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Colenda Turma,
Douto Desembargador Relator,
Nobre Procurador de Justiça
DOS FATOS
Pretende a requerente a revisão criminal da condenação de seu esposo já falecido,
Joaquim das Dores.
Consta nas cópia da ação penal (anexa) que tramitou perante a Vara de Execuções
Penais da Comarca de Contagem, em Minas Gerais, que o de cujus foi condenado a
seis anos de reclusão em regime semiaberto pelo cometimento do homicídio de
João das Couves, tendo a decisão transitado em julgado, de acordo com
comprovante anexo. Fato é que Joaquim das Dores cumpria a sua pena em
liberdade condicional quando faleceu após um acidente no trabalho.
Somente após do óbito, a requerente tomou conhecimento de que o verdadeiro
culpado pelo homicídio de João das Couves havia sido Mário, fato esse narrado por
Maria, esposa de Mário.
Ciente dos fatos, a requerente imediatamente informou à autoridade policial que
Mário, que se encontra preso neste momento pelo cometimento de outro delito,
admitiu ter sido o autor do homicídio e, segundo seu relato, após descobrir que sua
esposa e João das Couves o haviam traído, resolveu lavar a sua honra com o
sangue de João, seu amigo de infância.
Cumpre informar que para corroborar as suas declarações, Mário entregou a arma
do crime e um vídeo do homicídio, o qual foi feito por seu irmão. De acordo com as
suas informações, o crime foi filmado para que Maria visse o que acontecera ao seu
amante e o que também aconteceria a ela se alguém mais ficasse sabendo do
ocorrido.
E mais, consta ainda, que Mário, em interrogatório judicial, repetiu todas as
informações passadas ao delegado de polícia, tendo dito ainda não conhecer
Joaquim das Dores.
Por tudo que consta dos autos, o reconhecimento da inocência de Joaquim das
Dores é a medida que se impõe, de acordo com os fundamentos a seguir expostos.
DO DIREITO
Incontestável, que desde o início da persecução penal, Joaquim das Dores sofreu
violação aos seus direitos fundamentais, principalmente à sua dignidade, a qual,
muito mais que um princípio, é a base de todo o sistema jurídico brasileiro, de
acordo com o que dispõe o inciso III do art. 1º da CF.
Resta comprovado que para a condenação, foi utilizado, como única prova, um
reconhecimento fotográfico totalmente desalinhado às formalidades legais. Em sua
defesa, o de cujus requereu a nulidade das provas, contudo tal pedido foi indeferido
e determinou-se a sua prisão preventiva.
Assim sendo, constata-se o erro judiciário desde o início da ação penal, já que não
houve um lastro probatório mínimo para o oferecimento ou recebimento da
denúncia.
Consta no art. 621 do CPP, dentre outras possibilidades, a revisão dos processos
findos poderá ocorrer quando forem descobertas novas provas que indiquem
inocência do condenado.
Está provado e portanto, não há dúvidas de que as novas provas trazidas aos autos
são suficientes para determinar a inocência do de cujus, pois, além da confissão de
Mário e da entrega da arma do crime, ainda existe um vídeo que comprova ser ele,
Mário, o autor do homicídio.
Neste sentido o art. 623 do CPP possibilita que a revisão criminal seja requerida
mesmo após a morte do condenado. Graças a essa previsão legal, a requerente
busca comprovar judicialmente a inocência de seu falecido esposo, pois é
moralmente muito difícil para qualquer família conviver com o estigma de que seu
ente querido tenha cometido um crime, ainda mais quando existem provas
contundentes acerca de sua inocência.
A propósito, a declaração de não culpabilidade servirá como resposta à sociedade
de que o de cujus foi processado, julgado e condenado por um crime que não
cometeu.
Além desse fato, por ter havido um grave erro judiciário ao condenar um indivíduo
com base em provas manifestamente ilícitas, retirando dele a possibilidade de
trabalho e o convívio social e familiar por tanto tempo, o Estado deve ser condenado
ao pagamento de indenização por danos morais e materiais.
Há de se ressaltar, que a indenização não pode ser vista como uma reparação, pois
nenhuma condenação, por maior que seja, será suficiente para apagar o tempo que
Joaquim esteve privado de sua liberdade e teve a sua moral questionada pela
sociedade. Mas, para que se consiga o mínimo de justiça à família do de cujus, a
indenização deve refletir uma compensação aos danos sofridos, estando prevista no
art. 630 do CPP.
Destaca-se que não é possível negar-se a presente revisão criminal pelo Tribunal de
Justiça por ser uma condenação advinda do Tribunal do Júri, que é soberano em
suas decisões. Posto que já se encontra pacificado na doutrina e na jurisprudência
majoritárias que o Tribunal ad quem é competente para absolver o condenado por
meio de revisão criminal quando ficar comprovada a inocência do indivíduo, não
sendo necessário um novo julgamento pelo júri popular.
Ao contrário disso, tal entendimento se coaduna aos direitos e às garantias
constitucionais do indivíduo e à necessária ponderação de princípios. Não se pode
aceitar que o princípio da soberania dos vereditos prevaleça sobre os direitos à
liberdade e dignidade do condenado
DO PEDIDO
Frente ao exposto, requer seja julgada procedente a presente revisão criminal,
declarando-se a não culpabilidade do de cujus.
Nestes termos, requer-se deferimento.
Local, data.