Você está na página 1de 29

PROCESSO PENAL APLICADO TEMA 03

Prof.ª Newdylande Oliveira


PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS

PROCEDIMENTO ORDINÁRIO E SUMÁRIO

PROCEDIMENTO ESPECIAL DO TRIBUNAL DO JÚRI

PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO E PROCEDIMENTOS ESPECIAIS


PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
1. ENQUADRAMENTO TERMINOLÓGICO

a. Procedimento – é uma sequência lógica de atos concatenados


em lei e destinados a uma finalidade;
b. Processo – é um procedimento em contraditório,
animado/enriquecido pela relação jurídica entre o juiz e as partes;
c. Rito – é a amplitude assumida por determinado procedimento.
“Rito” tem a mesma etimologia de “ritmo”, portanto, está
relacionado à frequência. Assim, existem procedimentos mais
céleres, sumários ou até sumaríssimos, e procedimentos mais amplos,
com rito ordinário ou com rito especial.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
d. Ação – é o direito público e subjetivo positivado na Constituição
Federal de exigir do Estado-Juiz a aplicação da lei no caso
concreto para a solução da demanda penal. A ferramenta para
que esse direito se concretize é o processo.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS CRIMINAIS (art.


394 do CPP)

a. PROCEDIMENTO COMUM pode assumir os seguintes ritos:

a. Ordinário - sanção máxima for igual ou superior a 4 (quatro)


anos;
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
b. Sumário - sanção máxima for inferior a 4 (quatro) anos;
c. Sumaríssimo - sanção máxima for até 2 (dois) anos e nas
contravenções penais (independente da quantidade de pena);

OBS. Eventualmente o rito sumário é aplicado para infrações de


menor potencial ofensivo. É o que ocorre por não existir citação
por edital no juizado especial ou quando a complexidade do fato
impede a oferta oral da inicial no juizado. Já no rito sumário, a
inicial pode ser oferecida por escrito.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
b. PROCEDIMENTO ESPECIAL – podem se especializar em virtude
da natureza do crime ou em virtude do órgão jurisdicional perante
o qual o procedimento é deflagrado.
a. Júri (arts. 406 a 497 do CPP)
b. Lei de Drogas (arts. 48 e seguintes da Lei n. 11.343/2006);
c. Ações originárias em tribunal (arts. 1º a 12 da Lei n. 8.038/1990);
c. Crimes de responsabilidade dos funcionários públicos (arts. 513 ao
518 do CPP);
d. Crimes contra a honra (arts. 519 ao 523 do CPP);
e. Crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígios (arts.
524 a 530-I do CPP).
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
OBS1. A Lei nº9.099/95 é inaplicável na Justiça Militar, como está
expresso no art. 90-A. Os crimes militares com pena máxima de até 2
anos não tramitam em rito sumaríssimo e não têm aplicação da Lei do
Juizado, aplica-se o Código de Processo Penal Militar, cujo rito é o
ordinário.

OBS2. A Lei nº9.099/95 não é aplicada na violência doméstica e


familiar contra a mulher. O Artigo 41 da Lei 11.340/06 veda
expressamente. A competência para julgamento é da Vara/Juizado
da Violência Doméstica contra Mulher.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena
prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro
de 1995.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
OBS3. O rito adotado na vara de violência doméstica e familiar
contra a mulher é o sumário, ainda que o crime seja de menor
potencial ofensivo.
OBS4. O Estatuto do Idoso permite a aplicação do rito sumaríssimo a
crimes com pena máxima até 4 anos. O desejo desse estatuto foi
imprimir celeridade no rito para uma rápida prestação jurisdicional
quando a vítima é um idoso. Todavia, fica afastada a composição civil
e a transação penal.
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima
privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos,
aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26
de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber,
as disposições do Código Penal e do Código de Processo
Penal.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
OBS5. O concurso material na definição do rito - Deve-se somar as
penas máximas para a definição do rito.
OBS6. A causa de aumento de pena – se há causa de aumento de
pena, soma-se a pena máxima a fração máxima incidente sobre ela.
OBS7. A causa de diminuição de pena – reduz-se a pena máxima da
fração mínima incidente sobre ela.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
3. DO PROCEDIMENTO COMUM DE RITO ORDINÁRIO (Art. 394
do CPP)
3.1. ESTRUTURA – o procedimento comum de rito ordinário tem 3
etapas muito bem delineadas.

1ª ETAPA: FASE POSTULATÓRIA do procedimento comum de rito


ordinário.
PASSO 1: Oferecimento da inicial acusatória, seja denúncia (ação
pública) ou queixa-crime (ação privada).
a. Denúncia (art.41); Queixa-Crime (art. 41+44 do CPP)
b. Podem ser arroladas 8 testemunhas para cada fato criminoso, sob pena
de preclusão.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
PASSO 2: Juízo de admissibilidade da inicial acusatória.
a. JUÍZO NEGATIVO – rejeição da denúncia é o ato do magistrado
que nega início ao processo, posto que a inicial não atende aos
correspondentes requisitos legais do art. 395 do CPP.
I. INÉPCIA – Segundo o STF, a inépcia revela um defeito formal
grave na inicial acusatória que, normalmente, compromete a
narrativa dos fatos. Se os fatos são incompreensíveis,
contraditórios, obscuros ou ininteligíveis, a inicial é inepta e deve
ser rejeitada.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
II. AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DA AÇÃO OU DE
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

a. CONDIÇÃO DA AÇÃO - No processo penal, essa categoria


persiste, até porque o código aponta que se falta condição
da ação, a inicial deve ser rejeitada, não levando em
consideração os entraves do CPC. Duas são a ausência de
condições da ação.
a. Legitimidade
b. Interesse processual
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
b. PRESSUPOSTO PROCESSUAL
I. Aferir pressupostos processuais de existência:
 Demanda veiculada na inicial acusatória;
 Órgão jurisdicional com investidura;
 Partes que possam estar em juízo.

II. Aferir os pressupostos processuais de validade:


 Inexistência de vícios no procedimento (regularidade formal);
 Originalidade da demanda (ausência de litispendência e de
coisa julgada).
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
III. FALTAR JUSTA CAUSA PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO
PENAL – prepondera, ainda hoje, que a justa causa revela o
lastro probatório mínimo para a propositura da inicial. Uma ação
penal não pode ser uma aventura irresponsável, assim lastro
probatório mínimo consubstancia os alicerces da inicial.

OBS1. Da decisão de rejeição da inicial acusatória cabe, em regra,


RESE (art. 581, I do CPP); Nos Juizados Especiais, o recurso, todavia, é
a apelação (art. 82 da Lei 9.099/05).
OBS2. Em sendo manejado recurso contra a decisão de rejeição o juiz
DEVE notificar o denunciado para apresentar contrarrazões ao
recurso, sob pena de nulidade. Não sendo suprida pela nomeação de
defensor dativo (Súmula 707 do STF).
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
b. JUÍZO POSITIVO – recebimento da denúncia. Desta decisão
ante o fato de inexistir previsão legal de recurso, pode o
defensor impetrar Habeas Corpus para trancamento da ação.

PASSO 3: Citação do acusado (art. 396 do CPP).

PASSO 4: Apresentação de RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO


(art. 396 e 396-A do CPP).
a. Prazo: 10 dias
b. Finalidade, exercício do contraditório, buscando a absolvição
sumária.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
c. Conteúdo:
 Preliminares: teses que provocam a nulidade do processo
recém-deflagrado;
 Art. 395 do CPP;
 Art. 23 do CP;
 Art. 107 do CP;
 Art. 109 do CP;
 Art. 564 do CPP;

 Mérito: todas as teses que justifiquem a absolvição sumária


(art. 397);
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
 Pelo princípio da eventualidade, a defesa vai protestar
pelas provas que entende pertinentes, arrolando, sob pena
de preclusão, as suas testemunhas (podem ser arroladas até
oito testemunhas para cada crime imputado).

ATENÇÃO: Se a defesa quer apresentar alguma exceção


(incompetência, litispendência, coisa julgada, ilegitimidade de
parte ou de suspenção), as exceções serão apresentadas em uma
peça separada, porque elas vão inaugurar um procedimento
incidental. Então, existe a peça resposta à acusação e uma outra
peça que vai instruir a exceção apresentada.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
2ª ETAPA: FASE INTERMEDIÁRIA OU JULGAMENTO
ANTECIPADO DA LIDE: Depois da fase da resposta à acusação,
passa-se para a fase intermediária ou do julgamento antecipado do
mérito. Nessa fase ocorre a decisão de absolvição sumária. Esta é a
sentença que julga antecipadamente a causa.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o
juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - A existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - A existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade;
III - Que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - Extinta a punibilidade do agente.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
HIPÓTESES DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA (ART. 397 DO CPP)
I. Excludente de tipicidade;
II. Excludente de ilicitude;
III. Excludente de culpabilidade;
IV. Causa de extinção da punibilidade.

OBS1. Se o juiz não absolver o réu sumariamente, cabe a ele


marcar a audiência de instrução e julgamento. O ato é irrecorrível
por ausência de previsão legal. Todavia, a defesa poderá
impetrar HC (ação autônoma) com o objetivo de trancar o
processo/ação.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
OBS2. Após análise da peça defensiva (R.A.) o magistrado
deverá marcar audiência de instrução e julgamento no prazo
máximo de 60 dias, conforme artigo 400 do CPP. Audiência esta
que segue uma ritualística a fim de garantir o devido processo
legal.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
3ª ETAPA: FASE DE INSTRUÇÃO, DEBATES E JULGAMENTO:
Haverá audiência una para instruir (produzir provas), debater
(apresentar as alegações finais) e julgar a causa. Não significa
que essa audiência deve estar exaurida em um só dia. Nas
audiências complexas e com diversas provas, o juiz pode
sobrestar a audiência, a qual terá continuidade em outro dia.

a. Estrutura da audiência
1. Oitiva da vítima;
2. Testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nessa
ordem, num total de 8 para cada parte;
3. Interpelação do perito e do assistente técnico;
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
4. Acareações;
5. Reconhecimento de pessoas e objetos;
6. Interrogatório do réu;
7. Alegações orais do Ministério Público em 20min, prorrogáveis
por mais 10min, caso haja assistente de acusação, este terá
10min;
8. Alegações orais da defesa em 20min, prorrogáveis por mais
10min, caso o assistente use o tempo, a defesa terá mais
10min;
9. Prolação de sentença;
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
ATENÇÃO:
1. Sendo caso complexo ou com vários réus o juiz concederá
prazo de 5 dias para oferecimento das Alegações Finais por
Memoriais pelo MP e em seguida pela Defesa (§3º do art.403
do CPP).
2. Havendo, todavia, diligências a serem cumpridas, após seu
cumprimento, será concedido prazo de 5 dias, seguindo-se a
mesma ordem para oferecimento das Alegações Finais por
Memoriais (§único do art.404 do CPP);

Em ambos os caso terá o magistrado 10 dias para proferir


sentença.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
4. DO PROCEDIMENTO COMUM DE RITO SUMÁRIO (Art. 531
a 538 do CPP)
Art. 531. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no
prazo máximo de 30 (trinta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações
do ofendido, se possível, à inquirição das testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222
deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e
ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o
acusado e procedendo-se, finalmente, ao debate.
ATENÇÃO: O artigo inicia informando como será a audiência,
isso que dizer que até a audiência o procedimento será o mesmo
do ordinário.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
4.1. DIFERENÇAS - rito mais simplificado e célere, com pena
maior que 2 anos e menor de 4 anos.

a. Prazo para a realização da audiência de instrução e


julgamento:
a. Sumário: 30 dias.
b. Ordinário: 60 dias
b. Número de testemunhas:
a. Sumário: 5 testemunhas para cada parte.
b. Ordinário: 8 testemunhas para cada parte.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
c. Sumário: Inexistência da fase de diligências do art. 402 do
CPP.
a. Teoria da relativização das nulidades processuais.
b. Em regra, só há nulidade na supressão.

OBS1. Aplica-se ao procedimento sumário o disposto nos parágrafos


do art. 400 do Código de Processo Penal.
§ 1º. As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o
juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou
protelatórias.
§ 2º.Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio
requerimento das partes.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
OBS2. Alegações orais do Ministério Público em 20min,
prorrogáveis por mais 10min, caso haja assistente de acusação,
este terá 10min. Em seguida Alegações orais da defesa em
20min, prorrogáveis por mais 10min, caso o assistente use o
tempo, a defesa terá mais 10min;
OBS3. No procedimento sumário nenhum ato será adiado, salvo
necessidade probante imprescindível, sendo uma testemunha
faltante será conduzida coercitivamente.
OBS4. Em sendo crime de menor potencial ofensivo, o rito seguido
será o sumário.
PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS
[...] omissis;
3. Hipótese em que se verifica a existência de erro material no julgado,
uma vez que o processo se desenvolveu sob o procedimento sumário.
4. No caso em exame, o Juízo singular, sem que o paciente tivesse
apresentado resposta à acusação, determinou audiência para propositura
do sursis processual, o que se efetivou.
5. No procedimento comum de rito sumário, o exame da proposta de
suspensão condicional do processo deve ser realizado em audiência
específica designada exclusivamente para tal finalidade, depois de
recebida a denúncia e afastadas as hipóteses de absolvição sumária, bem
como antes da audiência de instrução e julgamento. (EDcl no HC
419.787/AC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
22/05/2018, DJe 30/05/2018)
BIBLIOGRAFIA
1. LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal:
volume único. 11ª ed. Salvador: Juspodivm, 2022.

2. LOPES JR, Aury. Direito processual penal. 19ª ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2022.

Você também pode gostar