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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...

ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS

Processo nº xxxxxxx

BRENO, já qualificado nos autos, por meio de seu procurador infra-assinado, conforme
procuração anexa, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente
RECURSO DE APELAÇÃO,
com base no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal (0,10).
Assim, requer seja recebido e processado o recurso, já com as razões inclusas,
remetendo-se os autos ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

Nestes termos,
Pede deferimento
11 de dezembro de 2017

Advogado
OAB XXX

ÉGREGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


APELANTE: BRENO
APELADO: MINISTERIO PUBLICO
PROCESSO Nº: XXXXX
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO
COLENDA CÂMARA
ÍNCLITOS DESEMBARGADORES

I – DOS FATOS
O réu foi denunciado pelos crimes previstos nos art. 171, caput e 297, §2º, na forma do
art. 69, todos do Código Penal.
Durante a audiência de instrução, foram ouvidas as testemunhas, enquanto o acusado
não esteve presente devido a problemas de saúde, o que resultou na ausência de interrogatório.
Após o término da fase instrutória, as partes entregaram seus memoriais escritos.
O magistrado, então, emitiu uma sentença condenatória contra o acusado, conforme a
acusação inicial, estabelecendo a pena definitiva em três anos e seis meses de reclusão, além de
26 dias-multa, sob o regime semiaberto, levando em consideração a reincidência do réu.
A defesa foi intimada no dia 06 de dezembro de 2017.
II – DO DIREITO
A) DA PRELIMINAR
A.1) DA NULIDADE
O réu não esteve presente na audiencia de instrução, porque se encontrava doente, tendo
a defesa, na ocasião, demonstrado o seu inconformismo com a realização da audiência. Todavia,
verifica-se que que todos os atos praticados a partir da audiência de instrução e julgamento, bem
como a sentença, são nulos, tendo em vista que a audiência foi realizada sem a presença do réu,
que tinha um motivo justificado para sua ausência, evidenciado pelo atestado médico fornecido
pela defesa.

Assim, fica evidente a infração ao princípio da ampla defesa, particularmente no que


tange ao elemento de autodefesa (direito de presença), estando configurado também o
cerceamento de defesa, já que o réu não foi interrogado, nos termos do art. 5º, LV, da
Constituição Federal.
B) DO MÉRITO
B.1) DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO
O réu foi condenado pela prática dos crimes do artigo 171, “caput”, e art. 297, § 2º, na
forma do artigo 69, todos do Código Penal. No entanto, a falsificação do cheque serviu apenas
como um instrumento para cometer o crime de estelionato, impossibilitando, assim, a
condenação do réu por dois crimes independentes, visto que o crime de falsificação de
documento, disposto no artigo 297, parágrafo 2º, do Código Penal, deve ser englobado pelo
crime de estelionato, conforme o artigo 171, caput, do mesmo código. Isso exemplifica a
aplicação do princípio da consunção. De maneira similar, o Enunciado 17 da Súmula de
Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça explicita essa interpretação.
Portanto, quando uma infração é cometida somente como um meio para realizar outro
delito, o primeiro deve ser incorporado pelo segundo, seguindo o princípio da consunção, que
ajuda a resolver conflitos aparentes entre normas.
Assim, tendo o delito de falsificação apenas ocorrido como um crime meio para a
prática do estelionato, o potencial lesivo do crime foi exaurido, não devendo o réu responder
pela prática de dois crimes autônomos.
B.2) DA SUBSIDIARIEDADE
a) DA PENA-BASE NO MÍNIMO LEGAL
Após fixar a pena-base do delito, o magistrado de 1º grau entendeu por aumentá-la de
acordo com as circunstâncias do art. 59 do Código Penal, com o fundamento de que o réu teria
agido com dolo. Todavia, o delito de estelionato somente é punido em razão de comportamento
doloso, não havendo previsão de punição em caso de conduta culposa, sendo que o elemento
intencional, ou dolo, é uma característica intrínseca ao tipo penal, logo, não se justifica o
aumento da pena com esse argumento.
Portanto, a pena inicial deve ser ajustada para o mínimo lega
b) DA ATENUANTE
O réu, na data da sentença, era maior de 70 anos, pois nasceu em 1945, e a sentença foi
proferida em 2017, devendo ser aplicada a atenuante da senilidade, nos termos do art. 65, inciso
I, do Código Penal.
c) DA TENTATIVA
O réu foi condenado pela prática do crime de estelionato consumado. Todavia, ao tentar
realizar as compras que seriam pagas mediante apresentação de cheque de terceiro falsificado,
foi descoberto pelo gerente do estabelecimento, o qual acionou a polícia, que prendeu o réu em
flagrante, tendo sido impedida a consumação do delito. Neste caso, em sendo o delito de
estelionato de natureza material, e, não tendo ocorrido a obtenção da vantagem ilícita, deve ser
reconhecida a tentativa.
Não havendo consumação do delito por motivo alheio à vontade do agente, pugna-se
pela aplicação do art. 14, inciso II do CP, com a consequente diminuição da pena aplicada.
d) DA SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
O Magistrado não substituiu a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Todavia, a condenação anterior do agente pelo crime de homicídio culposo não impede a
substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos, pois o art. 44, inciso
II, do Código Penal apenas veda a substituição para o condenado reincidente em crime doloso, o
que não se aplica no presente caso.
Na presente situação, a pena aplicada anteriormente foi inferior a 04 anos e o agente foi
condenado por crime culposo (0,15), sendo possível, portanto, a substituição.
e) DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA
Em não sendo acolhido o pedido de substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, pugna-se pela suspensão condicional da pena, nos termos do art. 77, §2º do
Código Penal, tendo em vista que a pena aplicada, caso mantida, foi inferior a 04 anos, e o réu é
maior de 70 anos. Logo, aplicável o sursis etário.
III – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer seja conhecido (0,10) e provido (0,20) o presente recurso de
apelação, a fim de que:
Seja reconhecida a preliminar de nulidade da sentença, tendo em vista a ausência do réu em
audiência e a não realização de interrogatório;
b) Seja afastado do delito autônomo de falsificação de documento equiparado ao público;
c) Aplicação da pena base no mínimo legal, visto que, o dolo é elemento inerente ao tipo penal;
d) Reconhecimento da atenuante, tendo em vista a idade avançada do réu ser maior de 70 anos
na data da sentença;
e) Reconhecimento da causa de diminuição de pena da tentativa;
f) Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, considerando que a
condenação anterior foi por crime culposo.
g) Subsidiariamente, aplicação da suspensão condicional da pena.

Nestes termos,
Pede deferimento
11 de dezembro de 2017

Advogado
OAB XXX

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