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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA DE FAMÍLIA

DA CIDADE

Distribuição por dependência (CPC, art. 286, inc. III)


Sem custas (CPC, art. 295)

Ação de Reconhecimento e Dissolução de União Estável


Proc. nº. 00.22.33.000/2016.0001/00
Autora: Maria das Quantas
Réu: João de tal

MARIA DAS QUANTAS, solteira, comerciária, inscrita no


CPF (MF) sob o nº. 111.222.333-44, com endereço eletrônico
mariadasilva@teste.com.br residente e domiciliada na Rua Y, nº. 0000, nesta Capital,
vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu
patrono que abaixo assina – instrumento procuratório acostado --, causídico inscrito na
Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o n º 112233, com endereço
profissional consignado no timbre desta peça processual, o qual em atendimento à
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diretriz do art. 106, inc. I, do CPC, indica o endereço constante na procuração para os
fins de intimações necessárias, para, com supedâneo no art. 19, caput, art. 22 e art. 23,
todos da Lei Maria da Penha (Lei nº
nº. 11.340/2006) c/c art. 294 e segs. do Código de
Processo Civil, formular o presente

PEDIDO CAUTELAR INCIDENTAL


DE MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA

contra JOÃO DOS SANTOS, solteiro, bancário, residente e domiciliado na Rua Y, nº.
0000, nesta Capital – CEP 11222-44, inscrito no CPF(MF) sob o nº. 444.333.222-11 ,
endereço eletrônico santos@santos.com.br, o que faz em face d as seguintes razões de
fato e de direito.

INTROITO

( a ) Benefícios da justiça gratuita (CPC, art. 98, caput)

A parte Autora não tem condições de arcar com as despesas


do processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas
as despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais.

Destarte, a Demandante ora formula pleito de gratuidade da


justiça, o que faz por declaração de seu patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in

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fine, ambos do CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento
procuratório acostado.

( i ) EXPOSIÇÃO SUMÁRIA DOS FATOS

A Autora promoveu contra o Réu uma Ação de


Reconhecimento e Dissolução de União Estável, ora por dependência, visando, em
síntese, reconhecer e dissolver o enlace de convivência, partilhar bens e definir a guarda
da menor.

Citado, o Réu apresentou defesa no processo em referência.


(fls. 17/33)

Todavia, justamente por conta da mencionada Ação, o


Promovido passou telefonar diariamente para a Autora e, nas inúmeras ocasiões,
evidenciou ameaças e palavras de baixo calão.

Em uma dessas ligações o Promovido afirmara que “ iria


quebrar seus dentes e que tomasse cuidado porque se eu perder a guarda da minha
filha nem leva eu nem você .” Em um outro momento passara mensagem de texto, por
telefone, declarando “sua desgraçada você acabou com minha vida, mas a sua tá perto
também... você não perde por esperar.”

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Não fosse isso o suficiente, ordinariamente o Réu, quando
vai encontro da filha, mormente na saída, brada para todos ouvirem que “ estou saindo
da casa de uma rapariga...”.

Mais acentuadamente neste mês o Réu passou a ingerir


bebidas alcoólicas com frequência (embriaguez habitual). Por conta disso os conflitos
entre o casal se tornaram contumaz, mesmo que em residências diversas. Todas essas
constantes e desmotivadas agressões são, em regra, presenciadas pela filha menor e,
mais, por toda vizinhança.

Lado outro, urge asseverar as frequentes ameaças são


feitas por meio eletrônico, nomeadamente por meio de mensagens de texto e, além
disso, por e-mails. (docs. 01/31) Todo esse quadro fático encontra-se inserto na Ata
Notarial aqui colacionada. (doc. 32)

Temendo por sua integridade física e, mais, caracterizada a


inviabilidade da vida em comum, assim como a ruptura pelo Promovido de dever
convivência em União Estável, não restou a Autora outro caminho senão adotar esta
providência processual.

Nesse passo, é imperioso que sejam adotadas providências


urgentes a proteger a Autora, máxime quanto à sua integridade física.

( II ) MÉRITO

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DA NECESSIDADE DE PROVIDÊNCIA PROTETIVA

É inarredável que o quadro fático traz à tona a descrição de


que a legalmente protegida se encontra em situação de risco. Os comportamentos
agressivos do Réu, sobretudo, apontam para isso.

Há, mais, provas documentais contundentes quanto ao


relato em vertente.

No que toca à adoção de medidas protetivas urgentes em


favor da Autora, decorrente de violência doméstica, reza a Lei Maria da Penha que que:

LEI MARIA DA PENHA


Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
(...)
§ 2º - As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de
maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados.

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a


mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor,

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em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência,
entre outras:
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o
limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio
de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade
física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

De mais a mais, doutrina e jurisprudência são firmes em


situar que a Lei Maria da Penha deve ser acomodada nessas situações, tais quais essas
descritas:

“Deter o agressor e garantir a segurança pessoal e patrimonial da vítima e sua


prole está a cargo tanto da polícia como do juiz e do próprio Ministério
Público. Todos precisam agir de modo imediato e eficiente. A Lei traz
providências que não se limitam às medidas protetivas de urgência previstas
no arts. 22 a 24. Encontram-se espraiadas em toda a Lei diversas medidas
outras voltadas à proteção da vítima que também cabem ser chamadas de
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protetivas. “ (Dias, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a
efetividade... 2ª Ed. São Paulo: RT, 2010, p. 106)

No tocante à aplicação da Lei Maria da Penha em episódios


advindos de União Estável, é altamente ilustrativo transcrever os seguintes arestos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS GRAVÍDICOS. CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL. ART. 1.019.
I. Efeito suspensivo. Em ação de alimentos gravídicos não é exigida a prova
pré-constituída da paternidade. Demonstração de indícios de paternidade são
capazes de ensejar a fixação da verba alimentar. Assim, presentes nos autos
indicativos da existência de união estável entre as partes, presentes também
indícios da paternidade. Ademais, houve concessão de medida protetiva - Lei
Maria da penha - Também constituindo presunção de união estável, que
acabou por tornar-se instável. Agravo provido. Unânime. (TJRS; AI 0050082-
69.2016.8.21.7000; São Pedro do Sul; Oitava Câmara Cível; Rel. Des. Ivan
Leomar Bruxel; Julg. 05/05/2016; DJERS 10/05/2016)

REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LIMINAR CONCEDIDA.


Ausência de comprovação da posse pelo agravado. Impossibilidade de verificar
a veracidade das alegações em juízo de cognição sumária. Requisitos do art.
927 do CPC não comprovados. Quando não há provas que justifiquem a
expedição de mandado liminar de posse, principalmente havendo dúvidas com
relação à posse direta, requisito que dispõe o art. 927 do CPC/73, deve o
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magistrado indeferir o pedido liminar possessório e manter a situação como
está para apurar com mais clareza os fatos. Incontroversa união estável
mantida entre o agravado e a agravante. Afastamento do agravado do lar em
razão suposta prática de violência sexual contra a filha do casal, menor de
idade. Ação penal julgada procedente no primeiro grau e que está em fase de
recurso. Revogação do afastamento que se tornou inaplicável após o
deferimento de medida protetiva concedida à agravante e sua filha em razão
das ameaças. Imóvel atualmente ocupado pela agravante, sua filha de 14 anos
e sua neta recém nascida. Conflito entre propriedade privada e o da proteção
integral do menor. Prevalência da segunda. É imprescindível lembrar que o
melhor interesse dos infantes deve ser o princípio norteador de todas as
decisões que de alguma forma envolvam questões que lhes são afetas, ainda
que indiretamente, conforme previsto no art. 227 da Constituição Federal,
reforçado pelos arts. 3º e 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Na
ausência de prova robusta e plena a alicerçar o juízo de certeza necessário à
concessão de liminar na reintegração de posse, deve ser observado possível
direito de habitação no imóvel da filha do agravado, e, agora, também de sua
neta, ambas menores de idade, alem, claro, do dever de prestar assistência e
de fornecer um lar digno. Liminar caçada. Agravo provido. (TJSC; AI
2015.041110-6; Mafra; Terceira Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Gilberto
Gomes de Oliveira; Julg. 12/04/2016; DJSC 18/04/2016; Pág. 116)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C


GUARDA DE MENOR E PEDIDO DE ALIMENTOS. TUTELA ANTECIPADA
DEFERIDA. ALIMENTOS. MAJORAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA DO BINÔMIO
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NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. GUARDA COMPARTILHADA E
REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. MEDIDA PROTETIVA IMPOSTA CONTRA O
AGRAVADO. AUSÊNCIA DE ESTUDO SOCIAL. NECESSIDADE. RECURSO
PARCALMENTE PROVIDO.
A fixação dos alimentos, mesmo que provisórios, deve obedecer ao binômio
necessidade/possibilidade, nos termos do art. 1.694, § 1º, do CCB. Ante
ausência de elementos probatórios acerca da capacidade financeira do
agravado, a fixação dos alimentos inaudita altera parte em valor equivalente a
2 (dois) salários mínimos mostra-se adequada, mormente considerando as
necessidades presumidas da agravada, em razão da menoridade. Em
observância ao princípio da primazia dos interesses do menor em proteção, é
imperiosa a realização de estudo social antes do pronunciamento oficial acerca
da guarda e regulamentação de visitas. Recurso conhecido e parcialmente
provido. (TJPA; AI 0083040-29.2013.8.14.0301; Ac. 157236; Belém; Terceira
Câmara Cível Isolada; Relª Desª Maria Filomena de Almeida Buarque; Julg.
10/03/2016; DJPA 21/03/2016; Pág. 198)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE


UNIÃO ESTÁVEL. EXISTÊNCIA DE MEDIDA PROTETIVA IMPEDINDO O
CONTATO DO GENITOR COM A FILHA. VISITAÇÃO DO GENITOR SUSPENSA.
A visitação não é apenas uma prerrogativa exclusiva do pai, mas também um
direito da própria criança ao contato paterno. Contudo, diante da possibilidade
de risco à menor, ante as graves acusações da genitora, ad cautelam, de ser
suspensa a visitação, a fim de evitar outros embaraços na vida da criança.
Agravo de instrumento provido. (TJRS; AI 0226308-60.2015.8.21.7000;
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Sapucaia do Sul; Sétima Câmara Cível; Rel. Des. Jorge Luís Dall'Agnol; Julg.
16/12/2015; DJERS 21/01/2016)

( iII ) PEDIDO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

No caso ora em análise, claramente restaram comprovados,


objetivamente, os requisitos do "fumus boni iuris" e do "periculum in mora". Com isso,
justifica-se o deferimento das medidas ora pretendidas, sobretudo com respeito ao
segundo requisito. A demora na prestação jurisdicional ocasionará gravame potencial à
Autora, alvo de agressões verbais e, quiçá, em breve, físicas .

Ademais, em sede de medida acautelatória de urgência,


como na hipótese, com pedido de medidas protetivas em favor de mulher agredida no
âmbito familiar, é desnecessária a cognição plena. Assim, é suficiente e razoável a
comprovação de que há fundado temor da idosa sofrer novas agressões.
Diante disso, a Autora vem pleitear, sem a oitiva prévia da
parte adversa (CPC, art. 9º, parágrafo único, inc. I c/c 300, § 2º c/c art. 294, parágrafo
único c/c art. 19, caput, art. 24, caput, um e outro da Lei Maria da Penha), tutela cautelar
provisória de urgência de medida protetiva , motivo qual pleiteia-se:

a) à luz do que reza o art. 22, inc. II, da Lei 11.340/06 ( Lei Maria da Penha),
seja fixada a proibição do Réu aproximar-se da Autora, da residência,
testemunhas, filha e demais familiares, em um raio de 100 metros;
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b) solicita-se seja autorizado o cumprimento da ordem judicial em dias úteis e
até mesmo em finais de semana, no horário compreendido entre 06:00h e
20:00h (LMP, art. 14, parágrafo único);

c) determinar que o Réu se abstenha de frequentar a escola da filha, até que seja
revertida a presente decisão;

d) requer-se, mais, seja o mesmo instado a não telefonar, passar e-mails ou


qualquer outro tipo de mensagens à Autora, bem assim aos demais familiares;

e) ainda com supedâneo nas regras supra-aludidas, no que diz respeito à guarda
da infante:

( i ) nesse aspecto, espera-se e pleiteia-se a guarda temporária da filha


do casal, tendo-se como abrigo domiciliar provisório o lar da mãe,
ficando estabelecido como sendo esse a residência da criança. (CC,
(CC, art.
1.584, § 5º c/c art. 1.583, § 3º);
3º);

( ii ) suspensão temporária das visitas à filha, até ulterior relato da


equipe multidisciplinar (LMP,
(LMP, art. 22, inc. IV).
IV).

f) solicita-se seja estipulada multa de R$ 1.000,00 (mil reais) por cada ato que
infrinjam quaisquer das determinações ora almejadas (CPC, art. 297);

g) pede-se a intimação do Ministério Público (CPC, art. 178, inc. II).


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( iv ) PEDIDOS e REQUERIMENTOS

POSTO ISSO,
como últimos requerimentos deste pedido de medida acautelatória incidental, a Autora
requer que Vossa Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

a) Determinar a CITAÇÃO e INTIMAÇÃO do Promovido, no endereço


constante do preâmbulo, para, no prazo de 05 (cinco) dias (CPC, art. 307,
caput), apresentar, querendo, contestação aos pedidos aqui formulados e,
mais, cumprir a tutela acautelatória pleiteada;

b) que ao final seja acolhido o presente pedido acautelatório incidental, e,


em conta disso, torná-lo definitivo;

Protesta justificar os fatos que se relacionam com os


pressupostos deste pedido cautelar por todos os meios admissíveis em direito,
mormente com a oitiva das testemunhas, depoimento pessoal dos Réus, inspeção
judicial e oitiva de experts,.

Atribui-se à causa o valor de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ),


equivalente à pretensão da tutela final. (CPC, art. 303, § 4º c/c art. 292, inc. VI)

Respeitosamente, pede deferimento.

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Cidade, 00 de maio de 0000.

Beltrano de tal
Advogado – OAB(CE) 112233

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