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MEMORIAL
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Relator: Ministro EDSON FACHIN
Órgão Julgador: Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal
Impetrantes: CRISTIANO ZANIN MARTINS e Outros
Paciente: LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
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MEMORIAIS QUE OS IMPETRANTES OFERECEM AO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DA COLENDA 2ª.
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TURMA JULGADORA
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I. SÍNTESE DO PROCESSADO:
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A presente ordem de habeas corpus foi impetrada em 05.11.2018 contra a r.
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decisão do C. Superior Tribunal de Justiça, em razão da patente suspeição
3/2 35.
do então Juiz Federal SÉRGIO MORO, à época titular da 13ª. Vara Federal da
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MENDES.
pre
1
Perícia atesta integridade de mensagens hackeadas de procuradores. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2020-dez-29/pericia-atesta-integridade-mensagens-hackeadas-vaza-jato.
Acesso em: 08.01.2021.
2
subscritor em 04.12.2018 — tudo a demonstrar situações incompatíveis com
a exigência de exercício isento da função jurisdicional e que denotam o
completo rompimento da imparcialidade objetiva e subjetiva.
Por fim, aos 25.06.2019 essa Colenda 2ª. Turma apreciou o pedido de
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liminar formulado pelos Impetrantes, o qual foi denegado por 3 votos contra
2, sendo assentado, no mais, pelo então e. Min. CELSO DE MELO, ao votar
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pelo indeferimento da cautelar, que sua posição no juízo perfunctório de
forma alguma significaria eventual adiantamento quanto à compreensão que
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adotaria no exame exauriente, deixando estampado, por outro lado, a
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relevância da tese jurídica veiculada neste writ.
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II. DO CABIMENTO:
3/2 35.
1-
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HC 95.518/PR, Relator Min. EROS GRAU. Redator do Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 28/05/2013, publicado em 19/03/2014.
3
Em relação ao cabimento do writ, consignou-se: “Suspeição de Magistrado. Conhecimento. A
alegação de suspeição ou impedimento de magistrado pode ser examinada em sede de habeas
corpus quando independente de dilação probatória. É possível verificar se o conjunto de decisões
tomadas revela atuação parcial do magistrado neste habeas corpus, sem necessidade de produção de
provas, o que inviabilizaria o writ”.
3
reconhecimento de suspeição de magistrado4. Ainda, foram conhecidos e
deferidos por esta Excelsa Corte diversos habeas corpus que abordavam
situação de impedimento5, sendo digno de especial destaque o AgRg no
RHC 144.651 julgado recentemente, no bojo do qual se reconheceu a
quebra da imparcialidade do mesmo magistrado aqui arguido por seus
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métodos judicantes pouco ortodoxos.
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III. FATOS QUE COMPROVAM A QUEBRA DO DEVER DE
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IMPARCIALIDADE (OBJETIVA E SUBJETIVA):
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a) Da ilegal condução coercitiva do Paciente: Em 04.03.2016, a
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autoridade judicial ordenou a condução coercitiva do Paciente para depor,
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sem que tivesse havido qualquer tentativa prévia de intimação para tal ato,
como exige6 o artigo 260, do CPP (Doc. 04). O Magistrado fundamentou a
3/2 35.
1-
4
Cf. RHC 127256 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
23/02/2016; RHC 119892, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
pre
4
contra o ex-Presidente LULA possui contornos que individualizam o
acontecimento. Diante da massiva divulgação e exploração do ato pela
mídia e pela população, a vulneração à sua presunção de inocência se deu
de modo muito mais grave. As circunstâncias do caso, como a notoriedade
do investigado e o contexto político da época, tornavam as consequências
3
49
deste ato judicial óbvias. O resultado desfavorável ao Paciente, a toda
evidência, foi perseguido pelo magistrado.
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b) Da quebra do sigilo telefônico do Paciente, familiares e até de
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advogados: O Juiz também determinou a interceptação dos terminais
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telefônicos utilizados pelo Paciente, por seus familiares e colaboradores
(Doc. 05) e com seus advogados (Doc. 25). A interceptação também
-
incidiu sobre o ramal-tronco de um dos escritórios de advocacia
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responsável pela defesa do Paciente. O Juízo presumiu que o número
telefônico em questão pertenceria a uma empresa do Paciente (LILS
3/2 35.
1-
5
comunicação7 – ilegalidade esta, indefensável até mesmo entre os parceiros
de acusação8. A liberação ilegal das gravações na tarde daquela quarta-feira
de 16 de março de 2016, tudo leva a crer, foi projetada para criar clamor
público e exercer uma forte pressão política com o fito de reverter a
nomeação do Paciente como Ministro de Estado9. E não foi outra a reação:
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a divulgação das transcrições convulsionou o país, provocou protestos
contra o governo, que exigiam que o Paciente fosse preso. O magistrado
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buscou influenciar, por meio de decisões judiciais, os rumos políticos do
país.
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d) Um arremate - análise do contexto: Era março de 2016. O Brasil vivia
um profundo cisma político que opunha, em linhas gerais, aqueles que eram
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favoráveis ao impeachment da Presidente da República e os que lhe eram
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contrários. As principais figuras públicas hostilizadas pelos apoiadores do
impedimento eram a ex-Presidente DILMA e o Paciente. Com a combustão
3/2 35.
1-
11).
Im
7
Leia diálogos da Lava jato sobre escutas telefônicas do ex-presidente Lula: Em 2016, Polícia
Federal gravou 22 ligações do petista após ordem para interromper escuta. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/09/leia-dialogos-da-lava-jato-sobre-escutas-telefonicas-do-
ex-presidente-lula.shtml . Acesso em: 08.01.2021.
8
“Sobre os levantamentos de sigilos, Delta, acho que estamos fracos de bons argumentos”.
Disponível em: https://twitter.com/rafaelmmartins/status/1219458533424541696. Acesso em:
08.01.2021.
9
Moro contrariou padrão da Lava Jato ao divulgar grampo de Lula, indicam mensagens.
Disponível: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/moro-contrariou-padrao-da-lava-jato-ao-
divulgar-grampo-de-lula-indicam-mensagens.shtml. Acesso em: 08.01.2021.
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e) A condenação coordenada e imposta pelo Juiz SÉRGIO MORO ao
Paciente: A sentença relativa à ação penal n.º 5046512-94.2016.4.04.7000
foi proferida em 12.07.2017 pelo Juiz SÉRGIO MORO10-11-12. O Paciente foi
injustamente condenado à pena de reclusão de 9 anos e 6 meses pelo
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suposto cometimento dos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. A parcialidade do magistrado afigurou-se presente mais uma vez,
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produzindo sentença que, coordenando a acusação13, ignorou as provas de
inocência14 e argumentos apresentados pela Defesa do Paciente, acolhendo
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integral e acriticamente a versão apresentada por corréu aspirante a
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colaborador, o Sr. LÉO PINHEIRO15-16 (Doc. 07).
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f) A atuação do Juiz SÉRGIO MORO para impedir ordem de soltura do
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Paciente: Em 08.07.2018 o Desembargador Federal ROGÉRIO FAVRETO,
investido de jurisdição, concedeu ordem de habeas corpus para o fim de
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Moro admite que tratou Lula como adversário num ringue de boxe. Disponível em:
https://www.brasil247.com/poder/moro-admite-que-tratou-lula-como-adversario-num-ringue-de-boxe .
Acesso em: 08.01.2021.
Em por:
11
‘DEFESA JÁ FEZ O SHOWZINHO DELA’ – Sergio Moro, enquanto julgava Lula, sugeriu à
Lava Jato emitir uma nota oficial contra a defesa. Eles acataram e pautaram a imprensa.
Disponível em: https://theintercept.com/2019/06/14/sergio-moro-enquanto-julgava-lula-sugeriu-a-lava-
jato-emitir-uma-nota-oficial-contra-a-defesa-eles-acataram-e-pautaram-a-imprensa/. Acesso em:
sso
08.01.2021.
12
‘NÃO É MUITO TEMPO SEM OPERAÇÃO?’ – Exclusivo: chats privados revelam
colaboração proibida de Sergio Moro com Deltan Dallagnol na Lava Jato. Disponível em:
pre
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decisão deveria ter sido cumprida, a menos que fosse reconsiderada ou
reformada através dos meios de impugnação previstos em lei. No entanto, o
Juiz SÉRGIO MORO, (i) mesmo não tendo jurisdição (uma vez que a
execução penal do Paciente está sendo conduzida pela 12ª. Vara Federal
Criminal de Curitiba) e (ii) durante o gozo de férias, atuou decididamente
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para obstar o cumprimento da decisão proferida pelo órgão
hierarquicamente superior (Doc. 09). A imprensa registrou os esforços do
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Magistrado para impedir a qualquer custo a soltura do Paciente. Ele chegou
ao ponto extremo de telefonar para o Diretor-Geral da Polícia Federal,
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ROGÉRIO GALLORO, com o intuito de “argumentar contra o cumprimento da
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decisão de Favreto”, agindo como promotor de interesses contrários ao
Paciente.
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g) Fatos mais recentes — também públicos e notórios — a demonstrar
um projeto contra o Paciente: Logo após a divulgação do resultado das
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1-
desejo de que LULA deve “apodrecer na cadeia” e seus aliados têm a opção
de “deixar o país ou cadeia”. Em 01.11.2018, após encontro pessoal com o
Em por:
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Moro foi convidado para ministério ainda na campanha, diz Mourão. Disponível em:
https://www.valor.com.br/politica/5963153/morofoiconvidadoparaministerioaindanacampanhadizmou
rao. Acesso em: 08.01.2021.
8
É de todo oportuno registrar que, no que tange ao incidente do
levantamento do sigilo da delação de ANTONIO PALOCCI mencionado
alhures – já reconhecidas pelas Autoridades Policiais como inventadas18
-, na histórica sessão realizada no dia 04.08.2020, no palco desta 2ª.
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Turma do Supremo Tribunal Federal, reconheceu-se textualmente que
o ex-magistrado agiu de forma calculada para causar um fato político e
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despido de imparcialidade. Nesse sentido, ponderou o e. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI nos autos do habeas corpus nº. 163.943: “Com essas e
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outras atitudes que haverão de ser verticalmente analisadas no âmbito do
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HC 164.493/PR, o referido magistrado - para além de influenciar, de forma
direta e relevante, o resultado da disputa eleitoral, conforme asseveram
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inúmeros analistas políticos, desvelando um comportamento, no mínimo,
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heterodoxo no julgamento dos processos criminais instaurados contra o ex-
Presidente Lula -, violou o sistema acusatório, bem como as garantias
3/2 35.
1-
18
PF conclui que delação de Palocci não tem provas sobre Lula e BTG - Delegado diz que as
acusações citadas por Palocci foram desmentidas por todas as testemunhas e colaboradores.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/pf-conclui-que-delacao-de-palocci-nao-tem-provas-
sobre-lula-btg-1-24591136. Acesso em: 08.01.2021.
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Um olhar sobre os detalhes do processo eleitoral e seus desdobramentos
permite confirmar (ou, ao menos, desconfiar seriamente19-20), que a atuação
do Juiz em relação a LULA sempre foi parcial e teve por objetivo interditar
o ex-Presidente na política — viabilizando ou potencializando as chances de
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um terceiro sagrar-se vencedor nas eleições presidenciais. Aliás, não se
olvide que o ex-magistrado em discussão ocupou relevantíssimo cargo no
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governo do candidato eleito após contato com seus aliados no curso do
processo eleitoral21-22, a ponto de até mesmo negociar uma vaga neste
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Pretório Excelso23-24.
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IV. FATOS PÚBLICOS E NOTÓRIOS QUE SUFRAGAM OS
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FUNDAMENTOS DESTA IMPETRAÇÃO:
3/2 35.
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Moro achava fraca delação de Palocci que divulgou às vésperas de eleição, sugerem mensagens.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/07/moro-achava-fraca-delacao-de-palocci-
que-divulgou-as-vesperas-de-eleicao-sugerem-mensagens.shtml. Acesso em: 08.01.2021.
sso
20
‘MORO VIOLA SEMPRE O SISTEMA ACUSATÓRIO’ – Chats da Lava Jato revelam que
procuradores reclamavam de violações éticas de Moro e temiam que operação perdesse toda
credibilidade com sua ida ao governo Bolsonaro. Disponível em:
pre
21
Moro foi convidado para ministério ainda na campanha, diz Mourão. Disponível em:
https://www.valor.com.br/politica/5963153/morofoiconvidadoparaministerioaindanacampanhadizmou
rao. Acesso em: 08.01.2021.
22
Próxima vaga do STF é de Sérgio Moro, o “compromisso” público de Bolsonaro – Presidente
disse ter feito promessa a seu ministro da Justiça. Vaga deve surgir em 2020, com aposentadoria
de Celso de Mello. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/12/politica/1557677235_562717.html . Acesso em: 08.01.2021.
23
Bolsonaro diz que Moro queria indicação ao STF antes de saída de Valeixo. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/24/bolsonaro-diz-que-moro-queria-
exoneracao-de-valeixo-apos-indicacao-ao-stf.htm. Acesso em: 08.01.2021.
24
Bolsonaro diz que Moro pediu indicação ao STF. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/04/24/presidente-diz-que-moro-pediu-indicacao-ao-stf.
Acesso em: 08.01.2021.
10
7/DICINT/GGI/DIP/PF), as quais se referem a mensagens informais
trocadas entre os membros da extinta Força-Tarefa da Lava Jato e destes
com o ex-juiz inquisidor SÉRGIO FERNANDO MORO.
3
49
monocraticamente aos 22.01.2021 e, posteriormente, de forma colegiada aos
09.02.2021, no palco desta 2ª. Turma Julgadora, pelo placar indiscutível de
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:26 16
4 x 1.
:22 C
Com efeito, no que interessa a presente impetração, como é público e
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notório25-26, os acontecimentos desnudados naqueles autos têm relevado
uma completa cruzada judicial travada contra o Paciente, sob a supervisão e
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anuência do ex-juiz excepto e em escancarada ausência da equidistância que
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deveria haver entre juiz e partes - inclusive atuando como consultor e
revisor do órgão acusador27 (vide parte dos diálogos colacionados anexo).
3/2 35.
1-
9/0 .7
: 0 367
Em por:
sso
25
CPC. Art. 374. Não dependem de prova os fatos: I – notórios;
pre
26
Lewandowski suspende sigilo de 50 páginas de conversas de Moro com procuradores e dá
acesso aos documentos. Disponível em:
Im
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/02/lewandowski-levanta-sigilo-e-novas-
conversas-de-moro-com-procuradores-podem-vir-a-publico.shtml. Acesso em: 24.02.2021.
27
Delação de Palocci: procuradores viram tentativa de Moro influenciar as eleições. Disponível
em: https://www.conjur.com.br/2021-fev-04/procuradores-viram-tentativa-moro-influenciar-eleicoes;
Novas conversas divulgadas evidenciam conluio entre procuradores e Sérgio Moro. Disponível em:
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2021/02/conversas-moro-dallagnol-relacao-suspeita/; Em
diálogo, Moro repreende Dallagnol após MPF recorrer de decisão. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-fev-01/dialogo-moro-briga-dallagnol-mpf-recorrer-decisao; Curitiba
tentou coagir Rosa Weber com imprensa e Sérgio Moro. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-fev-08/curitiba-tentou-coagir-rosa-weber-imprensa-sergio-moro;
Moro queria delação de Palocci “pela mesma razão” da de Leo Pinheiro. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2021-fev-09/moro-delacao-palocci-mesma-razao-leo-pinheiro. Acesso em:
24.02.2021.
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V. DO DIREITO: SUBSUNÇÃO DOS FATOS AO ARTIGO 254,
INCISOS I E IV, DO CPP, E AO ART. 145, INCISOS II E IV DO
CPC, C/C ART. 3º DO CPP:
3
49
Conforme prescreve o artigo 254, inciso I, do CPP, o juiz deve se dar por
suspeito, podendo ser recusado pelas partes, caso seja inimigo capital de
4
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qualquer delas. Ademais, o novo CPC (2015), atento à função
desempenhada pelos institutos do impedimento e da suspeição, editou rol
:22 C
contemplando hipóteses não previstas no CPP (1941). Entre elas está o
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artigo 145, inciso IV, que dispõe haver suspeição quando o juiz for
“interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes” –
-
hipótese em tudo semelhante ao do presente caso28.
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28
Em precedente de lavra do e. Min. NAVARRO DANTAS do STJ (RHC 57.488/RS), realizou-se uma
interpretação sistêmica da norma, concluindo-se que se existe “cláusula geral de suspeição” no âmbito
processual civil (CPC, art. 145, IV), no qual não se tutela a liberdade, é imperativo que a referida
abrangência seja estendida à seara processual penal, por meio de aplicação subsidiária do
dispositivo do CPC, combinado com o art. 3º do CPP (RHC 57.488/RS, Rel. Ministro Ribeiro Dantas,
Quinta Turma, julgado em 07/06/2016).
12
Jurisprudência: O STF, no HC 95.518, em que se pediu o reconhecimento
da suspeição do mesmo Juiz SÉRGIO MORO, em razão do monitoramento de
advogados dentre outros motivos, definiu que a suspeição decorre da
demonstração de interesse pessoal do magistrado ou de sua inimizade com a
3
49
parte, embora, por maioria, não se tenha vislumbrado tais hipóteses no caso
concreto. O e. Min. CELSO DE MELLO divergiu, consignando que: “a
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situação exposta nos autos compromete, segundo penso, o direito de
qualquer acusado ao ‘fair trial’, vale dizer, a um julgamento justo efetuado
:22 C
perante órgão do Poder Judiciário que observe, em sua conduta, relação de
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equidistância em face dos sujeitos processuais, pois a ideia de
imparcialidade compõe a noção mesma inerente à garantia constitucional
do ‘due process of law’”.
-
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imparcialidade objetiva31.
pre
29
Ali frisou o e. Min. CEZAR PELUSO: “A magistratura não pode – transformando-se em parte, seja esta
Im
autoridade policial, seja esta membro do Ministério Público, que são funções tão dignas quanto a da
magistratura, mas diferentes – perder aquilo que a doutrina chama de imparcialidade objetiva, quando
não a própria imparcialidade subjetiva” (Voto do Ministro CEZAR PELUSO no HC 95009/SP, Rel.
Min. EROS GRAU, Plenário, j. em 06/11/2008, publicado em 19/12/2008. No mesmo sentido o Voto
do e. Min. CEZAR PELUSO no HC 94641, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/
Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 11/11/2008).
30
HC 63627, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Primeira Turma, julgado em 20/05/1986.
31
A propósito, o STJ já reconheceu a suspeição de magistrado em diversas ocasiões. Destacam-se os
precedentes do HC 311.043 – a existência de processos judiciais e administrativos em que magistrado e
parte se encontram em polos antagônicos conduz à suspeição do julgador pela existência de relação de
inimizade capital com a parte – o HC 172.819 – atuação extra-autos para promover posições contrárias
ao jurisdicionado, como manutenção de sua prisão, é causa de suspeição, por revelar interesse do juiz –
e o REsp 1528102 – ocasião em que reconheceu-se expressamente o dever de imparcialidade objetiva.
13
No mesmo sentido, observa-se que o olhar objetivo sobre o fenômeno da
imparcialidade é adotado uniformemente pelas Cortes Internacionais de
Direitos Humanos, sendo que o Tribunal Europeu de Direitos Humanos a
utiliza desde 1982. Trata-se do precedente Piersack v. Belgium. Outros
3
49
precedentes, exemplificativamente: no Tribunal Europeu de Direitos
Humanos, Cubber v. Belgium; Hauschildt v. Dernmark; Saraiva de
4
:26 16
Carvalho v. Portugal, na Corte Interamericana de Direitos Humanos,
Usón Ramírez vs. Venezuela; Apitz Barbera y Otros vs. Venezuela; Herrera
:22 C
Ulloa vs. Costa Rica e no Comitê de Direitos Humanos da ONU32,
14 82 H
Communication No. 1122/2002, Lagunas Castedo v. Spain.
-
O Caso Concreto: Ante o temor justificado de que o ex-Presidente LULA
02 158
não foi submetido a um julgamento justo, o Julgador ofereceu garantias à
sociedade de que esta opinião não prospera? A resposta é negativa. Com a
3/2 35.
1-
devida vênia pela repetição, ante o referido temor, o Julgador, para citar
9/0 .7
alguns dos fatos mais notórios: (i) decretou condução coercitiva sem prévia
: 0 367
férias, em plena manhã de domingo, para despachar quando não havia sido
convidado, tão somente para impedir a soltura do Paciente; (v) levantou
32
No plano internacional, o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas possui
entendimento de que a imparcialidade deve ser analisada sob dois critérios: um subjetivo e outro
objetivo. O “General Comment No. 32. Article 14: Right to equality before courts and tribunals and to
a fair trial” 32, em seu parágrafo 21, define que: “A exigência de imparcialidade possui dois aspectos.
Primeiramente, juízes não devem permitir que seu julgamento seja influenciado por inclinações pessoais
ou preconceitos, nem abrigar preconcepções a respeito do caso específico, nem agir de modo a
promover indevidamente os interesses de uma parte em detrimento da outra. Em segundo lugar, o
tribunal também deve parecer imparcial para um observador razoável.” (tradução livre).
14
parcialmente o sigilo de delação premiada que prejudicava o Paciente às
vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais – ilegalidade esta já
reconhecida por esta Suprema Corte (HC 163.943); (vi) aceitou servir como
Ministro de Estado do principal opositor político do Paciente; tudo isso sem
esquecer de que (vii) conferiu apoio público à manifestação realizada contra
3
49
a agremiação partidária do Paciente, ainda em 2016.
4
:26 16
O Juiz, em vez de dissipar fundadas suspeitas, colaborou ativamente com a
consolidação da fama que ostenta, retroalimentando uma percepção razoável
:22 C
da sociedade de que ele se comporta como inimigo/opositor do ex-
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Presidente LULA33.
-
À luz da situação fática delineada e da pesquisa jurisprudencial citada,
02 158
observa-se a busca dos impetrantes pelo reconhecimento de padrões
internacionais de imparcialidade do julgador, com sua consequente
3/2 35.
1-
33
Moro não foi imparcial em julgamento de Lula, dizem 97% de professores de direito em
pesquisa. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2020/08/moro-nao-
foi-imparcial-em-julgamento-de-lula-dizem-97-dos-professores-de-direito-em-pesquisa.shtml. Acesso
em: 24.02.2021.
15
de fundo da parcialidade, com efeito, não é em qual processo esta ocorreu,
mas com qual réu, no caso: o ex-presidente LULA34.
3
49
célebre Caso “Sítio de Atibaia” (Ação Penal n.º 5021365-
32.2017.4.04.7000/PR), bem como no Caso “Instituto Lula” (Ação Penal n.º
4
:26 16
5063130-17.2016.4.04.7000/PR), porque atos processuais importantes
foram proferidos pelo ex-juiz inquisidor de SÉRGIO FERNANDO MORO.
:22 C
14 82 H
Dessa forma, a falta de “demonstração de imparcialidade” do magistrado
contamina todos os atos por ele tomados, irrestritamente – frise-se, pouco
-
importando em qual processo – sendo apenas de rigor observar a ocasião em
02 158
que surgiu a suspeição – para defini-la como marco inicial das nulidades –,
nos termos da jurisprudência pacífica, o que na espécie se encetou desde a
3/2 35.
1-
34
“Em regra, as causas de suspeição são circunstâncias subjetivas relacionadas a fatos externos ao
processo capazes de prejudicar a imparcialidade do magistrado. Por isso, são rotuladas como causas
de incapacidade subjetiva do juiz. Grosso modo, o juiz é suspeito quando se interessa por qualquer das
partes” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8 ed. Salvador, Ed.
JusPodivm, 2020, p. 1318).
16
artigo 254, inciso I, do CPP, ou, alternativamente, no artigo
145, inciso IV do CPC c/c art. 3º do CPP – do ex-Juiz Federal
SÉRGIO FERNANDO MORO para processar e julgar LUIZ
INÁCIO LULA DA SILVA; e, por conseguinte, a decretação da
nulidade de todos os atos processuais relativos à ação penal n.º
3
49
5046512-94.2016.4.04.7000/PR, com fundamento no art. 564,
I, do Código de Processo Penal;
4
:26 16
(ii) Na hipótese da ordem de Habeas Corpus não ser
:22 C
conhecida, requer-se a análise do pedido formulado na
14 82 H
impetração para sua concessão ex officio, na forma do art. 654,
§2º do CPP, em vista da flagrante coação ilegal;
-
02 158
Ao final, a extensão dos efeitos desta decisão a todas as
(iii)
ações penais propostas em face de LUIZ INÁCIO LULA DA
3/2 35.
1-
17.2016.4.04.7000/PR e 5021365-32.2017.4.04.7000/PR),
decretando-se, por conseguinte, a nulidade de todos eles.
Em por:
Termos em que,
Pede deferimento.
sso
17
PALCO DAS ILEGALIDADES
CAUTELARES
9 3
(v.g. busca e apreensão interceptação
4 4
1 6
telefônica e condução coercitiva
HC 26
- 82 22:
5 8 4:
. 1 -1
3 5 1
CASO 7 .7 02 CASO
"SÍTIO DE ATIBAIA" 3 6 3/2 "INSTITUTO LULA"
r : /0
po : 09
s o m
e s E
p r
Im
CASO "TRIPLEX"
LINHA DO TEMPO - UM OLHAR
RETROSPECTIVO DA SUSPEIÇÃO DO EX-
JUIZ SÉRGIO FERNANDO MORO.
93
44
11.2015 - Termo inicial das investigações
:26 16
contra o Paciente (casos Triplex, Sítio de
Atibaia, Instituto Lula e Palestras).
:22 C
14 82 H
22.02.2016 - Início da interceptação
telefônica do ramal-tronco do escritório
de advocacia da defesa do Paciente.
-
02 158
Paciente.
pre
93
telefônica do ramal-tronco do escritório
de advocacia da defesa do Paciente
44
16.03.2016 - Tarde: Levantamento do
:26 16
sigilo das interceptações telefônicas do
Paciente com seus familiares, advogados,
:22 C
a ex-Presidente da República e terceiros.
14 82 H
ONU.
3/2 35.
1-
Lula”.
so
de suspeição no TRF4.
pre
Im
93
caso “Triplex”.
44
:26 16
24.01.2018 - Acórdão condenatório no
caso “Triplex”.
:22 C
14 82 H
exploração eleitoral”.
93
de parte da delação premiada do Antônio
Palocci Filho, nos autos do caso “Instituto
44
Lula”.
:26 16
07.10.2018 - 1º turno das eleições
Presidenciais. :22 C
14 82 H
28.10.2018 - 2º turno das eleições
Presidenciais.
-
02 158
de Ministro da Justiça.
so
de Ministro da Justiça.
Im
IPL 5032506-
93
82.2016.404.7000
5032521-
44
51.2016.404.7000
5032531-
:26 16
95.2016.404.7000
STJ
s
pre
Im
93
44
:26 16
:22 C
14 82 H
28.11.2015
15.02.2016
so
44
Diálogo entre o procurador da República Deltan
Dallagnol e um interlocutor designado por “Carol
:26 16
PGR”, travado um dia após a condução coercitiva
do Paciente, em que se articula uma nota pública
para amenizar a ilegalidade do ato, a fim de – nas
:22 C
palavras do procurador – não deixar “um amigo
14 82 H
apanhar sozinho”.
-
02 158
3/2 35.
1-
9/0 .7
: 0 367
Em por:
22.03.2016
:26 16
Diálogo entre o procurador da República Deltan
Dallagnol e o ex-juiz inquisidor Sérgio Fernando Moro,
:22 C
em que o primeiro, com aproximadamente 7 meses de
antecedência, antecipa ao seu coordenador os
14 82 H
fundamentos da denúncia do Caso “Triplex” que viria a
ser apresentada, a fim de confirmar se estava a
contento do ex-magistrado.
-
02 158
3/2 35.
1-
9/0 .7
: 0 367
Em por:
22.09.2016
:26 16
Diálogo entre o procurador da República Deltan
:22 C
Dallagnol e o ex-juiz inquisidor Sérgio Fernando Moro,
em que o primeiro, com aproximadamente 7 meses de
14 82 H
antecedência, antecipa ao seu coordenador os
fundamentos da denúncia do Caso “Triplex” que viria a
ser apresentada, a fim de confirmar se estava a contento
do ex-magistrado.
-
02 158
3/2 35.
1-
9/0 .7
: 0 367
Em por:
22.09.2016
11.05.2017
so
44
Diálogo entre os procuradores da República Deltan
:26 16
Dallagnol e Júlio Noronha, no qual se constata que
sanha inquisitória do ex-juiz Sérgio Fernando Moro,
inclusive, consistia na cobrança de medidas sobre
:22 C
processos que não estavam mais afeitos ao seu
escrutínio.
14 82 H
-
02 158
3/2 35.
1-
23.11.2017
9/0 .7
: 0 367
18.01.2018
pre
44
Diálogo entre os membros da auto
:26 16
apelidada “Força-Tarefa da Lava Jato”,
evidenciado o desejo externado pelo ex-juiz
inquisidor Sérgio Fernando Moro quanto a
:22 C
celebração de um acordo com Antônio
14 82 H
Palocci, bem como as razões por de trás.
Em outras palavras: obter um delator para
chamar de seu e repetir a receita levada à
efeito com Léo Pinheiro para sustentar
-
acusações infundadas.
02 158
3/2 35.
1-
9/0 .7
: 0 367
Em por:
04.07.2018
30.08.2018