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20/07/2022
Número: 0600523-85.2022.6.00.0000
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Juiz Auxiliar - Ministro Raul Araújo
Última distribuição : 13/07/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Extemporânea/Antecipada
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
REDE SUSTENTABILIDADE (REDE) - NACIONAL FLAVIA CALADO PEREIRA (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE)
PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT) - NACIONAL FLAVIA CALADO PEREIRA (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE)
PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B) - NACIONAL FLAVIA CALADO PEREIRA (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE)
PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB) - NACIONAL FLAVIA CALADO PEREIRA (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE)
PARTIDO VERDE (PV) - NACIONAL (REPRESENTANTE) FLAVIA CALADO PEREIRA (ADVOGADO)
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL) - NACIONAL FLAVIA CALADO PEREIRA (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE)
SOLIDARIEDADE (SOLIDARIEDADE) - NACIONAL FLAVIA CALADO PEREIRA (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE)
JAIR MESSIAS BOLSONARO (REPRESENTADO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
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Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
15781 20/07/2022 18:19 0600523-85.2022.6.00.0000-DEFESA Impugnação
2177
EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES, D.D.
PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL
I. DA TEMPESTIVIDADE
Assinado eletronicamente por: MARCELO LUIZ AVILA DE BESSA - 20/07/2022 18:19:31 Num. 157812177 - Pág. 1
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4. Trata-se de “REPRESENTAÇÃO POR PROPAGANDA ANTECIPADA
NEGATIVA VEDADA” formulada em desfavor do Presidente da República, Jair Messias
Bolsonaro, em razão de “conduta reiterada dos discursos que incitam a violência”.
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Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê e (ii) o fato de o carro do Juiz
Federal Renato Borelli, que determinou a prisão preventiva de Milton Ribeiro, ter sido
“atingido por fezes de animais, ovos e terra enquanto dirigia”. Traz à baila, ainda, pesquisas a
respeito de atos violentos praticados por apoiadores do atual Presidente da República.
10. Mais à frente, narram que “Jair Bolsonaro e seus simpatizantes não
atuam de forma antidemocrática só com discursos de discriminação e violência política. É
corrente a utilização da "técnica" conhecida como dog whistle, na qual uma mensagem é
passada a determinados grupos de forma escondida dentro de uma mensagem para o público
geral”. Elenca, a título de exemplos, os seguintes: (i) o ”Secretário Especial da Cultura do
Brasil, Roberto Alvim utilizou-se em um discurso de elementos presentes no cenário típico de
discurso do ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels”; (ii) em 2020, “o presidente
Jair Bolsonaro ergueu um copo de leite e brindou com presentes na mesa durante uma
transmissão ao vivo”, o que “foi considerado por pesquisadores como uma referencia à
movimentos de supremacia branca que constantemente utilizam-se do leite como forma de
representar a pureza branca”; (iii) “um assessor do presidente Jair Bolsonaro chamado de
Filipe Martins, utilizou-se do símbolo de "ok" durante uma reunião ao fundo do presidente
enquanto o mesmo falava, com o posicionamento específico dos dedos”, o que “foi interpretado
como um ato racista por conta que o símbolo também é conhecido como um símbolo
supremacista branco”.
11. Após essa narrativa, que incluem fatos, inclusive, de 2018, anteriores à
própria assunção do mandato, a inicial afirma que “por todo este contexto de longa data, e da
frequente ocorrência de discursos que incitam a violência é que se pretende resguardar a
propaganda eleitoral do pleito que se aproxima, obedecendo as vedações previstas na
legislação eleitoral.”
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III. IMPROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO
14. Feito tal esclarecimento, cumpre pontuar que não há qualquer ilícito
eleitoral no caso concreto.
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“Bolsonaro atacou o sistema eleitoral de urnas eletrônicas e declarou que os eleitores ‘sabem
como se preparar’ antes das eleições. ‘Não preciso dizer o que estou pensando, mas você sabe
o que está em jogo. Você sabe como você deve se preparar, não para o novo Capitólio, ninguém
quer invadir nada, mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições’.; (vi) em 2020, “o
presidente Jair Bolsonaro ergueu um copo de leite e brindou com presentes na mesa durante
uma transmissão ao vivo”, o que “foi considerado por pesquisadores como uma referencia à
movimentos de supremacia branca que constantemente utilizam-se do leite como forma de
representar a pureza branca”;
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19. A jurisprudência desse Tribunal Superior se firmou no sentido de que,
uma vez atestado o conteúdo eleitoral, para que se alcance a conclusão de que ficou
configurada a propaganda eleitoral extemporânea, seja ela positiva ou negativa, “é exigível a
presença de pedido explícito de votos ou, mutatis mutandis, de pedido explícito de não votos”.
Nessa linha:
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exaltação das qualidades pessoais de pré-candidatos e outros atos,
que poderão ter cobertura dos meios de comunicação social, inclusive
via internet, desde que não haja pedido expresso de voto” (Rp 294-87,
rel. Min. Herman Benjamin, DJE de 9.3.2017).
7. O posicionamento da Corte paulista está em consonância com a
jurisprudência deste Tribunal Superior, a qual se firmou no sentido
de que, em regra, a configuração da propaganda eleitoral
extemporânea, seja ela positiva ou negativa, exige a presença de
pedido explícito de votos ou, mutatis mutandis, pedido explícito de não
votos.
8. Conforme destacado em sede do AgR–REspe 502–47, rel. Min.
Admar Gonzaga, “no julgamento do AgR–AI 9–24, de relatoria do Min.
Tarcisio Vieira de Carvalho Neto, e do AgR–REspe 43–46, de relatoria
do Min. Jorge Mussi, finalizado na sessão do dia 26.6.2018, o Tribunal
Superior Eleitoral reafirmou, por ampla maioria, a jurisprudência já
firmada para as Eleições de 2016, no sentido da essencialidade do
pedido explícito de voto para a incidência da multa por propaganda
extemporânea”.
9. Nos casos paradigmas, indicados pelo recorrente, em que esta Corte
concluiu pela configuração de propaganda extemporânea (AgR-REspe
84-28, rel. Min. Luciana Lóssio, AgR-REspe 0600100-88, rel.Min.
Jorge Mussi), as críticas analisadas atribuíram condutas ilícitas e
ofensivas à honra e à dignidade de adversários políticos, o que não se
observa na espécie, uma vez que os termos, supostamente ofensivos e
utilizados no vídeo impugnado pelo ora agravante, não extrapolam os
limites de mera crítica política, demonstrando apenas insatisfação com
a gestão do Executivo municipal, conforme consignado pela Corte de
origem.
CONCLUSÃO
Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgR-REspe 0600004-50, rel. Min. Sérgio Banhos, PSESS em
23.11.2020)
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propagandístico proscrito em campanha eleitoral. Precedentes.3. A
alegação do agravante de que os fatos foram suficientes para violar o
princípio da igualdade de chances entre os candidatos não é
argumento autônomo suficiente para censurar a conduta lícita do
agravado, sobretudo pela inexistência de pedido explícito de voto ou
de utilização de meio proscrito em período de campanha.4. A eventual
prática de abuso do poder político é hipótese legal para o ajuizamento
de Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), prevista no art. 22
da LC nº 64/1990, não sendo parâmetro norteador para a análise de
representação por propaganda eleitoral irregular.5. A decisão
combatida está alicerçada em fundamentos idôneos e os argumentos
apresentados não são hábeis para modificá–la.6. Negado provimento
ao agravo interno.
(REspe nº 060001735, Acórdão, Relator Min. Mauro Campbell
Marques, Publicação: DJE 28/09/2021)
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Especial Eleitoral nº 5124, Acórdão, Relator(a) Min. Luiz Fux, Publicação: PSESS - Publicado
em Sessão, Data 18/10/2016)
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27. Portanto, em relação aos atos apontados como praticados pelo
Presidente da República, não há qualquer conteúdo eleitoral.
28. Por outro lado, tal conteúdo eleitoral é também inexistente no que se
refere aos ATOS DE TERCEIROS apontados pela petição inicial. Inexiste qualquer tipo de
relação com as eleições de 2022, o que, por si só, já afasta a necessidade de intervenção
dessa Corte.
30. Trata-se de atos que não ostentam, per se, pertinência com o pleito
eleitoral que se avizinha. Não há, sequer em tese, qualquer tipo de lesão à igualdade entre os
candidatos nas eleições gerais de 2022, que é a principiologia subjacente à punição por
propaganda eleitoral extemporânea. Trata-se, à evidência, de indiferentes eleitorais.
32. Ademais, cabe frisar que o Presidente da República não tem controle
sobre os atos das pessoas que dizem ser seus apoiadores ou simpatizantes. É absolutamente
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ilegal, além de fugir ao âmbito de competência da Justiça Eleitoral, a tentativa de imputar
ao ora Representado qualquer tipo de responsabilidade pelas condutas de terceiras pessoas.
34. Até porque não houve incitação de atos violentos pelo ora
Representado. Pelo contrário. Basta ver a fala, elencada na própria petição inicial, no sentido
de que “Você sabe como você deve se preparar, não para o novo Capitólio, ninguém quer
invadir nada”, deixando claro que o Presidente da República não deseja um movimento
violento tal como se diz ter ocorrido nos Estados Unidos da América.
1 https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/09/06/psol-confirma-
que-suspeito-de-esfaquear-bolsonaro-foi-filiado-ao-partido.htm
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https://exame.com/brasil/gleisi-para-prender-lula-muitos-teriam-que-ser-presos-ou-mortos/
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expressão – tal como pretende a petição inicial em relação às falas do ora Representado–, poder-
se-ia chegar à conclusão de que houve incitação à resistência violenta contra a ação das
autoridades pela Parlamentar. Mais uma vez, demonstra-se o absurdo de tal interpretação.
39. Digno de registro, ainda, que não houve qualquer manifestação do tipo
“dog whistle” pelo ora Representado. A afirmação de que ele teria, ao ingerir um copo de leite
durante uma live, efetuado um gesto relacionado aos supremacistas brancos é absurda. Tratou-
se de um gesto relacionado ao “Desafio do leite”, proposto pela ABRALEITE, conforme já
esclarecido a tempo e modo pelo Presidente da República.
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do Iguaçu/PR – como palanque para uma investida ilegítima e desleal, mediante o ajuizamento
de uma Representação contra o ora Representado, com o intuito de gerar um fato político para
perturbar o pleito eleitoral que se avizinha.
45. Tal procedimento não pode ser tolerado por essa Justiça Eleitoral.
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50. Aqui, cabe relembrar a advertência de que o princípio da soberania
popular é corolário do princípio democrático. Subjacente à noção de soberania popular está o
fato de que todo o poder emana do povo, única instância capaz de legitimar o domínio político3.
51. Por esta razão, a ação em questão cuida de instituto que deve ser tratado
com a devida seriedade e dentro dos limites que a própria legislação traçou, de sorte a ser
utilizado com responsabilidade, parcimônia, cautela, e em caráter absolutamente excepcional,
situações absolutamente ausentes no caso concreto.
IV. PEDIDOS
3
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina,
2003, p. 2292.
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