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A AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E

JULGAMENTO
PROFESSOR: JEFFERSON CALILI
A AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E
JULGAMENTO

A audiência de instrução e julgamento é o principal ato


do procedimento comum (ordinário ou sumário), pois é o
momento da produção e coleta da prova, seja ela
testemunhal, pericial ou documental e, ao final, proferida
a decisão.

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Partindo do princípio da identidade física do juiz (em que


aquele que presidiu a coleta da prova deve ser o mesmo que
ao final julgue, art. 399, § 2º), estabeleceu o legislador uma
audiência onde toda a prova deve ser produzida. Essa
aglutinação de atos funciona em muitos processos “simples”,
com um ou poucos réus e um número reduzido de
testemunhas para serem ouvidas, mas é inviável em
processos complexos, onde haverá uma pluralidade de
audiências.
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Para esse ato, serão as partes intimadas (logo, o réu é citado


para apresentar resposta escrita e intimado para a instrução, onde
será interrogado) e requisitado o acusado se estiver preso.
O art. 400 determina que nessa audiência sejam ouvidos, em
primeiro lugar, a vítima, após, as testemunhas arroladas pela
acusação e defesa (não pode haver inversão), eventuais
esclarecimentos dos peritos, acareações e reconhecimento de
pessoas e coisas, finalizando com o interrogatório.

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No que tange à oitiva dos peritos (art. 400, § 2º, do CPP), deverão
as partes requerer a oitiva com antecedência mínima de 10 dias da
audiência de instrução e julgamento, nos termos do art. 159, § 5º, I,
do CPP.
Quanto à prova testemunhal, em primeiro lugar, devem ser
ouvidas as testemunhas arroladas pela acusação e, após, as
testemunhas indicadas pela defesa. Como regra, a inversão dessa
ordem gera ato processual defeituoso insanável, que conduz à
nulidade, mas isso não se aplica quando a inversão decorrer da
expedição e cumprimento de carta precatória ou rogatória.
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Importante sublinhar que as testemunhas (8 para cada parte, não


computadas as informantes e referidas) são arroladas pelas partes,
mas não são “da parte”, mas sim do processo. Isso é muito
importante para evitar uma leitura equivocada do art. 401, § 2º,
quando afirma que “a parte poderá desistir da inquirição de qualquer
das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste
código”.
Mais do que a possibilidade de o juiz ouvir uma testemunha que a
parte ou as partes tenham desistido, é fundamental não esquecer
que o princípio do contraditório é inafastável.
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Daí por que não pode ser admitida uma desistência


unilateral.
Se quem arrolou uma testemunha quer desistir da sua
oitiva, deverá o juiz intimar a outra parte para se
manifestar e, não havendo concordância, deverá ser
produzida a prova. Isso evita surpresas e manipulações,
mas, acima de tudo, é uma imposição do contraditório e
o direito à prova.
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É importante destacar que o interrogatório finalmente foi colocado em seu


devido lugar: último ato da instrução. É neste momento que o réu poderá
exercer sua autodefesa positiva ou negativa (direito de silêncio), sendo
obrigatória a presença do defensor (ver arts. 185 a 196 do CPP).
A oitiva de testemunhas por carta precatória ou rogatória não influi na
ordem com que devem ser ouvidas as demais testemunhas (logo, não há
inversão). Contudo, o interrogatório deve, efetivamente, ser o último ato.
Dessa forma, não poderá ser realizado enquanto não retornarem todas as
cartas precatórias expedidas.

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Preocupante é a autorização contida no art. 405, § 2º, do CPP. O


parágrafo primeiro estabelece que, “sempre que possível, o registro dos
depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito
pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou
técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das
informações”.
Até aqui, tudo bem, trata -se de inserir tecnologia no processo e tornar
mais fidedigno o material colhido. O problema está no parágrafo segundo:
no caso de registro por meio audiovisual, será encaminhada às partes
cópia do registro original, sem necessidade de transcrição.

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A inserção de tecnologia é bem -vinda, mas existem


limites da administração da justiça e do ritual judiciário
que devem ser respeitados. Se uma audiência é
gravada (áudio e vídeo), isso não pode excluir a
necessária transcrição. Os recursos não se excluem,
senão que se complementam.

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Entregar, ao final da audiência, um CD é um grave erro, que


causará grande prejuízo para todos. Quem (juiz, promotor,
advogados de defesa ou assistentes da acusação) ficará horas e
horas assistindo a depoimentos para elaborar memoriais ou mesmo
um recurso de apelação? E o duplo grau de jurisdição, como fica?
Que desembargador fará isso antes de julgar um recurso? Nenhum.
Elementar que essa pseudoagilidade cobre um preço impagável.
Destarte, parece -nos que a transcrição é fundamental para
assegurar o direito de defesa e do duplo grau de jurisdição.

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A Lei n. 11.719/2008 desenhou um procedimento


fundado na aglutinação de todos os atos de instrução
numa mesma audiência. Essa regra, como dissemos no
início, é aplicável em processos simples, mas inviável
nos complexos, que demandarão várias audiências, seja
pelo excessivo número de testemunhas ou porque, ao
final da instrução, são postuladas e deferidas diligências.

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O art. 402 abre a possibilidade de as partes, diante da


prova produzida, requererem diligências (perícias, oitiva
de testemunhas referidas, juntada de documentos etc.)
“cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos
apurados na instrução”. Nesse caso, não haverá debate
oral, mas sim alegações finais, por memorial, no prazo
sucessivo de 5 dias, cabendo primeiro ao acusador
apresentar suas alegações e após, sucessivamente (ou
seja, sem nova intimação), a defesa ou defesas.
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Os memoriais (ou alegações finais orais) constituem um momento


crucial do processo, onde cada uma das partes fará uma minuciosa
análise do material probatório e fará sua última manifestação no
processo. Após elas, os autos irão conclusos para sentença do juiz.
É a oportunidade de desenvolver as teses acusatória e defensiva,
nas dimensões fáticas e jurídicas, buscando a captura psíquica do
julgador. As alegações finais defensivas podem arguir questões
preliminares e de mérito, fazendo, ao final, os respectivos pedidos.

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Para a defesa, é uma peça de suma importância e sua falta


conduz à necessidade de feitura do ato (recordando PONTES
DE MIRANDA: o que falta não foi feito e, pois, não pode ter
defeito, deve ser feito), ou seja, a sentença deve ser anulada
e determinada a apresentação da defesa escrita, com a
repetição do ato decisório. Na classificação tradicional,
estamos diante de uma nulidade absoluta.

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À acusação incumbe analisar a prova colhida, fundamentando a


comprovação da autoria e da materialidade, ou, caso não tenham
sido suficientemente demonstradas, postular a absolvição do réu.
Em se tratando de ação penal de iniciativa privada, é obrigatório o
pedido expresso de condenação, sob pena de perempção, nos
termos do art. 60, III, do CPP. Deverá sempre a acusação
apresentar primeiro sua peça, bem como o assistente, se houver,
manifestando-se após a defesa. Caso seja juntado algum
documento novo nessa fase, deverá o juiz oportunizar o
contraditório, para que a outra parte se manifeste.
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Quando, ao final da audiência de instrução, não for


postulada nenhuma diligência ou forem denegados pelo
juiz eventuais pedidos, segue -se o disposto no art. 403,
com alegações finais orais pelo prazo de 20 minutos,
respectivamente, pela acusação e defesa, prorrogáveis
por mais 10 minutos, proferindo o juiz sentença na
continuação.

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Considerando a complexidade do caso ou o número


excessivo de acusados, poderão as partes requerer que
as alegações finais orais sejam substituídas por
memoriais, que, uma vez deferidos pelo juiz, deverão
ser apresentados no prazo de 5 dias (sucessivos,
iniciando pela acusação). Nesse caso, deverá o juiz
proferir sentença em 10 dias.

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OBRIGADO!
Bibliografia: LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 12. ed.
São Paulo: Saraiva, 2016.

Dúvidas, fale com o professor: mf.jcalili@hotmail.com


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