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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA

Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) de Direito da 1ª Vara Criminal de


Florianópolis - SC

Processo n°.....

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO SANTA CATARINA, através do(a)


Promotor(a) de Justiça infra-assinado(a), nos autos da Ação penal pública que move contra
BRENO, processo acima identificado, condenado pela prática do Crime de Roubo, na
modalidade tentada, tipificado no Artigo 157, § 2º, inciso II e § 2º-A, inciso I, do Código Penal
e do Art. 244-B da Lei no 8.069/90, na forma do Art. 70 do Código Penal, vem à presença de
Vossa Excelência apresentar, em anexo, CONTRARRAZÕES ao RECURSO DE
APELAÇÃO, requerendo a remessa dos autos à Instância Superior, para os fins.

E, deferimento.

Florianópolis, 13 de dezembro de 2019.


Promotor (a) de Justiça
CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

Colenda Câmara,
Senhores Desembargadores,

I - DOS FATOS

O Apelante foi condenado pela prática dos crimes previstos no Artigo 157, § 2º,
inciso II e § 2º-A, inciso I, do Código Penal e do Art. 244-B da Lei no 8.069/90, na forma do
Art. 70 do Código Penal, pela conduta consumada no dia 03 de novembro de 2017 em uma
loja de conveniência de um posto de gasolina, localizado na cidade de Florianópolis.
A instrução probatória mostrou que, naquele dia, o Apelante em companhia de um
menor de idade consumiu grande quantidade de bebida alcoólica em uma festa com entrada
restrita para menores de 18 anos. Em posse de arma de fogo planejou.
Foi procedida perícia na arma de fogo, levantamento da ficha criminal do Apelante, e
antes do oferecimento da denúncia, foi solicitada diligências pelo Ministério Público e
consequente relaxamento da prisão de Breno.
Após concluída a diligência e comprovada autoria delitiva de Breno, o Ministério
Público encaminhou a denúncia em 05 de junho de 2019 à 1ª Vara Criminal da Comarca de
Florianópolis/SC.
Após regular processamento, foi proferida sentença condenatória nos termos da
denúncia, conforme requerido por este Parquet.
Inconformado, o Apelante maneja o Recurso ora contrarrazoado, em cujas razões
pleiteia: 1) a fixação da pena base no patamar mínimo; e 2) a nulidade da instrução, por
violação dos arts. 212 e 564 Inciso IV do CPP e ao princípio da ampla defesa art. 5º Inciso LC
da CF/88.

II – DAS RAZÕES PARA CONFIRMAÇÃO DA DECISÃO CONDENATÓRIA

a) Da dosimetria da pena. Requisitos observados.

O Apelante não questiona a materialidade e a autoria do crime de roubo, apenas se


volta quanto ao crime de corrupção de menores, insurgindo-se, todavia, quanto à dosimetria
da pena que lhe foi imposta, aduzindo que a pena base foi fixada em patamar equivocado,
porquanto fixada acima do mínimo legal sem esclarecimentos suficientes para justificá-la.
Equivoca-se.

Na hipótese, ao estipular a pena-base, o d. Juízo sentenciante considerou a conduta


social, as circunstâncias e consequências do crime. Confira-se:

“(...)
Assim, passo a individualizar a pena, de acordo com o previsto nos arts. 59 e 68 do
Código Penal.
1ª FASE:
a) Culpabilidade: incompleta à espécie, deixou de ser valorado o crime previsto no
art. 253 da lei nº 8.069, de 13 de de julho de 1990, redação dada pela Lei nº
13.106, de 2015 valorar, justificando uma maior censura ou repreensão ao
Apelante;
b) Antecedentes: não há elementos nos autos que possam indicar antecedentes
criminais transitados em julgado.
c) Conduta Social: o denunciado possui 03 inquéritos policiais em que figurava
como indiciado em investigações relacionadas a crimes patrimoniais, além de 05
ações penais em curso, duas delas com condenações de primeira instância, pela
suposta prática de crimes de roubo majorado.;
d) Personalidade: não há elementos que possam informar a respeito da
personalidade do agente, não podendo esta omissão ser levada em conta em seu
desfavor;
e) Motivos do Crime: se encontram relatadas nos autos, sendo desfavoráveis,
uma vez que se torna relevante o fato do crime ter sido cometido com emprego
de arma;
f) Circunstâncias do Crime: se encontram relatadas nos autos, sendo
desfavoráveis, uma vez que se torna relevante o fato do crime ter sido
cometido com emprego de arma;
g) Consequências: não houve prejuízo patrimonial à vítima. Não há provas da
existência de sequelas e traumas de ordem psíquica dele decorrente;
h) Comportamento da vítima: contribuiu para a prática do delito.

2ª FASE: ATENUANTES E AGRAVANTES


Não verificou a existência de circunstâncias atenuantes ou agravantes.

3ª FASE: CAUSAS DE DIMINUIÇÃO E AUMENTO DA PENA


Não há causa de diminuição de pena.
Conforme reconhecido no corpo da decisão, a pena base do crime de corrupção de
menores foi confirmada como definitiva existem duas causas de aumento de pena
previstas nos incisos I e II do § 2º do art. 157 do CP, qual seja emprego de arma e
concurso de pessoas. Considerando que uma das causas de aumento de pena (uso
de arma) já foi valorada quando da análise das circunstancias judiciais, para
aplicação da pena base.
Assim, fixo a pena definitiva do réu Breno, 8 anos e 8 meses de reclusão e 20 dias
multa (Art. 70, parágrafo único, CP), observado o disposto no art. 70 do CP.

É de saber geral, que a existência de circunstâncias judiciais e consequências desfavoráveis


tem por resultado a aplicação da pena acima de seu mínimo legal, o que significa afirmar que a pena
somente deverá ser aplicada no mínimo cominado pela lei quando nenhuma circunstância judicial ou
consequência for considerada negativa ao condenado (...)
No caso analisado, pelas circunstancias judiciais e consequências desfavoráveis, justifica-se,
portanto, a imposição da pena-base acima do mínimo legal.
O Douto Juízo extraiu dos autos, elementos concretos para fixação da pena-base
acima do mínimo legal, destacando que, em face da existência de duas causas de aumento de
pena, uma delas (uso de arma) foi valorada como circunstância judicial da primeira fase,
como, aliás, pacificado pelo C. STJ, invocando-se, no ponto, o seguinte aresto:

“PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. OFENSA AO ART. 68 DO CP. ROUBO TRIPLAMENTE
CIRCUNSTANCIADO. DOSIMETRIA. TRÊS CAUSAS DE AUMENTO.
UTILIZAÇÃO DE DUAS COMO CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS E OUTRA COMO MAJORANTE. POSSIBILIDADE.
ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA
CORTE. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. ´Nos crimes com mais de uma causa de aumento de pena, uma delas pode
atuar como majorante da terceira fase da dosimetria e as demais como
agravantes genéricas, se previstas no artigo 61 e 62 do CP, ou como
circunstâncias judiciais da primeira fase, desde que observado o princípio do
ne bis in idem e o percentual legal máximo previsto pela incidência das causas
de aumento´. (HC 86.409/MS, Rel. Min. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, DJe 23/10/2014). 2. Agravo regimental a que se nega provimento.” (STJ,
6ª T, AgRg no
REsp 1549409/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
julgado em 06/10/2015, DJe 27/10/2015). Marcou-se.
Desta a dosimetria da pena atendeu às normas pertinentes, autorizando a
confirmação da r. sentença nesse ponto, porquanto condizente às diretrizes traçadas
no CP, art. 59 e 68.
Ademais, a grave ameaça à vítima ao apontar-lhe arma de fogo, deixando-a sem
possibilidade de defesa, revela maior gravidade da conduta, afora aquela já prevista pelo tipo,
e, portanto, pode servir de justificativa para a valoração negativa da culpabilidade do agente
na primeira fase da dosimetria, mesmo sem ser considerado a aplicação do inciso I do § 2º do
artigo 157 do Código Penal,revogado, pela Lei nº 13.654, de 23-abril-2018.
Tendo o crime sido cometido com o emprego de arma e em concurso de pessoas
com corrupção de menor, permite-se a utilização de uma das causas especiais de aumento de
pena para exasperar a pena base, permanecendo as demais como causa configuradora do tipo
circunstanciado, o que não viola qualquer preceito legal e atende aos valores essenciais de
individualização da pena, se amoldando ao art. 61 do Código Penal.

Inviável, pois, a diminuição da pena sentenciada pelo Juízo, e nesse sentido,


impossibilita a possibilidade de qualquer medida cautelar diversa de prisão, nem tão pouco a
concessão de regime diverso ao da prisão em regime fechado.
Desta feita, nesse ponto, o recurso deve ser improvido e mantida a sentença sem
reforma.

b) Do erro de tipo no crime de corrupção de menores

A fundamentação do Apelante para absolvição do crime de corrupção de menores


restou confusa, dando a entender em um certo momento a admissão tácita do delito cometido,
como denota-se do trecho extraído da peça recursal:

Denota-se, salve melhor juízo, o que em tese já fora confirmado na instrução


probatória dos autos, que o réu já sabia da menoridade de seu comparsa de crime, e mesmo
assim incorreu na prática criminosa.
Insta destacar que, o crime de corrupção de menor é de natureza formal, de modo
que a sua caracterização independe da existência de prova da efetiva corrupção do menor.
Neste sentido, é a Súmula 500 do Superior Tribunal de Justiça:
"A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da
prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito
formal".

Dessa forma, basta a participação do menor de idade para que se configure o crime.
Doravante , basta a comprovação da prática delitiva por agente em companhia de
pessoa menor de dezoito anos, tutelado o bem jurídico integridade mental, cultural e social do
adolescente.
Além dos mais, a idade do menor restou comprovada em sede policial.
Dessa forma, pugna-se pela manutenção da sentença condenatória pelo crime do art.
244-B da Lei nº 8.069/90 nos termos delineados pelo Juízo.
Contudo, comprovado o crime do art. 244-B, deixou de ser observado a ocorrência do
crime insculpido no art. 243 da Lei nº 8.069/90:
Art. 243.  Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que
gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente,
bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica:     
(Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015) . Pena - detenção de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais
grave.       (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
Prevalecendo, portanto proibição da reformatio in pejus neste fato delitivo.

b) Da preliminar de nulidade da instrução

Em que pese o Magistrado ter inquirido as testemunhas de defesa e acusação, o


Apelante não conseguiu demonstrar que o art. 212 do CPP foi transgredido.
Importante trazer a baila a redação do citado artigo para melhor entendimento:

Art. 212.  As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à


testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a
resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na
repetição de outra já respondida.           (Redação dada pela Lei nº
11.690, de 2008).
Conforme análise da peça recursal, não se mostra visível que a inquirição do juiz induziu
respostas às testemunha ou que essa perguntas formulada não tenham tido relação com a causa.
Inobstante , o Apelante se apegar ao disposto no art. 564 Inciso IV do CPP, o mesmo
deixou de observar o artigo sobreposto a este, que seja o art. 563 que expressa:
Art. 563.  Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.

Mesmo entendimento teve o STJ, ao firmar a tese de que a iniciativa do juiz em inquirir
a testemunha, violando o texto expresso do art. 212 do CPP, só provoca nulidade se a parte
comprovar prejuízo advindo da conduta do magistrado:
“1. A “declaração de nulidade exige a comprovação de prejuízo, em
consonância com o princípio pas de nullité sans grief, consagrado no
art. 563 do CPP e no enunciado n. 523 da Súmula do STF” (AgRg no
HC 613.170/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado
em 27/10/2020, DJe 12/11/2020), o que não ocorreu na presente
hipótese. 2. Ao contrário do que alega a Defesa, o entendimento do
Tribunal de origem está de acordo com a jurisprudência desta Corte,
no sentido de que “[n]ão é possível anular o processo, por ofensa ao
art. 212 do Código de Processo Penal, quando não verificado prejuízo
concreto advindo da forma como foi realizada a inquirição das
testemunhas” (AgRg no HC 465.846/SP, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 14/05/2019, DJe 23/05/2019).
3. Agravo regimental desprovido” (AgRg no HC 524.283/MG, j.
09/02/2021).

Em que pese a defesa ter se mostrado contrária a inquirição das testemunhas, a


mesma se manteve inerte, supostamente, para tentar o artifício de nulidade que ora se mostra em
sua Apelação.
O Juízo só interveio na inquirição das testemunhas, devido a iniciativa de manifestação
das partes. Contudo, sua oitiva obedeceu a normalidade.
Logo, não há ocorrência que possa ensejar em nulidade processual, devendo o mesmo
seguir incólume para o cumprimento de sentença.
III – DO PEDIDO

ISTO POSTO, o Órgão Ministerial espera e requer o improvimento do Recurso de


Apelação, confirmando-se a r. sentença condenatória.

E. deferimento.

Florianópolis, 13 de dezembro de 2019.


Promotor(a) de Justiça

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