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SENTENÇA
(TIPO D - RES. CJF Nº. 535/2006)
RELATÓRIO
Consta da denúncia que, nos dias 02/04/2022, 27/05/2022 e 12/04/2023, o réu, de forma livre e
consciente, realizou três postagens ofensivas ao povo judeu e ao judaísmo, através de sua página
pessoal na rede social Facebook.
Audiência de instrução realizada neste juízo em 23/08/2023, na qual foram ouvidas duas
testemunhas e realizado o interrogatório do réu. Ao final, o MPF apresentou suas alegações
finais orais.
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É o relatório.
FUNDAMENTAÇÃO
Imputação
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
15/05/97)
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido por intermédio dos meios de
comunicação social, de publicação em redes sociais, da rede mundial de computadores ou de
publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 14.532, de 2023)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Caso concreto
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O Relatório de Pesquisa 850/2023, por sua vez, indicou que foram realizadas outras duas
postagens no mesmo perfil da referida rede social, também com conteúdos antissemitas.
Em seguida, foi solicitado à rede social Facebook que fosse realizada a preservação de dados e
conteúdo referentes a conta do perfil do réu, o que foi devidamente cumprido.
Materialidade e autoria
Sobre o tema, precedentes do STF (RHC 134.682) e STJ (RHC 117539) caracterizam o delito
de intolerância religiosa a partir da presença cumulativa de três requisitos: afirmação da
existência de desigualdade entre os grupos religiosos; defesa da superioridade daquele a que
pertence o agente e tentativa de legitimar a dominação, exploração e escravização dos
praticantes da religião que é objeto de crítica, ou, ainda, a eliminação, supressão ou redução de
seus direitos fundamentais.
No presente caso, os documentos que acompanham a denúncia demonstram que foram postados,
no perfil mantido pelo réu na rede social Facebook, postagens de conteúdo discriminatório
contra pessoas de origem ou confissão judaica, voltadas a denegrir sua imagem e a instar
violência contra os mesmos.
Verifica-se, ademais, que as postagens são voltadas a afirmar a existência de superioridade por
parte dos praticantes da religião professada pelo demandado em detrimento da religião judaica.
Vê-se pelos termos empregados ("inimigos da humanidade", "demônios", "pervertidos", "dignos
de abate", "pérfidos"), que representam discurso de ódio contra a religião judaica, extrapolando
os limites do proselitismo.
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denegrir e infamar terceiros e disseminar o ódio entre as pessoas, devendo-se reconhecer que a
prática de atos de intolerância religiosa constitui verdadeira violação ao Estado Democrático de
Direito.
Autoria, por seu turno, é incontroversa. Além dos elementos materiais, em especial a resposta
enviada pelo Facebook, que comprovam que a conta através da qual foram realizadas as
postagens pertence a Victor Marcelino Santoianni, o próprio réu confirma que foi ele quem as
realizou.
Em relação à alegação de que as postagens tiveram pequena repercussão, pontue-se que além de
se tratar de crime formal, não sendo o resultado material um requisito para sua configuração, o
meio utilizado para a propagação do discurso de ódio, a internet, não permite ao usuário o
completo controle sobre sua disseminação, haja vista que, uma vez postado, um conteúdo pode
ser reproduzido em larga escala, independente da vontade do autor, através de print screen e
encaminhamentos, por exemplo.
No que tange à alegação de que o réu apagou voluntariamente as postagens, tem-se que se trata
de fato irrelevante, uma vez que, dada a natureza do crime em análise, impossível seu
enquadramento nos arts. 15 e 16 do Código Penal.
Em suma, a réu tinha plena capacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta e de agir de
acordo com esse entendimento. Sabia, com base em juízo leigo, que sua conduta era reprovável,
podendo, nas circunstâncias em que se encontrava, adotar conduta diversa. Indiscutível, diante
disso, sua culpabilidade, razão pela qual lhe corresponde juízo de reprovação estatal.
Concurso de crimes
Praticados os crimes por meio de ações autônomas, que não guardam pertinência imediata de
tempo, reconheço a aplicação do art. 69 do CP, que trata do concurso material.
DISPOSITIVO
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Fixação da pena
O art. 20, § 2º, da Lei n. 7.716/89 comina ao crime praticado pelo réu penas cumulativas de
reclusão e multa, não sendo aplicável o disposto no art. 59, inciso I, do CP, que diz respeito à
hipótese de cominação alternativa.
Considerando que a culpabilidade é normal à espécie; que não possui maus antecedentes; que
a conduta social do acusado deve ser valorada positivamente; que não há nos autos como aferir
a personalidade do acusado; que os motivos são inerentes ao tipo; que as circunstâncias são
normais à espécie; que não houve consequências extrapenais relevantes; que o comportamento
da vítima em nada contribuiu para o cometimento do ilícito, FIXO a PENA-BASE em 02 (dois)
anos de reclusão e a pena de multa em 10 (dez) dias-multa, para cada crime.
Ausentes agravantes.
Considerando o concurso material entre os três crimes do art. 20, § 2º, da Lei n. 7.716/89, fixo a
pena definitiva em 06 (seis) anos de reclusão e a pena de multa em 30 (trinta) dias-multa,
sendo cada dia multa fixado em 1/3 (um terço) do valor do salário-mínimo vigente à época do
último fato delituoso gerador da condenação (2023), atualizado até o efetivo pagamento, uma
vez que o réu demonstra possuir condições financeiras favoráveis, sendo titular de cargo
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público.
Considerando o montante da pena de reclusão aplicada, a pena deverá ser cumprida em regime
inicial semiaberto (art. 33, § 2º, "b", do CP), em estabelecimento a ser fixado pelo juízo da
execução.
Incabível a substituição da pena, uma vez que aplicada pena superior ao patamar legal (art. 44, I,
do CP).
Providências finais
Deixo de fixar mínimo indenizatório previsto no art. 387, IV, do CPP, uma vez que a infração
penal evidenciada não importou qualquer repercussão monetária factível.
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Processo: 0801774-85.2023.4.05.8201
Assinado eletronicamente por: 23090519001008700000012283576
VINICIUS COSTA VIDOR - Magistrado
Data e hora da assinatura: 05/09/2023 21:54:50
Identificador: 4058201.12233416
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