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RECURSO DE APELAÇÃO
com fundamento no art. 996 e art. 1009 do Código de
Processo Civil, requerendo, após as formalidades legais, a
remessa ao juízo ad quem para processamento e
julgamento, com a guia de preparo devidamente recolhida
e acosta aos autos.
Pede deferimento.
Florianópolis/SC, 08 de junho de 2020.
Advogado
OAB/SC
COLENDA TURMA
DOUTA PROCURADORIA
RECURSO DE APELAÇÃO
Em que pese o notório saber jurídico da MM Juíza Federal a quo, maneja-se o
presente recurso, com fundamento nos artigos 996 e 1.009 do Código de Processo Civil, no tocante à
sentença de procedência em Ação Civil Pública que declarou “toda a área do Loteamento... como
Área de Preservação Permanente não edificável e não sujeita a processo de regularização fundiária” ,
e condenou os Réus a “obrigação demolir todas as edificações irregulares e recuperar toda a área
degradada [...],por meio da elaboração, apresentação e implantação de PRAD.”
1. TEMPESTIVIDADE
Cediço, o prazo para impugnar sentença é de 15 (quinze) dias úteis (art. 1.003, §
5º, CPC), em conformidade com o art. 219 do Código de Processo Civil. In casu, a sentença fora
prolatada em 02.04.2020 (Evento 423), contra a qual foram opostos Embargos de Declaração
(Evento 435), julgados em 06.04.2020 (Evento 443), cujo prazo no sistema eProc iniciou-se no dia
06.05.2020 com término em 02.06.2020. Houve suspensão para inspeção judicial. Portanto,
tempestivo o recurso.
2. CABIMENTO DO RECURSO
O art. 1.009 do Código de Processo Civil dispõe que o recurso de apelação será
cabível contra sentença (art. 203, §1º do CPC), por meio da qual, o (a) magistrado (a), com
fundamento no art. 487 do CPC, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum. Este é o caso dos
autos. Cabível, portanto, a interposição do recurso.
3. DA SUSTENTAÇÃO ORAL
Nos termos do inciso I, do art. 105 do Regimento Interno 3 deste Egrégio Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, é admissível sustentação oral em sede de recurso de apelação,
razão pela qual, este patrono, previamente informa seu interesse em ocupar a tribuna da Corte para
produzir sustentação, e responder eventuais perguntas que lhe forem feitas pelos julgadores, bem
como para prestar esclarecimentos em matéria de fato, nos termos do § 3º do art. 102 do citado
Regimento.
Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo
Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.
Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a
relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou
que possa discutir em juízo como substituto processual.
Terceiro é aquele que não participa do processo. O recurso de terceiro é uma modalidade
de intervenção de terceiro; o terceiro, com o recurso, passa a fazer parte do processo.
Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica
submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir
em juízo como substituto processual (art. 996, par. ún., CPC). [...] Pode-se dizer, para
simplificar, que todos aqueles que, legitimados a intervir no processo, não o fizeram,
podem recorrer [...]. O litisconsorte necessário não citado também poderá recorrer. 4
3
https://www2.trf4.jus.br/trf4/upload/editor/apg_rrt_ritrf4_01_04.htm
4
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: o processo civil nos tribunais, recursos, ações de competência originária de
tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência originária de tribunal / Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha — 13.
ed. refornn. — Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. v. 3. p. 113-114.
Logo, para interpor o recurso, o terceiro prejudicado deve demonstrar que a
sentença afetará o seu direito. No caso, os Apelantes, legítimos possuidores de lotes e casas no
Loteamento..., não foram citados na ação civil pública epigrafada para compor o polo passivo na
condição de litisconsórcio necessário, mas são/serão atingidos pelos efeitos da sentença que
determinou a demolição de suas casas e recuperação da área. Nesse sentir, há a demonstração
clara e precisa de que a questão posta à apreciação judicial atinge direito de particular não envolvido
na lide, sobretudo, na esfera individual-patrimonial, fato que irremediavelmente autoriza que os
Apelantes interponham o presente recurso, mesmo porque, são pessoas de fácil identificação, cujos
dados são de conhecimento do Parquet e da própria MM Juíza a quo, conforme será exposto no
decorrer deste recurso.
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Exemplo de lançamento de IPTU no imóvel da Apelante...
Portanto, exsurge claro e insofismável o direito e legitimidade dos Apelantes para
interpor o presente recurso de apelação contra a r, sentença proferida em processo do qual não
fizeram parte, e que resultou em determinação de demolir suas casas, as quais estavam identificadas
nos autos, com nomes, endereços e demais dados dos proprietários, e inclusive, em sede de
inquéritos civis. Ademais, os Apelantes adquiriram seus imóveis de boa-fé. Daí a necessidade de
serem partes no processo de origem e legítimos para interpor o presente recurso. Feitas essas
considerações, passa-se a síntese dos autos.
5. ESCÓLIO PROCESSUAL
Trata-se na origem, de ação civil pública com pedido de antecipação dos efeitos da
tutela ajuizada em 16.12.2016 pelo Ministério Público Federal apenas em face de (i) União –
Advocacia Geral da União; (ii) Município..; (iii) Cooperativa...; e (iv) Réu..., mesmo tendo o Parquet, à
época, conhecimento de quem eram os moradores, identificados no Anexo 8, p. 29-50, Evento 1.
[...]
Contudo, maxima venia, a sentença, aliás, todo o processo, são nulos, porque o
resultado da ação civil pública atinge/atingirá diretamente os moradores/Apelantes, de forma a ser
inaceitável que estes não componham o polo passivo da ação, dada a natureza jurídica existente na
presente demanda, conforme será demonstrado nas razões a seguir.
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“Ao longo do feito, o MUNICÍPIO fez alusão à necessidade de citação dos moradores do Loteamento. Todavia, de acordo com
jurisprudência consolidada, "Nos danos ambientais, a regra geral é o litisconsórcio facultativo, por ser solidária a responsabilidade
dos degradadores. O autor pode demandar qualquer um deles, isoladamente, ou em conjunto pelo todo, de modo que, de acordo
com a jurisprudência do STJ mais recente, não há obrigatoriedade de formar litisconsórcio passivo necessário com os adquirentes
e possuidores dos lotes" (REsp 1826761/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/10/2019, DJe
29/10/2019) ”
A procedência do pedido (demolição das casas e recuperação da área), portanto,
atinge diretamente a esfera dos direitos individuais de cada um daqueles que adquiriu frações do
loteamento descrito na inicial, o qual, repise-se, foi aprovado pela municipalidade em 1981.
Ressalte-se que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, LIV, garante que
"ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal" . Por óbvio que
não poderiam os compromissários simplesmente se verem despojados de suas casas sem nem
mesmo integrarem o polo passivo da demanda.
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Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a
eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.
Por outro lado, importa consignar, que há moradores no aludido loteamento que
adquiriram lotes já há muitos anos, e sem qualquer relação com os réus que teriam iniciado a
suposta comercialização irregular ou loteamento clandestino. Há moradores ainda, que possuem a
competente inscrição imobiliária para fins de lançamento de IPTU, conforme documentos acostos.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Tamanha é a importância dada pelo ordenamento legal, que este determina que o
juiz atuará como genuíno garantidor destes direitos e garantias (art. 1º 8, do CPC), dando-lhe a
competência de zelar pela observância e aplicação do exercício do contraditório, bem como lhe
incumbe do dever de não decidir sem que se tenha oferecido o contraditório as partes, conforme
extrai-se da processualística cível de 2015:
Cediço que o CPC, em seu art. 1810, veda que os demandados na ação civil pública
de origem tivessem defendido em nome próprio, interesses ou direitos que, na verdade, pertencem a
terceiros, os Apelantes. Daí a necessidade destes integrarem o polo passivo, a fim de rechaçar as
alegações do Parquet, mesmo porque, alguns moradores adquiriram lotes no suposto loteamento
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Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será: I - nula, se a decisão deveria ser
uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo;
10
Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
clandestino ou irregular, que popularizou-se como Loteamento..., há muitos anos, mas não tiveram a
oportunidade de se defenderem e comprovar tal fato.
É bem verdade que nas demandas que visam à proteção do meio ambiente, a
regra é do litisconsórcio facultativo. Sucede que, na presente ação civil pública, a pretensão
formulada pelo Parquet resulta/resultaria em ordem de demolição de moradias de terceiras pessoas
não envolvidas na lide, fato que atrai a incidência do direito à defesa e ao contraditório, pois, afetadas
em sua esfera individual-patrimonial. Daí a necessidade da MM Juíza a quo determinar, no mínimo, a
emenda da inicial para inclusão dos Apelantes.
Tal entendimento está em total harmonia com o princípio do devido processo legal,
dado que através da citação válida, os Apelantes teriam/terão a oportunidade de exercer seus
direitos, de modo que, retirar deles a possibilidade de participar da demanda, é levar a óbito seu
direito fundamental, constitucionalmente assegurado.
Pois bem. Haverá litisconsórcio necessário quando a sua formação for obrigatória,
estando a sua constituição diretamente ligada na integração do polo da relação processual por todos
os sujeitos, seja por conta da própria natureza da relação jurídica discutida ou por imperativo de lei,
conforme regula o art. 114, do CPC:
Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza
da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que
devam ser litisconsortes.
Do texto legal, se verifica que, quando houver relação jurídica indivisível, restará
indispensável a composição de vários sujeitos dentro do mesmo polo. Sobre o assunto, Nelson Nery
Junior e Rosa Maria de Andrade Nery lecionam:
Eficácia da sentença. Influência na esfera jurídica de outrem. Toda vez que se vislumbrar
a possibilidade de a sentença atingir, diretamente a esfera jurídica de outrem, a menos
que a lei estabeleça a facultatividade litisconsorcial (v.g. CC 1314 caput, 1642 III e V),
deve ser aquele citado como litisconsorte necessário a fim de que possa se defender em
juízo.12
Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz
tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes.
Pode-se concluir que, em regra, quando a natureza da relação jurídica for una, será
obrigatória a composição das partes afetas a lide no polo passivo da demanda, o que encaixa-se com
perfeição ao litisconsórcio existente entre a loteadora clandestina, o Município, a União e os
adquirentes/proprietários de lotes ou edificações eventualmente demolidas, porquanto o teor da
decisão estender-se-ia a todos esses de maneira idêntica, na esfera individual, não havendo
diferenciação entre as consequências das irregularidades constatadas ou mesmo de tratamento
distinto para eventuais lotes.
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Comentários ao Código de Processo Civil - Novo CPC – Lei 13.105/2015, 1ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 520
Nesse sentir, o Ministro Luiz Fux, quando integrante do Superior Tribunal de
Justiça, também em sede de ação civil pública que analisava loteamento com parcelamento irregular,
assentou que "o regime da coisa julgada nas ações difusas não dispensa a formação do
litisconsórcio necessário quando o capítulo da decisão atinge diretamente a esfera individual. Isto
porque, consagra a Constituição, que ninguém deve ser privado de seus bens sem a obediência ao
princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF/88). Nulidade de pleno direito da relação
processual, a partir do momento em que a citação deveria ter sido efetivada, na forma do art. 47 13 do
CPC.” (REsp 405.706/SP).
Como se vê, basta que o imóvel objeto da lide por supostos danos ambientais
esteja na posse de terceiros para que se configure o litisconsórcio passivo necessário. No presente
caso, tratando-se de ação civil pública que visa a demolição de casas em loteamento, é de rigor a
inclusão dos adquirentes de lotes que terão sua esfera jurídico-patrimonial diretamente atingida, na
medida que os Apelantes adquiriram, construíram e ocuparam a área de boa-fé.
Caso semelhante ao dos presentes autos chegou a Suprema Corte, cuja decisão
foi proferida pelo e. Min. Gilmar Mendes, assim ementado:
15
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. 9ª ed. P. 447-448.
16
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Públicos em Juízo. 25 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 387-388
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Loteamento irregular. Demanda que visa à regularização do
empreendimento e também à reparação de danos ambientais causados na APP existente
no local. Pronunciamento da c. Turma Especial - Público fixando a competência desta
Câmara para o deslinde da controvérsia. Local que, quando da propositura, já havia ser
tornado um bairro populoso, com várias casas e dotados de serviços públicos. Pedido de
demolição das construções e retirada dos vestígios do parcelamento. Falta de citação dos
adquirentes. Nulidade configurada. Ha litisconsórcio passivo necessário quando a
sentença proferida em ações difusas atinge diretamente a esfera individual. Precedentes
do D. STJ. Anulação do feito ex officio, com determinação. Recursos prejudicados. (ARE
1136171 / SP. Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 05/06/2018.
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-114 DIVULG 08/06/2018 PUBLIC 11/06/2018).
Como se vê, basta que o imóvel objeto da lide por supostos danos ambientais
esteja na posse de terceiros para que se configure o litisconsórcio passivo necessário. No presente
caso, tratando-se de ação civil pública que visa o desfazimento do loteamento, é de rigor a inclusão
dos adquirentes de lotes que terão sua esfera jurídico-patrimonial diretamente atingida, na medida
que os Apelantes adquiriram, construíram e ocuparam a área de boa-fé. Repise-se, além de se tratar
de loteamento aprovado pela municipalidade no ano de 1981, alguns dos lotes objeto da ação, foram
adquiridos muitos anos antes dos fatos narrados pelo Parquet, e sem qualquer relação com os Réus,
que sequer produziram provas nos autos. Aliás, ausentes na audiência de instrução e julgamento.
Contudo, muito embora não remanesça dúvidas acerca da caracterização dos
adquirentes dos lotes como litisconsortes passivos necessários, ainda assim a necessidade de sua
integração no processo passou desapercebida até o presente momento, após o seu julgamento
definitivo, nulidade que não pode ser ignorada e que é passível de reconhecimento de ofício a
qualquer tempo antes do trânsito em julgado.
Importa consignar ainda, que a sentença guerreada confronta inclusive, o art. 506
do CPC, que de forma categórica e induvidosa, dispõe que “a sentença faz coisa julgada às partes
entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.”
Édis Milaré citando Marcelo Buzaglo Dantas obtempera em sua obra Direito do
Ambiente:
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Dispositivo correspondente ao art. 506 do Novo Código de Processo Civil.
18
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. 9ª ed. P. 1486-1487.
Por força do princípio da eventualidade, em caso de não provimento do presente
recurso para decretar a nulidade do processo, ou, subsidiariamente, da sentença, necessário alertar,
que a demanda não contou com o adequado prolongamento da fase de instrução probatória,
porquanto, neste caso, seria imprescindível a realização de prova pericial para apurar uma série de
questões não reveladas de forma suficiente através da reduzida prova documental, como:
Desta forma, na hipótese remota deste Egrégio Tribunal Federal não vislumbrar os
casos de anulação do processo ou da sentença por ausência de litisconsórcio necessário e violação
dos princípios debatidos, mostra-se inafastável a anulação da sentença e o retorno da demanda à
fase de produção de prova em virtude da existência de um pronunciamento judicial sem a suficiência
de provas comumente exigidas para este tipo de demanda.
Ocorre que as casas não são de veraneio. A grande parte dos moradores são
efetivos, fixos e de baixa renda. Basta verificar in loco. Além disso, as casas são abastecidas pelo
sistema de saneamento público, conforme faturas de água acostas ao presente recurso. Por outro
lado, o loteamento não está em área de marinha, e também não obsta o acesso as praias. Trata-se,
pois, de área consolidada, antropizada e com população de baixa renda, cuja sentença que
determinou a demolição e recuperação da área é extrema e desproporcional, ferindo de morte o
princípio constitucional do direito à moradia19. Nestes casos, o direito ao meio ambiente previsto no
art. 225 da Carta Primaveral merece mitigação.
Pois bem. Após a edição da Lei Federal n.12.651/2012, que instituiu o Novo Código
Florestal, já em 2016, foi editada a Medida Provisória n. 756, convertida na Lei Federal n.
13.465/2017, dispondo sobre a regularização fundiária rural e urbana. Referida norma revogou o
19
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Capítulo III da Lei Federal n. 11.977/2009, que tratava da regularização fundiária de assentamentos
urbanos, e trouxe significativas alterações para as políticas públicas voltadas às áreas urbanas.
Concessa venia, mas não parece razoável que o direito à moradia se sobreponha
ao do meio ambiente, quando não houver comprovação de que a demolição das casas resultará em
efetivo benefício ao meio ambiente. Neste passo, calham as lúcidas observações do eminente
Desembargador Luiz Carlos de Castro Lugon:
Tenho como premissa a supremacia do meio ambiente, mesmo nas situações em que
haja a efetiva configuração do fato consumado, de modo que sejam desestimuladas
práticas de violações ecológicas contando com o beneplácito fundado na constatação de
que "o mal já está feito." Porém, ainda que não perca de vista a realçada importância do
meio ambiente, com o incentivo de peculiaridades do caso concreto, pode-se amenizar a
regra de prevalência, mesmo que esteja em pauta a integridade ambiental de área de
preservação permanente. Assim penso, guiado pela ideia de que benefício algum surtirá
em prol do meio ambiente a paralisação da obra, uma vez que a recuperação da restinga,
pela intervenção da própria natureza, é inviável naquele trecho. 20
20
TRF4, AC 2003.72.00.004185-0, Terceira Turma, DJ 04/10/2006 Relator Luiz Carlos de Castro Lugon.
9. PREQUESTIONAMENTO
Diante de tudo o que foi exposto, requer se digne este Egrégio Tribunal Regional
da 4ª Região, a conhecer e dar provimento ao recurso de apelação, no sentido de:
a) decretar a nulidade de todo processo, nos termos do art. 1.010, inciso III, do Código de Processo
Civil, com a consequente extinção do feito sem resolução de mérito, por ausência de formação de
litisconsórcio passivo necessário entre os demandados na origem e os Apelantes não citados, os
quais são/serão atingidos diretamente na esfera individual-patrimonial pelos efeitos da sentença;
b) alternativamente, requer o provimento do recurso para decretar a nulidade da sentença proferida
pela 1ª Vara Federal..., com a retroação de todo o processo até atingir o momento da prática dos
atos de citação, a fim de determinar o ingresso de todos os terceiros adquirentes (Apelantes) que
possam vir a ser atingidos pelo decreto judicial;
c) caso seja negado provimento ao presente recurso de apelação para anular o processo ou a
sentença pelos motivos anteriores, requer, por força do princípio da eventualidade, a anulação da
sentença e o retorno da demanda à fase de produção de provas em virtude da existência de um
pronunciamento judicial sem a suficiência de provas comumente exigidas para este tipo de
demanda, e sem qualquer estudo técnico elaborado por perito qualificado;
d) pugna ainda, pelo prequestionamento da matéria para eventual interposição de recurso especial e
extraordinário;
e) eventualmente requer, seja concedido efeito suspensivo ao presente recurso de apelação, na
hipótese de se entender pela segunda parte do caput do art. 1.00521, do Código de Processo Civil;
f) informa que a guia de preparo foi recolhida.
g) nos termos do art. 932, parágrafo único, do Código de Processo Civil, pugna ao digníssimo (a)
Relator (a), que antes de considerar inadmissível o recurso, seja concedido o prazo de 5 (cinco)
dias aos Apelantes para que seja sanado o vício ou complementada a documentação exigível;
h) o cadastramento das partes como Apelantes;
i) que as futuras intimações e notificações sejam todas realizadas em nome do advogado subscritor.
Pede provimento.
Advogado
OAB/SC
Petição assinada digitalmente
(Lei 11.419/2006, art. 1º, §2º, III, “a”)
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Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses.