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Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso do Sul


Comarca de Campo Grande
3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar c/Mulher

Este documento é copia do original assinado digitalmente por ALBINO COIMBRA NETO. Liberado nos autos digitais por Albino Coimbra Neto, em 11/12/2023 às 19:22. Para acessar os autos
Autos n. 0924780-63.2023.8.12.0001
Ação: Pedido de Prisão Preventiva
Representante: Ministério Público Estadual
Representado: Ronilson Soares de Lima

processuais, acesse o site https://esaj.tjms.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0924780-63.2023.8.12.0001 e o código 63F2A3D.


Vistos.

Trata-se de representação pela prisão preventiva, apresentada pelo


Ministério Público em desfavor de Ronilson Soares de Lima, qualificado nos autos,
tendo por base o fato descrito na certidão de f. 13-14 e ofício de f. 34-36 (ocorrido em
30/11/2023), que retrata suposta prática pelo representado dos crimes de
descumprimento de medidas protetivas de urgência (LMP, art. 24-A), envolvendo a
vítima Ariadne Pereira Silva.

Em síntese, a vítima relata que o requerido teria passado de


motocicleta em frente ao local de estudos de sua filha gritando pelo seu nome. Av ítima
informa que não sabia que o requerido teria sido posto em liberdade e se sentiu
completamente abalada e está fazendo tratamento psicológico.

Assim, com fulcro nos arts. 311, 312 e 313, II e III, do Código de
Processo Penal c/c art. 20 da Lei 11.340/2006, representa o Parquet pela prisão
preventiva, juntando a documentação de f. 13-44. Com a juntada dos antecedentes
criminais do representado (f. 46-57), os autos vieram conclusos.

É o relatório. Decido.

A prisão preventiva, como medida excepcional, deve ser


criteriosamente analisada pelo julgador, uma vez que cerceia a liberdade de ir e vir do
agente, antes mesmo que se lhe estabeleça regularmente a responsabilidade penal
através de sentença condenatória.

Prevê o art. 5º, LXVI, da Constituição Federal que "ninguém será


levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
sem fiança".

Para tanto é que o legislador fixou critérios para o julgador se nortear


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na aplicação dessa medida cautelar, de extrema força, posto que restringe um dos
direitos fundamentais do indivíduo, a sua liberdade.

Os pressupostos e requisitos autorizadores da prisão preventiva estão

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descritos no art. 312 do Código de Processo Penal (CPP), o qual exige prova da
materialidade e indício de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado, e a necessidade de se garantir a ordem pública, a ordem econômica, a
conveniência da instrução criminal ou a aplicação da lei penal.

O art. 313 do Código de Processo Penal dispõe ainda que "nos termos
do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I- nos
crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro)
anos; II- se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em
julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940-Código Penal; III- se o crime envolver violência doméstica e
familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência."

Em se tratando de violência doméstica, estabelece o art. 20 da Lei n.


11.340/2006 que "em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal,
caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento
do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial."

Ainda, estabelece o Enunciado n. 29 do Fonavid que "é possível a


prisão cautelar, inclusive de ofício, do autor de violência independentemente de
concessão ou descumprimento de medida protetiva, a fim de assegurar a integridade
física e/ou psicológica da ofendida."

No caso sob análise, observa-se que há indícios da prática de violência


psicológica contra a vítima, submetendo-a a uma vivência sem dignidade e bem-estar, e
diante das circunstâncias dos fatos, conclui-se ser necessária a intervenção do Estado de
forma a impedir que a violência contra a vítima evolua para um mal maior.

A materialidade delitiva e os indícios de autoria estão


consubstanciados nas informações de que o requerido, no dia 30/11/2023, estaria
descumprindo a medida de monitoração eletrônica (f. 34-36) adentrando a área de

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exclusão tão logo foi posto em liberdade (solto em 29/11/2023 – f. 33). Ademais, às f.
13-14 consta ainda as declarações prestadas pela vítima, haja vista a relevância da
palavra da vítima em crimes desta natureza, que ocorrem comumente nos estritos limites
domésticos, longe da presença de testemunhas. Consta ainda diversos relatos de que o

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requerido, ainda que preso, estaria descumprindo as medidas protetivas, perseguindo a
vítima por redes sociais, mandando mensagens e postando fotos (f. 13-14 e 20-23). Por
fim, nos autos n. 0845898-87.2023.8.12.0001 foi juntado na presente data informação
de nova violação do ponto de exclusão pelo representado no dia 09/12/2023, adentrando
local onde deveria afastar-se passando muito próximo ao ponto onde consta como casa
da mãe da vítima. Resta clara, desta forma, a presença do fumus comissi delicti.

Ademais, infere-se que a vítima possui medidas protetivas de


urgência contra o representado, que foram concedidas nos autos n. 0957191-
96.2022.8.12.0001, das quais ele foi intimado em 02/10/2022, o que faz incidir o art.
313, III, do Código de Processo Penal.

Ademais, não bastasse ter descumprido a medida protetiva uma vez,


vem reiteradamente cometendo atos a fim de perturbar a vítima e tirar-lhe o sossego,
ameaçando-a e abalando-a psicologicamente.

Ressalta-se que o requerido foi posto em liberdade em 29/11/2023


com a determinação para que fosse instalada a tornozeleira eletrônica. Portanto, o
requerido encontra-se monitorado eletronicamente desde então. Apenas um dia após ser
solto, no dia 30/11/2023 (f. 34-36) adentra em área de exclusão e, conforme a vítima,
grita pelo seu nome para lhe chamar a atenção e lhe apavorar.

Observa-se dos antecedentes que o representado é reincidente, vez que


possui condenação criminal definitiva, inclusive por violência doméstica contra a
mulher, cumprindo pena nos autos n. 6000389-64.2023.8.12.0001, o que preenche,
também, o requisito do art. 313, II, do CPP.

Assim, as referidas medidas mostraram-se insuficientes para inibir a


reiteração da prática delitiva, o que reforça a necessidade da prisão cautelar como forma
de conter futuras práticas criminosas.

Constata-se, portanto, que a ordem pública está abalada ante a conduta

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do representado, totalmente avessa à normas que protegem os direitos humanos e
reafirma perante a sociedade um modelo de comportamento agressivo contra a mulher o
qual a Lei n. 11.340/2006 e tratados internacionais visam combater.

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Os fatos narrados nos autos apresentam gravidade concreta e revela
um comportamento desmedido do suposto agressor, apresentando total descaso com a
integridade, o bem estar e a dignidade da sua ex-companheira e ainda com as regras
sociais previstas no Código Penal, razão pela qual há que se prevenir que os fatos
evoluam para um mal maior e irreversível, pois presente o periculum libertatis.

Ademais, as peculiaridades do caso concreto, a dinâmica dos fatos,


demonstram que há necessidade da prisão para se garantir a segurança da ofendida, sua
integridade física e psicológica, efetivando-se, assim, o princípio protecionista
insculpido no art. 226, § 8º, da Constituição Federal.

Assim entendo que se encontram perfeitamente delineados os


pressupostos da prisão preventiva (prova da materialidade delitiva e indícios suficientes
de autoria) e os fundamentos da prisão cautelar descritos no artigo 312 do Código de
Processo Penal (garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e
garantia da aplicação da lei penal). Além disso, encontram-se presentes os requisitos do
art. 313, II e III, do Código de Processo Penal.

Destarte, a futura instrução criminal será mais efetiva com a presença


do representado, bem como pela necessidade da coleta de provas não ser perturbada de
forma a impedir a busca da verdade real, inclusive porque a instrução probatória em
juízo ainda não se iniciou, bem como porque é frequente a violência contra a vítima.

Por fim, por ora, entendo que as medidas cautelares diversas da prisão
não são suficientes para se garantir a integridade física e psicológica da vítima, pois o
comportamento do representado demonstra total desprezo pela integridade física e
psicológica da vítima, bem como pelas regras de conduta social impostas na lei penal.

Diante do exposto, decreto a prisão preventiva de Ronilson Soares


de Lima com fulcro nos arts. 312 e 313, II e III, do Código de Processo Penal, art. 20 da
Lei n. 11.340/2006, bem como na orientação contida no Enunciado n. 29 do Fonavid,
para a garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para garantia

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da execução das medidas protetivas de urgência, o que poderá ser revisto se, no curso do
processo, for verificado a falta de motivo para que a prisão subsista (art. 20, parágrafo
único, da Lei n. 11.340/06).

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Oficie-se a Autoridade Policial para que, no prazo de 10(dez) dias,
proceda com a abertura de investigação criminal com base nos fatos narrados na peça
exordial do Ministério Público e f. 13-14, 33-36, para fins de averiguação de eventual
cometimento do crime previsto no art. 24-A da Lei 11.340/2006 e outros eventualmente
conexos.

A prisão preventiva aqui decretada ficará vinculada ao boletim de


ocorrência da investigação a ser instaurada pela Autoridade Policial e sua respectiva
ação penal.

Expeça-se MANDADO DE PRISÃO, atendendo-se a Resolução


CNJ n. 417/2021, com data de validade: 30/11/2027, em desfavor de RONILSON
SOARES DE LIMA, Brasileiro, Solteiro, RG 546.464 - SSP/MS., CPF
497.244.361-87, pai José de Moraes Lima, mãe Izabel Soares Lima, Nascido/Nascida
11/08/1970, de cor Pardo, natural de Corumbá - MS, Outros Dados: Lotado no 6º BPM
em Corumba-MS., com endereço à Rua Casuarina, 412, Bonjardim, CEP 79091-140,
Campo Grande - MS, Fone (067).

Promova-se o encaminhamento do mandado de prisão à


POLINTER, à DEAM bem como à UMMVE, tendo em vista que o representado
encontra-se monitorado eletronicamente.

Decorridos 180 dias da data desta decisão sem o cumprimento do


mandado de prisão, certifique-se e abra-se vista ao Ministério Público para se manifestar
requerendo o que entender de direito.

Após a comunicação de prisão, sendo hipótese de prisão preventiva


em que o inquérito encontra-se ainda no Distrito Policial, oficie-se à DEAM com cópia
da decisão para celeridade no encaminhamento do inquérito OU translade-se cópia da
decisão nos autos principais, em caso de trâmite de ação penal, bem como notifique-se
a vítima nos termos do art. 21 da Lei n. 11.340/06. Restando infrutífera a intimação,
notifique-se, por edital (prazo de 15 dias), a ofendida.

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Decorrido o prazo de quinze dias da prisão, certifique-se a
distribuição do Inquérito Policial/Ação Penal e, somente após o recebimento da
denúncia, redistribua-se a presente representação ao juízo competente, com fulcro
no § 4º, II, do art. 501 do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do

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Estado de Mato Grosso do Sul.

Dê-se ciência ao Ministério Público desta decisão.

Às providências.

Campo Grande, 11 de dezembro de 2023.

(assinado digitalmente)
Albino Coimbra Neto
Juiz de Direito em substituição legal

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