Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ACÓRDÃO
3. O art. 243, inciso IX, do Código Eleitoral e o art. 22, inciso X, da Res.-TSE nº 22.610/2019
dispõem que não pode ser tolerada a propaganda eleitoral que caluniar, difamar ou injuriar
qualquer pessoa, bem como a que atingir órgãos ou entidades que exerçam autoridade
pública.
4. No cenário formado nas eleições de 2022, o TSE firmou orientação “no sentido de uma
‘atuação profilática da Justiça Eleitoral’, em especial no que concerne a qualquer tipo de
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
comportamento passível de ser enquadrado como desinformativo [...] e flagrantemente
ofensivo (DR no 0601275-57/DF, rel. Min. Maria Claudia Bucchianeri, PSESS de 3.10.2022).
5. No caso, da transcrição constante nos autos, se extrai que a propaganda impugnada atribui
a Jair Messias Bolsonaro as pechas de criminoso e ladrão, o candidato tem relação de
amizade com milicianos e assassinos e contribui para armar o crime organizado, imputando-o,
ainda, a prática de crime de lavagem de capitais e de participação em esquema de
“rachadinha”.
8. No caso, todavia, quanto à impugnação da parte da propaganda eleitoral que afirma que o
candidato Bolsonaro é contumaz na veiculação de notícias que se caracterizam como fake
news, não merece ser acolhida a pretensão de direito de resposta, visto que, a despeito de
inquietante, revela-se como afirmação própria dos embates eleitorais, manifestação que faz
parte do debate acalorado entre adversários políticos e, bem por isso, se ampara na liberdade
de expressão e no direito à informação.
9. As críticas imanentes às disputas eleitorais não possuem aptidão para atrair a interferência
desta Justiça especializada, podendo ser esclarecidas ou respondidas no âmbito da liberdade
de discurso que informa as campanhas políticas.
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
RELATÓRIO
JUSTICA ELEITORAL
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
• Conteúdo do vídeo:
Jair Bolsonaro foi gravemente ofendido pela propaganda de Lula, veiculada no dia 17 de outubro e a Justiça
Eleitoral deferiu direito de resposta.
Jair Bolsonaro não e criminoso e nunca foi condenado. E ilegal dizer que ele tem ligação com assassinos e
milicianos. Aqueles que o acusam, o fazem sem nenhuma prova.
Jair Bolsonaro também respeita o eleitor e nunca o chamou de criminoso. Jair Bolsonaro também não aprova e
nem apoia a disseminação de fake news. Essa e uma prática ruim para todos.
O debate eleitoral e a propaganda eleitoral não podem ser um vale-tudo. Não podem servir para realização de
acusações levianas e ilegais.
A campanha de Lula atuou de forma ilegal e por isso a Justiça Eleitoral agiu, permitindo a Bolsonaro esclarecer
a verdade dos fatos.
Eleições 2022. Presidente da República. Direito de Resposta. Em regra, a difusão de fatos noticiados pela
imprensa não enseja pretensão de direito de resposta. Imputação de crime em propaganda eleitoral não se
ajusta aos contornos da liberdade de expressão. Adjetivação em campanha eleitoral de caráter ignominioso ao
rival. Entendimento do Plenário no sentido do caráter ilícito do material nessas circunstâncias.
É o relatório.
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
VOTO
[00:35 - 00:43 - narrador] Lula foi o candidato mais votado da história. Foram 57 milhões de brasileiros que
eles chamam de criminosos.
[00:43 - 00:45 - reprodução de trecho de propaganda de Bolsonaro] Lula e o mais votado pelos criminosos.
[00:45 - 00:53 - narrador] Quem tem amizade com criminosos e Bolsonaro, que sempre andou com
milicianos, assassinos, e hoje esta ajudando a armar o crime organizado.
[00:53 - 00:58 - (suposto) apoiador de Lula] Como e que uma pessoa se diz honesto ligada as milícias do Rio de
Janeiro?
[00:58 - 01:05 - (suposto) apoiador de Lula] O cara que compra 51 imóveis com dinheiro vivo ne, não tem outra
palavra a não ser lavagem de dinheiro. Rachadinha.
[01:05 - 01:09 - (suposto) apoiador de Lula] Ele fala que Lula e ladrão, mas ladrão e ele e a família dele.
[01:11 - 01:27 - narradora] Você ja deve ter recebido pelo zap muitas fake news de Bolsonaro contra Lula. Ele
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
abusa da fé dos brasileiros com mentiras sobre fechar as igrejas, ideologia de gênero, sobre defender o aborto,
e absurdos como esses dos banheiros unissex nas escolas.
[01:27 - 01:43 - narrador] A mentiras de Bolsonaro tem um único objetivo: desviar a atenção dos reais problemas
do nosso país, por conta de seu governo desastroso, como a fome, inflação alta, desemprego, desmonte na
educação e na saúde, desmatamento e tantos outros.
[01:44 - 02:01 - narradora] Foi com mentiras e fake news que Bolsonaro se elegeu em 2018. Assim, ele
conduziu também todo o seu governo e agora, ele tenta enganar o povo mais uma vez nessa eleição. Não
e a toa que ele ja foi condenado na justiça por mais de 30 fake news so nessa campanha.
[02:01 - 02:03 - trecho de entrevista antiga de Bolsonaro] Fake news faz parte da nossa vida.
[02:03 - 02:08 - narrador] Ainda bem que o brasileiro não acredita mais em Bolsonaro.
[02:08 - 02:10 - (suposta) apoiadora de Lula] E toda vez que ele abre a boca ele destila ódio.
[02:10 - 02:14 - (suposta) apoiadora de Lula] Prega a arma, guerra, nao pode ser de Deus.
[02:14 - 02:19 - narrador] Continue atento porque ainda vem muita mentira por ai, mas a verdade vai vencer.
Extrai-se da transcrição acima que a propaganda impugnada atribui a Jair Messias Bolsonaro as
pechas de criminoso e ladrão, o candidato tem relação de amizade com milicianos e assassinos e contribui
para armar o crime organizado, imputando-o, ainda, a prática de crime de lavagem de capitais e a participação
em esquema de “rachadinha”.
Infere-se que o intuito da coligação opositora é o de utilizar o seu espaço de propaganda para
difundir mensagens negativas que têm o condão de ofender a honra objetiva e subjetiva do candidato,
notadamente por sugestionar a prática de crimes, e assim desbordam dos limites do legítimo debate político de
ideias e vulneram o princípio constitucional da presunção de inocência, revestindo-se da ilegalidade descrita no
art. 22, inciso X, da Res.-TSE nº 23.610/2019.
Aspecto jurídico relevante que deve ser ponderado para o enfrentamento da controvérsia
consiste no fato de que a propaganda eleitoral impugnada foi transmitida em horário gratuito na televisão, ou
seja, o espaço destinado para a realização de propaganda eleitoral é imposto por lei às emissoras, as quais
recebem compensação fiscal pelo tempo cedido que deixarão de arrecadar. Desse modo, por consequência, o
Poder Público, especialmente a Justiça Eleitoral, exerce maior controle e fiscalização sobre esse determinado
espaço destinado aos programas de publicidade eleitoral.
Com efeito, não poderia a Justiça especializada permitir que os partidos políticos, coligação e
candidatos participantes do pleito deixassem de observar direitos e garantias constitucionais do cidadão
durante a exibição da propaganda no horário eleitoral gratuito na rádio e na televisão, utilizando-se como
justificativa a liberdade de expressão para realizar imputações que, em tese, podem caracterizar crime de
calúnia, injúria ou difamação ou que não observem a garantia constitucional da presunção de inocência.
Em julgado recente, na sessão de 20.10.2022, no Referendo-Rp nº 0601416-76/DF, de minha
relatoria, esta Corte se manifestou no sentido de proibir a veiculação de propaganda eleitoral em que sejam
utilizados adjetivos degradantes que remetam à conotação de prática de crime pelo candidato adversário. Na
hipótese analisada nessa assentada, foi rechaçado o uso das expressões “corrupto” e “ladrão”, nestes termos:
[...] a propaganda eleitoral impugnada é ilícita, pois atribui ao candidato à conduta de “corrupto” e “ladrão”, não
observando a legislação eleitoral regente e a regra de tratamento fundamentada na garantia constitucional da
presunção de inocência ou não culpabilidade.
[...]
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
Nesse passo, in casu, a ilegalidade da propaganda impugnada encontra-se na utilização das expressões
“corrupto” e “ladrão”, atribuídas abusivamente ao candidato da coligação representante, em violação a
presunção de inocência e em ofensa ao art. 22, inciso X da Res.-TSE nº 23.610/2019.
[...]
Na espécie, de outro vértice, não há mera menção a fatos pretéritos referentes às condenações posteriormente
anuladas pelo STF, mas atribuições ofensivas que desborda da mera crítica política, pois transmite mensagem
que imputa ser o candidato “corrupto” e “ladrão”, desrespeitando regra de tratamento decorrente da
presunção constitucional de inocência e que viola os preceitos normativos previstos nos arts. 243, IX, do
Código Eleitoral e 22, X, da Res.-TSE nº 23.610/2019.
Nessa ordem de ideias, assevera-se que referências a adjetivos e condutas que remetam à
prática de crimes pelo candidato representante extrapolam o limite da liberdade de expressão, tornando ilegal a
propaganda eleitoral, de modo que a concessão de direito de resposta é medida que se impõe.
Diferente sorte, todavia, toca a pretensão de direito de resposta dos representantes quanto à
impugnação da parte da propaganda eleitoral que afirma que o candidato Bolsonaro é contumaz na veiculação
de notícias que se caracterizam como fake news, visto que, a despeito de inquietante, revela-se como
afirmação própria dos embates eleitorais, manifestação que faz parte do debate acalorado entre adversários
políticos e, bem por isso, se ampara na liberdade de expressão e no direito à informação, visto que permite ao
eleitorado ter amplo espectro de conhecimento em relação a determinado candidato.
Reforça a possibilidade de a crítica impugnada ser rebatida dentro do próprio debate eleitoral o
fato de que, na hipótese, a referência ao representante como propagador de fake news foi feita em um contexto
defensivo pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva com o intuito de infirmar discurso negativo a ele direcionado,
consoante se extrai do seguinte trecho (ID 158270931, p. 4):
[01:11 - 01:27 - narradora] Você ja deve ter recebido pelo zap muitas fake news de Bolsonaro contra Lula. Ele
abusa da fe dos brasileiros com mentiras sobre fechar as igrejas, ideologia de gênero, sobre defender o aborto,
e absurdos como esses dos banheiros unissex nas escolas.
A crítica política – dura, mordaz, espinhosa, ácida – é peça essencial ao debate democrático [...]. [...] por meio
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
da crítica à figura dos candidatos, os eleitores têm acesso a um quadro mais completo das opções políticas.
Considerações a respeito do caráter, da idoneidade e da trajetória dos políticos não são indiferentes ou
[ir]relevantes para o eleitorado e fazem parte do leque de informações legitimamente utilizadas na definição do
voto.
(Osorio, Aline. Direito Eleitoral e Liberdade de Expressão. Belo Horizonte: Fórum, 2017, p. 228).
Pelo exposto, nos termos do art. 58 da Lei nº 9.504/1997, julgo parcialmente procedente a
representação, para conceder o direito de resposta aos representantes somente em relação à imputação
de adjetivos e condutas que remetam à conotação de prática de crimes, e determino que a resposta seja
veiculada no início da propaganda eleitoral em bloco reservada à Coligação Brasil da Esperança, a ser
veiculada na televisão, uma vez no período diurno e uma vez no período noturno, pelo tempo máximo de
1 (um) minuto.
Aprovo em parte o conteúdo da resposta apresentada pelos representantes na petição inicial
(ID 158258923, p. 17), determinando-se a retirada das frases: (i) “Jair Bolsonaro também não aprova e nem
apoia a disseminação de fake news. Essa e uma prática ruim para todos”, visto que não está abarcada pela
concessão de direito de resposta reconhecida nesta decisão, e (ii) “a campanha de Lula atuou de forma ilegal”
porquanto visa a atacar o candidato adversário e extrapola o desiderato de responder sobre os fatos
impugnados.
É o voto.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Agradeço ao eminente
Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.
Como vota o Ministro Sérgio Banhos?
VOTO
VOTO
O SENHOR MINISTRO CARLOS HORBACH: Senhor Presidente, muito boa noite. Cumprimento
Vossa Excelência e, na pessoa de Vossa Excelência, os demais membros deste Tribunal, em especial, o relator
deste feito, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino; o Senhor Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Professor Paulo
Gustavo Gonet Branco; os alunos da Faculdade Fundação Escola Superior do Ministério Público, da minha
cidade de Porto Alegre.
E, tendo em vista o disposto no caput do art. 58 da Lei das Eleições, a Lei nº 9.504/97, que
afirma categoricamente: “é assegurado o direito de resposta a candidato atingido, ainda que de forma indireta,
por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória ou injuriosa”.
Parece-me que o voto do eminente relator é de todo acertado, sendo inequívoca a natureza
caluniosa das afirmações que são feitas na peça publicitária ora em análise, de modo que, cumprimentando
Sua Excelência o Ministro Relator, eu acompanho integralmente o voto por ele proferido.
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
É como voto, Senhor Presidente.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Obrigado ao Ministro Carlos
Horbach, da cidade de Porto Alegre.
Como vota o Ministro Ricardo Levandowski?
VOTO
QUESTÃO DE ORDEM
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
VOTO (questão de ordem)
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: E que haja uma isonomia entre, enfim, os
candidatos, no que diz respeito ao pronunciamento dos magistrados da Corte, para que não se exija, sobretudo
tendo em conta o momento eleitoral em que vivemos. E como Vossa Excelência muito bem disse, num
segundo momento, a posteriori, em havendo excessos, a legislação eleitoral e a própria legislação criminal
prevê as penas cabíveis para esse tipo de comportamento desviante.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Eu ouço, na sequência, o
eminente relator.
O SENHOR MINISTRO SÉRGIO BANHOS: Senhor Presidente, como já referido aqui, houve
uma sessão em que fiquei vencido, e, em homenagem ao princípio da colegialidade, estou acompanhando
essa questão de ordem no sentido do que proposto pelo Ministro Ricardo Lewandowski.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Ministro Carlos Horbach.
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
VOTO (questão de ordem)
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
Muito obrigada, Presidente. Voto, portanto, com a divergência.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Agradeço a Ministra Cármen.
Ministro Benedito Gonçalves.
ESCLARECIMENTO
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
VOTO
VOTO
VOTO
PROCLAMAÇÃO DO RESULTADO
EXTRATO DA ATA
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795
Acórdão publicado em sessão.
Composição: Ministros Alexandre de Moraes (presidente), Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia,
Benedito Gonçalves, Paulo de Tarso Sanseverino, Sérgio Banhos e Carlos Horbach.
Vice-Procurador-Geral Eleitoral: Paulo Gustavo Gonet Branco.
SESSÃO DE 25.10.2022.
Sem revisão das notas de julgamento dos Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Sérgio Banhos e Carlos Horbach.
https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 060155795