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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

URGENTE
MENOR APREENDIDO

LIVRE DISTRIBUIÇÃO

Impetrante: Beltrano de Tal


Paciente: Pedro das Quantas
Autoridade Coatora: MM Juiz de Direito da 00ª Vara da Infância e da Juventude

O advogado BELTRANO DE TAL, brasileiro, casado, maior,


inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o nº 112233, com seu
escritório profissional consignado no timbre desta, onde receberá intimações, vem, com o
devido respeito à presença de Vossa Excelência, para, sob a égide do art. 648, inciso II,
da Legislação Adjetiva Penal c/c art. 152 do Estatuto Juvenil e, ainda, em face do art.
5º, inciso LXVIII da Lei Fundamental, impetrar a presente

ORDEM DE HABEAS CORPUS,


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(com pedido de “medida liminar”)

em favor de PEDRO DAS QUANTAS, estudante, menor, residente e domiciliado na Rua


X, nº. 000 – Cidade, ora Paciente, posto que se encontra sofrendo constrangimento ilegal
por ato do eminente Juiz de Direito da 00ª Vara da Infância e da Adolescência desta
Capital, o qual determinara a internação provisória de adolescente em face de
pretensa infração análoga a tráfico de drogas, frustrando, por isso, os ditames previstos
no ECA.

(1)
SÍNTESE DOS FATOS

Colhe-se dos autos que o adolescente (apreendido em


flagrante) fora representado pela suposta prática de ato infracional, equivalente ao crime
de tráfico de entorpecentes (Lei de Drogas, art. 33). Referida representação fora
recebida pela Autoridade Coatora na data de 33/11/0000. (doc. 01/02)

Em face da decisão que recebera a representação, o d.


Magistrado processante do feito, naquela mesma oportunidade, acolheu pleito formulado
pelo Ministério Público e, por isso, determinara a internação provisória do Paciente. (doc.
02) O Parquet fundamentara a postulação da segregação cautelar sob o enfoque da
gravidade do suposto ato infracional e que, se solto, certamente tornaria a cometer atos
dessa natureza.

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Com efeito, a Autoridade Coatora acolhera o pedido de
internação e, em síntese apartada, com suporte nos artigos 108, parágrafo único c/c art.
174 do ECA, determinara o recolhimento do Paciente ao Centro de Custódia de Menos
Xista, onde, de fato, lá se encontra. (doc. 03)

Contudo, não há suporte legal a confortar a decisão guerreada.


Por isso, necessário se fez a impetração da presente ordem de Habeas Corpus, em face
do constrangimento ora sofrido pelo Paciente, decorrente, lógico, da segregação cautelar
injustificada.

2 - NO ÂMAGO

2.1. O ato infracional não fora cometido com violência à pessoa

É inconteste o rol taxativo de circunstâncias que autorizam a


internação provisória do adolescente. O tráfico de drogas, por sua natureza, certamente é
excluído dessas condições.

Em conta disso, salutar evidenciar o que rege o Estatuto


Juvenil:

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:

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I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a
pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente
imposta.
(os destaques são nossos)

Nesse passo, tem-se por configurado notório constrangimento


ilegal contra o Paciente. É dizer, o isolamento cautelar escapa da rígida e cogente
delimitação fixada em lei.

O delito de tráfico de drogas não traz consigo qualquer


violência à pessoa, como assim reclama o texto da lei. Igualmente, fora demonstrado que
o adolescente não responde por outra(s) representação(ções) com o trato de violência à
pessoa. (docs. 04/07)

Com esse enfoque, é altamente ilustrativo trazer à baila o


magistério de Luciano Alves Rossato:

“ Não autorizam a internação o furto e o estelionato o tráfico ilícito de


entorpecentes, dentre outros. Sobre o tráfico, instalou-se verdadeira
controvérsia nos tribunais, sendo decidido, em inúmeros precedentes do
STJ e do STF, no sentido da inaplicabilidade, porque o ato não traz ínsita a

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grave ameaça ou violência à pessoa.“ (ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE,
Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da criança e do
adolescente comentado. 2ª Ed. São Paulo: RT, 2011, pp. 344-345)

Não por menos o Egrégio Superior Tribunal de Justiça


assentou o entendimento supra-aludido, ipsis litteris:

Súmula 492, STJ: “O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só,
não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de
internação do adolescente”

Lado outro, é altamente ilustrativo trazer recentes


julgados acerca do tema, todos igualmente do STJ:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. IMPROPRIEDADE


DA VIA ELEITA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO
INFRACIONAL EQUIPARADO A TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES.
MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. ENUNCIADO N. 492 DA
SÚMULA DO STJ. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O Supremo Tribunal Federal, por sua primeira turma, e a terceira seção
deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva
do habeas corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato
ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a

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possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante
ilegalidade. 2. No caso, constata-se a insuficiência da fundamentação da
decisão que impôs medida de internação com base apenas na gravidade
abstrata do ato infracional, praticado sem violência ou grave ameaça,
notadamente quando se leva em consideração que o adolescente, pelo que
consta dos autos, não reiterou na prática infracional. Internação que
desborda das hipóteses taxativas previstas no art. 122 do ECA. Aplicação do
Enunciado N. 492 da Súmula do STJ. 3. Habeas corpus não conhecido.
Ordem concedida de ofício para aplicar a medida socioeducativa de
semiliberdade. (STJ; HC 377.770; Proc. 2016/0291196-0; SP; Quinta Turma;
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca; DJE 01/02/2017)

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO DELITO DE TRÁFICO
ILÍCITO DE ENTORPECENTES. N O VO S ARGUMENTOS HÁBEIS A
DESCONSTITUIR A DECISÃO IMPUGNADA. INEXISTÊNCIA. INTERNAÇÃO.
REQUISITOS DO ART. 122 DO ECA NÃO PREENCHIDOS. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
I. É assente nesta Corte Superior de Justiça que o agravo regimental deve
trazer novos argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente
firmado, sob pena de ser mantida a r. Decisão vergastada pelos próprios
fundamentos. II. In casu, o ato infracional. Equiparado ao delito de tráfico
ilícito de entorpecentes. , praticado sem violência ou grave ameaça a
pessoa, não se subsume às hipóteses do art. 122 do Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA). Súmula n. 492/STJ. III. Conforme orientação pacífica,

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"não cabe às instâncias superiores, em sede de habeas corpus, adicionar
novos fundamentos à decisão de primeiro grau, visando a suprir eventual
vício de fundamentação" (HC n. 113.945/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Teori
Zavascki, DJe de 12/11/2013). Agravo regimental desprovido. (STJ; AgRg-HC
362.938; Proc. 2016/0185388-6; SP; Rel. Min. Felix Fischer; DJE 01/02/2017)

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS


IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. ATO INFRACIONAL
EQUIPARADO AO DELITO DE TRÁFICO DE DROGAS. MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. REITERAÇÃO NÃO CONFIGURADA.
GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no
sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente
previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração,
salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial
impugnado. 2. "O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não
conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de
internação do adolescente" (STJ, Súmula nº 492). 3. De acordo com o art.
126 da Lei n. 8.069/1990, antes de iniciado o procedimento judicial para
apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá
conceder a remissão, como forma de exclusão do processo. Com o art. 127,
a remissão "não prevalece para efeito de antecedentes ", podendo incluir
eventualmente a aplicação de quaisquer das medidas previstas em Lei,
exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação.

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Consequentemente, os atos em relação aos quais houve remissão não
caracterizam "reiteração no cometimento de outras infrações graves" (ECA,
art. 122, II). 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício,
para determinar que seja proferida outra decisão, com a aplicação de
medida socioeducativa diversa da internação, e para assegurar ao paciente
o direito de aguardar, em liberdade assistida, novo pronunciamento
jurisdicional. (STJ; HC 316.204; Proc. 2015/0030779-2; SP; Quinta Turma;
Rel. Min. Ribeiro Dantas; DJE 20/09/2016)

HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE TRÁFICO.


APLICAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. SÚMULA N.
492 DO STJ. FLAGRANTE ILEGALIDADE. MITIGAÇÃO DA SÚMULA N. 691 DO
STF. ORDEM CONCEDIDA.
1. A medida socioeducativa de internação somente pode ser aplicada
quando caracterizada uma das hipóteses previstas no art. 122 do Estatuto
da Criança e do Adolescente e caso não haja outra medida mais adequada e
menos onerosa à liberdade do adolescente. 2. A gravidade concreta do ato
infracional análogo ao crime de tráfico de drogas, por si só, não pode
ensejar a imposição de internação ao paciente, com fulcro no art. 122, I, do
ECA. Súmula n. 492 do STJ. 3. Não há registro de reiteração no cometimento
de outras infrações graves (art. 122, II, do eca) ou de descumprimento
reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta (art. 122, III, do
eca). 4. Ante a natureza e a quantidade de droga apreendida (1.050,73 g de
crack), deverá ser fixada a medida mais adequada para manter a jovem
afastada da situação de risco social em que se encontra. 5. Habeas corpus

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concedido, para, confirmada a liminar, aplicar à paciente a medida
socioeducativa de semiliberdade. (STJ; HC 335.146; Proc. 2015/0219527-1;
SP; Sexta Turma; Rel. Min. Rogério Schietti Cruz; DJE 15/09/2016)

Com efeito, é inquestionável a ilegalidade da apreensão


cautelar em espécie, máxime porquanto afronta à regra estampada no art. 122 do
Estatuto Juvenil.

(3)
DO PEDIDO DE “MEDIDA LIMINAR”

A leitura, por si só, da decisão que determinara a internação


provisória do Paciente, demonstra, na singeleza de sua redação, sua fragilidade legal e
factual.

A ilegalidade da apreensão se patenteia pela ausência de


algum dos requisitos estabelecido no Estatuto Menorista.

A liminar buscada tem apoio no texto de inúmeras regras,


inclusive do texto constitucional, quando revela, sobretudo, a ausência completa de
fundamentação na decisão em enfoque.

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Por tais fundamentos, uma vez presentes a fumaça do bom
direito e o perigo na demora, requer-se seja LIMINARMENTE garantido ao Paciente a
sua liberdade de locomoção.

Nesse sentido, convém ressaltar aresto do Superior Tribunal


de Justiça, verbo ad verbum:

HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERIU A LIMINAR


PLEITEADA NO MANDAMUS ORIGINÁRIO. NÃO CABIMENTO. ENUNCIADO
SUMULAR Nº 691/STF. EXISTÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE NA
SEGREGAÇÃO ANTECIPADA DO RÉU. SUPERAÇÃO DO ÓBICE. CONHECIMENTO
DO WRIT.
1. Segundo orientação pacificada neste Superior Tribunal, é incabível habeas
corpus contra indeferimento de medida liminar, salvo em casos de flagrante
ilegalidade ou teratologia da decisão impugnada, sob pena de indevida supressão
de instância, dada a ausência de pronunciamento definitivo pela Corte de origem.
2. Vislumbrando-se a existência de flagrante ilegalidade na segregação do
paciente, deve ser mitigado o óbice inserto no Enunciado Sumular 691 do STF.
AMEAÇA. CONTRAVENÇÃO PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRISÃO EM
FLAGRANTE. LIBERDADE COM ARBITRAMENTO DE FIANÇA. HIPOSSUFICIÊNCIA
DO RÉU. ASSISTÊNCIA PELA DEFENSORIA PÚBLICA. INCIDÊNCIA DO ART. 350 DO
C PP. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EXISTENTE. LIMINAR DEFERIDA.
CONFIRMAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. O Superior Tribunal de Justiça entende
não ser possível a manutenção da custódia cautelar tão somente em razão do
não pagamento do valor arbitrado a título de fiança, a teor do art. 350 do Código

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de Processo Penal, notadamente quando se tratar de acusado que se declara
pobre, tendo sido assistido pela Defensoria Pública. 2. Habeas corpus conhecido
para, confirmando-se a liminar anteriormente deferida, conceder a ordem,
revogando-se a custódia preventiva do paciente, mediante a imposição das
medidas alternativas à prisão previstas no art. 319, incisos I, II, IV e V, do Código
de Processo Penal, sem prejuízo de que outras sejam impostas pelo Juízo
processante. (STJ; HC 370.974; Proc. 2016/0240683-5; SP; Quinta Turma; Rel.
Min. Jorge Mussi; DJE 01/02/2017)

A fumaça do bom direito está consubstanciada nos elementos


suscitados em defesa do Paciente, na doutrina, na jurisprudência, na argumentação e no
reflexo de tudo nos dogmas da Carta da República.

O perigo na demora é irretorquível, estreme de dúvidas,


facilmente perceptível, máxime em consequência da ilegalidade da apreensão do Paciente,
o qual, neste momento, cumpre medida socioeducativa, antes mesmo do julgamento da
querela.

Com efeito, encontram-se atendidos todos os requisitos da


medida liminar, motivo qual se pleiteia que:

seja Relaxada a Apreensão do Paciente.

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EM CONCLUSÃO

O Paciente, sereno quanto à aplicação do


decisum, ao que expressa pela habitual pertinência jurídica
dos julgados desta Casa, espera deste respeitável Tribunal
a concessão da ordem de soltura do Paciente, ratificando-
se a liminar almejada.

Pede-se, mais, seja anulada a decisão,


que determinara a internação provisória, maiormente em
face da colisão às regras estabelecidas em sentido
contrário no ECA.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de janeiro do ano de 0000.

Fulano(a) de Tal
Impetrante - Advogado(a)

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