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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 22.915 - SC (2002/0070026-7)

RELATOR : MINISTRO GILSON DIPP


IMPETRANTE : MARCO AURÉLIO SOAR E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : JAIRO COSTA JOÃO
EMENTA

CRIMINAL. HC. HOMICÍDIO CULPOSO. OITIVA DE TESTEMUNHAS


APÓS O ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO. FACULDADE DO JUIZ.
INOCORRÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA.
I. Não se verifica ilegalidade na oitiva de testemunhas após o encerramento da
instrução, mesmo que não tenham sido referidas durante o sumário da culpa e os autos já estejam
conclusos para a sentença.
II. Trata-se de providência tomada com o fim de esclarecer a situação do feito,
buscando formar a convicção do Magistrado, em busca da verdade real.
III. Inteligência do art. 209 do Código de Processo Penal.
IV. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por
unanimidade, denegou a ordem."Os Srs. Ministros Jorge Scartezzini, Laurita Vaz, José Arnaldo
da Fonseca e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 9 de setembro de 2003(Data do Julgamento)

MINISTRO GILSON DIPP


Presidente e Relator

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HABEAS CORPUS Nº 22.915 - SC (2002/0070026-7)

RELATÓRIO

EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP(Relator):


Trata-se de habeas corpus contra acórdão do e. Tribunal de Justiça do Estado
de Santa Catarina, que negou provimento ao recurso de apelação interposto em favor de JAIRO
COSTA JOÃO, no qual se sustentava cerceamento de defesa e ausência de provas da
culpabilidade do apelante.
A ementa do aresto possui o seguinte teor:

“HOMICÍDIO CULPOSO.
INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS DE ACORDO COM O
QUE ESTABELECE O ARTIGO 209 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DE DEFESA. PRELIMINAR
REJEITADA.
AUTORIA COMPROVADA PELOS DEPOIMENTOS DOS
TESTIGOS, CORROBORADOS PELA PROVA TÉCNICA. PROVA
CONTRÁRIA, DEPOIMENTOS DE DUAS TESTEMUNHAS, QUE NÃO
ELIDE O ROBUSTO ELENCO PROBATÓRIO.
AGENTE QUE APÓS INGERIR BEBIDA ALCOÓLICA, COM O
SOM DO AUTOMÓVEL EM VOLUME ELEVADO, EM VELOCIDADE
CONSIDERÁVEL, CONFORME SE CONSTATA DAS FOTOS ACOSTADAS,
PERDE O CONTROLE DO VEÍCULO VINDO A CHOCAR-SE COM UM
POSTE, PROVOCANDO A MORTE DO CARONA. CULPA NA
MODALIDADE IMPRUDÊNCIA CARACTERIZADA.
RECURSO DESPROVIDO.” (fl. 44).

O paciente foi condenado à pena de 01 ano de detenção, substituída por restritiva


de direitos, pela prática do crime previsto no art. 121, § 3º, do Código Penal.
Inconformada, a defesa interpôs recurso de apelação, o qual restou desprovido,
por maioria.
Interpostos embargos infringentes, estes foram rejeitados (fl. 78).
Daí o presente writ, por meio do qual se pugna pela anulação do processo
criminal, a partir da fl. 70, sob o fundamento de ofensa ao art. 502 do CPP.
Para tanto, aduz-se que, após a conclusão do feito para a sentença, o Ministério
Público teria arrolado 03 testemunhas, as quais teriam sido ouvidas pelo Magistrado.
Sustenta-se que as mencionadas testemunhas não teriam sido referidas durante a
instrução, além de que não teria sido observado o prazo de 05 dias do art. 502 do CPP, o que
contraria o disposto no art. 209 do mesmo Diploma Legal.
Informações às fls. 76/77.
A Subprocuradoria-Geral da República opinou pela denegação da ordem (fl. 91).
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É o relatório.
Em mesa para julgamento.

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HABEAS CORPUS Nº 22.915 - SC (2002/0070026-7)

VOTO

EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP(Relator):


Trata-se de habeas corpus contra acórdão do e. Tribunal de Justiça do Estado
de Santa Catarina, que negou provimento ao recurso de apelação interposto em favor de JAIRO
COSTA JOÃO, no qual se sustentava cerceamento de defesa e ausência de provas da
culpabilidade do apelante.
Em razões, insurge-se contra a oitiva de três testemunhas arroladas pelo
Ministério Público, após a conclusão dos autos para sentença.
Não merece prosperar a irresignação.
Não se verifica ilegalidade na oitiva de testemunhas após o encerramento da
instrução, mesmo que não tenham sido referidas durante o sumário da culpa e os autos já estejam
conclusos para a sentença.
Trata-se de providência com o fim de esclarecer a situação do feito, buscando
formar sua convicção do Magistrado, em busca da verdade real, com fulcro no art. 209 do CPP.
Adoto, ainda, os fundamentos do parecer ministerial, o qual ressaltou, inclusive, a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:

“O Magistrado que, após a fase de alegações finais, lança


mão da faculdade insculpida no art. 209, do Código de Processo Penal, de
ouvir as testemunhas que julga necessário, não fere o princípio do
contraditório, nem extrapola os poderes que lhes foram conferidos pelo
ordenamento jurídico.
Por outro lado, verifica-se nitidamente a presença do
princípio da verdade processual, no qual autoriza o juiz a ouvir outras
testemunhas, além das indicadas pelas partes. Assim, o disposto no art. 209,
do Código de Processo Penal, é claro em demonstrar que as testemunhas,
ouvidas pelo Juiz, são outras diferentes das indicadas pelas partes.
(...)
A jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal (HC
47.424/SP, rel. Min. ADAUCTO CARDOSO) é no sentido de que: 'encerrada
a instrução criminal, decorrido o prazo de diligências e já oferecidas pelas
partes as alegações finais, é lícito ao juiz ouvir em diligência testemunhas,
usando a faculdade do art. 209 do CPP. Tal audiência se destina a
proporcionar ao magistrado esclarecimento especialíssimo, não ocorrendo
nulidade por falta de contradita, de contestação e de reinquirição pelas
partes interessadas.” (fl. 90 - grifei).

Diante do exposto, denego a ordem.


É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2002/0070026-7 HC 22915 / SC


MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 104894 980164281

EM MESA JULGADO: 09/09/2003

Relator
Exmo. Sr. Ministro GILSON DIPP
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro GILSON DIPP
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. EDUARDO ANTÔNIO DANTAS NOBRE
Secretária
Bela. LIVIA MARIA SANTOS RIBEIRO

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : MARCO AURÉLIO SOAR E OUTROS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
PACIENTE : JAIRO COSTA JOÃO

ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Pessoa (art.121 a 154) - Crimes contra a vida - Homicídio ( art. 121 ) -
Culposo

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, denegou a ordem."
Os Srs. Ministros Jorge Scartezzini, Laurita Vaz, José Arnaldo da Fonseca e Felix
Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator.

O referido é verdade. Dou fé.


Brasília, 09 de setembro de 2003

LIVIA MARIA SANTOS RIBEIRO


Secretária

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