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PROCESSO PENAL

PRINCÍPIOS, SISTEMAS, FONTES DO PROCESSO PENAL E


INQUÉRITO POLICIAL

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PROCESSO PENAL
PRINCÍPIOS, SISTEMAS, FONTES DO PROCESSO PENAL E INQUÉRITO POLICIAL

Leitura obrigatória dos artigos: 1 ao 23 do CPP.

INTRODUÇÃO: Prezados, à primeira vista, pode parecer que esse estudo


inicial é de pouca importância, mas trataremos de diversos temas com
grande incidência tanto em provas objetivas quanto subjetivas nos
concursos específico de Delegado de Polícia.

CONCEITO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL


“É o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional
do direito penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária,
e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares”.
(José Frederico Marques)

O Processo Penal não pode mais ser visto como um simples instrumento a
serviço do poder punitivo (Direito Penal), senão que desempenha o papel
de limitador do poder e garantidos do individuo a ele submetido. Há que se
compreender que o respeito as garantias fundamentais não se confunde
com impunidade, e jamais se defendeu isso. O processo penal é um
caminho necessário para se chegar, legitimamente, à pena. Daí porque
somente se admite sua existência quando ao longo desse caminho forem
rigorosamente observada as regras e garantias constitucionalmente
asseguradas, conforme assinala Aury Lopes Jr.

PODEMOS DESTACAR AS SEGUINTES FINALIDADES:


1- Conferir efetividade ao Direito Penal;
2- Fornecer meios e caminhos para a aplicação da pena ou garantir a
absolvição;
3- Pacificação social com a solução de conflitos.

CARACTERÍSTICAS:
1- Autonomia: O direito processual não é submisso ao direito material,
tem princípios e regras próprias (ex: prazos)
2- Instrumentalidade: faz a atuação do direito material penal,
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consubstanciando o caminho a ser seguido para obtenção de um


provimento.
3- Normatividade: disciplina de caráter dogmático possui codificação
própria.

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A trilogia de Norberto Avena:
Poder Direito Processo
O 4-Estado é O exercício do Jus O direito Processual institui o
Puniendi pelo Estado é Processo Criminal como
5- do Jus
titular limitado pelo Direito instrumento por meio do qual o
Processual Estado exerce o jus puniendi.
Puniendi
(regido por conjunto de normas,
preceitos e princípios)

PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL:


Princípios são postulados que se irradiam por todo o sistema de normas,
fornecendo um padrão de interpretação, integração, conhecimento e
aplicação do direito positivo, estabelecendo uma meta maior a ser seguida.
(Nucci).

1. DEVIDO PROCESSO LEGAL: Consagrado no art. 5, LIV CF. É o estabelecido


na lei, devendo traduzir-se em sinônimo de garantia, atendendo assim aos
ditames constitucionais. O devido processo legal guarda raízes no principio
da legalidade.

O processo deve ser instrumento de garantia contra os excessos do Estado,


visto como ferramenta de implementação da Constituição Federal, como
garantia suprema do “jus libertatis”.

2. AMPLA DEFESA: Fundamentada no art. 5, LV da CF. Amplos e extensos


métodos para se defender a imputação feita pela acusação. A parte é
hipossuficiente em relação ao Estado, pois, este é sempre mais forte.

Subdivide-se em:
1- Defesa técnica: efetuada por profissional habilitado.
1.1- Sempre obrigatória. Súmula n. 523 do STF, art. 396, §2º do CPP e art. 55, §3º da
Lei. 11.343/06.

2- Autodefesa: realizada pelo próprio imputado.

2.1- Direito de audiência: oportunidade de influir na defesa por meio de


interrogatório.
2.2- Direito de presença: possibilidade do réu tomar posição, a todo momento,
sobre o material produzido, sendo-lhe garantida a imediação com o defensor, o
juiz e as provas.
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3. PLENITUDE DE DEFESA: Utilizada no Tribunal do Júri, art. 5, XXXVIII, “a” da CF.


Busca-se garantir ao réu uma defesa plena e completa.

Diferenças:

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Ampla Defesa Plenitude de Defesa
Processo Criminal (qualquer acusado) Procedimento do Júri
A parte oferece provas e argumentos A defesa atua de forma completa, utiliza
técnicos, pois, o Juiz decide de acordo
argumentos técnicos, de natureza
com o livre convencimento motivado sentimental, social e política criminal. O
Jurado decide de acordo com a intima
convicção.
Alegações finais sem previsão de Possibilidade de réplica e tréplica.
réplica e tréplica. (art. 403 do CPP) (art. 477 do CPP).

4. CONTRADITÓRIO: Previsto no art. 5, LV da CF. Está ligado à relação


processual tanto à acusação quanto a defesa.

Direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos


ávidos no curso do processo, podendo manifestar-se a respeito e produzir as
provas necessárias antes de ser proferida a decisão judicial. É mais
abrangente que a ampla defesa (atinge os dois polos). Em algumas
situações será utilizado em momento posterior (contraditório diferido).
Ex: 1- Decretação da prisão preventiva (art. 282, §3º do CPP) 2- Sequestro de
bens (art. 125 do CPP), 3- Interceptação de comunicação telefônica (Lei.
9.296/96).

5. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU NÃO-CULPABILIDADE: Previsto no art. 5, LVII


da CF. Antes da sentença condenatória transitado em julgado, todos são
presumidamente inocentes. Prevalece este status mesmo se houver recurso
pendente.

Desdobramentos:
A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado,
e não este demonstrar a sua inocência; Para ser considerado culpado é
necessário o transito em julgado.

6. INEXIGIBILIDADE DE AUTOINCRIMINAÇÃO OU AUTODEFESA (NEMO TENETUR


SE DETEGERE): Ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo,
permite ao acusado ocultar e mentir sobre as acusações que são feitas em
relação a ele.

O réu pode optar em manter o silêncio e a testemunha apenas nos fatos que
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possam imputar algum crime. Porém, se quiser pode dizer toda a verdade.

Cuidado: Quem se atribui identidade falsa perante a autoridade comete o


crime do art. 307 do CP. Artigos: 339, 340, 341, 342 do CP.

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7. JUIZ NATURAL: Art. 5, LIII e XXXVII da CF. O juiz deve ser anteriormente
designado pela lei, não pode ser criados tribunais ou determinar juízes
específicos para julgar um caso pós-fato.

8. JUIZ IMPARCIAL: As decisões não podem ser parciais, corruptas e


dissociadas do equilíbrio que as partes esperam do magistrado, não pode ter
vínculo subjetivo com o processo. Caso ocorra parcialidade o juiz será
declarado impedido (art.252 do CPP) ou suspeito (art. 254 do CPP) previstas
no Código de Processo Penal. A declaração pode ser de ofício ou alegada
pelas partes.

9. PUBLICIDADE: Determinada nos artigos 5º, LX, XXXIII, 93, IX da CF, art. 201,
§6º do CPP. A regra é que os atos processuais sejam públicos, com exceção
as determinações legais quanto ao sigilo. (preservação da intimidade e
interesse social).

10. AÇÃO, DEMANDA, INICIATIVA DAS PARTES, “NE PROCEDAT JUDEX EX


OFFICIO”: a jurisdição é inerte, cabe as partes a provocação do Poder
Judiciário. (art. 129, I da CF)

Importante destacar a não recepção do art. 26 do CPP- processo


judicialiforme.

Exceção: Habeas corpus de ofício, art. 654, § 2º do CPP.

11. Verdade real, material, substancial (art. 566 do CPP): o magistrado pauta
seu trabalho na reconstrução dos fatos com objetivo de aproximar-se ao
máximo da verdade plena, apurando os fatos até onde for possível elucidá-
los para proferir sentença que esteja de acordo com elementos concretos e
não ficções ou presunções. Ex: art. 156, 201, 209, 234, 242 e 404 do CPP.

Não pode violar direitos e garantias estabelecidos, como por exemplo a


realização de provas ilícitas.

12. Princípio da Vedação da Prova Ilícita:


A exposição de motivos do CPP traz um rol exemplificativo de 9 provas
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admitidas em processo penal, admitindo-se também as inominadas. Porém,


há exceções à liberdade dos meios de prova:

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1. Ilícitas  contrárias às normas materiais. Deve-se averiguar não
somente se a prática caracteriza crime, mas também se a prática
infringe alguma das garantias constitucionais.
2. Ilegítimas  contrárias às normas processuais.
Obs.:A prova ilícita agride mais a justiça do que as provas ilegítimas.

Em regra, a prova ilícita é produzida em momento anterior ou concomitante


ao processo, mas sempre externamente a este (a prova ilícita é produzida
extraprocessualmente). Geralmente a prova ilícita é produzida por aqueles
que estão atuando fora do processo polícia, MP, etc. Já a ilegítima, em
regra, é produzida no curso do processo, sendo uma prova endoprocessual.

A L. 11690/08 alterou o art. 157 do CPP, porém não diferenciou bem o que
seria prova ilícita das provas ilegítimas. Nucci, dentre outros, afirma que, a
partir da referida alteração não existe mais diferença entre prova ilícita de
prova ilegítima, acarretando, assim, a mitigação da distinção. Porém, há
quem argumente que a diferenciação de prova ilícita e ilegítima encontra-
se albergada na exegese da própria constituição brasileira, conforme art. 5.º,
LVI.

ATENÇÃO 1.: Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas
pela polícia por meio da extração de dados e de conversas registradas no
whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que
o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante.
Assim, é ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp,
obtidos diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem
prévia autorização judicial. STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, julgado em
19/4/2016 (Info 583).

ATENÇÃO 2.: A obtenção do conteúdo de conversas e mensagens


armazenadas em aparelho de telefone celular ou smartphones não se
subordina aos ditames da Lei nº 9.296/96. O acesso ao conteúdo
armazenado em telefone celular ou smartphone, quando determinada
judicialmente a busca e apreensão destes aparelhos, não ofende o art. 5º,
XII, da CF/88, considerando que o sigilo a que se refere esse dispositivo
constitucional é em relação à interceptação telefônica ou telemática
propriamente dita, ou seja, é da comunicação de dados, e não dos dados
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em si mesmos. Assim, se o juiz determinou a busca e apreensão de telefone


celular ou smartphone do investigado, é lícito que as autoridades tenham
acesso aos dados armazenados no aparelho apreendido, especialmente
quando a referida decisão tenha expressamente autorizado o acesso a esse

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conteúdo. STJ. 5ª Turma. RHC 75.800-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
15/9/2016 (Info 590).

ATENÇÃO 3: Não é possível a interposição de recurso por e-mail: O art. 1º da


Lei nº 9.800/99 prevê que "é permitida às partes a utilização de sistema de
transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a
prática de atos processuais que dependam de petição escrita." É possível a
interposição de recurso por e-mail, aplicando-se as regras da Lei nº 9.800/99?
NÃO. A ordem jurídica não contempla a interposição de recurso via e-mail.
O e-mail não configura meio eletrônico equiparado ao fax, para fins da
aplicação do disposto no art. 1º da Lei nº 9.800/99, porquanto não guarda a
mesma segurança de transmissão e registro de dados. STJ. 6ª Turma. AgRg no
AREsp 919.403/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/09/2016. STF.
1ª Turma. HC 121225/MG, , julgado em 14/3/2017 (Info 857).

Descontaminação do julgado – O juiz que tiver contato com a prova ilícita


não poderá proferir sentença. Isto porque, se o juiz teve contato com a
prova ilícita, ele, no momento de julgar o caso, acabará se contaminando
pela prova, mesmo que ela tenha sido desentranhada. Essa
descontaminação do julgado estava prevista no art.157, §4º, do CPP, mas foi
vetada pelo Presidente da República. Nesse caso, em que o juiz teve
contato com a prova ilícita, o que a defesa pode fazer é arguir a suspeição
do juiz, alegando que, por ter contato com prova ilícita, ele não estaria
agindo com a imparcialidade devida. Mas isso não é previsto em lei.

CONSEQUÊNCIAS DA PROVA ILÍCITA: As provas ilícitas devem ser


desentranhadas e inutilizadas, conforme art. 157 da CF. Contudo, esse artigo
deve ser analisado com temperamentos, pois a prova ilícita pode ser
utilizada em favor do réu. Sendo assim, surgem três correntes:

1ª CORRENTE: A disciplina do art. 157, obriga o desentranhamento da prova


declarada inadmissível e impõe a sua inutilização, obrigatoriamente,
afastando a possibilidade do juiz utilizá-la futuramente contra o réu.
2ª CORRENTE: Essa corrente permite que o juiz decida sobre o
desentranhamento ou não das provas ilícitas do autos e também,
posteriormente, de sua inutilização ou não.
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3ª CORRENTE: A prova reconhecida como ilícita por decisão transitada em


julgado deverá ser obrigatoriamente desentranhada (art. 157, caput),
facultando-se ao juiz decidir por sua inutilização ou não (art. 157, § 3.º). Essa
corrente parece ser a mais aceitável, pois o caput obriga o
desentranhamento da prova ilícita, resguardando a decisão do juiz apenas

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quanto à inutilização, sendo guarnecida em apartado para posterior
utilização, caso seja favorável ao réu.

As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não


devem ser desentranhadas do processo? NÃO! Se determinada prova é
considerada ilícita, ela deverá ser desentranhada do processo. Por outro
lado, as peças do processo que fazem referência a essa prova (exs:
denúncia, pronúncia etc.) não devem ser desentranhadas e substituídas. A
denúncia, a sentença de pronúncia e as demais peças judiciais não são
"provas" do crime e, por essa razão, estão fora da regra que determina a
exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP. Assim,
a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a
exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma.
RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

CONSEQUÊNCIAS DA PROVA ILEGÍTIMA: As conseqüências das provas


ilegítimas se distinguem da prova ilícita, não estando relacionadas à
possibilidade ou não de utilização em benefício ao réu ou pró-sociedade.
Com efeito, na medida em que importam em violação de normas de direito
eminentemente processual, tais provas geram nulidade por vício de
procedimento. E a verificação da natureza da nulidade é que definirá as
situações em que a prova, ainda que obtida ou produzida mediante
afrontamento a normas legais, poderá ser usada no âmbito do processo
penal.

Assim, se a violação da norma processual importar em nulidade de caráter


absoluto, não poderá a prova ser utilizada nem contra o réu, nem a seu
favor, visto que nulidades absolutas são sempre insanáveis. Todavia, se a
nulidade decorrente da prova produzida com violação à lei for de caráter
relativo, será preciso verificar o caso concreto.

TEORIAS DA PROVA ILÍCITA

A) Teoria da Prova Ilícita por Derivação – Fruits of Poisonous Tree.


Trata-se de teoria norte-americana atualmente expressa no código de
processo penal no art. 157. Não são admissíveis as provas produzidas por
meios ilícitos e as que dela derivarem. Cumpre destacar que a ilicitude que
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contamina a prova não necessariamente deve ser perpetrada pela


autoridade policial, podendo ser caracterizada em caso de qualquer
comportamento ilícito que a derive. Ex. roubo em que se encontra a

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materialidade do crime do investigado - dono da residência - é prova ilícita
por derivação em relação à vitima do roubo.

A Narcoanálise é prova ilícita, pois é um processo de sondagem do


inconsciente pelo qual, mediante certos entorpecentes, se consegue o
relaxamento da censura, induzindo o paciente a revelar os fatores e
episódios do complexo que o aflige, coisas que, em estado normal de
consciência, se obstina em negar e esconder.

EXAME. RAIOS X. TRÁFICO. ENTORPECENTES. Segundo entendimento do STJ é


prova lícita, ressaltando que os exames de raio x não exigem qualquer agir
ou fazer por parte dos pacientes, tampouco constituem procedimentos
invasivos ou até mesmo degradantes que pudessem violar seus direitos
fundamentais, acrescentando, ainda, que a postura adotada pelos policiais
não apenas acelera a colheita da prova, como também visa à salvaguarda
do bem jurídico vida, já que o transporte de droga de tamanha nocividade
no organismo pode ocasionar a morte. HC 149.146-SP, 2011

B) Teoria da Proporcionalidade
A teoria da proporcionalidade deve ser vista sob duas óticas: pro reo e pro
societate. No Brasil, a doutrina e a jurisprudência majoritárias há longo tempo
têm considerado possível a utilização das provas ilícitas em favor do réu
quando se tratar da única forma de absolvê-lo ou de comprovar um fato
importante à sua defesa. Para tanto, é aplicado o princípio da
proporcionalidade, também chamado de princípio do sopesamento, sob a
alegação de que o bem jurídico de maior relevância é a liberdade e não
seria possível garantir os direitos da sociedade sem preservar o direito
individual de cada um de seus membros.

Ao revés, a maioria doutrinária e jurisprudencia tende a não aceitar o


princípio da proporcionalidade como fator capaz de justificar a utilização da
prova ilícita em favor da sociedade, ainda que se trate do único elemento
probatório carreado aos autos passível de conduzir à condenação do réu.
Contudo, há doutrinadores que admitem a aplicação da proporcionalidade
pro societate, afirmando que o processo penal é acromático e tem como
maior objetivo a descoberta da verdade, podendo ser utilizada a prova
ilícita também a favor do Estado, quando o interesse público exigir, pois deve
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prevalecer a segurança da sociedade - AVENA.

C) Teoria das Excludentes:

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Ocorre quando a prova ilícita produzida pela própria vítima na salvaguarda
de direitos próprios. Neste caso, há forte posição, adotada, inclusive, no
âmbito dos Tribunais Superiores (STF e STJ) no sentido de que poderá a prova
ser utilizada desde que se caracterize hipótese de evidente legítima defesa
ou estado de necessidade. Não se estaria, enfim, diante de uma prova
ilícita, mas sim de prova lícita, visto que tanto a legítima defesa como o
estado de necessidade caracterizam-se como excludentes de ilicitude,
afastando, portanto, eventual ilicitude da prova obtida com violação a
regras de direito material.

D) Teoria da Boa-fé:
Objetiva evitar o reconhecimento da ilicitude da prova caso os agentes de
policia ou da persecução penal como um todo tenham atuado destituídos
do dolo de infringir a lei, pautados verdadeiramente em situação de erro. A
boa-fé, como se abstrai, não pode sozinha retirar a ilicitude da prova que foi
produzida. A ausência de dolo por parte do agente não elide a
contaminação, posto que se exige não só a boa-fé subjetiva, mas também a
objetiva, que é o atendimento à lei na produção do conjunto probatório. O
Brasil não adota a teoria da boa-fé.

TEORIAS QUE MITIGAM A DERIVAÇÃO DA PROVA ILÍCITA:


A)Prova absolutamente independente (Independent Source):
Está relacionada à exclusão do nexo de causalidade que justificaria a
contaminação da prova ilicita por derivação. Trata-se da teoria que mitiga a
exclusão da prova derivada por ausência do nexo de causalidade, ou
seja, a prova é absolutamente independente. Ex. Confissão em juízo
espontânea e voluntária de questão que corrobora com a prova
anteriormente colhida em interceptação ilícita. Assim, como as fontes são
independentes, há quebra do vinculo de derivação e, como tal, a prova –
confissão – será considerada lícita.

B) Inevitabilidade do encontro da provas (Inevitable Discovery):


Está relacionada à exclusão da contaminação das provas ilícitas em virtude
da alegação de que a prova seria, inevitavelmente, obtida pelos
trâmites típicos e de praxe da investigação ou instrução. Ex. Réu é
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suspeito de matar uma criança e está sendo realizada a busca e apreensão


do corpo na casa do suspeito. O réu, por coação da autoridade policial,
confessa o crime e indica o local onde escondeu o corpo. Nesse sentido, os
policiais vão até o local e constatam o corpo. No entanto, já estava sendo

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realizada a busca e apreensão no local e certamente o corpo da criança
seria encontrado nesta busca, descaracterizando, assim, a contaminação
desta prova.

Há doutrinadores que são contra a teoria da descoberta inevitável,


alegando que ela viola a CF e que abre um espaço muito grande para a
validade de provas que deveriam ser ilícitas - NICOLITT. Mas essa não é a
posição da maioria da doutrina.

Art. 157, §2º, CPP - Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os
trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de
conduzir ao fato objeto da prova.

Reitere-se que apesar de esse dispositivo utilizar a expressão “fonte


independente”, o conceito aqui expresso não é o da fonte independente, e
sim o da Teoria da Descoberta inevitável. A prova disso é que o artigo fala
em “seria capaz de conduzir”, trabalhando no plano hipotético, assim como
a teoria da descoberta inevitável. Na teoria da fonte independente, a prova
já foi encontrada, não se trabalhando no plano hipotético.

C) Contaminação Expurgada / Mancha Purgada / Conexão Atenuada:


Essa teoria também surgiu no Direito norte americano, lá ganhando o nome
de Purged Taint Doctrine, no caso Wong Sun v. U.S. (1963). Nesse caso, um
criminoso foi preso de modo ilegal, porque a polícia ingressou no seu
domicílio sem causa. Na mesma ocasião de violação de domicílio, foram
encontradas provas levaram a prisão de um terceiro acusado. Se a prisão do
primeiro acusado foi ilícita, ela envenenou, manchou, contaminou as demais
prisões. Contudo, algumas semanas depois de ser preso, o terceiro acusado,
de maneira voluntária, confessou à polícia o seu envolvimento no crime.

Pela teoria da Limitação da Mancha Purgada não se aplica a teoria da


prova ilícita por derivação se o
nexo causal entre a prova primária e a secundária for atenuado em virtude
do decurso do tempo, de
circunstâncias supervenientes na cadeia probatória, da menor relevância
da ilegalidade ou da vontade de um dos envolvidos em colaborar com a
persecução penal.
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Sobre essa teoria, no STF e no STJ não há precedentes. Mas é importante


mencionar essa teoria, porque, segundo alguns doutrinadores (Andrei Borges
de Mendonça, Guilherme Madeira), a lei 11.690/08 a teria positivado no art.
157, §1º, CPP – Teoria cobrada na prova discursiva de Delegado de GO em 2009.

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SERENDIPIDADE: Conexão e Encontro Fortuito de Provas
O termo vem do inglês “serendipidy”, que significa “descobrir coisas por
acaso”. A Teoria do Encontro Fortuito de Provas deve ser utilizada nos casos
em que, no cumprimento de uma diligência relacionada a um delito, a
autoridade casualmente encontra provas ou elementos informativos
relacionados a outra infração penal, que não estava na linha de
desdobramento normal da investigação. Ex. mandado de busca e
apreensão minucioso e ao ingressar na residência é encontrado objeto que
não se encontra descrito no mandado, mas que tem vínculo com o crime
objeto da persecução penal. Segundo a doutrina, sendo conexo, é possível
que o objeto seja considerado para fins probatórios. O que não se permite é
que seja colhido material probatório que tenha relação com outro tipo de
delito, que não aquele objeto da investigação. Caso não haja conexão
entre os delitos, as informações obtidas através da interceptação podem
funcionar como notícia criminis para o início de novas investigações (HC
83515 – STF).

1. Serendipidade de 1 grau: Trata-se do encontro fortuito de fatos CONEXOS


com os inicialmente investigados; Apenas nesta modalidade é possível
reconhecer a validade das provas obtidas.

2. Serendipidade de 2 grau: Encontro fortuito de fatos NÃO CONEXOS com


os inicialmente investigados; Aqui a prova não pode ser utilizada, devendo
servir como notícia crime para instauração de outra investigação para
apurar o novo crime, já que não tem relação com o anterior.

ATENÇÃO: É lícita a apreensão, em escritório de advocacia, de drogas e de


arma de fogo, em tese pertencentes a advogado, na hipótese em que
outro advogado tenha presenciado o cumprimento da diligência por
solicitação dos policiais, ainda que o mandado de busca e apreensão
tenha sido expedido para apreender arma de fogo supostamente
pertencente a estagiário do escritório – e não ao advogado – e mesmo que
no referido mandado não haja expressa indicação de representante da
OAB local para o acompanhamento da diligência. STJ. 5ª Turma. RHC
39.412-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
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FONTES DO PROCESSO PENAL:

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Agora, passaremos a estudar as fontes do Direito processual penal...

Conceito: Trata-se da forma pela qual o direito se exterioriza. Essas fontes


podem ser formais e materiais.

FONTE MATERIAL: são aquelas que criam o direito. Tal papel fica a cargo do
Estado. Por se tratar de normas de direito processual penal, a competência é
privativa da União, nos termos do art. 22, I, da Constituição Federal. Registre-
se, entretanto, que a União, os Estados e o Distrito Federal têm competência
concorrente para legislar sobre a criação, o funcionamento e o processo dos
juizados de pequenas causas (art. 24, X, CF/88); o direito penitenciário (art.
24, I, CF/88) e sobre procedimentos em matéria processual (art. 24, XI, CF/88);

FONTE FORMAL: são aquelas responsáveis pela exteriorização do direito. Elas


se subdividem em:

A) Fonte Formal Imediata ou Direta: são as leis no sentido amplo:


Constituição Federal (art. 5, X, XI, XII, LV, LVI, LXI), Leis
infraconstitucionais (CPP, Lei. 11.343/06, 11.340/06), Tratados,
convenções e regras de direito internacional (art. 5, §§ 2º e 3º da CF):

B) Forte Formal Mediata ou Indireta:


1-Doutrina (opinião dos estudiosos do Direito);
2- Princípios Gerais do Direito, postulados éticos que inspiram a formação
de normas e aplicação da legislação ao caso concreto, sem expressa
previsão legal (Ex: direito não socorre os que dormem);
3-Direito comparado: normas jurídicas existentes em outros Estados. (ex
teoria da tinta diluída ou mancha purgada EUA)
4- Costumes: regras de conduta reiterada, praxe forense. (Ex: art. 793 do
CPP, não exigir que a parte na audiência só se dirija ao magistrado se estiver
de pé).
5- Analogia: É forma de autointegração da lei (art. 3 CPP e 4º LINDB). “udi
eadem ratio, udi idem ius”. Onde existe a mesma razão deve ser aplicado o
mesmo direito. Ocorre a lacuna da lei, com a consequente aplicação de
outra norma positivada que rege caso semelhante. Diferente do CP, que
não admite analogia in malam partem, no CPP pode ser aplicada de forma
ampla.
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SISTEMAS PROCESSUAIS:
Caros concurseiros, no exato instante em que há a prática concreta do
delito, surge para o Estado o direito de punir (jus puniendi). Este, entretanto,

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não pode impor imediata e arbitrariamente uma pena, sem conferir ao
acusado as devidas oportunidades de defesa. Ao contrário, é necessário
que os órgãos estatais incumbidos da persecução penal obtenham provas
da prática do crime e de sua autoria e que as demonstrem perante o Poder
Judiciário, que, só ao final, poderá declarar o réu culpado e condená--lo a
determinada espécie de pena.

E, sobre a relação jurídica que se consubstancia no deslinde do processo, há


regras. Essas regras, contudo, variam de sistema para sistema.

Existem três espécies de sistemas processuais penais: a) o inquisitivo; b) o


acusatório; c) o misto. Sobre o tema, aproveitamos a Lição do ilustre
Norberto Avena, e disponibilizamos um importante quadro sinóptico que lhe
auxiliará a entender a distinção entre os sistemas:

Característica Acusatório Inquisitivo Misto


Divisão de Distinção absoluta entre O Juiz pode acusar, Há distinção entre a
Função as funções de acusar, defender e julgar função das partes,
defender e julgar (devem (concentração de porém o juiz pode
ser feitos por pessoas poder). substituí-las, ora
distintas). Ninguém pode pratica atos de
ir a juízo se não houver acusação e oras de
acusação. defesa.

Garantia de O acusado tem direito O réu não tem Existe contraditório e


Defesa ao contraditório e ampla garantias de ampla ampla defesa, com
defesa; defesa e intensidade
contraditório. diversificada.
Isonomia As partes possuem Não há paridade de Equilíbrio processual
processual equilíbrio processual; armas, prepondera o relativizado em
interesse da relação à
acusação. acusação/ defesa

Publicidade Atos processuais são Atos processuais em Públicos em regra,


do processo públicos, o segredo de regra sigilosos, não podem ser
justiça é exceção e deve precisa da submetidos ao sigilo,
obedecer a lei; fundamentação do por ato motivado do
juiz. juiz, mesmo sem
previsão na lei.
Manifestação Defesa se manifesta após A defesa não se Defesa se manifesta
das partes a acusação. manifesta, após acusação,
necessariamente, em contrapões-se a
PROCESSO PENAL |

relação as provas da argumentos e


acusação. elementos da
acusação
Produção das Cabe à acusação e a O juiz tem ampla Cabe à acusação e
provas defesa a produção das liberdade para a defesa a

13
provas que alegam, o juiz produzir provas. produção das
pode buscar provas de provas que alegam.
forma complementar; O juiz possui a
mesma liberdade
Prisão e Presume-se a inocência Presume-se a culpa Não se presume
liberdade do réu, a prisão é do réu, a liberdade culpa nem
provisória exceção. provisória é exceção. inocência.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL:


O ato de interpretar é necessariamente feito por um sujeito que,
empregando determinado modo, chega a um resultado. São três as formas
de interpretação da lei penal: quanto ao sujeito que a interpreta; quanto ao
modo de interpretação; e quanto ao resultado. Vejamos:

I) Interpretação quanto ao SUJEITO (ORIGEM):


a) Interpretação autêntica ou legislativa → é a interpretação dada pela
própria lei. É a lei interpretando-se a si mesma.
b) Interpretação doutrinária ou científica → é a interpretação feita pelos
estudiosos. Ex. Livro de doutrina.
c) interpretação jurisprudencial → é a interpretação fruto das decisões
reiteradas dos tribunais. Hoje, essa interpretação pode ter caráter vinculante.
Ex. Súmula Vinculante.

CUIDADO: A exposição de motivos do Código Penal não é lei. Ela é um
esclarecimento dos doutores que trabalharam na elaboração do Código. É uma
interpretação doutrinária ou científica. Mas, cuidado! A a exposição de motivos do
CPP é realizada por lei e, como tal, classificada como autêntica.

II) Interpretação quanto ao MODO (FORMA):


a) Interpretação gramatical ou filológica–leva em conta o sentido literal das
palavras;
b) Interpretação teleológica–indaga-se a vontade/intenção objetivada na lei(Para
o STF, nessa interpretação, abrange os acessórios);
c) Interpretação histórica–procura-se a origem da lei;
d) Interpretação sistemática–a lei é interpretada com o conjunto da legislação,
inclusive com os princípios gerais de direito.
e) Interpretação progressiva(também chamada de adaptativa ou evolutiva) –
interpretar de acordo com a realidade e o avanço da ciência em geral(ex. Ciência
PROCESSO PENAL | 0

médica, ciência informática).

III) Quanto ao RESULTADO

14
a) Interpretação declarativa ou declaratória → a letra da lei corresponde a
exatamente aquilo que o legislador quis dizer, nada suprimindo, nada adicionando.
b) Interpretação restritiva → reduz o alcance das palavras para que corresponda à
vontade do texto.
c) Interpretação extensiva → amplia-se o alcance das palavras da lei para que
corresponda à vontade do texto.

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL


O artigo 3º do CPP estabelece que a lei processual admite interpretação
extensiva e analógica.

Na interpretação analógica ou intra legem, a norma, após uma enumeração


casuística, traz uma formulação genérica que deve ser interpretada de
acordo com os casos anteriormente elencados. A norma regula o caso de
modo expresso, embora genericamente. Ex.: o art. 80 do CPP.

Já na interpretação extensiva, o intérprete conclui que o legislador adotou


redação cujo alcance fica aquém de sua real intenção e, por isso, a
interpretação será no sentido de que a regra seja também aplicada a outras
situações que guardem semelhança. Ex.: o art. 260 do CPP

Quanto à integração da lei, utiliza-se a analogia, que é instrumentalizada


para suprir suas lacunas em casos de omissão.

Como se vê, a interpretação analógica não se confunde com analogia.


Ademais, interpretação analógica e extensiva, como o próprio nome traduz,
são meios de interpretação da norma; enquanto a analogia é um meio de
integração.

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO:


A Lei processual penal aplica-se imediatamente, adotando o Princípio do
Tempus Regit Actum (aplicação imediata), ou seja, a partir do período de
vacatio legis adota-se imediatamente a nova norma aos atos processuais
futuros, no que tange aos processos em curso, sem prejuízo dos atos
anteriores realizados sob a égide da antiga lei.

Existem três sistemas na doutrina:


1º Sistema da Unidade Processual: A lei que começou no processo termina
PROCESSO PENAL |

este processo.
2º Sistema das Fases Processuais: A lei acompanha o processo até o final de
sua fase (postulatória, instrutória, decisória).

15
3º Sistema do isolamento dos atos processuais: a lei nova não atinge os atos
processuais praticados sob a vigência da lei anterior, porém será aplicável
aos atos processuais que ainda não foram praticados, pouco importando a
fase em que o feito se encontrar. Adotado por nosso ordenamento jurídico:
Tempus Regit Actum. STJ HC 123.492.

O que é uma norma PROCESSUAL PENAL MISTA? É aquela prevista em


diploma processual penal, porém de conteúdo misto, ou seja, de cunho de
direito material e processual. Segundo corrente majoritária, quando diante
de LEI PROCESSUAL MISTA, não devemos adotar o Princípio Tempus Regit
Actum, mas sim a extratividade da norma penal, aplicando-se a retroação,
se diante de norma mais benigna ao réu. (EXEMPLOS: Art. 366, CPP, art. 89 da
L.9099/95 e art. 225 do CP) Há, contudo, quem diga, a exemplo do Nicolitt e
Nestor Távora, que esta norma mista deve ser fragmentada, aplicando-se o
conteúdo processual dali pra frente e a norma material, se benéfica, para
trás.

O que é uma norma PROCESSUAL PENAL HETEROTÓPICA? Existem


determinadas regras que, apesar de inseridas em diplomas processuais
penais (v.g., o Código de Processo Penal), possuem um conteúdo material,
retroagindo para beneficiar o réu. Outras, ao revés, incorporadas a leis
materiais (v.g., a Constituição Federal), apresentam um conteúdo
processual, regendo-se pelo critério tempus regit actum. Ex. art. 186 do CPP
(natureza material) e art. 109 da CF (natureza processual). Diante de lei
processual heterotópica, a solução é observar a natureza do dispositivo para
definir a regra aplicável.

DIFERENÇA ENTRE NORMA PROCESSUAL MISTA E HETEROTÓPICA: Não há como


se confundirem as hipóteses de heterotopia com as situações em que a
norma possui conteúdo misto ou híbrido. Nas primeiras, a norma possui uma
determinada natureza (material ou processual), em que pese se encontre
incorporada a diploma de caráter distinto. Já a norma mista possui dupla
natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em
outra.

- EXCEÇÃO DOUTRINÁRIA ACEITA PELA MINORIA: Em regra, a norma


processual não retroage, mesmo que mais benéfica ao réu. Contudo, se a
PROCESSO PENAL | 0

norma processual estiver relacionada a direitos e garantias individuais –prisão


e liberdade-, ela seguirá as regras de retroatividade do Direito Penal, ainda
que seja processual. (Alberto Binder (ARG) – Giovani Conso (ITA) – Guilherme
Madeira – Aury Lopes Jr. – Norberto Avena). Ex.: Tício comete o furto hoje e

16
amanhã vem nova lei que admite Prisão Temporária no Furto. Pelo sistema
do CPP poderia ser aplicada a temporária no caso, porém pela doutrina
representada por Aury Lopes Jr, não seria possível a prisão temporária do
indivíduo nesse caso, pois estamos diante de norma de garantia.

LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO:


Em linhas gerais, deve-se afirmar que o processo penal obedece ao
PRINCÍPIO DA ABSOLUTA TERRITORIALIDADE, ou seja, o processo deve ser
regulado pelas normas do lugar onde se desenvolve, ou seja, normas
brasileiras. Não se admite a intraterritorialidade. Ademais, não têm nossas leis
processuais penais extraterritorialidade, para regrar os atos praticados fora
do território nacional.

INQUÉRITO POLICIAL
Nesse momento, iniciaremos o estudo do pilar básico do estudo para o
concurso de Delegado de Polícia. Certamente você já deve possuir uma
base sobre o tema. Aqui trabalharemos o que realmente cai!

A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em


julgado não podem ser considerados como maus antecedentes para fins
de dosimetria da pena. STF. Plenário. HC 94620/MS e HC 94680/SP, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgados em 24/6/2015 (Info 791).

Conceito: Procedimento administrativo presidido pela autoridade de polícia


judiciária, de caráter inquisitivo e informativo que tem por finalidade colher
elementos de informação a respeito da existência do crime e indícios
suficientes de autoria, buscando viabilizar o exercício da ação penal.

Natureza Jurídica: Segundo entendimento majoritário, trata-se de


procedimento administrativo voltado para a apuração do fato criminoso e
de sua autoria. Essa é a posição que deve ser adotada em prova objetiva.

Posições minoritárias: Há quem diga, por seu turno, que o inquérito policial é
processo, não procedimento. Há também quem diga que não é processo
nem procedimento. Somente mencionar as minoritárias em prova subjetiva.

- QUEM É CONSIDERADO “AUTORIDADE POLICIAL”? HÁ DIVERGÊNCIA:


PROCESSO PENAL |

1) Para uma primeira posição, autoridade policial é o Delegado de Polícia


(Civil ou Federal).

2) Em um segundo entendimento, autoridade policial não seria

17
necessariamente o Delegado de Polícia, mas sim o agente público estatal
designado para exercer as funções de autoridade policial, podendo ser um
policial civil ou militar, por exemplo. É a tese defendida por alguns para que
os policiais militares possam lavrar termo circunstanciado de ocorrência no
caso de infrações de menor potencial ofensivo (art. 69 da Lei n.° 9.099/95).
Feita a ressalva quanto à existência desta discussão, deve-se deixar claro
que a posição amplamente majoritária é no sentido de que a autoridade
policial é, realmente, apenas o Delegado de Polícia, sendo importante que
assim o seja, pois as atividades por ele desempenhadas exigem
conhecimentos jurídicos e responsabilidade proporcional a este cargo.

FINALIDADE: A finalidade do IP é a colheita de elementos de informação


quanto à autoria e materialidade do delito. Então, o IP não busca a colheita
de provas, mas sim de elementos de informação. “Elementos de
informação” é uma expressão que o CPP passou a usar recentemente. Por
exemplo, pelo artigo 155, do CPP, verifica-se que a denominação “prova” é
só aquilo produzido em contraditório judicial.

ATRIBUIÇÕES: Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado
e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados
pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e
suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, devendo o
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido
a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de
delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico,
se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado
PROCESSO PENAL | 0

de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros


elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e
caráter.

18
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

QUAL DELEGACIA CABE A INVESTIGAÇÃO DE DETERMINADO FATO DELITUOSO?


Segundo Renato Brasileiro, a determinação da delegacia com atribuição
para investigação do fato segue os mesmos moldes do CPP, ou seja,
devendo ser observado o local de consumação do delito. De todo modo,
ainda que as investigações tenham sido realizadas por autoridade que não
detinha atribuição para fazê-la, quer nos casos de um crime federal
investigado pela Polícia Civil, como o IP é considerado mera peça
informativa, a mera irregularidade não tem o condão de contaminar o
processo.

CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL:


1) INQUISITORIALIDADE;
2) OFICIOSIDADE (INCIATIVA EX OFFICIO);
3) INDISPONIBILIDADE
4) OFICIALIDADE:
5) ESCRITO:
6) DISCRICIONARIEDADE:
7) DISPENSABILIDADE:
8) SIGILOSO:

Trabalharemos característica por característica ao longo de nosso estudo.

O inquérito policial é presidido pela autoridade policial. O delegado de


policia é um agente administrativo do Estado e, como tal, pratica atos
administrativos sob a égide dos princípios da impessoalidade,
discricionariedade, moralidade, legalidade e eficiência. Nesse sentido, não
se pode alegar a suspeição e impedimento face ao DELEGADO, em virtude
da característica da impessoalidade na condução do inquérito policial.
Contudo, se enquadrados nas hipóteses de suspeição, os Delegados devem,
espontaneamente, declarar-se suspeitos ou impedidos – art. 107.

No inquérito não temos a descrição de atos pré-ordenados para serem


seguidos pelo Delegado, tratando-se, assim, o inquérito, não de um
PROCESSO PENAL |

processo, mas sim de um PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO.


O inquérito não é formal.

19
Em sede de inquérito, não há contraditório. Doutrina majoritária afirma que o
Inquérito Policial tem força probatória relativa, pois os elementos de
informação produzidos não foram submetidos ao contraditório e ampla
defesa. Numa prova objetiva dever-se-á marcar como verdadeira a
alternativa de que no inquérito não há contraditório e ampla defesa. Alguns
doutrinadores (minoritários) sustentam a possibilidade de ampla defesa no IP.
Dizem que esse direito de defesa pode se dar de forma exógena e
endógena:

1. Exercício exógeno da ampla defesa → É aquele efetivado fora dos autos


do IP, por meio de algum remédio constitucional ou mediante requerimentos
endereçados ao juiz ou ao MP. Ex. HC, MS, etc.
2. Exercício endógeno da ampla defesa → E aquele praticado nos autos do
IP, por meio da oitiva do investigado ou de diligências solicitadas à
autoridade policial.

A Lei nº 13.245/16, ao afirmar que o advogado tem o direito de assistir a seus


clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade
absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de
todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados,
direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração
apresentar razões e quesitos, trouxe o contraditório e ampla defesa para o inquérito
policial? Doutores, apesar de ser um tema extremamente recente e não podermos
dimensionar ainda o que é majoritário, os senhores devem defender que a nova lei
NÃO trouxe o contraditório e ampla defesa para o IP, pois em nenhum momento
afirmou ser obrigatória a presença do advogado, tão somente trouxe um novo
direito, uma nova prerrogativa de que, se constituído, o advogado poderá
presenciar o interrogatório ou depoimento. O que não é admitido é realizar a oitiva
do suposto autor do delito na ausência daquele que possui advogado e não
negou o interesse em participar do depoimento ou interrogatório, o que geraria
nulidade do feito.

(...) É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o


inquérito policial é procedimento inquisitivo e não sujeito ao contraditório, razão
pela qual a realização de interrogatório sem a presença de advogado não é
causa de nulidade. (...)
STJ. 6ª Turma. HC 139.412/SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
09/02/2010.

APÓS ESSAS CONSIDERAÇÕES, IMPORTANTE SALIENTAR QUE:


1. O novo dispositivo legal não trouxe a obrigatoriedade da presença do
advogado em sede de investigação criminal.
PROCESSO PENAL | 0

2. Se o investigado estiver desacompanhado de advogado ou defesor público,


não é obrigatório ao Delegado designar um defensor dativo. A presença da
defesa técnica no interrogatório e nos demais atos da investigação criminal
continua sendo facultativa. Trata-se de um direito do investigado, mas, ao
contrário do interrogatório judicial, este pode optar por não estar acompanhado

20
de um advogado no ato, sem que isso acarrete nulidade. O que mudou é que
agora a legislação é expressa ao reconhecer o direito do advogado de, se quiser,
participar do ato, não podendo haver embaraço da autoridade que conduz a
investigação.
3. O advogado deve apresentar procuração para participar da investigação,
postulando, conforme o art. 5 do EOAB.
4. O advogado poderá fazer perguntas ao investigado e demais pessoas
envolvidas nos depoimentos e requerer diligências. No entanto, o Delegado
poderá indeferir determinadas perguntas e diligências. Desta forma, à semelhança
do que ocorre no processo penal, o Delegado ou a autoridade que conduz a
investigação (ex: Promotor de Justiça) também poderão indeferir perguntas do
advogado nas seguintes hipóteses extraídas, por analogia, do art. 212 do CPP:
• quando a pergunta formulada puder induzir a resposta (“perguntas sugestivas”);
• quando o questionamento não tiver relação com a causa; ou
• quando a perguntar importar na repetição de outra já respondida.
Como sabemos, o inquérito policial possui como característica o fato de ser um
procedimento discricionário, ou seja, o Delegado de Polícia tem liberdade de
atuação para definir qual é a melhor estratégia para a apuração do delito.
Justamente por conta disso, a legislação previu que a autoridade policial pode
indeferir diligências requeridas pelo indiciado ou pela vítima (art. 14 do CPP).

Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94)


ANTES AGORA

Art. 7º São direitos do advogado: Art. 7º São direitos do advogado:


(...) (...)
XIV - examinar em qualquer repartição XIV - examinar, em qualquer instituição
policial, mesmo sem procuração, autos responsável por conduzir investigação,
de flagrante e de inquérito, findos ou em mesmo sem procuração, autos de
andamento, ainda que conclusos à flagrante e de investigações de
autoridade, podendo copiar peças e qualquer natureza, findos ou em
tomar apontamentos; andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e
tomar apontamentos, em meio físico
ou digital;

O inquérito é uma modalidade de peça de informação e tem a finalidade


de subsidiar o mínimo probatório (justa causa) para oferecimento da
denúncia por parte do MP. Nesse sentido, pode-se afirmar que o inquérito é
dispensável, podendo o MP adotar outras peças de informação. Quando o
MP dispensar o IP, o prazo para oferecimento da denúncia conta-se a partir
PROCESSO PENAL |

do momento em que tiver recebido as peças de informação. (art. 46)

Como o inquérito é peça informativa, eventuais vícios nele constantes não


têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem.

21
Logicamente, se a prova no inquérito tiver sido colhida sob violação das
normas de direito material, há de ser reconhecida a sua nulidade durante a
fase processual, com o seu consequente desentranhamento dos autos, além
das que foram derivadas dessas provas ilícitas. Isso, todavia, não significa
dizer que todo inquérito será considerado nulo, pois é possível que existam
elementos informativos colhidos no IP que não estejam contaminados.

Como se vê, estes vícios são na realidade questões de mérito com


repercussão na procedência ou improcedência do pedido, ou seja, o
processo em si não será nulo, ao contrário, em muitos casos será encerrado
inclusive com resolução do mérito, absolvendo o réu.

Vale ressaltar que o inquérito policial não pode ser o único elemento na
formação de convicção do JUIZ para fins condenatórios. No entanto, as
provas não-repetíveis poderão ser elementos formadores de convicção do
magistrado, o que chamamos de prova diferida.

Diferença entre atos de prova e atos de investigação:


Somente os atos de prova permitem o juízo de certeza, pois são aqueles
atos produzidos em fase processual, sob o crivo do contraditório e ampla
defesa. Os atos de investigação (colhidos em fase pré-processual), como
defendido por Aury Lopes Jr. e André Nicolitt, não são suficientes para
lastrear uma condenação, pois são meros indícios colhidos pela autoridade
policial.

MUITA ATENÇÃO: O Código de Processo Penal FAZ DISTINÇÃO entre provas


e elementos informativos. VEJA: Art. 155. O juiz formará sua convicção pela
livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não
podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.

O inquérito policial é procedimento INQUISITIVO, haja vista que não


obedece aos princípios da ampla defesa e do contraditório. Em face disso,
eventual sentença condenatória NÃO poderá se basear EXCLUSIVAMENTE
em elementos de informação colhidos durante a fase investigatória,
RESSALVADAS as provas cautelares, não repetíveis e as antecipadas
Mas, ATENÇÃO: Apesar da redação legal impedir o juiz de DECIDIR com
PROCESSO PENAL | 0

base, exclusivamente, em elementos colhidos na fase investigativa para


condenação, jurisprudência e doutrina majoritárias entendem que tal
vedação NÃO se aplica à sentença ABSOLUTÓRIA.

22
O inquérito é indisponível ao Delegado, ou seja, ele NÃO pode mandar
arquivar os autos de inquérito. Art. 17 CPP. Mas é dispensável ao MP, visto
que ele pode arquivá-lo ou ainda oferecer a denúncia com base em outras
peças de informação, dispensando-o.

O inquérito é escrito, devendo o delegado rubricar cada folha. Dessa


afirmativa, nasce a seguinte pergunta: é possível gravar as investigações/
atos do inquérito, tendo em vista que o art.9º fala somente em “peça
escrita”? Segundo a doutrina, o art. 405 §1º, CPP, que se destina ao
processo, pode ser aplicado analogicamente ao inquérito, de modo a ser
possível sim que se grave peças do inquérito. Porém, ATENÇÃO! Não há IP
oral! Essa questão caiu no concurso de Delegado de Polícia do Estado de
Santa Catarina/2014.

Sobre o caráter sigiloso do inquérito (SV 14 do STF): É direito do defensor, no


interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova já
documentados em procedimento investigatório realizado quanto aos
assuntos que digam respeito ao exercício do direito de defesa (Sigilo Interno).
Nesse sentido, o art. 7ª do Estatuto da OAB garante ao advogado o acesso
ao inquérito, mesmo sem a procuração, desde que seja no interesse do
investigado. Ademais, o sigilo do inquérito visa proteger o indiciado da
sociedade, a fim de não ter a sua vida exposta, sob o fundamento da
presunção de inocência (Sigilo Externo). O sigilo do inquérito não é absoluto,
ou seja, não alcança o advogado, visando proteger o próprio acusado,
salvo quando houver medida cautelar em curso apensada ao inquérito
policial (interceptação telefônica, infiltração de policial em organização criminosa).

Nesse sentido, destaque-se que, mesmo sem procuração, o advogado tem


acesso aos autos do IP. Contudo, se no IP houver quebra de sigilo de dados,
somente terá acesso o advogado com procuração nos autos a fim de
proteger a intimidade do acusado. E se, ainda assim, for negado à defesa,
pelo delegado, o acesso ao procedimento policial? Faculta-se ao
prejudicado deduzir reclamação diretamente ao STF (art. 103-A, §3º, CF).
Contudo, independentemente dessa previsão, é possível ao interessado
valer-se do mandado de segurança a ser impetrado perante o juiz para
efetivação desse direito aos autos de inquérito e HC, se presente prejuízo à
liberdade de locomoção do suspeito no caso concreto. Isso porque, o art. 7º,
da Lei 11.417/06, que regulamenta a súmula vinculante, dispõe que da
PROCESSO PENAL |

decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de


súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá
reclamação ao STF, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de
impugnação.

23
A incomunicabilidade do preso, presente no art. 21, não foi recepcionada
pela nova constituição frente ao Estado Democrático de Direito (Posição
Majoritária). O raciocínio é que o Estado de defesa é um estado de
exceção, um estado de crise. Então, se num estado de crise não se pode
manter o preso incomunicável, muito menos num estado de normalidade.
Afranio Silva Jardim – em sentido contrário - sustenta a recepção constitucional
do art. 21 do CPP porque se o constituinte expressamente vetou a
incomunicabilidade na vigência do Estado de defesa é porque subliminarmente
a admitiu em caráter excepcional na vigência regular de um Estado
Democrático de Direito. (citar a segunda corrente apenas em subjetiva e oral).

ATRIBUIÇÕES DO DELEGADO DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL: Devemos ter muita


atenção ao estudar este tópico, pois sofreu alteração recente e será objeto de
questionamento nos próximos certames. Nesse sentido, cabe à autoridade
policial – art. 13:

I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução


e julgamento dos processos;

II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;

III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias;

IV - representar acerca da prisão preventiva.

O artigo a seguir foi acrescentado pela Lei 13.344/2016, exigindo grande


atenção por parte do candidato:

Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e
no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado
de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de
empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou
de suspeitos.

Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e


quatro) horas, conterá:

I - o nome da autoridade requisitante;


PROCESSO PENAL | 0

II - o número do inquérito policial; e

III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela


investigação.

24
Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados
ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de
polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas
prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais,
informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos
suspeitos do delito em curso.

§ 1o Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação


de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência.

§ 2o Na hipótese de que trata o caput, o sinal:

I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer


natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em
lei;

II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por


período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual
período;

III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a
apresentação de ordem judicial.

§ 3o Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser


instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do
registro da respectiva ocorrência policial.

§ 4o Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a


autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os
meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que
permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com
imediata comunicação ao juiz.

Como podemos verificar, a referida Lei acresce ao Código de Processo


Penal os arts. 13-A e 13-B, que permitem, em linhas gerais, que o Ministério
Público e o delegado de polícia requisitem dados e informações cadastrais
da vítima ou de suspeitos. Também nessa linha, o art. 13-B do CPP, inovação
desta Lei, possibilita que o membro do Ministério Público ou o delegado de
polícia requisitem, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras
de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem
imediatamente os meios técnicos adequados que permitam a localização
PROCESSO PENAL |

da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.

DESTINATÁRIO DO INQUÉRITO POLICIAL: O CPP é um dispositivo normativo


antigo e, como tal, traz o juiz como destinatário do inquérito policial. Porém,

25
com o advento da CF/88, o juiz tem que saber qual é a opinio delicti do MP
quanto ao que fora apurado pela policia judiciária. Assim, recebido o
inquérito pelo juiz, ele abre vista ao MP, podendo este adotar três medidas:
1.oferecer a denúncia;
2.devolver os autos para delegacia; ou
3. mandar arquivar o inquérito.

Destarte, o destinatário do Inquérito Policial é o Ministério Público. Quando o


MP determinar o arquivamento do inquérito, deverá encaminhar os autos
para ao Juiz analisar se o caso é de arquivamento ou não. Em alguns
estados, há as centrais de inquérito, situação em que a autoridade policial
encaminha os autos diretamente para o MP e não para o juiz. Porém, esse
mecanismo foi julgado recentemente inconstitucional pelo STF, pois afronta
diretamente o texto da CF/88.

IMPORTANTE: Inviável, em nosso sistema normativo, o arquivamento, “ex


officio”, por iniciativa do Poder Judiciário, de peças informativas e/ou de
inquéritos policiais, pois, tratando-se de delitos perseguíveis mediante ação
penal pública, a proposta de arquivamento só pode emanar, legítima e
exclusivamente, do próprio Ministério Público.- Essa prerrogativa do
“Parquet”, contudo, não impede que o magistrado, se eventualmente
vislumbrar ausente a tipicidade penal dos fatos investigados, reconheça
caracterizada situação de injusto constrangimento, tornando-se
consequentemente lícita a concessão, “ex officio”, de ordem de “habeas
corpus” em favor daquele submetido a ilegal coação por parte do Estado
(CPP, art. 654, § 2º). HC 106.124-MC/PR.

Existe alguma providência processual que a vítima possa adotar para evitar
o arquivamento do IP? Ela pode, por exemplo, impetrar um mandado de
segurança com o objetivo de impedir que isso ocorra? NÃO. A vítima de
crime de ação penal pública não tem direito líquido e certo de impedir o
arquivamento do inquérito ou das peças de informação. STJ. Corte Especial.
MS 21.081-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/6/2015 (Info 565).

INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO DIANTE DE DENÚNCIA ANÔNIMA:


As autoridades públicas não podem iniciar inquérito policial (penal ou
disciplinar) apoiando-se, unicamente, para tal fim, em peças apócrifas ou
PROCESSO PENAL | 0

em escritos anônimos- art. 5º IV da CF. Nada impede que a autoridade


policial, diante de denúncia anônima, adote medidas informais destinadas a
apurar, previamente, em averiguação sumária, “com prudência e
discrição”, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal,
desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos

26
nela denunciados, em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal
instauração do inquérito policial. (STF, HC – 97197)

DENÚNCIA FORMULADA COM BASE EM INQUÉRITO CIVIL - É possível o


oferecimento de ação penal (denúncia) com base em provas colhidas no
âmbito de inquérito civil conduzido por membro do Ministério Público - STF.
Plenário. AP 565/RO - (Info 714).

VERIFICAÇÕES PRELIMINARES DE INQUÉRITO – VPI’S


Geralmente, o inquérito só será instaurado após a VPI (procedimento
investigatório preliminar para apurar informações advindas de uma notícia
crime). Os Tribunais Superiores reconhecem berço normativo das VPIS no
artigo 5º § 3º do CPP e, como reúnem peças informativas destinadas ao MP,
são igualmente indisponíveis nos termos do art. 17 do CPP. Há resolução da
Policia Federal e da PC/RJ regulamentando VPI. Em sentido contrário,
minoritariamente, não se aceita as VPIS ao argumento de que o § 3º do art.
5º do CPP teria apenas previsto a justa causa a instauração do inquérito, até
para evitar qualquer burla ao controle externo das investigações pelo MP.

POLICIA JUDICIÁRIA E PERSECUTIO CRIMINIS


A policia preventiva ou ostensiva é exercida, via de regra, pela Polícia Militar
e pelo Policial Rodoviário, trata-se do policiamento para manter a paz social,
atuando na prevenção criminosa. Quando já praticada a conduta
delituosa, temos a policia judiciária atuando em caráter repressivo (atividade
investigativa) para elucidação dos fatos e apuração de autoria e
materialidade, no procedimento de inquérito. Quem exerce a polícia
judiciária é a policia civil e a federal.

A Persecutio Criminis ou persecução penal se traduz pelo esclarecimento do


fato delituoso. A persecução penal inclui a atividade de policia judiciária
(DELEGADO) e vai além, caminhando junto ao processo, onde o MP atua
diretamente praticando atos para elucidação do delito.

De acordo com o art. 144, §1º,IV, compete privativamente à policia federal


atuar como polícia judiciária da UNIÃO. A partir dessa premissa, interpreta-se
que a policia civil deverá atuar como policia judiciária dos Estados.
PROCESSO PENAL |

POLÍCIA JUDICIÁRIA versus POLICIA INVESTIGATIVA


A maioria da doutrina usa a expressão “polícia judiciária” sem realizar
qualquer distinção. Contudo, uma parte da doutrina diferencia “polícia
investigativa” de “policia judiciária”, apesar de ser a mesma polícia. Para

27
aqueles que diferenciam, polícia judiciária é a polícia que auxilia o Poder
Judiciário no cumprimento de suas ordens. Ex.: cumprimento de mandado
de busca e apreensão. Já a Polícia investigava é a polícia atuante na
apuração de infrações penais e de sua autoria.

NOTITIA CRIMINIS:
É o conhecimento espontâneo ou provocado por parte da autoridade
policial acerca de um fato delituoso. É o exato momento em que a
autoridade policial toma conhecimento de um fato. É vulgarmente
conhecida como “queixa” ou “denúncia”. Mas o correto é falar em notitia
criminis.

Cognição Coercitiva – Quando pensamos no Delegado de Policia quando


diante de auto de prisão em flagrante ou auto de resistência, não há
discricionariedade por parte do delegado. (Ao delegado não há qualquer
liberalidade quanto ao ato praticado, devendo vincular-se ao que dispõe a
lei)

Cognição Imediata – Quando a própria autoridade da policia judiciária per


si instaurou inquérito policial, de ofício, mediante formalização por PORTARIA.
Normalmente ocorre:
1. Por informação reservada;
2. Por meio de voz pública;
3. Através de notoriedade do fato;
4. Através das atividades rotineiras da polícia.

Cognição Mediata – Quando a instauração fora requisitada pelo MP, pelo


JUIZ, por qualquer um do povo ou a requerimento da vítima. Nesse caso,
mesmo havendo a requisição do MP ou do Juiz, deve o Delegado formalizar
a instauração do inquérito através de Portaria, pois a requisição, por si só,
não instaura o inquérito policial.

Destaque-se, novamente, que o Juiz não pode instaurar o IP de ofício, pois a


ação penal é de titularidade do MP e, principalmente, porque estamos
diante do Sistema Acusatório. A lei prevê (art. 39,4º,) que, quando a
representação for feita ao juiz, ele deverá remetê-la à autoridade policial
para instauração do inquérito. Contudo, Aury Lopes Jr. defende que a
medida mais adequada ao sistema acusatório é que, a partir do
PROCESSO PENAL | 0

conhecimento de um crime, o juiz remeta os autos ao MP para que este


requisite a instauração de inquérito policial ou proponha a ação, caso
vislumbre a existência de elementos informativos suficientes para dispensar o
IP.

28
Ademais, se a vítima faz um requerimento para o Delegado instaurar um
inquérito e o delegado o indefere, caberá um recurso inominado para o
Chefe de Polícia (art. 5, § 2º, CPP), que hoje pode ser o Secretário de
Segurança Pública ou o Delegado Geral. Outra possibilidade que a vítima
teria, seria fazer o requerimento ao MP.

PROCESSO JUDICIALIFORME: A ação penal, nas contravenções, será iniciada


com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela
autoridade judiciária ou policial. Trata-se de dispositivo não recepcionado,
pois não se adéqua ao sistema acusatório.

Diferença entre notitia criminis X delatio criminis


- A Notitia Criminis (stricto sensu) é a comunicação que a vítima faz da
infração penal que sofreu.

- A Delatio Criminis é a comunicação efetuada por qualquer um do povo.


Obviamente, ela só será possível nos crimes de ação penal p.
incondicionada, uma vez que os crimes de ação penal privada ou
condicionada à representação exigem a manifestação da vítima como
condição de persecutibilidade. Somente os funcionários públicos e os
médicos têm a obrigação de comunicar crimes. Havendo negativa do
médico, estará caracterizada a contravenção penal prevista no art. 66 da
LCP.

OBS 1. Delatio criminis: É uma espécie de notitia criminis. A peculiaridade é


que ela é uma espécie de notitia criminis feita por qualquer pessoa do povo.

OBS 2. Delatio criminis inqualificada: é a mesma coisa que denúncia anônima.


Antes de instaurar o inquérito policial, deve a autoridade policial verificar a
procedência das informações (STJ, HC64096 e STF, HC84827).

A discricionariedade da autoridade policial possui três exceções:


1. O delegado não tem discricionariedade quando diante de auto de prisão
em flagrante e auto de resistência, pois ao lavrar o auto de infração estará
automaticamente instaurando o inquérito;
2. Não há discricionariedade frente a requisições do Juiz ou MP, devendo
PROCESSO PENAL |

instaurar o inquérito, ressalvada a hipótese de ilegalidades; Existe


divergência quanto às requisições do juiz, fundamentando-se na violação ao
sistema acusatório.(Posição Garantista).

29
3. Exame de corpo de delito, quando o crime deixar vestígio, deve ser
obrigatoriamente realizado.

- DELEGADO ESTÁ OBRIGADO A INSTAURAR O IP DIANTE DE REQUISIÇÃO DO


JUIZ? Para a prova de Delegado, defender que requisição não pode ser
entendida como uma ordem, pois não há hierarquia entre juiz, MP e
Delegado. O Delegado atende a requisição em virtude do princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública. O delegado pode recusar essa
requisição se for manifestamente ilegal ou manifestamente arbitrária,
dispondo de poderes de autotutela devido ao seu compromisso com a
legalidade, apresentando decisão fundamentada sobre a negativa. Ex:
abertura de inquérito com base apenas em noticia crime anônima.
(Corrente majoritária) Há, porém, que entenda que requisição é sinônimo de
ordem, portanto, o delegado está obrigado a atendê-la.

A REQUISIÇÃO DO MP E DO JUIZ É CONSTITUCIONAL?


A requisição do MP é plenamente constitucional (art. 129,VIII). No caso do juiz
há duas posições:

(1) (Majoritária na doutrina) – Requisição judicial de instauração do


inquérito não foi recepcionada pelo artigo 129 inciso I da CF/88, pois
compromete o sistema acusatório. A ação penal pública é privativa
do MP, o juiz deverá conservar a sua imparcialidade e equidistância
entre as partes.
(2) (STF e STJ) - A requisição judicial de instauração do inquérito é
constitucional porque o juiz conservará distanciamento da
investigação, que será conduzida pelo delegado sob o controle
externo do MP e, na realidade, sequer importa prevenção do juiz
requisitante.

LIMITES À INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POR PARTE DA AUTORIDADE POLICIAL:

1. Crimes de ação penal pública condicionada à representação. Deverá,


antes de instaurar o inquérito, colher a representação do ofendido tanto
para autuação do flagrante quanto para a instauração da portaria. A
representação, diante dos crimes condicionados, é não só condição de
procedibilidade ao exercício da ação, como também condição de
persequibilidade, pois a falta de representação, nesses crimes, impede até
mesmo a instauração do inquérito policial. Oportuno também mencionar a
condição de prosseguibilidade, que se dá no curso da ação penal, quando
PROCESSO PENAL | 0

uma ação que era pública incondicionada passa a ser condicionada à


representação, exigindo que esta se dê no curso processual. Doutrina
minoritária defende que, se instaurado o inquérito, mesmo sem a

30
representação inicial da vitima, existe a possibilidade de ser sanado o vicio,
se a vitima fizer a representação antes de oferecida a denúncia.

2. Crimes de Ação Penal de Iniciativa Privada. Necessita do requerimento do


ofendido para instaurar o inquérito policial e exercício da ação penal.

(INQUÉRITO POLICIAL – AUTORIDADES COM FORO POR PRERROGATIVA DE


FUNÇÃO)

1. MEMBROS DO CONGRESSO: A Polícia Judiciária NÃO TEM ATRIBUIÇÃO para


instaurar DE OFÍCIO inquérito policial contra autoridade detentora de foro
por prerrogativa de função, sendo, portanto, indispensável a autorização do
Tribunal competente para O JULGAMENTO DA AUTORIDADE. Destaca-se que
o inquérito será presidido pela autoridade policial, mas tramitará sob direta
supervisão do Tribunal. Ademais, qualquer ato praticado no curso do
procedimento investigatório sem a devida autorização do Tribunal
competente (inclusive o indiciamento) SERÁ NULO. Precedente no STF:
Inquérito 2.411.

2. MAGISTRADOS E MINISTÉRIO PÚBLICO: Os magistrados e membros do


Ministério Público somente podem ser presos em flagrante pela prática de
crime inafiançável. E mais: perfazendo-se situação flagrancial envolvendo
estes sujeitos passivos, o respectivo inquérito não poderá ser presidido pelo
delegado de polícia, devendo sê-lo, no caso dos juízes, pelo Presidente do
Tribunal a que vinculado e, no caso dos membros do Ministério Público, pelo
Procurador-Geral. Neste contexto, infere-se que, se capturados pela
autoridade policial, civil ou militar, em situação de flagrante de crime
inafiançável, magistrados e membros do Ministério Público deverão ser
apresentados, respectivamente, ao Presidente do Tribunal e ao Procurador-
Geral. A estes, ou a quem delegarem, caberá a lavratura do auto de prisão
em flagrante, assim como o prosseguimento das diligências investigatórias
cabíveis. Segundo entendimento da doutrina, o inquérito investigando
magistrado denomina-se INQUÉRITO JUDICIAL. (Lembrar que diante de
parlamentar, o flagrante poderá ser lavrado pelo próprio delegado, o que
não ocorre no caso de promotores e magistrados)

Delegado recebe uma noticia crime. O que o delegado pode controlar?


PROCESSO PENAL |

Exerce o controle de tipicidade formal ou também exerce um controle de


tipicidade material? Pode deixar de instaurar o inquérito policial?
a) Para delegado civil do Rio de Janeiro – O delegado instaura inquérito
sempre que estiver diante da noticia de uma infração penal que é conduta

31
típica, ilícita e culpável, logo se vislumbrar alguma excludente se limita a
registrar a ocorrência, sem instaurar inquérito policial encaminhando-o ao
MP, titular da ação penal pública. O delegado só não pode deixar de
documentar a noticia, já que o procedimento é escrito (art. 9º do CPP).
Assim pode o delegado, por exemplo, aplicar o princípio da insignificância.

Defender essa posição também em prova subjetiva e oral para o concurso


de Delegado de Polícia. Contudo, salientar que é uma corrente em
construção, minoritário ainda na doutrina.

b) Majoritária - O delegado enquanto agente da Administração Pública há


de se pautar no princípio da estrita legalidade, somente podendo agir nos
termos fixados em lei. Assim exerce um controle apenas sobre tipicidade
formal e punibilidade, até porque se a conduta tem previsão numa norma
penal incriminadora a regra é que também seja ilícita e culpável. Tanto isso é
verdade que excludentes cabais da ilicitude, da culpabilidade e da
tipicidade desafiam absolvição sumária pelo juiz (art. 397, I, II, III, IV do CPP),
ou promoção de arquivamento pelo MP.

Termo circunstanciado de ocorrência (TCO) é procedimento administrativo


policial simplificado, escrito, e, como regra, substitutivo do inquérito policial,
utilizado no âmbito das infrações de menor potencial ofensivo, Lei 9099/90 –
Quando há TCO não há IP. TCO não é espécie de IP. Obs.: é plenamente
possível o arquivamento do termo circunstanciado.

PRAZO DE DURAÇÃO DO INQUÉRITO


O prazo de duração do inquérito diante de indiciado preso em flagrante ou
preventivamente será de 10 dias, improrrogáveis. Se o indiciado estiver solto,
o prazo será de 30 dias, porém, o seu § 3º prevê que tal prazo poderá ser
prorrogado quando o fato for de difícil elucidação. O pedido de dilação de
prazo deve ser encaminhado pela autoridade policial ao juiz, que, antes de
decidir, deve ouvir o Ministério Público, pois este órgão poderá discordar do
pedido de prazo e, de imediato, oferecer denúncia ou requerer o
arquivamento do inquérito. OBS.: Se o indiciado estiver solto ao ser
decretada sua prisão preventiva, o prazo de 10 dias conta-se da data do
cumprimento do mandado, e não da decretação.
PROCESSO PENAL | 0

Na J. Federal, o prazo de duração do inquérito é de 15 dias, renováveis por


mais 15 dias, se diante de investigado preso. Em sede de inquérito devemos
falar em atribuição e não em competência. Vale mencionar que a J.
Federal não faz menção ao prazo máximo de duração do inquérito quando

32
diante do indiciado solto, devendo ser aplicado o prazo da lei genérica, ou
seja, de 30 dias. Importante destacar que, mesmo não havendo atribuição,
a policia civil poderia presidir inquérito de crime federal, entretanto, o
conhecimento do inquérito deve ser feito por Juiz Federal, não acarretando
nulidade.

Na lei de tóxico, o inquérito é de 30 dias renováveis por igual período,


quando o indiciado estiver preso, e 90 dias, quando solto, podendo ser
duplicado pelo juiz, ouvido o MP, mediante pedido justificado.

QUAL A NATUREZA JURÍDICA DOS PRAZOS DE INVESTIGAÇÃO?


Em se tratando de investigado solto, o prazo tem natureza processual (nesse
prazo, o dia do início não é considerado – pode ser prorrogado até o
primeiro dia útil subsequente). Em se tratando de investigado preso, temos
prazo de natureza penal.

CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO DOS PRAZOS:


I – Indivíduo solto: Trata-se de um prazo impróprio. Não haverá nenhuma
consequência. É uma mera irregularidade.
II – Indivíduo preso: Eventual excesso autoriza o relaxamento da prisão.
Segundo a jurisprudência, esse excesso que acarreta o relaxamento da
prisão, deve ser abusivo e desproporcional. A jurisprudência entende que a
contagem do prazo é global.

PRAZO DO INQUÉRITO DIANTE DE PRISÃO TEMPORÁRIA: O art. 10, CPP,


PROCESSO PENAL |

estabelece prazo máximo de conclusão do inquérito em dez dias, quando


preso o suspeito. Contudo, a lei dos crimes hediondos determina que, nos
crimes hediondos, o prazo da prisão temporária é de até 30 dias prorrogável
por igual período, logo, trata-se de prazo superior ao previsto no art. 10, CPP,
para fins de conclusão do inquérito. Ocorre, porém, que a prisão temporária,

33
na medida em que se justifica na imprescindibilidade para as investigações
policiais, não pode ser mantida após o término do inquérito. Na tentativa de
compatibilizar essas regras, surgiram três correntes:

1ª corrente – no caso de ser decretada a prisão temporária em crime


hediondo, o tempo de prisão será acrescido ao prazo de encerramento do
inquérito, de modo que, além do período da prisão temporária, a
autoridade policial ainda terá mais 10 dias para concluir as investigações –
Capez.
2ª corrente – tratando-se de investigação de crimes hediondos e
equiparados em que decretada a prisão temporária do suspeito, altera-se a
regra geral de prazo para conclusão do IP. Logo, em tal caso, o delegado
de polícia não ficará submetido ao lapso de 10 dias fixado pelo CPP, mas sim
ao determinado para a temporária em sede de crimes hediondos, podendo
finalizar o inquérito no prazo de 30 dias, ou, havendo prorrogação da
temporária, em até 60 dias, sendo esta a corrente mais aceita.
3ª corrente – o prazo para a conclusão do inquérito que investiga crime
hediondo ou equiparado, encontrando-se preso o suspeito, ainda que em
virtude de prisão temporária, é regrado pelo art. 10, CPP, qual seja, 10 dias
contados da execução da prisão. Finalizado esse prazo, o inquérito deverá
ser encaminhado a juízo.

CONTROLE EXTERNO DO INQUÉRITO POLICIAL:


Quem possui o dever legal de fiscalizar o inquérito é o MP, através do
CONTROLE EXTERNO. O MP analisa o inquérito pelo prazo de 5 dias, quando
o réu estiver preso, e 15 dias, quando solto, a partir do recebimento dos
autos do inquérito e, nesse sentido pode: 1.oferecer a denúncia; 2. devolver
à delegacia de policia requisitando novas diligencias; 3. requerer o
arquivamento. O prazo retro citado serve para controle externo por parte do
MP e também para formação da opinio delicti.

IMPORTANTE: Segundo maioria da doutrina, o prazo de 5 dias do MP para


formar sua opinio delicti, mesmo o réu estando preso, segue a regra de
Direito Processual, excluindo-se o dia de inicio e contando-se o dia do fim.
(Renato Brasileiro e Norberto Avena). Nestor Távora, contudo, apresenta
entendimento de que o prazo tem natureza penal, conforme art. 798,1º do
CPP: A data do termo de vista pessoal do MP fixa o marco inicial, já
PROCESSO PENAL | 0

contando como primeiro dia para a oferta da denúncia.

ATENÇÃO 1: O Ministério Público, no exercício do controle externo da


atividade policial, pode ter acesso a ordens de missão policial (OMP).
Ressalva: no que se refere às OMPs lançadas em face de atuação como

34
polícia investigativa, decorrente de cooperação internacional exclusiva da
Polícia Federal, e sobre a qual haja acordo de sigilo, o acesso do Ministério
Público não será vedado, mas realizado a posteriori. STJ. 1ª Turma. REsp
1.439.193-RJ, julgado em 14/6/2016 (Info 587).

ATENÇÃO 2: O controle externo da atividade policial exercido pelo Ministério


Público Federal não lhe garante o acesso irrestrito a todos os relatórios de
inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência do Departamento de
Polícia Federal, mas somente aos de natureza persecutório-penal. O controle
externo da atividade policial exercido pelo Parquet deve circunscrever-se à
atividade de polícia judiciária, conforme a dicção do art. 9º da LC n. 75/93,
cabendo-lhe, por essa razão, o acesso aos relatórios de inteligência policial
de natureza persecutório-penal, ou seja, relacionados com a atividade de
investigação criminal. O poder fiscalizador atribuído ao Ministério Público não
lhe confere o acesso irrestrito a "todos os relatórios de inteligência" produzidos
pelo Departamento de Polícia Federal, incluindo aqueles não destinados a
aparelhar procedimentos investigatórios criminais formalizados. STJ. 1ª Turma.
REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/6/2016 (Info 587).

SISTEMAS DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR: Há diversos sistemas de


investigação preliminar espalhados pelos diversos sistemas normativos: CPI –
Comissão Parlamentar de Inquérito; Sindicâncias; PAD – Processo
Administrativo Disciplinar; Investigação pelo juiz; Investigação pelo MP.
Vejamos as bases de fundamentação com relação à investigação do MP:

CONTRA PRÓ
O Art. 144 da CF/88 confere O Art. 144 da CF/88 não confere
exclusividade à polícia judiciária. exclusividade.
Viola o sistema acusatório. Teoria dos Poderes Implícitos.
Falta previsão legal. Lei 8.625/1993; LC 75/93; Res. 13/06 do
CNMP.

Em prova de Delegado, defender sempre a inconstitucionalidade da


investigação por parte do MP, tendo como principal norte a afronta ao
Princípio Acusatório. A investigação por parte do juiz também não é
compatível com o sistema acusatório brasileiro.
PROCESSO PENAL |

INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO: O STF reconheceu a legitimidade


do Ministério Público para promover, por autoridade própria, investigações
de natureza penal, mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar
alguns parâmetros que podem ser a seguir listados:

35
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos
investigados;
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e
praticados por membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição,
ou seja, determinadas diligências somente podem ser autorizadas pelo
Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir (ex: interceptação
telefônica, quebra de sigilo bancário etc);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei
aos advogados;
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF
(“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito
ao exercício do direito de defesa”);
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao permanente
controle do Poder Judiciário. A tese fixada em repercussão geral foi a
seguinte: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por
autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal,
desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer
indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas,
sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição
e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em
nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II,
III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no
Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos
atos, necessariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula Vinculante),
praticados pelos membros dessa Instituição.” STF. Plenário. RE 593727/MG, rel.
orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
14/5/2015 (repercussão geral) (Info 785).

Essa tese do STF, se questionada em prova discursiva ou oral, deve ser


contestada pelos candidatos, sob os seguintes argumentos:
1. houve silêncio eloquente do constituinte quanto à investigação direta por
parte do MP, pois a CF optou pelo silêncio tanto no art. 144 quando
disciplinou a polícia judiciária, quanto no art. 129, ao listar as atribuições do
PROCESSO PENAL | 0

MP, embora não tenha exitado em lhe dar poderes para promover o
Inquérito Civil Público. E tanto o silêncio fora eloquente que o Poder
Constituinte não pestanejou em dar poderes de investigação, por exemplo,
às CPI’s. Na realidade, estabeleceu-se uma divisão de tarefas: A
investigação direta a cargo da Polícia Judiciária e o controle externo a

36
cargo do MP, para que pudesse conservar a isenção necessária ao
desempenho do seu múnus primordial, que é a defesa da ordem jurídica. Por
fim, partindo do pressuposto de silêncio eloquente, não podemos falar em
emprego de analogia ao Inquérito Civil Público, pois não haveria lacuna
para seu emprego.
2. O MP é parte em posterior processo e permitir a sua investigação
caracteriza flagrante afronta aos Princípios do Contraditório e Ampla defesa.
3. O MP pode até requisitar diligências e a instauração de inquéritos policiais,
mas não pode PRESIDIR os inquéritos policiais.
4. Quanto ao Direito Comparado, estes afirmam que descabe a sua análise,
pois nas legislações, a exemplo da Italiana e Portuguesa, a investigação é
constitucionalmente originária do MP, de maneira que as respectivas policias
até investigam, mas por delegação, o que afasta a afinidade legislativa de
modo a aplicação da técnica do Direito Comparado.
5. O art. 4º, parágrafo único do CPP não foi recepcionado pela CF/88.
6. A permissão de investigação direta pelo MP viola o Princípio Constitucional
da Justeza ou Conformidade Funcional, pois subverte o esquema
organizatório funcional e compromete estado democrático do direito e a
supremacia da constituição.

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL DEFENSIVA: Apesar de não haver respaldo legal, a


investigação criminal defensiva é aceita pela doutrina, caracterizando-se
como um conjunto de atividades investigatórias desenvolvidas pelo defensor
em qualquer fase da persecução penal, inclusive antes do oferecimento da
peça acusatória, as quais poderão ser realizadas com ou sem a assistência
de investigador particular, objetivando a colheita de elementos informativos
que possam ser utilizados para beneficiar o investigado em contraponto à
investigação policial. O particular pode investigar,porém o particular não é
dotado de poderes coercitivos, nem tampouco lhe é permitido violar direitos
e garantias fundamentais. Ex. É vedada a violação de domicílio, o grampo
ilegal,etc.  Importante destacar que a investigação defensiva está prevista
no Direito Italiano e no Projeto do Novo CPP brasileiro.

A Lei nº 13.432/2017 dispõe sobre o exercício da profissão de detetive


particular. Nesse sentido, considera-se detetive particular "o profissional que,
habitualmente, por conta própria ou na forma de sociedade civil ou
empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de natureza
não criminal, com conhecimento técnico e utilizando recursos e meios
tecnológicos permitidos, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse
PROCESSO PENAL |

privado do contratante." (art. 2º).

QUESTIONAMENTOS IMPORTANTES:

37
1. O detetive particular pode colaborar formalmente com a investigação
conduzida pelo Delegado no inquérito policial? Sim! O detetive
particular pode colaborar com investigação policial em curso, desde
que expressamente autorizado pelo contratante e desde que haja
autorização por parte da autoridade policial – art. 5.
2. O detetive pode participar de diligências policiais? Não! É vedado
expressamente, conforme art. 10, IV.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO
Se o MP entender que não estão presentes as condições da ação, indícios
de autoria e materialidade, deve requerer o arquivamento. Frise-se que o
fato do MP requerer o arquivamento não fere o princípio da obrigatoriedade
uma vez que podem não estar presentes as condições para ação.

QUAL É A NATUREZA JURÍDICA DO ARQUIVAMENTO DO IP?


1. Profº Afrânio Silva Jardim = decisão judicial, porque oriunda do Poder
Judiciário.
2. Fernando Capez = despacho judicial de expediente, pois não há cunho
decisório.

Diante da formação de sua opinião sobre o delito, ausente a justa causa, o


MP requer o arquivamento ao juiz. O juiz pode concordar ou discordar. Se
ele concordar, promove despacho para arquivar. Se o MP requerer o
arquivamento e o juiz discordar, este irá remeter o processo ao PGJ e, se este
analisá-lo e entender também pelo arquivamento, nada poderá fazer o juiz,
tão somente terá que despachar pelo arquivamento. (art. 28 CPP). Quem
promove o arquivamento é o MP e quem arquiva é o juiz! Ademais, em regra
o arquivamento é uma decisão irrecorrível, salvo quando diante de crimes
contra economia popular!

Qual o nome do Princípio que consagra o art. 28? É o Princípio da Devolução


o qual diz que se o juiz não concorda com o arquivamento remete a
decisão final ao Procurador Geral de Justiça.

Quando o MP requer o arquivamento, ele está demonstrando ao juiz que


não irá provocá-lo e o juiz nada poderá fazer, atuando como função
anômala, atuando como fiscal do princípio da obrigatoriedade. Nesse
momento, o juiz tão somente atua fiscalizando o MP, judicialmente, mas não
PROCESSO PENAL | 0

jurisdicionalmente. Na realidade, o MP, nesse momento, acaba atuando em


função anômala jurisdicional. Quem arquiva o inquérito? O juiz. Melhor
resposta: O juiz, a requerimento do MP.

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ARQUIVAMENTO NO ÂMBITO FEDERAL: No âmbito da Justiça Federal, se o juiz
não concordar com o pedido de arquivamento, ele deverá remeter os autos
à CCR (Câmara de Coordenação e Revisão) do MPF. Essa CCR só existe na
estrutura do MP da União. Existem várias CCRs. A Câmara que trata de
matéria criminal é a 2ª Câmara. Segundo a doutrina, a manifestação da
CCR é OPINATIVA. A decisão não é da Câmara. Após a CCR, os autos vão
ao PGR, a quem compete a decisão final. Segundo a doutrina, essa
competência do PGR pode ser delegada à CCR do MPF (é o que acaba
acontecendo na prática – o PGR acaba deixando com que a manifestação
da CCR seja a manifestação final sobre o assunto).

ARQUIVAMENTO FAZ COISA JULGADA ? Em regra não!


A lei não diz quando o inquérito deve ser arquivado, mas ela diz quais as
hipóteses de rejeição da denúncia e as hipóteses de absolvição sumária. Tais
causas poderão ser utilizadas pelo MP para fundamentar o arquivamento do
IP. Uma vez arquivado o inquérito policial, se no futuro surgirem novas provas,
será possível oferecer a denúncia. (REGRA) (Súm. 524 do STF) Destaque-se
que o MP pode lastrear o arquivamento com base nos ditames dos artigos
395 e 397 do CPP, contudo, em regra, somente fazem coisa julgada formal.
Na dúvida entre o oferecimento ou não da denúncia, decorrente da
excludente da ilicitude, prevalece o in dubio pro societate (e deve ser
oferecida a denúncia).

- EXCEPCIONALMENTE, ARQUIVAMENTO FAZ COISA JULGADA MATERIAL:


1. Quando o MP arquiva afirmando que a conduta é atípica e o juiz
concorda com o arquivamento;
2. Quando for extinta a punibilidade. (Ex. furto simples prescreve em 8
anos. Passados os oito anos estará extinta a punibilidade e o
arquivamento faz coisa julgada.)

O arquivamento de inquérito policial com base na atipicidade do fato tem


eficácia de coisa julgada material. Neste caso, mesmo decisão seja
proveniente de juiz absolutamente incompetente, terá igualmente eficácia
de coisa julgada material, pois os seus efeitos não poderiam ser afastados,
sob pena de reformatio in pejus indireta (STF, HC 83.346). Importante
destacar que, mesmo que surjam novas provas, não poderá haver o
desarquivamento do inquérito policial no caso de atipicidade da conduta,
visto que ocorrido coisa julgada material. (STF, HC 83.346)
PROCESSO PENAL |

Arquivamento em razão de excludente de ilicitude faz coisa julgada


material? É possível a reabertura da investigação e o oferecimento de

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denúncia se o inquérito policial havia sido arquivado com base em
excludente de ilicitude?
 STJ: NÃO. Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na
existência de causa excludente da ilicitude faz coisa julgada material e
impede a rediscussão do caso penal. O mencionado art. 18 do CPP e a
Súmula 524 do STF realmente permitem o desarquivamento do inquérito caso
surjam provas novas. No entanto, essa possibilidade só existe na hipótese em
que o arquivamento ocorreu por falta de provas, ou seja, por falta de
suporte probatório mínimo (inexistência de indícios de autoria e certeza de
materialidade). STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 25/11/2014 (Info 554) - STJ. 6ª Turma. RHC 46.666/MS, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 05/02/2015..
 STF: SIM. Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do
reconhecimento de excludente de ilicitude não faz coisa julgada material.
Logo, surgindo novas provas seria possível reabrir o inquérito policial, com
base no art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF. STF. 1ª Turma. HC 95211, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/03/2009. STF. 2ª Turma. HC 125101/SP, rel.
orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
25/8/2015 (Info 796) - STF. Plenário. HC 87395/PR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 23/3/2017.

Advogado que junta ao processo certidão de óbito falsa tem a extinção de


punibilidade em decorrência da morte? Segundo o STF, a morte não existiu e,
como tal, não produziu efeito, podendo o réu ser processado e julgado pelo
crime em questão novamente, não fazendo coisa julgada material. Porém,
há quem defenda que o arquivamento em razão da extinção de
punibilidade faz coisa julgada material e, como tal, insuscetível de revisão
criminal, sob pena de configurar reformatio in pejus.

ARQUIVAMENTO NAS AÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS:


Se o PGR entende que é caso de arquivamento, a decisão do procurador-
geral não precisa ser submetida à apreciação do STF. Essa decisão é
administrativa, e não faz coisa julgada formal ou material. Então, nesse caso
das ações originárias, quando se tratar de atribuição originária do PGJ ou do
PGR, prevalece o entendimento de que essa decisão administrativa de
arquivamento não precisa ser submetida à análise do Tribunal competente,
já que este não teria como aplicar o princípio da devolução (não teria como
PROCESSO PENAL | 0

mandar para outro órgão do MP). Porém, nos casos em que a decisão de
arquivamento for capaz de fazer coisa julgada material, é indispensável a
análise do órgão jurisdicional competente. Nesse sentido, INQ 1.443 e INQ
2.341.

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TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: Trata-se de medida excepcional
instrumentalizada através de habeas corpus, diante de inquérito
manifestamente abusivo e que cause flagrante constrangimento a
determinado indivíduo, nas seguintes hipóteses: (Renato Brasileiro)

1. Manifesta atipicidade formal ou material da conduta;


2. Presença de causa excludente de punibilidade;
3. Instauração de inquérito sem as condições de persecutibilidade
necessárias. Ex. requerimento do ofendido e representação, nas ações
penais de iniciativa privada e condicionada à representação,
respectivamente.

OBS.: O trancamento do inquérito também pode ser manejado através de


MS, quando NÃO houver risco à liberdade de locomocação do indivíduo. Ex.
Porte de drogas para uso pessoal, que não é sujeito à pena privativa de
liberdade e também diante de pessoas jurídicas.

- DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL: (SÚM 524 STF)


Não confunda o desarquivamento com o início da ação penal, pois a ação
só pode se iniciar com a presença substancial de provas novas e o
desarquivamento se justifica com a notícia de novas provas.

Para que seja realizado o desarquivamento são necessárias provas novas ou


a simples notícia de provas novas? Existe um aparente conflito entre o art. 18
do CPP e a Súmula 524, STF. Há duas correntes sobre esse assunto, mas a
posição dominante aduz que para desarquivar o IP, basta a
simples notícia de provas novas, porque o IP é o minus (grão de areia) se
comparado à ação penal (tanque de areia). Então, a autoridade policial,
tendo notícia de provas novas, poderá proceder a novas diligências. Já a
corrente minoritária diz que para desarquivar o IP será necessário o
surgimento de provas formal e materialmente novas e desde que sejam
aptas a produzir alteração no panorama probatório dentro do qual foi
concedido e acolhido o pedido de arquivamento (nesse sentido:RHC
18.561/ES, STJ), não sendo suficiente a simples notícia.

Já para propositura da ação penal, deve ser seguida a exegese da súmula


524, do STF - “Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a
PROCESSO PENAL |

requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada,


sem novas provas”. As provas novas ou novas provas são aquelas provas
capazes de alterar o contexto probatório dentro do qual foi proferida a
decisão de arquivamento. Elas podem ser de duas espécies:

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a) Prova formalmente nova → é aquela que já era conhecida, mas ganhou
nova versão após o arquivamento. Ex. Testemunha que muda o seu
depoimento.
b) Prova materialmente/ substancialmente nova → é aquela prova que
estava oculta por ocasião do arquivamento. É uma prova inédita,
desconhecida. Ex. uma arma do crime encontrada depois do arquivamento.

ARQUIVAMENTO INDIRETO: O arquivamento indireto ocorre quando o


membro do Ministério Público, em vez de propor a denúncia, posiciona-se
pela incompetência do juízo ao qual está vinculado. O Promotor de Justiça
alega que não possui atribuição para analisar o fato e postula o
encaminhamento do inquérito policial ao juízo competente. Ao juiz, quando
recebe esse pedido, abrem-se duas possibilidades: (a) concorda com o
membro do Ministério Público e remete ao juiz competente, declinando de
sua competência; ou (b) não aceita a manifestação ministerial e aplica o
art. 28 do CPP. Como verificado, não se trata, propriamente, de um pedido
de arquivamento, mas de um conflito de atribuições entre membros do MP.

ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO: Não é aceito pela jurisprudência e doutrina


majoritárias.

(ARQUIVAMENTO IMPLICITO OBJETIVO) - IP instaurado em face de auto de


prisão em flagrante em face de JOSE em razão da pratica de dois crimes:
art. 33 (11343/06) e o art. 244-B do ECA. Jose tem 24 anos e foi encontrado
praticando o crime com João, 17 anos. O inquérito é enviado ao MP e, ao
formar sua opinio delicti, oferece a denúncia à José somente pela prática
do art. 33, hipótese em que o juiz também recebe a denúncia(11343/06). Se
o MP está diante de autos de inquérito que apontavam para dois crimes e
somente denunciou apenas um dos delitos, despachando o juiz pelo
arquivamento, ocorreria arquivamento implícito do outro crime.

(ARQUIVAMENTO IMPLICITO SUBJETIVO) Tenho IP que apura crime X, onde foi


apurada autoria de Pedro e Paulo e devidamente encaminhado ao MP. No
entanto, o MP somente oferece a denúncia em face de PEDRO, onde o juiz
recebe a denúncia conforme fora proposta pelo MP.

A doutrina e jurisprudência majoritárias posicionam-se pela impossibilidade


PROCESSO PENAL | 0

do arquivamento implícito, devendo o arquivamento ser expresso, pois, se


assim não o for, ocorrerá violação do princípio da fundamentação das
decisões, obrigatoriedade da ação penal por parte do MP e,
principalmente, pelo fato do arquivamento ser um ato formal, devendo ser

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requerido pelo MP ao juiz e este despachando pelo arquivamento. OS
TRIBUNAIS SUPERIORES (STF E STJ) SÓ ACEITAM O ARQUIVAMENTO EXPLICITO.
Para quem não admite o arquivamento implícito, é possível o aditamento da
denúncia para incluir fato ou sujeito sem a necessidade de novas provas.
Ademais, caso não ocorra o arquivamento explícito, entende-se em aberto
as investigações, podendo vir a ensejar em ação penal privada subsidiária
da pública.

A tese do arquivamento implícito é construção de Helio Tornaghi e


desenvolvida pelo Afrânio Silva Jardim, fundamentando-se no princípio da
obrigatoriedade da ação penal pública. O arquivamento implícito opera-se
a luz do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, porque se a
denúncia é obrigatória e não chega a alcançar todos os indiciados e ou
crimes é porque concluiu o MP implicitamente pela falta de justa causa. E se
o juiz recebe a denúncia despachando pelo arquivamento e não aplicou o
art. 28 do CPP é porque também teria concluído pela falta de justa causa,
operando-se assim o arquivamento implícito, sustentando-se, ainda o
princípio da segurança jurídica ao réu não-denunciado. Para quem admite
o arquivamento implícito não é possível aditar a denúncia para incluir novos
fatos ou sujeitos sem a existência de novas provas. Ademais, se adotada esta
tese, não haverá espaço para ação penal privada subsidiária da pública.

RECURSO DA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL:


Em regra, a decisão de arquivamento do inquérito é irrecorrível, contudo,
nos crimes contra economia popular, se o (art. 7 1521) juiz arquivar o
inquérito ou absolver o réu existe RECURSO DE OFÍCIO ao Tribunal, mesmo
sem existir processo.

Ademais, a Lei 1.508/51, art.6º, p.ú., prevê cabimento de RESE diante do


arquivamento nas contravenções do jogo do bicho e nas hipóteses de
corrida de cavalos fora do hipódromo. Lei especial prevê cabimento de RESE
nesse sentido.

Outrossim, quando diante de arquivamento do Inquérito pelo juiz de ofício,


em que não houve pedido do MP, entende-se que aqui houve um error in
procedendo do juiz, um tumulto processual. Nesse caso, o ideal é trabalhar
com uma correição parcial.
PROCESSO PENAL |

INDICIAMENTO:
Indiciar é apontar alguém como provável autor do delito, quando presentes
indícios de autoria e prova de materialidade. Trata-se de ato privativo da

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autoridade policial, geralmente feito ao final do inquérito. O indiciamento é
próprio da fase investigatória e não pode ser feito depois que o processo
judicial estiver em andamento .O indiciamento não possui previsão legal expressa,
sendo caracterizado como uma construção pretoriana com base no art. 6º
V do CPP que lista as etapas investigatórias a serem cumpridas pela
autoridade policial. Trata-se de um ato privativo do Delegado sem momento
procedimental específico para ocorrer no inquérito, que pode ser dar, por
exemplo, já na instauração ou mesmo após, em um dos relatórios
apresentados pelo Delegado ao longo do inquérito. (art. 10 § 1º a 3º do CPP
c/c art. 16 do CPP). Portanto, se a atribuição para efetuar o indiciamento é
privativa da autoridade policial, não se afigura possível que o juiz, o Ministério
Público ou uma Comissão Parlamentar de Inquérito requisitem ao delegado
de polícia o indiciamento de determinada pessoa". Na mesma linha, eis o
teor do novel art. 2, §6, da Lei n. 12.830/13: "O indiciamento, privativo do
delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
circunstâncias".

OBS: No caso da prisão em flagrante e lavratura do APFD, há indiciamento e


instauração de inquérito simultaneamente. Segundo Renato Brasileiro, o
indiciamento pode se materializar no próprio APFD, como também no
relatório.

Quem pode ser indiciado? A regra é que qualquer pessoa pode ser
indiciada. Mas existem exceções. Atenção! Pessoas que não podem ser
indiciadas: Acusados com foro por prerrogativa de função: apesar de não
haver previsão legal expressa, o Supremo entendeu que é necessária
autorização do Ministro ou Desembargador Relator, não só para instauração
das investigações, como também para o indiciamento de tais investigados.
STF – Inquérito 2411 – QO - MT

ATENÇÃO: O indiciamento após o oferecimento da denúncia é ilegal e


desnecessário, importando constrangimento ilegal. (STJ HC 165600 e HC
179.951-SP)

Segundo Renato Brasileiro, em relação à possibilidade de indiciamento no


âmbito dos Juizados, entende-se que, por força da simplicidade que norteia
PROCESSO PENAL | 0

a própria investigação das infrações de menor potencial ofensivo, é inviável


o indiciamento em sede de termo circunstanciado.

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO:

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A conclusão do inquérito policial se dá inicialmente com a elaboração de
um RELATÓRIO da autoridade policial. Relatório é uma peça de caráter
descritivo, que aponta as principais diligências realizadas ao longo do
inquérito. Não deve ser feito juízo de valor – deve apontar quem foi ouvido,
as provas que foram feitas etc. Na hipótese de drogas a autoridade,
EXCEPCIONALMENTE, deve emitir juízo de valor sobre o caso – art. 52 da Lei
11.343/06.

O relatório, assim como o Inquérito, é dispensável. Não é obrigatória a


utilização para ter início a ação penal. De qualquer sorte, embora não
possam o juiz e o promotor exigir do delegado a realização de relatório,
quando este não se fizer presente no inquérito, tais autoridades poderão
comunicar a omissão à Corregedoria-Geral da polícia civil com vistas à
adoção das medidas disciplinares e administrativas cabíveis.

Uma vez elaborado o relatório, o inquérito deverá ser remetido ao Poder


Judiciário, de acordo com CPP. Por conseguinte, recebido os autos de
inquérito, o juiz deverá, nos crimes de ação penal pública, abrir vista ao MP
para que adote alguma das providências cabíveis; se crime de ação penal
privada, os autos ficam em cartório (com o juiz) aguardando a iniciativa da
vítima.

ATENÇÃO: Não é ilegal a portaria editada por Juiz Federal que, fundada na
Res. CJF n. 63/2009, estabelece a tramitação direta de inquérito policial
entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. O inquérito policial
“qualifica-se como procedimento administrativo, de caráter pré-processual,
ordinariamente vocacionado a subsidiar, nos casos de infrações perseguíveis
mediante ação penal de iniciativa pública, a atuação persecutória do
Ministério Público, que é o verdadeiro destinatário dos elementos que
compõem a ‘informatio delicti'”. A tramitação direta de inquéritos entre a
Polícia Judiciária e o órgão de persecução criminal traduz expediente que,
longe de violar preceitos constitucionais, atende à garantia da duração
razoável do processo, bem como aos postulados da economia processual e
da eficiência. Em relação ao respeito ao contraditório e amapla defesa
típicos da fase de investigação, registre-se que o art. 5º da Res. CJF n.
63/2009 prevê expressamente que “os advogados e os estagiários de Direito
regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil terão direito de
examinar os autos do inquérito, devendo, no caso de extração de cópias,
apresentar o seu requerimento por escrito à autoridade competente“. É
verdade, porém, que a referida Resolução do CJF ser objeto, no STF, de
ação direta de inconstitucionalidade – ADI 4.305 -, o feito, proposto em 2009
PROCESSO PENAL |

pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, ainda está


concluso ao relator, não havendo notícia de concessão de pedido liminar.
No julgamento, o STJ fez questão de registrar que não se olvida a existência
de julgado do STF, nos autos da ADI 2.886, em que se reconhece a
inconstitucionalidade de lei estadual que determinava a tramitação direta

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do inquérito policial entre o Ministério Público e a Polícia Judiciária, por
entender padecer a legislação de vício formal, mas alertou que esse
julgamento se arrastou desde 2005 e vários Ministros que votaram para tal
conclusão não mais se encontram na composição atual do STF, razão pela
qual não haveria como afirmar como certa a possível declaração da
inconstitucionalidade da Resolução do CJF objeto da ADI 4.305. (STJ RMS
46.165-SP)

Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a autoridade


policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição
congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados
relativos à infração penal e à pessoa do indiciado, independentemente do
processo ser sigiloso ou não. (Art. 23)

Jurisprudência pertinente ao cargo de Delegado: É inconstitucional


dispositivo de CE que exija que o Superintendente da Polícia Civil seja um
delegado de polícia integrante da classe final da carreira. STF. Plenário. ADI
3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/11/2016 (Info 847).

Esse material é de uso exclusivo do Coachee/aprendiz do Coaching do


Canal Carreiras Policiais, sendo protegido por direitos autorais (copyright),
nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação
sobre direitos autorais e dá outras providências.

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