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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOS PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Agravantes e qualificação, vêm, por meio de seu advogado que,


ao final, assina, nos moldes dos artigos 1.015 e seguintes, do Códex Processual
vigente, interpor o presente

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM


PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO

face MINERAÇÃO USIMINAS S.A. – MUSA, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ sob o nº 12.056.613/0001-20, com sede na Avenida do Contorno, nº
6.594, 3º andar, Belo Horizonte/MG, CEP: 30110-044 e e-mail
marina.amorim@usiminas.com, vez que inconformados com a decisão liminar
prolatada em sede da ação de constituição de servidão minerária de nº., em trâmite
na 2ª Vara Cível da Comarca de Itaúna/MG, onde o Magistrado a quo autorizou
liminarmente a imissão na posse da Agravada em propriedade dos Agravantes sem a
existência dos requisitos necessários à concessçao da tutela de urgência, como se vê
da Lei Processual e jurisprudência.

Neste passo, pugna pelo devido processamento do agravo, cujas


razões restam anexadas, requerendo para que sejam recebidas, processadas, e
julgadas na forma da lei.

O presente agravo é instruído com cópia dos autos, do despacho


decisório recorrido, bem como demais peças obrigatórias e procuração.

1
Assim, o Agravante informa o nome e endereço dos procuradores
nos autos do processo:

– Procurador dos Agravantes: qualificação


– Procurador da Agravada: qualificação

Finalmente, requer a distribuição do presente agravo para uma


das Câmaras competentes deste Alvo Tribunal.

Termos em que, pede deferimento.

Belo Horizonte, 18 de julho de 2023.

Traço de assinatura

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RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

AGRAVANTE: qualificação
AGRAVADO: MINERAÇÃO USIMINAS S.A.
AUTOS DO PROCESSO DE Nº.
ORIGEM:

EGRÉGIA CÂMARA,

ÍNCLITOS JULGADORES,

I - PRELIMINARMENTE
I.a – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Ab initio, os Autores pleiteiam para si as benesses da justiça


gratuita, nos termos do artigo 98 do Código de Processo Civil de 2015, bem como da
Lei 1060/50, tendo em vista o risco para o sustento dele mesmo, bem como de sua
família, tendo em vista serem produtores rurais familiares, como se vê do extrato
anexo, que remete a venda do seu leite a cooperativa local.

I.b – DA SUPERPRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO – IDADE SUPERIOR À 80


ANOS

Como se vê da documentação anexa, o Agravante possui idade de


83 (oitenta e três) anos, fazendo jus ao direito à superprioridade de tramitação do
feito.

II – DA TEMPESTIVIDADE

3
Considerando que os Agravantes não foram intimados da decisão
recorrida, a presente via recursal é tempestiva, nos termos do artigo 218, §4º, do
CPC/15.

III – INTRÓITO

Na origem, trata-se de ação ordinária movida pela Agravada


contra os Agravantes, visando a Constituição de servidão minerária, com imissão na
Posse via pedido liminar.

O imóvel, objeto do litígio, é uma pequena propriedade rural,


matriculado no Cartório Imobiliário de Itaúna sob nº., de propriedade dos Agravantes.

Segundo consta do alegado pela Agravada, ela possui direito de


servidão desde 2013, em virtude do processo ANM 933.980/2010, como vemos do
DOU anexado, e colacionado em excerto abaixo:

Após a distribuição do feito, o juízo a quo deferiu o pedido


liminar requerido, no sentido de autorizar a imissão imediata na posse, com o

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consequente despejo dos Agravantes, sem a devida análise dos requisitos necessários
à concessão da tutela de urgência, com a máxima vênia devida.

Nesse sentido, colecionamos a íntegra da decisão atacada:

A servidão minerária é um direito real constituído em favor do título


minerário, sendo dele acessória, motivo por que sua natureza é de utilidade
pública, conforme artigo 5º, f, do Decreto-lei 3.365/1941.
Ademais, é dever do proprietário do solo permitir o ingresso e o exercício
das atividades minerárias por aquele que detém o título minerário, porque a
propriedade do solo é distinta da propriedade minerária, nos termos do
artigo 84 do Decreto-lei 227/67.
A tal respeito, veja-se a jurisprudência:
A instituição de servidão minerária conforma-se ao interesse público ao
viabilizar o desenvolvimento de atividade industrial classificada como de
utilidade pública, nos termos do artigo 5º, alínea f, do Decreto-Lei nº
3.365/41, em que prevalece o interesse maior dos benefícios econômicos e
sociais resultantes da atividade extrativa. (TRF1 - AMS 19113 MG
2000.38.00.019113-0, Des. Fed. Selene Maria se Almeida, 5ª T, Publ. JJ
10/08/2006).
A fim de viabilizar o exercício da atividade de lavra pelo titular da
autorização minerária, o artigo 59 do Código de Mineração previu a
possibilidade de instituição de servidão de solo ou subsolo sobre a
propriedade onde ser localiza a jazida, além de outras limítrofes dela,
indispensáveis à implementação e operação dessa atividade.
Contudo, a instituição da servidão não prescinde da prévia e justa
indenização a ser paga ao superficiário, que deverá abranger o valor pela
ocupação do solo e os prejuízos decorrentes, inclusive renda, e, não havendo
acordo entre as partes, o pagamento deve ser realizado mediante depósito
judicial do quantum fixado mediante vistoria ou perícia (art. 60 e § 1º do
Código de Mineração).
No caso dos autos, havendo alegação de urgência, qualificada pela
utilidade pública, impõe-se o deferimento do pedido liminar de imissão de
posse.
O autor já efetuou o depósito prévio da indenização correspondente ao valor
da servidão, equivalente ao valor terreno, estimada em R$ 1.198.000,00.
Pelo exposto, DEFIRO o pedido liminar de imissão da posse.
EXPEÇA-SE o respectivo mandado.

Há de se notar que a decisão vergastada está consubstanciada


unicamente no depósito do pretenso valor indenizatório, apontado unilateralmente
pela ora Agravada, mas não há qualquer demonstração cabal de urgência, até porque
o pedido de servidão está deferido há 10 anos!

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Além do mais, pontua-se que a pequena propriedade dos
agravantes é uma fazendola leiteira, com menos de 50 hectares, de onde eles retiram
o seu sustento e de sua família.

Colacionamos, anexo, algumas fotos para demonstrar que a


propriedade se enquadra no conceito de pequena produção rural familiar, que conta
com 01 boi reprodutor, 25 bezerros e 35 vacas leiteiras, além de inumeráveis
equipamentos utilizados para a produção do leite.

Sem contar que se trata da única moradia de ambos os


Agravantes.

Considerando que se trata de servidão mineral, as agravantes


não buscam aqui evitar a imissão na Posse. O que se pretende no presente
instrumental é unicamente apontar a impossibilidade fática de que essa imissão
ocorra liminarmente, seja em função das dificuldades atinentes ao manejo dos bens
móveis e semoventes existentes na fazenda, ou seja, principalmente, pela ausência
dos requisitos necessários à concessão das tutelas de urgência conforme dispõe o
Código de Processo Civil hodierno.

Neste quesito, a decisão interlocutória aqui combatida deve ser


reformada, como demonstraremos na sequência.

IV – DO DIREITO – IMPRESCINDIBILIDADE DO REQUISITO URGÊNCIA


PARA FINS DE CONESSÃO DE LIMINAR – PEDIDO DE SERVIDÃO
DEFERIDO HÁ MAIS DE 10 ANOS – AUSÊNCIA DE VALOR ARBITRADO
PELO MAGISTRADO

Para fins de conceder a tutela de urgência liminarmente, o


magistrado deve realizar cognição sumária com base no que dispõe o art. 300 do

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CPC/15, como colacionamos abaixo:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

Ou seja, a concessão de medida liminar está condicionada a dois


requisitos básicos: a probabilidade do direito e o perigo do dano (urgência fática).

Neste sentido, é importante pontuar que, para fins de imissão na


posse liminarmente, mesmo que para processos de servidão minerária, o requisito
urgência é imprescindível, como vemos das decisões colacionadas abaixo, todas do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - TUTELA ANTECIPADA - DIREITO


MINERÁRIO - SERVIDÃO - PESQUISA - INDENIZAÇÃO PRÉVIA -
NECESSIDADE. Para o deferimento da tutela antecipada é indispensável a
existência dos requisitos exigidos pelo art. 273, do Código de Processo
Civil.
Nos termos do art. 27, do Código de Mineração, as servidões para pesquisas
de jazidas necessitam do pagamento de uma renda pela ocupação dos
terrenos e uma indenização pelos danos que possam ser causados pelos
trabalhos de pesquisa, caso seja realizada em propriedade de terceiros,
devendo os cálculos ser realizados por um perito técnico de acordo com a
legislação minerária.
Considerando que não houve a observância dos trâmites legais, notadamente
quanto à estipulação da indenização prévia, entendo que deve ser revogada a
decisão que deferiu a antecipação de tutela. Recurso provido.  (TJMG - 
Agravo de Instrumento-Cv  1.0216.12.006304-7/001, Relator(a): Des.(a)
Amorim Siqueira , 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/01/2013,
publicação da súmula em 04/02/2013)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - CONSTITUIÇÃO DE


SERVIDÃO MINERAL - TUTELA DE URGÊNCIA - IMISSÃO NA
POSSE - REVOGAÇÃO - INVIABILIDADE - VEDAÇÃO À
CONTINUAÇÃO DA EXPLORAÇÃO DA ATIVIDADE MINERAL -
AUSÊNCIA DAS LICENÇAS ADMINISTRATIVAS DEVIDAS -
POSSIBILIDADE. 1. O deferimento da tutela de urgência está
condicionado à demonstração simultânea da probabilidade do direito
pleiteado, do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, bem
como da reversibilidade dos efeitos da decisão (art. 300, do CPC/15).
Ademais, nos casos de tutela de imissão na posse fundada em servidão
mineral, a probabilidade do direito deve ser analisada também com base na
regulação de tal instituto (artigos 59 a 62 do Código de Minas - Decreto-Lei
nº 227/1967), restando condicionada ao prévio depósito de indenização. 2.

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No caso em tela e após juízo perfunctório do feito, estando preenchidos os
requisitos para concessão do pleito antecipatório, revela-se imperiosa a
concessão da medida pleiteada nos autos principais apenas para viabilizar os
estudos ambientais necessários à concessão da lavra.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.21.145583-7/001, Relator(a):
Des.(a) Fernando Caldeira Brant, 20ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
29/06/2022, publicação da súmula em 30/06/2022)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE CONSTITUIÇÃO


DE SERVIDÃO MINERAL. PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO. REJEITADA. TUTELA DE URGENCIA. IMISSÃO NA
POSSE. REQUISITOS. PRESENÇA. DECISÃO MANTIDA. Consiste em
pressuposto de admissibilidade extrínseco a devida motivação do recurso,
devendo para tal ocorrer à impugnação direta aos fundamentos da sentença
hostilizada.
- Verificado que as razões do recurso atacam diretamente os fundamentos
utilizados na decisão recorrida, não há que se falar em ausência de
impugnação.
- Para a concessão da tutela provisória de urgência, necessário que a parte
comprove a probabilidade do direito reclamado, aliado ao perigo de dano,
requisitos exigidos pelo artigo 300, CPC/15. - Presentes os requisitos para
a concessão de tutela de urgência, demonstrado o depósito prévio de
caução e evidente o interesse público na instalação do empreendimento
minerário na área objeto da lide, deve ser deferida a tutela colimada.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.20.064839-2/001, Relator(a):
Des.(a) Luiz Artur Hilário, 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
11/05/2021, publicação da súmula em 18/05/2021)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE CONSTITUIÇÃO


DE SERVIDÃO DE MINA - SERVIDÃO MINERÁRIA - IMISSÃO NA
POSSE - POSSIBILIDADE - DECRETO-LEI 3.365/41 - URGÊNCIA
DEMONSTRADA - DEPÓSITO PRÉVIO - VALOR DA INDENIZAÇÃO -
DECISÃO MANTIDA.
1. As servidões minerárias autorizam o titular do direito minerário a impor,
sobre a propriedade de terceiros, limitações excepcionais, desde que
essenciais à viabilidade da exploração mineral.
3. À luz do Decreto-Lei 227/67 e do Decreto-Lei 3.365/41, para que seja
autorizada a imissão na posse é necessário que a mineradora demonstre
urgência e realize o prévio depósito, em favor do respectivo proprietário
ou posseiro.
4. Tendo em vista as peculiaridades que envolvem a controvérsia - o
interesse público sobre as atividades minerárias - a manutenção da decisão
agravada é a medida que se impõe, especialmente em razão da mineradora
ter demonstrado a urgência no pedido, ter realizado o prévio depósito e
apresentado as licenças ambientais.
5. Recurso conhecido e não provido.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.21.125069-1/001, Relator(a):
Des.(a) Fausto Bawden de Castro Silva (JD Convocado), 9ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 29/03/2022, publicação da súmula em 07/04/2022)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE CONSTITUIÇÃO


DE SERVIDÃO MINERAL - PRELIMINAR - OFENSA AO PRINCÍPIO

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DA DIALETICIDADE - INOCORRÊNCIA - SERVIDÃO MINERÁRIA –
IMISSÃO NA POSSE - POSSIBILIDADE - DECRETO-LEI 3.365/41 –
URGÊNCIA DEMONSTRADA - DEPÓSITO PRÉVIO - VALOR DA
INDENIZAÇÃO - LICENÇA AMBIENTAL - INTERESSE PÚBLICO
SOBRE AS ATIVIDADES MINERÁRIAS - MULTA POR LITIGÂNCIA
DE MÁ-FÉ – DECISÃO MANTIDA. 1. Pelo princípio da dialeticidade o
diploma processual civil impõe ao recorrente não apenas manifeste o seu
inconformismo com a decisão recorrida, mas também demonstrar os
motivos de fato e de direito pelos quais requer o novo julgamento.
Constatando que o recorrente atendeu o princípio da dialeticidade, a rejeição
da preliminar é a rigor.
2. As servidões minerárias autorizam o titular do direito minerário a impor,
sobre a propriedade de terceiros, limitações excepcionais, desde que
essenciais à viabilidade da exploração mineral.
3. À luz do Decreto-Lei 227/67 e do Decreto-Lei 3.365/41, para que seja
autorizada a imissão na posse é necessário que a mineradora demonstre
urgência e realize o prévio depósito, em favor do respectivo proprietário ou
posseiro.
4. Tendo em vista as peculiaridades que envolvem a controvérsia - o
interesse público sobre as atividades minerárias - a manutenção da decisão
agravada é a medida que se impõe, especialmente em razão da mineradora
ter demonstrado a urgência no pedido, ter realizado o prévio depósito e
apresentado as licenças ambientais.
5. Não configurados os requisitos legais necessários ao reconhecimento de
litigância de má-fé ou de prática de ato atentatório à dignidade da justiça,
descabe a condenação da parte às penas correspondentes. 6. Recurso
conhecido e não provido.
(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.20.055182-8/001, Relator(a):
Des.(a) Fausto Bawden de Castro Silva (JD Convocado), 9ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 06/04/2021, publicação da súmula em 13/04/2021)

Trazemos a baila, também, o art. 15, do decreto-lei 3.365/41, que


vincula o valor do depósito AO ARBÍTRIO DO JUIZ, para então apreciar a urgência
da medida, in verbis:

Art. 15. Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de


conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará
imití-lo provisoriamente na posse dos bens;

Neste aspecto, ao apreciar o pedido liminar realizado pela


Agravada, o Pretor a quo, com a máxima vênia devida, deferiu a medida MESMO
QUE NÃO EXISTA QUALQUER URGÊNCIA NO PRESENTE CASO!!!!

Inclusive, a Agravada não consegue demonstrar sua urgência,

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como vemos do excerto da vestibular que instrui o processo na origem:

Além disso, como se vê da página do DOU anexado, e já


colacionado em excerto acima, o pedido de servidão da área foi deferido em
09/08/2013, há 10 anos! Que urgência é esta que perdura uma década inteira???

Oras, a definição da urgência, em sede de liminar, é o perigo de


dano posterior, derivante do retardamento da medida definitiva1.

Ainda, a doutrina clássica dispõe a urgência resta objetivada no


temor real de que o provimento final não venha a surtir efeitos, em virtude das
circunstâncias, como colacionamos abaixo2:

Para a obtenção da medida liminar e consequentemente da tutela cautelar


implícita, portanto, a parte requerente obrigatoriamente deverá demonstrar
fundado temor de que, enquanto aguarda a tutela definitiva, venham a faltar
as circunstâncias de fato favoráveis à própria tutela. E isto somente pode
ocorrer, conforme leciona CARLOS CALVOSA (in Sequestro Giudiziario,
1
CASTRO VILLAR, Willard de. Ação cautelar inominada. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, pág. 128
2
REIS FRIEDE, Roy. Aspectos fundamentais das medidas liminares em mandado de segurança, ação cautelar, ação
civil pública e ação popular. 2a ed., Forense Universitária, 1993, p. 97
10
novissimo Digesto italiano, vol. XVII, p. 66), quando haja efetivamente o
risco do perecimento e destruição, desvio, deterioração ou qualquer tipo de
alteração no estado das pessoas, bens ou provas necessárias para a perfeita e
eficiente atuação do provimento final de mérito.

Ou seja, não basta dizer que a tutela será concedida mais cedo ou
mais tarde, como fez a Agravada em sua inicial, mas demonstrar, cabalmente, como
seu direito pereceria antes do provimento definitivo.

Além do mais, conforme lições Pedro ATAÍDE3, a sentença final


em sede de ação de imissão na posse deve ser executada provisoriamente, para fins de
efetivação do interesse público, mas também para resguardar direitos individuais,
como colacionamos:

A sentença que aprecia ação de avaliação e renda poderá ser executada


provisoriamente, mesmo diante do manejo de instrumento recursal. É certo
que não se pode desrespeitar os direitos de propriedade e posse, tanto é que
o art. 62 do Código de Mineração impede a realização dos trabalhos de
pesquisa ou lavra antes do pagamento da indenização e da renda devida aos
superficiários. Por outro lado, não seria razoável exigir que a imissão na
Posse, e a consequente realização da atividade mineral, dependesse do
trânsito em julgado da sentença que arbitra os aludidos valores.

É de se observar, portanto, que a autorização liminar de imissão


na posse, além de carecer do periculum in mora, necessita de arbitramento de valor
indenizatório pelo juízo competente, mas no caso concreto o valor depositado pela
Agravada advém de seu escrutínio, de forma unilateral.

Como já dito anteriormente, os Agravantes não buscam, aqui,


evitar a imissão na posse, mas unicamente contestar a decisão interlocutória, vez que
ilegal, pois não adequada ao procedimento, repita-se, mas também impraticável,
conforme demonstraremos na sequência.

Ocorre que a pequena propriedade dos Agravantes constitui-se de

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Direito minerário. 4. Ed. São Paulo: Ed. Juspodium, 2022. Pág. 240.
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produção de leite, de maneira que há, no local, benfeitorias específicas, sem contar o
grande número de semoventes presentes, quais sejam, seu gado bovino produtor.

Ao inferir o laudo agronômico anexo, é possível ver que a


listagem dos itens presentes é grande, como colacionamos abaixo:

Em análise simples, pergunta-se: como os Agravantes irão se


deslocar para outro lugar, desconhecido, com tais bens? Abandonarão tudo e sairão de
mãos abanando? De maneira alguma!

Até mesmo porque, ainda que se alegue que há valor


indenizatório depositado em juízo, é sabido que para seu levantamento ainda há um
procedimento moroso a acontecer, tal qual a emissão de certidões notariais e
publicação de edital.

Além do mais, como já apontado outrora, o valor depositado não


foi arbitrado pelo juízo a quo, mas calculado unilateralmente, de modo que não tem
correspondência com a realidade dos valores.

Em resumo, a decisão combatida deve ser reformada, vez não

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existe urgência no pleito da Agravada, requisito essencial para a concessão da medida
liminar pleiteada, pois este não foi demonstrado de forma objetiva, bem como a
autorização de servidão data de uma década, além do fato de que o juiz de primeira
instância não arbitrou o valor a ser depositado em juízo para fins de concessão
liminar, e os Agravantes necessitam de tempo hábil para levantar o valor depositado e
se deslocarem, com seus bens, para outro lugar.

V – DO EFEITO SUSPENSIVO

De acordo com o que predispõe o artigo 1.019, inciso I, do


CPC/15, poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso de agravo de instrumento, desde
que demonstrado a presença dos requisitos elencados no parágrafo único do art. 995,
do mesmo diploma processual, in verbis:

Art. 995...
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por
decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de
dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a
probabilidade de provimento do recurso.

Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído


imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV , o
relator, no prazo de 5 (cinco) dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão;

Neste aspecto, o caso concreto está permeado das circunstâncias


que subsumem-se aos requisitos que concedem o efeito suspensivo ao recurso
instrumental, como demonstraremos na sequência.

O dano grave, de difícil reparação, resta cristalino já nos fatos


narrados introdutoriamente, ou seja, ser despejado, com uma gama de bens, sem
recursos suficientes, e sem ter para onde ir.

Isto porque, repita-se, não se busca impedir a imissão na posse da


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Agravada, mas apontar a impossibilidade fática de transportar todos os bens de uma
pequena fazenda, como meia centena de gado bovino, fora infraestrutura, para local
incerto.

Levando em conta que ainda existe um trâmite até levantar-se os


valores depositados em juízo, até lá os prejuízos experimentados pelos Agravantes
não poderão ser mesurados, de forma que eles necessitam de um tempo para saírem
da sua propriedade voluntariamente.

Quanto a probabilidade de provimento recursal, esta se faz


presente levando-se em conta a doutrina e a jurisprudência apontada até o momento:
a Agravada não apontou a urgência da demanda, vez que possui o direito de servidão
há uma década, além do fato de que o juízo a quo não arbitrou os valores a serem
depositados, tendo apenas nomeado perícia técnica para fazê-lo.

Neste passo, a medida liminar concedida no decisium atacado


viola dispositivo procedimental, data vênia, cabendo sua suspensão e posterior
reforma.

Portanto, a concessão de efeito suspensivo ao presente recuso é


medida que se impõe, vez que restam demonstrados os requisitos necessários à
concessão do efeito.

VI – CONCLUSÃO

Considerando todo o exposto, os Agravantes requerem e pedem a recepção


do presente agravo, bem como o seu provimento, para:

a) Que seja concedido efeito suspensivo ao recurso, nos termos dos artigos
995, parágrafo único, e 1.019, I, ambos do CPC/15, no sentido evitar a

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imissão na posse liminarmente concedida à Agravada, ao menos até o
julgamento colegiado deste recurso, vez que os Agravantes não possuem
condições de se mudarem enquanto não levantarem o valor depositado
em juízo, além do fato de que a decisão atacada resta deficitária quanto
aos requisitos necessários à concessão da medida liminar vindicada
originalmente, mais precisamente em relação a alegada urgência, vez
que a Agravada possui direito de servidão há dez anos;
b) Que seja reformando o despacho decisório a quo, com a máxima vênia
devida, tendo em vista que a imissão na posse, pela agravada, somente
deverá ocorrer a partir da prolação da sentença, com o arbítrio do valor
indenizatório declarado pelo juízo competente.

Para tanto, as Agravantes requerem:

a) A concessão das benesses da gratuidade da justiça, vez que os


Agravantes são pequenos produtores rurais, e não possuem
condições de arcar com as despesas judiciais sem prejuízo de si e de
sua família; e
b) A prioridade de tramitação, uma vez que, o Agravante João Patrício
possui idade de 83 (oitenta e três) anos, fazendo jus ao direito à
superprioridade de tramitação do feito.

Termos em que, pede deferimento.

Belo Horizonte, 18 de julho de 2023.

Rafael Victor Teixeira Silva


OAB/MG 179.183

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