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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.104.007 - PR (2008/0272949-5)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ


AGRAVANTE : HENRIQUE FAUDON HENRIQUE
ADVOGADO : DAVID RODRIGUES ALFREDO JÚNIOR
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME
CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. GESTÃO
FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA: ART. 4.º DA LEI N.º
7.492/86. ALEGADA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA
DE SIMILITUDE FÁTICA ENTRE OS JULGADOS RECORRIDO E
PARADIGMA. ARGUIDA OFENSA AOS ARTS. 381, INCISO III, E 619 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. OMISSÕES NÃO CONFIGURADAS.
SUJEITO ATIVO DO CRIME DO ART. 4.º DA REFERIDA LEI. GERENTE
DE AGÊNCIA BANCÁRIA. POSSIBILIDADE, NO CASO. PODERES
REAIS DE GESTÃO. SÚMULA N.º 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. De acordo com o art. 557, caput, do Código de Processo Civil, c.c. o
art. 3.º do Código de Processo Penal, é possível que o Relator negue seguimento
ao recurso, com fundamento na jurisprudência dominante, de forma monocrática,
o que não ofende o princípio da colegialidade.
2. Quanto à arguida divergência jurisprudencial, não há similitude fática
entre os julgados. O acórdão paradigma abarca a tese de que o gerente de
agência bancária não comete o crime de gestão fraudulenta "pelo fato de alguns
clientes não terem honrado os compromissos comerciais assumidos". O
aresto paradigma, diversamente, julgou que o Agravante cometeu o crime do art.
4.º da Lei n.º 7.492/86 ao privilegiar os demais Réus na obtenção de
financiamentos bancários mediante fraude, consubstanciada na rolagem de dívida
por intermédio de desconto de duplicatas simuladas, de forma sucessiva, as quais
não correspondiam a efetivas operações comerciais.
3. A contrariedade aos arts. 381, inciso III, e 619 do Código de Processo
Penal não subsiste, porquanto o acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris
de maneira clara e coerente, apresentando todas as razões que firmaram o seu
convencimento.
4. Esta Corte Superior de Justiça reconheceu a possibilidade de o
gerente de uma agência bancária ser sujeito ativo do crime do art. 4.º da Lei n.º
7.492/86, que se trata de crime próprio, quando o Acusado tiver poderes reais de
gestão.
5. No caso, o Tribunal a quo entendeu comprovado que o Agravante, na
qualidade de gerente-geral, concedia empréstimos mediante meios fraudulentos.
Foi constatado que "geralmente as autorizações eram de competência de um
comitê, porém o denunciado Henrique acabou por destituir o comitê ali na
agência Cambé, assumindo para si a responsabilidade das operações, a tal
ponto que nenhuma das operações foi efetivada senão através de sua e
somente sua autorização".
6. Ainda, rever esse entendimento implica em reexame de todo o
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conjunto fático-probatório, o que não se coaduna com a via eleita, em face do
óbice da Súmula n.º 7 do Superior Tribunal de Justiça.
7. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA


TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a
seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Napoleão
Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ/RJ)
votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

Brasília (DF), 19 de maio de 2011 (Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.104.007 - PR (2008/0272949-5)

AGRAVANTE : HENRIQUE FAUDON HENRIQUE


ADVOGADO : DAVID RODRIGUES ALFREDO JÚNIOR
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de agravo regimental no recurso especial interposto por HENRIQUE
FAUDON HENRIQUE, em face de decisão de minha lavra ementada nos seguintes termos,
litteris:
"RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMA
FINANCEIRO NACIONAL. GESTÃO FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA: ART. 4.º DA LEI N.º 7.492/86. ALEGADA DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA ENTRE OS
JULGADOS RECORRIDO E PARADIGMA. ARGUIDA OFENSA AOS ARTS.
381, INCISO III, E 619 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. OMISSÕES
NÃO CONFIGURADAS. SUJEITO ATIVO DO CRIME DO ART. 4.º DA
REFERIDA LEI. GERENTE DE AGÊNCIA BANCÁRIA. POSSIBILIDADE, NO
CASO. PODERES REAIS DE GESTÃO. SÚMULA N.º 07 DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO." (fl.
1551)

Em suas razões, sustenta o Agravante ofensa aos princípios da colegialidade e do


juiz natural, alegando que a matéria deveria ter sido submetida necessariamente ao órgão
colegiado, em cumprimento ao disposto no art. 5.º, incisos XXXVII e LIII, da Constituição
Federal e no art. 557 do Código de Processo Civil.
Argúi que, ao contrário no disposto na decisão agravada, o recurso deve ser
conhecido pela alínea c do permissivo constitucional, tendo em vista que há similitude fática entre
os arestos recorrido e paradigma. Assevera que eles tratam da mesma questão jurídica, qual seja,
a capacidade geral e abstrata de o gerente de agência bancária ser sujeito ativo do crime do art.
4.º da Lei n.º 7.492/86.
Argumenta que o acórdão recorrido violou os arts. 381, inciso III, e 619 do Código
de Processo Penal, por falta de análise de teses defensivas relativas à valoração das provas
produzidas nos autos.
Reitera a alegada contrariedade ao art. 4.º da Lei n.º 7.492/86, sob o argumento
de que a jurisprudência dominante deste Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que o
gerente de agência bancária não pode ser sujeito ativo do crime de gestão fraudulenta. Aduz

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também que a pretensão recursal não esbarra no óbice contido no verbete sumular n.º 7 deste
Superior Tribunal de Justiça.
Assim, requer a reconsideração da decisão agravada ou a remessa dos autos para
a Quinta Turma, para que se dê seguimento ao recurso especial.
É o relatório.

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EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME
CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. GESTÃO
FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA: ART. 4.º DA LEI N.º
7.492/86. ALEGADA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA
DE SIMILITUDE FÁTICA ENTRE OS JULGADOS RECORRIDO E
PARADIGMA. ARGUIDA OFENSA AOS ARTS. 381, INCISO III, E 619 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. OMISSÕES NÃO CONFIGURADAS.
SUJEITO ATIVO DO CRIME DO ART. 4.º DA REFERIDA LEI. GERENTE
DE AGÊNCIA BANCÁRIA. POSSIBILIDADE, NO CASO. PODERES
REAIS DE GESTÃO. SÚMULA N.º 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. De acordo com o art. 557, caput, do Código de Processo Civil, c.c. o
art. 3.º do Código de Processo Penal, é possível que o Relator negue seguimento
ao recurso, com fundamento na jurisprudência dominante, de forma monocrática,
o que não ofende o princípio da colegialidade.
2. Quanto à arguida divergência jurisprudencial, não há similitude fática
entre os julgados. O acórdão paradigma abarca a tese de que o gerente de
agência bancária não comete o crime de gestão fraudulenta "pelo fato de alguns
clientes não terem honrado os compromissos comerciais assumidos". O
aresto paradigma, diversamente, julgou que o Agravante cometeu o crime do art.
4.º da Lei n.º 7.492/86 ao privilegiar os demais Réus na obtenção de
financiamentos bancários mediante fraude, consubstanciada na rolagem de dívida
por intermédio de desconto de duplicatas simuladas, de forma sucessiva, as quais
não correspondiam a efetivas operações comerciais.
3. A contrariedade aos arts. 381, inciso III, e 619 do Código de Processo
Penal não subsiste, porquanto o acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris
de maneira clara e coerente, apresentando todas as razões que firmaram o seu
convencimento.
4. Esta Corte Superior de Justiça reconheceu a possibilidade de o
gerente de uma agência bancária ser sujeito ativo do crime do art. 4.º da Lei n.º
7.492/86, que se trata de crime próprio, quando o Acusado tiver poderes reais de
gestão.
5. No caso, o Tribunal a quo entendeu comprovado que o Agravante, na
qualidade de gerente-geral, concedia empréstimos mediante meios fraudulentos.
Foi constatado que "geralmente as autorizações eram de competência de um
comitê, porém o denunciado Henrique acabou por destituir o comitê ali na
agência Cambé, assumindo para si a responsabilidade das operações, a tal
ponto que nenhuma das operações foi efetivada senão através de sua e
somente sua autorização".
6. Ainda, rever esse entendimento implica em reexame de todo o
conjunto fático-probatório, o que não se coaduna com a via eleita, em face do
óbice da Súmula n.º 7 do Superior Tribunal de Justiça.
7. Agravo regimental desprovido.

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VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):


A primeira insurgência do Agravante refere-se ao julgamento do recurso especial
por meio de decisão monocrática, alegando desrespeito ao princípio da colegialidade.
Com o intuito de gerar celeridade nas decisões proferidas no âmbito dos Tribunais,
foi reformulada a redação do art. 557 do Código de Processo Civil, possibilitando ao Relator
negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em
confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo Tribunal, do Supremo
Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, e já na redação do § 1.º-A do art. 557 do referido
estatuto, é facultado ao relator dar provimento de forma monocrática.
Aliás, vale destacar as palavras do i. Ministro Athos Gusmão Carneiro acerca do
tema, "a ampliação dos poderes do relator parte inclusive de uma constatação prática: na
grande maioria das vezes, o voto do relator revela-se como o condutor do colegiado, em
solução de consenso; assim, de todo razoável confiar desde logo o julgamento do recurso
apenas ao relator, quando as circunstâncias da causa a este manifestamente permitam
uma 'certeza serena' sobre qual a justa composição da lide, ou quando se dispuser a
julgar consoante a jurisprudência firme de seus pares ou de tribunal superior. Quando
menos no Superior Tribunal de Justiça, a inovação está cumprindo seu alto propósito"
(CARNEIRO, Athos Gusmão. Podres do relator e agravo interno - arts. 557, 544 e 545 do CPC.
Revista de Processo, ano 25, n.º 100, outubro-dezembro de 2000, Revista dos Tribunais, p. 32).
O intuito dessas alterações no Código de Processo Civil, ao ampliar os poderes do
Relator, foi contribuir para que, com fundamento na jurisprudência dominante, se possa reduzir a
grande quantidade de processos existente nos Tribunais, sem ofender o princípio da colegialidade.
Na verdade, a pretensão é submeter aos órgãos colegiados apenas questões ainda não
pacificadas.
Nesse sentido:
"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROCESSO
PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. ARTS. 557, CAPUT,
DO CPC; E 3º, DO CPP. DECISÃO MONOCRÁTICA. LEGALIDADE.
SURSIS PROCESSUAL. DECURSO DO PRAZO DE 02 ANOS. NÃO
CUMPRIMENTO DE TODAS AS CONDIÇÕES. REVOGAÇÃO DO
BENEFÍCIO. POSSIBILIDADE. RESSALVADO O ENTENDIMENTO DO
RELATOR.
1. O julgamento monocrático firmado em precedentes deste
Tribunal obsta suposta violação ao ordenamento jurídico pátrio (arts. 3º, do
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CPP; e 557, § 1º, do CPC).
2. Em essência, a controvérsia circunvolve-se ao término do
período de prova sem revogação do sursis processual não induzir,
necessariamente, à decretação da extinção da punibilidade delitiva, a qual
somente tem lugar após certificado que o acusado não foi processado por
outro crime no curso do prazo ou não efetuou, sem motivo justificado, a
reparação do dano (art. 89 da Lei n. 9.099, de 26/09/1995).
3. Sigo, assim, a corrente jurisprudencial francamente favorável à
tese adotada no recurso especial, mas deixo consignado meu entendimento
pessoal, em relação à inadmissão da revogação do sursis processual depois
de expirado o período de prova, que é a condição exigida pelo art. 89, §
5º, da Lei n. 9.099/95 para a extinção da punibilidade, in casu.
4. O agravo regimental não merece prosperar, porquanto as razões
reunidas na insurgência são incapazes de infirmar o entendimento
assentado na decisão agravada.
5. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no REsp
1112970/RS, 6.ª Turma, Rel. Min. CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/SP), DJe de 21/02/2011.)
"AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DECISÃO
MONOCRÁTICA DO RELATOR QUANTO AO MÉRITO. ARTIGO 557, §
1º-A, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. APLICAÇÃO ANALÓGICA NOS
TERMOS DO ARTIGO 3º DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PRAZO
RECURSAL. APELAÇÃO. TERMO INICIAL. INTIMAÇÃO. CARTA
PRECATÓRIA. SÚMULA Nº 710/STF.
1 - A Sexta Turma desta Corte Superior de Justiça já decidiu que
“o julgamento monocrático, com fundamento em precedentes de uma das
Turmas integrantes da Terceira Seção desta Corte, não viola o disposto no
art. 557, § 1º, do Código de Processo Civil, ou o art. 38 da Lei nº 8.038/90”
(AgRg no Resp nº 1.163.453/RS, Relator o Ministro Og Fernandes, DJe de
1º/3/2010).
2 - 'No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e
não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.'
(Súmula nº 710 do Supremo Tribunal Federal) 3 - Agravo regimental a que
se nega provimento." (AgRg no REsp 1185780/MA, 6.ª Turma, Rel. Min.
HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/CE), DJe de 25/10/2010.)
"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL.
CRIME DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. VIOLÊNCIA PRESUMIDA.
NATUREZA ABSOLUTA. CONSENTIMENTO E CONSCIÊNCIA DA VÍTIMA
COM RELAÇÃO AOS ATOS. IRRELEVÂNCIA. AGRAVO DESPROVIDO.
1. De acordo com o art. 557, caput, do Código de Processo Civil,
c.c. o art. 3.º do Código de Processo Penal, é possível que o Relator negue
seguimento ao recurso, com fundamento na jurisprudência dominante, de
forma monocrática, o que não ofende o princípio da colegialidade.
2. A violência presumida, prevista no art. 224, alínea a, do Código
Penal, tem caráter absoluto, afigurando-se como instrumento legal de
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proteção à liberdade sexual do menor de 14 anos, em razão de sua
incapacidade volitiva.
3. O consentimento ou a eventual experiência sexual pretérita da
menor de 14 anos são irrelevantes para a formação do tipo penal do
estupro ou atentado violento ao pudor, pois a proibição legal é no sentido
de coibir qualquer prática sexual com pessoa nessa faixa etária.
4. Agravo regimental desprovido." (AgRg no REsp 871.603/SC, 5.ª
Turma, Rel. Min. LAURITA VAZ, DJe de 13/09/2010; sem grifo no original.)
"PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
PROVIDO POR DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR. ART. 557, § 1º,
DO CPC C.C. 3º DO CPP. ART. 38 DA LEI 8.038/90. POSSIBILIDADE. EC
45/04. CELERIDADE PROCESSUAL. DECISÃO RATIFICADA.
1. Em princípio, não viola o princípio da colegialidade o
julgamento monocrático proferido pelo relator que dá provimento ao
recurso, nos termos do art. 557, § 1º, do CPC c.c. 3º do CPP e art. 38 da Lei
8.038/90, quando a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com
súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de
Tribunal Superior.
2. A Emenda Constitucional 45/04 preconiza que 'a todos, no
âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação',
especialmente, nas hipóteses adequadas a decisão monocrática.
3. Determinado o retorno dos autos ao Tribunal de Justiça de
Minas Gerais para o redimensionamento da pena aplicada ao recorrido,
como entender de direito, ratificando a decisão de fls. 356/359, pelos seus
próprios fundamentos." (REsp 902.665/MG, 5.ª Turma, Rel. Min. ARNALDO
ESTEVES LIMA, DJe de 03/08/2009.)

Quanto aos demais argumentos, cumpre transcrever os fundamentos da decisão


agravada:
"Quanto ao alegado dissenso pretoriano, não há similitude fática
entre o aresto recorrido e o apontado como paradigma. Nas razões do
recurso especial, o Recorrente aponta o seguinte trecho da apelação
criminal n.º 1998.01.00.014560-5/DF, julgada pelo Tribunal Regional
Federal da Primeira Região, como caracterizador da controvérsia:
"Gerir com temeridade uma instituição, conduta tipificada
na lei, significa submetê-la a riscos anormais, desnecessários, que
extrapolam aquele comum e inerente às operações financeiras e
bancárias. Nesse contexto, não me parece razoável imputar-se ao
gerente de uma agência delito de gestão temerária de instituição
financeira pelo fato de alguns clientes não terem honrado os
compromissos comerciais assumidos. A prevalecer esse
entendimento, todos os gerentes bancários terão praticado o crime
quando algum cliente não pagar os empréstimos obtidos.
Se a Lei 7.492/86 procura proteger não a instituição
financeira isoladamente, mas o sistema financeiro, a gestão

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temerária é incriminada não pelo risco que representa para a
própria instituição, mas pela interferência nociva que tem no
sistema financeiro. Desse modo, a má condução dos negócios de
uma instituição, a eventual inoperância ou incompetência de seus
administradores não se enquadram na figura penal em questão se
não resultarem ao mesmo tempo em risco para a instituição, capaz
de ameaças sua própria existência e, em conseqüência, a
normalidade do mercado financeiro e que eles tenham agido com
dolo.
Para isso necessário, antes de mais nada, que o sujeito
ativo tenha poderes de administração suficientes para determinar
os destinos da companhia, perfil em que não se enquadra o gerente
de agência bancária. Com efeito, por mais autonomia operacional
que tenha o gerente, seus poderes limitam-se à própria agência e
para determinadas operações, sem repercussão na instituição
financeira, sujeita a outra esfera de administração." (fl. 1466; sem
grifo no original.)

Por outro lado, os presentes autos tratam de situação totalmente


diversa, na medida em que o crime de gestão fraudulenta foi praticado pelo
Recorrente ao privilegiar os demais Réus na obtenção de financiamentos
bancários mediante fraude, consubstanciada na rolagem de dívida por
intermédio de desconto de duplicatas simuladas, de forma sucessiva, as
quais não correspondiam a efetivas operações comerciais. O Tribunal a quo
consignou que "face a tais irregularidades, inadequado supor que
HENRIQUE perpetrasse essas condutas sem estar ciente do seu caráter
fraudulento e criminoso" (fl. 1330).
Confira-se a narrativa dos fatos, conforme a denúncia, que
demonstram a diversidade fática entre as hipóteses confrontadas:
"Consta do inquérito policial n.º 194/96, distribuído sob o
n.º 96.2012142-2, que o indiciado Henrique Faudon Henrique,
ex-gerente geral do BANESTADO - BANCO DO ESTADO DO
PARANÁ - Agência Cambé-PR, geriu fraudulentamente a referida
instituição, em face de ter favorecido irregularmente os indiciados
Cláudia Sestário, Rita de Cácia da Silva Sestário, Antonio Marcos
da Silva, Manoel Francisco da Silva e Carlos Antonio da Silva, que,
ao seu turno, obtiveram, mediante fraude, financiamentos oriundos
daquela agência bancária, inobstante não preencherem os
requisitos exigidos.
Consta que as acusadas Cláudia Sestário e Rita de Cácia
da Silva Sestário, sócias-proprietárias da empresa SESTÁRIO &
CIA. LTDA., situada na cidade de Cambé-PR, emitiram, a partir de
maio de 1995, inúmeras duplicatas sem origem mercantil, na
maioria das vezes sacadas contra a empresa TRANSPORTADORA
RODOSEMPRE LTDA., empresa esta coligada à supra mencionada
através da indiciada Rita de Cácia. Tais duplicatas foram
descontadas e redescontadas no BANESTADO - Agência
Cambé-PR, mediante autorização do então gerente Henrique
Faudon Henrique, caracterizando a conhecida 'rolagem de dívida'.
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Constata-se, através do procedimento administrativo
(apenso), que os descontos de duplicatas efetuados pela empresa
SESTÁRlO & CIA. LTDA. nos meses 07/95, 08/95, 09/95 e 10/95
foram superiores ao próprio faturamento, considerando que o valor
das duplicatas descontadas alcançou a cifra de R$ 121.480,86 em
julho/95, enquanto que o faturamento foi de R$ 30.854,58; no mês
de agosto/95 descontaram R$ 163.650,00 em duplicatas e
faturaram apenas R$ 58.764,85; em setembro os descontos foram
de R$ 82.350,00 e o faturamento se restringiu a R$ 51.826,30, o
mesmo acontecendo em outubro/95, com descontos de R$
136.000,00 em duplicatas, enquanto o faturamento não ultrapassou
R$ 49.583,98.
Por outro lado, os indiciados Antonio Marcos da Silva,
Manoel Francisco da Silva e Carlos Antonio da Silva (os dois
primeiros funcionários da Transportadora Rodosempre Ltda.),
todos da mesma família, em conluio com as proprietárias da
empresa Sestário & Cia. Ltda. e com o ex-gerente do BANEST ADO
- Agência Cambé-Pr., obtiveram financiamento, através de Leasing,
de um veículo semi-reboque, de cor branca, marca A Guerra,
modelo graneleiro, placas ADW 5097, o qual também foi concedido
sem a observância do regulamento da instituição e em prejuízo
desta, uma vez que tais pessoas não possuíam crédito disponível
para tal operação.
Ademais, Antonio Marcos, Manoel Francisco e Carlos
Antonio figuraram, reiteradamente, como sacados nas duplicatas
sem origem mercantil, descontadas pela empresa Sestário & Cia.
Ltda., participando. dolosamente na materialização do ilícito penal.
Verifica-se, ainda, que as, operações irregulares
causaram, a princípio, um prejuízo de aproximadamente R$
20.000.000,00 (vinte milhões de reais) ao BANESTADO (fls. 18
e.21).
Pode-se inferir, assim, que o indiciado HENRIQUE
FAUD0N HENRIQUE, através de sua. conduta, se fez incurso nas
sanções do art. 4.° da Lei n.º 7.492/86, enquanto que os indiciados
CLÁUDIA SEST ÁRIO, RITA DE CÁCIA DA SILVA SESTÁRIO,
ANTONIO MARCOS DA SILVA, MANOEL FRANCISCO DA SILVA e
CARLOS ANTONIO DA SILVA, em face de suas respectivas
atuações, incursaram-se nas penas do art. 19 do mesmo Diploma
Legal, tudo combinado com o art. 29 do Código Penal Brasileiro,
razão pela qual o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer, após o
recebimento da presente ação, sejam citados os acusados para
responderem ao devido processo penal, que tramitará até final
sentença condenatória." (fls. 03/07)

Com relação às arguidas violações à lei federal, o Recorrente


sustenta, em primeiro lugar, omissão no acórdão proferido nos embargos
infringentes e de nulidade, sob o argumento de que não foram apresentados
os motivos de fato e de direito que levaram o Tribunal a quo a entender que
o Recorrente "teria causado prejuízos ao Sistema Financeiro Nacional e
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não apenas à instituição financeira à qual era vinculado" (fl. 1464).
No entanto, da leitura do referido aresto, é possível verificar que o
Tribunal de origem fundamentou exaustivamente a rejeição dessa tese,
conforme se constata do dos excertos a seguir transcritos:
"Sustenta a prevalência do voto divergente, no sentido de
ser reconhecida a atipicidade objetiva da conduta, por ausência de
capacidade concreta de gestão de instituição financeira por parte
de gerente de agência bancária ou, alternativamente, que seja
desclassificada a conduta para o art. 171 do Código Penal.
Nestes termos, acerca da possibilidade de mero gerente ser
sujeito ativo do delito previsto no art. 4º da Lei n° 7.492/86, em que
pesem as respeitáveis opiniões em sentido contrário, firmou-se o
entendimento da 4ª Seção desta Corte, de que 'é sujeito ativo do
delito de gestão fraudulenta (art. 4º da Lei 7.492/86) o gerente de
agência bancária que, com sua conduta, lesiona a saúde da
instituição financeira e, conseqüentemente, do sistema financeiro
como um todo, não se exigindo qualquer participação na
administração superior da entidade.' (ACr nº
2001.04.01.004003-5/PR, Relator p/ o Acórdão Des. Tadaaqui
Hirose, julg. em 18.04.2005, public. no DJU em 1º/06/2005).
Por oportuno, transcrevo trecho do voto proferido,
naquele julgamento, pelo eminente Des. Federal Néfi Cordeiro,
bastante elucidativo a respeito da matéria:
'A Lei nº 7.492/86 surge como forma de proteção
penal à poupança popular e à credibilidade nas
pertinentes instituições. Justamente pela clara intenção de
mais amplamente atingir seus objetivos, foi pródiga a
norma legal na previsão de tipos penais de conduta
múltipla e de variados sujeitos ativos. Assim é que já em
seu art. 1º trouxe a mais ampla definição possível de
instituição financeira: qualquer pessoa que realize a
captação de recursos de terceiros, mesmo eventualmente.
Por esse mesmo sentido de proteção ampla ao dinheiro de
terceiros, previu em seu art. 25: 'São penalmente
responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os
administradores de instituição financeira, assim
considerados os diretores, gerentes (Vetado). § 1º
Equiparam-se aos administradores de instituição financeira
(Vetado) o interventor, o liquidante ou o síndico.' Dessa
forma, pretendeu a norma legal dar maior alcance penal
aos fatos que pudessem atingir dinheiro dos populares ou
a credibilidade nas instituições pertinentes. Nesse prisma,
deve ser examinado o tipo penal do art. 4º: 'Gerir
fraudulentamente instituição financeira: Pena - Reclusão,
de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.' Ou seja, como a
gestão com fraude da instituição traz diretos reflexos à
credibilidade das instituições de crédito (como confiar em
instituição que frauda?) e ao dinheiro de terceiros (pela
denegação de verbas aos não protegidos, ou mesmo
Documento: 1063260 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/06/2011 Página 11 de 4
Superior Tribunal de Justiça
indiretamente, com o prejuízo da instituição e conseqüente
impossibilidade de correta remuneração do dinheiro dos
populares), todos os atos de fraude documental na
administração da empresa de crédito devem se considerar
abrangidos pelo tipo penal. Quanto ao sujeito ativo, além
da amplitude determinada expressamente pelo mencionado
art. 25, deve-se ter em conta que a proteção à instituição
deve dar-se de forma ampla, impedindo que quaisquer de
seus vários gestores - locais ou centralizados - possam
causar os danos mencionados à credibilidade da
instituição ou ao dinheiro de terceiros. Pode ser autor do
crime, pois, não só a Presidência ou Diretoria Centralizada
do órgão financeiro, como todo aquele que possua poder
decisório (de opções de agir). Somente poderá ser excluído
como sujeito ativo da gestão fraudulenta quem realmente
não possa optar entre condutas administrativas típicas da
instituição financeira. Os gerentes de banco normalmente
possuem carga decisória e não podem ser tidos como
simples empregados. Têm opção de administrar, de agir,
como ao decidir sobre a concessão (empréstimos, abertura
de contas...) ou manipulação (troca de titulares das contas
ou de avalistas....) do dinheiro de terceiros, bem como no
registro de operações bancárias ou no tratamento
injustificadamente preferencial de clientes. Claro que não
irão os gerentes de agência definir os rumos globais da
instituição, mas sim conduzir a instituição em menor
proporção, a instituição localizada. Poderão conceder
empréstimos indevidos, autorizar a abertura de contas sem
as cautelas exigíveis, enfim, poderão gerir a instituição
local (agência bancária) e assim afetar o dinheiro de
terceiros. Dessa forma, podem os gerentes de agências
bancárias realizar em tese a conduta de gestão
fraudulenta. É de se notar, inclusive, que atos locais de
gerentes podem por seu montante ou reiteração implicar na
insolvência de toda a instituição - que nem sempre será tão
maior do que a agência local. Pode o gerente bancário que
tem opções de ação administrativa e de concessão de
empréstimos, assim, praticar o crime de gestão fraudulenta.
(...) Assim, demonstrado o poder decisório, a possibilidade
de conceder ou não os empréstimos e financiamentos pelas
garantias apresentadas, é responsável o réu pela
fraudulenta gestão...'

Afastar a responsabilidade do gerente local em relação ao


delito de gestão fraudulenta/temerária, limitando-a aos detentores
de alto comando na instituição financeira, acabaria por reduzir o
real alcance pretendido pelo legislador ao criminalizar a conduta
amplamente lesiva ao Sistema Financeiro Nacional, objeto jurídico
tutelado pela norma.
Documento: 1063260 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/06/2011 Página 12 de 4
Superior Tribunal de Justiça
Sobre o ponto, apreciando o Recurso Especial nº
702.042/PR, decidiu a Colenda 5ª Turma do STJ por reformar
decisão da Oitava Turma deste Regional, que havia afastado a
imputação de crime contra o sistema financeiro ao gerente de
agência do Banestado, nos termos do acórdão assim ementado:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. ARTIGO 4º,


PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 7.492/86. SUJEITO ATIVO.
CRIME PRÓPRIO. GERENTE COM PODERES DE
GESTÃO. Restando devidamente comprovado nos autos
que o acusado detinha poderes próprios de gestão, não há
como afastar, nos termos do art. 25 da Lei nº 7.492/86, a
sua responsabilidade pelo delito de gestão temerária.
Recurso provido.
(Relator Ministro Félix Fischer, DJU em
29.08.2005)

A propósito, cumpre transcrever excerto do voto proferido


pelo Eminente Ministro Relator:
'O delito de gestão temerária é um crime próprio,
ou seja, somente pode ser cometido por determinada
categoria de pessoas, pois pressupõe no sujeito ativo uma
particular condição ou qualidade pessoal, v.g., que o
agente seja o controlador ou administrador da instituição
financeira, assim considerados os diretores e gerentes
(...).Pois bem, em caso análogo, a 5ª Turma desta Corte,
analisando um recurso ordinário em 'habeas corpus' em
que se pretendia o trancamento da ação penal deflagrada
em desfavor dos diretores do BANERJ, entendeu que a
autorização para empréstimo à empresa reconhecidamente
inadimplente, em tese, tipifica o delito de gestão temerária,
decorrendo a responsabilidade criminal não por se
integrar a diretoria do referido banco, mas sim, porque
como diretores, tiveram os acusados relação com o fato
incriminado, consistente na precipitada concessão de
crédito (...). Ora, neste julgado em que se analisava uma
conduta similar àquela descrita na exordial acusatória,
restou entendido, sem qualquer ressalva, que tal conduta
era bastante para, ao menos em tese, subsumir a conduta
praticada ao crime de gestão temerária. Quer dizer, não
importa que o acusado não faça parte, nas palavras do d.
voto vencedor do vergastado acórdão, da alta
administração da instituição financeira, para a
caracterização do referido crime, bastando apenas que,
como gerente, este tenha poderes reais de gestão, é dizer,
que as suas decisões sejam realizadas sem qualquer
consulta prévia ao superior hierárquico (...). Portanto, não
há como afastar a responsabilidade daquele que
efetivamente exerce a função de gerente de uma agência
Documento: 1063260 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/06/2011 Página 13 de 4
Superior Tribunal de Justiça
bancária, ainda que seja esta agência inexpressiva em
razão de seu porte, pois, àquele era atribuída a função de
efetuar as transações financeiras descritas na proemial
acusatória.'

Nestes termos, plenamente cabível que gerente de agência


bancária seja sujeito ativo do delito previsto no art. 4º da Lei n°
7.492/86.
Por sua vez, conforme restou apurado na instrução
criminal, o embargante Henrique Faudon Henrique, na qualidade
de gerente-geral da agência do Banestado em Cambé/PR, efetuou
operações de desconto de duplicatas sem lastro comercial, em
benefício de particulares, de forma sucessiva, uma vez que os
pagamentos destes descontos era sempre realizados mediante a
apresentação de novas duplicatas, igualmente fraudulentas. Assim,
a instituição financeira concedia empréstimos em troca de
duplicatas, porém, sem receber os valores correspondentes aos
títulos.
Desta forma, devidamente configurada a fraude na
concessão irregular dos empréstimos, não há como prevalecer a
tese defensiva de inexistência de lesão ao objeto jurídico tutelado
pelo art. 4º da Lei nº 7.492/86, pretendendo a desclassificação
para a figura do estelionato (art. 171 do CP).
As fraudes perpetradas pelo embargante à frente da
agência bancária foram devidamente enfrentadas pela
Procuradoria Regional da República em sede de contra-razões
recursais, nos seguintes termos (fls. 1120-2):
'(...)A autoria de HENRIQUE FAUDON
HENRIQUE em relação à gestão fraudulenta é
corroborada primeiramente pelo relatório que apurou as
irregularidades praticadas na Agência de Cambé - PR (fls.
122/129 do Apenso). Naquela oportunidade, os inspetores
responsáveis assim relataram: 'Em inspeção realizada na
Agência CAMBÉ PR, constatamos irregularidades em
operações de crédito deferidas para clientes que
encontram-se inadimplentes, cujos deferentes deixaram de
observar as normas internas de instituição na concessão
dos créditos. (...) As técnicas operacionais desenvolvidas
pela administração da agência junto a este cliente, vem de
encontro à prática convencional utilizada na
administração do sr. Gerente Henrique Faudon Henrique,
quanto à utilização de duplicatas sem origem mercantil nos
descontos (...).'
Dentre as irregularidades apuradas pela referida
inspeção, como já ressaltado, estão principalmente as
operações de desconto de duplicatas sem lastro comercial
junto ao Banco Banestado, de forma sucessiva. O
pagamento relativo a estes descontos era sempre realizado
com a apresentação de novas duplicatas, igualmente
Documento: 1063260 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/06/2011 Página 14 de 4
Superior Tribunal de Justiça
fraudulentas. Dessa forma, o banco financiava as
empresas em troca de duplicatas, sendo que nunca recebia
o dinheiro referente às mesmas.
José Gonçalves de Oliveira, auditor do Banestado,
prestou as seguintes informações em juízo (fls. 170/171):
'Se dirigiu até a agência dessa instituição em Cambé,
juntamente com Alberto Fernandes de Souza, a fim de
proceder auditoria de rotina; logo de início lhe chamou
atenção um débito na importância de seis milhões de reais
que uma empresa havia contraído em curto espaço de
tempo junto ao Banco Banestado; em razão disso foram
aprofundadas as investigações através das quais se
descobriram inúmeras irregularidades praticadas pelo
ex-gerente do banco Henrique Faudon Henrique; que em
relação ao fatos narrados pela denúncia, pode precisar a
testemunha com segurança que inúmeros foram os
descontos de duplicatas sem qualquer origem mercantil
(...)'
No mesmo sentido é o depoimento do também
auditor da instituição Antonio Alberto Fernandes de Souza
(fI. 180): 'O depoente se recorda das empresa Sestário
Ltda. e Rodocentro Ltda. O depoente constatou que havia
duplicatas sem origem dessas empresas e que nas
duplicatas constava o mesmo endereço da empresa Sestário
e da Rodocentro. A Sestário emitia duplicata e a
transportadora era a devedora, e no mês subsequente a
operação era inversa. O depoente constatou que se tratava
de uma verdadeira rolagem de dívida, pois as verdadeiras
duplicatas eram feitas através de débito em conta ou
pagamento em cheque de emissão da própria empresa
devedora, o que era sucedido por imediato outro desconto.
O valor dos descontos superava em muito o valor do
faturamento mensal da empresa Sestário. Na agênci
Cambé, embora houvesse um comitê para apreciação das
deliberações, a última palavra era sempre de Henrique
Paudon Henrique que assumia a responsabilidade pela
realização das operações. Havia um temor reverencial com
relação à figura do réu Henrique, sendo que os demais
membros do comitê não tinham coragem de se opor a sua
ações. Só Henrique assinava as operações,
autorizando-as.'.
Como visto, as provas da autoria de HENRIQUE
FAUDON HENRIQUE são abundantes. De notar que o
mesmo era o gerente da agência do Banestado de Cambé,
sendo o detentor do domínio funcional do fato delituoso.
Basta verificar que sem a sua contribuição o delito nunca
teria se consumado, uma vez que o embargante ostentava a
condição de gerente da agência bancária fornecedora dos
empréstimos e, a par disso, responsabilizava-se pela
Documento: 1063260 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/06/2011 Página 15 de 4
Superior Tribunal de Justiça
aprovação de todas as operações realizadas.
Nesse sentido são os esclarecimentos prestados
pela já referida testemunha José Gonçalves de Oliveira
sobre esse particular: 'geralmente as autorizações eram de
competência de um comitê, porém o denunciado Henrique
acabou por destituir o comitê ali na agência Cambé,
assumindo para si a responsabilidade das operações, a tal
ponto que nenhuma das operações foi efetivada senão
através de sua e somente sua autorização.'. (...)'

A respeito da matéria em exame, o autor Rodolfo Tigre


Maia, em sua obra Dos Crimes Contra o Sistema Financeiro
Nacional, Ed. Malheiros, São Paulo, 1996, comenta sobre a
importância em preservar a lisura no gerenciamento e
administração das instituições financeiras, considerando o seu
papel na estrutura econômica e financeira nacional, principalmente
na tarefa de captação de investimentos das pessoas físicas e
jurídicas e sua utilização no financiamento e desenvolvimento das
empresas nacionais. Transcrevo:
'Como já salientado, a instituição financeira,
elemento estrutural do SFN, capta, administra e aplica a
poupança popular. Deste modo, qualquer deslize na
atuação destas instituições ou má-administração das
mesmas constitui verdadeiro desastre para a credibilidade
do sistema, e inevitável prejuízo patrimonial para os
aplicadores. E não só para estes, mas sobretudo para os
tomadores finais dependentes destes recursos: as empresas
produtivas. Para o financiamento de uma unidade
produtiva empresarial são requeridos recursos de
diferentes naturezas, magnitudes e prazos, obtidos,
normalmente, de diferentes fontes aglutinadoras de
poupança(...)' (pp. 53-4)

Ao analisar a conduta descrita no artigo 4º, caput, da Lei


nº 7.492/86, o mesmo autor, discorre:
'Conduta fraudulenta, por sua vez, elemento
descritivo/normativo integrante de incontáveis tipos penais,
é qualquer ação ou omissão humana hábil a enganar, a
ludibriar terceiros, levando-os a uma situação de erro,
falsa representação da realidade ou ignorância desta,
quer através do uso de ardil ('simples astúcia, sutileza,
conversa enganosa, de aspecto meramente intelectual'),
quer mediante artifício ('...quando o agente se utiliza de um
aparato que modifica ao menos aparentemente, o aspecto
material da coisa, figurando entre esses meios o documento
falso ou outra falsificação qualquer, o disfarce, a
modificação por aparelhos mecânicos ou elétricos, filmes,
efeitos de luz etc.'), quer por meio de simples mentira, quer
ainda por intermédio de omissão da verdade, objetivando,
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Superior Tribunal de Justiça
em geral, a consecução de determinada vantagem.' (ob. cit.
P. 55)

Diante disso, se os atos praticados de algum modo


atingiram o Sistema Financeiro Nacional, consubstanciado na
regularidade dos créditos, a confiança nos negócios, a
organização do mercado, a higidez das instituições, como no caso
dos autos, deve o agente responder na forma do artigo 4º da Lei
7.492/86.
Ante o exposto, voto por negar provimento aos embargos
infringentes." (fls. 1441/1447)

Da mesma forma, não prospera a alegada omissão no aresto


prolatado nos embargos de declaração quanto às seguintes teses que,
alegadamente, poderiam ensejar a absolvição do Réu:
"O recorrente opôs, em vão, Embargos Declaratórios com
pretensões modificativas (fls.1083/1097), requerendo que fosse (i)
suprida a omissão na análise da questão preliminar relativa à
nulidade da decisão de fls. 532/534, que indeferiu o pedido de
juntada, na fase do artigo 499 do CPP, de documentos
imprescindíveis ao esclarecimento da verdade real, comprobatórios
da inocência do recorrente, cuja juntada jamais seria possível sem
a intervenção do Juízo monocrático; (ii) suprida a omissão no
conhecimento do pedido expresso de juntada, pelo Tribunal (art.
616 do CPP), dos documentos cuja juntada foi indeferida pela
decisão de fls. 532/534; (iii) suprida a omissão relativa ao não
conhecimento da questão de mérito relativa à ausência de poder
concreto de gestão de instituição financeira por parte do
recorrente, em razão da existência de órgãos colegiados (Comitês
de Crédito) responsáveis pela análise e deferimento de toda e
qualquer operação de crédito; (iv) suprida a omissão na análise do
documento nº 4 juntado com o aditamento de fls.890/940,
comprobatório da inocência do apelante em relação a parte das
operações de crédito referidas na denúncia; (v) suprida a omissão
relativa ao não conhecimento da questão de mérito relativa aos
mecanismos de controle existentes na instituição financeira e que
impossibilitariam, por completo, o deferimento, pelo recorrente, das
operações de crédito referidas na denúncia; (vi) suprida a omissão
relativa ao não conhecimento da questão de mérito relativa à
política de concessão de créditos existente no BANCO BANESTADO
S.A., especialmente (a) a ausência de norma obrigando o gerente a
conferir a origem dos títulos descontados; (b) a absoluta
impossibilidade de tal conferência em razão do volume de
operações; (c) a existência de departamento próprio para o
recebimento e processamento de tais títulos, no qual era elaborado
o cadastro que servia de base para a atribuição do limite de crédito
conferido a cada cliente; e, (d) a circunstância de tais títulos
apenas garantirem o crédito concedido com base no cadastro do
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correntista - o que retiraria do recorrente o dever de agir
(conferência das duplicatas) que caracterizaria a sua autoria em
relação às operações de crédito referidas pela denúncia; e, (vii)
suprida a omissão relativa ao não conhecimento das provas
produzidas em relação à parcialidade da auditoria interna
'encomendada' pela Diretoria do BANCO BANESTADO S.A., assim
como da imprestabilidade da prova produzida em razão da
inobservância do contraditório e da ampla defesa durante o
transcorrer da referida auditoria." (fl. 1463)

Com efeito, os fundamentos dos embargos infringentes e de


nulidade, anteriormente transcritos, já são suficientes para rechaçar as
teses expostas nos itens (iii), (iv), (v) e (vi). Além disso, essas mesmas
insurgências, bem como os demais argumentos da Defesa foram
devidamente analisados no julgamento da apelação criminal, conforme os
seguintes fundamentos:
"No que tange ao apelo de HENRIQUE FAUDON,
inicialmente, cumpre afastar a suposta nulidade da sentença. Ao
contrário do que aduz o patrono do réu, inexiste cerceamento de
defesa em face do indeferimento da expedição de ofícios para a
obtenção de documentos relativos ao funcionamento interno da
instituição bancária. Consoante pacífica jurisprudência, ao Juiz,
como destinatário da prova, cabe avaliar a plausibilidade das
providências postuladas na fase do artigo 499 do CPP, indeferindo
as que entender desnecessárias.
Ademais, revelam-se despiciendas as diligências
requeridas, com o intuito de demonstrar que as operações descritas
na denúncia foram submetidas às instâncias superiores do
Banestado (Gerência Regional e Diretoria) pois a existência de
órgãos hierárquicos e comitês de avaliação de créditos não afasta
a responsabilidade pessoal do gerente pelos guerreados
empréstimos indevidos.
Segundo o Apelante, na ocasião dos crimes, ele era apenas
gerente de agência, não administrando nem gerindo a instituição
financeira, de forma que não poderia responder pela prática do
delito insculpido no artigo 4º, caput, da Lei nº 7.492/86, pois não
estaria incluído no rol de profissionais elencados no artigo 25
desse diploma legal.
A tese não merece acolhida. A conduta gerencial do réu,
atuando com ardil ou fraude, insere-se na moldura típica da
infração prevista no artigo 4º da Lei 7.492/86, restando
evidenciada a sua responsabilidade pela prática do ilícito em
comento.
Neste aspecto, em que pesem as respeitáveis opiniões em
sentido contrário, firmou-se a jurisprudência da 4ª Seção desta
Corte, de que 'é sujeito ativo do delito de gestão fraudulenta (art.
4º da Lei 7.492/86) o gerente de agência bancária que, com sua
conduta, lesiona a saúde da instituição financeira e,
conseqüentemente, do sistema financeiro como um todo, não se
Documento: 1063260 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/06/2011 Página 18 de 4
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exigindo qualquer participação na administração superior da
entidade.' (ACr nº 2001.04.01.004003-5/PR, Relator p/ o Acórdão
Des. Tadaaqui Hirose, julg. em 18.04.2005, public. no DJU em
1º/06/2005).
Por oportuno, permito-me transcrever trecho do voto
proferido, naquele julgamento, pelo eminente Des. Néfi Cordeiro,
bastante elucidativo a respeito da matéria:
'A Lei nº 7.492/86 surge como forma de proteção
penal à poupança popular e à credibilidade nas
pertinentes instituições. Justamente pela clara intenção de
mais amplamente atingir seus objetivos, foi pródiga a
norma legal na previsão de tipos penais de conduta
múltipla e de variados sujeitos ativos. Assim é que já em
seu art. 1º trouxe a mais ampla definição possível de
instituição financeira: qualquer pessoa que realize a
captação de recursos de terceiros, mesmo eventualmente.
Por esse mesmo sentido de proteção ampla ao dinheiro de
terceiros, previu em seu art.25: 'São penalmente
responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os
administradores de instituição financeira, assim
considerados os diretores, gerentes (Vetado). § 1º
Equiparam-se aos administradores de instituição financeira
(Vetado) o interventor, o liquidante ou o síndico.' Dessa
forma, pretendeu a norma legal dar maior alcance penal
aos fatos que pudessem atingir dinheiro dos populares ou
a credibilidade nas instituições pertinentes. Nesse prisma,
deve ser examinado o tipo penal do art. 4º: 'Gerir
fraudulentamente instituição financeira: Pena - Reclusão,
de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.' Ou seja, como a
gestão com fraude da instituição traz diretos reflexos à
credibilidade das instituições de crédito (como confiar em
instituição que frauda?) e ao dinheiro de terceiros (pela
denegação de verbas aos não protegidos, ou mesmo
indiretamente, com o prejuízo da instituição e conseqüente
impossibilidade de correta remuneração do dinheiro dos
populares), todos os atos de fraude documental na
administração da empresa de crédito devem se considerar
abrangidos pelo tipo penal. Quanto ao sujeito ativo, além
da amplitude determinada expressamente pelo mencionado
art. 25, deve-se ter em conta que a proteção à instituição
deve dar-se de forma ampla, impedindo que quaisquer de
seus vários gestores - locais ou centralizados - possam
causar os danos mencionados à credibilidade da
instituição ou ao dinheiro de terceiros. Pode ser autor do
crime, pois, não só a Presidência ou Diretoria Centralizada
do órgão financeiro, como todo aquele que possua poder
decisório (de opções de agir). Somente poderá ser excluído
como sujeito ativo da gestão fraudulenta quem realmente
não possa optar entre condutas administrativas típicas da
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Superior Tribunal de Justiça
instituição financeira. Os gerentes de banco normalmente
possuem carga decisória e não podem ser tidos como
simples empregados. Têm opção de administrar, de agir,
como ao decidir sobre a concessão (empréstimos, abertura
de contas...) ou manipulação (troca de titulares das contas
ou de avalistas....) do dinheiro de terceiros, bem como no
registro de operações bancárias ou no tratamento
injustificadamente preferencial de clientes. Claro que não
irão os gerentes de agência definir os rumos globais da
instituição, mas sim conduzir a instituição em menor
proporção, a instituição localizada. Poderão conceder
empréstimos indevidos, autorizar a abertura de contas sem
as cautelas exigíveis, enfim, poderão gerir a instituição
local (agência bancária) e assim afetar o dinheiro de
terceiros. Dessa forma, podem os gerentes de agências
bancárias realizar em tese a conduta de gestão
fraudulenta. É de se notar, inclusive, que atos locais de
gerentes podem por seu montante ou reiteração implicar na
insolvência de toda a instituição - que nem sempre será tão
maior do que a agência local. Pode o gerente bancário que
tem opções de ação administrativa e de concessão de
empréstimos, assim, praticar o crime de gestão fraudulenta.
(...) Assim, demonstrado o poder decisório, a possibilidade
de conceder ou não os empréstimos e financiamentos pelas
garantias apresentadas, é responsável o réu pela
fraudulenta gestão...'.

Efetivamente, o administrador de uma agência bancária


pode, sim, ser sujeito ativo do delito em comento, nos termos do
artigo 25 da Lei 7.492/86. O entendimento de que o responsável
por órgão local ou descentralizado não responde pelo crime de
gestão fraudulenta (ou temerária) não merece agasalho, pois
colocaria a maior parte dos infratores à margem do controle
criminal de atos lesivos ao Sistema Financeiro, reduzindo o alcance
da lei penal a poucos indivíduos que figuram na posição-chave de
comando das instituições.
Na hipótese de prevalecer essa tese, somente os
proprietários ou controladores dos bancos poderiam responder
pelo delito, o que, a toda evidência, não foi a intenção do
legislador. Por tal motivo a doutrina tem conferido ao dispositivo
em análise certa margem de flexibilidade, em atenção a sua fiel
ratio legis. A lição de Rodolfo Tigre Maia a respeito é exemplar,
veja-se:
'(...) Esse art. 25 da Lei de Regência procurou, de
certo modo, enfrentar a problemática da fixação da
autoria nos crime societários, explicitando os destinatários
precípuos da responsabilidade penal no cometimento de
ilícitos contra o sistema financeiro. O artigo nomina os
agentes (controladores, administradores - diretores e
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Superior Tribunal de Justiça
gerentes - da instituição, interventores, liquidantes e
síndicos) que pelas características gerais dos ilícitos em
estudo (em que a instituição é, muita vez, o veículo de sua
prática), pelas especificidades das instituições financeiras
(...), por força das vicissitudes de seu funcionamento e,
especialmente, pelos poderes de gestão de que estão
investidos, normalmente serão os responsáveis pela prática
dos crimes preconizados na Lei de Regência. Ainda
'numerus clausus', e com repercussão no momento da
propositura da ação penal, deve ser entendido, apenas,
como um mero indicativo, sem valor absoluto em matéria de
imputação, de que se o tipo penal tiver por pressuposto
uma atuação ou uma qualidade característica de pessoa
jurídica serão indicados aqueles que, no âmbito da
instituição financeira, responderão pela prática do ilícito,
se o mesmo não contiver disposição expressa sobre a
matéria de autoria (...).' (Dos Crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional, Malheiros Editores, 1996, p. 144).

Na hipótese em tela, desnecessário recorrer a


interpretação abrangente, tão-só indicativa das figuras enumeradas
no dispositivo em comento, pois de modo induvidoso o cargo de
'gerente' está consignado na Lei 7.492/86.
É bem verdade que o termo tem duas acepções possíveis,
cabendo frisar que uma delas se identifica com a figura do
'diretor', órgão da pessoa jurídica pelo qual ela manifesta sua
vontade. No caso de ser um dos acionistas ou quotistas, é aquele a
quem os demais conferem poderes de representá-la.
Contudo, se o indigitado art. 25, como entendem alguns,
refere-se apenas ao gerente-sócio, seria de perguntar qual o motivo
de constar, em seu texto, também a figura do diretor. Na lei,
principalmente em se tratando da esfera penal, de conseqüências
mais graves, não há palavras inúteis. A toda vista, o que se busca é
abranger também os prepostos designados para gerir os
investimentos existentes nas sucursais das instituições financeiras.
Na lição de Juliano Breda 'a exegese admissível é
restringir o denominado poder de gestão àquele que possuir a
capacidade autônoma e independente de praticar atos próprios de
uma instituição financeira: captação, intermediação ou negociação
de títulos ou valores mobiliários e os responsáveis pelos serviços
financeiros. Por autonomia e independência, entende-se a ausência
de autorização de qualquer outra pessoa hierarquicamente
superior para a prática dos atos de captação, negociação e
intermediação. (...) A autonomia refere-se à ausência de consulta,
autorização ou concordância de uma pessoa com poderes de veto
sobre determinada operação (...).' (in Gestão Fraudulenta de
Instituição Financeira e Dispositivos Processuais da Lei 7.492/86,
São Paulo, Renovar, 2002, p. 67-68).
Ainda sobre a quaestio, apreciando o REsp nº 702.042/PR,
Documento: 1063260 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 07/06/2011 Página 21 de 4
Superior Tribunal de Justiça
decidiu a 5ª Turma do STJ, reformar decisão majoritária da 8ª
Turma deste Regional (que havia afastado a imputação de crime
contra o sistema financeiro ao gerente de agência do Banestado em
Cascavel) nos termos do Acórdão assim ementado:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. ARTIGO 4º,


PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 7.492/86. SUJEITO ATIVO.
CRIME PRÓPRIO. GERENTE COM PODERES DE
GESTÃO. Restando devidamente comprovado nos autos
que o acusado detinha poderes próprios de gestão, não há
como afastar, nos termos do art. 25 da Lei nº 7.492/86, a
sua responsabilidade pelo delito de gestão temerária.
Recurso Especial provido. (Relator Min. Félix Fischer,
julg. em 14.06.2005, public. no DJU em 29.08.2005)

A propósito, cumpre transcrever excerto do voto proferido


pelo Eminente Ministro Relator:
'O delito de gestão temerária é um crime próprio,
ou seja, somente pode ser cometido por determinada
categoria de pessoas, pois pressupõe no sujeito ativo uma
particular condição ou qualidade pessoa, v.g., que o
agente seja o controlador ou administrador da instituição
financeira, assim considerados os diretores e gerentes
(...).Pois bem, em caso análogo, a 5ª Turma desta Corte,
analisando um recurso ordinário em 'habeas corpus' em
que se pretendia o trancamento da ação penal deflagrada
em desfavor dos diretores do BANERJ, entendeu que a
autorização para empréstimo à empresa reconhecidamente
inadimplente, em tese, tipifica o delito de gestão temerária,
decorrendo a responsabilidade criminal não por se
integrar a diretoria do referido banco, mas sim, porque
como diretores, tiveram os acusados relação com o fato
incriminado, consistente na precipitada concessão de
crédito (...). Ora, neste julgado em que se analisava uma
conduta similar àquela descrita na exordial acusatória,
restou entendido, sem qualquer ressalva, que tal conduta
era bastante para, ao menos em tese, subsumir a conduta
praticada ao crime de gestão temerária. Quer dizer, não
importa que o acusado não faça parte, nas palavras do d.
voto vencedor do vergastado acórdão, da alta
administração da instituição financeira, para a
caracterização do referido crime, bastando apenas que,
como gerente, este tenha poderes reais de gestão, é dizer,
que as suas decisões sejam realizadas sem qualquer
consulta prévia ao superior hierárquico (...). Portanto, não
há como afastar a responsabilidade daquele que
efetivamente exerce a função de gerente de uma agência
bancária, ainda que seja esta agência inexpressiva em
razão de seu porte, pois, àquele era atribuída a função de
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Superior Tribunal de Justiça
efetuar as transações financeiras descritas na proemial
acusatória.'

Assim, não pode haver dúvida que o vocábulo 'gerente'


utilizado no art. 25 da lei, abrange o tipo de gerência exercida pelo
referido Apelante.
Consoante sentença proferida em caso análogo, 'para
compreender o alcance do tipo penal, indispensável examinar o
cenário legislativo em vigor à época da promulgação da Lei
7.492/86, a fim de dar-lhe interpretação sistemática coerente com
os postulados de então. A Lei 4.595/64, que disciplina as
instituições monetárias, bancárias e creditícias, quando se reporta
à administração das mesmas, faz referência apenas a diretores ou
membros de órgãos consultivos e fiscais. Nem quando trata da
vedação legal à concessão de empréstimos ou adiantamentos a lei
menciona o gerente, limitando-se a incluir no rol dos impedidos de
receber tais vantagens apenas os acionistas, diretores, membros de
conselhos e seus parentes. A bem da verdade, porém, é preciso
dizer que há na Lei nº 4.595/64 um artigo que menciona
expressamente o 'gerente'. É o art. 44, que trata das penalidades
aplicáveis aos infratores da norma, sujeitando os 'diretores,
membros de conselhos ou semelhantes e gerentes' às sanções de 'I -
advertência, II - multa pecuniária variável, III - suspensão do
exercício de cargos e IV - inabilitação temporária ou permanente
para o exercício de cargos de direção na administração ou
gerência em instituições financeiras.' Como se vê, a lei submeteu às
penalidades nela previstas não apenas aqueles estatutariamente
responsáveis pela administração (diretores e conselheiros) mas
também os gerentes, sujeitando-os inclusive a pena de inabilitação.
Esse dispositivo legal claramente distinguiu os diretores dos
gerentes e expressamente admitiu que estes últimos podem praticar
atos infringindo às normas que disciplinam as atividades
financeiras. Portanto, a legislação específica não olvidou a
existência e a importância do 'gerente' como figura distinta dos
diretores e conselheiros, a ponto de sujeitá-lo, juntamente com
aqueles, às graves sanções administrativas nela previstas. Sob esse
prisma, a Lei 7.492/86 que tipificou os crimes contra o sistema
financeiro, ao incluir no seu art. 25 o 'gerente' entre os penalmente
responsáveis pelos delitos, não empregou este vocábulo apenas para
se referir a determinadas pessoas que, nas instituições financeiras,
ocupam posição equivalente a diretor, mas para se referir aos
indivíduos que desempenham atribuições gerenciais na complexa
estrutura dessas entidades. (...) Na prática, as atividades de uma
instituição financeira são desenvolvidas em agências
(denominando-se o estabelecimento onde estão sediados a diretoria
e os conselhos de agência sede ou matriz) e postos, de forma
completamente descentralizada e especializada, fragmentada em
diversos níveis de gestão, como se depreende do art. 2º da
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Superior Tribunal de Justiça
Resolução nº 2.099/94 do BACEN. (...) Pretender excluir os
ocupantes dos diversos níveis gerenciais de uma instituição
financeira, do rol daqueles que podem ser responsabilizados pela
prática dos crimes próprios previstos na Lei 7.492/86, é
desconhecer a realidade, a complexidade das estruturas em que se
organizam essas entidades, restringindo a aplicabilidade da lei a
um número infinitamente pequeno de pessoas que, no mais das
vezes, se limitam a traçar linhas genéricas de atuação e
planejamento estratégico, sem qualquer atuação direta e específica
no plano operacional'. (ACR nº 2003.04.01.030590-8/RS, public.
no DE em 10/01/2007).
Frente a esse quadro, nas circunstâncias descritas, a
atuação decisiva do administrador permitindo a reiterada utilização
de duplicatas 'frias', sem lastro comercial, com o objetivo de
fornecer vantagens indevidas aos seus cúmplices, constitui
certamente elemento caracterizador do tipo penal, que visa punir a
gerência inidônea de pessoa jurídica integrante do SFN.
In casu, devido à posição funcional de gerente,
HENRIQUE tinha o controle de todas as operações financeiras
realizadas no âmbito da agência Cambé do Banestado, exercendo
parcela própria do comando da instituição.
Diante disso, se os atos praticados de algum modo
atingiram o Sistema Financeiro Nacional (consubstanciado na
regularidade dos créditos, a confiança nos negócios, organização
do mercado, higidez das instituições, etc.) devem os agentes
responder na forma do artigo 4º da Lei 7.492/86.
Por tais motivos, em face da percuciente análise do
conjunto probatório procedida, deve ser mantida a sentença de
primeiro grau, eis que o Apelante detinha poderes de gestão, tendo
realizado dolosamente sucessivos atos de natureza fraudulenta no
exercício desse mister.
Com efeito, materialidade e autoria restaram comprovadas
de forma cabal, havendo nos autos evidências suficientes para
embasar a condenação impugnada. Confira-se o depoimento do
inspetor JOSÉ GONÇALVES DE OLIVEIRA em juízo, nestes termos:
'Na qualidade de auditor do BANESTADO, a
testemunha se dirigiu até a agência desta instituição em
Cambé, juntamente com Antônio Alberto Fernandes de
Souza, a fim de proceder a auditoria de rotina. Logo de
início, lhe chamou atenção um débito na importância de
seis milhões de reais que uma empresa havia contraído em
curto espaço de tempo junto ao banco. Em razão disso
foram aprofundadas as investigações através das quais se
descobriram inúmeras irregularidades praticadas pelo
ex-gerente do banco Henrique Faudon Henrique. Em
relação aos fatos narrados pela denúncia, pode precisar
com segurança que inúmeros foram os descontos de
duplicata sem qualquer origem mercantil. A constatação

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Superior Tribunal de Justiça
de que as duplicatas não tinham origem se deu através da
verificação de que muitas vezes se repetia sucessivamente
o nome dos sacados, também através da constatação de
que o endereço dos sacados correspondia, na verdade, ao
endereço da empresa cedente SESTÁRIO & CIA. LTDA.,
devedora do banco. Também foi constatado que se tratava
de uma verdadeira rolagem de dívida, pois a liquidação
das duplicatas eram feitas, de regra, através de débito em
conta ou pagamento em cheque de emissão da própria
empresa devedora, sucedido por imediato novo desconto de
duplicata. Se recorda que efetivamente as pessoas de
Antônio Marcos da Silva, Manoel Francisco da Silva e
Carlos Antônio da Silva constavam freqüente e
sucessivamente nas duplicatas sem origem mercantil (...).
Geralmente, as autorizações eram de competência de um
comitê, porém o denunciado Henrique acabou por destituir
o comitê ali na agência Cambé, assumindo para si a
responsabilidade das operações, a tal ponto que nenhuma
das operações foi efetivada senão através de sua e somente
sua autorização. Não pode afirmar que o Superintendente
da instituição tinha conhecimento da destituição do comitê
pelo denunciado Henrique, dada a autonomia que este
tinha, como gerente, na agência de Cambé. Em relação aos
fatos que constam na inicial, esclarece que as operações
fraudulentas se deram por autorização exclusiva do
denunciado Henrique, isto é, em momento posterior à
destituição do referido comitê.' (fls. 170/171).

O testemunho do inspetor ANTÔNIO ALBERTO


FERNANDES DE SOUSA corroborou as palavras de seu colega,
verbis:
'À época dos fatos, o depoente era auditor do
BANESTADO e realizou auditoria na agência onde o
acusado Henrique era o gerente geral. Constatou que o
acusado Henrique estava favorecendo as empresas
SESTÁRIO & CIA. LTDA. e TRANSPORTADORA
RODOSEMPRE LTDA., coligada à primeira. Constou que
a SESTÁRIO emitia duplicatas contra a
TRANSPORTADORA RODOSEMPRE e contra dois
funcionários. Essas duplicatas, sem origem mercantil,
eram descontadas sob a responsabilidade do acusado
Henrique, gerente do BANESTADO. No vencimento dessas
duplicatas, novamente sob a concordância e
responsabilidade do réu Henrique, elas eram novamente
descontadas. Afirma que tudo o que constatou o foi
documentalmente, não tendo conversado com o gerente ou
com as sócias da empresa Sestário (...). Essas operações
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Superior Tribunal de Justiça
eram realizadas diretamente pelo acusado Henrique e fora
das normas do banco.' (fl. 281).

Frente a tais depoimentos, mostra-se despicienda a questão


sobre haver, ou não, nos autos, documentos singularmente firmados
pelo recorrente, porquanto restou demonstrada, de forma
induvidosa, sua co-responsabilidade.
Refere o réu haver contradição entre as assertivas dessa
última testemunha perante o juízo a quo e as declarações prestadas
por ele em outro procedimento criminal (ACR
1999.61.81.004274-2). As supostas discordâncias cingem-se à
dúvida acerca da existência do comitê de crédito na agência de
Cambé/PR e se o mesmo foi posteriormente destituído por
HENRIQUE, bem como se as investigações do banco iniciaram por
ordem superior ou em decorrência de auditoria de rotina. Porém,
tais alterações na versão do depoente não infirmam, a toda
evidência, a confiabilidade de seu testemunho, eis que podem ser
atribuídas a imprecisões naturais da memória, face ao tempo
transcorrido entre os eventos e sua oitiva em juízo.
Inclusive, as alegadas controvérsias dizem respeito a
detalhes pouco relevantes, pois, em qualquer caso, permanecem
incólumes fatos irrefutáveis, quais sejam: foi por meio de auditoria
(rotineira ou não) que se apuraram as fraudes, e o comitê gestor, se
por acaso existia, não foi consultado antes da realização das
operações irregulares. Sobre esse último aspecto, a propósito, as
palavras do magistrado singular mostram-se irretocáveis:
'Nem se há de aceitar a assertiva de que as
decisões concessivas de financiamento eram tomadas pelo
comitê. Isso porque, primeiro, o réu compunha o comitê.
Segundo, a responsabilidade dos demais membros do
colegiado não exclui a do réu. Terceiro, o acusado era a
autoridade máxima não só do comitê, como também dentro
da própria agência bancária. Ou seja, a sua participação
na concessão dos financiamentos foi decisiva.' (fl. 275,
verso).

Por fim, a conduta delitiva também se encontra


demonstrada pelo Relatório do BANESTADO (fls. 122/128 do
inquérito policial em apenso) o qual descreve as seguintes
irregularidades: operações sem respaldo cadastral; duplicatas
descontadas sem origem mercantil; rolagem de dívida com
encargos, sem exigência de amortizações mínimas nas renovações;
operações para cobertura de saldo devedor e favorecimento de
taxas.
Além disso, os co-autores CLÁUDIA e OSVALDO
SESTÁRIO admitiram (fls. 95/96 e 213/214) a emissão de títulos de
crédito sem o necessário lastro em operações comerciais, a fim de
rolar dívidas perante a instituição financeira, em depoimentos que
serão analisados por ocasião do exame de seu respectivo apelo.
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Superior Tribunal de Justiça
Face a tais irregularidades, inadequado supor que
HENRIQUE perpetrasse essas condutas sem estar ciente do seu
caráter fraudulento e criminoso. Assim, não há que se falar em
ausência do elemento subjetivo do tipo, muito menos em
desclassificação para gestão temerária, eis que, como visto, as
operações inidôneas restaram embasadas em títulos de crédito
fictícios.
Sustenta ainda o apelante que, à época dos fatos, possuía
'limites máximos' para operar, tendo sido sua conduta gerencial
monitorada pela fiscalização do BANESTADO. Entretanto, as
duplicatas simuladas objetivaram justamente fraudar os referidos
sistemas de controle. Veja-se o testemunho de JOSÉ GONÇALVES
DE OLIVEIRA:
'Juiz: Quais seriam as limitações em relação à
possibilidade de desconto das duplicatas? Testemunha: A
agência de Cambé, por ser agência de grande porte,
detinha um limite para descontos de duplicatas de até R$
150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais). Juiz: Por
duplicata ou por total da agência? Testemunha: Não, por
cliente. Até R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) a
agência poderia, por cliente, dentro de determinadas
normas, limite cadastral, avais, todas as garantias que o
banco exigia, que essas duplicatas fossem consultadas e
apresentadas juntamente com a nota fiscal para o banco
ser liberado. Na agência de Cambé, não se cumpria isso à
risca. (...). Com as duplicatas na época (que hoje é digitada
e automatizada, disponibilizada dentro da agência) era
preciso formalizar borderôs, e nesses borderôs eram
agrupadas até no máximo cinqüenta duplicatas. Então na
agência de Cambé fazia-se o seguinte: somava-se num
determinado borderô duplicatas cujos valores cumulativos
chegassem até cento e cinqüenta mil, que era o limite que
eles tinham para descontar. Mas aí ele burlava a
fiscalização do banco, da SUREG, todas as fiscalizações
possíveis, porque, quando o controle era manual e nossa
superintendência, o departamento de descontos e
cobranças do Banestado, interpelava a agência a respeito
daquela liberação, daquele borderô que foi feito até o valor
de R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) a agência
respondia que estava descontando aquele valor naquele
dia, porque a empresa estava pagando no caixa da
agência duplicatas compatíveis com aqueles valores.
Então, usava-se o mesmo valor descontado para pagar
duplicatas que estavam vencendo naquela data. E assim
ela sempre foi levando. E os valores foram cumulativos,
foram aumentando (...)'. (fl. 269).

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Superior Tribunal de Justiça
Quanto à tese de que, à época, a agência bancária se
encontrava informatizada, de modo a obstar as práticas delitivas,
cumpre registrar que o ex-funcionário GILMAR LONGO DA
ROCHA, asseverou, em seu depoimento, haver casos onde as
irregularidades não eram detectadas, mesmo com todo o aparato
então existente. Suas declarações foram transcritas nestes termos:
'Em 1995, a maioria das agências do Banestado
do Paraná eram informatizadas. Foram criadas estruturas
de comitês de crédito nas agências. Uma das funções de
tais comitês era a aprovação e liberação de empréstimos
dentro de suas respectivas alçadas. Não se recorda dos
valores dessas alçadas. A orientação do banco era que as
agências se mantivessem dentro destes limites, porém,
infelizmente, em várias tal orientação não era observada. A
partir da informatização o próprio sistema passou a
controlar a utilização das alçadas, sendo que isso
funcionava na maioria das operações, mas em algumas o
sistema não detectava a ultrapassagem dos limites (...).' (fl.
509).

Afirma a defesa do Recorrente que o decreto condenatório


se baseia em 'documentos falsos' e 'depoimentos nulos', sendo
imprestáveis os relatórios produzidos unilateralmente pela auditoria
do Banestado, eis que motivados na intenção deliberada de
prejudicá-lo, utilizando-se da pessoa de HENRIQUE FAUDON
como 'bode expiatório' para as irregularidades cometidas pelos
administradores da instituição.
Entretanto, não se verifica a apontada inidoneidade da
prova, na medida em que, independente da origem dos documentos
acostados, todas as demais evidências apontam no sentido da
ocorrência dos fatos narrados na denúncia. Da mesma forma, a
circunstância de existirem outros agentes do BANESTADO
possivelmente envolvidos em ilícitos não afasta a sua culpabilidade.
Por outro lado, não merece acolhida o argumento de que a
Justiça do Trabalho conferiu a HENRIQUE 'atestado de boa
conduta', pois é sabido que em nosso ordenamento jurídico vige a
independência das esferas. Conforme asseverou o Parquet, 'mesmo
na justiça laboral houve o reconhecimento da prática de falta
grave pelo denunciado, embora com decisão a ele favorável, em
face do reconhecimento do 'perdão tácito' do Banco, ante a
ausência de imediatidade na aplicação da penalidade' (fl. 771).
Além disso, o fato de ter recebido prêmios por sua
produtividade também não afasta a condenação, eis que, por óbvio,
a política interna de pessoal da instituição bancária não acarreta
influência na seara criminal.
A documentação acostada juntamente com o aditamento ao
apelo apenas demonstra que haviam, formalmente, normas internas
de conduta, o que não afasta o entendimento de que tais

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Superior Tribunal de Justiça
regulamentos não foram observados, permitindo-se,
sucessivamente, a concessão de valores a empresários, com base em
duplicatas fraudulentas, causando prejuízos à instituição bancária,
bem como, em última análise, em detrimento do próprio Sistema
Financeiro Nacional.
No que tange às demais teses ventiladas nas razões de
defesa complementares, cumpre referir que se mostram similares
àquelas afastadas pelo Colegiado por ocasião do julgamento da
ACR nº 2004.04.01.044222-9, não servindo para elidir os
fundamentos do decreto condenatório. Por oportuno, cabe
transcrever trechos do voto exarado pelo eminente Relator, Des.
Paulo Afonso Brum Vaz, naquela oportunidade, aplicáveis
igualmente ao caso dos autos:
'Após o envio deste processo ao Revisor, o réu
Henrique Faudon Henrique ofereceu aditamento às
contra-razões de apelação do MPF (fls. 818/826), bem
como complementou as razões de apelação nas fls.
827/1049. Tais argumentos, também, foram reiterados na
tribuna nos seguintes termos: a) nulidade da sentença em
face do indeferimento da juntada de novos documentos na
fase do artigo 499 do CPP; b) atipicidade da conduta
imputada ao réu (gestão fraudulenta), porquanto o artigo
25 da Lei nº 7.492/86 caracteriza tal delito como crime
próprio; c) o acusado não tinha poderes de gestão na
agência do Banestado do município de Cambé-PR, uma vez
que o Relatório do Banco Central - obtido após a
condenação - atribui à quebra do banco aos diretores Aldo
de Almeida Júnior, Alfredo Sadi Prestes, Jackson Ciro
Sandrini, Sérgio Elói Drucz e Wilson Mugnani, uma vez
que deferiram créditos à empresa Freezagro; d) a
informatização do banco impedia o prosseguimento de
operações de crédito acima dos limites de alçada
estabelecidos eletronicamente (R$ 150.000,00),
inviabilizando, pois, o deferimento de R$ 1.500.000,00,
como consta na denúncia, mormente quando os relatórios
enviados à diretoria da instituição proporcionavam o
controle das operações; e) imparcialidade da auditoria do
Banestado, porquanto não lhe assegurou direito de defesa
e porque o ex-policial Délcio Razera - contratado pela
diretoria para trabalhar como auditor - foi a Cambé-PR
ameçar e constranger inúmeras pessoas a depor em
desfavor do apelante, o qual, até então, recebia
condecorações e menções honrosas pelo fato de ter erigido
a agência de Cambé ao terceiro lugar no volume de
operações e empréstimos efetuados pelo Banestado; f) o
manual de normas do banco não exigia que o gerente
conferisse a origem das duplicatas; g) na hipótese de
manutenção da condenação, pugna pela desconsideração
dos outros processos instaurados por fatos análagos como
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Superior Tribunal de Justiça
antecedentes, pois que tais ações penais ainda não
transitaram em julgado, bem como rechaça a valorização
negativa das conseqüências do crime em face dos débitos
terem sido inteiramente quitados. Como se vê, tais
considerações expendidas pelo nobre defensor não diferem
substancialmente das razões recursais mencionadas no
relatório. Assim, considerando que os argumentos
apresentados pela defesa não referem qualquer razão de
ordem pública que infirme a resposta anteriormente
apresentada, não conheço das contra-razões acostadas às
fls. 818/826. Por outro lado, conheço parcialmente da
complementação recursal do apelante Henrique
tão-somente para examinar a alegação de que o Banco
Central acusou a diretoria do Banestado S.A. pelos fatos
envolvendo a concessão de financiamento à empresa
Freezagro, dado que essa questão ainda não havia sido
ventilada nos autos, bem como o fato de que a auditoria do
Banestado teria se realizado mediante ameaças a
testemunhas. Frise-se, por oportuno, que as conclusões do
BACEN serão examinadas por ocasião da análise do mérito
(autoria - fls. 23/28 deste voto) ao passo que a ameaça a
testemunhas será abordada junto com a preliminar de
cerceamento de defesa. Preliminares. Cerceamento de
defesa.Não ficou comprovado o prejuízo supostamente
causado ao recorrente em face do indeferimento das
diligências pelo juízo a quo (fl. 531): 'Indefiro o pedido
formulado pelo réu Henrique Faudon Henrique (fls.
526/528), em razão de que a defesa não demonstrou a
necessidade de tais provas e nem que seriam originárias de
circunstâncias ou fatos apurados durante a instrução.'.
Acaso houvesse algum documento que realmente ensejasse
o pronto reconhecimento da inocência do réu, certamente a
defesa teria declinado ao Poder Judiciário os motivos
concretos para o deferimento da diligência, bem como
discriminaria quais os atos relacionados ao caso sub
examine que estariam materialmente registrados. De outro
modo, a apresentação espontânea de documentos internos
do Banco Central (fls. 919/988) bem demonstram que o réu
tinha condições de trazer aos autos qualquer
documentação que pudesse ser útil a sua defesa, tornando,
pois, despicienda a intervenção judicial reclamada.
Ameaça a testemunhas: Antes de mais nada, cumpre
ressaltar que não se trata de atos cometidos contra
testemunhos deste ação penal instaurada há quase nove
anos. Observe-se que os documentos apresentados pela
defesa de Henrique (fls. 1.044/1.049) se resumem a uma
notícia veiculada na edição do jornal O Estado do Paraná
do dia 06/09/2006 e a uma declaração, registrada em
cartório no dia 16/02/1996, de Valdir Marques da Silva.
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Superior Tribunal de Justiça
Prisão Délcio Agusto Rasera: As três páginas de jornal,
acostadas aos autos nas fls. 1.045/1.048, somente se
referem à prisão do policial Délcio Augusto Rasera no
curso da operação Pátria Nossa, da Polícia Civil do
Estado do Paraná. O investigador Délcio Rasera foi
acusado de manter empresa de investigação clandestina, o
que ensejou a seguinte manchete de capa: 'Quadrilha de
arapongas desmantelada pela PIC'. Não obstante a
gravidade das acusações sobre a confecção de 'esquema
de interceptação de telefones', em momento algum, foi
noticiada qualquer ameaça a qualquer dos réus ou
testemunhas deste processo. Declaração de Valdir
Marques da Silva: Em sua declaração firmada no
Tabelionato de Notas e Ofício de Protestos de Títulos de
Cambé-PR, Valdir Marques da Silva, técnico em
contabilidade, refere (fl. 1.049) 'que foi procurado por
pessoas - que se identificaram como inspetores do Banco
do Estado do Paraná S/A, e fora inquirido a respeito de
uma declaração anteriormente prestada - a pedido de
terceiros ou seja, os Srs. Nilson Roberto Fadel, Camilo
Luciano e também Valter Braz Vilas Boas. - Que os
referidos senhores que identificaram como inspetores,
intimidaram o declarante no sentido de enquadramento na
Lei do Colarinho Branco e Profissional, fato que deixou o
mesmo preocupado a ponto de fazer uma declaração por
escritura pública com as quais o declarante não concorda
plenamente e que o temor responsável pela declaração
anterior, prendeu-se à demonstração pelo Sr. Razera em
portar arma de foto com intuito coercitivo, colocando-o
inclusive à mostra. - Que no momento oportuno o
declarante responderá aos atos praticados junto às
autoridades de direito.' Em que pese a gravidade dessas
informações, inexiste qualquer vínculo concreto com os
fatos apurados neste processo-crime, especialmente porque
os auditores que atuaram no caso sub examine, José
Gonçalves de Oliveira e Antônio Alberto F. de Souza, não
foram mencionados por Valdir. Ademais, o inspetor
Antônio de Souza, ao testemunhar em juízo (fls. 271/272),
sob pena de incorrer no crime de falso testemunho,
ratificou as informações que prestara na fase policial, bem
como as declarações feitas pelo seu colega José, que não
foi localizado para testemunhar na fase judicial (fl. 292).
Portanto, se houvesse alguma objeção efetiva e
fundamentada por parte do acusado Henrique quanto aos
dados apurados pela auditora do Banestado - cujas
irregularidades, a exemplo do inquérito policial, não
maculam o processo criminal -, caberia a defesa se insurgir
na época própria. Demais disso, frise-se que o fato de o
apelante Henrique Faudon Henrique ter sido denunciado
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Superior Tribunal de Justiça
no mesmo processo instaurado contra Nilson Roberto
Fadel (2005.04.01.046435-7 - fl. 1.048) não tem o condão
de ensejar a nulidade desta ação penal, instaurada para
apurar crime de gestão fraudulenta vinculada à concessão
de vultoso numerário à empresa Freezagro. Rejeito, pois,
as preliminares. (...) Em suma, a documentação carreada
pela defesa de Henrique Faudon Henrique sugere, em
princípio, uma certa desídia da administração do
Banestado com financiamentos concedidos
discriteriosamente nas suas agências, mas não tem o
condão de elidir a responsabilidade penal pelos atos
delituosos comprovadamente praticados pelo réu na
condição de gerente da agência de Cambé/PR.'

Aduz também o recorrente não ter obtido qualquer


benefício, inexistindo provas de que tenha auferido vantagens e
causado prejuízos com as práticas em tese ilícitas. Contudo, tais
alegações têm por base interpretação equivocada do tipo penal em
análise, porquanto pressupõem que faz parte do elemento objetivo
do crime a existência de dano efetivo à instituição financeira, ou
seja, de resultado. Porém, trata-se de infração de mera atividade.
Nesse sentido, novamente o magistério de JULIANO BREDA:
'O delito se consuma com a prática continuada de
fraudes no exercício dos poderes de gestão, não bastando,
como já se afirmou, a prática de apenas um ato
fraudulento, principalmente pelo conceito do verbo 'gerir'
(...). Se o resultado não é exigido, o crime inclui-se naquela
categoria de delitos de mera atividade, em que a proibição
típica reside em executar uma determinada ação,
independentemente da produção do resultado natural.
Desta maneira, por conseqüência, o tipo em estudo pode
também ser considerado de perigo. Como a descrição
típica não faz menção à ocorrência do perigo, o crime o
presume quando a gestão for fraudulenta. A punibilidade,
assim, acaba antecipada a esse estágio prévio. A fraude
não necessita obrigatoriamente lesionar um interesse
patrimonial. O perigo de dano deve, sim, existir, mas não
precisamente a um bem jurídico de titularidade individual
(investidor).' (Gestão Fraudulenta de Instituição
Financeira e Dispositivos Processuais da Lei 7.492/86, pp.
120/121).

Assim leciona, igualmente, ANTÔNIO CARLOS


RODRIGUES DA SILVA:
'Por se tratar de delito pluriofensivo, o tipo tutela
mais de um bem jurídico. Primordialmente, a tutela alberga
o Estado ofendido em sua ordem econômica e financeira
pela gestão fraudulenta e temerária. A instituição
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financeira, como célula 'mater' do Sistema Financeiro, é
também tutelada, por não poder ficar ao arbítrio e má-fé
de administradores inescrupulosos.' (Crimes do Colarinho
Branco, Brasília Jurídica, 1ª ed., 1999, p. 47).

Por conseguinte, eventual dano à entidade bancária seria


mero exaurimento do ilícito.
Entretanto, na hipótese sub judice, as conseqüências do
crime mostraram-se significativas. Com efeito, conforme já
salientado, noticia o BANESTADO (fls. 122/128) que as fraudes
resultaram num prejuízo da ordem de R$ 291.569,49 (duzentos e
noventa e um mil, quinhentos e sessenta e nove reais e quarenta e
nove centavos) valor esse atualizado até 18.03.1996.
Face à extensão das irregularidades e o quantum do
crédito levantado, é inviável supor que HENRIQUE perpetrasse
essas condutas sem estar ciente do seu caráter fraudulento e
criminoso. Assim, não há falar em ausência do elemento subjetivo.
Logo, as doutas razões defensivas não se mostram capazes
de infirmar o decreto condenatório, cabendo ser mantida a decisão
prolatada pelo MM. Juiz singular em relação a HENRIQUE
FAUDON." (fls. 1320/1336)

Dessa forma, tenho que a alegada ofensa aos arts. 381, inciso III, e
619 do Código de Processo Penal não subsiste, porquanto o Tribunal a quo
solucionou a quaestio juris de maneira clara e coerente, apresentando todas
as razões que firmaram o seu convencimento.
Dessarte, ainda que o ora Recorrente entenda equivocada ou
insubsistente a fundamentação que alicerça o acórdão recorrido, isso não
implica, necessariamente, que esta seja ausente. Há significativa distinção
entre a decisão que peca pela inexistência de fundamentos e aquela que traz
resultado desfavorável à pretensão do litigante.
Com efeito, a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é
firme no sentido de que o órgão judicial, para expressar sua convicção, não
está obrigado a aduzir comentários a respeito de todos os argumentos
levantados pelas partes, quando decidir a causa com fundamentos capazes
de sustentar sua conclusão.
Nesse sentido:
"RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. ALEGAÇÃO
DE OMISSÃO NO ARESTO OBJURGADO. NEGATIVA DE
VIGÊNCIA DO ART. 619 DO CPP. NÃO CONFIGURAÇÃO.
1. Não ocorre violação ao art. 619 do CPP quando o
Tribunal resolve a controvérsia com fundamentos capazes de
sustentar sua conclusão, não sendo obrigatória a manifestação
expressa acerca de todos os argumentos levantados pelas partes.
PENAL. EXECUÇÃO PENAL. RECURSO ESPECIAL.
FALTA GRAVE. PERDA DOS DIAS REMIDOS. ART. 127 DA LEP.
1. É pacífico o entendimento nesta Corte de que
reconhecido o cometimento de falta grave pelo preso, cabe ao Juízo

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da Execução decretar a perda dos dias remidos, medida que não
ofende direito adquirido ou coisa julgada.
2. Recurso parcialmente provido para reformar o acórdão
recorrido, determinando a perda dos dias remidos pelo apenado em
razão da prática de falta grave." (REsp 1.031.682/RS, 5.ª Turma,
Rel. Min. JORGE MUSSI, DJe de 01/06/2009; sem grifos no
original.)

"PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL


EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO QUE NÃO
COMBATEU OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA.
APLICABILIDADE DA SÚMULA 182/STJ. ACÓRDÃO RECORRIDO
EM CONSONÂNCIA COM ENTENDIMENTO DESTA CORTE.
SÚMULA 83/STJ. DOSIMETRIA. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
SÚMULA 7/STJ. AGRAVO IMPROVIDO.
1. Compete ao recorrente, nas razões do agravo de
instrumento, infirmar especificamente os fundamentos expostos na
decisão agravada. Incidência do enunciado 182 da súmula do
Superior Tribunal de Justiça.
2. Não há ofensa ao artigo 619 do Código de Processo
Penal diante da rejeição dos aclaratórios em virtude da ausência de
omissão, contradição ou obscuridade no acórdão embargado. Com
efeito, o Juiz não está obrigado, segundo precedentes
jurisprudenciais, a responder a todas as alegações das partes,
quando já encontrou motivos suficientes para motivar a decisão.
3. A análise de afronta ao artigo 59 do Código Penal
demandaria, necessariamente, o revolvimento do conjunto
fático-probatório, providência vedada ante o óbice do enunciado
nº 7 da Súmula desta Corte.
4. Agravo Regimental improvido." (AgRg no Ag
799.099/RJ, 6.ª Turma, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, DJe de 16/02/2009; sem grifos no original.)

Por fim, o Recorrente argúi contrariedade ao art. 4.º da Lei n.º


7.492/86, argumentando que a conduta do Recorrente não se subsume a
esse crime, bem como não ofendeu o bem juridicamente tutelado. Aduz que o
Recorrente era um mero gerente de agência bancária e não tinha qualquer
interferência sobre a administração da instituição financeira como um todo.
Expôs, ainda, as seguintes razões:
"O r. Acórdão proferido nos Embargos Infringentes e de
Nulidade opostos pelo recorrente contrariou o artigo 4º da Lei nº
7.492/86 por haver entendido como típica uma conduta que não se
amolda ao referido dispositivo, que prevê a 'gestão fraudulenta de
instituição financeira' e não 'em instituição financeira' ou parcela
desta. Ainda por cima, considerou como típica uma conduta
absolutamente insuscetível de acarretar lesão ao bem jurídico
tutelado (sistema financeiro nacional) e cujos efeitos
restringiram-se tão somente ao patrimônio da própria instituição
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financeira." (fl. 1470)

Esta Corte Superior de Justiça reconheceu a possibilidade de o


gerente de uma agência bancária ser sujeito ativo do crime do art. 4.º da Lei
n.º 7.492/86, que se trata de crime próprio, quando o Acusado tiver poderes
reais de gestão, ou seja, "que as suas decisões sejam realizadas sem
qualquer consulta prévia ao superior hierárquico" (REsp 702.042/PR, 5.ª
Turma, Rel. Ministro FELIX FISCHER, DJ de 29/08/2005).
Confira-se a ementa desse julgado:
"PENAL E PROCESSUAL PENAL. ART. 4º, PARÁGRAFO
ÚNICO, DA LEI 7.492/86. SUJEITO ATIVO. CRIME PRÓPRIO.
GERENTE COM PODERES DE GESTÃO.
Restando devidamente comprovado nos autos que o
acusado detinha poderes próprios de gestão, não há como afastar,
nos termos do art. 25 da Lei nº 7.492/86, a sua responsabilidade
pelo delito de gestão temerária.
Recurso provido. Extinta a punibilidade."

No caso, o Tribunal a quo entendeu comprovado que o Recorrente,


na qualidade de gerente-geral da agência do Banestado, concedia
empréstimos mediante meios fraudulentos. Foi constatado que "geralmente
as autorizações eram de competência de um comitê, porém o denunciado
Henrique acabou por destituir o comitê ali na agência Cambé, assumindo
para si a responsabilidade das operações, a tal ponto que nenhuma das
operações foi efetivada senão através de sua e somente sua autorização"
(fl. 1446)
No mais, rever esse fundamento do aresto hostilizado, de que o Réu
exercia poderes reais de gestão e que sua conduta lesionou o bem
juridicamente tutelado implica em reexame de todo o conjunto
fático-probatório, o que não se coaduna com a via eleita, em face do óbice
da Súmula n.º 07 do Superior Tribunal de Justiça.
Com efeito, o Tribunal de origem, após percuciente análise das
provas produzidas nos autos, conforme os excertos supratranscritos,
considerou que "os atos praticados de algum modo atingiram o Sistema
Financeiro Nacional, consubstanciado na regularidade dos créditos, a
confiança nos negócios, a organização do mercado, a higidez das
instituições" (fl. 1447).
Ante o exposto, com arrimo no art. 557, caput, do Código de
Processo Civil, c.c. o art. 3.º do Código de Processo Penal, NEGO
SEGUIMENTO ao recurso especial." (fls. 1555/1579)

Dessa forma, na ausência de argumento relevante que infirme as razões


consideradas no julgado agravado, deve ser mantida a decisão por seus próprios fundamentos.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo regimental.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2008/0272949-5 REsp 1.104.007 / PR
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 200204010073756 200404010001729 9620121422

EM MESA JULGADO: 19/05/2011

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ÁUREA M. E. N. LUSTOSA PIERRE
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HENRIQUE FAUDON HENRIQUE
ADVOGADO : DAVID RODRIGUES ALFREDO JÚNIOR
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : HENRIQUE FAUDON HENRIQUE
ADVOGADO : DAVID RODRIGUES ALFREDO JÚNIOR
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Adilson Vieira Macabu
(Desembargador convocado do TJ/RJ) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp.

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