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TJBA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

19/12/2023

Número: 8004566-62.2023.8.05.0088
Classe: MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA (LEI MARIA DA PENHA) - CRIMINAL
Órgão julgador: VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GUANAMBI
Última distribuição : 19/12/2023
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Ameaça
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CRISTINE QUEIROZ FERNANDES (AUTORIDADE)
HUGO CEZANY NASCIMENTO CARDOSO (AUTORIDADE)
Ministério Público do Estado da Bahia (TERCEIRO
INTERESSADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
42523 19/12/2023 12:56 Decisão Decisão
6323
PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GUANAMBI

Processo: MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA (LEI MARIA DA PENHA) - CRIMINAL


n. 8004566-62.2023.8.05.0088
Órgão Julgador: VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GUANAMBI
AUTORIDADE: CRISTINE QUEIROZ FERNANDES
Advogado(s):
AUTORIDADE: HUGO CEZANY NASCIMENTO CARDOSO
Advogado(s):

DECISÃO

Vistos, etc.

Trata-se de Pedido de Medidas de Proteção apresentado pela ofendida


CRISTIANE QUEIROZ FERNANDES em desfavor de HUGO CEZANY NASCIMENTO
CARDOSO, qualificados nos autos, sob a alegação de que há, no presente
caso, a presença dos requisitos autorizadores da medida pleiteada,
diante da ocorrência das formas de violência elencada no art. 7º da Lei
nº 11.340/06.

Requerimento da vítima anexo.

Vieram os autos conclusos.

É o relatório. Passo a fundamentar e decidir.

Assiste razão à requerente, quando pleiteia a medida de proteção, em


caráter cautelar, para evitar que o agressor pratique novos atos de
violência.

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A medida protetiva de urgência, que está prevista na Lei nº 11.340/2006,
cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos do §8º do art. 226 da Constituição Federal. A
referida medida, ao ser concedida pelo juiz, gera obrigações ao agressor
e direitos para a vítima, conforme estabelecem os arts. 22 e 23 do
referido diploma legal.

Pelo contexto do caso, justifica-se a aplicação da medida perseguida,


pelo menos, em análise de cognição sumária, para fins de resguardar a
integridade física e psicológica da vítima.

Em situações como a dos autos, esclareço que a palavra da vítima em


casos de violência doméstica tem especial relevância, conforme
jurisprudência do STJ e deste e. TJBA, vejamos:

RECURSO EM HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA. MEDIDAS PROTETIVAS DE


URGÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO. PALAVRA DA VÍTIMA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

1. Em se tratando de casos de violência doméstica em âmbito familiar


contra a mulher, a palavra da vítima ganha especial relevo para o
deferimento de medida protetiva de urgência, porquanto tais delitos são
praticados, em regra, na esfera da convivência íntima e em situação de
vulnerabilidade, sem que sejam presenciados por outras pessoas. 2. No
caso, verifica-se que as medidas impostas foram somente para manter o
dito agressor afastado da ofendida, de seus familiares e de eventuais
testemunhas, restringindo apenas em menor grau a sua liberdade. 3.
Estando em conflito, de um lado, a preservação da integridade física da
vítima e, de outro, a liberdade irrestrita do suposto ofensor, atende
aos mandamentos da proporcionalidade e razoabilidade a decisão que
restringe moderadamente o direito de ir e vir do último. 4. Recurso em
habeas corpus improvido.

(STJ - RHC: 34035 AL 2012/0213979-8, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS


JÚNIOR, Data de Julgamento: 05/11/2013, T6 - SEXTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 25/11/2013)

HABEAS CORPUS. AMEAÇA. FALTA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. DILAÇÃO PROBATÓRIA.


TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. SEM INTERESSE. INEXISTÊNCIA DE PROCESSO
CRIMINAL EM CURSO. IMPOSIÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS DENEGADO.
(...) 3. Apresentada fundamentação concreta na decisão que fixou as
medidas protetivas, evidenciada na necessidade de se resguardar a
integridade física e psicológica da vítima, mulher, da violência
doméstica, considerando-se, para tanto, circunstâncias fáticas
condizentes, quais sejam, ameaças, procura no local de trabalho e passar

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de carro na frente da residência, não há ilegalidade. 4. A
jurisprudência desta Corte Superior orienta que, em casos de violência
doméstica, a palavra da vítima tem especial relevância, haja vista que
em muitos casos ocorrem em situações de clandestinidade. 5. Habeas
corpus denegado.

(STJ. HC 615.661/MS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado


em 24/11/2020, DJe 30/11/2020)

A intervenção estatal deve ocorrer para evitar mal maior, bem como para
salvaguardar a integridade da requerente na ocorrência de violência
praticada contra mulher, no âmbito familiar e doméstico.

Assim, com fulcro nos arts. 18-24, todos da Lei nº 11.340/2006, defiro a
medida pleiteada e APLICO como medida de proteção a ser cumprida pelo
agressor:

A – Proibição do requerido de se aproximar da requerente, a uma


distância mínima de 300 (trezentos) metros, sob pena de ser decretada a
sua prisão (exceto para comparecimento em audiências cíveis e criminais
em que a vítima esteja presente);

B – Fica o requerido proibido de frequentar locais de utilização


habitual da requerente, a fim de preservar a integridade física e
psicológica da vítima. Em caso de coincidir de ambos irem a um mesmo
ambiente, aberto ao público ou não, aquele que já estiver no local terá
preferência em permanecer;

C – Proibição do requerido de manter contato físico ou por qualquer meio


de comunicação com a requerente, seus familiares e testemunhas (a
exemplo de telefonemas, mensagens eletrônicas de texto, de voz, e-
mail's, redes sociais, Facebook, Instagram etc ou aplicativos de celular
como WhatsApp e Telegram, dentre outros semelhantes;

D – Comparecer o agressor a programas de recuperação e reeducação, se


existente na comarca, sendo realizado o seu acompanhamento psicossocial
individual ou em grupo; e

Oficie-se o CREAS, onde residir a requerente, para que promova o estudo


social do caso em apreço, devendo ser acompanhado por equipe
multidisciplinar, se existente, apresentando o respectivo relatório

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atinente à vítima, no prazo de 30 (tinta) dias.

Para o cumprimento do quanto determinado na alínea “D”, deve ser


oficiado o município onde residir a requerido para verificar se existe
servidor com capacidade técnica para ministrar palestra ou encontro
semanal com os agressores.

Fica estabelecido o prazo de 12 meses para efeito da presente decisão,


podendo ser prorrogada em caso de requerimento devidamente justificado.
Expirado o prazo, com ou sem manifestação da requerente, voltem-me os
autos conclusos.

Cientifique-se, também, a vítima de que o eventual descumprimento da


medida protetiva pelo agressor deverá ser imediatamente comunicado as
autoridades policiais, bem como a posterior reconciliação do casal ou
cessação da situação de violência, para as providências cabíveis.

ADVIRTA-SE ao requerido sobre a possibilidade de decretação da prisão


preventiva, em caso de descumprimento das medidas impostas, com fulcro
no art. 313, III do CPP, o que configura, inclusive, conduta delitiva,
nos termos do art. 24-A, da Lei n. 11.340/2006, bem como da aplicação
das medidas previstas no art. 536, §1º do CPC, inclusive com a imposição
de multa e requisição de auxílio da força policial, caso necessário para
a segurança da vítima ou, ainda, se as circunstâncias assim o exigirem
(art. 22, §§1º e 4º, da Lei n.º 11.430/2006).

Concedo a presente decisão, com esteio nos princípios da celeridade e


economia processual, FORÇA E CARÁTER DE MANDADO/OFÍCIO.

Intimem-se da decisão o Ministério Público, o agressor e a ofendida,


bem como a Autoridade Policial.

De ver ão a ví t i ma e o ag res so r, ao s ere m


i n t i m a d o s , c o n f i r m a r e m o e n d e r e ç o a t u a l e
o número de telefone/WhatsApp para fins de futuras comunicações, bem
como, informar ao Juízo eventual alteração (de endereço ou de telefone),
sob pena de mensagens enviadas ao endereço ou ao telefone primeiramente
informados serem consideradas válidas.

Deverá o Oficial de Justiça fazer constar expressamente na certidão as

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informações fornecidas pelo agressor e pela ofendida.

Cópia dessa decisão deverá ser acostada aos autos de inquérito policial
ou ação penal porventura em tramitação.

Processe-se em segredo de justiça, sendo vedado o acesso aos autos pelo


público externo ou terceiros não autorizados.

Intimem-se. Adotem as diligências de praxe. Cumpra-se.

CARINHANHA, datado e assinado digitalmente

Arthur Antunes Amaro Neves

JUIZ DE DIREITO

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