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Súmula n.

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SÚMULA N. 196

Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer


revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de
embargos.

Referências:
CF/1988, art. 5º, LV.
CPC, arts. 9º, II; 598, 621 e 632.

Precedentes:
REsp 9.961-SP (4ª T, 31.10.1991 – DJ 02.12.1991)
REsp 24.254-RJ (2ª T, 06.02.1995 – DJ 13.03.1995)
REsp 27.103-RJ (4ª T, 14.12.1993 – DJ 28.02.1994)
REsp 28.114-RJ (2ª T, 03.03.1997 – DJ 07.04.1997)
REsp 32.623-RJ (3ª T, 04.05.1993 – DJ 31.05.1993)
REsp 35.061-RJ (1ª T, 20.03.1995 – DJ 17.04.1995)
REsp 37.652-RJ (3ª T, 30.09.1993 – DJ 25.10.1993)
REsp 38.662-RJ (4ª T, 29.03.1994 – DJ 09.05.1994)
REsp 56.162-RJ (2ª T, 16.12.1996 – DJ 03.03.1997)

Corte Especial, em 1º.10.1997


DJ 09.10.1997, p. 50.799
RECURSO ESPECIAL N. 9.961-SP (91.0006794-6)

Relator: Ministro Athos Carneiro


Recorrente: Empresa Bandeirantes de Administração Ltda.
Recorridos: Jan Omilczenko e outro
Advogado: Carlos Antônio Campos Pupo

EMENTA

Prescrição vintenária. Alegação pela curadoria de ausentes, no


curso do processo. Possibilidade.
O Curador Especial, atuando nos termos do art. 9º, II, parágrafo
único, do Código de Processo Civil, substitui processualmente a parte
revel e citada por editais, e assim pode em qualquer tempo argüir, em
proveito desta, a prescrição de direitos patrimoniais.
Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas.


Decide a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que
integram o presente julgado. Participaram do julgamento, além do signatário,
os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro e
Bueno de Souza.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 31 de outubro de 1991 (data do julgamento).
Ministro Athos Carneiro, Presidente e Relator

DJ 02.12.1991

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Athos Carneiro: A Empresa Bandeirantes de Aoministracão,


sucessora de Comercial e Imobiliária Novo Mundo Ltda., ajuizou contra Jan
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Omilczenko e Klara Omilczenko, representados pela Curadoria de Ausentes


e Incapazes, uma ação de rescisão de contrato de compromisso de compra e
venda de imóvel, cumulada com ação de reintegração de posse. O MM. Juiz
de primeiro grau julgou extinto o processo, com arrimo no art. 269, inciso IV
do CPC, reconhecendo a prescrição da ação alegada pelo representante do
Ministério Público (fls. 147-149).
Apelou a autora pugnando pela reforma do julgado, alegando que o
representante do parquet estadual argüiu a prescrição a destempo, fora do prazo
da contestação. No mérito, aduziu que “o Dr. Curador, além de não ser parte e
sim apenas um defensor de ausentes, não tem interesse econômico para argüir
a prescrição” (fls. 154-160). A 4ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São
Paulo, por unanimidade, negou provimento ao apelo, confirmando sentença
recorrida.
Irresignada, manifestou a autora recurso especial, com fundamento no
artigo 105, inciso III, letras a e c, da Constituição Federal, alegando que o v.
aresto atacado negou aplicação dos artigos 219, parágrafo 5º, e 303 do CPC
e 76, 162 do CC, além de divergência jurisprudencial. Aduz, em resumo, que
a “prescrição de direitos patrimoniais não alegada oportuno tempore, isto é, na
constestação, ocorre o chamado fenômeno da preclusão”, e que o Dr. Curador de
Ausentes não poderia alegar a prescrição, pois dela ele não se aproveita. Coligiu
arestos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, in “Jur. Cat.”, 1/245 (sic) do 2º
Tribunal de Alçada Cível de São Paulo, in RT 464/172, do Tribunal de Alçada
de São Paulo, in RT 389/290, e do Pretório Excelso, in RF 109/370.
O Ilustre Desemb. 4º Vice-Presidente do Tribunal a quo, admitiu o
processamento do recurso especial, subindo os autos a este egrégio Superior
Tribunal de Justiça (fls. 201-203).
A douta Subprocuradorla-Geral da República, pelo Dr. Osmar Brina
Corrêa Lima, opinou pelo não conhecimento da irresignação recursal (fls. 209-
211).
É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Athos Carneiro (Relator): Cuida-se de prescrição


vintenária, decretada a requerimento do Curador de Ausentes e Incapazes,
oficiando em substituição aos réus citados por editais e revéis - CPC, art. 9º, II,
e parágrafo único.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

O parecer do Ilustre representante do Ministério Público Federal perante


esta Corte, Dr. Osmar Brina Corrêa Lima, pelo não conhecimento do recurso,
apresenta o seguinte teor:

Recurso especial de acórdão unânime do Tribunal de Justiça do Estado de São


Paulo que, confirmando decisão de primeiro grau, reconheceu a prescrição de
ação ordinária de rescisão contratual cumulada com pedido de reintegração de
posse, e julgou extinto o processo.
Consta da sentença que “a posse do lote, segundo a própria inicial, está com a
autora” - recorrente (fls. 149).
Os réus, citados por edital, ficaram revéis. A ação foi contestada genericamente
pelo Curador de Ausentes. Este só alegou a prescrição após oferecida a
contestação.
A questão jurídica em tela consiste em saber se podia o Ministério Público
invocar a prescrição depois de contestada a ação, nas circunstâncias descritas.
No recurso especial, a recorrente alega violação aos artigos 303, 219, parágrafo
5º, 162 e 76, todos do Código de Processo Civil, bem como dissídio pretoriano.
Nota-se que os artigos 162 e 76, erroneamente referenciados ao Código de
Processo Civil, são os do Código Civil.
Descarto, desde logo, a alegada violação ao art. 219, parágrafo 5º, do Código
de Processo Civil, porque, in casu, a prescrição não foi conhecida nem decretada
de ofício pelo magistrado.
Também descarto, de pronto, a alegada violação ao art. 76 do Código Civil (e
não do Código de Processo Civil), porque o Ministério Público, na qualidade de
Curador de Ausentes, mais que interesse, tinha o dever de contestar a ação.
Theotônio Negrão anota que “no processo de conhecimento, a prescrição
pode ser alegada em apelação”. E, mais, que “as questões de direito podem ser
suscitadas a qualquer tempo, em recurso ordinário, de acordo com o princípio
juria novit curia (Código de Processo Civil e legislação processual civil em vigor.
São Paulo, Revista dos Tribunais, 1987, 17ª ed., art. 303, nota n. 6, e art. 517, nota
n. 2).
Resta saber se, como postula o recorrente, a prescrição não pode ser alegada,
depois da contestação, pelo Ministério Público, quando age como curador
especial do revel citado por edital.
Segundo o art. 162 do Código Civil (e não do Código de Processo Civil) “a
prescrição pode ser alegada, em qualquer instância, pela parte a quem aproveita”.
A Corte bandeirante entendeu que o Ministério Público agiu, nos autos, como
substituto processual da parte, com atuação obrigatória ex vi do disposto no art.
9º, II, do Código de Processo Civil. Esta conclusão, a meu ver, é correta. E, como tal,
penso que o Ministério Público podia, sim, alegar a prescrição após a contestação.

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 193


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Quanto ao dissídio pretoriano, penso, como o Procurador de Justiça Dr. Nelson


Nery Jr. (fls. 197) que, realmente, a especificidade deste caso o torna diferente dos
acórdãos invocados como paradigmas, não se caracterizando a divergência. (fls.
209-211)

Adotando tal parecer, e os fundamentos do v. aresto, não conheço do


recurso.
É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 24.254-RJ (92.0016754-3)

Relator: Ministro Peçanha Martins


Recorrente: Banerj Crédito Imobiliário S/A
Recorrida: Maurilea Tozoni Requião
Advogados: Ângela Regina Leal Brasil e outros
Omar Marinho Vieira

EMENTA

Processual Civil. Embargos do devedor. Curador especial.


Legitimidade. Executado citado por edital. Precedentes STJ.
- Ao executado, citado por edital, que permanece revel, é dado
Curador Especial com legitimidade para opor embargos do devedor,
em atendimento ao princípio do contraditório.
- Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Hélio Mosimann. Ausente,
justificadamente, o Sr. Ministro Américo Luz.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

Brasília (DF), 06 de fevereiro de 1995 (data do julgamento).


Ministro Hélio Mosimann, Presidente
Ministro Peçanha Martins, Relator

DJ 13.03.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: - Banerj Crédito Imobiliário S/A interpõe


recurso especial, com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da
Constituição Federal, contra acórdão da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Alçada
do Rio de Janeiro, assim ementado:

Execução. Título extrajudicial. Incidência da Lei Especial n. 5.741 de 1º de


dezembro de 1971. Devedor que, não encontrado na jurisdição do imóvel
em causa, foi citado por edital, ensejando, legitimamente, a intervenção da
Defensoria Pública, na qualidade legal de Curadoria Especial. Legitimidade de
postulação, em defesa do devedor. Preliminar de nulidade de citação edital
acolhida, à falta de publicação, pelo menos uma vez, no órgão oficial do Estado. É
o que resulta expresso do disposto no § 2º do art. 3º da citada Lei n. 5.741/1971.
Incensurável a fundamentação da sentença. Nulidade do processo de execução a
partir da citação. Desprovimento do recurso. (fls. 62).

Sustenta o recorrente que o v. acórdão recorrido contrariou a Lei n.


5.741/1971, que dispõe sobre a proteção de financiamento de bens imóveis
vinculados ao Sistema Financeiro de Habitação - SFH, uma vez que os
embargos à execução foram oferecidos por Defensor Público, nomeado Curador
Especial nos autos de execução hipotecária, em virtude do executado ter sido
citado por edital, nos termos do art. 3º, parágrafo 2º, da referida lei.
Insurge-se, em síntese, quanto à legitimidade do Curador Especial para
opor os embargos de devedor, alegando que como simples representante não
recebeu poderes para tal e que no processo executório não se pode cogitar da
revelia, questionando, inclusive, a nomeação do próprio defensor.
Colaciona, ainda, divergência jurisprudencial dos Tribunais de Alçada de
São Paulo e Paraná, bem como do extinto TFR.
As contra-razões (fls. 73-74) apontam a inexistência da identificação do
advogado que assinou o recurso especial, aduzindo ser impossível confirmar

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 195


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

se o nome do patrono consta ou não da procuração de fls. 37-38 e, quanto ao


mérito da questão, trazem estudos e decisões de tribunais demonstrando que
a jurisprudência tem acatado a exigência do Curador Especial no processo de
execução.
Admitido o apelo extremo (fls. 85-86) apenas pela alínea c, subiram os
autos a esta Colenda Corte.
Dispensei a manifestação da Subprocuradoria-Geral da República, nos
termos regimentais.
É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Em síntese, insurge-se o Banerj


contra o v. acórdão recorrido no que pertine à legitimidade do Curador Especial
para opor embargos do devedor. A tese do recorrente sustenta que o Curador
Especial, como simples representante, não recebeu poderes para assim agir e
que, em processo executório não há que se cogitar de revelia.
Sobre a matéria, vale transcrito trecho do voto do eminente Ministro
Barros Monteiro, proferido no REsp n. 27.103-8-RJ (DJ 28.02.1994):

A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LV, assegura aos litigantes, em
processo judicial ou administrativo, o contraditório e a ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes. O processo de execução não foge à regra, de tal
sorte que ao citado por edital que nele não comparece é dado Curador Especial,
a quem é permitido fazer uso de todos os meios necessários à defesa da parte
postos à sua disposição pela lei. Em precedente desta Eg. Quarta Turma, de que
foi relator o eminente Ministro Athos Carneiro, assentou-se:

O curador ad litem pode, à evidência, recorrer no processo. E pode


igualmente ajuizar ações incidentais, como a denunciação da lide, os
embargos do devedor e a ação mandamental contra ato judicial praticado
naquele processo, e bem assim propor demandas cautelares, sem o
que mutilada estaria, e gravemente, sua função de defesa dos direitos
e/ou interesses das pessoas às quais o legislador entendeu oportuno
proporcionar especial tutela processual. (RMS n. 1.768-0-RJ).

Especificamente no que toca à legitimidade do Curador Especial para intentar


os embargos do devedor, que não deixam de constituir também meio de defesa,
a Colenda Terceira Turma deixou decidido ainda há pouco:

196
SÚMULAS - PRECEDENTES

Processual Civil. Legitimidade do curador especial de opor embargos do


devedor. Executado citado por edital.
I - A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido de que
o curador especial (ad litem) tem legitimidade para opor Embargos do
Devedor em Execução, onde o executado, citado por edital, remanesce
revel. Trata-se, segundo a doutrina, de exigência de defesa do revel pelo
curador e tem fundamento no princípio do contraditório, pois não se sabe
se ele - o réu revel - não quis contestar ou não pode, ou mesmo não soube
da citação.
II - Recurso conhecido pela letra c e provido.
(REsp n. 32.623-4-RJ, Rel. Min. Waldemar Zveiter)

Processo Civil. Embargos do devedor. Curador especial.


O curador especial tem legitimidade para opor embargos do devedor.
Precedentes. Recurso conhecido e provido. (REsp n. 37.652-1-RJ, Rel. Min.
Costa Leite)

À vista dos precedentes (REsps n. 32.623-4-RJ, DJ 31.05.1993; n. 38.662-


4-RJ, DJ 09.05.1994), nada há que ser reformado na decisão atacada, por isso
que o Curador Especial tem legitimidade para opor embargos à execução.
Demais disso, não ficou comprovado o dissenso jurisprudencial apontado,
nos termos do art. 255 e parágrafos do RISTJ.
Do exposto, não conheço do recurso.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: - Sr. Presidente, com ressalva do


meu ponto de vista, acompanho o Sr. Ministro-Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 27.103-RJ (92.0022848-8)

Relator: Ministro Barros Monteiro


Recorrente(s): Luciano Videira Monteiro e cônjuge
Recorrido(s): Banerj Crédito Imobiliário S/A

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 197


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Advogados: Marilena Rocha Louisi - defensoria pública e outros e Ângela


Regina Leal de Oliveira e outros

EMENTA

Execução. Embargos oferecidos pelo curador especial.


Legitimidade.
O Curador Especial tem legitimidade para opor embargos à
execução. Precedentes do STJ.
Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar
provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes
que integram o presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministro
Torreão Braz, Dias Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda
Regimental n. 3/1993, Fontes de Alencar e Sálvio de Figueiredo.
Brasília (DF), 14 de dezembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Fontes de Alencar, Presidente
Ministro Barros Monteiro, Relator

DJ 28.02.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: - Em sede de embargos infringentes, o


Primeiro Grupo de Câmaras do Tribunal de Alçada Cível do Rio de Janeiro
manteve o entendimento de que ao Curador Especial (art. 9º, inc. II, do CPC)
falece legitimidade para opor embargos à execução. Eis os fundamentos do v.
acórdão, resumidos em sua ementa:

Execução.
Embargos do devedor. Ilegitimidade do curador especial para propor ação de
embargos à execução.

198
SÚMULAS - PRECEDENTES

Funcionando o curador especial na hipótese de revel citado por edital não tem
ele legitimidade, senão para oficiar no processo de execução, não a de propor
ação de embargos pelo devedor. Não é o devedor revel porque não “responde” a
execução. Sua citação é para pagar a dívida. (fl. 110).

Daí o recurso especial interposto pelos devedores, através da Dra.


Defensora Pública, com arrimo nas alíneas a e c do admissivo constitucional.
Alegaram negativa de vigência dos arts. 9º, n. II, e 745 do CPC e dissenso
interpretativo com arestos da Suprema Corte, do 1º Tribunal de Alçada Civil de
São Paulo e do Tribunal de Alçada de Minas Gerais.
Contra-arrazoado, o apelo extremo foi admitido na origem.
É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): - A Constituição Federal,


em seu art. 5º, inciso LV, assegura aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes. O processo de execução não foge à regra, de tal sorte que ao citado
por edital que nele não comparece é dado Curador Especial, a quem é permitido
fazer uso de todos os meios necessários à defesa da parte postos à sua disposição
pela lei. Em precedente desta Eg. Quarta Turma, de que foi relator o eminente
Ministro Athos Carneiro, assentou-se:

O curador ad litem pode, à evidência, recorrer no processo. E pode igualmente


ajuizar ações incidentais, como a denunciação da lide, os embargos do devedor
e a ação mandamental contra ato judicial praticado naquele processo, e bem
assim propor demandas cautelares, sem o que mutilada estaria, e gravemente,
sua função de defesa dos direitos e/ou interesses das pessoas às quais o legislador
entendeu oportuno proporcionar especial tutela processual. (RMS n. 1.768-0-RJ).

Especificamente no que toca à legitimidade do Curador Especial para


intentar os embargos do devedor, que não deixam de constituir também meio de
defesa, a C. Terceira Turma deixou decidido ainda há pouco:

Processo Civil. Legitimidade do curador especial de opor embargos do


devedor. Executado citado por edital.
I - A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido de que o
curador especial (ad litem) tem legitimidade para opor Embargos do Devedor em

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 199


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Execução, onde o executado, citado por edital, remanesce revel. Trata-se, segundo
a doutrina, de exigência de defesa do revel pelo curador e tem fundamento no
princípio do contraditório, pois não se sabe se ele - o réu revel - não quis contestar
ou não pôde, ou mesmo não soube da citação.
II - Recurso conhecido pela letra c e provido. (REsp n. 32.623-4-RJ, rel. Min.
Waldemar Zveiter)

Processo Civil. Embargos do devedor. Curador especial.


O curador especial tem legitimidade para opor embargos do devedor.
Precedentes. Recurso conhecido e provido. (REsp n. 37.652-1-RJ, rel. Min. Costa
Leite)

Considero, pois, contrariados os arts. 9º, II, e 745 do Código de Processo


Civil e, de outro lado, subsistente o conflito de julgados ante a posição
francamente oposta à diretriz traçada pelo C. Tribunal a quo imprimida pelos
arestos paradigmas oriundos do Sumo Pretório, do Primeiro Tribunal de Alçada
Civil de São Paulo e do Tribunal de Alçada de Minas Gerais.
O Curador especial tem, portanto, legitimidade para opor embargos à
execução.
Em face do exposto, conheço do recurso por ambas as alíneas do permissor
constitucional e dou-lhe provimento, a fim de que, afastada a extinção a extinção
do processo (art. 267, VI, do CPC), o MM. Juiz de Direito aprecie os embargos
oferecidos, como for de direito.
É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 28.114-RJ (92.025683-0)

Relator: Ministro Adhemar Maciel


Recorrente: Sérgio Manoel Dutra Neves
Advogados: Marilena Rocha Lovisi e outros
Recorrida: Letra S/A Crédito Imobiliário
Advogados: Luiz César Vianna de Giacomo e outros

200
SÚMULAS - PRECEDENTES

EMENTA

Processual Civil. Execução. Devedor citado por edital. Nomeação


de curador especial: necessidade. Embargos à execução propostos
pelo curador especial: admissibilidade. Precedentes. Recurso especial
provido.
I - O juiz deve nomear curador especial ao devedor citado
fictamente, e que não compareceu ao processo de execução.
II - O curador especial, representante judicial do devedor citado
fictamente, pode ajuizar ação de embargos à execução. Inteligência
dos arts. 9º, II, 319, 598, 621, 632, 652 e 654, do CPC, do art. 5º do
Decreto-Lei n. 4.657/1942 e do art. 5º, LV, da CF/1988. Aplicação do
Enunciado n. 9 da Súmula do TACIVRJ.
III - Precedente do STF: RE n. 108.073-MG. Precedentes do
STJ: REsp n. 35.061-RJ, REsp n. 24.254-RJ, REsp n. 32.623-RJ,
REsp n. 37.652-RJ e REsp n. 27.103-RJ. VII - Precedentes do extinto
TFR: AC n. 62.202-PR, Ag n. 46.897-GO e Ag n. 40.974-SP.
IV - Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas.


Decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-
relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que
ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os
Srs. Ministros Ari Pargendler, Hélio Mosimann e Peçanha Martins. Ausente,
justificadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 03 de março de 1997 (data do julgamento).
Ministro Peçanha Martins, Presidente
Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 07.04.1997

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 201


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sérgio Manoel Dutra Alves interpõe


recurso especial contra acórdão proferido pelo TACIVRJ em sede de embargos
infringentes.
Letra S/A Crédito Imobiliário, agente financeiro do Banco Nacional da
Habitação, ajuizou execução fundada em título extrajudicial (contrato de
hipoteca) contra o ora recorrente.
O juiz de primeiro grau nomeou curador especial ao ora recorrente, devedor
citado por edital, e que não compareceu ao processo de execução.
Em seguida, o ora recorrente, representado pelo curador especial, ajuizou
embargos à execução.
O juiz de direito extinguiu o processo sem julgamento do mérito, ao
fundamento de que o curador especial não tem legitimidade para propor
embargos à execução.
Inconformado, o curador especial apelou.
Posteriormente, a 4ª Câmara do TACIVRJ, por maioria de votos, deu
provimento à apelação, em acórdão assim ementado:

Embargos à execução. Executado citado por edital. Legitimação do Curador


Especial para oferecer embargos, única forma de defesa viável e que justifica a sua
intervenção. Recurso provido (fl. 44).

Irresignada, Letra S/A Crédito Imobiliário interpôs embargos infringentes.


O 2º Grupo de Câmaras do TACIVRJ, por maioria de votos, acolheu os
embargos infringentes para “restabelecer” a sentença, em aresto assim ementado:

Embargos à execução.
No processo de execução, ao reverso do que ocorre com o de conhecimento, o
devedor é citado para cumprir a obrigação, a teor da regra do art. 652 do digesto
processual, e não para se defender, descabendo por isto, a nomeação de Curador
Especial ao executado, citado por editais, providência restrita às lides cognitivas,
para garantia do direito de defesa.
Ilegitimidade da Curadoria Especial para integrar o polo ativo da ação
incidental de embargos de devedor (fl. 90).

Insatisfeito, Sérgio Manoel Dutra Neves, representado por seu curador


especial, interpôs recurso especial pelas alíneas a e c do permissivo constitucional.

202
SÚMULAS - PRECEDENTES

Alega que o aresto proferido pelo TACIVRJ contrariou os arts. 9°, II, 598 e
745, todos do CPC. Aduz que o acórdão recorrido está em dissonância com a
jurisprudência do STF (RE n. 108.073-MG, relator Ministro Francisco Rezek),
do 1° TACIVSP e do TAMG.
Letra S.A. Crédito Imobiliário apresentou contra-razões.
O recurso especial foi admitido na origem.
O Ministério Público Federal opinou pelo provimento do recurso especial,
em parecer assim ementado:

Recurso especial. Citação por edital. Inércia do devedor. Embargos à execução.


Legitimidade de curador especial. Recurso que deve ser provido (fl. 113).

Os autos deram entrada nesta Corte em 05.10.1992 (fl. 111), e em meu


gabinete, em 06.02.1997 (fl. 116).
É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Senhor Presidente, o recurso


especial merece prosperar.
Diferentemente do processo de conhecimento, no qual o réu tem
a oportunidade de apresentar resposta no bojo da mesma relação jurídica
processual, no processo de execução tal não se dá. A ação incidental de embargos
do devedor é a única via hábil à sublevação do executado contra a execução que
lhe move o credor.
Os que interpretam o art. 9°, II, c.c. o art. 319, c.c. os arts. 621, 632 e 652,
todos do CPC, em sua literalidade, concluem que o curador especial só pode
ser nomeado em processo de conhecimento, já que no processo de execução
não existe a figura da revelia, por ser o réu citado para satisfazer a obrigação
constante do título executivo, e não para apresentar contestação, ou seja, defesa.
No entanto, como bem alerta o Professor NELSON NERY JÚNIOR, em
seus “Princípios fundamentais - Teoria Geral dos Recursos”, Editora Revista
dos Tribunais, 3ª ed., página 302, “talvez o mais importante dos métodos de
interpretação seja o teleológico. O direito brasileiro o consagrou expressamente
no art. 5°, da Lei de Introdução ao Código Civil. O intérprete deve observar o
sentido finalístico da norma, vale dizer, a justificação social da norma”.

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 203


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Realmente, a interpretação literal de um dispositivo legal é, por vezes,


contrária à finalidade da regra, aos princípios constitucionais que sustentam o
ordenamento jurídico, os quais devem prevalecer em face daquele método de
interpretação.
É o que ocorre na hipótese dos autos.
A regra inserta no art. 9°, II, do CPC deve ser interpretada em seu sentido
finalístico, qual seja, zelar pelos interesses do réu citado por edital, e que não se
manifestou nos autos.
Sem dúvida, apesar de não ter comparecido em juízo, o réu, seja no processo
de conhecimento ou no de execução, tem constitucionalmente asseguradas as
garantias do contraditório e da ampla defesa (art. 5°, LV, da CF/1988).
Lembro, ainda, que o art. 598 do CPC estabelece que as disposições que
regem o processo de conhecimento se aplicam subsidiariamente ao processo
de execução, pelo que a regra inserta no art. 9°, II, do CPC também deve ser
aplicada aos processos executivos. Nesse sentido é a lição do saudoso Professor
CELSO AGRÍCOLA BARBI:

No processo de execução, qualquer que seja a modalidade do título em que se


funde, não é possível, a rigor, falar em revelia, porque o réu é citado para cumprir
a obrigação, e não para se defender, uma vez que a lei presume existir o direito
comprovado no título.
Apesar disso, entendemos que se o executado foi citado com hora certa ou por
editais e não se defendeu, deve o juiz dar-lhe curador, equiparando-se a falta dos
embargos à revelia.
Assim pensamos porque o essencial para a interpretação do texto legal não
é o conceito de revelia, mas sim a motivação e a finalidade da lei. O motivo da
norma legal, como já se disse antes, é não haver certeza de que o réu tenha tomado
conhecimento da propositura da ação: e a finalidade é dar-lhe, neste caso, alguma
defesa, porque sua omissão reforça a suposição de que ele não ficou ciente da
propositura da ação. (“Comentários ao Código de Processo Civil”, Vol. I, 6ª ed.,
Forense, Rio de Janeiro, 1991, p. 74) (grifei).

No mesmo sentido é o ensinamento do Professor HUMBERTO


THEODORO JÚNIOR:

Citação executiva por edital - Quando o devedor não é encontrado para


cumprimento do mandado executivo, sua citação realizar-se-á por edital (art. 654).
Feita a penhora, após o prazo do edital, haverá de ser o devedor intimado, para os
efeitos do art. 669. Como se trata de pessoa em local ignorado, essa intimação não

204
SÚMULAS - PRECEDENTES

poderá ser feita pelo oficial após a lavratura do auto de penhora. Outra alternativa
não há, senão a de lançar-se não de outro edital para a intimação.
Só assim a execução poderá ter prosseguimento em seus ulteriores termos,
superado o estágio reservado aos embargos do devedor.
Ao devedor citado fictamente por edital, que não oferecer embargos em tempo útil
ou que não se fizer representar nos autos da execução, será dado curador especial,
nos termos do art. 9º, n. II, já que, também na execução, é configurável a revelia, pelos
menos para efeito da curatela à lide (“Comentários ao Código de Processo Civil”,
Vol. IV, Forense, Rio de Janeiro, 1979, p. 427 e 428) (grifei).

Por oportuno, transcrevo os comentários do Professor NELSON NERY


JR:

No processo de execução não existe revelia em sentido técnico, porque não


há contestação: o devedor é citado para cumprir a obrigação decorrente do título
executivo. Não cabe citação com hora certa na execução por quantia certa, pois o
CPC 653 estabelece o arresto quando não encontrado o devedor. Quando este for
citado por editais e não comparecer ao processo, a ele deve ser dado curador especial,
que poderá opor embargos do devedor. Embora com natureza jurídica mista, de
ação e de defesa, os embargos são o único meio de defesa colocado à disposição
do devedor no processo de execução, de sorte que se tem reconhecido ao curador
especial o direito de deduzi-los em defesa do devedor (“Código de Processo Civil
Comentado”. 2ª ed., Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1996, página 345)
(grifei).

Embora na execução não se possa falar em revelia em seu sentido técnico,


caso o devedor citado fictamente não apresente embargos, a ele deve dar-se curador,
pois o essencial para a interpretação do texto comentado não é o conceito estrito de
revelia, mas a finalidade e motivação da lei. (“Código de Processo Civil Comentado”.
2ª ed., Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1996, p. 343) (grifei).

A jurisprudência das 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Turmas desta Corte também é no


sentido de que o curador especial, representante judicial do devedor citado
fictamente, pode ajuizar ação de embargos à execução. Senão vejamos:

Processual Civil. Execução. Citação editalícia. Embargos de devedor. Nomeação


do curador especial. Lei n. 5.471/1971. Artigos 9º, II, 319, 320, 322 e 601, CPC.
1. Afastando-se exegese literal, compreende-se que, embora o executado
não seja citado para contestar, mas para impugnar, não comparecendo, no seu
significado amplo, viceja a revelia. O curador oficia, com amplitude, admitindo-se
que deduza os pontos possíveis. O sistema do Código não se compadece com a
interpretação que restrinja o conceito de revelia.

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 205


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

2. “A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido de que o


curador especial (ad litem) tem legitimidade para opor embargos do devedor em
execução, onde o executado, citado por edital, remanesce revel. Trata-se, segundo
a doutrina, de exigência de defesa do revel pelo curador e tem fundamento no
princípio do contraditório, pois não se sabe se ele - o réu revel - não quis contestar
ou não pode, ou mesmo não soube da citação” (REsp n. 32.623.4-RJ - rel. Min.
Waldemar Zveiter).
3. Recurso provido (REsp n. 35.061-RJ, 1ª Turma do STJ, unânime, relator
Ministro Milton Luiz Pereira, publicado no DJU de 17.04.1995).

Processual Civil. Embargos do devedor. Curador especial. Legitimidade.


Executado citado por edital. Precedentes STJ.
- Ao executado, citado por edital, que permanece revel, é dado curador
especial com legitimidade para opor embargos do devedor, em atendimento ao
princípio do contraditório.
- Recurso não conhecido (REsp n. 24.254-RJ, 2ª Turma do STJ, unânime, relator
Ministro Peçanha Martins, publicado no DJU de 13.03.1995).

Processual Civil. Legitimidade do curador especial de opor embargos do


devedor. Executado citado por edital.
I - A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido de que o
curador especial (ad litem) tem legitimidade para opor embargos do devedor em
execução, onde o executado, citado por edital, remanesce revel. Trata-se, segundo
a doutrina, de exigência de defesa do revel pelo curador e tem fundamento no
princípio do contraditório, pois não se sabe se ele - o réu revel - não quis contestar
ou não pode, ou mesmo não soube da citação.
II - Recurso conhecido pela letra c e provido (REsp n. 32.623-RJ, 3ª Turma do STJ,
unânime, relator Ministro Waldemar Zveiter, publicado no DJU de 31.05.1993).

Processo Civil. Embargos do devedor. Curador especial.


O curador especial tem legitimidade para opor embargos do devedor.
Precedentes.
Recurso conhecido e provido (REsp n. 37.652-RJ, 3ª Turma do STJ, unânime,
relator Ministro Costa Leite, publicado na RSTJ 57/409).

Execução. Embargos oferecidos pelo curador especial. Legitimidade.


O curador especial tem legitimidade para opor embargos à execução.
Precedentes do STJ.
Recurso especial conhecido e provido (REsp n. 27.103-RJ, 4ª Turma do STJ,
unânime, relator Ministro Barros Monteiro, publicado no DJU de 28.02.1994).

206
SÚMULAS - PRECEDENTES

Execução. Embargos do devedor. Curador especial.


- O curador especial está legitimado a opor embargos à execução de devedor
citado por edital.
- Recurso conhecido e provido (REsp n. 38.662-RJ, 4ª Turma do STJ, unânime,
relator Ministro Torreão Braz, publicado no DJU de 09.05.1994).

Nesse sentido também era a jurisprudência predominante no Tribunal


Federal de Recursos, conforme restou assentado no julgamento do incidente
de uniformização de jurisprudência, suscitado no Agravo de Instrumento n.
41.165. Por oportuno, invoco valiosos precedentes daquela extinta Corte:

- O curador especial tem legitimidade para embargar execução (Apelação Cível


n. 62.202-PR, 6ª Turma do extinto TFR, unânime, relator Ministro Torreão Braz,
publicado na RTFR 122/102).

Processual Civil. Execução fiscal. Curador especial.


I - Em respeito ao princípio do contraditório torna-se impositiva a presença
do Curador, quando o executado não atende à citação editalícia (Agravo de
Instrumento n. 46.897-GO, 6ª Turma do extinto TFR, por maioria, relator designado
para o acórdão Ministro Eduardo Ribeiro, publicado na RTFR 133/29).

Execução hipotecária. CEF. Executado revel. Nomeação de curador à lide (art.


9°, II, do CPC). Legalidade do respectivo despacho que aplicou regra cogente, de
ordem pública.
Agravo improvido (Agravo de Instrumento n. 40.974-SP, 6ª Turma do extinto
TFR, por maioria, relator Ministro Américo Luz, publicado na RTFR 73/9).

O STF também já se pronunciou sobre o tema, em acórdão assim


ementado:

Curador especial. Processo de execução. Executado que não atende à citação


edital.
É devida a nomeação de curador especial ao executado que, citado por edital,
não comparece a juízo. Doutrina.
Mérito do acórdão recorrido, que deve subsistir. (RE n. 108.073-MG, 2ª Turma do
STF, unânime, relator Ministro Francisco Rezek, publicado no DJU de 27.03.1987)

Por fim, lembro que o acórdão proferido pelo TACIVRJ em grau de


infringentes contraria a própria Súmula daquela Corte, conforme se apreende
do Enunciado n. 9:

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 207


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

É obrigatória a nomeação do curador especial, nas hipóteses do art. 9° do


Código de Processo Civil, o qual tem legitimidade para opor embargos à execução.

Em suma, Senhor Presidente, o curador especial, representante judicial do


devedor citado fictamente, pode ajuizar ação de embargos à execução.
Com essas considerações, conheço do recurso especial, e dou-lhe
provimento para “restabelecer” o acórdão proferido em grau de apelação (fls.
43-45).
Determino seja enviada cópia do presente acórdão à Comissão de
Jurisprudência do STJ, a fim de que seja apreciada a conveniência da edição de
Súmula acerca da matéria.
É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 32.623-RJ

Relator: Ministro Waldemar Zveiter


Recorrente: Nilo Mariano da Silva e cônjuge
Recorrido: Letra S/A - Crédito Imobiliário
Advogados: Helina de Moura Luz Rocha
Romeu Fernando Carvalho de Souza e outros

EMENTA

Processual Civil. Legitimidade do curador especial de opor


embargos do devedor. Executado citado por edital.
I - A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido
de que o curador especial (ad litem) tem legitimidade para opor
Embargos do Devedor em Execução, onde o executado, citado por
edital, remanesce revel. Trata-se, segundo a doutrina, de exigência
de defesa do revel pelo curador e tem fundamento no princípio do
contraditório, pois não se sabe se ele - o réu revel - não quis contestar
ou não pôde, ou mesmo não soube da citação.
II - Recurso conhecido pela letra c e provido.

208
SÚMULAS - PRECEDENTES

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros


da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e
lhe dar provimento. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Cláudio
Santos, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Dias Trindade.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 04 de maio de 1993 (data do julgamento).
Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente
Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 31.05.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: - Nos autos de Embargos à Execução,


o acórdão (Embargos Infringentes) - fls. 63-64 - concluiu que não se acha o
curador especial legitimado a opor embargos de devedor.
Contra esse entendimento, Nilo Mariano da Silva e cônjuge, via curador ad
litem, interpõe Especial (letras a e c, do art. 105, III, da CF/1988), alegando que
o aresto, ao decidir como decidiu, violou as normas dos arts. 9º, II; 38 e 745 do
CPC e divergiu de precedentes colacionados às fls. 75-87.
Às fls. 98-99, o em. Presidente do Tribunal local, exara despacho, deferindo
o processamento do apelo pela letra c, e sustentando que o recorrente trouxe
modelos que configuram o dissídio.
É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): - O Quarto Grupo de


Câmaras do Tribunal de Alçada Cível do Rio de Janeiro, por maioria, em
Embargos Infringentes, prolatou que (fls. 63-64):

Em realidade, deixando o executado, citado por edital, de oferecer embargos


em tempo hábil, não me parece admissível sequer a nomeação de curador

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 209


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

especial, isto porque no processo executório não há cogitar-se de revelia, sendo


inquestionável que na execução por quantia certa o devedor não dispõe de prazo
para defender-se, mas tão-somente para cumprir a obrigação em 24 horas ou
nomear bens à penhora, sendo-lhe facultado propor ação incidental de embargos
ao fito de desconstituir o título exeqüendo.
A citação do devedor, dessarte, não é para oferecer defesa, ad instar do
processo de conhecimento.
Tal orientação, longe de violar os princípios da ampla defesa e do contraditório,
reabilita o título executivo, enquanto pressuposto que antecede ao exercício da
ação de execução, e na medida em que atesta a certeza do direito do credor.

O recorrente, no apelo fundamentado nas letras a e c, propugna pela tese


do acórdão anterior, ora embargado de infringência.
O decisum que se pretende restaurado concluiu que (fls. 45):

É de rigor a nomeação de curador especial ao executado citado por edital,


que não comparece para defender-se. E sendo assim, assiste à defensoria pública,
no exercício desse munus, legitimação extraordinária para opor embargos à
execução.

Examino a hipótese pela letra c, eis que a jurisprudência e a doutrina


formam campo, onde lavra discordância sobre a tese.
Da RTJ-120 o recorrente coletou precedente - RE n. 108.073-MG, Rel.
em. Min. Francisco Rezek - cuja divergência com o caso sub judice manifesta-se
flagrante.
De fato, no bojo do modelo, invoca-se escólios da melhor doutrina e seus
lineamentos acolhem a legitimidade do curador especial da lide, no caso de réu
revel citado por edital, em opor embargos do devedor (fls. 75-79) e RTJ 120, p.
1.279-80.
O em. Relator, invocando ilustres processualistas, argumenta, no exemplo
trazido a confronto, que (fls. 78):

Cumpre ter presente que a nomeação do curador especial visa a suprir a


defesa do réu, ante a possibilidade de que lhe tenha escapado a efetiva ciência da
demanda, noticiada em edital. Por isso afirma Cândido Dinamarco ser necessário
defender o ausente, assegurando que “a exigência de defesa do revel pelo
curador tem fundamento no princípio do contraditório, pois não se sabe se ele
não quis contestar ou não pôde, ou mesmo não soube da citação” (Fundamentos
do Processo Civil Moderno: São Paulo, RT, 1986, p. 330).

210
SÚMULAS - PRECEDENTES

O curador, assim, tem a seu cargo a tarefa de defender o réu. Não menos
seguro, contudo, é que por vezes a defesa se desenvolve como contra ataque. A
natureza dos embargos do devedor ilustra essa dimensão do conceito de defesa.
A tese, aliás, é vantajosamente sustentada por José Gomes da Cruz, apoiado
em Pontes de Miranda, Lopes da Costa Araújo Cintra, Ada Grinover e Cândido
Dinamarco (A Curadoria à Lide no Processo de Execução: RT 528/279). Percebe-se
aí o conceito de defesa ligado ao direito que tem o réu de ver consideradas suas
razões no julgamento, sendo os embargos um meio para tanto.
Esse entendimento dos embargos do devedor como procedimento de defesa
foi acolhido no TFR, e tem a sufragá-lo, nesta Casa, o RE n. 94.494, onde se decidiu
serem os honorários a cargo do sucumbente devidos na execução fiscal e não
nos embargos - o que dá maior realce à intimidade do processo incidental com a
execução. Lê-se no voto do Relator, Ministro Cunha Peixoto, que “não há dúvidas
de que, na sistemática do atual Código de Processo Civil, os embargos constituem
uma ação incidental, mas não é menos certo de que funcionam também como
defesa. Assim, não seria curial que o vencido pagasse honorários, não só na ação
principal - execução fiscal -, como na incidental – embargos - que funciona como
defesa” (RTJ 103/330).

Na jurisprudência da Corte, com o REsp n. 9.961-SP, rel. em. Min. Athos


Carneiro, enfrenta-se o tema, nestes termos:

O Curador Especial, atuando nos termos do artigo 9º, II, parágrafo único, do
CPC, substitui processualmente a parte revel e citada por editais, e assim pode em
qualquer tempo arguir, em proveito desta, a prescrição de direitos patrimoniais.

Também no precedente REsp n. 23.495-RJ, concluiu-se que:

Na qualidade de substituto processual da parte, o curador especial está


legitimado a recorrer.

No caso dos autos, o recorrente formula ser legítimo ao Curador Especial


ad litem a oposição de Embargos à Execução, na linha da fundamentação do
paradigma.
Reconhecida a sua titularidade como substituto processual, cabível sua
posição como Embargante, segundo, ainda, a judiciosa argumentação expendida
no precedente oriundo do Pretório Excelso a qual em face da divergência me
filio.
Por tais fundamentos, conheço do recurso pela letra c e lhe dou provimento,
restaurando-se o acórdão de fs. 45, objeto dos infringentes.

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 211


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Acompanho o Sr. Ministro Relator. No


sentido de S. Exa. votei no Tribunal Federal de Recursos nos seguintes termos:

(AG n. 46.897-GO)

A matéria tratada no presente recurso, não se ignora, tem ensejado


divergências doutrinárias. Também não se pacificou o entendimento dos Tribunais
sendo que, nesta Corte, quando do julgamento do incidente de uniformização
de jurisprudência, no Agravo de Instrumento n. 41.165, verificou-se subsistirem
duas correntes de opinião, não se podendo afirmar que uma delas prepondere
efetivamente, posto que a decisão foi tomada por escassa diferença, sem que
conseguisse reunir a maioria absoluta do Plenário.
Pessoalmente, quando Juiz de Vara Cível, admitia oficiasse o Curador quando o
executado, citado por editais, não apresentasse embargos.
Reconsiderei esse entendimento ao julgar os Embargos Infringentes na
Apelação Cível n. 8.421, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, oportunidade
em que, aliás fiquei vencido (Revista do TJDF v. 13 p. 139). Procedi agora a mais
detido reexame do tema, meditando maduramente sobre os elementos trazidos
nos doutos votos proferidos no incidente de uniformização já mencionado. E essa
reflexão levou-me a volver à anterior posição.
Os defensores da tese que sustenta ser descabida a atuação do curador
especial firmam-se em que não haveria falar em revelia no processo de execução.
Esta tem fundamento em título que não carece de ser complementado por
quaisquer outros elementos. O exeqüente nada tem de provar e o fato de o
executado não comparecer ao processo não acarreta a conseqüência prevista no
artigo 319 do Código de Processo Civil, pois a presunção de verdade já é ínsita no
próprio título. A defesa na execução faz-se por embargos que têm natureza de
ação, tendente a desconstituir o título ou paralisar-lhe os efeitos. Não se poderia
reputar alguém revel por ter deixado de propor uma ação.
Por outro lado, se é possível a negação genérica, no processo de conhecimento,
o mesmo não se verifica nos embargos.
Por fim, o contraditório, na execução, é eventual e resultante da apresentação
daquela ação incidental.
Examinam-se as objeções.
O Código de 39 deixou expresso quando alguém haveria de ter-se como revel.
Assim haveria de considerar-se aquele que, citado, não apresentasse defesa no
prazo legal.
O vigente código não contempla dispositivo análogo. Entretanto, de seus
artigos 319 e 320 resulta que a falta de contestação importa em revelia como, aliás,

212
SÚMULAS - PRECEDENTES

sempre se entendeu. Não se pode concluir, entretanto, com a mesma facilidade,


que no sistema do Código revelia só exista quando não haja contestação.
Há que se afastar inicialmente qualquer tentação de exegese literal. Assim é
que não remanesce dúvida de que, em embargos à execução, o embargado pode
ser revel, embora não seja convocado para contestá-los mas para impugná-los.
Note-se que não estou afirmando que ocorra em tal caso a conseqüência prevista
no artigo 319 do CPC. A presunção de verdade decorre freqüentemente da revelia
mas não se confunde com esta. Apenas quero deixar patente que a palavra
contestação há de entender-se com significado amplo.
Considere-se, de outra parte, efeito relevante da revelia, tradicional em nosso
direito. Refiro-me ao enunciado no artigo 322, em que se consigna que os prazos
correrão, contra o revel, independentemente de intimação. Admitindo-se que
inexista revelia na execução, não haveria como incidir essa norma. E como o revel
obviamente não tem procurador nos autos, teria de ser sempre pessoalmente
intimado. Trata-se de resultado absurdo que jamais vi defendido. Daí já se vê
que o sistema do código não se compadece com a interpretação que restrinja o
conceito de revelia ao não comparecimento do réu para contestar. Entendo que
o sentido há de ser mais largo, abrangendo todos os casos em que a parte não se
faça presente nos autos.
A confissão ficta, convém repetir, é efeito da revelia e por isso mesmo não
entra e sua definição. Dir-se-ia, entretanto, que a atuação do Curador visaria
fundamentalmente a afastar tal efeito, não se justificando quando dele não se
cogitasse, como ocorre na execução. A afirmativa não é exata por fundar-se em
falsa premissa. É que o Curador oficia para defender o revel de um modo geral
e não apenas para que se exclua a presunção de verdade decorrente da falta de
contestação. Com efeito, malgrado nas diversas hipóteses arroladas no artigo
320 afastem-se expressamente os efeitos cominados no artigo 320, nem por isso
deixa de ser cogente a presença do Curador.
Afirma-se, ainda, a impossibilidade jurídica ou pelo menos a inviabilidade de
o Curador propor uma ação em nome de outrem ou como substituto deste. A
objeção não tem, em verdade, a força que aparenta.
Como regra geral, ninguém poderá demandar em nome alheio. O titular do
direito dele dispõe e só estará em Juízo se entender conveniente. Ademais, a
propositura da ação significa colocar de algum modo em risco o bem jurídico,
eis que enseja a possibilidade de formação da coisa julgada contrariamente ao
direito afirmado. Tais colocações facilmente se afastam tratando-se de embargos
do executado. Por seu meio, pretende-se apenas desconstituir o título executivo,
sendo aceitável que deduza o Curador a matéria possível que não envolva arriscar
direito que o executado pudesse pessoalmente defender em outra demanda.
Claro que serão escassos os temas; não significa entretanto que inexistam. Não

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 213


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

vejo, por exemplo, motivo para impedir alegue-se prescrição. Esta não pode ser
conhecida de ofício e, tratando-se de processo de conhecimento, poderá a parte
ter interesse que se examine a questão de fundo. Na execução, entretanto, que
tende à extinção da obrigação pelo seu cumprimento, não há razão para que se
impeça o Curador de argüí-la.
Observe-se, ainda, que a adoção rigorosa de entendimento exposto levaria
a que o Curador nomeado ao incapaz, nas hipóteses do inciso I do artigo 9º,
também não poderia embargar, o que o deixaria com a defesa seriamente
mutilada nas execuções.
Vale assinalar, por outro lado, que existe campo para que o Curador atue
utilmente, mesmo não oferecendo embargos. No processamento da execução,
poderá propugnar para que esta obedeça estritamente os limites legais, jungida
ao título e do modo menos oneroso ao devedor. Certo que zelar por isso já é
dever do Juiz que, para tanto, não carece de provocação da parte. Não se afasta,
entretanto, a conveniência da atuação. E esta torna-se especialmente importante
quando se cogite de interposição de recurso. Se eventualmente o magistrado
tiver, sobre determinado tema, entendimento contrário aos interesses do devedor
e em conflito com o dominante na jurisprudência, só mediante o recurso aquele
será resguardado. Recurso impossível se não existir Curador. Não é bem exato, em
verdade, que o contraditório condicione-se ao oferecimento de embargos.
Terminando, não é despiciendo assinalar que a lei preocupa-se com este
contraditório, tanto que cogita de suspendê-lo quando o devedor persevera na
prática de atos tidos como atentatórios à dignidade da justiça (CPC, art. 601).
Por todo o exposto, tenho como impositiva a presença do Curador quando,
citado o executado por edital, abstenha-se de atender a esta convocação.
Nego provimento ao agravo.

RECURSO ESPECIAL N. 35.061-RJ (93.0013341-1)

Relator: Ministro Milton Luiz Pereira


Recorrentes: Magildo Lima de Almeida e cônjuge
Recorrida: Letra S.A. Crédito Imobiliário
Advogados: Helina de Moura Luz Rocha
Wandilce Monteiro de Souza Diniz e outros

214
SÚMULAS - PRECEDENTES

EMENTA

Processual Civil. Execução. Citação editalícia. Embargos de


devedor. Nomeação do curador especial. Lei n. 5.471/1971. Artigos
9º, II, 319, 320, 322 e 601, CPC.
1. Afastando-se exegese literal, compreende-se que, embora o
executado não seja citado para contestar, mas para impugnar, não
comparecendo, no seu significado amplo, viceja a revelia. O Curador
oficia, com amplitude, admitindo-se que deduza os pontos possíveis.
O sistema do Código não se compadece com a interpretação que
restrinja o conceito de revelia.
2. “A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido
de que o curador especial (ad litem) tem legitimidade para opor
Embargos do Devedor em Execução, onde o executado, citado por
edital, remanesce revel. Trata-se, segundo a doutrina, de exigência
de defesa do revel pelo curador e tem fundamento no princípio do
contraditório, pois não se sabe se ele - o réu revel - não quis contestar
ou não pôde, ou mesmo não soube da citação” (REsp n. 32.623-4-RJ
- Rel. Min. Waldemar Zveiter).
3. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas: Decide
a egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar
provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos
autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram
do julgamento os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Demócrito Reinaldo e
Humberto Gomes de Barros. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Garcia
Vieira. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 20 de março de 1995 (data do julgamento).
Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente
Ministro Milton Luiz Pereira, Relator

DJ 17.04.1995

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 215


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Por maioria, a colenda Sexta Câmara
do Tribunal de Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro improveu Apelação
Cível, nos termos da ementa, in verbis:

Execução hipotecária da Lei n. 5.741/1971. Embargos de Devedor, opostos pela


Curadoria Especial. Por não ser esta substituta processual dos devedores, falece-
lhe legitimidade para interpor tais Embargos. Extinção do processo decretada,
que ora se confirma (fl. 46).

Nos Embargos Infringentes interpostos, aquele e. Tribunal os rejeitou em


acórdão assim ementado:

Embargos de devedor. Execução hipotecária fundada na Lei n. 5.741/1971.


Competência da Justiça Estadual para processá-la. Nos processos de execução
não tem aplicação a regra do art. 9º n. II da lei instrumentária. Ilegitimidade
da Curadoria Especial para propor ação incidental de embargos, em nome do
devedor inadimplente (fl. 74).

No Recurso Especial (art. 105, III, a e c, CF) insurgem-se os Recorrentes


contra a compreensão defendida no v. aresto objurgado que considera o Curador
Especial parte ilegítima para interpor embargos em favor de executado citado
por edital, o que contraria os artigos 9º, II e 745, do Código de Processo Civil e
diverge do entendimento esposado pela Suprema Corte.
Aduziram que, quanto à citação por edital, quando ainda não esgotados
os meios para localização dos executados, restaram contrariados os artigos 231,
inciso II, do Código de Processo Civil e 38, do Código Civil.
A Recorrida invoca o teor da Súmula n. 400-STF para justificar a
inadmissibilidade recursal.
O e. Tribunal a quo admitiu o Recurso porque:

Tanto na doutrina como na jurisprudência, o entendimento acerca da


legitimidade da Curadoria Especial para integrar o pólo ativo da ação incidental
de embargos do devedor, é conflitante.
Com base na alínea c, o alegado dissídio restou demonstrado dentro dos
parâmetros estabelecidos no artigo 255 e seus parágrafos do Regimento Interno
do Superior Tribunal de Justiça. A matéria recebeu efetivamente tratamento
jurídico diverso.

216
SÚMULAS - PRECEDENTES

No caso em espécie, entendo presentes os pressupostos viabilizadores da


abertura da instância excepcional, bem como os requisitos de admissibilidade do
recurso especial, quais sejam, o pré-questionamento da matéria, a exposição da
controvérsia em toda a sua plenitude e a existência do fumus boni iuris (fl. 108).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): A insurgência recursal


revela que, em execução hipotecária (Lei n. 5.471/1971), não encontrados no
local da situação do imóvel, os executados foram citados por edital, ficando
revéis, dando-se-lhes Curador Especial que apresentou Embargos de Devedor.
No juízo monocrático, sob as alvíssaras da falta de legitimidade do Curador
Especial, o processo foi extinto (art. 267, IV e VI, CPC) e no julgamento
da apelação, confirmando a sentença, nos Embargos Infringentes rejeitados,
assentando o v. acórdão:

Embargos de devedor. Execução hipotecária fundada na Lei n. 5.741/1971.


Competência da Justiça Estadual para processá-la. Nos processos de execução
não tem aplicação a regra do art. 9º, n. II da Lei Instrumentária. Ilegitimidade
da Curadoria Especial para propor ação incidental de embargos, em nome do
devedor inadimplente.

Presentes os seus requisitos, o recurso merece ser conhecido (art. 105, III,
c, CF).
Aberto o pórtico para o exame, sublinha-se tormentosa questão jurídica,
amiúde, enfrentada pela doutrina e Tribunais, consubstanciando julgados
divergentes quanto à necessidade, ou não, de Curador Especial para o devedor
revel no processo de execução.
Enfrentando o tema, com objetividade e erudição, o eminente
Desembargador Gil Trotta Telles, do Tribunal de Justiça do Paraná, posicionando-
se contrariamente, comentou:

Omissis
De notar-se, inicialmente, que não é a qualquer réu citado por edital ou com
hora certa que caberá dar curador especial, mas somente ao revel citado por essas
formas.

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 217


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Revel, no sistema do Código de Processo Civil, é exclusivamente o réu que


não apresenta contestação, no prazo legal, segundo se infere da primeira parte
de seus artigos 319 e 324. Os artigos 13, inciso II, 265, § 2º, e 296, § 3º apenas
aparentemente aludem a outra espécie de revelia, pois, na realidade, neles o réu é
tratado como se fosse revel.
Ora, no processo de execução, não há que se falar em contestação. Nele, o
devedor não é citado para se defender, porém para cumprir o julgado, como se
dessume dos artigos 621, 632 e 652 do referido diploma legal.
Conseqüentemente, não existe revelia nem revel no processo de execução.
Assim sendo, parece que se deve responder de forma negativa à pergunta
formulada inicialmente.
Contudo, a situação do réu revel, no processo de conhecimento, não seria
semelhante à do devedor que não apresenta embargos, no processo de execução,
de maneira que, por analogia, não seria justificável nomear a este curador
especial, quando tivesse ele sido citado por edital ou com hora certa?
Entende-se que a resposta deve, ainda, ser “não”.
É que, embora se admita alguma semelhança entre as situações acima
apontadas, os embargos não equivalem a contestação, mas sim, a ação. Note-se
que em nenhum dos casos do artigo 9º, inciso II, o curador especial pode propor a
ação, mas somente oferecer defesa.
Por outro lado, conquanto a nomeação de curador a lide vise a proteger
aquele que foi citado fictamente, a execução, conforme dispõe o artigo 612,
ressalvado o caso de insolvência do devedor, realiza-se “no interesse do credor”,
que nela ocupa posição de indiscutível preeminência.
Rita Gianesini, em sua monografia sobre a revelia, também entende não ser
viável a nomeação de curador especial no processo de execução, transcrevendo a
tal respeito, no que tange à execução fundada em titule extrajudicial, a conclusão
do IV Curso de Especialização em Direito Processual Civil, da PUCSP, que foi a
seguinte:

Descabe nomeação de curador especial no processo de execução


porque:

a) não há revelia;
b) a execução, na espécie, é definitiva, e, assim, não hão de se lhe opor
óbices, salvo os indiscutíveis;
c) o curador especial contesta (art. 302, parágrafo único) e não propõe
ações (embargos do devedor);
d) se se pode contestar por negação geral, não se pode propor ações
com fatos constitutivos indiscriminados (in Rev. Assoc. dos Magistrados do

218
SÚMULAS - PRECEDENTES

Paraná - n. 12, abril-junho 1978 - p. 15 e 16).

Conquanto as autorizadas anotações, respaldadas em boa doutrina,


tenham inegável significância, a jurisprudência deste Tribunal norteou-se por
compreensão favorável à nomeação de Curador Especial, inter ália, registrando-
se o REsp n. 32.623-4-RJ - Rel. Min. Waldemar Zveiter, à sua vez, como reforço,
invocando escólio colhido no REsp n. 9.961-SP, transcrevendo:

O Curador Especial, atuando nos termos do artigo 9º, II, parágrafo único, do
CPC, substitui processualmente a parte revel e citada por editais, e assim pode em
qualquer tempo argüir em proveito desta, a prescrição de direitos patrimoniais.

Também lembrou o REsp n. 23.495-RJ, concluindo que:

Na qualidade de substituto processual da parte, o curador especial está


legitimado a recorrer.

No julgamento do mencionado REsp n. 32.623-4-RJ, o Ministro Eduardo


Ribeiro, exímio processualista, comemorando o julgamento do Agravo n.
46.897-GO-TFR, com lúcidos apontamentos, proferiu substancioso voto,
assim:

A matéria tratada no presente recurso, não se ignora, tem ensejado


divergências doutrinárias. Também não se pacificou o entendimento dos Tribunais
sendo que, nesta Corte, quando do julgamento do incidente de uniformização
de jurisprudência, no Agravo de Instrumento n. 41.165, verificou-se subsistirem
duas correntes de opinião, não se podendo afirmar que uma delas prepondere
efetivamente, posto que a decisão foi tomada por escassa diferença, sem que
conseguisse reunir a maioria absoluta do Plenário.
Pessoalmente, quando Juiz de Vara Cível, admitia oficiasse o Curador quando o
executado, citado por editais, não apresentasse embargos.
Reconsiderei esse entendimento ao julgar os Embargos Infringentes na
Apelação Cível n. 8.421, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, oportunidade
em que, aliás fiquei vencido (Revista do TJDF v. 13 p. 139). Procedi agora a mais
detido reexame do tema, meditando maduramente sobre os elementos trazidos
nos doutos votos proferidos no incidente de uniformização já mencionado. E essa
reflexão levou-me a volver à anterior posição.
Os defensores da tese que sustenta ser descabida a atuação do curador
especial firmam-se em que não haveria falar em revelia no processo de execução.
Esta tem fundamento em título que não carece de ser complementado por
quaisquer outros elementos. O exequente nada tem de provar e o fato de o

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 219


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

executado não comparecer ao processo não acarreta a conseqüência prevista no


artigo 319 do Código de Processo Civil, pois a presunção de verdade já é ínsita no
próprio título. A defesa na execução faz-se por embargos que têm natureza de
ação, tendente a desconstituir o título ou paralisar-lhe os efeitos. Não se poderia
reputar alguém revel por ter deixado de propor uma ação.
Por outro lado, se é possível a negação genérica, no processo de conhecimento,
o mesmo não se verifica nos embargos.
Por fim, o contraditório, na execução, é eventual e resultante da apresentação
daquela ação incidental.
Examinam-se as objeções.
O Código de 39 deixou expresso quando alguém haveria de ter-se como revel.
Assim haveria de considerar-se aquele que, citado, não apresentasse defesa no
prazo legal.
O vigente Código não contempla dispositivo análogo. Entretanto, de seus
artigos 319 e 320 resulta que a falta de contestação importa em revelia como, aliás,
sempre se entendeu. Não se pode concluir, entretanto, com a mesma facilidade,
que no sistema do Código revelia só exista quando não haja contestação.
Há que se afastar inicialmente qualquer tentação de exegese literal. Assim é
que não remanesce dúvida de que, em embargos à execução, o embargado pode
ser revel, embora não seja convocado para contestá-los mas para impugná-los.
Note-se que não estou afirmando que ocorra em tal caso a conseqüência prevista
no artigo 319 do CPC. A presunção de verdade decorre freqüentemente da revelia
mas não se confunde com esta. Apenas quero deixar patente que a palavra
contestação há de entender-se com significado amplo.
Considere-se, de outra parte, efeito relevante da revelia, tradicional em nosso
direito. Refiro-me ao enunciado no artigo 322, em que se consigna que os prazos
correrão, contra o revel, independentemente de intimação. Admitindo-se que
inexista revelia na execução, não haveria como incidir essa norma. E como o revel
obviamente não tem procurador nos autos, teria de ser sempre pessoalmente
intimado. Trata-se de resultado absurdo que jamais vi defendido. Daí já se vê
que o sistema do Código não se compadece com a interpretação que restrinja o
conceito de revelia ao não comparecimento do réu para contestar. Entendo que
o sentido há de ser mais largo, abrangendo todos os casos em que a parte não se
faça presente nos autos.
A confissão ficta, convém repetir, é efeito da revelia e por isso mesmo não
entra em sua definição. Dir-se-ia, entretanto, que a atuação do Curador visaria
fundamentalmente a afastar tal efeito, não se justificando quando dele não se
cogitasse, como ocorre na execução. A afirmativa não é exata por fundar-se em
falsa premissa. É que o Curador oficial para defender o revel de um modo geral
e não apenas para que se exclua a presunção de verdade decorrente da falta de
contestação. Com efeito, malgrado nas diversas hipóteses arroladas no artigo

220
SÚMULAS - PRECEDENTES

320 afastem-se expressamente os efeitos cominados no artigo 320, nem por isso
deixa de ser cogente a presença do Curador.
Afirma-se, ainda, a impossibilidade jurídica ou pelo menos a inviabilidade de
o curador propor uma ação em nome de outrem ou como substituto deste. A
objeção não tem, em verdade, a força que aparenta.
Como regra geral, ninguém poderá demandar em nome alheio. O titular do
direito dele dispõe e só estará em Juízo se entender conveniente. Ademais, a
propositura da ação significa colocar de algum modo em risco o bem jurídico,
eis que enseja a possibilidade de formação da coisa julgada contrariamente ao
direito afirmado. Tais colocações facilmente se afastam tratando-se de embargos
do executado. Por seu meio, pretende-se apenas desconstituir o título executivo,
sendo aceitável que deduza o Curador a matéria possível que não envolva arriscar
direito que o executado pudesse pessoalmente defender em outra demanda.
Claro que serão escassos os temas; não significa entretanto que inexistam. Não
vejo, por exemplo, motivo para impedir alegue-se prescrição. Esta não pode ser
conhecida de ofício e, tratando-se de processo de conhecimento, poderá a parte
ter interesse que se examine a questão de fundo. Na execução, entretanto, que
tende à extinção da obrigação pelo seu cumprimento, não há razão para que se
impeça o Curador de argüí-la.
Observe-se, ainda, que a adoção rigorosa de entendimento exposto levaria
a que o Curador nomeado ao incapaz, nas hipóteses do inciso I do artigo 9º,
também não poderia embargar, o que o deixaria com a defesa seriamente
mutilada nas execuções.
Vale assinalar, por outro lado, que existe campo para que o Curador atue
utilmente, mesmo não oferecendo embargos. No processamento da execução,
poderá propugnar para que esta obedeça estritamente os limites legais, jungida
ao título e do modo menos oneroso ao devedor. Certo que zelar por isso já é
dever do Juiz que, para tanto, não carece de provocação da parte. Não se afasta,
entretanto, a conveniência da atuação. E esta torna-se especialmente importante
quando se cogite de interposição de recurso. Se eventualmente o magistrado
tiver, sobre determinado tema, entendimento contrário aos interesses do devedor
e em conflito com o dominante na jurisprudência, só mediante o recurso aquele
será resguardado. Recurso impossível se não existir curador. Não é bem exato, em
verdade, que o contraditório condicione-se ao oferecimento de embargos.
Terminando, não é despiciendo assinalar que a lei preocupa-se com este
contraditório, tanto que cogita de suspendê-lo quando o devedor persevera na
prática de atos tidos como atentatórios à dignidade da justiça (CPC, art. 601).
Por todo o exposto, tenho como impositiva a presença do curador quando,
citado o executado por edital, abstenha-se de atender a esta convocação.

Eis a ementa do julgado:

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 221


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Processual Civil. Legitimidade do curador especial de opor embargos do


devedor. Executado citado por edital.
I - A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido de que o
curador especial (ad litem) tem legitimidade para opor Embargos do Devedor em
Execução, onde o executado, citado por edital, remanesce revel. Trata-se, segundo
a doutrina, de exigência de defesa do revel pelo curador e tem fundamento no
princípio do contraditório, pois não se sabe se ele - o réu revel - não quis contestar
ou não pôde, ou mesmo não soube da citação.
II - Recurso conhecido pela letra c e provido (in DJU de 31.05.1993).

No mesmo sentido, recordo o REsp n. 37.652-1-RJ, Rel. Min. Costa Leite:

Processo Civil. Embargos do devedor. Curador especial.


O curador especial tem legitimidade para opor embargos do devedor.
Precedentes. Recurso conhecido e provido (in DJU de 25.10.1993).

A Suprema Corte, fazendo soar o polêmico magistério doutrinário,


julgando o RE n. 108.073-MG - Rel. Ministro Francisco Rezek, precedente
aludido nos acórdãos antes colacionados, consignou:

A necessidade de se nomear curador especial para o réu que desatende


a citação edital é tema polêmico neste gênero de feito. Contra a exigência é
freqüente a invocação do magistério de Calmon de Passos, no sentido de que
em tais casos o devedor não é citado para ser ouvido, mas para cumprir sua
obrigação (Cf. obra citada à fl. 08). Daí concluírem muitos que ao réu, no processo
de execução, não cabe qualquer defesa, não havendo possibilidade de revelia
- motivo suficiente para tornar inútil a nomeação do curador, cujo pressuposto
seria aquele risco definido.
Esse argumento se forra ainda na autonomia que têm os embargos do devedor
relativamente à execução. Desse traço incontroverso tirar-se-ia que os embargos
não representam defesa interna no processo de execução, quedando, portanto,
à margem do poder de atuar do Ministério Público, a quem não se defere a
incumbência de propor ações em nome do ausente.
É inegável que a estrutura técnica desses argumentos impressiona. De toda
sorte, porém, não torna a matéria insuscetível de discussão, tanto que um dos
defensores da tese reconhece nela “um ponto de vista, sujeito à censura dos
doutos” (Athos Gusmão Carneiro, Questões polêmicas do novo Código de Processo
Civil; RT 496/15).
Cumpre ter presente que a nomeação do curador especial visa a suprir a
defesa do réu, ante a possibilidade de que lhe tenha escapado a efetiva ciência da
demanda, noticiada em edital. Por isso afirma Cândido Dinamarco ser necessário

222
SÚMULAS - PRECEDENTES

defender o ausente, assegurando que “a exigência de defesa do revel pelo


curador tem fundamento no princípio do contraditório, pois não se sabe se ele
não quis contestar ou não pôde, ou mesmo não soube da citação” (Fundamentos
do Processo Civil Moderno: São Paulo, RT, 1986, p. 330).
O curador, assim, tem a seu cargo a tarefa de defender o réu. Não menos
seguro, contudo, é que por vezes a defesa se desenvolve como contra-ataque. A
natureza dos embargos do devedor ilustra essa dimensão do conceito de defesa.
A tese, aliás, é vantajosamente sustentada por José Gomes da Cruz, apoiado
em Pontes de Miranda, Lopes da Costa, Araújo Cintra, Ada Grinover e Cândido
Dinamarco (A Curadoria à Lide no Processo de Execução; RT 528/279). Percebe-se
aí o conceito de defesa ligado ao direito que tem o réu de ver consideradas suas
razões no julgamento, sendo os embargos um meio para tanto.
Esse entendimento dos embargos do devedor como procedimento de defesa
foi acolhido no TFR, e tem a sufragá-lo, nesta Casa, o RE n. 94.494, onde se decidiu
serem os honorários a cargo do sucumbente devidos na execução fiscal e não
nos embargos - o que dá maior realce à intimidade do processo incidental com a
execução. Lê-se no voto do Relator, Ministro Cunha Peixoto, que “não há dúvidas
de que, na sistemática do atual Código de Processo Civil, os embargos constituem
uma ação incidental, mas não é menos certo de que funcionam também como
defesa. Assim, não seria curial que o vencido pagasse honorários, não só na ação
principal - execução fiscal -, como na incidental - embargos - que funciona como
defesa” (RTJ 103/330).
Uma vez que se espera do curador o exercício da defesa do réu ausente,
justificado está para oferecer os embargos - o que demonstra a utilidade da
intervenção do Ministério Público. Com efeito, não é irrazoável enxergar em
semelhante hipótese um caso de substituição processual, que nos termos do
art. 6º do Código Adjetivo legitima o substituto a pleitear direito do substituído.
Isso é dito expressamente por Amaral Santos, que entre os casos de substituição
processual faz figurar “o do Ministério Público, quando, em nome próprio, isto é,
como parte, age na defesa de interesses de ausentes” (Primeiras Linhas de Direito
Processual Civil; São Paulo, Saraiva, 1977, 1º vol., p. 296).
Releva destacar, por outro lado, que a idéia de ausência absoluta do
contraditório no processo de execução merece crítica. Parece-me que, de fato,
há certa limitação do princípio, ditada pela maior probabilidade de adequação
ao direito que os títulos executivos ostentam. Entretanto, cuida-se aqui de
probabilidade, não de certeza, tanto que o legislador criou diversas hipóteses
de ataque à exigibilidade e até mesmo a substância dos títulos. Por isso pondera
Cândido Dinamarco que invariavelmente “existe toda essa trama de certezas,
incertezas, probabilidades e riscos no direito processual. Para aumentar a certeza,
para aumentar, então, a austeridade da Justiça e possibilitar decisões mais
perfeitas (...) é que está aí o princípio do contraditório como um dos instrumentos
de que se vale o legislador para evitar os riscos de sanções que não estejam de

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 223


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

acordo com o direito material” (ob. cit., p. 100). Certo ainda que, como ensinam os
expoentes mais autorizados do Direito Processual, o contraditório traduz a ciência
dos atos do processo pelas partes, e a possibilidade de reação a eles, é quando
menos insegura a idéia de que o princípio não opera no processo de execução.

Gomes da Cruz, a propósito, depois de enumerar autores com igual ponto de


vista, acrescenta que

seria erro crer que o contraditório seja próprio apenas do processo de


cognição. Para corrigir tal erro, Carnelutti propõe que se observe que o
contraditório não diz respeito apenas ao interesse das partes; isto fornece
o impulso ao contraditório, mas não constitui o seu fim. Na verdade, o juiz
tem necessidade do contraditório, mais ainda do que as partes. Vimos,
estudando o processo de cognição, como nisto consiste a garantia mais
eficaz da imparcialidade do juiz. Não há razão alguma para sustentar que a
imparcialidade do juiz valha menos para a execução do que para a cognição
(Diritto e Processo, Morano Editores Nápoles, 1958, p. 296 em sua obra
Lezioni di Diritto Processuale Civile, CEDAM, Pádua, 1932, vol. V, Carnelutti já
dizia que o bom senso orienta o entendimento de que a execução também
se submete ao princípio contraditório - cf. p. 64-66) (ob. cit., p. 283).

Reforça a convicção o art. 601 do Código de Processo Civil, que estabelece


pena de exclusão do contraditório ao devedor cujo comportamento atente
contra a dignidade da Justiça. Há, por conseguinte, um contraditório no processo
de execução, ainda que desprovido de latitude igual àquela com que o princípio
é contemplado no processo cognitivo. Havendo contraditório, cumpre que o
ausente se veja amparado pelo curador especial (in RTJ 120, p. 1.278, 1.279 e
1.280).

A ementa é bem esclarecedora:

Curador especial. Processo de execução. Executado que não atende à citação


edital.
É devida a nomeação de curador especial ao executado que, citado por edital,
não comparece a juízo. Doutrina.
Mérito do acórdão recorrido, que deve subsistir.

Propositadamente, em que pese extensas, revolvidas as colocações


doutrinárias e pretorianas, para alçapremar a conclusão, a trato de dissídio
(art. 105, III, c, CF), nesse cenáculo, concluídas as reflexões pessoais, porque se
bastam as razões compendiadas, concilio-me com a fundamentação agregada à
necessidade da nomeação de Curador Especial ao executado que, chamado por

224
SÚMULAS - PRECEDENTES

edital, não comparece a Juízo, ficando legitimado para apresentar, a tempo e


modo, os Embargos de Devedor.
Por essas estrias, voto provendo o recurso.
É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 37.652-RJ (93.0022120-5)

Relator: Ministro Costa Leite


Recorrentes: José Humberto Gomes de Oliveira e cônjuge
Recorrido: Banerj Crédito Imobiliário S/A
Advogados: Marilena Rocha Lovisi
Alexandre Brasil e outros

EMENTA

Processo Civil. Embargos do devedor. Curador especial.


O curador especial tem legitimidade para opor embargos do
devedor. Precedentes. Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas
taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer do recurso
especial e dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Nilson
Naves, Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter e Cláudio Santos.
Brasília (DF), 30 de setembro de 1993 (data do julgamento).
Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente
Ministro Costa Leite, Relator

DJ 25.10.1993

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 225


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Costa Leite: - José Humberto Gomes de Oliveira e


cônjuge manifestam recurso especial, com fundamento no art. 105, III, a e c, da
Constituição, contra acórdão do Primeiro Grupo de Câmaras do Tribunal de
Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro, assim exteriorizado:

Embargos à execução. Ilegitimidade ativa ad causam da Curadoria Especial.


Tratando-se os embargos de devedor de uma ação incidental e autônoma, não
tem o Curador Especial representação para a sua propositura.

Alega-se contrariedade aos arts. 9º, II e 745, do Código de Processo Civil,


e dissídio jurisprudencial.
Processado e admitido o recurso, subiram os autos.
É o relatório, Senhor Presidente.

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): - A questão trazida à balha é


sabidamente controvertida, com boa parte da doutrina respaldando a tese que
prevaleceu no julgamento recorrido.
A jurisprudência desta Corte, porém, orientou-se em sentido contrário,
consoante ressumbra dos acórdãos nos REsps n. 9.961-SP, n. 23.495-RJ e n.
32.623-RJ. A ementa que o eminente Ministro Waldemar Zveiter escreveu para
o último reflete o entendimento predominante:

Processual Civil. Legitimidade do curador especial de opor embargos do


devedor. Executado citado por edital.
- A jurisprudência do STJ acolheu entendimento no sentido de que o curador
especial (ad litem) tem legitimidade para opor Embargos do Devedor em
Execução, onde o executado, citado por edital, remanesce revel. Trata-se, segundo
a doutrina, de exigência de defesa do revel pelo curador e tem fundamento no
princípio do contraditório, pois não se sabe se ele - o réu revel - não quis contestar
ou não pôde, ou mesmo não soube da citação.
- Recurso conhecido pela letra c e provido.

No corpo do voto, Sua Excelência colaciona precedente do Supremo


Tribunal Federal (RE n. 108.073-MG), da relatoria do Ministro Francisco
Rezek, transcrevendo o seguinte tópico elucidativo:

226
SÚMULAS - PRECEDENTES

Cumpre ter presente que a nomeação do curador especial visa a suprir a


defesa do réu, ante a possibilidade de que lhe tenha escapado a efetiva ciência da
demanda, noticiada em edital. Por isso afirma Cândido Dinamarco ser necessário
defender o ausente, assegurando que “a exigência de defesa do revel pelo curador
tem fundamento no princípio do contraditório, pois não se sabe se ele não quis
contestar ou não pôde, ou mesmo não soube da citação”. (Fundamentos do
Processo Civil Moderno: São Paulo, RT, 1986, p. 330).
O curador, assim, tem a seu cargo a tarefa de defender o réu. Não menos
seguro, contudo, é que por dimensão do conceito de defesa. A tese, aliás, é
vantajosamente sustentada por José Gomes da Cruz, apoiado em Pontes de
Miranda, Lopes da Costa Araújo Cintra, Ada Grinover e Cândido Dinamarco (A
Curadoria à Lide no Processo de Execução: RT 528/279). Percebe-se aí o conceito
de defesa ligado ao direito que tem o réu de ver consideradas suas razões no
julgamento, sendo os embargos um meio para tanto.
Esse entendimento dos embargos do devedor como procedimento de defesa
foi acolhido no TFR, e tem a sufragá-lo, nesta Casa, o RE n. 94.494, onde se decidiu
serem os honorários a cargo do sucumbente devidos na execução fiscal e não
nos embargos - o que dá maior realce à intimidade do processo incidental com a
execução. Lê-se no voto do Relator, Ministro Cunha Peixoto, que “não há dúvidas
de que, na sistemática do atual Código de Processo Civil, os embargos constituem
uma ação incidental, mas não é menos certo de que funcionam também como
defesa. Assim, não seria curial que o vencido pagasse honorários, não só na ação
principal - execução fiscal -, como na incidental - que funciona como defesa” (RTJ
103/330).

Vale destacar, ainda, a importante achega do voto-vogal do Ministro


Eduardo Ribeiro, neste relanço:

Afirma-se, ainda, a impossibilidade jurídica ou pelo menos a inviabilidade de


o Curador propor uma ação em nome de outrem ou como substituto deste. A
objeção não tem, em verdade, a força que aparenta.
Como regra geral, ninguém poderá demandar em nome alheio. O titular do
direito dele dispõe e só estará em Juízo se entender conveniente. Ademais, a
propositura da ação significa colocar de algum modo em risco o bem jurídico,
eis que enseja a possibilidade de formação da coisa julgada contrariamente ao
direito afirmado. Tais colocações facilmente se afastam tratando-se de embargos
do executado. Por seu meio, pretende-se apenas desconstituir o título executivo,
sendo aceitável que deduza o Curador a matéria possível que não envolva arriscar
direito que o executado pudesse pessoalmente defender em outra demanda.
Claro que serão escassos os temas; não significa entretanto que inexistam. Não
vejo, por exemplo, motivo para impedir alegue-se prescrição. Esta não pode ser
conhecida de ofício e, tratando-se de processo de conhecimento, poderá a parte

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 227


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ter interesse que se examine a questão de fundo. Na execução, entretanto, que


tende à extinção da obrigação pelo seu cumprimento, não há razão para que se
impeça o Curador de argüí-la.
Observe-se, ainda, que a adoção rigorosa de entendimento exposto levaria
a que o Curador nomeado ao incapaz, nas hipóteses do inciso I do artigo 9º,
também não poderia embargar, o que o deixaria com a defesa seriamente
mutilada nas execuções.

Assim, e perfeitamente configurado o dissídio jurisprudencial, conheço


do recurso e lhe dou provimento, para que arredada a preliminar de não
conhecimento, a Câmara julgadora prossiga no julgamento da apelação. É como
voto, Senhor Presidente.

RECURSO ESPECIAL N. 38.662-RJ (93.0025370-0)

Relator: Ministro Antônio Torreão Braz


Recorrentes: Valme Confecçôes Ltda. e outro
Recorrido: Banco do Brasil S.A
Advogados: Alodio Moledo dos Santos
Affonso de Araujo Campos

EMENTA

- Execução. Embargos do devedor. Curador especial.


- O curador especial está legitimado a opor embargos à execução
de devedor citado por edital.
- Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos

228
SÚMULAS - PRECEDENTES

do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Dias
Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda Regimental n. 3/1993,
Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo e Barros Monteiro.
Brasília (DF), 29 de março de 1994 (data do julgamento).
Ministro Fontes de Alencar, Presidente
Ministro Antonio Torreão Braz, Relator

DJ 09.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz: - Cuida-se de recurso especial


manifestado por Valme Confecções Ltda. e Maria Amélia Barbosa Ferreira a
acórdão do E. Primeiro Grupo de Câmaras Cíveis do Tribunal de Alçada do
Rio de Janeiro, proferido em grau de embargos infringentes, cuja ementa está
assim redigida (fls. 76):

Embargos à execução. Ilegitimidade ativa ad causam da curadoria especial.


Tratando-se os embargos de devedor de uma ação incidental e autônoma, não
tem o Curador Especial representação para a sua propositura. Recurso improvido.

Alegam os recorrentes que o aresto recorrido contrariou o artigo 9º, inciso


II, do CPC, além de divergir de julgados de outros Tribunais.
Admitido o recurso pela letra c, subiram os autos a esta Corte.
É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz (Relator): - A nomeação do curador


especial ao revel citado por edital, consoante a regra cogente do art. 9º, II, do
Código de Processo Civil, visa exatamente a suprir a falta de defesa do réu, ante
a presunção de que este não tenha ciência da citação.
Nesta consonância, no comando da citada norma processual está ínsita a
determinação - e não apenas a autorização - para que o curador se substitua ao
demandado na prática dos atos necessários à sua defesa, pois, do contrário, o
preceito seria letra morta ou pecaria pela sua inutilidade, o que seria inadmissível.

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 229


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Daí o acerto do comentário de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR


(CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL, Forense, 10ª ed., vol.
1/81):

Ao curador incumbe velar pelo interesse da parte tutelada, no que diz respeito
à regularidade de todos os atos processuais, cabendo-lhe ampla defesa dos
direitos da parte representada, e podendo, até mesmo, produzir atos de resposta
como a contestação, a execução e a reconvenção, se encontrar elementos para
tanto, pois a função da curatela especial dá-lhe poderes de representação legal da
parte, em tudo que diga respeito ao processo e à lide nele debatida.

No concernente à legitimidade do curador especial para opor embargos do


devedor no processo de execução, é tranqüila a jurisprudência do STJ no sentido
afirmativo (cf. REsp n. 27.103-8-RJ, rel. Ministro Barros Monteiro; REsp n.
32.623-4-RJ, relator Ministro Waldemar Zveiter).
O dissídio interpretativo, no caso, não está demonstrado nos moldes do
disposto no art. 255 do RISTJ, mas tenho por malferido o art. 9º, inc. II, do
CPC, razão pela qual conheço do recurso pela letra a e lhe dou provimento para
que, afastada a extinção do processo (art. 267, VI, do CPC), aprecie o juiz de
primeiro grau os embargos oferecidos.

RECURSO ESPECIAL N. 56.162-RJ (94.32657-2)

Relator: Ministro Ari Pargendler


Recorrentes: Pedro Martins Valladão Filho e cônjuge
Advogado: Alódio Moledo dos Santos
Recorrida: Letra S/A Crédito Imobiliário
Advogados: Romeu Fernando Carvalho de Souza e outros

EMENTA

Processo Civil. Execução hipotecária. Curador especial. Lei n.


5.741, de 1991. Na ação de execução, realizada a citação por edital,
aplica-se o disposto no artigo 9º, II, do Código de Processo Civil; o

230
SÚMULAS - PRECEDENTES

curador especial assim nomeado está habilitado a promover a mais


ampla defesa do revel, legitimando-se, portanto, a opor embargos
do devedor. Ressalva do entendimento pessoal do relator que não
identifica, nesse caso, hipótese de revelia. Recurso especial conhecido
e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda


Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do
julgamento os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Hélio Mosimann,
Peçanha Martins e Adhemar Maciel.
Brasília (DF), 16 de dezembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro Peçanha Martins, Presidente
Ministro Ari Pargendler, Relator

DJ 03.03.1997

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: - O Egrégio Segundo Grupo de Câmaras


do Tribunal de Alçada Cível do Estado do Rio de Janeiro negou provimento aos
embargos infringentes opostos por Pedro Martins Valladão Filho e sua mulher,
Débora de Carvalho Valladão, à execução hipotecária ajuizada, na forma da Lei
n. 5.741, de 1971, por Letra S.A. Crédito Imobiliário, nos termos do acórdão
assim ementado:

Embargos do devedor. Curador especial. Não tem o Curador Especial


legitimação para ajuizar ação incidental de embargos do devedor, por inexistir
revelia na ação de execução. A finalidade de chamamento do réu não é para
apresentar defesa, mas para pagar no prazo de 24 (vinte e quatro) horas ou oferecer
bens à penhora. Os embargos do devedor são uma ação de conhecimento,
distinta da que se está exercitando no processo de execução, não sendo, pois,
meio de defesa. Não tem o Curador Especial legitimação extraordinária autônoma
para se qualificar como substituto processual do executado. Ninguém poderá

RSSTJ, a. 4, (14): 187-232, outubro 2010 231


SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado pela lei.
Desprovimento dos embargos (fls. 90-91).

Seguiu-se o recurso especial, em que Pedro Martins Valladão e sua mulher,


Débora Carvalho Valladão, sustentam que o julgado contrariou o disposto no
artigo 9°, II, do Código de Processo Civil (fls. 96-100).
O Ministério Público Federal, na pessoa do eminente Subprocurador-
Geral da República, Dr. Miguel Guskow, opinou pelo conhecimento e
provimento do recurso (fls. 120-124).

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): - Meu ponto de vista acerca do


tema coincide com aquele que o eminente Juiz Dr. Paulo Sérgio Fabião expôs
no voto condutor do acórdão recorrido, in verbis:

O inciso II, do art. 9°, do Código de Processo Civil, menciona que o juiz dará
curador especial ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou em hora
certa. A revelia, como sabemos, é o fenômeno processual que resulta da falta
de contestação e contestação é defesa, resistência do réu à pretensão do autor.
Ocorrendo a revelia, nas hipóteses de a citação se ter efetivado mediante edital
ou em hora certa, impõe-se a nomeação do Curador Especial. Não tem o Curador
Especial legitimação para ajuizar a ação incidental de embargos do devedor,
por inexistir revelia na ação de execução. A finalidade do chamamento do réu
não é para apresentar defesa, mas para pagar no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas ou oferecer bens à penhora. Os embargos do devedor são uma ação de
conhecimento, distinta da que se está exercitando no processo de execução, não
sendo, pois, meio de defesa (fls. 92-93).

O Superior Tribunal de Justiça, todavia, orientou-se no sentido de que a


citação por edital em ação de execução exige a nomeação de curador especial,
com a conseqüente legitimação deste a opor embargos do devedor.
Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial e de dar-lhe
provimento para que os embargos do devedor sejam processados e julgados.

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