Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

DE EXECUÇÃO PENAL DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO

Execução Penal n° xxxxxxxxx

Gilberto, já qualificado nos autos, representado por seu advogado infra-


assinado, atualmente recolhido em presídio ____, vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, nos termos do art. 197 da Lei 7.210/84, interpor:

AGRAVO EM EXECUÇÃO

em face à inconformidade com a decisão do magistrado às fls. xx, requer o


reconhecimento e provimento do presente recurso, nos termos do art. 589 do CPP.

Caso o magistrado entenda por manter a decisão, requer que os autos sejam
encaminhados ao recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Nestes termos, pede deferimento.

Rio de Janeiro, 30 de março de 2015

Advogado
OAB n° xxxx
RAZÕES DO AGRAVO EM EXECUÇÃO
Agravante: Gilberto
Agravado: Ministério Público
Processo n. ...

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

I- DOS FATOS

O juízo de 1º grau condenou Gilberto pela prática do delito previsto no


art. 157, caput, do Código Penal, ao cumprimento de pena privativa de liberdade de 04
anos e 06 meses reclusão em regime inicialmente fechado. A sentença transitou em
julgado no dia 11 de setembro de 2013.
O agravante vem cumprindo a sua pena desde 15 de setembro de 2013 e, no
decurso, obteve progressão de regime. Tendo em vista que jamais fora punido com
falta grave e preencheu todos os requisitos subjetivos para a obtenção dos benefícios
de execução penal, no dia 25 de fevereiro de 2015 pleiteou a concessão do livramento
condicional.
O pedido fora indeferido pelo juiz da Vara de Execução Penal da Comarca
do Rio de Janeiro, sob os seguintes argumentos:
1) considerou o crime de roubo como hediondo, não tendo sido cumpridos,
até o momento do requerimento, 2/3 da pena privativa de liberdade;
2) ainda que não fosse hediondo, não estariam preenchidos os requisitos
objetivos para o benefício, tendo em vista que Gilberto, por ser portador de maus
antecedentes, deveria cumprir metade da pena imposta para obtenção do livramento
condicional;
c) indispensabilidade da realização de exame criminológico, tendo em vista
que os crimes de roubo, de maneira abstrata, são extremamente graves e causam
severos prejuízos para a sociedade.
II- DO DIREITO

a) Crime de roubo simples


O primeiro argumento auferido pelo magistrado, a fim de indeferir o pedido
de livramento condicional, fora de que o crime praticado pelo autor (roubo, art. 157 do
CP), é hediondo, portanto, necessita o cumprimento de 2/3 da pena.
Contudo, conforme a lei dos crimes hediondos – Lei 8072/90 -,
caracterizam-se hediondos os crimes de roubo quando caracterizados por:
1) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º,
inciso V); (Incluído pelo pacote Anticrime, Lei nº 13.964, de 2019)
2) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso
I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157,
§ 2º-B); (Incluído pelo Pacote Anticrime)
3) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);
(Incluído pelo Pacote Anticrime)
Da análise dos autos, verifica-se que o delito cometido pelo agravante deu
se na sua forma simples, ou seja, sem englobar os requisitos acima expostos, desse
modo, não configurando crime hediondo, não há o que se falar em necessidade de
cumprimento de 2/3 da pena para o acolhimento do pedido de livramento condicional.
Ainda, destaca-se que o agravante não é reincidente, assim, nos termos do
art. 83, I, do Código Penal, deve o apenado cumprir apenas 1/3 da pena – caso, 1 ano,
4 meses e 1 dia -, o que o fez.

b) Maus antecedentes

Ainda, o magistrado aponta que o agravante possui maus antecedentes,


desse modo, mesmo que o crime não fosse considerado hediondo, deveria cumprir
metade da pena.
Todavia, o agravante era réu primário no momento em que cometeu o delito
e, nos moldes do art. 83, I, CP, a necessidade de cumprimento de metade da pena para
efetuar o pedido de livramento condicional, apenas configura-se quando o agente é
reincidente em crime doloso.
Desse modo, apesar da lei dispor, em seu inciso I, que agente com maus
antecedentes não têm direito ao livramento com 1/3 da pena, em inciso II, que prevê
cumprimento de 1/2 para livramento condicional, é destinado ao reincidente ao crime
doloso e nada diz, no inciso II, sobre o maus antecedentes. Ou seja, diante da lacuna
legislativa, não se pode aplicar o inciso II do art. 83 do Código Penal, conforme
pacificou o STJ:

Por oportuno, vale salientar que esta Corte orienta-se no sentido de que, em
se tratando de réu primário e com maus antecedentes, ante a ausência de
previsão legal, tem ele direito à obtenção do livramento condicional
simples (CP, art. 83, I), para o qual se exige, além dos demais requisitos
objetivos e subjetivos, o cumprimento de um terço da pena, não se podendo
aplicar o inciso II do art. 83 do CP. (HABEAS CORPUS Nº 131.975 - RN
(2009/0053049-9)

c) Da dispensabilidade do exame criminológico

Por fim, quanto ao argumento do magistrado, em que indefere a concessão


de livramento condicional sob a necessidade de exame criminológico, vê se que o
mesmo não merece prosperar.
Isso pois, as alterações feitas em 2003 na Lei de Execução Penal afastaram
a obrigatoriedade do parecer da comissão técnica de classificação e a submissão do
condenado a exame criminológico para a concessão de progressão de regime e
livramento condicional.
Desse modo, a exigência sem fundamentação do magistrado, ante a
necessidade de exame criminológico, descumpre os termos da Súmula 479 do STJ.
Assim, vislumbra-se que o agravante ostenta de bom comportamento durante o
cumprimento de pena, visto que jamais fora punido com falta grave, sendo o suficiente
para fazer jus ao livramento condicional.
Em vista dos termos expostos acima, é cristalino que o agravante cumpre os
requisitos impostos para a concessão do livramento condicional.

III- DO PEDIDO

Por meio da fundamentação supra, requer que seja CONHECIDO e


PROVIDO o presente recurso e REFORMADA a decisão do juízo de primeiro grau, a
fim de que seja concedido o livramento condicional ao agravante, com a consequente
expedição do alvará de soltura.

Rio de Janeiro, 30 de março de 2015


Advogado
OAB n° xxxx

Você também pode gostar