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EXMO. SR. DR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DO FÓRUM REGIONAL


DE SANTA CRUZ

Processo nº 0006048-65.2022.8.19.0206

TJRJ SCR CR01 202303325468 09/06/23 12:08:17139572 PROGER-VIRTUAL


RONIEL CARDOSO DOS SANTOS, já qualificado nos autos do
processo em epígrafe, vem, pela Defensora Pública infrafirmada, nos termos do art.
396-A do Código de Processo Penal, apresentar

RESPOSTA

nos seguintes termos:

DA NULIDADE DA CITAÇÃO

Verifica esta defensora que a certidão lavrada pela OJA no index 485
não traz duas informações absolutamente indispensáveis para que o ato de
triangularização da relação processual seja considerado realizado: a correta
identificação do acusado (não há menção a qualquer documento do mesmo, e nem
sua assinatura) e a informação no mandado no sentido de que, se aquele não
constituísse advogado, seria nomeada a Defensoria Pública para a salvaguarda de
seus interesses (index 472).

Em verdade, o mandado traz a singela informação de que a finalidade


é a citação do réu, não tendo a OJA certificado que deu a este a ciência de que
deveria constituir advogado particular ou indicar a Defensoria Pública. Sendo assim,
em nome do princípio da ampla defesa, requeiro seja renovado o ato citatório, com
as cautelas acima mencionadas, já que a escolha de profissional para a defesa de
seus interesses é corolário do princípio constitucional da ampla defesa.

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DANIELLA CAPELLETI VITAGLIANO:8352502 Assinado em 09/06/2023 12:06:34


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MERITUM CAUSAE

Não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia, o que restará


comprovado no curso da presente instrução criminal, reservando-se a defesa à
apreciação do mérito ao final desta, caso não seja a denúncia rejeitada, nos termos
do artigo 395 do Código de Processo Penal, diante da notória ausência de justa causa
para a deflagração da persecução penal em juízo.

Requer a produção de todas as provas admitidas em direito, arrolando


as testemunhas ao final elencadas e pugnando por sua intimação, bem como por
eventual substituição, caso entenda o Juízo pela designação de audiência de
instrução e julgamento, em atenção ao princípio constitucional da ampla defesa,
cabendo ressaltar que o réu foi citado por precatória e não houve qualquer contato do
mesmo com esta defensora até o momento.

Desde já, na hipótese de designação de AIJ, requer a defesa seja


utilizado o sistema para a gravação de todos os depoimentos prestados, em
razão da necessidade de disponibilizar a prova produzida às partes com a maior
fidedignidade possível, cabendo ressaltar a concessão da ordem no HC 428.511-RJ
perante o Superior Tribunal de Justiça, impetrado pela Defensoria Pública, bem como
no HC 564025-RJ, em processo originado nesse juízo, tendo ambos anulado as
audiências de instrução realizadas sem a utilização de meios ou recursos de gravação
audiovisual. No primeiro HC citado, salientou o Relator, Ministro Ribeiro Dantas, que

“Em síntese, a partir da entrada em vigor da Lei n. 11.719/2008,


a melhor exegese da disposição legal que regula a matéria não
comporta outra interpretação senão a de que o juiz que
disponha de meio ou recurso para gravação deverá,
obrigatoriamente, utilizá-lo para o registro dos depoimentos de
investigado, indiciado, ofendido, testemunha e, inclusive, de réu.
Excepcionalmente, ante impedimento fático, poderá o

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magistrado proceder à colheita dos depoimentos por meio da


sistemática tradicional, desde que motivadamente justifique a
impossibilidade, sem que isso inquine de ilegalidade o ato”

No segundo HC, acima mencionado, julgado em 13 de maio deste ano,


decidiu-se da seguinte forma:

“ ... Acerca da pretensão principal da impetrante, este Superior


Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que "o art. 405, §
1.º, do CPP não impõe a obrigatoriedade do sistema técnico de
gravação em audiência na hipótese em que não esteja
disponível para tanto, pois vigora no processo penal o princípio
da instrumentalidade. Contudo, sendo possível a gravação
audiovisual do interrogatório, o texto legal expressamente
prioriza sua utilização para o registro dos atos de audiência, não
sendo facultado ao Magistrado processante optar por outro
método de registro, sob pena de violação do postulado do
devido processo legal." (HC 455.754/RJ, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 06/08/2019, DJe 19/08/2019,
grifouse). No mesmo sentido, confira-se:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. ROUBO MAJORADO.
INSTRUÇÃO PROCESSUAL. COLHEITA DE DEPOIMENTOS.
SISTEMA DE REGISTRO AUDIOVISUAL. DISPONIBILIDADE.
UTILIZAÇÃO. OBRIGATORIEDADE. ART. 405, § 1º, DO CPP.
NULIDADE. OCORRÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. Esta Corte e o Supremo
Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não
cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto
para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da

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impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante


ilegalidade no ato judicial impugnado. 2. O legislador federal, por
meio da Lei n. 11.719/2008, promoveu, entre outras, alteração
no Código de Processo Penal consistente na inserção do atual
§ 1º do artigo 405, o qual determina que os depoimentos de
investigados, indiciados, ofendidos e testemunhas serão
registrados, "sempreque possível", por "meios ou recursos de
gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar,
inclusive audiovisual". 3. Não há motivo para que o registro de
interrogatório do réu deixe de observar a mesma sistemática
exigida para a colheita dos depoimentos de investigado,
indiciado, ofendido e testemunha, apesar da omissão do
legislador. 4. Verifica-se, a partir da leitura da parte final do
aludido § 1º do art. 405, que as alterações promovidas pela Lei
n. 11.719/2008 objetivaram a implementação não só dos
princípios da razoável duração do processo e da celeridade
processual (art. 5º, LXXVIII, da CF), mas, também, do
contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LX, da CF), na medida
em que a utilização de meios ou recursos de gravação
audiovisual, para o registro de depoimentos, é "destinada a
obter maior fidelidade das informações". 5. A expressão legal
"sempre que possível" apenas ressalta a manutenção do
registro de depoimento por meio do método tradicional, sem
gravação audiovisual, na hipótese em que não exista,
faticamente, sistema disponível para tanto. 6. A partir da entrada
em vigor da Lei n. 11.719/2008, a melhor exegese da disposição
legal que regula a matéria não comporta outra interpretação,
senão a de que o juiz que disponha de meio ou recurso para
gravação deverá, obrigatoriamente, utilizá-lo para o registro dos
depoimentos de investigado, indiciado, ofendido, testemunha e,
inclusive, de réu. Excepcionalmente, ante impedimento fático,
poderá o magistrado proceder à colheita dos depoimentos por

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meio da sistemática tradicional, desde que motivadamente


justifique a impossibilidade, sem que isso inquina de ilegalidade
o ato. 7. No caso em exame, o Juízo de primeiro grau,
conquanto tivesse à sua disposição sistema para gravação
audiovisual de depoimentos, deixou de utilizá-lo para a colheita
dos depoimentos no âmbito da instrução processual penal, o
que configura ilegalidade. 8. Habeas corpus não conhecido.
Ordem concedida de ofício para anular as audiências de
instrução realizadas, sem a utilização de meios ou recursos de
gravação audiovisual, assim como os demais atos
subsequentes ocorridos no âmbito da Ação Penal n. 0030229-
37.2016.8.19.0014. Ordem de imediato relaxamento da prisão
imposta ao paciente, salvo, evidentemente, se por outro motivo
estiver preso, autorizando a fixação de outras medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP, a critério do Juiz de
primeiro grau. Ressalva quanto à possibilidade de nova
decretação da custódia cautelar, desde que apresentados
motivos concretos para tanto." (HC 428.511/RJ, deste Relator,
julgado em 19/04/2018, DJe 25/04/2018).

Verifica-se, assim, a partir da leitura da parte final do aludido §


1º do art. 405, que as alterações promovidas pela Lei n.
11.719/2008 objetivaram à implementação não só dos princípios
da razoável duração do processo e da celeridade processual
(art. 5º, LXXVIII, da CF), mas, também, dos princípios da
oralidade, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LX, da
CF), que em última análise se voltam à perfectibilização da
reconstrução mais próxima possível do fato jurídico delituoso
ocorrido. Em outros termos, de acordo com o sistema penal
vigente, a utilização de meios e recursos de gravação
audiovisual, para o registro de depoimentos, é " destinada a
obter maior fidelidade das informações". (...)

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Houve, ademais, o intuito de – inclusive, em prol dos princípios


anteriormente mencionados – ampliar a simplificação e
economia dos atos processuais, bem como de privilegiar a
aplicação do princípio da oralidade. Nessa linha, "as inovações
introduzidas no Código de Processo Penal pelas Leis ns.
11.689/2008 e 11.719/2008 atenderam ao objetivo de
simplificação e economia dos atos processuais, bem como ao
princípio da oralidade na produção da prova em audiência.
(RMS 36.625/MT, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2016, DJe 01/08/2016,
grifou-se). Entende-se, assim, que a partir da entrada em vigor
da Lei n. 11.719/2008, a melhor exegese da disposição legal
que regula a matéria não comporta outra interpretação senão a
de que o juiz que disponha de meio ou recurso para gravação
deverá, obrigatoriamente, utilizá-lo para o registro dos
depoimentos de investigado, indiciado, ofendido, testemunha e,
inclusive, de réu. De mais a mais, a expressão legal "sempre
que possível" apenas ressalta a manutenção do registro de
depoimento por meio do método tradicional, sem gravação
audiovisual, na hipótese em que não exista, faticamente,
sistema disponível para tanto. Logo, e xcepcionalmente, ante
impedimento fático, poderá o magistrado proceder à colheita
dos depoimentos por meio da sistemática tradicional, desde que
motivadamente justifique a impossibilidade, sem que isso
inquina de ilegalidade o ato. Desse modo, conferiu-se ao
magistrado que disponha de sistema para a gravação
audiovisual a obrigação de utilizá-lo. (...) É igualmente
consolidado, porém, que o reconhecimento de ilegalidade a
ensejar a anulação do ato processual exige a efetiva
demonstração de prejuízo, devendo a parte prejudicada
suscitálo na primeira oportunidade de se manifestar nos autos,

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sob pena de preclusão. A propósito, cito: HC 520.233/RJ, Rel.


Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
15/10/2019, DJe 28/10/2019; e HC 462.160/RJ, deste Relator,
QUINTA TURMA, julgado em 06/11/2018, DJe 13/11/2018. No
caso em exame, consoante informações prestadas, tem-se que
houve pedido da defesa para gravação audiovisual no momento
da audiência. O Juízo de 1º grau, contudo, indeferiu o pleito,
indicando que, "de acordo com a exegese do art. 405 do Código
de Processo Penal, a norma permiti o uso de novos meios
tecnológicos para a gravação de audiências, mas não impede
que o juiz opte por não utilizar os referidos meios para a colheita
dos depoimentos." (e-STJ, fl. 77). Na ocasião, portanto, não se
esclareceu eventual impedimento técnico para a utilização da
mídia audiovisual, tecnologia esta que a Defensoria Pública
aponta ser existente na 1ª Vara Criminal Regional de Santa
Cruz/RJ (eSTJ, fl. 8) A seu turno, a Corte de origem rechaçou a
preliminar defensiva ao fundamento de que a norma do
dispositivo em questão (art. 405, §1º, do CPP) "constitui mera
recomendação" ao juízo processante. (e-STJ, fl. 24) Desse
modo, diante da jurisprudência desta Corte, acima destacada, e
da fundamentação apresentada para o indeferimento do pleito
defensivo, bem como considerando que houve irresignação
expressa e tempestiva por parte da defesa, verifica-se a
ocorrência de ilegalidade apta a justificar a concessão da ordem
de ofício. (...)”

Estando disponível o equipamento na sala que é rotineiramente utilizada


pelo juízo para as audiências de réus presos (antiga sala do júri), não há qualquer
impedimento à sua utilização, que preserva as impressões obtidas quando das
inquirições, sendo tal medida salutar e de acordo com os princípios da razoável
duração do processo, da celeridade e da ampla defesa. Para evitar qualquer alegação

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de que não haveria tempo hábil para a utilização de tal equipamento, bem como o de
que a defesa não fez o requerimento oportunamente, serve o presente para que haja
tempo suficiente para as providências cabíveis a fim de acionar o sistema.

Da mesma forma, desde já, na hipótese de designação de audiência de


instrução e julgamento, requer seja observada a ordem de inquirição das
testemunhas nos termos do artigo 212 do Código de Processo Penal, tendo em
vista que o ordenamento jurídico pátrio adota o sistema acusatório, devendo as
perguntas ser formuladas pelo Ministério Público em primeiro lugar, seguido pela
defesa e ao final, se necessário, pelo magistrado.

Rio de Janeiro, 09 de junho de 2023.

DANIELLA VITAGLIANO
DEFENSORA PÚBLICA
MAT. 835.250-2
Rol de Testemunhas
1. As da denúncia;
2. Carlos Alberto de Oliveira;
3. Cesar Alcântara Olmo;
4. Claudia de Assis Omerinda.

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