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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 472.380 - TO (2018/0259247-5)

RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA


IMPETRANTE : EDUARDO BRUNO MENDES DE SOUSA
ADVOGADOS : ANDRÉ LUIZ FIGUEIRA CARDOSO - DF029310
EDUARDO BRUNO MENDES DE SOUSA - TO008541
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO TOCANTINS
PACIENTE : JOSILTON ALVES DA SILVA (PRESO)
EMENTA

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.


INADEQUAÇÃO. HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, §
2º, INCISOS III E IV, DO CÓDIGO PENAL). DIREÇÃO SOB
EFEITO DE ÁLCOOL. PRONÚNCIA. DOLO EVENTUAL.
DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO CULPOSO NA
DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 302 DA LEI N.
9.503/1997 - CTB). EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE.
NECESSIDADE DE ANÁLISE APROFUNDADA DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AFETA
AO TRIBUNAL DO JÚRI. DOLO EVENTUAL E
QUALIFICADORAS DESCRITAS NO ART. 121, §2º, INCISOS
III (PERIGO COMUM) E IV (RECURSO QUE DIFICULTOU A
DEFESA DA VÍTIMA), AMBOS DO CÓDIGO PENAL.
INCOMPATIBILIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no
sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo de revisão
criminal e de recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se
o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a
existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado a justificar
a concessão da ordem, de ofício.
2. Afirmar se o agente agiu com dolo eventual ou culpa consciente é
tarefa que deve ser analisada pelo Tribunal do Júri, juiz natural da
causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia e
com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do
devido processo legal, o que impede a análise do elemento subjetivo
de sua conduta por este Sodalício. Precedentes.
3. "A pretensão de desclassificar o crime de homicídio doloso para a
modalidade culposa esbarra na necessidade de se aprofundar no
exame do conjunto fático-probatório que deu ensejo à condenação, o
que é vedado na via estreita do habeas corpus." (AgRg no HC
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356.380/MS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta
Turma, julgado em 8/8/2017, DJe de 16/8/2017).
4. Tem prevalecido, tanto no Supremo Tribunal Federal quanto neste
Superior Tribunal de Justiça, a tese de incompatibilidade entre o dolo
eventual com o recurso que impossibilita a defesa da vítima (surpresa),
pois, tratando-se de crime no trânsito, com dolo eventual, não se
poderia concluir que tivesse o agente deliberadamente agido de
surpresa, de maneira a dificultar ou impossibilitar a defesa da vítima.
5. Também, "a qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III
do § 2º do art. 121 do Código Penal não se compatibiliza com a figura
do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora sugere a ideia de
premeditação, em que se exige do agente um empenho pessoal, por
meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia do sucesso
da execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo eventual
não atua de forma direcionada à obtenção de ofensa ao bem jurídico
tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de produzi-la."
(HC n. 429.154/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma,
julgado em 27/11/2018, DJe de 6/12/2018)
6. Na hipótese, o paciente encontra-se privado de sua liberdade de
locomoção há mais de 1 ano - desde 4/3/2018 -, sendo que será
julgado pelo Tribunal do Juri apenas em 10/6/2019, data em que serão
totalizados, aproximadamente, 1 ano e 3 meses de prisão provisória,
tempo este que não se mostra razoável, mesmo se considerada a pena
em abstrato do crime em tese praticado.
7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para
excluir da decisão de pronúncia as qualificadoras previstas nos incisos
III e IV do § 2º do artigo 121 do Código Penal, bem como revogar a
prisão preventiva do paciente, a fim de que seja colocado em
liberdade, salvo se por outro motivo estiver preso, mediante imposição
de medidas cautelares diversas da prisão à critério do Juízo de 1º
Grau.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do pedido e conceder "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer e Jorge
Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.

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Brasília (DF), 07 de maio de 2019(Data do Julgamento)

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

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HABEAS CORPUS Nº 472.380 - TO (2018/0259247-5)
RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA
IMPETRANTE : EDUARDO BRUNO MENDES DE SOUSA
ADVOGADOS : ANDRÉ LUIZ FIGUEIRA CARDOSO - DF029310
EDUARDO BRUNO MENDES DE SOUSA - TO008541
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO TOCANTINS
PACIENTE : JOSILTON ALVES DA SILVA (PRESO)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):


Trata-se de habeas corpus com pedido liminar impetrado em favor de
JOSILTON ALVES DA SILVA contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado
do Tocantins, que denegou a ordem postulada no HC n. 0005471-73.2018.827.2706.

Consta dos autos que o paciente, preso em flagrante no dia 4/3/2018, está
sendo processado pela prática, em tese, do delito tipificado no art. 121, § 2º, incisos III e IV,
do Código Penal, figurando como réu na Ação Penal de competência do Tribunal do Júri, que
tramita na 1ª Vara Criminal da Comarca de Araguaína/TO.

Irresignada, a defesa impetrou dois habeas corpus perante a Corte local,


tendo o Desembargador Relator determinado o arquivamento do HC n.
0009295-55.2018.827.9200 em razão do ajuizamento de outro writ com idêntico pedido e
causa de pedir.

Em 29/5/2018, a 1ª Câmara Criminal do TJTO denegou a ordem pleiteada


no HC n. 0009367-94.2018.827.0000, em acórdão assim ementado (e-STJ fls. 609/610):

1. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DIREÇÃO


SOB A INFLUÊNCIA DE ÁLCOOL. PRISÃO PREVENTIVA.
AUSÊNCIA DE CONSTRAGIMENTO ILEGAL.
Mantém-se a prisão preventiva, quando demonstrada claramente a
prova da materialidade e indícios suficientes de autoria, bem como
ante a necessidade de se garantir a ordem pública, haja vista que
os fatos imputados ao paciente se revestem de gravidade intensa e
que a prisão cautelar decretada em seu desfavor, em principio, não
se amparou em conjectura abstrata, tampouco na gravidade isolada
do delito, sobretudo quando constatado que a vitima foi atropelada
por uma motocicleta, a qual estava em alta velocidade, além de o
acusado ter admitido, em seu interrogatório, que ingeriu substância
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etílica antes de assumir a direção de seu veículo.
2. CONDIÇÕES PESSOAIS. ISOLADAMENTE.
INAPLICABILIDADE.
Eventuais condições pessoais favoráveis, por si só, não obstam a
segregação cautelar, quando existirem demonstrados nos autos
elementos hábeis que recomendem a manutenção da custódia
cautelar.
3. VIOLAÇÃO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. CONVENÇÃO
AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS. PACTO DE SÃO
JOSÉ DA COSTA RICA. OFENSA. 1NOCORRÊNCIA.
A prisão preventiva não ofende o princípio da presunção de
inocência, assegurado pela Convenção Americana Sobre Direitos
Humanos e pelo Pacto São José da Costa Rica. sobretudo, porque a
respectiva Convenção preceitua que ninguém será privado de sua
liberdade, salvo nos casos e condições previamente fixadas pelas
constituições ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. De tal
forma, que a previsão do artigo 5º, inciso LVII, da Constituição
Federal, garantidora da presunção de inocência, não é afrontada
pela prisão cautelar. A medida, ainda que excepcional, a teor do
disposto nos incisos LIV e LXI do citado artigo, não se fundamenta
em cumprimento antecipado de pena eventualmente imposta, mas em
bases cautelares ante um juízo de necessidade da medida.

Contra a sentença de pronúncia (e-STJ fls. 324/325), proferida em


2/8/2018, que deu o paciente como incurso no art. 121, §2º, incisos III (perigo comum) e IV
(recurso que dificultou a defesa da vítima), do Código Penal, foi interposto recurso em sentido
estrito pela defesa, ao qual foi negado provimento pela 2ª Turma da 1ª Câmara Criminal do
TJTO, em acórdão assim ementado (e-STJ fl. 615):

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO. CRIME DE


TRÂNSITO. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. ARGUMENTOS ACERCA
DA PRISÃO PREVENTIVA. IMPOSSIBILIDADE. TAXATIVIDADE
DO ARTIGO 581 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. As matérias
arguidas concernentes à prisão preventiva não podem ser
analisadas por meio deste recurso, haja vista que o combate à
decisão que decreta a preventiva não está compreendida dentre as
hipóteses legais passíveis de recurso, nos termos do artigo 581. do
Código de Processo Penal.
2. PEDIDO LIMINAR EM RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. Por não haver previsão legal
acerca de pedido liminar, tal pleito não deve ser conhecido.
3. AUSÊNCIA DO EXAME DE ALCOOLEMIA. ADVENTO DA LEI
No 12.760, DE 2012. PROVA SUPRIDA POR MEIO
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TESTEMUNHAL E CONFISSÃO DO AUTOR. DESCLASSIFICAÇÃO
DE DOLO EVENTUAL PARA CRIME CULPOSO.
IMPOSSIBILIDADE. 3.I A pronúncia é uma decisão processual,
com caráter declaratório e provisório, pela qual o juiz admite ou
rejeita a denúncia, sem adentrar o exame de mérito, portanto,
devem-se admitir todas as acusações que tenham ao menos
probabilidade de procedência, a fim de que a causa seja apreciada
pelo júri, juiz natural dos crimes dolosos contra a vida, pois nessa
fase vigora o princípio do in dúbio pro societate.
3.2 Havendo outra maneira de comprovar a suposta embriaguez
do condutor do veiculo, não há necessidade de realização do teste
de alcoolemia, haja vista que com advento da lei no 12.760, de
2012, passou-se a aceitar outros meios de provas, como a
testemunhai, para suprir a ausência dos referidos exames.
3.3 Impossível a desclassificação do crime de competência do
Tribunal do Júri (homicídio por dolo eventual), para outro delito da
competência do juízo singular (crime culposo), quando além da
embriaguez, confessada pelo recorrente e corroborada pelo termo
de constatação dos sinais de alteração da capacidade psicomotora,
também foram verificadas a materialidade e os indícios de autoria,
estes demonstrados por meio das provas acostadas as autos (laudo
de exame necroscópico, depoimentos das testemunhas colhidos
perante a autoridade policial e judicial), suficientes, portanto, para
a prolação da decisão de pronúncia, que apenas declara a
admissibilidade da acusação para posterior análise pelo Tribunal
do Júri.
4. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. INADMISS1BIL1DADE.
INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. Nesta fase
processual, a absolvição sumária, amparada pela inexigibilidade de
conduta diversa, só se mostra possível se comprovada de forma
incontroversa e segura, por meio de elementos concretos e
indiscutíveis, o que não se verifica no caso em análise.

Em face do referido acórdão, foram opostos embargos de declaração, os


quais foram parcialmente providos, em 13/11/2018, apenas para sanar omissão apontada,
todavia sem aplicação de efeitos infringentes (e-STJ fls. 619/620).

No presentes mandamus, o impetrante sustenta que o paciente não estava


embriagado ou sequer tinha feito o uso de qualquer substância alcóolica, a fim de desclassificar
a conduta imputada ao paciente para homicídio culposo no trânsito, nos termos do art. 302,
caput, do CTB, assim, retirando a competência do Tribunal do Júri.

Aduz que a prisão preventiva do paciente é ilegal, uma vez que o decreto
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prisional carece de elementos concretos, JOSILTON é primário, de bons antecedentes, não
tentou fugir do distrito da culpa, é bem quisto na comunidade e leva uma vida honesta e lícita.

Requer, liminarmente e no mérito: (a) a concessão de liberdade provisória do


paciente, em razão da ilegalidade da prisão cautelar; (b) a desclassificação do homicídio
doloso, por dolo eventual, para culposo; (c) seja o paciente absolvido sumariamente em razão
da causa supralegal da inexigibilidade de conduta diversa; (d) exclusão das qualificadoras do
homicídio, descritas na decisão de pronúncia.

O pedido liminar foi indeferido (e-STJ fls. 567/568).

As informações foram devidamente prestadas (e-STJ fls. 578/580 e


592/620).

O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do mandamus,


em parecer assim ementado (e-STJ fl. 584):

1. Direito Penal. Crimes Contra a Vida. Homicídio Duplamente


Qualificado - Direção Sob Efeito de Álcool. Artigos 121, §2°,
Incisos III e IV, do Código Penal c/c Artigo 206, §1°, da lei n.
9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro). 2. Habeas Corpus
Substitutivo de Recurso Próprio. Impossibilidade. 9. lrresignação
Quanto à Prisão Preventiva - Pretensão de Desclassificação do
Delito - Pedido de Excludente de Culpabilidade - Pedido de
Afastamento de Qualificadoras. 4. fundamentação Adequada do
Decreto Prisional. Gravidade Concreta do Delito. Risco à
Sociedade. Manutenção da Ordem Pública. 5. Necessidade de
Revolvimento Tático para se Atender os demais Pedidos da Parte
Impetrante. Inviabilidade na Via Eleita. 6. Parecer Pelo Não
Conhecimento ou Denegaçâo da Ordem.

Em petição incidental, cadastrada sob o n. 00170811/2019, o impetrante


requer prioridade no julgamento deste writ, uma vez que o paciente era o único mantedor de
sua família e "se encontra recluso a mais de 365 dias, pessoa de bem, sem antecedentes
criminais, que tem família, filha ainda criança, tinha emprego fixo, e por ironia do destino se
envolveu em um acidente de trânsito." (e-STJ fl. 625).

É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA (Relator):


O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção
deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas
corpus, passaram a restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de
impugnação pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de
ofício, nos casos de flagrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou preservar a utilidade e a
eficácia do mandamus, que é o instrumento constitucional mais importante de proteção à
liberdade individual do cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder, garantindo a
celeridade que o seu julgamento requer.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados, exemplificativos dessa


nova orientação das Cortes Superiores do País: HC n. 320.818/SP, Relator Ministro FELIX
FISCHER, Quinta Turma, julgado em 21/5/2015, DJe de 27/5/2015; e STF, HC n. 113890,
Relatora Ministra ROSA WEBER, Primeira Turma, julg. em 3/12/2013, DJ de 28/2/2014.

Destarte, de início, incabível o presente habeas corpus substitutivo de


recurso. Todavia, em homenagem ao princípio da ampla defesa, passa-se ao exame da
insurgência, para verificar a existência de eventual constrangimento ilegal passível de ser
sanado pela concessão da ordem, de ofício.

Rememorando o caso em comento, JOSILTON ALVES DA SILVA foi


preso em flagrante delito, no dia 4/3/2018, por conduzir uma motocicleta em velocidade acima
do permitido e, sob o efeito de álcool, veio a atropelar a vítima Maria José Ferreira da Silva,
causando-lhe a morte.

A prisão em flagrante foi convertida em preventiva e o paciente foi


pronunciado a fim de ser submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri pelo crime de
homicídio doloso, na modalidade do dolo eventual.

O Ministério Público estadual ofereceu denúncia em desfavor do paciente

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por homicídio doloso qualificado, nas iras do art. 121, §2º, incisos III e IV, do Código Penal,
em concurso com o art. 306, §1º, inciso II, do Código de Trânsito Brasileiro (e-STJ fls.
45/48).

Encerrada a instrução, o paciente foi pronunciado como incurso no art. 121,


§2º, incisos III (perigo comum) e IV (recurso que dificultou a defesa da vítima), do Código
Penal, por decisão da lavra do Juiz de Direito, Dr. Francisco Vieira Filho, nestes termos
(e-STJ fls. 324/325):

" O Ministério Público do Estado do Tocantins denunciou Josilton


Alves da Silva afirmando que ele, na condução de veiculo
automotor, sob a influência de álcool e em velocidade superior à
permitida para o local, gerando perigo comum e com recurso que
dificultou a defesa da vítima, matou Maria José Ferreira da Silva.
O fato, segundo o autor da ação penal, ocorreu no dia 4 de março
de 2018, em Aragominas, distrito judiciário desta Comarca.
O acusado responde a este processo preso preventivamente (evento
4). A denúncia (evento 1) foi recebida no dia 3 de abril de 2018
(evento 4), o acusado foi citado pessoalmente (evento 9).
apresentou resposta à acusação por intermédio de advogado
constituído, o recebimento da denúncia foi ratificado, a instrução
processual tramitou regularmente com a oitiva das pessoas
indicadas pelas partes, que apresentaram memoriais.
Vieram-me os autos conclusos para decisão no dia 1o de agosto de
2018.
É o relato necessário. Fundamento e decido.
Não há questões preliminares ou prejudiciais ao exame de mérito
suscitadas pelas partes.
Verifico a concomitância dos pressupostos processuais e das
condições da ação penal, razão pela qual passo a julgar este
processo.
Na decisão de pronúncia, é vedada ao magistrado a análise do
mérito da pretensão posta em juízo, tendo em vista ser atribuição
dos integrantes do Conselho de Sentença do Júri Popular, por
força do artigo 5o, inciso XXXVIII, alínea c, da Constituição da
República Federativa do Brasil.
Malgrado essa vedação, a fundamentação da decisão de pronúncia
é indispensável, conforme preceitua o artigo 413, do Código de
Processo Penal, bem como o artigo 93, inciso IX, de nossa
Constituição.
A prova da ocorrência do fato criminoso doloso contra a vida
(materialidade delitual) está demonstrada através do laudo pericial
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no evento 49 dos autos de IP apensos n°
0003729-13.2018.827.2706.
Há indícios de autoria do fato pelo acusado.
A filha da vítima foi ouvida em juízo e confirmou que assistiu ao
fato. Segundo ela, sua mãe foi atingida pela motocicleta conduzida
pelo denunciado em alta velocidade e que ele aparentava estar
bêbado.
Deusivan Gomes, Enóquio Soares e Antônio Marcos dos Reis
encontraram o denunciado próximo ao local do fato com sinais
aparentes de embriaguez.
O acusado não negou que conduzia a motocicleta envolvida no
fato.
Tudo isso está registrado por meio de áudio no evento 45 destes
autos e essas provas orais foram produzidas sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa.
Não há prova segura e indiscutível nesta fase de que o denunciado
tenha agido com culpa. Por isso, essa questão deverá ser dirimida
pelo tribunal competente.
O fato foi praticado em via pública e a vítima tinha a companhia ou
estava próxima de outras pessoas. Por isso, admito provisoriamente
a circunstância qualificadora perigo comum.
É possível que a vítima não tivesse como prever o ocorrido e que
tenha sido colhida com surpresa. Por isso, acolho também a
circunstância qualificadora recurso que dificultou a defesa da
vítima.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, pronuncio JOSILTON ALVES DA SILVA, brasileiro,
nascido no dia 4-12-1990, em Balsas/MA, filho de Josimar Pereira
da Silva e de Felícia Alves da Silva, portador da cédula de
identidade RG n° 1.033.329, SSP-TO, inscrito no CPF/MF sob o n°
039.681.051-92, residente na Rua do Cruzeiro, s/n°, Setor
Cruzeiro, na cidade de Aragominas/TO, dando-o como incurso no
artigo 121, § 2o, incisos III (perigo comum) e IV (recurso que
dificultou a defesa da vítima), do Código Penal.
Mantenho, por seus próprios e jurídicos fundamentos, a prisão
preventiva do acusado.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se."

O julgamento perante o Tribunal do Júri está marcado para o dia 10/6/2019.

Quanto à tese de desclassificação da conduta imputada ao paciente para


homicídio culposo na direção de veículo automotor, nos termos do art. 302, caput, do CTB,

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tendo em vista o alegado excesso de linguagem da sentença de pronúncia, assevero que, para
se reconhecer a culpa consciente ou o dolo, ainda que eventual, é necessária uma análise
minuciosa da conduta do acusado, até porque a distinção entre os mencionados elementos
enseja grandes debates doutrinários, devendo ser feita de acordo com as provas colacionadas
aos autos.

Nesse sentido, valiosa é a lição de Guilherme de Souza Nucci: "Diferença


entre culpa consciente e dolo eventual: trata-se de distinção teoricamente plausível,
embora, na prática, seja muito complexa e difícil. Em ambas as situações o agente tem a
previsão do resultado que sua conduta pode causar, embora na culpa consciente não o
admita como possível e, no dolo eventual admita a possibilidade de se concretizar,
sendo-lhe indiferente. Em nota anterior, demonstrou-se, através da jurisprudência
pátria, no contexto dos crimes de trânsito, como é tênue a linha divisória entre um e
outro. Se, anos atrás, um racha, com vítimas fatais, terminava sendo punido como delito
culposo (culpa consciente), hoje não se deixa de considerar o desprezo pela vida por
parte do condutor do veículo, punindo-se como crime doloso (dolo eventual)" (Código
Penal comentado. 14ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 202).

Assim, esta Corte Superior possui jurisprudência pacificada no sentido de


que o pleito de desclassificação do crime de homicídio na direção de veículo automotor para
outros previstos no Código de Trânsito Brasileiro demanda o aprofundado revolvimento do
conjunto probatório, providência vedada na via eleita.

Nesse sentido, destaco os seguintes julgados:

HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO


RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO
CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. NÃO
CONHECIMENTO.
1. A via eleita revela-se inadequada para a insurgência contra o
ato apontado como coator, pois o ordenamento jurídico prevê
recurso específico para tal fim, circunstância que impede o seu
formal conhecimento. Precedentes. 2. O alegado constrangimento
ilegal será analisado para a verificação da eventual possibilidade
de atuação ex officio, nos termos do artigo 654, § 2º, do Código de
Processo Penal.

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HOMICÍDIO SIMPLES CONSUMADO E TENTADO. PRONÚNCIA.
DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA HOMICÍDIO
CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EXAME DE
ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. NECESSIDADE DE ANÁLISE
APROFUNDADA DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE
SENTENÇA. COAÇÃO ILEGAL NÃO CARACTERIZADA.
1. Consoante o artigo 413 do Código de Processo Penal, a decisão
de pronúncia encerra simples juízo de admissibilidade da acusação,
exigindo o ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do
crime e de indícios de sua autoria, não se demandando aqueles
requisitos de certeza necessários à prolação de um édito
condenatório, sendo que as dúvidas, nessa fase processual,
resolvem-se contra o réu e a favor da sociedade.
2. Para que seja reconhecida a culpa consciente ou o dolo eventual,
faz-se necessária uma análise minuciosa da conduta do acusado,
providência vedada na via eleita.
3. Afirmar se o agente agiu com dolo eventual ou culpa consciente é
tarefa que deve ser analisada pela Corte Popular, juiz natural da
causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia
e com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito
do devido processo legal, o que impede a análise do elemento
subjetivo de sua conduta por este Sodalício. Precedentes.
[...]
5. Habeas corpus não conhecido.
(HC 466.728/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma,
julgado em 4/10/2018, DJe de 10/10/2018) – (grifei)

AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.


HOMICÍDIO PRATICADO NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DO ART.
302 DO CTB. DEBATE ACERCA DO ELEMENTO VOLITIVO DO
AGENTE. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. PARECER
ACOLHIDO NO PONTO. EXISTÊNCIA DE CONTRADIÇÃO NO
JULGADO. QUESTÃO NÃO APRECIADA PELO TRIBUNAL A
QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
1. A pretensão de desclassificar o crime de homicídio doloso para a
modalidade culposa esbarra na necessidade de se aprofundar no
exame do conjunto fático-probatório que deu ensejo à condenação,
o que é vedado na via estreita do habeas corpus. Precedentes.
2. A questão relativa à existência de contradição no julgado pela
condenação simultânea por homicídio doloso e lesão corporal
culposa não foi apreciada pelo Tribunal a quo, o que impede o seu

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Superior Tribunal de Justiça
exame diretamente por esta Corte Superior, sob pena de indevida
supressão de instância.
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no HC 356.380/MS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 8/8/2017, DJe de 16/8/2017) –
(grifei)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. HOMICÍDIO CONSUMADO E


TENTADO. DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃO. CRIMES DE
TRÂNSITO. IMPOSSIBILIDADE. EMBRIAGUEZ. CONSTATAÇÃO
TÉCNICA DO GRAU DE ALCOOLEMIA. OUTRAS
CIRCUNSTÂNCIAS QUE REVELAM A OCORRÊNCIA DE DOLO
EVENTUAL. COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL
DO JÚRI. DILAÇÃO PROBATÓRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. É admissível, em crimes de homicídio na direção de veículo
automotor, o reconhecimento do dolo eventual, a depender das
circunstâncias concretas da conduta.
2. A questão relativa à incompatibilidade entre o dolo eventual e o
crime tentado não foi objeto de análise pelo Tribunal de origem,
razão pela qual não pode ser examinada por esta Corte Superior,
sob pena de indevida supressão de instância.
3. A embriaguez não foi a única circunstância externa
configuradora do dolo eventual. Assim, na espécie, a Corte de
origem entendeu, com base nas provas dos autos, que "o recorrente
não está sendo processado em razão de uma simples embriaguez ao
volante da qual resultou uma morte, mas sim de dirigir em
velocidade incompatível com o local, à noite, na contramão de
direção em rodovia" (fl. 69). Tais circunstâncias indicam, em tese,
terem sido os crimes praticados com dolo eventual.
4. Infirmar a conclusão alcançada pela Corte de origem
demandaria dilação probatória, iniciativa inviável no âmbito desta
ação constitucional.
5. Habeas Corpus não conhecido.
(HC 303.872/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta
Turma, julgado em 15/12/2016, DJe de 2/2/2017) – (grifei)

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1.


PETIÇÃO APRESENTADA DIRETAMENTE NO STJ.
INOBSERVÂNCIA DO RITO PROCEDIMENTAL. 2. HOMICÍDIO
NO TRÂNSITO. PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DOS FATOS. NÃO
CABIMENTO. 3. RECURSO NÃO CONHECIDO.
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Superior Tribunal de Justiça
1. Embora o advogado tenha intitulado a petição como recurso em
habeas corpus, não observou o procedimento relativo ao referido
instrumento processual, tendo apresentado seu pleito diretamente
perante o Superior Tribunal de Justiça, sem prévia admissão do
Tribunal de origem. Todavia, em homenagem ao princípio da ampla
defesa, passa-se ao exame da insurgência, para verificar a
existência de eventual constrangimento ilegal passível de ser
sanado pela concessão da ordem, de ofício, analisando-se, dessa
forma, o mérito.
2. Cabe às instâncias ordinárias analisar a correta tipicidade da
conduta, haja vista terem amplo espectro cognitivo dos fatos e
provas dos autos. De fato, "a aferição da existência ou da ausência
do elemento subjetivo da infração, para a desclassificação do delito
de homicídio qualificado para duplo homicídio culposo na direção
de veículo automotor, art. 302 da Lei n. 9.503/1997 (Código de
Trânsito Brasileiro), demanda o revolvimento da prova produzida, o
que não é possível em habeas corpus substitutivo de recurso
especial" (HC 329.691/CE, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Sexta Turma, julgado em 05/04/2016, DJe 18/04/2016).
3. Recurso em habeas corpus não conhecido.
(RHC 74.672/RO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, Quinta Turma, julgado em 13/9/2016, DJe de
21/9/2016) – (grifei)

Na mesma esteira são os julgados do Supremo Tribunal Federal:

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM


HABEAS CORPUS. CRIME DE HOMICÍDIO NA CONDUÇÃO DE
VEÍCULO AUTOMOTOR. DOLO EVENTUAL. COMPETÊNCIA DO
TRIBUNAL DO JÚRI. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE FLAGRANTE
OU ABUSO DE PODER. 1. A orientação jurisprudencial do
Supremo Tribunal Federal (STF) é no sentido de que, “apresentada
denúncia por homicídio na condução de veículo automotor, na
modalidade de dolo eventual, havendo indícios mínimos que
apontem para o elemento subjetivo descrito, tal qual a embriaguez
ao volante, a alta velocidade e o acesso à via pela contramão, não
há que se falar em imediata desclassificação para crime culposo
antes da análise a ser perquirida pelo Conselho de Sentença do
Tribunal do Júri. O enfrentamento acerca do elemento subjetivo do
delito de homicídio demanda profunda análise fático-probatória, o
que, nessa medida, é inalcançável em sede de habeas corpus” (HC
121.654, Redator para o acórdão o Ministro Edson Fachin). 2. O
STF já decidiu que a “Lei 12.971/14 não altera a aplicação do dolo
eventual em crimes praticados na direção de veículos automotores,
não se tratando, portanto, de novatio legis in mellius. O critério de
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Superior Tribunal de Justiça
distinção entre os tipos penais do homicídio (art. 121 do CP) e do
homicídio de trânsito (art. 302 do CTB) segue sendo o dolo e a
culpa” (ARE 1.037.746-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes). 3. Por
outro lado, “O afastamento ou reconhecimento da existência de
qualificadoras situa-se no âmbito da competência funcional do
Tribunal do Júri, órgão constitucionalmente competente para
apreciar e julgar os crimes dolosos contra a vida (HC nº
66.334-6/SP, Tribunal Pleno, redator para o acórdão o Ministro
Moreira Alves, publicado no DJ de 19/05/89), salvo se forem
manifestamente improcedentes e incabíveis”(HC 108.374, Rel. Min.
Luiz Fux). 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(HC 150418 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, julgado em 07/05/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-098
DIVULG 18-5-2018 PUBLIC 21-5-2018) – (grifei)
EMENTA Agravo regimental em habeas corpus. Crime de homicídio
doloso na direção de veículo automotor supostamente causado por
embriaguez. Pretendida desclassificação para o delito culposo.
Impossibilidade. Indispensável reexame de fatos e provas
intimamente ligados ao mérito da ação penal, o qual o habeas
corpus não comporta. Precedentes. (...) Regimental não provido. 1.
Para se acolher a pretensa desclassificação das condutas
imputadas ao paciente na pronúncia, indispensável seria o reexame
de fatos e provas intimamente ligados ao mérito da ação penal, o
qual o habeas corpus não comporta. 2. Segundo o pacífico
entendimento da Corte, “o pleito de desclassificação de crime não
tem lugar na estreita via do habeas corpus por demandar
aprofundado exame do conjunto fático-probatório da causa” (HC nº
115.352/DF, Segunda Turma, Relator o Ministro Ricardo
Lewandowski, DJe de 30/4/13). (...) 6. Agravo regimental ao qual se
nega provimento.
(HC 136935 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, julgado em 02/12/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-030
DIVULG 14-2-2017 PUBLIC 15-2-2017) – (grifei)

No caso em comento, ao pronunciar o paciente, o Magistrado singular, após


examinar o conteúdo das provas reunidas no feito, assentou que A filha da vítima foi ouvida
em Juízo e confirmou que assistiu ao fato. Segundo ela, sua mãe foi atingida pela
motocicleta conduzida pelo denunciado em alta velocidade e que ele apresentava estar
bêbado. Deusivan Gomes, Enóquio Soares e Antônio Marcos dos Reis encontraram o
denunciado próximo ao local do fato com sinais aparentes de embriaguez (e-STJ fl. 324).

E salientou que O acusado não negou que conduzia a motocicleta

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Superior Tribunal de Justiça
envolvida no fato. Tudo isso está registado por meio de áudio no evento 45 destes autos
e essas provas orais foram produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.
Não há prova segura e indiscutível nesta fase de que o denunciado tenha agido com
culpa. Por isso, essa questão deverá ser dirimida pelo tribunal competente (e-STJ fl.
324).

Assim, presentes a materialidade e indícios suficientes de autoria em desfavor


do paciente, é inadequada a desclassificação da conduta do paciente para crimes previstos no
Código de Trânsito Brasileiro, uma vez que, para se concluir que não teria agido com dolo, é
indispensável a análise aprofundada dos fatos e provas contidos nos autos, o que não se
admite em sede de habeas corpus.

Ademais, no que diz respeito ao pedido de excludente de culpabilidade, para


se atender a tal súplica seria necessário, de igual modo, o exame minucioso dos fatos e provas
carreados nos autos, o que é inviável na via eleita.

Todavia, conquanto a matéria não tenha sido debatida no acórdão ora


impugnado, verifico a incompatibilidade entre o dolo eventual e as circunstâncias qualificadoras
do perigo comum e do recurso que dificultou a defesa da vítima, previstas na parte final dos
incisos III e IV do § 2º do artigo 121 do Código Penal, respectivamente, in verbis:

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
(...)
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; -
grifei

Isso porque este Superior Tribunal de Justiça já pacificou entendimento no

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Superior Tribunal de Justiça
sentido da incompatibilidade da qualificadora do recurso que dificultou a defesa da vítima, em
razão da surpresa, com o dolo eventual, uma vez que se revela característica da intenção do
agente, não podendo ser aceita na forma de homicídio cujo dolo seria o eventual, visto que, a
despeito do paciente ter assumido o risco de produzir o resultado, não o desejou.

Quanto a referida qualificadora, o Magistrado de 1º grau, equivocadamente,


consignou na sentença de pronúncia: "É possível que a vítima não tivesse como prever o
ocorrido e que tenha sido colhida com surpresa. Por isso, acolho também a
circunstância qualificadora recurso que dificultou a defesa da vítima." (e-STJ fl. 324).

Neste ponto, cabe frisar que o agente, quando atua imbuído em dolo
eventual, não quer o resultado lesivo, não age com a intenção de ofender o bem jurídico
tutelado pela norma penal. O resultado, em razão da sua previsibilidade, apenas lhe é
indiferente, residindo aí o desvalor da conduta que fez com o que o legislador equiparasse tal
indiferença à própria vontade de obtê-lo.

Nesse sentido, colhem-se os seguintes julgados desta Corte Superior:

PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. 1. IMPETRAÇÃO


SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. 2.
HOMICÍDIOS NO TRÂNSITO. DOIS CONSUMADOS E UM
TENTADO. DOLO EVENTUAL. VELOCIDADE EXCESSIVA.
DIREÇÃO SOB EFEITO DE ÁLCOOL. PEDIDO DE
DESCLASSIFICAÇÃO. ALEGAÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DE
CARACTERIZAÇÃO DO DOLO EVENTUAL. CIRCUNSTÂNCIAS
QUE REVELAM A ASSUNÇÃO DO RESULTADO. PRECEDENTES
DO STJ E DO STF. 3. INCOMPATIBILIDADE ENTRE O DOLO
EVENTUAL E A TENTATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. 4. DOLO
EVENTUAL E QUALIFICADORA DA SURPRESA.
INCOMPATIBILIDADE. 5. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO APENAS PARA DECOTAR A
QUALIFICADORA.
(...)
3. No que concerne à alegada incompatibilidade entre o dolo
eventual e o crime tentado, tem-se que o Superior Tribunal de
Justiça possui jurisprudência no sentido de que "a tentativa é
compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual,
na direção de veículo automotor". (AgRg no REsp 1322788/SC, Rel.
Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em
18/06/2015, DJe 03/08/2015).

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Superior Tribunal de Justiça
4. Quanto à compatibilidade do dolo eventual com o recurso que
impossibilita a defesa da vítima, tem prevalecido, no Supremo
Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, não ser
possível a incidência da referida qualificadora. De fato, se tratando
de crime de trânsito, com dolo eventual, não se poderia concluir que
tivesse o paciente deliberadamente agido de surpresa, de maneira a
dificultar ou impossibilitar a defesa da vítima.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício,
apenas para decotar a qualificadora do inciso IV do § 2º do art.
121 do Código Penal.
(HC 308.180/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
Quinta Turma, julgado em 13/9/2016, DJe de 20/9/2016) – (grifei)

No mesmo norte são os precedentes do Supremo Tribunal Federal:

Habeas corpus. 2. Homicídio de trânsito. Embriaguez. Alta


velocidade. Sinal vermelho. 3. Pronúncia. Homicídio simples. 4.
Dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121,
§ 2º, IV (traição, emboscada, dissimulação). 4. Ordem concedida
para determinar o restabelecimento da sentença de pronúncia, com
exclusão da qualificadora.
(HC 111442, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma,
julgado em 28/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182
DIVULG 14-09-2012 PUBLIC 17-09-2012 RJTJRS v. 47, n. 286,
2012, p. 29-33) – (grifei)

EMENTA: Habeas Corpus. Homicídio qualificado pelo modo de


execução e dolo eventual. Incompatibilidade. Ordem concedida. O
dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121,
§ 2º, inc. IV, do CP (“traição, emboscada, ou mediante
dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido”). Precedentes. Ordem concedida.
(HC 95136, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda
Turma, julgado em 01/03/2011, DJe-060 DIVULG 29-03-2011
PUBLIC 30-03-2011 EMENT VOL-02492-01 PP-00006 RB v. 23, n.
570, 2011, p. 53-55) – (grifei)

Não é diferente o posicionamento desta Corte em relação à qualificadora do


perigo comum, a qual incidirá naqueles casos em que o agente atua de maneira direcionada à
obtenção do resultado, em que, prevendo a morte da vítima, não só a deseja, como também
atua de maneira mais vigorosa, empregando meio hábil a garantir o sucesso da execução.
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Superior Tribunal de Justiça
Com efeito, tal modo de agir evidencia que a incidência da qualificadora em
debate pressupõe, por parte do agente, uma percepção bastante clara e definida do resultado
almejado, razão pela qual conclui-se pela sua total incompatibilidade com a figura do dolo
eventual, em que, como já visto, o agente não age direcionado à prática do delito, a despeito
de assumir o risco de produzi-lo.

Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados no mesmo sentido:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO.


DOLO EVENTUAL. INCOMPATIBILIDADE COM A
QUALIFICADORA OBJETIVA DESCRITA NO ART. 121, § 2º, III,
DO CÓDIGO PENAL. ORDEM CONCEDIDA.
1. A qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º
do art. 121 do Código Penal não se compatibiliza com a figura do
dolo eventual, pois enquanto a qualificadora sugere a ideia de
premeditação, em que se exige do agente um empenho pessoal, por
meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia do
sucesso da execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo
eventual não atua de forma direcionada à obtenção de ofensa ao
bem jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco
de produzi-la.
2. Habeas corpus concedido para afastar a qualificadora de
natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do
Código Penal e, por consequência, desclassificar a conduta para o
delito de homicídio simples, redimensionando a pena à 6 anos de
reclusão, bem como fixando o regime semiaberto para o início de
desconto da sanção.
(HC 429.154/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma,
julgado em 27/11/2018, DJe de 6/12/2018) - grifei

[...]
ILEGALIDADE FLAGRANTE. QUALIFICADORAS. EMPREGO DE
RECURSO QUE DIFICULTA OU IMPOSSIBILITA A DEFESA DA
VÍTIMA. MODO DE EXECUÇÃO QUE PRESSUPÕE O DOLO
DIRETO. MEIO DE QUE POSSA RESULTAR PERIGO COMUM.
DESCRIÇÃO QUE SE CONFUNDE COM A DESCRIÇÃO DO
DOLO EVENTUAL ATRIBUÍDO AO RÉU. COAÇÃO ILEGAL
CARACTERIZADA. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO.
1. Quando atua com dolo eventual, o agente não quer o resultado
lesivo, não age com a intenção de ofender o bem jurídico tutelado
pela norma penal. O resultado, em razão da sua previsibilidade,
apenas lhe é indiferente, residindo aí o desvalor da conduta que fez
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com o que o legislador equiparasse tal indiferença à própria
vontade de obtê-lo.
2. Entretanto, a mera assunção do risco de produzir a morte de
alguém não tem o condão de atrair a incidência da qualificadora
que agrava a pena em razão do modo de execução da conduta, já
que este não é voltado para a obtenção do resultado morte, mas
para alguma outra finalidade, seja ela lícita ou não.
3. Não é admissível que se atribua ao agente tal qualificadora
apenas em decorrência da assunção do risco própria da
caracterização do dolo eventual, sob pena de se abonar a
responsabilização objetiva repudiada no Estado Democrático de
Direito.
4. A qualificadora do perigo comum, tal como exposta na peça
vestibular, não extrapola o conceito do dolo eventual atribuído ao
acusado no caso concreto, revelando-se manifestamente
improcedente.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para
excluir da decisão de pronúncia as qualificadoras previstas nos
incisos III e IV do § 2º do artigo 121 do Código Penal,
submetendo-se o réu a novo julgamento pelo Tribunal do Júri pela
prática dos crimes de homicídio simples consumado e tentado.
(HC 360.617/RR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma,
julgado em 21/03/2017, DJe de 28/3/2017) - grifei.

Afastadas, portanto, as duas qualificadoras reconhecidas em face do


paciente, desclassifico a conduta inicialmente descrita na sentença de pronúncia para o delito
de homicídio simples, previsto no art. 121, caput, do Código Penal.

Por fim, verifica-se que assiste razão ao impetrante quando afirma excesso
de prazo para formação da culpa do paciente.

Como tem orientado a doutrina e decidido esta Corte Superior, os prazos


indicados na legislação pátria para a finalização dos atos processuais servem apenas como
parâmetro geral, não se podendo deduzir o excesso tão somente pela sua soma aritmética.
Admite-se, em homenagem ao princípio da razoabilidade, certa variação, de acordo com as
peculiaridades de cada caso, devendo o constrangimento ser reconhecido como ilegal somente
quando o retardo ou a delonga sejam injustificados e possam ser atribuídos ao Poder
Judiciário.

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Deste modo, certo é que, em razão do princípio constitucional da razoável
duração do processo, deve o Estado prezar pela célere prestação jurisdicional, o que não se
vislumbra na espécie, devendo o manifesto constrangimento ilegal a ser sanado por este
Superior Tribunal, ainda que de ofício.

No caso, de acordo com o contido nos autos, muito embora o fato delituoso
tenha ocorrido em 4/3/2018, o paciente se encontre cautelarmente segregado desde a data do
fato, a denúncia tenha sido recebida em 3/4/2018 e a pronúncia proferida em 2/8/2018, o
julgamento pelo Tribunal do Júri só ocorrerá em 10/6/2019.

Como se depreende do histórico acima relatado, o paciente encontra-se


privado de sua liberdade de locomoção há mais de 1 ano - desde 4/3/2018 -, sendo que será
julgado pelo Tribunal do Juri apenas em 10/6/2019, data em que serão totalizados,
aproximadamente, 1 ano e 3 meses de prisão provisória, tempo este que não se mostra
razoável, mesmo se considerada a pena em abstrato do crime em tese praticado.

Dessa forma, diante da exclusão das qualificadoras do homicídio e não


havendo previsão para a conclusão definitiva do processo, resta configurado, a toda evidência,
manifesto constrangimento ilegal passível de ser sanado pela via eleita, até porque, ao que tudo
parece, o paciente não deu causa à delonga.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência:

HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO


AO RECURSO ORDINÁRIO CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO TEMPORÁRIA
CONVERTIDA EM PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO PARA A
FORMAÇÃO DEFINITIVA DA CULPA. CONFIGURAÇÃO.
PROVIDÊNCIAS CAUTELARES ALTERNATIVAS. NECESSIDADE.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO.
[...]
3. No caso, muito embora o fato delituoso tenha ocorrido em
26/12/2012, o paciente se encontre cautelarmente segregado desde
12/11/2014, a denúncia tenha sido recebida em 19/12/2014 e a
pronúncia proferida em 13/2/2017, o julgamento pelo Tribunal do
Júri só ocorrerá em 22/10/2019, restando configurado, a toda
evidência, manifesto constrangimento ilegal, passível de ser sanado
Documento: 1821586 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 20/05/2019 Página 21 de 4
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pela via eleita, até porque, o paciente, privado de sua liberdade de
locomoção há mais de 4 (quatro) anos, não deu causa à delonga.
4. "Considerando que o paciente se encontra preso há mais de
quatro anos e seis meses, que o júri foi designado para data
posterior a seis meses e que o excesso de prazo não pode ser
creditado à defesa, está configurado constrangimento ilegal." (HC
89.822/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 30/10/2008, DJe 17/11/2008).
[...]
6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, para
determinar a revogação da prisão preventiva do paciente, a fim de
que seja colocado em liberdade, salvo se também por outro motivo
deva permanecer preso, mediante imposição das medidas cautelares
alternativas indicadas.
(HC 464.674/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma,
julgado em 02/04/2019, DJe de 9/4/2019)

Ante o exposto, não conheço do presente habeas corpus; contudo,


concedo a ordem, de ofício, para excluir da decisão de pronúncia as qualificadoras previstas
nos incisos III e IV do § 2º do artigo 121 do Código Penal e revogar a prisão preventiva do
paciente, a fim de que seja colocado em liberdade, salvo se por outro motivo estiver preso,
mediante imposição de medidas cautelares alternativas à prisão, nos termos do art. 319 do
CPP, conforme critério do Juízo singular.

É como voto.

Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA


Relator

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2018/0259247-5 PROCESSO ELETRÔNICO HC 472.380 / TO


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00054717320188272706 00092955520188279200 00093679420188270000


0018114332018827000 18114332018827000 54717320188272706 92955520188279200
93679420188270000

EM MESA JULGADO: 07/05/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HUGO GUEIROS BERNARDES FILHO
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : EDUARDO BRUNO MENDES DE SOUSA
ADVOGADOS : ANDRÉ LUIZ FIGUEIRA CARDOSO - DF029310
EDUARDO BRUNO MENDES DE SOUSA - TO008541
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO TOCANTINS
PACIENTE : JOSILTON ALVES DA SILVA (PRESO)

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido e concedeu "Habeas Corpus" de
ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik, Felix Fischer e Jorge Mussi
votaram com o Sr. Ministro Relator.

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