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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA

DA COMARCA DE LAURO MÜLLER – SANTA CATARINA

PROCESSO: 5001055-82.2023.8.24.0087
TIPO: USUCAPIÃO
REQUERENTE: CLAUDECIR VICENCO NESI
REQUERIDA: MASSA FALIDA DE CARBONÍFERA CRICIÚMA S/A

MASSA FALIDA DE CARBONÍFERA CRICIÚMA S/A, já qualificada


nos autos do processo em epígrafe, representada pela administradora judicial
INNOVARE – ADMINISTRADORA EM RECUPERAÇÃO E FALÊNCIA SS – ME,
pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 21.828.338/0001-06,
na pessoa de seus sócios, Maurício Colle de Figueiredo e Flávio Carlos, por
intermédio do advogado GIULLIANO BITTENCOURT FRASSETTO, inscrito na
OAB/SC sob o n.° 13.937, constituído para defender os interesses da massa
falida nas demandas em que figura como parte, vem, muito respeitosamente
perante Vossa Excelência, em atenção ao despacho contido no evento 85,
apresentar CONTESTAÇÃO, com base no art. 335 do CPC/2015, nas razões de
fato e direito que passa a expor.

I. DA MASSA FALIDA

Em decorrência da falência, o Juízo falimentar manteve a nomeação


da sociedade INNOVARE - ADMINISTRADORA EM RECUPERAÇÃO E
FALÊNCIAS SS – ME, na qualidade de administradora judicial, a qual, por sua
vez, obteve autorização do juízo da falência para contratar escritório de
advocacia visando atuar na defesa dos interesses da massa falida nas
demandas em que figura como parte.
.
II. DECLARAÇÃO DO PROFISSIONAL RESPONSÁVEL PELA CONDUÇÃO DA
DEFESA DA MASSA FALIDA DE CARBONÍFERA CRICIÚMA S/A

Convolada a recuperação judicial em falência, conforme exposto no


item acima, a MASSA FALIDA DE CARBONÍFERA CRICIÚMA S/A, informa que
GIULLIANO BITTENCOURT FRASSETTO, inscrito na OAB/SC sob o n.°
13.937, será o advogado responsável pela condução da defesa dos interesses
da massa falida no presente processo, conforme procuração anexa, devendo
todas as intimações serem lançadas em seu nome, sob pena de nulidade dos
atos processuais.

III. DA JUSTIÇA GRATUITA EM FAVOR DA REQUERIDA

A decretação da falência em face da requerida é suficiente para a


concessão dos benefícios da justiça gratuita, na medida em que sua
hipossuficiência financeira é evidente.

Nesse sentido, segue excerto de decisão proferida pelo Tribunal


Regional do Trabalho da 3ª Região:

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SENTENÇA DE EXTINÇÃO


DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. IRRESIGNAÇÃO DO
EMBARGADO. DIREITO INTERTEMPORAL. DECISÃO PUBLICADA EM 27-
09-17. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. JUSTIÇA
GRATUITA. VIABILIDADE DE CONCESSÃO. HIPOSSUFICIÊNCIA
ECONÔMICA DA MASSA FALIDA COMPROVADA. BALIZAMENTOS DO
ART. 5º, INCISO XXXV, DA "CARTA DA PRIMAVERA" E DO ART. 98, CAPUT,
DO CPC/2015. CHANCELA INARREDÁVEL. PLEITO DE CONDENAÇÃO DO
EMBARGANTE AO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS E DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ACOLHIMENTO. OBSERVÂNCIA DO
PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. DEVEDOR QUE DEU CAUSA À EXTINÇÃO
DA DEMANDA AO NÃO RECOLHER AS CUSTAS INICIAIS.
TRIANGULARIZAÇÃO PROCESSUAL PERFECTIBILIZADA. ADVOGADOS
DO EMBARGADO QUE SE MANIFESTARAM NO FEITO. IMPERATIVA
IMPOSIÇÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA AO EMBARGANTE.
ESTIPÊNDIO ADVOCATÍCIOS. ARBITRAMENTO CONFORME OS
BALIZAMENTOS DO ART. 85, § 2º, DO CPC/2015. HONORÁRIOS
SUCUMBENCIAIS RECURSAIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 85, §§ 1º E 11, DO
CÓDIGO FUX. POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO DE OFÍCIO EM RAZÃO DA
EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DA VERBA
PROFISSIONAL NESTE GRAU DE JURISDIÇÃO. REBELDIA PROVIDA.
(TJSC, Apelação Cível n. 0014462-34.2011.8.24.0033, de Itajaí, rel. Des. José
Carlos Carstens Köhler, Quarta Câmara de Direito Comercial, j. 26-02-2019).
Portanto, requer sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita
em favor da requerida.

IV. DA SUSPENSÃO DE EVENTUAIS DESPESAS PROCESSUAIS

Pede a requerida, desde já e pelo motivo acima exposto, a suspensão


da exigência de todos os custos da presente ação (custas judiciais, honorários
periciais/advocatícios, entre outras despesas processuais – se houverem) para
que possam ser pagos, havendo ativos nos autos da falência, como crédito
extraconcursal com fulcro no artigo 84, IV, da Lei n.º 11.101/05, a ser inserido do
QUADRO GERAL DE CREDORES a ser consolidado ulteriormente pela
administradora judicial nomeada.

V - DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO FALIMENTAR

Estando em curso processo de falência (autos n.º 0002699-


02.2016.8.24.0020), o juízo que a processa é universal para, com algumas
exceções, atrair os feitos em que a falida figura como parte.

Tratando-se de usucapião, a competência é do Juízo universal:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO. MASSA


FALIDA QUE FIGURA COMO RÉ NESTA DEMANDA. COMPETÊNCIA DO
JUÍZO FALIMENTAR. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Ressalvadas
as hipóteses de execução fiscal, reclamatória trabalhista e as ações ajuizadas
antes da quebra que não se fundamentem em títulos incompatíveis com o direito
de rateio, o juizo falimentar, após a decretação da falência, atrai todas as demais
demandas em curso em que a massa falida figurar como ré, porquanto universal
e indivisível, em razão das múltiplas conseqüências de ordem jurídica, social,
política e econômica decorrente da quebra". (TJSC, Agravo de Instrumento n.
2012.036721-3, de Araranguá, Relator: Des. Joel Dias Figueira Júnior, j. 4-7-
2013).

Desta forma, diante da universalidade do juízo da falência da


empresa requerida Carbonífera Criciúma, verifica-se que a competência do juízo
falimentar prevalece sobre a do art. 47 do CPC.
Portanto, como a vis attractiva é absoluta, é impossível o
prosseguimento do feito neste juízo, razão pela qual faz-se mister seja
reconhecida a incompetência deste juízo para processar e julgar a presente
ação de usucapião.

VI - DOS FATOS

O autor ingressou com a presente demanda alegando, em apertada


síntese, que há mais de 30 anos possui a posse de uma área rural de
329.750,70m², pertencente a matrícula n.º 2.968, do Registro de Imóveis
Município de Lauro Muller/SC.

Por fim, requer a transferência do imóvel, alegando possuir todos os


requisitos necessários para tanto.

VII - DA INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA QUANDO DA


DECRETAÇÃO DE QUEBRA DESTA REQUERIDA

Conforme consta da narrativa do autor, e do conteúdo da matrícula


contida no evento 1-MATRIMOVEL6, o imóvel objeto desta ação de usucapião é
de propriedade de CARBONÍFERA CRICIÚMA S/A.

Como é cediço, a sociedade empresária requerida CARBONÍFERA


CRICIÚMA S/A teve a sua falência decretada nos autos da ação n.º 0002699-
02.2016.8.24.0020, em trâmite em duas oportunidades, a primeira em
09/12/2019, e a segunda em 18/08/2021.

Com efeito, a consequência imediata do decreto de quebra é a


indisponibilidade dos bens do devedor, conforme bem salienta José da Silva
Pacheco, em comentário ao art. 40, da antiga Lei de Falências (Decreto-Lei n.°
7.661/1945), aplicável à espécie:

No que se refere à decretação da falência, o art. 40 do Dec. – Lei 7.661, de 1945,


apenas torna expressa a indisponibilidade dos bens pelo falido e a sua
inadministrabilidade. Salienta o § 1º que são nulos todos os atos praticados pelo
falido que se refiram aos bens, interesses, direitos e obrigações compreendidos
ou abrangidos pela falência, que são todos os bens do falido (art. 39). Invocável
o art. 593 do CPC. Daí não decorre que haja ‘penhora real ou abstrata’. Nada
disso. A indisponibilidade dos bens do falido decorre da decretação da falência
e não da arrecadação. A inadministrabilidade também decorre da decretação da
quebra. Mas só por isso não ocorre a penhora. Esta se concretiza pela
arrecadação (art. 70). Aí é que há a apreensão judicial dos bens, em falência.
Até aí há apenas apreensibilidade, acompanhada de indisponibilidade e
inadministrabilidade expressas, sob pena de nulidade dos atos praticados.
(PACHECO, José da Silva. Processo de falência e concordata: comentários à
lei de falência. – 9. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 315)

No mesmo sentido é a doutrina de Nelson Abrão:

Assim, perde o devedor o direito de alienar ou onerar os seus bens, interesses


ou direitos ligados à massa, sob pena de nulidade, isto é, o contratante in bonis
sujeitar-se-á à arrecadação do bem que comprou nessas condições, devendo,
pelo que pagou, habilitar-se simplesmente como credor quirografário. (ABRÃO,
Nelson. Curso de direito falimentar. – 3. ed. – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1989, p. 109)

Tal consideração mostra-se oportuna na medida em que a


indisponibilidade dos bens do falido torna-os insuscetíveis de usucapião, por se
qualificarem como coisas fora do comércio.

Na espécie, diante das considerações acima alinhavadas, vê-se que


o imóvel de propriedade da requerida tornou-se bem fora do comércio desde a
decretação da falência (primeira em 09/12/2019, e a segunda em 18/08/2021),
face a indisponibilidade que o caracteriza, razão pela qual é insuscetível de ser
usucapido.

Por outro lado, é certo que, após a decretação da quebra, serão


interrompidos os prazos prescricionais, inclusive o aquisitivo.

Nesse sentido, imperioso destacar o teor da r. decisão proferida nos


autos do Recurso Especial n.º 1.680.357/RJ (Rel. Min. NANCY ANDRIGHI,
Terceira Turma, DJe: 16/10/2017), consoante se infere abaixo:
o bem imóvel, ocupado por quem tem expectativa de adquiri-lo por meio da
usucapião, passa a compor um só patrimônio afetado na decretação da
falência, correspondente à massa falida objetiva. Assim, o curso da prescrição
aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida é
interrompido com a decretação da falência, pois o possuidor (seja ele o
falido ou terceiros) perde a posse pela incursão do Estado na sua esfera
jurídica. A suspensão do curso da prescrição a que alude o art. 47, do DL
7.661/45 cinge-se às obrigações de responsabilidade do falido para com seus
credores, e não interfere na prescrição aquisitiva da propriedade por usucapião,
a qual é interrompida na hora em que decretada a falência devido à formação da
massa falida objetiva.

Nesse mesmo sentido, segue o entendimento jurisprudencial do


Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

USUCAPIÃO EXTRAORDINÀRIA. Sentença de improcedência que não


reconheceu a existência de posse, por se tratar de situação de comodato,
geradora de simples detenção. Manutenção da improcedência, embora por
fundamentos diversos. Comodato gera ao comodatário posse direta e ad
interdicta, mas não posse ad usucapionem por ausência de animus domini.
Inversão da qualidade da posse que se iniciou somente após a decretação da
quebra da titular do domínio e arrecadação do prédio. Entendimento mais
moderno do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça de São
Paulo, no sentido de que a decretação da quebra impede prazo da
usucapião e impossibilita exercício de posse em detrimento da
comunidade de credores. Bens da massa afetados à satisfação da
comunidade de credores, criando patrimônio especial sob tutela judicial.
Falido desapossado, passando a guarda ao administrador judicial, com
escopo específico de realização do ativo para pagamento dos credores.
Inviabilidade da fluência do prazo da usucapião após a quebra. Ação
improcedente. Recurso improvido. (Apelação Cível n.º 0050051-
16.2012.8.26.0577 da 1ª Câmara de Direito Privado do TJSP. Rel. Des:
Francisco Loureiro; j. em: 30/07/2019).

Considerando que a requerida teve a sua falência decretada


primeiramente em 09/12/2019, e posteriormente em 18/08/2021,
consequentemente todos os bens da Massa Falida se tornaram indisponíveis e
insuscetíveis de usucapião, mormente porque se interromperam todos os prazos
prescricionais, inclusive o aquisitivo.
Dito isso, com a decretação da falência, com a formação da massa
falida objetiva, o imóvel passa a integrar um patrimônio afetado único,
inviabilizando, assim, a alegação de usucapião.

Nesse sentido, para além da deficiência da documentação


comprobatória do direito à usucapião, é certo que o prazo prescricional aquisitivo
do imóvel pleiteado pelo autor interrompeu-se na data de decretação da falência
da requerida, isto é, em 09/12/2019, e 18/08/2021.

Portanto, como inexiste qualquer elemento nos autos que


minimamente possa conduzir à ideia de que a posse se iniciou 15 anos antes da
decretação de quebra da falida, não há possibilidade de se reconhecer a
usucapião em favor do autor.

VIII – DA POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO ANTECIPADO

De início, há que se destacar que a presente demanda comporta


julgamento antecipado, nos termos do art. 355, inciso I, do CPC/2015, uma vez
que a matéria “sub judice” não demanda instrução adicional, além de já se
encontrar nos autos fatos e provas necessárias para o conhecimento deste juízo.

Inclusive, o julgamento antecipado do feito além de velar pela rápida


solução do litígio, impede que “as partes exerçam a atividade probatória
inutilmente ou com intenções protelatórias", conforme leciona Vicente Greco
Filho (Direito Processual Civil Brasileiro. Saraiva, 14ª edição, 1999, p 228).

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. SENTENÇA DE


IMPROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DOS AUTORES. 1. PRELIMINARMENTE.
CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA DE DESIGNAÇÃO DE PERÍCIA
TÉCNICA PARA DELIMITAR A ÁREA USUCAPIENDA. PLEITO DE NULIDADE
DA DECISÃO RECORRIDA. IMPOSSIBILIDADE DE ACOLHIMENTO.
OBRIGAÇÃO DE DESCREVER O IMÓVEL EM LITÍGIO QUE INCUMBE AO
AUTOR DA DEMANDA PETITÓRIA. DOCUMENTOS APRESENTADOS AOS
AUTOS QUE SÃO INSUFICIENTES PARA DEMONSTRAR A EXATA
LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL. INTIMAÇÃO DA PARTE PARA
COMPLEMENTAR A PROVA QUE NÃO FOI ATENDIDA. MAGISTRADO QUE
ENTENDEU EXISTIREM PROVAS SUFICIENTES PARA O JULGAMENTO DA
DEMANDA. COMPROVAÇÃO DO EXERCÍCIO DA POSSE DA ÁREA PELOS
PROPRIETÁRIOS REGISTRAIS DO BEM. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO
LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUÍZO. POSSIBILIDADE DE
JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO NO
DECISUM. 2. MÉRITO. NULIDADE DO CONTRATO DE COMODATO
FIRMADO COM OS PROPRIETÁRIOS REGISTRAIS DO IMÓVEL AVENTADA.
INVIABILIDADE DE DISCUSSÃO DO FATO NOS AUTOS DA PRESENTE
USUCAPIÃO. MATÉRIA QUE MERECE SER DEBATIDA EM AÇÃO PRÓPRIA.
PROVAS NOS AUTOS NO SENTIDO DE QUE OS DONOS DO IMÓVEL EM
LITÍGIO EXERCIAM A POSSE SOBRE ELE. DESCABIMENTO DA
DECLARAÇÃO DA PROPRIEDADE EM FAVOR DOS REQUERENTES.
SENTENÇA QUE DEVE SER MANTIDA. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS
RECURSAIS. OBSERVÂNCIA DA JUSTIÇA GRATUITA DEFERIDA EM FAVOR
DOS RECORRENTES. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC,
Apelação Cível n. 0356820-44.2006.8.24.0023, da Capital, rel. Osmar Nunes
Júnior, Sétima Câmara de Direito Civil, j. 04-06-2020).

Dessa forma, requer o julgamento antecipado da lide, com


fundamento no art. 355, inciso I, do CPC/2015 e no Princípio do Livre
Convencimento Motivado do Juízo.

IX - DA AUSÊNCIA DE ANIMUS DOMINI E DA INEXISTÊNCIA DOS


REQUISITOS PARA RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA

Depreende-se que ao autor faltam os requisitos para a propositura da


presente ação de usucapião, bem como deles não se desincumbiram do ônus
probandi que lhe tocava.

Isso porque, o autor ajuizou a presente demanda com vistas a


declaração do domínio do imóvel descrito na exordial, aduzindo que exerce a
posse do imóvel há mais de 15 (quinze) anos.

Note-se que a usucapião é um modo de aquisição originária da


propriedade ou de outros direitos reais que decorre da posse prolongada no
tempo. É também um modo de perda da propriedade, pois, para que alguém
adquira, é preciso que outrem dela seja privado.

São requisitos necessários para a configuração da usucapião os


seguintes: coisa hábil, posse e decurso do tempo.

A posse é fundamental, mas, para gerar a usucapião, deve ser


mansa e pacífica, contínua e com animus domini. Sendo assim, a posse deve
ser exercida sem qualquer oposição de quem tenha legítimo interesse, sem
interrupção e com ânimo de dono.

A respeito do tema, o doutrinador James Eduardo Oliveira assim define o


instituto:

Consiste a usucapião no modo de aquisição da propriedade pela posse


prolongada e incontestada da coisa. A usucapião está fulcrada basicamente
na atividade do possuidor e na passividade do proprietário e de terceiros. A
posse animus domini é essencial para a aquisição da propriedade por meio
de usucapião (Código civil anotado e comentado: doutrina e jurisprudência.
Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 892).

O sucesso da tese apresentada pelo autor, por óbvio, depende da


comprovação da ocupação da área de forma mansa, pacífica e com animus
domini pelo tempo necessário à aquisição da propriedade, subordinada à espécie
da usucapião alegada, como demonstra a jurisprudência do Tribunal de Justiça
de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. SENTENÇA


DE IMPROCEDÊNCIA. RECURSO DO AUTOR. PLEITO FUNDAMENTO NO
ART. 550 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS
REQUISITOS PREVISTOS NO DISPOSITIVO LEGAL. PROVA
TESTEMUNHAL MANIFESTAMENTE DIVERGENTE. AUSÊNCIA DE
EVIDÊNCIA SEGURA DA NATUREZA DA POSSE EXERCIDA, SOBRETUDO
PELO TEMPO NECESSÁRIO À PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA MANTIDA.
Para a configuração da usucapião, além dos requisitos de ordem pessoal e real,
os primeiros vinculados às pessoas do possuidor e do proprietário, os segundos
inerentes às coisas e direitos passíveis de serem usucapidos, encontram-se os
chamados requisitos formais, nesse âmbito alocados os pressupostos que
demarcam a chamada prescrição aquisitiva, ou seja, a posse com animus
domini e o tempo necessário para usucapir. Destarte, se a posse não se
descortinar mediante atos reveladores de que era exercida pelo possuidor
com o propósito de ser proprietário, agindo como se dono fosse, e pelo
tempo necessário à caracterização da prescrição aquisitiva, inviável será o
acolhimento da ação (Apelação Cível n.º 0017285-30.2005.8.24.0020 da
Primeira Câmara de Direito Civil do TJSC, rel. Des. Jorge Luis Costa Beber, j.
em 28-9-2017). Disponível em:<http://www.tjsc.jus.br>. Acesso em: 10 março
2022).

O art. 1238 do CC/2002 preconiza que aquele que, por quinze anos,
sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a
propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório
de Registro de Imóveis.

Desta feita, verifica-se que juntamente com a petição inicial o autor


apresentou algumas fotos. No entanto, o autor não logrou êxito em demonstrar
que vem exercendo atos de posse sobre o imóvel, ou que tenha de fato, dado
uma destinação produtiva ao imóvel objeto desta demanda, visto que não há
certeza de que as imagens referem-se as mesmas áreas da terra
usucapienda.

Ademais, vale questionar se a criação de algumas cabeças de gado


utilizando-se uma área de terra com mais de 30 hectares, realmente é uma
destinação produtiva ao referido imóvel.

Logo, resta evidente que o autor não exerceu atos de posse sobre o
imóvel por 15 anos de forma ininterrupta
.
Deve-se observar, ainda, ser necessária a comprovação de atos que
ensejariam a posse, sobretudo eventual acessio, indicando e descrevendo o
autor, na inicial, eventuais benfeitorias concretizadas no imóvel usucapiendo,
bem como indicando e descrevendo condutas de conservação perpetradas, com
a descrição aproximada das datas.
Importante também a apresentação de documentos comprobatórios
do afirmado animus domini atinentes ao período aquisitivo, a saber:
comprovantes de pagamentos de esgoto, água, luz, IPTU, telefone, enfim, fatos
que indiquem a efetiva posse sobre o bem que se objetiva usucapir. Anote-se,
contudo, que lista de registro de compras efetuadas em uma Agropecuária,
jamais pode ser considerada como um documento que comprove a atividade rural
associada ao imóvel em comento, visto que há diversos produtos que sequer
possuem relação com criação de gado (utilitários para uma casa, produtos para
passarinho, cachorros, dentre outros).

Dito isso, percebe-se que no presente caso não há qualquer


documento que ampare a pretensão da parte autora. Os documentos
apresentados não demonstram qualquer reconhecimento da posse qualificada,
necessária para o reconhecimento da usucapião.

Nota-se que o inciso I do art. 373 do CPC reza que incumbe ao autor
o ônus da prova do seu direito. E nesse aspecto permitiu-se à parte autora trazer
todos os elementos necessários a uma ação de usucapião, contudo, não trouxe
qualquer prova do alegado, na verdade, foram alegações contraditórias.

Ademais, além da falta de qualquer elemento de prova, eventual


posse informada seria precária, de modo que qualquer posse exercida, ainda que
antes da quebra, é posse precária, inapta a respaldar qualquer pretensão de
reconhecimento da usucapião.

Portanto, a pretensão à declaração do domínio sobre o bem


descrito na exordial pela prescrição aquisitiva (usucapião extraordinária),
por anemia do conjunto probatório, inapto a comprovar a existência da
posse do autor sobre o bem por 15 anos de forma ininterrupta, pacífica e
com ânimo de dono deve ser julgada improcedente.
X – DESNECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA – PROVA
TESTEMINHAL

O autor afirma que não ostenta justo título para embasar a presente
demanda, mas que a cadeia possessória e o tempo de posse poderá ser
perfeitamente comprovado através de prova testemunhal.

Ora Excelência, a dilação probatória para ouvir testemunhas como


pleiteado pelo autor não poderá, por si só, corrigir a anemia de provas a amparar
a pretensão inicial, ou alterar o convencimento deste juízo.

Com a devida vênia, não são raros os processos intentando o domínio


de bens imóveis de propriedade da falida, pela prescrição aquisitiva em que se
tenta suprir a carência de provas robustas dos onerosos cuidados fáticos sobre
um bem, ao longo de 10 ou 15 anos, com animus domini, por meio do teor de
testemunhos.

Na medida em que a prova testemunhal é direito e a ela todo o valor


deve ser atribuído, igualmente não se pode permitir a banalização de tal
instrumento probatório num contexto em que não exsurge confiabilidade das
alegações aduzidas. Assim, ao delegar a uma testemunha a palavra final para
fins do provimento pretendido, em detrimento de um pobre conjunto
probatório documental, seria relegar a acepção do exercício da posse
unicamente à percepção de terceiros.

Conforme já restou exposto, a posse deve restar evidenciada pelo


conjunto de elementos a indicarem se o seu executor a exerceu erga omnes, e
não apenas do ponto de vista de uma pessoa selecionada.

Acerca do tema, o Tribunal de Justiça de São Paulo já decidiu:

USUCAPIÃO. Pretensão amparada em posse mansa e pacífica,


por mais de 10 anos. Improcedência. - Preliminar de
cerceamento de defesa rejeitada. Comprovação do início da posse
que depende de dados objetivos, documentados, que não podem
ser supridos por prova testemunhal. - Mérito. Ausentes os
requisitos da posse mansa e contínua com 'animus domini' pelo
período da prescrição aquisitiva. (...). Sentença mantida.
RECURSO DESPROVIDO. (TJSP; Apelação Cível
1003731-38.2018.8.26.0266; Relator (a): Paulo Alcides; Órgão Julgador: 6ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Itanhaém - 3ª Vara; Data do Julgamento:
18/02/2020; Data de Registro: 18/02/2020)”. grifo nosso.

Diante disso, considerando insuperável anemia de provas a


demonstrarem o exercício da posse inequívoca do autor por 15 anos sobre o
imóvel, o feito encontra-se fadado invariavelmente à improcedência, motivo pelo
qual a dilação probatória para ouvir testemunhas deve ser indeferida.

XI - DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer à Vossa Excelência:

a) Informar, nestes autos, que a sociedade empresária requerida


perpassava por processo de recuperação judicial (autos da ação n.º 0002699-
02.2016.8.24.0020 que tramita perante a 1.ª VARA DA FAZENDA DA COMARCA
DE CRICIÚMA-SC), onde posteriormente convolou em falência, conforme se
depreende da sentença prolatada, em 18/08/2021, nos autos da ação acima
mencionada.
b) Reconhecer a incompetência deste juízo para processar e julgar a
presente ação de usucapião, diante da quebra da sociedade empresária
CARBONÍFERA CRICIÚMA, ora requerida, sendo que o juízo competente para
processar é o universal (1.ª VARA DA FAZENDA DA COMARCA DE CRICIÚMA-
SC).
c) Requerer a concessão dos benefícios da justiça gratuita em favor
da requerida.
d) Requerer a suspensão da exigência de todas os custos da presente
ação (custas judiciais, honorários periciais/advocatícios, entre outras despesas
processuais – se houverem) para que possam ser pagos, havendo ativos nos
autos da falência, como crédito extraconcursal com fulcro no artigo 84, IV, da Lei
n.º 11.101/05, a ser inserido do QUADRO GERAL DE CREDORES a ser
consolidado ulteriormente pela administradora judicial nomeada.
e) Requerer o julgamento antecipado da lide, com fundamento no art.
355, inciso I, do CPC/2015 e no Princípio do Livre Convencimento Motivado do
Juízo.
f) Seja reconhecida à questão da interrupção do prazo da prescrição
aquisitiva em razão da decretação da quebra da proprietária registral, de rigor a
improcedência do feito.
g) Seja julgada IMPROCEDENTE a pretensão à declaração do
domínio sobre o bem descrito na exordial pela prescrição aquisitiva, por anemia
do conjunto probatório, inapto a comprovar a existência da posse do autor sobre
o bem por 15 anos de forma ininterrupta, pacífica e com ânimo de dono.
h) Produção de todos os meios de prova em direito admitidas,
notadamente documental, à exceção da testemunhal, ante os fundamentos
expostos no item “X”.
i) Condenação do autor no pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios a serem fixados por Vossa Excelência.
j) Por fim, requer que todas as intimações e notificações sejam
efetivadas em nome GIULLIANO BITTENCOURT FRASSETTO - OAB/SC
13.937, sob pena de nulidade dos atos processuais.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Criciúma – SC, 27 de setembro de 2023.

Giulliano Bittencourt Frassetto - OAB/SC 13.937


DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE
Art. 1.º, § 2.º, III, “a” da Lei n.º 11.419/2006

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