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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

FACULDADE PAULISTA DE DIREITO

Disciplina: NPJ V – Processo Penal


Prof.: Luiz Antonio de Castro Miranda
Aluno: Caio Afonso Ferreira Macedo
RA: 00207945

BREVE COMENTÁRIO ACERCA DE DECISÃO QUE DECRETA NULIDADE PROCESSUAL POR RECONHECIDO
VÍCIO NO RITO ORDINÁRIO

EMENTA:
PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO.
TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE. INVERSÃO DA ORDEM DO INTERROGATÓRIO. ÚLTIMO ATO DA
INSTRUÇÃO. APLICAÇÃO DO ART.
400 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ADOÇÃO DO RITO PREVISTO EM LEGISLAÇÃO ESPECIAL. MATÉRIA
JULGADA PELO STF. HC N. 127.900/AM.
INTERROGATÓRIO OCORRIDO APÓS 11/3/2016. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira Turma do col. Pretório
Excelso, sedimentou orientação no sentido de não admitir habeas corpus em substituição ao recurso
adequado, situação que implica o não conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais em
que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja possível a concessão da
ordem de ofício.
II - Esta Corte Superior de Justiça, acompanhando o entendimento da Suprema Corte no julgamento do
habeas corpus n. 127.900/AM, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, firmou compreensão no sentido de
que "o rito processual para o interrogatório, previsto no art. 400 do CPP, deve ser aplicado a todos os
procedimentos regidos por leis especiais, porquanto a Lei 11.719/2008, que deu nova redação ao art.
400 do CP, prepondera sobre as disposições em sentido contrário previstas em lei especial, por se tratar
de lei posterior mais benéfica ao acusado" (HC 390.707/SC, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe
24/11/2017).
III - Os efeitos da decisão foram modulados, para se aplicar a nova compreensão somente aos processos
cuja instrução criminal não tenha se encerrado até a publicação da ata do julgamento do HC n.
127.900/AM (11/3/2016), sob pena de ofensa ao princípio da segurança jurídica, consubstanciado no art.
5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal.
IV - In casu, consta que a audiência de instrução e julgamento foi realizada em 31/3/2016, e, na ocasião,
a acusada foi interrogada antes da oitiva das testemunhas, configurando o constrangimento ilegal
apontado pela Defesa.
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para anular a ação penal a partir da
audiência de instrução e julgamento, determinando que o interrogatório da paciente seja o último ato
da instrução, em observância ao art. 400 do CPP.
(HC 418.222/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 10/04/2018, DJe 16/04/2018)

O artigo 400, do Código de Processo Penal, citado na ementa acima, é cristalino ao


falar do rito ordinário nas audiências de instrução e julgamento. Aduz o dispositivo, que devem
as testemunhas de acusação serem ouvidas primeiro; depois, as da defesa. Qualquer inversão
desta ordem poderá acarretar um vício passivo de gerar nulidade do processo.

No caso em tela, ocorre que o interrogatório da acusada precedeu os das


testemunhas, gerando flagrante constrangimento ilegal, dado evidente cerceamento de defesa
atentatório ao princípio do contraditório, logo, uma vez que se percebe tal vício no rito de
inquirição das testemunhas, as autoridades julgadoras competentes devem preceder com a
anulação do processo, como bem ordenaram os magistrados do Superior Tribunal de Justiça.

Sendo imprescindível, portanto, proceder com a anulação, uma vez que, atentando
contra princípios basilares do processo penal, como são os do contraditório e da ampla defesa,
tem-se flagrante cerceamento de defesa que contaminará todo o processo, comprometendo-o
até dado seu trânsito em julgado. Neste sentido, ainda podemos citar entendimento firmado do
Supremo Tribunal Federal, que na RTJ, 40/276 aduz: “... a inquirição das de acusação deve
preceder a das arroladas pela Defesa. A inversão desta ordem importa em nulidade por
descumprimento de formalidade substancial do processo.”.

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