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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESTADO

[ processo em autos eletrônicos ]

Ref.: Agravo de Instrumento nº. 229955-66.2018.8.09.0001/1

FRANCISCO DE TAL ( “Recorrente” ), já devidamente

qualificada nos autos do Agravo de Instrumento em destaque, a qual figura como


Agravado Banco Xista S/A ( “Recorrido” ), vem, com o devido respeito à presença
de Vossa Excelência, por intermédio de seu patrono que ora assina, alicerçada no
art. 105, inc. III, alíneas “a”, da Constituição Federal, bem como com supedâneo no
art. 1.029 e segs. da Legislação Adjetiva Civil, para interpor o presente

RECURSO ESPECIAL
em razão dos vv. acórdão de fls. 197/205 do recurso em espécie, no qual, para
tanto, apresenta as Razões acostadas.

I - PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO

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Anote-se que a parte Recorrente, diante deste quadrante
específico (debate único acerca da gratuidade da justiça ), máxime em sendo autos
digitais, deixara de recolher o porte de remessa e retorno (CPC, art. 1.007, § 3º).

Todavia, no tocante ao preparo, este é o âmago do presente


pedido de efeito suspensivo.

As questões destacadas no presente Recurso Especial


comprovam a imperiosa necessidade da intervenção Estatal. Desse modo,
reclama, sem sombra de dúvidas, a concessão de efeito suspensivo (CPC, art.
1.029, § 5º, inc. III).

Concernente aos pressupostos à concessão de efeito


suspensivo pondera Luiz Guilherme Marinoni, ad litteram:

“Os requisitos para concessão de efeito suspensivo são aqueles


mencionados no art. 1.012, § 4º, CPC -- analogicamente aplicável.”
(MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo Civil comentado.
– São Paulo: RT, 2015, p. 950)

Nesse mesmo rumo, é de todo oportuno igualmente gizar o


magistério de Flávio Cheim Jorge, verbo ad verbum:

“Concessão de efeito suspensivo pelo relator. Nos casos em que o


recurso não tenha efeito suspensivo automático (ope legis), é possível
que o relator profira decisão no sentido de sustar a eficácia da decisão
(ope judicis). Para tanto, deve o recorrente demonstrar, nas razões
recursais, que a imediata produção dos efeitos pode causar dano grave,
de difícil ou impossível reparação (periculum in mora), e a probabilidade
de que o recurso venha a ser provido (fumus boni iuris). “ (Teresa

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Arruda Alvim Wambier ... [et al.], coordenadores. Breves comentários
ao Novo Código de Processo Civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 2.219)

Quanto ao pressuposto da “probabilidade de provimento do


recurso” (CPC, art. 995, parágrafo único c/c art. 1.012, § 4º) é de reconhecer-se
que a peça recursal em espécie traz à tona inúmeros documentos comprobatórios
da hipossuficiência financeira do Recorrente.

Da mesma maneira é inarredável, venia concessa, que o


magistrado de piso longe passou de ater-se à disciplina indicada no art. 99, § 2º,
do Código de Processo Civil, e, além disso, aos ditames do art. 5º, caput, da Lei
1.060/50.

De outro bordo, o pleito semelhantemente obedece ao


requisito do “risco de dano de difícil reparação”. A extinção da demanda, via
reflexa, por falta do recolhimento do preparo, por si só, representa um evidente
risco e, óbvio, de custosa reparação. E isso já foi anunciado na decisão guerreada,
vale ressaltar.

Como consequência, com suporte nos ditames do art.


1.029, § 5º, inc. III, do CPC, pede-se seja concedido efeito suspensivo ao
presente Recurso Especial, ordenando, por extensão, seja imposto regular
andamento ao feito, sem a necessidade, neste instante, de recolhimento do
preparo.

II - REQUERIMENTOS

Requer, por fim, que esta Eg. Presidência conheça e dê


seguimento ao presente recurso, com a consequente remessa dos autos ao
Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

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Outrossim, ex vi legis, solicita que Vossa Excelência
determine que o Recorrido responda, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias,
sobre os termos do presente. (CPC, art. 1.030, caput).

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de outubro de 0000.

Beltrano de Tal
Advogado – OAB 112233

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RAZÕES DO RECURSO ESPECIAL

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PRECLARO MINISTRO RELATOR

(1) – DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO

O recurso, ora agitado, deve ser considerado como


tempestivo, porquanto o Recorrente fora intimado da decisão recorrida por meio do
Diário da Justiça nº ___. Esse circulou no dia __ de abril de 000 (terça-feira),
evocando que dia 00 de abril desse mesmo ano (quarta-feira) foi feriado local.

A propósito, e à luz da disciplina contida no art. 1.003, § 6º,


do Estatuto de Ritos, acosta-se ao presente recurso certidão narrativa obtida junto
ao Tribunal Local. (doc. 01)

(2) – CONSIDERAÇÕES DO PROCESSADO (CPC, ART. 1.029, I)

O Recorrente ajuizou Ação Revisional em desfavor da


Recorrida, com o fito de reavaliar a legalidade dos encargos contratuais que lhes
foram impostos pelo contrato de abertura de crédito fixo nº 112233. (fls. 37/49).

Na referida ação, na petição inicial, o Recorrente, por seu


patrono, na forma do que dispõe o art. 99, caput c/c art. 105, caput, do CPC,
asseverou não estava em condições de pagar as custas do processos e os
honorários de advogado, por ser hipossuficiente na forma da lei. (fl. 37) Além
disso, trouxe à baila, naquela ocasião inicial do processo, com a peça vestibular,
vários documentos comprobatórios da referida hipossuficiência. (fls. 51/67)

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Certo é que inexiste, no caso, presunção legal quanto à
hipossuficiência financeira do Recorrente (CPC, art. 99, § 3º). Todavia, indiscutível
que os aludidos documentos eram suficientes a comprovarem a impossibilidade de
pagamentos de despesas processuais.

Conclusos os autos, ao apreciar a regularidade formal da


peça vestibular, o magistrado, antes ouvindo-se o Recorrente (CPC, art. 99, § 2º),
indeferiu o pedido em comento. (fls. 71/75)

Colhe-se da decisão guerreada a inexistência de


fundamento apto a contrapor-se à comprovação cabal da miserabilidade alegada
pelo Recorrente.

Dessarte, defendeu-se que aquela decisão interlocutória fora


desarrazoada e que não se pautara por provas contundentes. Assim, a parte
Recorrente defendera que tal benefício era de total pertinência.

Por isso interpusera, naquele momento, recurso de Agravo


de Instrumento, buscando, no âmago, a revogação da decisão hostilizada, com a
isenção do pagamento, pelo Recorrente, das despesas processuais, máxime
custas iniciais. (fls. 81/97)

Contudo, o Tribunal Local, à unanimidade de votos, negou


provimento ao recurso, confirmando, in totum, a decisão de piso enfrentada.
(99/103)

Em decorrência do conteúdo do julgamento meritório


colegiado, o Recorrente opusera Embargos Declaratórios, buscando-se, máxime
para fins de prequestionamento, qual o parâmetro financeiro utilizado para afirmar-
se que a “...renda do recorrente era incompatível com a afirmação de
miserabilidade”. (fls. 106/109). Na espécie, demonstrou-se, documentalmente, e

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assim também restou consignado no acórdão testilhado, que o Recorrente
percebia tão somente dois (2) salários-mínimos mensais. (fls. 77/79)

De mais a mais, imperioso destacar a passagem do


acórdão, situada à fl. 108, na qual menciona saliência ao valor de dois (2) salários-
mínimos como compatíveis ao pagamento de todas despesas processuais.

Não obstante, os embargos declaratórios foram improvidos.

Eis, pois, a decisão meritória guerreada, a qual, sem sombra


de dúvidas, deve ser reformada.

(3) – DO CABIMENTO DESTE RECURSO ESPECIAL (CPC, ART. 1.029, II)

Segundo a disciplina do art. 105, inc. III, letra “a” da


Constituição Federal, é da competência exclusiva do Superior Tribunal de Justiça,
apreciar Recurso Especial fundado em decisão proferida em última ou única
instância, quando ela contrariar lei federal ou negar-lhe vigência.

Na hipótese em estudo, exatamente isso que ocorreu,


situação essa que converge ao exame deste Recurso Especial por esta Egrégia
Corte.

3.1. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

Verifica-se, mais, que o presente Recurso Especial é (a)


tempestivo, quando o foi ajuizado dentro do prazo previsto na legislação
processual civil (art. 1.003, § 5º), (b) a Recorrente tem legitimidade para interpor o
presente recurso e, mais, (c) há a regularidade formal desse.

Diga-se, mais, a decisão recorrida foi proferida em “última


instância”, não cabendo mais nenhum outro recurso na instância originária (STF,
Súmula 281).

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Por outro ângulo, a questão federal foi devida
prequestionada, quando essa foi expressamente ventilada, enfrentada e dirimida
pelo Tribunal de origem (STF, Súmula 282/356 e STJ, Súmula 211).

Outrossim, todos os fundamentos lançados no Acórdão


guerreado foram devidamente infirmados pelo presente recurso, não havendo a
incidência da Súmula 283 do STF.

Ademais, o debate trazido à baila não importa reexame de


provas, mas sim, ao revés, unicamente matéria de direito, não incorrendo,
portanto, com a regra ajustada na Súmula 07 desta Egrégia Corte.

3.2. INEXISTE PRETENSÃO DE REEXAME DE FATOS OU PROVAS

Não incidência da Súmula 07 do STJ

É necessário apontarmos argumentos no que concerne à


ausência de pretensão, na hipótese, de reexame de fatos ou provas.

É consabido que, a esta Corte, descabe revolver o acervo


probatório já delineado e minuciado no Tribunal de Origem (STJ, Súmula 07).
Restringe-se às questões de direito, bem sabemos, máxime por ser, com respeito
aos recursos, unicamente voltado àqueles de natureza extraordinária. É dizer, visa,
tão só, nessas hipóteses, revisar a correta aplicação do direito (CF, art. 105, inc.
III).

Todavia, importa ressaltar um quadrante de argumentos,


ocorridos neste processo, que, em princípio, possa aparentar reanálise de provas.
Não será esse o propósito, certamente.

O que se busca, aqui, é sanar uma inarredável falha, do


Tribunal de piso, do ensejo do acórdão guerreado, quando, equivocadamente, dera

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ao âmago das provas debatidas, uma qualificação jurídica desacertada. Desse
modo, os fatos e provas em espécie, a seguir explicitado, verdadeiramente
ocorreram, nos moldes do que constam da decisão hostilizada. Dessarte, trata-se
de exame de fatos, não reexame.

Nesse compasso, o acórdão vergastado revela incorreção


quando laborou na subsunção dos fatos à norma aplicada. Com efeito, nessas
circunstâncias, emerge inescusável necessidade de revaloração do fato
comprovado.

Por esse ângulo, por ter-se, na hipótese, o desígnio único


relativo à incorreta qualificação jurídica dos fatos, trata-se, por isso, de examinar-
se matéria de direito.

Assim, o exame a ser feito por esta Corte, neste apelo


nobre, quanto à caracterização do estado de hipossuficiência financeira, em face
do conteúdo probatório avaliado pelo acórdão guerreado. Assim, o Recorrente se
reporta ao indevido enquadramento legal feito pelo Tribunal turmário.

A propósito do tema, vejamos as lições de José Miguel


Garcia Medina, verbo ad verbum:

“IV. Questão unicamente de direito. A questão, de acordo com o art.


976, I, do CPC/2015, deve ser ‘unicamente de direito’. Rigorosamente,
nenhuma questão pode ser exclusivamente de direito; afinal, pensa-se na
construção de normas jurídicas para resolver problemas, e problemas
que ocorrem no plano dos fatos. É, até mesmo, difícil pensar-se em
norma jurídica sem se recorrer a um fato, ainda que hipotético. O que se
quer dizer, ao se exigir que a questão seja somente de direito, é que a
controvérsia diga respeito não ao modo como ocorreram os fatos, mas
apenas sobre como deve ser considerada a disposição legal, ou o

15
princípio, que servirá à solução controvérsia. “ (MEDINA, José Miguel
Garcia. Novo Código de Processo Civil comentado [livro eletrônico]. 2ª
Ed. São Paulo: RT, 2016. Epub. ISBN 978-85-203-6754-4)

De igual modo é o magistério de Teresa Arruda Alvim


Wambier:

“2.5 É matéria de direito a adequação da subsunção dos fatos à solução


normativa encontrada pelo juiz encontrada pelo juiz. A qualificação
jurídica dos fatos não é questão de fato, mas questão de direito, que,
como tal, sujeita-se ao controle dos Tribunais Superiores. “ (WAMBIER,
Teresa Arruda Alvim ... [et al.[ coordenadores. Primeiros comentários ao
novo Código de Processo Civil [livro eletrônico]. 2ª Ed. São Paulo: RT,
2016. Epub. ISBN 978-85-203-6758-2)

(destaques do texto original)

Não é demais trazer ao ensejo o que ensina Fredie Didier Jr:

“Possivelmente o critério de distinção preferível reside, então, na análise


de caso a caso, mediante percepção da necessidade de a decisão a ser
proferida pelas Cortes Superiores dizer se e como teriam ocorrido os
fatos e se e como teriam sido provados.

Nesta trilha, podemos afirmar que é possível às Cortes Superiores


conhecer dos fatos quando não se faça necessário o seu reexame, pelo
que, concordamos quando se diz que ‘os fatos são examinados pelos
tribunais superiores tal como descritos na decisão recorrida.

Isto porque, cabe aos Tribunais Superiores a adequação da subsunção


dos fatos – soberanamente decididos pela instância anterior – à norma, o

15
que permite, a revaloração da prova pelas instâncias superiores. “ (Didier
Jr, Fredie, [et al] coordenadores. Grandes temas do Novo CPC, v. 5:
Direito Probatório. – Salvador: Juspodivm, 2015, pp. 716-717)

(itálicos do texto original)

Com efeito, constata-se que não se trata de “ simples


reexame de provas”, como anuncia a Súmula em destaque. Aqui, sem sombra de
dúvidas é a hipótese de “revaloração da prova”.

Nesse exato enfoque salientamos, mais uma vez, os dizeres


de José Miguel Garcia Medina, o qual professa ad litteram:

“V. Questão de direito. Qualificação jurídica dos fatos. Distinção entre


reexame de prova e revaloração da prova. A petição de recurso deverá
conter ‘a exposição do fato e do direito’ (cf. art. 1.029, I, do CPC/2015).
Tanto a questão constitucional quanto a questão federal que serão
objeto de discussão constituem questões de direito, sendo estranha aos
recursos especial e extraordinário a discussão de controvérsias relativas a
fatos debatidos no processo (cf. Enunciado 279 do STF, e Enunciados 5 e
7 do STJ, nota supra). É também considerada questão de direito a
qualificação jurídica dos fatos, isso é, embora não se admita recurso
especial em que se discuta se determinado fato ocorreu, ou não
(reexame de prova), tal recurso é admitido, no entanto, quando não há
dúvida acerca da ocorrência de determinado fato, mas discute-se como
ele deve ser qualificado juridicamente (revaloração do fato provado).
Como se decidiu com acerto, ‘a redefinição do enquadramento jurídico
dos fatos expressamente mencionados no acórdão hostilizado constitui
mera revaloração da prova’, e não reexame de prova, que seria vedado

15
pelo Enunciado n. 7 da Súmula do STJ (STJ, AgRg no REsp 1.036.178/SP,
rel. Min. Marco Buzzi, 4ª T., j. 13.12.2011; a respeito, cf. o que
escrevemos em O prequestionamento ...cit., 1. Ed.,... “(MEDINA, José
Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil comentado [livro
eletrônico]. 2ª Ed. São Paulo: RT, 2016. Epub. ISBN 978-85-203-6754-4)

(destaques no texto original)

Esta Corte já se pronunciou acerca de pertinência da


interposição do recurso nobre em situação similar, ou seja, do exame da
revaloração das provas, verbo ad verbum:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. ART. 8º, §§ 1º, I, E 4º, I, DA LEI Nº
10.925/2004. CRÉDITO PRESUMIDO DE PIS E DA COFINS. ATIVIDADE QUE
SE DEVE ENQUADRAR NO CONCEITO DE PRODUÇÃO. CEREALISTA.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO AO CRÉDITO PRESUMIDO DE PIS E DA COFINS.
PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.

I. Agravo interno aviado contra decisão que julgara Recurso Especial


interposto contra acórdão publicado na vigência do CPC/2015.II. Na
origem, trata-se de Mandado de Segurança impetrado por contribuinte
que exerce a atividade de cerealista, sujeito ao regime não cumulativo da
contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, objetivando a declaração do
direito ao ressarcimento do crédito presumido, previsto no art. 8º, caput,
da Lei nº 10.925/2004 - assegurado aos produtores (pessoas jurídicas,
inclusive cooperativas) de mercadorias de origem animal ou vegetal,
destinadas à alimentação humana ou animal -, na proporção da receita
de exportação dos grãos a granel (soja, milho e trigo), no período de
janeiro de 2006 a dezembro de 2010, determinando-se que a autoridade

15
coatora "promova o ressarcimento à Impetrante dos créditos presumidos
de PIS e COFINS acumulados" no período. Denegada a segurança, pelo
Juízo de 1º Grau, o Tribunal de origem negou provimento à Apelação da
impetrante. No Recurso Especial a impetrante apontou contrariedade aos
arts. 8º, caput, § 1º, I, e § 4º, I, e 9º, I, da Lei nº 10.925/2004, 56-A da Lei
nº 12.350/2010, incluído pela Lei nº 12.431/2011, 30 e 31 da Lei nº
12.865/2013, e ao art. 8º, § 1º, I, da Lei nº 10.925/2004, com a alteração
da Lei nº 11.196/2005. Na decisão agravada o Recurso Especial foi
improvido, ensejando a interposição do presente Agravo interno, pela
impetrante. III. Inaplicabilidade do óbice da Súmula nº 7/STJ, no caso,
pois a solução da controvérsia requer simples revaloração jurídica dos
fatos incontroversos, Superior Tribunal de Justiça delineados pelas
instâncias ordinárias, que foram categóricas ao afirmar que as atividades
exercidas pela impetrante, objeto de análise, para fins do creditamento
em questão, consistem apenas em limpeza, secagem, classificação e
armazenagem de grãos in natura de origem vegetal. lV. A Segunda Turma
do STJ, ao julgar o RESP 1.667.214/PR e o RESP 1.670.777/RS, por
maioria, concluiu que, da leitura do art. 8º, § 1º, I, e § 4º, I, da Lei nº
10.925/2004, depreende-se que "(a) têm direito ao crédito presumido de
PIS/PASEP e COFINS as pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que
produzam mercadorias a partir de grãos de soja, milho e trigo adquiridos
de pessoa física, cooperado pessoa física ou cerealista, e que (b) os
cerealistas não têm direito ao crédito presumido". Assentou, ainda, que,
"para fazer jus ao benefício fiscal, a sociedade interessada deve produzir
mercadorias, ou seja, deve realizar processo de industrialização a partir
de grãos de soja, milho e trigo adquiridos de pessoa física, cooperado
pessoa física ou cerealista, transformando-os em outros" (STJ, RESP
1.667.214/PR e RESP 1.670.777/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 03/02/2020). Em igual sentido: STJ, AREsp

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1.459.621/PR, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
DJe de 25/05/2020; AgInt no RESP 1.817.703/PR, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 09/09/2020; AgInt nos EDCL no
RESP 1.691.639/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 24/09/2020; AgInt no RESP 1.715.644/RS, Rel.
Ministro Francisco FALCÃO, SEGUNDA TURMA, DJe de 17/11/2020. V.
Para fins de aplicação dos aludidos precedentes, é desimportante o fato
de serem os grãos destinados à exportação. Com efeito, se, de um lado,
as operações de saída para o mercado interno beneficiam-se da
suspensão da incidência da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS,
prevista no art. 9º da Lei nº 10.925/2004, por outro, as operações de
saída para o mercado externo gozam de imunidade, nos termos do art.
149, § 2º, I, da Constituição Federal. É dizer, em ambas as hipóteses, as
operações de saída, realizadas pelo cerealista, não serão tributadas. VI. A
análise dos fatos delineados pelo Tribunal a quo denota que as atividades
desenvolvidas pela recorrente - limpeza, secagem, classificação e
armazenagem de grãos in natura de origem vegetal - não ocasionam
transformação do produto, enquadrando a impetrante, no que respeita a
tais atividades, na qualidade de mera cerealista e atraindo a vedação de
aproveitamento de crédito a que se refere o inciso I do § 4º do art. 8º da
Lei nº 10.925/2004.VI. Agravo interno improvido. Superior Tribunal de
Justiça (STJ; AgInt-EDcl-REsp 1.772.536; Proc. 2018/0263993-2; RS;
Segunda Turma; Relª Min. Assusete Magalhães; Julg. 08/02/2021; DJE
11/02/2021)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE


VULNERÁVEL. CONTINUIDADE DELITIVA. QUANTUM DE AUMENTO.
REEXAME DE PROVA. DESNECESSIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO.

15
1. Inicialmente, cumpre destacar que o exame da controvérsia prescinde
do reexame de provas, sendo suficiente a mera revaloração de fatos
incontroversos, expressamente descritos na sentença e no acórdão
recorrido. Portanto, não há falar em contrariedade ao que dispõe o
enunciado da Súmula nº 7 desta Corte. 2. Com efeito, a partir da mera
leitura dos elementos expressamente delineados no acórdão objurgado,
é possível aferir o equívoco cometido pelo Tribunal de origem, que
reformou a sentença de primeiro grau de jurisdição, para aplicar o
percentual mínimo de aumento da reprimenda, prevista no art. 71 do
Código Penal. 3. Sobre o tema, o entendimento pacificado neste Superior
Tribunal de Justiça é firme no sentido de que, "aplica-se a fração de
aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4
para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7
ou mais infrações" (RESP 1.699.051/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 24/10/2017, DJe 6/11/2017). 4.
Ressalte-se, ainda, que nos crimes sexuais envolvendo vulneráveis, torna-
se bastante complexa a prova do exato número de crimes cometidos.
Todavia, o contexto apresentado nos presentes autos, evidencia que o
acusado manteve relações sexuais com a vulnerável, por incontáveis
vezes, por um período de 2 (dois) anos, sendo impossível precisar a
quantidade de conjunções carnais e atos libidinosos praticados,
imprecisão esta que não deve levar o aumento da pena ao patamar
mínimo, diante da patente desproporcionalidade e vulneração da
individualização da pena. Por conseguinte, nesse contexto, a exasperação
da pena na fração máxima de 2/3 pela continuidade delitiva é de rigor. 5.
Agravo regimental não provido. (STJ; AgRg-REsp 1.880.036; Proc.
2020/0147004-7; PR; Quinta Turma; Rel. Min. Ribeiro Dantas; Julg.
09/12/2020; DJE 14/12/2020)

3.3. VIOLAÇÃO DE NORMA FEDERAL

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3.3.1. Estado de hipossuficiência comprovado – Valoração equivocada da prova

Antes de tudo, urge asseverar que a Lei nº 1.060/50, até


então principal legislação correspondente a regular os benefícios da justiça
gratuita, apesar da vigência do novo CPC, ainda permanecem em vigor, embora
parcialmente.

Disciplina a Legislação Adjetiva Civil, in verbis:

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


Art. 1.072 - Revogam-se:
(...)
III - os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei no 1.060, de 5 de
fevereiro de 1950;

Nesse compasso, com a vigência do CPC, há apenas


uma revogação limitada, a saber:

“5. A Lei 1.060/1950. Até a edição do CPC/2015, a Lei 1.060/1960


constituía a principal base normativa do benefício da justiça gratuita. Essa
lei não foi completamente revogada pelo CPC/2015, sobretudo porque
há nela disposições que se relacionam à assistência judiciária. “ (Teresa
Arruda Alvim Wambier ... [et. al.], coordenadores. Breves comentários ao
Novo Código de Processo Civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 355)

No caso em tela, não se vislumbra qualquer indício de boa


situação financeira do Recorrente.

Como afirmado alhures, o Recorrente acostara pesquisa


feita junto à Serasa, a qual atesta que contra essa pesam mais de 5 (cinco)

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protestos e, mais, 3 (três) anotações junto ao Serviço de Proteção ao Crédito.
Outrossim, vê-se que a remuneração mensal do Recorrente é, tão só, o
equivalente 2(dois) salários-mínimos. Ademais, os extratos bancários, todos
acostados, também demonstram saldo negativo há mais de 6(seis) meses e, além
do mais, revelam que ele se utilizou do cheque especial e crédito direto ao
consumidor (CDC).

Não é crível que crível tenha se apoiado, unicamente, no


montante financeiro percebido pelo Recorrente como incompatível com o estado
de insuficiência financeira, na forma do que rege o art. 98 da Legislação Adjetiva
Civil.

Na realidade, o acesso ao Judiciário é amplo, voltado


também às pessoas hipossuficientes financeiramente. O Recorrente, como visto
acima, demonstrou sua total carência econômica, de modo que se encontra
impedido de arcar as custas e despesas processuais.

De outro compasso, é inarredável que a decisão atacada é


carente de fundamentação. Assim, far-se-ia necessária a indicação precisa da
irrelevância dos documentos afirmados como indicativos da hipossuficiência (CPC,
art. 99, § 2º c/c art. 5º, caput, da Lei 1.060/50). Assim não o fez.

Ao contrário disso, sob pena de ferir-se princípios


constitucionais, como os da razoabilidade e o da proporcionalidade, a restrição de
direitos deve ser vista com bastante cautela.

Nesse diapasão, o Tribunal de piso tão somente poderia


indeferir o pedido quando absolutamente seguro de que a parte, em verdade, teria
condições de arcar com as custas e despesas judiciais.

Ao invés do entendimento em testilha, às veras, quando


alegada pela parte, existe uma presunção legal de insuficiência financeira em

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benefício da mesma (CPC, art. 99, § 3°). Nesse passo, sem dúvidas a decisão
guerreada buscara inverter esse gozo, previsto em lei processual. É dizer, o
julgador, seguramente, com a devida vênia, não fizera distinção entre a
miserabilidade jurídica e a insuficiência material ou indigência.

A corroborar o exposto acima, urge transcrever o magistério


de Daniel Assumpção Neves:

“A presunção de veracidade da alegação de insuficiência, apesar de


limitada à pessoa natural, continua a ser a regra para a concessão do
benefício da gratuidade da justiça. O juiz, entretanto, não está vinculado
de forma obrigatória a essa presunção nem depende de manifestação da
parte contrária para afastá-la no caso concreto, desde que existam nos
autos ao menos indícios do abuso do pedido de concessão da
assistência judiciária. “ (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código
de Processo Civil – Lei 13.105/2015. – Rio de Janeiro: Método, 2015, p.
106)
(os destaques são nossos)

Com efeito, a extensa prova documental, sobremaneira a


remuneração mensal ínfima percebida pelo Recorrente, sobejamente, permite
superar quaisquer argumentos pela ausência de pobreza, na acepção jurídica do
termo. É indissociável a existência de todos os requisitos legais à concessão da
gratuidade da justiça.

4. RAZÕES DO PEDIDO DE REFORMA DA DECISÃO (CPC, ART. 1.029, III)

Por tais fundamentos, entendemos que a decisão deva ser


reformada, posto que:

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a) o Tribunal a quo não valorara com acerto a prova documental em
discussão;

b) a remuneração percebida pelo Recorrente, decerto, não aponta,


nem de longe, à capacidade financeira de arcar com as despesas
processuais.

5. PEDIDOS e REQUERIMENTOS

Em suma, a decisão guerreada, na parte citada em linhas


anteriores, concessa venia, merece ser recorrida e reformada, no qual, por conta
disso, postula-se que:

a) seja conhecido e provido o presente Recurso Especial,


acolhendo-o por violação do artigo 99 da Legislação
Adjetiva Civil, proferindo-se nova decisão de sorte a
conceder ao Recorrente os benefícios da gratuidade da
justiça, em toda sua extensão, determinando-se, por
conseguinte, o regular processamento do feito originário.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de julho de 0000.

Beltrano de Tal
Advogado – OAB 112233

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