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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

DIREITO DE RESPOSTA Nº 0601557-95.2022.6.00.0000 – BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL

Relator: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino


Requerentes: Coligação Pelo Bem do Brasil e outro
Advogados: Tarcisio Vieira de Carvalho Neto – OAB: 11498/DF e outros
Requerida: Coligação Brasil da Esperança
Advogados: Cristiano Zanin Martins – OAB: 172730/SP e outros

ELEIÇÕES 2022. DIREITO DE RESPOSTA. PROPAGANDA ELEITORAL IRREGULAR.


TELEVISÃO. BLOCO. AFIRMAÇÃO QUE OFENDE A HONRA OBJETIVA E SUBJETIVA DE
CANDIDATO. IMPUTAÇÃO DE PRÁTICA DE CRIME. EXTRAPOLAÇÃO DOS LIMITES DA
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. CONCESSÃO DE DIREITO DE RESPOSTA. AFIRMAÇÃO
DE DIVULGAÇÃO DE FAKE NEWS PELO CANDIDATO OPONENTE. DISCUSSÃO
PRÓPRIA DO EMBATE ELEITORAL. POSSIBILIDADE DE DEFESA NA PRÓPRIA ARENA
POLÍTICO-ELEITORAL. INTERVENÇÃO MÍNIMA DESTA JUSTIÇA ESPECIALIZADA.
PARCIAL PROCEDÊNCIA.

1. A pretensão dos representantes consiste na obtenção de direito de resposta, com


fundamento no art. 58 da Lei nº 9.504/1997, em decorrência de alegada veiculação de
informações inverídicas e ofensivas em relação ao candidato Jair Messias Bolsonaro,
transmitidas no programa eleitoral em bloco do dia 17.10.2022, por meio da televisão, em que
teria a ele sido imputadas a prática de crimes e a contumaz veiculação de fake news.

2. Nos termos do art. 58 da Lei nº 9.504/1997, regulamentado pelos arts. 31 a 36 da Res.-TSE


23.608/2019, é assegurado o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos,
ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória,
injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social.

3. O art. 243, inciso IX, do Código Eleitoral e o art. 22, inciso X, da Res.-TSE nº 22.610/2019
dispõem que não pode ser tolerada a propaganda eleitoral que caluniar, difamar ou injuriar
qualquer pessoa, bem como a que atingir órgãos ou entidades que exerçam autoridade
pública.

4. No cenário formado nas eleições de 2022, o TSE firmou orientação “no sentido de uma
‘atuação profilática da Justiça Eleitoral’, em especial no que concerne a qualquer tipo de

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comportamento passível de ser enquadrado como desinformativo [...] e flagrantemente
ofensivo (DR no 0601275-57/DF, rel. Min. Maria Claudia Bucchianeri, PSESS de 3.10.2022).

5. No caso, da transcrição constante nos autos, se extrai que a propaganda impugnada atribui
a Jair Messias Bolsonaro as pechas de criminoso e ladrão, o candidato tem relação de
amizade com milicianos e assassinos e contribui para armar o crime organizado, imputando-o,
ainda, a prática de crime de lavagem de capitais e de participação em esquema de
“rachadinha”.

6. As mensagens negativas têm o condão de atingir a honra objetiva e subjetiva do candidato


que, notadamente por sugestionar a prática de crimes, desbordam dos limites do legítimo
debate político de ideias e vulneram o princípio constitucional da presunção de inocência,
revestindo-se da ilegalidade descrita no art. 22, inciso X, da Res.-TSE nº 23.610/2019.

7. Referências a adjetivos e condutas que remetam à prática de crimes pelo candidato


extrapolam o limite da liberdade de expressão, tornando ilegal a propaganda eleitoral, de modo
que a concessão de direito de resposta é medida que se impõe.

8. No caso, todavia, quanto à impugnação da parte da propaganda eleitoral que afirma que o
candidato Bolsonaro é contumaz na veiculação de notícias que se caracterizam como fake
news, não merece ser acolhida a pretensão de direito de resposta, visto que, a despeito de
inquietante, revela-se como afirmação própria dos embates eleitorais, manifestação que faz
parte do debate acalorado entre adversários políticos e, bem por isso, se ampara na liberdade
de expressão e no direito à informação.

9. As críticas imanentes às disputas eleitorais não possuem aptidão para atrair a interferência
desta Justiça especializada, podendo ser esclarecidas ou respondidas no âmbito da liberdade
de discurso que informa as campanhas políticas.

10. Pedido de direito de resposta parcialmente procedente.

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, em questão de ordem, por maioria, em


definir que não há necessidade de submissão prévia do texto de resposta à Justiça Eleitoral nas
representações de pedido de direito de resposta, nos termos propostos pelo Ministro Ricardo Lewandowski. No
mérito, por unanimidade, julgar parcialmente procedente a representação, para conceder o direito de resposta
aos representantes somente em relação à imputação de adjetivos e condutas que remetam à conotação de
prática de crimes, e determinar que a resposta seja veiculada no início da propaganda eleitoral em bloco
reservada à Coligação Brasil da Esperança, a ser veiculada na televisão, uma vez no período diurno e uma vez
no período noturno, pelo tempo máximo de 1 (um) minuto; aprovar ainda em parte o conteúdo da resposta
apresentada pelos representantes na petição inicial, determinando-se a retirada de frases, nos termos do voto
do relator.

Brasília, 25 outubro de 2022.

MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO – RELATOR

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RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO: Senhor Presidente, trata-se de


representação por direito de resposta ajuizada pela Coligação Pelo Bem do Brasil e pelo candidato Jair
Messias Bolsonaro em desfavor da Coligação Brasil da Esperança, com fundamento no art. 58 da Lei nº
9.504/1997 e no art. 31 da Res.-TSE nº 23.610/2019, por suposta veiculação de propaganda eleitoral gratuita
na televisão em que se divulgou fatos que malferiram a honra do candidato representante.
Os representantes alegam que (ID 158258923):
a) no dia 17.10.2022, nos períodos diurno e noturno, foi veiculada propaganda eleitoral em
bloco, por meio de emissora de televisão, cujo conteúdo veicula desinformação no sentido de que o candidato
Jair Messias Bolsonaro é “pessoa má, raivosa, mentirosa, criminosa, que anda com assassinos e milicianos” (p.
2);
b) “a peça combatida, ávida em macular a honra e a imagem do candidato Representante, conta
com ofensas em profusão, graves inverdades e notável desinformação, a partir da veiculação de falas
severamente descontextualizadas” (p. 3);
c) a propaganda eleitoral do adversário político constitui-se em “estratagema adrede e
ardilosamente preparado, para, ao arrepio da lei e da ética, desconstruir a respectiva candidatura, não a partir
de contrapontos políticos legítimos, mas sim da demolição de sua figura humana” (p. 4);
d) “a reprovável peça, em evidente e inadmissível deturpação da realidade fenomênica, no
intento de disseminar o ódio e ludibriar o povo brasileiro, expressamente consigna que Bolsonaro teria
chamado todos aqueles que votaram em Lula de criminosos, ao afirmar que ‘Foram 57 milhões de brasileiros
que eles chamam de criminosos’, [utilizando-se] de trecho gravemente descontextualizado de propaganda da
campanha do Representante” (p. 9);
e) “afirma-se que Bolsonaro manteria amizade com milicianos e assassinos, chegando ao ponto
de sustentar que o candidato ‘esta ajudando a armar o crime organizado’, tudo concebido num fluxo narrativo
destrutivo intenso, de forte carga pejorativa” (p. 9-10);
f) “dentre outros absurdos, sem qualquer embasamento ou justificativa, atribuem expressamente
ao Representante – e a sua família – a pecha de LADRAO” (p. 10);
g) em outro trecho do material publicitário, exibe-se fala de “(suposto) apoiador de Lula, afirma:
‘O cara que compra 51 imóveis com dinheiro vivo ne, não tem outra palavra a não ser lavagem de dinheiro.
Rachadinha’”, porém a notícia que houvera sido veiculada na Internet sobre esse assunto foi posteriormente
desmentida, contando com “o selo anti fake news do canal de comunicação” (p. 11-12);
h) a propaganda combatida imputa ao candidato representado a prática de disseminação de
fake news, nos seguintes termos: “não e a toa que ele [Bolsonaro] já foi condenado na justiça por mais de 30
fake news só nessa campanha”, reputando que as “‘condenações’ a que se referem os Representados não
podem ser assim classificadas! Isto porque, sequer houve julgamento meritório, mas tão somente o deferimento
de pedido LIMINAR, passível de revogação, referente a SUSPENSAO de veiculação de conteúdo, sem, repita-
se, análise de mérito da demanda” (p. 12-13); e
i) na hipótese de propaganda eleitoral divulgada em veículo de comunicação em funcionamento
mediante concessão pública, as ofensas “merecem tolerância ainda menor, porquanto dão azo a
comportamentos que desnaturam e vilipendiam os limites da liberdade de expressão materializados na
legislação infraconstitucional de regência” (p. 15).
Ao final, requerem a concessão de direito de resposta a ser veiculada na forma de inserções em
televisão nos mesmos turnos e em igual tempo ao da ofensa (p. 16).
Apresentam o conteúdo do direito de resposta pleiteado, a saber (p. 17):

DIREITO DE RESPOSTA CONCEDIDO A JAIR BOLSONARO PELA

JUSTICA ELEITORAL

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• Conteúdo do vídeo:

Jair Bolsonaro foi gravemente ofendido pela propaganda de Lula, veiculada no dia 17 de outubro e a Justiça
Eleitoral deferiu direito de resposta.

Jair Bolsonaro não e criminoso e nunca foi condenado. E ilegal dizer que ele tem ligação com assassinos e
milicianos. Aqueles que o acusam, o fazem sem nenhuma prova.

Jair Bolsonaro também respeita o eleitor e nunca o chamou de criminoso. Jair Bolsonaro também não aprova e
nem apoia a disseminação de fake news. Essa e uma prática ruim para todos.

O debate eleitoral e a propaganda eleitoral não podem ser um vale-tudo. Não podem servir para realização de
acusações levianas e ilegais.

A campanha de Lula atuou de forma ilegal e por isso a Justiça Eleitoral agiu, permitindo a Bolsonaro esclarecer
a verdade dos fatos.

A coligação representada apresenta defesa (ID 158270931), arguindo, em síntese, a


inexistência de fatos inverídicos, porquanto a propaganda impugnada se limitou a reproduzir fatos amplamente
noticiados pela imprensa, sem qualquer deturpação ou manipulação, e a ausência de conteúdo ofensivo, visto
que os comentários realizados, sobre os fatos apresentados, representaram, ao fim e ao cabo, meras críticas
políticas – absolutamente legítimas (p. 3).
Aludindo a mensagens exibidas na propaganda eleitoral do candidato representante e a notícias
veiculadas em mídias jornalísticas, sustenta que (ID 158270931):
a) “os Representantes, de fato, identificaram os eleitores de lula como criminosos (cúmplices
de bandido)” (p. 6);
b) “de fato, a família Bolsonaro acumula inúmeros indícios de vínculos com supostos milicianos,
tais como homenagens, medalhas e empregos” (p. 7);
c) “as políticas armamentistas de Bolsonaro ajudam a armar organizações criminosas. Conforme
investigações, a ‘cesta básica do crime’ (fuzis, carabinas e pistolas) ficou ate 65% mais barata com liberação de
armas” (p. 11);
d) terem sido demonstradas as evidências da utilização de dinheiro vivo para a compra de cada
um dos 51 imóveis noticiados (p. 15), aquisições estas que indicam esquema de “rachadinha” e de lavagem de
ativos financeiros, parte delas foi objeto de apuração pelo Ministério Publico do Rio de Janeiro, que identificou
múltiplos depósitos em “dinheiro vivo”, sem origem especificada (p. 16); e
e) “é público e notório que as eleições de 2018 foram marcadas por fake news produzidas pelo
candidato Representante e seus apoiadores” (p. 17-18), assinalando que “a agência de checagem “Aos Fatos”
constatou que, em 1.384 dias de mandato como presidente, o Sr. Jair Messias Bolsonaro proferiu 6.428
declarações falsas ou distorcidas” (p. 19-20).
Ao final, requer a total improcedência da ação ou, subsidiariamente, o indeferimento do texto de
resposta apresentado, na medida em que veicula informações falsas (ID 158270931, p. 27).
A Procuradoria-Geral Eleitoral se manifestou pela procedência da ação (ID 158280858),
em parecer assim ementado:

Eleições 2022. Presidente da República. Direito de Resposta. Em regra, a difusão de fatos noticiados pela
imprensa não enseja pretensão de direito de resposta. Imputação de crime em propaganda eleitoral não se
ajusta aos contornos da liberdade de expressão. Adjetivação em campanha eleitoral de caráter ignominioso ao
rival. Entendimento do Plenário no sentido do caráter ilícito do material nessas circunstâncias.

É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO (relator): Senhor Presidente, a


pretensão dos representantes consiste na obtenção de direito de resposta, com fundamento no art. 58 da Lei nº
9.504/1997, em decorrência de alegada veiculação de informações inverídicas e ofensivas em relação ao
candidato Jair Messias Bolsonaro, transmitidas no programa eleitoral em bloco do dia 17.10.2022, por meio da
televisão.
Nos termos do art. 58 da Lei nº 9.504/1997, regulamentado pelos arts. 31 a 36 da Res.-TSE
23.608/2019, é assegurado o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos, ainda que de
forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica,
difundidos por qualquer veículo de comunicação social.
Outrossim, dispõem o art. 243, inciso IX, do Código Eleitoral e o art. 22, inciso X, da Res.-TSE
nº 22.610/2019 que não pode ser tolerada a propaganda eleitoral que caluniar, difamar ou injuriar qualquer
pessoa, bem como a que atingir órgãos ou entidades que exerçam autoridade pública.
A jurisprudência desta Corte Superior, firmada na perspectiva do referido art. 58 da Lei nº
9.504/1997, é consolidada no sentido da natureza absolutamente excepcional da concessão do direito de
resposta, que somente se legitima, sob pena de indevido intervencionismo judicial no livre mercado de ideias
políticas e eleitorais, com comprometimento do próprio direito de acesso à informação pelo eleitor cidadão, nas
hipóteses de fato sabidamente inverídico, ou em casos de graves ofensas pessoais, capazes de
configurarem injúria, calúnia ou difamação.
Nesse sentido, os seguintes precedentes desta Corte Eleitoral: AgR-REspEl nº 0600102-42/MG,
rel. Min. Alexandre de Moraes, PSESS de 27.11.2020; R-Rp nº 0600947-69/DF, rel. Min. Carlos Horbach,
PSESS de 27.9.2018; R-Rp nº 0601048-09/DF, rel. Min. Luis Felipe Salomão, PSESS de 25.9.2018; e Rp nº
0601494-12/DF, rel. designado Min. Admar Gonzaga, PSESS de 3.10.2018.
Todavia, no cenário formado nas eleições de 2022, o TSE firmou orientação “no sentido de uma
‘atuação profilática da Justiça Eleitoral’, em especial no que concerne a qualquer tipo de comportamento
passível de ser enquadrado como desinformativo e flagrantemente ofensivo” (DR no 0601275-57/DF,r. Min.
Maria Claudia Bucchianeri, PSESS de 3.10.2022).
Por ocasião do julgamento da Rp nº 0600851-15/DF, red. p/ o acórdão Min. Alexandre de
Moraes, PSESS de 22.9.2022, esta Corte assinalou a relevância da qualidade das informações no debate
democrático, pontuando a necessidade de circulação de informações verdadeiras e não fraudulentas para a
legítima formação da vontade do eleitor, conferindo escrutínio mais rigoroso desta Justiça especializada.
Para melhor delineamento da controvérsia, transcreve-se o teor da propaganda eleitoral
impugnada constante da petição inicial (ID 158258923, p. 2-3):

[00:35 - 00:43 - narrador] Lula foi o candidato mais votado da história. Foram 57 milhões de brasileiros que
eles chamam de criminosos.
[00:43 - 00:45 - reprodução de trecho de propaganda de Bolsonaro] Lula e o mais votado pelos criminosos.

[00:45 - 00:53 - narrador] Quem tem amizade com criminosos e Bolsonaro, que sempre andou com
milicianos, assassinos, e hoje esta ajudando a armar o crime organizado.
[00:53 - 00:58 - (suposto) apoiador de Lula] Como e que uma pessoa se diz honesto ligada as milícias do Rio de
Janeiro?

[00:58 - 01:05 - (suposto) apoiador de Lula] O cara que compra 51 imóveis com dinheiro vivo ne, não tem outra
palavra a não ser lavagem de dinheiro. Rachadinha.
[01:05 - 01:09 - (suposto) apoiador de Lula] Ele fala que Lula e ladrão, mas ladrão e ele e a família dele.

[01:11 - 01:27 - narradora] Você ja deve ter recebido pelo zap muitas fake news de Bolsonaro contra Lula. Ele

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abusa da fé dos brasileiros com mentiras sobre fechar as igrejas, ideologia de gênero, sobre defender o aborto,
e absurdos como esses dos banheiros unissex nas escolas.

[01:27 - 01:43 - narrador] A mentiras de Bolsonaro tem um único objetivo: desviar a atenção dos reais problemas
do nosso país, por conta de seu governo desastroso, como a fome, inflação alta, desemprego, desmonte na
educação e na saúde, desmatamento e tantos outros.

[01:44 - 02:01 - narradora] Foi com mentiras e fake news que Bolsonaro se elegeu em 2018. Assim, ele
conduziu também todo o seu governo e agora, ele tenta enganar o povo mais uma vez nessa eleição. Não
e a toa que ele ja foi condenado na justiça por mais de 30 fake news so nessa campanha.

[02:01 - 02:03 - trecho de entrevista antiga de Bolsonaro] Fake news faz parte da nossa vida.
[02:03 - 02:08 - narrador] Ainda bem que o brasileiro não acredita mais em Bolsonaro.

[02:08 - 02:10 - (suposta) apoiadora de Lula] E toda vez que ele abre a boca ele destila ódio.

[02:10 - 02:14 - (suposta) apoiadora de Lula] Prega a arma, guerra, nao pode ser de Deus.
[02:14 - 02:19 - narrador] Continue atento porque ainda vem muita mentira por ai, mas a verdade vai vencer.

Extrai-se da transcrição acima que a propaganda impugnada atribui a Jair Messias Bolsonaro as
pechas de criminoso e ladrão, o candidato tem relação de amizade com milicianos e assassinos e contribui
para armar o crime organizado, imputando-o, ainda, a prática de crime de lavagem de capitais e a participação
em esquema de “rachadinha”.
Infere-se que o intuito da coligação opositora é o de utilizar o seu espaço de propaganda para
difundir mensagens negativas que têm o condão de ofender a honra objetiva e subjetiva do candidato,
notadamente por sugestionar a prática de crimes, e assim desbordam dos limites do legítimo debate político de
ideias e vulneram o princípio constitucional da presunção de inocência, revestindo-se da ilegalidade descrita no
art. 22, inciso X, da Res.-TSE nº 23.610/2019.
Aspecto jurídico relevante que deve ser ponderado para o enfrentamento da controvérsia
consiste no fato de que a propaganda eleitoral impugnada foi transmitida em horário gratuito na televisão, ou
seja, o espaço destinado para a realização de propaganda eleitoral é imposto por lei às emissoras, as quais
recebem compensação fiscal pelo tempo cedido que deixarão de arrecadar. Desse modo, por consequência, o
Poder Público, especialmente a Justiça Eleitoral, exerce maior controle e fiscalização sobre esse determinado
espaço destinado aos programas de publicidade eleitoral.
Com efeito, não poderia a Justiça especializada permitir que os partidos políticos, coligação e
candidatos participantes do pleito deixassem de observar direitos e garantias constitucionais do cidadão
durante a exibição da propaganda no horário eleitoral gratuito na rádio e na televisão, utilizando-se como
justificativa a liberdade de expressão para realizar imputações que, em tese, podem caracterizar crime de
calúnia, injúria ou difamação ou que não observem a garantia constitucional da presunção de inocência.
Em julgado recente, na sessão de 20.10.2022, no Referendo-Rp nº 0601416-76/DF, de minha
relatoria, esta Corte se manifestou no sentido de proibir a veiculação de propaganda eleitoral em que sejam
utilizados adjetivos degradantes que remetam à conotação de prática de crime pelo candidato adversário. Na
hipótese analisada nessa assentada, foi rechaçado o uso das expressões “corrupto” e “ladrão”, nestes termos:

[...] a propaganda eleitoral impugnada é ilícita, pois atribui ao candidato à conduta de “corrupto” e “ladrão”, não
observando a legislação eleitoral regente e a regra de tratamento fundamentada na garantia constitucional da
presunção de inocência ou não culpabilidade.

[...]

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Nesse passo, in casu, a ilegalidade da propaganda impugnada encontra-se na utilização das expressões
“corrupto” e “ladrão”, atribuídas abusivamente ao candidato da coligação representante, em violação a
presunção de inocência e em ofensa ao art. 22, inciso X da Res.-TSE nº 23.610/2019.

[...]

Na espécie, de outro vértice, não há mera menção a fatos pretéritos referentes às condenações posteriormente
anuladas pelo STF, mas atribuições ofensivas que desborda da mera crítica política, pois transmite mensagem
que imputa ser o candidato “corrupto” e “ladrão”, desrespeitando regra de tratamento decorrente da
presunção constitucional de inocência e que viola os preceitos normativos previstos nos arts. 243, IX, do
Código Eleitoral e 22, X, da Res.-TSE nº 23.610/2019.

Nessa ordem de ideias, assevera-se que referências a adjetivos e condutas que remetam à
prática de crimes pelo candidato representante extrapolam o limite da liberdade de expressão, tornando ilegal a
propaganda eleitoral, de modo que a concessão de direito de resposta é medida que se impõe.
Diferente sorte, todavia, toca a pretensão de direito de resposta dos representantes quanto à
impugnação da parte da propaganda eleitoral que afirma que o candidato Bolsonaro é contumaz na veiculação
de notícias que se caracterizam como fake news, visto que, a despeito de inquietante, revela-se como
afirmação própria dos embates eleitorais, manifestação que faz parte do debate acalorado entre adversários
políticos e, bem por isso, se ampara na liberdade de expressão e no direito à informação, visto que permite ao
eleitorado ter amplo espectro de conhecimento em relação a determinado candidato.
Reforça a possibilidade de a crítica impugnada ser rebatida dentro do próprio debate eleitoral o
fato de que, na hipótese, a referência ao representante como propagador de fake news foi feita em um contexto
defensivo pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva com o intuito de infirmar discurso negativo a ele direcionado,
consoante se extrai do seguinte trecho (ID 158270931, p. 4):

[01:11 - 01:27 - narradora] Você ja deve ter recebido pelo zap muitas fake news de Bolsonaro contra Lula. Ele
abusa da fe dos brasileiros com mentiras sobre fechar as igrejas, ideologia de gênero, sobre defender o aborto,
e absurdos como esses dos banheiros unissex nas escolas.

Nesse norte, porquanto dentro do limite da arena político-eleitoral, a crítica veiculada na


hipótese vertente afigura-se imanente às disputas eleitorais, não possuindo o condão de atrair a interferência
desta Justiça especializada, podendo ser esclarecida ou respondida no âmbito da liberdade de discurso que
informa as campanhas políticas.
Com efeito, na dialética democrática, são comuns a potencialização das mazelas dos
adversários, as críticas mais contundentes, as cobranças e os questionamentos agudos. Tal situação encontra
amparo na livre discussão, na ampla participação política e no princípio democrático, preceitos interligados à
liberdade de expressão. A democracia representativa somente se fortalece em um ambiente de total visibilidade
e possibilidade de exposição crítica das mais variadas opiniões (STF – ADI no 4451/DF, rel. Min. Alexandre de
Moraes, DJe de 6.3.2019).
Cabe destacar, ainda, a compreensão exarada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de que a
“liberdade de expressão constitui um dos fundamentos essenciais de uma sociedade democrática e
compreende não somente as informações consideradas como inofensivas, indiferentes ou favoráveis, mas
também as que possam causar transtornos, resistência, inquietar pessoas, pois a Democracia somente existe
baseada na consagração do pluralismo de ideias e pensamentos políticos, filosóficos, religiosos e da tolerância
de opiniões e do espírito aberto ao diálogo” (ADI nº 4439/DF, redator p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, DJe
de 21.6.2018 – p. 3).
Quanto a este aspecto, a doutrina esclarece que:

A crítica política – dura, mordaz, espinhosa, ácida – é peça essencial ao debate democrático [...]. [...] por meio

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da crítica à figura dos candidatos, os eleitores têm acesso a um quadro mais completo das opções políticas.
Considerações a respeito do caráter, da idoneidade e da trajetória dos políticos não são indiferentes ou
[ir]relevantes para o eleitorado e fazem parte do leque de informações legitimamente utilizadas na definição do
voto.

(Osorio, Aline. Direito Eleitoral e Liberdade de Expressão. Belo Horizonte: Fórum, 2017, p. 228).

Pelo exposto, nos termos do art. 58 da Lei nº 9.504/1997, julgo parcialmente procedente a
representação, para conceder o direito de resposta aos representantes somente em relação à imputação
de adjetivos e condutas que remetam à conotação de prática de crimes, e determino que a resposta seja
veiculada no início da propaganda eleitoral em bloco reservada à Coligação Brasil da Esperança, a ser
veiculada na televisão, uma vez no período diurno e uma vez no período noturno, pelo tempo máximo de
1 (um) minuto.
Aprovo em parte o conteúdo da resposta apresentada pelos representantes na petição inicial
(ID 158258923, p. 17), determinando-se a retirada das frases: (i) “Jair Bolsonaro também não aprova e nem
apoia a disseminação de fake news. Essa e uma prática ruim para todos”, visto que não está abarcada pela
concessão de direito de resposta reconhecida nesta decisão, e (ii) “a campanha de Lula atuou de forma ilegal”
porquanto visa a atacar o candidato adversário e extrapola o desiderato de responder sobre os fatos
impugnados.
É o voto.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Agradeço ao eminente
Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.
Como vota o Ministro Sérgio Banhos?

VOTO

O SENHOR MINISTRO SÉRGIO BANHOS: Senhor Presidente, Senhora Ministra, Senhores


Ministros, nobre representante do Ministério Público Eleitoral, senhora advogada, senhor advogado. Boa noite a
todos.
Senhor Presidente, do estudo que fiz, estou acompanhando Sua Excelência o relator,
parabenizando-o pelo voto sempre muito bem lançado.
Acompanho o relator.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Agradeço ao Ministro Sérgio.
Ministro Carlos Horbach?

VOTO

O SENHOR MINISTRO CARLOS HORBACH: Senhor Presidente, muito boa noite. Cumprimento
Vossa Excelência e, na pessoa de Vossa Excelência, os demais membros deste Tribunal, em especial, o relator
deste feito, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino; o Senhor Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Professor Paulo
Gustavo Gonet Branco; os alunos da Faculdade Fundação Escola Superior do Ministério Público, da minha
cidade de Porto Alegre.
E, tendo em vista o disposto no caput do art. 58 da Lei das Eleições, a Lei nº 9.504/97, que
afirma categoricamente: “é assegurado o direito de resposta a candidato atingido, ainda que de forma indireta,
por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória ou injuriosa”.
Parece-me que o voto do eminente relator é de todo acertado, sendo inequívoca a natureza
caluniosa das afirmações que são feitas na peça publicitária ora em análise, de modo que, cumprimentando
Sua Excelência o Ministro Relator, eu acompanho integralmente o voto por ele proferido.

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É como voto, Senhor Presidente.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Obrigado ao Ministro Carlos
Horbach, da cidade de Porto Alegre.
Como vota o Ministro Ricardo Levandowski?

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: Senhor Presidente, eu renovo os


cumprimentos a Vossa Excelência e aos demais presentes. Também analisei o caso com verticalidade e
entendo que assiste integral razão ao eminente relator. Acompanho Sua Excelência no sentido de julgar
parcialmente procedente o pedido de direito de resposta.
Agora, Senhor Presidente, eu gostaria de manifestar a minha preocupação com uma questão
que foi levantada da tribuna pelo eminente advogado Cristiano Zanin, que é a seguinte:
Existe, de fato – e nós percebemos isso, acompanhando os julgamentos da Corte, sobretudo no
que diz respeito aos direitos de resposta –, nós verificamos que existem alguns ministros que exigem a
submissão prévia do texto de resposta e, muitas vezes, demorando doze, vinte e quatro, quarenta e oito horas
para provar esse texto, e outros ministros que não fazem tal exigência.
Lembro-me de que numa assentada anterior, eu me manifestei expressamente no sentido de
que a lei não exige e a celeridade do processo eleitoral não recomenda que se anexe o texto de resposta à
inicial do pedido. E isto, Senhor Presidente, se faz mais evidente ainda neste momento que estamos vivendo,
em que faltam poucos dias para o término da propaganda eleitoral.
Portanto, Senhor Presidente, penso que a questão levantada pelo eminente advogado Cristiano
Zanin merece uma reflexão desta Corte e eu sugiro, respeitosamente, a Vossa Excelência que procure
conversar com os eminentes pares, com os ministros responsáveis por este setor de direito de resposta, para
que uniformizem o seu procedimento para que não haja uma desisonomia entre os candidatos e não haja,
enfim, o prejuízo de um em detrimento de outros.

QUESTÃO DE ORDEM

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Eminente, permite?


O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: Pois não. Vossa Excelência é o
presidente.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Vossa Excelência é o
professor.
Aproveitando essa questão, nós verificamos que essa composição, nessa eleição de 2022, nós
estamos analisando celeremente todas as questões, inclusive a questão do direito de resposta, que se mostrou,
e se mostra, talvez, o mais importante mecanismo para o combate às fake news eleitorais. Mais até do que, eu
diria, a retirada que estamos fazendo, a aplicação de multa. A partir do momento em que nós ampliamos a
concessão do direito de resposta, houve um abrandamento, eu diria assim, nas propagandas em rádio e
televisão.
E aproveitando também a celeridade da Justiça Eleitoral, eu entendo que nós já podemos
decidir agora essa questão, mas a única questão que eu colocaria é que nós não estamos com a composição
titular, em virtude do eminente Ministro Raul, está com o Ministro Sanseverino. Mas como a propaganda é de
competência dos ministros substitutos, eu coloco como questão de ordem e, no próximo caso em que tivermos
a nova composição, nós reiteramos isso, se Vossas Excelências concordarem, porque acho realmente que nós
não podemos – até porque faltam pouquíssimos dias para a eleição – deixar pairar essa dúvida, se há
necessidade antes ou não.

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VOTO (questão de ordem)

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): E aqui, já adiantando o meu


posicionamento, já coloco que a responsabilidade do direito de resposta é de quem vai colocar o direito de
resposta. Se eventualmente no direito de resposta exacerbar, exagerar, nós daremos o direito de resposta da
resposta, a famosa réplica, que nós daremos. Até porque é possível essa concessão no sábado e a Justiça
Eleitoral vai trabalhar normalmente até o domingo.
Então, eu coloco aqui como uma questão de ordem. A questão foi trazida pelo eminente
advogado, mas a questão de ordem foi levantada pelo eminente Ministro Ricardo Lewandowski, que vota no
sentido da não necessidade de trazer...

VOTO (questão de ordem)

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: E que haja uma isonomia entre, enfim, os
candidatos, no que diz respeito ao pronunciamento dos magistrados da Corte, para que não se exija, sobretudo
tendo em conta o momento eleitoral em que vivemos. E como Vossa Excelência muito bem disse, num
segundo momento, a posteriori, em havendo excessos, a legislação eleitoral e a própria legislação criminal
prevê as penas cabíveis para esse tipo de comportamento desviante.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Eu ouço, na sequência, o
eminente relator.

VOTO (questão de ordem)

O SENHOR MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO (relator): Presidente, essa é uma


questão relevante, extremamente relevante. Num julgamento anterior, na semana passada, essa questão foi
discutida, e era um caso de Twitter, em que a legislação eleitoral, a rigor, ela só prevê a resposta escrita no
caso dos direitos de resposta com base na imprensa escrita. E aí se determinou também, no caso do Twitter,
que viesse por escrito.
Agora, em relação à propaganda na televisão e no rádio, isso não é previsto expressamente,
embora nós estejamos exigindo exatamente em função das peculiaridades dessa eleição, em que os excessos
cometidos estão acima do normal no debate político tradicional.
Mas, de todo modo, eu concordo plenamente. Acho que talvez a regulamentação, a exigência
que foi feita desborde daquilo que está expressamente previsto na Lei Eleitoral, e a própria lei estabelece
sanções para as hipóteses de excesso do próprio direito de resposta. E, como Vossa Excelência já colocou, a
possibilidade de o direito de resposta ser veiculado, inclusive, no sábado anterior ao dia das eleições.
Eu concordo com a manifestação e nós podemos então flexibilizar esse direito de resposta,
como sugerido pelo Ministro Ricardo Lewandowski.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Como vota o Ministro Sérgio
Banhos?

VOTO (questão de ordem)

O SENHOR MINISTRO SÉRGIO BANHOS: Senhor Presidente, como já referido aqui, houve
uma sessão em que fiquei vencido, e, em homenagem ao princípio da colegialidade, estou acompanhando
essa questão de ordem no sentido do que proposto pelo Ministro Ricardo Lewandowski.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Ministro Carlos Horbach.

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VOTO (questão de ordem)

O SENHOR MINISTRO CARLOS HORBACH: Senhor Presidente, de fato, como há pouco


mencionou o Ministro Sérgio Banhos, na semana passada – e o Ministro relator também –, na quinta-feira, nós
julgamos exatamente um caso, que era da relatoria do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, em que houvera o
indeferimento da inicial, por inépcia, pela não apresentação do texto do direito de resposta, de algo que seria
veiculado no Twitter.
Eu trouxe uma divergência exatamente no sentido de que aquele documento não era
necessário; não era necessário exatamente porque a lei não o exigia. Exigia exclusivamente para o direito de
resposta a ser destinado a combater ofensas veiculadas na imprensa escrita. Entretanto, a maioria entendeu
que, mesmo em se tratando da internet, em que pode haver vídeo, pode haver meme, pode haver qualquer tipo
de manifestação das mais diferentes formas, haveria necessidade de, enfim, apresentação, junto com a inicial,
do texto do direito de resposta.
Parece-me que aquela lógica, que foi orientada pela celeridade do processo eleitoral e pela
instrumentalidade desse mesmo processo eleitoral, se impõe na mesma situação, de modo que acredito que
seja, sim, importante a apresentação da resposta, ou do projeto de resposta, por assim dizer, juntamente com a
inicial, caso em que obviamente se estará eximindo o requerente de apresentá-la posteriormente para eventual
homologação da Corte.
Agora, no caso que nós estamos aqui apreciando, me parece que haverá, dada a exiguidade do
tempo, uma dificuldade de aplicação da alínea f do inciso III do § 3º do art. 58 da Lei das Eleições, que é
exatamente aquele que regulamenta a situação específica, em que a resposta apresentada durante o horário
eleitoral gratuito não se coaduna, não se projeta a responder às ofensas que foram feitas, desvirtuando,
portanto, esse direito de resposta. Ainda que nós tenhamos a possibilidade de eventualmente até sábado
veicular essas respostas, nós estamos aí no final exatamente do processo eleitoral.
De modo que eu acredito que seja mais consentâneo com o que decidimos na semana passada,
sim, exigir esse direito de resposta, essa resposta escrita na petição inicial; e, caso assim não seja feito, que se
peça, para homologação do relator, a apresentação prévia do texto, ou do vídeo a ser apresentado, a ser
veiculado como resposta.
É como voto, Senhor Presidente.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Agradeço, Ministro Carlos
Horbach.
Ministra Cármen Lúcia.

VOTO (questão de ordem)

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA: Senhor Presidente, Senhores Ministros, Senhor


Ministro Relator, Paulo Sanseverino, Senhor Vice-Procurador-Geral da República, Senhores advogados,
especialmente os que assomaram à tribuna – Doutora Marina, Doutor Cristiano –, Senhores Advogados que
nos assistem, em especial, meus cumprimentos aos estudantes que tão gentilmente estão presentes conosco
nesta sessão.
Senhor Presidente, neste caso, eu vou pedir vênia ao Ministro Ricardo Lewandowski, que é o
meu Vice-Presidente daqui e Presidente eterno, para acompanhar a divergência do Ministro Carlos Horbach,
porque, na semana passada, esse tema foi trazido. Eu tenho decidido exatamente neste sentido,
evidentemente, pelo princípio da colegialidade, sendo outra a conclusão, eu acatarei. Mas como na semana
passada veio rigorosamente este tema e foi decidido, ao contrário do que já tinha acontecido – claro que ali se
falava da internet –, mas em outras eleições. E nós chegamos à conclusão de que a celeridade era no sentido
de exatamente a apresentação logo na inicial – isso foi na semana passada –, eu vou manter meu voto.
Evidente, como disse, acatando plenamente o resultado, em respeito ao princípio da colegialidade.

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Muito obrigada, Presidente. Voto, portanto, com a divergência.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Agradeço a Ministra Cármen.
Ministro Benedito Gonçalves.

VOTO (questão de ordem)

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES: Renovo, Presidente, a saudação ao nosso


Tribunal da Democracia. Com relação ao tema em debate, apesar de ter uma semana que nós julgamos,
debatemos e julgamos o tema neste Tribunal, me chamou a atenção, em nova reflexão, levando em conta a
peculiaridade, o tempo exíguo de terminar agora a propaganda eleitoral. Então, peço máxima vênia à
divergência e acompanho a questão de ordem, nos exatos termos postos pelo Ministro Lewandowski.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Agradeço ao Ministro
Benedito.

VOTO (questão de ordem)

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Senhores Ministros, eu


também peço vênia à divergência, evoluindo do que decidimos na semana passada, em relação à questão
escrita, do Twitter, que é mais próximo à imprensa escrita. Eu entendo que a celeridade e a responsabilidade
daquele que coloca o texto devem ser consideradas.
Acompanho também o eminente Ministro Ricardo Lewandowski na questão de ordem,
entendendo, como Vossa Excelência disse, que não há necessidade de homologação prévia do texto pelo
magistrado relator.

ESCLARECIMENTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: Presidente, Vossa Excelência pode me


conceder a palavra?
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Por favor.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI: Eu acho que não há, data venia, nenhuma
incongruência com o que nós decidimos na semana passada. Ainda que seja exigível que aquele que peticione
junte, enfim, o texto com o qual ele pretende satisfazer o direito de resposta, eu creio que isso não pode
depender do beneplácito do magistrado.
Se nós decidimos algo na semana passada e decidimos com muita convicção e amparado na
lei, os fatos são extremamente dinâmicos, nós estamos hoje num outro momento eleitoral; faltam pouquíssimos
dias, 4 ou 5 dias, para o término do segundo turno. Portanto, nós temos que adaptar aquilo que nós decidimos
na semana passada a este novo momento, data venia.
É apenas para explicar, sobretudo aos estudantes que nos assistem, que nós não estamos
fazendo uma reviravolta jurisprudencial. Mas a Justiça Eleitoral é extremamente dinâmica e tem que responder
aos fatos e dar a eles uma solução satisfatória.
Obrigado, Senhor Presidente, pela concessão da palavra.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Seguindo o julgamento do
mérito, já votaram o eminente Ministro Relator, Ministro Sérgio Banhos, Ministro Carlos Horbach, Ministro
Ricardo Lewandowski, que acompanharam o Ministro Relator na parcial procedência.
Ministra Cármen Lúcia, em relação ao mérito da questão.

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VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA: Senhor Presidente, no mérito, eu estou


acompanhando, porque eu não tinha votado, só tinha ficado o meu voto, eu estou acompanhando integralmente
pela parcial procedência, como votou o Ministro Relator, parabenizando-o pelo voto.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Ministro Benedito Gonçalves.

VOTO

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES: Acompanho, Presidente, integralmente o


voto do relator.

VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): Senhores Ministros, eu


também, no mérito, acompanho o relator.

PROCLAMAÇÃO DO RESULTADO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (presidente): O Tribunal, por maioria, em


questão de ordem, entendeu que não há necessidade da homologação prévia do texto de resposta pelo
Ministro Relator, nos termos do voto do eminente Ministro Ricardo Lewandowski. E, no mérito, por
unanimidade, julgou parcialmente procedente a representação para conceder o direito de resposta aos
representantes, também nos termos do voto do eminente Ministro Relator.

EXTRATO DA ATA

DR nº 0601557-95.2022.6.00.0000/DF. Relator: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.


Requerentes: Coligação Pelo Bem do Brasil e outro (Advogados: Tsrcisio Vieira de Carvalho Neto – OAB:
11498/DF e outros). Requerida: Coligação Brasil da Esperança (Advogados: Cristiano Zanin Martins – OAB:
172730/SP e outros).
Usou da palavra, pelos requerentes, Coligação Pelo Bem do Brasil e Jair Messias Bolsonaro, a
Dra. Marina Almeida Morais, e pela requerida, Coligação Brasil da Esperança, o Dr. Cristiano Zanin Martins.
Decisão: O Tribunal, por maioria, resolveu questão de ordem, no sentido de não ser necessária
a submissão prévia do texto de resposta à Justiça Eleitoral nas representações de pedido de direito de
resposta, nos termos propostos pelo Ministro Ricardo Lewandowski, vencidos os Ministros Carlos Horbach e
Cármen Lúcia. No mérito, por unanimidade, julgou parcialmente procedente a representação, para conceder o
direito de resposta aos representantes somente em relação à imputação de adjetivos e condutas que remetam
à conotação de prática de crimes, e determinou que a resposta seja veiculada no início da propaganda eleitoral
em bloco reservada à Coligação Brasil da Esperança, a ser veiculada na televisão, uma vez no período diurno e
uma vez no período noturno, pelo tempo máximo de 1 (um) minuto, nos termos do voto do relator. Aprovou,
ainda, em parte, o conteúdo da resposta apresentada pelos representantes na petição inicial, determinando-se
a retirada de determinadas frases, nos termos do voto do relator.
Não participou, justificadamente, o Senhor Ministro Raul Araújo, por se tratar de matéria de
relatoria de Ministro(a) Auxiliar, nos termos do que dispõe o art. 2º, II, da Res.-TSE nº 23.608/2019.

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Acórdão publicado em sessão.
Composição: Ministros Alexandre de Moraes (presidente), Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia,
Benedito Gonçalves, Paulo de Tarso Sanseverino, Sérgio Banhos e Carlos Horbach.
Vice-Procurador-Geral Eleitoral: Paulo Gustavo Gonet Branco.

SESSÃO DE 25.10.2022.

Sem revisão das notas de julgamento dos Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Sérgio Banhos e Carlos Horbach.

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