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GERAIS.
1. DA TEMPESTIVIDADE
Como a intimação ocorreu em 14 de outubro de 2022 (sexta-feira), o prazo
final para a apresentação da peça é no dia 21 de outubro de 2022 (sexta-feira), tendo
em conta que os memoriais gozam do prazo de 5 (cinco) dias, nos termos do §3° do art.
403 do CPP, sendo que a forma de contagem nos é apresentada pelo §1° do art. 798 do
Código de Processo Penal.
2. DOS FATOS
O Réu foi preso em flagrante por ter, supostamente, cometido vários furtos
eletrônicos, popularmente conhecido como “golpe do PIX”. Dois meses após a prisão,
em audiência de custódia, requereu-se o relaxamento da prisão em flagrante, em
virtude do descumprimento do prazo legal para realização da audiência e por ausência
de requisitos que ensejasse a decretação da prisão preventiva.
Contudo, após parecer ministerial concluindo pela conversão da prisão em
flagrante, o Magistrado entendeu pelo decreto prisional alicerçando sua decisão nos
vários crimes supostamente praticados pelo Réu e, ainda, pela quantia elevada obtida
com o suposto cometimento dos ilícitos.
Posteriormente, o Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor do
Réu, como incurso no tipo penal do art. 155, §4°-B (furto qualificado) c/c art. 154- A
(invasão de dispositivo informático) em concurso material de crimes por 5 (cinco)
vezes, visto que, supostamente, o denunciado teria obtido vantagem econômica em
detrimento de 5 (cinco) vítimas distintas. A denúncia foi aceita em integral consonância
com a denúncia, e em seguida, fora determinada audiência de instrução e julgamento.
Na audiência foi realizada primeiro a oitiva do acusado, depois ouviu-se as
testemunhas de acusação e de defesa, nesta ordem, e por derradeiro a vítima,
desrespeitando cabalmente a forma estabelecida no art. 400 do CPP. Ainda, a defesa
pugnou pela juntadas dos computadores das vítimas, o que foi negado pelo Juiz. Em
seguida, o Ministério Público apresentou memoriais, nos exatos termos do
apresentado na denúncia.
Diante desse cenário, e frente as inúmeras ilegalidades ocorridas durante
toda a instrução, é que se faz necessário a apresentação das presentes alegações com
o objetivo de se evitar uma condenação injusta.
3. PRELIMINARES
3.1. DA INVERSÃO DO RITO NA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
Na audiência de instrução e julgamento o magistrado ouviu primeiro o
acusado, em seguida, ouviu as testemunhas de acusação e de defesa, nesta ordem, e
por último, procedeu com a oitiva da vítima.
Na forma do art. 400 do Código de Processo Penal, na audiência de
instrução e julgamento deve-se proceder, inicialmente, com a tomada de declarações
do ofendido, em seguida, com à inquirição das testemunhas de acusação e de defesa,
nesta ordem, em seguida, os esclarecimentos dos peritos, às acareações e o
reconhecimento de pessoas e coisas, e por último, deve ser realizado o interrogatório
do acusado. In verbis:
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser
realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á
à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta
ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em
seguida, o acusado.
(...)
(...)
4. DO MÉRITO
4.1. DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO
O Ministério Público imputou ao acusado, de forma equivocada, a prática
do crime tipificado no art. 155, §4°-B do Código Penal, em concurso material com o
tipo penal previsto no art. 154-A também do Código Penal.
Todavia, o chamado “Golpe do Pix”, data vênia, deve ser capitulado nos
moldes do art. 171, §2°-A do Código Penal. In verbis:
Estelionato
Fraude eletrônica
Ora, quando o sujeito ativo da prática delitiva aplica uma fraude e a própria
vítima é quem entrega a vantagem, estaremos diante do crime de estelionato, que se
diferencia do crime de furto eletrônico, pois neste, o agente subtrai o bem sem
qualquer participação, ainda que inconsciente, da vítima.
Diante disso, no caso em tela, não há que se falar em furto eletrônico, uma
vez que de acordo com o narrado pelo órgão ministerial, as próprias vítimas foram
quem realizaram as supostas transações em favor do acusado.
Nada obstante, é imperioso destacar que o crime previsto no art. 154-A, do
Código Penal, com alicerce no princípio da consunção, deve ser absorvido pelo crime
de estelionato eletrônico, visto que tal delito funcionara como crime-meio para a
suposta prática do estelionato, ou seja, para que fosse possível a obtenção da
vantagem econômica, era necessário que antes houvesse a violação de dispositivo
informático.
Com isso, deve ser afastada a tipificação em conjunto, devendo
permanecer apenas o crime patrimonial que, em tese, era o objetivo final do agente.
Nada obstante, para tornar mais clara a questão, vejamos o enunciado n°
17 da Súmula do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:
“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido.”
5. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência, preliminarmente, o
reconhecimento da nulidade absoluta do feito, em razão da inversão do rito processual
e, ainda, a nulidade da decisão que indeferiu de forma infundada a diligência requerida
pela defesa do acusado. Ademais, pelo princípio da eventualidade, caso não se operem
as nulidades requeridas, que esse juízo, aplique o princípio da consunção e o benefício
da continuidade delitiva, imputando ao réu apenas um crime de estelionato eletrônico
com o aumento de pena previsto no art. 71 do Código Penal.
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Advogado...
OAB N°...