamento do Supremo Tribunal Federal que
lhes vedou a realização de doações para campanhas eleitorais e com a racionalidade adotada
por esta Corte no julgamento do REsp nº 0600227-31/PE, julgado em 9.4.2019” (R-Rp nº
0601478-58/DF, rel. designado Min. Edson Fachin, DJe de 18.5.2020).
Como se sabe, a CUT é uma entidade associativa de representação sindical,
voltada à defesa dos trabalhadores, e a sua natureza é de pessoa jurídica sem fins lucrativos.
Assim, é necessário reconhecer o seu impedimento legal na promoção de qualquer tipo de
propaganda eleitoral na Internet, considerando-se, inclusive, a possível ilegalidade com o
dispêndio de recursos financeiros para produção de material publicitário direcionado a campanha
política.
Nesse sentido, o seguinte julgado:

REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL IRREGULAR. INTERNET. ART.


57-C DA LEI 9.504/97. PARCIAL PROCEDÊNCIA.

1. Nos termos do art. 57-C da Lei 9.504/97, é vedada a veiculação de propaganda


eleitoral na internet, ainda que gratuitamente, em sítios de pessoas jurídicas, com ou
sem fins lucrativos.

2. Na espécie, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou em seu sítio


eletrônico textos que faziam menção direta às eleições presidenciais, induzindo os
eleitores à ideia de que a candidata representada seria a mais apta ao exercício do
cargo em disputa, além de fazer propaganda negativa contra o seu principal
adversário nas eleições de 2010.

3. A aplicação da sanção prevista no § 2º do art. 57-C da Lei 9.504/97 ao


beneficiário da propaganda eleitoral irregular pressupõe o seu prévio conhecimento,
o que não ocorreu na espécie.

[...].

(Rp no 3551-33/DF, rel. Min. Nancy Andrighi, publicada em 16.5.2012)

Nesse cenário, mostra-se plausível a pretensão da coligação representante, pois se


vislumbra, ainda que em tese, a possível caracterização do ilícito de propaganda eleitoral
irregular, haja vista a legislação regente e a jurisprudência desta Corte Superior no sentido de
que “resta caracterizado o ilícito eleitoral quando o veículo de manifestação se dá pela utilização
de formas proscritas durante o período oficial de propaganda” (REspEl nº 0600227-31/PE, rel.
Min. Edson Fachin, DJe de 1º.7.2019).
Registro, finalmente, que muito embora a postagem cuja remoção ora determino
tenha ocorrido em 19 de julho de 2022, ela registrou, até o presente momento, apenas 47
visualizações.
Diante do exposto, nos termos do art. 38, § 4º, da Res.-TSE nº 23.610/2019,
concedo a tutela provisória de urgência para que seja removida a publicação indicada no
seguinte endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=DC5r7mtM4Bw.

Assinado eletronicamente por: MARIA CLAUDIA BUCCHIANERI - 23/08/2022 21:40:29 Num. 157952258 - Pág. 3
https://pje.tse.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22082321402901600000156642096
Número do documento: 22082321402901600000156642096
Oficie-se ao provedor de aplicação YouTube para cumprimento desta determinação
judicial de remoção, no prazo de 24h, conforme preceito normativo previsto no art. 17, § 1º-B, da
Res.-TSE nº 23.608/2019.
Proceda-se à citação da representada para que apresente defesa, no prazo de 2
(dois) dias, nos termos do art. 18 da Res.-TSE nº 23.608/2019.
Após, intime-se o representante do Ministério Público Eleitoral (MPE) para que se
manifeste na forma do art. 19 da referida resolução.

Publique-se.
Brasília, 23 de agosto de 2022.

Ministra Maria Claudia Bucchianeri

Relatora

Assinado eletronicamente por: MARIA CLAUDIA BUCCHIANERI - 23/08/2022 21:40:29 Num. 157952258 - Pág. 4
https://pje.tse.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22082321402901600000156642096
Número do documento: 22082321402901600000156642096

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