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FACULDADE EVANGÉLICA RAÍZES

DIREITO PROCESSUAL PENAL III


AULA 03

O PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO

O Processo Penal se inicia com o recebimento e não com o


oferecimento da denúncia. Embora haja forte divergência doutrinária no
que se refere ao início da ação penal, 1 prevalece o entendimento de que
esta se inicia com o recebimento da Denúncia.

Por óbvio, é também após o recebimento da denúncia que o


procedimento se distingue entre os diferentes ritos, já que as regras
constantes dos artigos 395 a 3972 são comuns aos procedimentos de
primeiro grau em geral.

Assim, após a resposta à acusação e ainda ao recebimento da


denúncia, toma corpo a forma ritualística ordinária, na fase do artigo 399
do CPP.

DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO, DEBATES E JULGAMENTO

O primeiro ponto a ser considerado é a contradição técnica da


redação do artigo, vez que certamente, pelo menos do prisma legal 3 não
será este o momento de recebimento da denúncia, mas sim, antes da
citação do acusado. Assim, ao ler o referido artigo, entenda-se como:

“quando não tiver sido rejeitada liminarmente a inicial e


também não tiver sido o caso de absolvição sumária, o juiz
designará dia e hora para audiência”.

A Lei determina que serão intimados para a audiência o acusado4


e seu defensor e ainda o Ministério Público (ou o querelante) e seu
assistente se for o caso. Por força do artigo 201, § 2º do CPP, a vítima
também será intimada da audiência, independentemente se for arrolada a
prestar declarações.

1
Oferecimento da Denúncia: Nucci, Mirabete, Tourinho.
Recebimento da Denúncia: Pacelli, STJ e STF.
2
Também fazem parte do procedimento comum ordinário. Ver aula 02.
3
Não garantista. Vide art. 396 CPP.
4
Se for réu preso, deverá ser requisitado a comparecer sob pena de nulidade.

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No caso do procedimento ordinário, a audiência de instrução,


debates e julgamento, deverá ocorrer, conforme artigo 400, caput, em no
máximo 60 (sessenta) dias. A lei não especifica o dies a quo desse prazo,
mas tem-se pela doutrina que há de ser contado a partir do ato do 399,
data do despacho do magistrado designando a audiência.

O § 2º do 399 ainda prevê expressamente a observância ao


Princípio da Identidade Física do Juiz, ditando que o juiz que presidir a
instrução deverá proferir a sentença.

Também visando observar os Princípios da Concentração,


Celeridade e Economia Processual, o art. 400, § 1.º, a produção de todas as
provas em uma só audiência. Evidentemente, esse parágrafo está se
referindo à prova oral mencionada no caput do dispositivo e não a outras
provas cuja natureza exija realização a posteriori (requisição de
documentos, novas perícias etc.)

Não obstante, nada impede que a audiência única seja


desmembrada em várias solenidades distintas, ou seja, que se inicie em
uma determinada data, mas que, pela impossibilidade de produção de
todas as provas nesse mesmo dia 5 tenha seu prosseguimento em outras
datas distintas.

Pois bem, caso todas as pessoas notificadas estejam presentes ao


ato, deverá o juiz, no curso da instrução, proceder-lhes à oitiva na seguinte
ordem:

1. Ofendido (Vítima): Conforme dispõe o art. 201, caput, sempre


que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser seu autor, as provas
que possa indicar, sem tomar-lhe compromisso legal.

2. Testemunhas arroladas pela acusação e, após, as arroladas


pela defesa: Embora seja esta a ordem prevista no art. 400 do CPP, não
necessita ser observada quando se tratar de testemunha que, por residir
fora da comarca, deva ser ouvida por precatória.

Destarte, nada impede a oitiva de testemunha de defesa na


comarca em que corre o processo, mesmo que haja, pendente de oitiva,

5
Tempo insuficiente para a oitiva de todos no mesmo dia; Ausência de determinada testemunha sem sua dispensa; Mal
súbito de um dos sujeitos processuais, etc.

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testemunha de acusação no juízo deprecado. Neste aspecto, harmoniza-se


o art. 400, caput, com o disposto no art. 222, § 1.º, este último dispondo
que a expedição da precatória não suspende a instrução criminal.

Por fim, destaca-se que o art. 400 do Código de Processo


expressamente exige que os depoimentos ocorram nesta ordem.

OBS - Questão relevante a ser discutida é se É lícito a qualquer


das partes proceder à desistência unilateral de testemunha
arrolada?

Segundo o art. 401, § 2.º, as partes poderão desistir da inquirição


de testemunhas arroladas, ressalvado o previsto no art. 209 6 do CPP.

A lei não exige, para que haja a desistência de testemunha por


qualquer dos sujeitos processuais, a aquiescência da parte ex adversa.
Assim, caso o interesse na oitiva da testemunha seja de interesse mútuo,
melhor que tanto acusação como defesa a arrolem para não serem
surpreendidos com a dispensa unilateral de sua oitiva. Nesse caso, as
testemunhas seriam comuns da acusação e da defesa, não podendo uma
das partes delas desistir sem a aquiescência da outra.

Obs. - Se faltar alguma testemunha de acusação e o promotor


insistir em sua oitiva, o juiz não poderá ouvir as testemunhas de defesa
que estejam presentes. Deverá redesignar a audiência para que primeiro
seja ouvida a testemunha de acusação faltante e, somente depois, as da
defesa.

Se o juiz verificar que a presença do réu está intimidando


testemunhas ou a vítima, prosseguirá a audiência sem sua presença.7

De acordo com o art. 2128 do CPP, as perguntas serão formuladas


pelas partes diretamente à testemunha. Esta regra é aplicável a qualquer
procedimento penal, comum ou especial.

6
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes.
7
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e,
somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do
seu defensor.
8
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que
puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.

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Contudo, no interrogatório do réu, a lei determina ainda a


utilização dos sistema presidencialista9, mas alguns juízes flexibilizam tal
sistema permitindo as perguntas diretas ao réu, por entenderem não trazer
prejuízo à defesa. Já nos julgamentos pelo Tribunal do Júri, as perguntas
dos jurados dirigidas tanto ao réu como às testemunhas, ainda são
intermediadas pelo Juiz presidente da sessão.

* Embora adotemos o sistema processual acusatório, sendo


obrigação das partes a produção das provas que entenderem necessárias,
em busca da Verdade Real, o Juiz também poderá determinar a produção
das provas que entender necessárias, inclusive inquirindo diretamente as
testemunhas, após finalizadas as perguntas dos sujeitos processuais.

Após estas oitivas, poderão haver então, os ESCLARECIMENTOS


DOS PERITOS que são chamados para esclarecer pontos da perícia ou
mesmo a responder novos quesitos em audiência, desde que estes sejam
enviados com no mínimo 10 dias de antecedência; as ACAREAÇÕES entre
testemunhas divergentes desde que estejam incomunicáveis até por
questões óbvias de utilidade da acareação e também para evitar
intimidações ou constrangimentos; o RECONHECIMENTO DE COISAS E
PESSOAS com estrita observância de suas regras próprias. 10

O INTERROGATÓRIO DO RÉU

Depois de produzida a prova oral (vítima, testemunhas, perito


etc.), o réu dará aos fatos a sua própria versão. É a chamada
AUTODEFESA. O réu tem a oportunidade de expor os fatos e dar as
versões que melhor lhe convierem. É o respeito aos princípios do
Contraditório e à Ampla Defesa que faz com que o réu seja o último a ser
ouvido. Contudo, se preferir o silêncio, este não poderá ser interpretado em
seu desfavor. O interrogatório deve do ser realizado de acordo com as
regras estatuídas nos arts. 185 a 196 do CPP.

Obs.: Sempre que possível, o registro dos depoimentos do


ofendido, testemunhas e réu será feito por meio de gravação audiovisual,
obtendo-se, assim, maior fidelidade das informações (art. 405, § 1.º). Neste
último caso – registro por meio audiovisual – será encaminhado às partes

9
Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido,
formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.
10 Art. 226 a 228 CPP.

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cópia do registro original, sem a necessidade de transcrição (art. 405, §


2.º).

REQUERIMENTO DE DILIGÊNCIAS E ALEGAÇÕES FINAIS ORAIS OU


POR MEMORIAIS

Após produzidas as provas orais em audiência, sendo encerrada a


instrução, facultará o juiz ao Ministério Público, ao querelante e ao
assistente, e, a seguir, ao acusado, requererem as diligências cuja
necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na
instrução (art. 402), as quais poderão ser indeferidas pelo juiz se as
considerar irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (simetria ao art.
400, § 1.º).

Nesta fase que se segue à produção da prova oral em audiência,


duas situações distintas poderão ocorrer:

1ª) As partes não requerem qualquer diligência ou são


indeferidas pelo juiz as diligências postuladas. Em tal situação, o juiz
oportunizará, imediatamente, às partes, a apresentação de alegações finais
orais, concedendo, primeiro à acusação e, após, à defesa, o prazo de vinte
minutos, prorrogáveis por mais dez. (art. 403).

Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de


cada um será individual (§ 1.º). Se houver assistente de acusação
habilitado nos autos, este, após o tempo do Ministério Público, terá dez
minutos para suas alegações. Nesse caso, o tempo destinado às alegações
da defesa, a serem oferecidas logo depois, também será acrescido desse
quantitativo. Vencida esta etapa, proferirá o juiz, em
audiência, sentença, sem embargo da possibilidade a ele conferida pelo
art. 403, § 3.º, no sentido de, em vista da complexidade do caso ou do
número de acusados, conceder às partes o prazo de cinco dias,
sucessivamente, para apresentação de memoriais escritos, caso em que ele,
magistrado, terá o prazo de dez dias após a conclusão dos autos para
proferir sentença (art. 403, § 3.º).

2ª O juiz determina diligências ex officio ou defere as que


tenham sido requeridas pelas partes: nessa hipótese, a audiência será
concluída sem as alegações finais orais (art. 404, caput).

Cumpridas as diligências requeridas ou as que tiverem sido


determinadas oficiosamente, serão acusação e defesa notificadas para a

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apresentação de memoriais escritos no prazo de cinco dias,


sucessivamente, proferindo o juiz, depois, sentença em dez dias (art. 404,
parágrafo único).

Sobre a obrigatoriedade ou não de apresentação dos tais


memoriais11 tem-se que sob a ótica da defesa, a posição dominante sempre
foi no sentido da imprescindibilidade de sua apresentação, tal se
constituindo em corolário da ampla defesa, já que se trata do último
momento que se manifesta, nos autos, o advogado, antes da sentença. Já
no enfoque acusatório, sendo crime de ação pública, o não oferecimento
não produz reflexos na regularidade do processo. Tratando-se, contudo,
de crime de ação penal privada exclusiva, é obrigatório ao querelante
não apenas que os apresente, mas também que postule a condenação,
sob pena de extinção da punibilidade pela perempção (art. 60, III, do
CPP)12.

Observação Pertinente: Descabe recurso específico da decisão do


juiz que defere ou indefere as diligências pretendidas.

Entretanto, contra o deferimento, se evidenciado o caráter


meramente protelatório ou a evidente ausência de fundamento da
providência solicitada, poderá o interessado ingressar com correição
parcial ou até mesmo mandado de segurança (que não possuem natureza
recursal).

Contudo, caso sejam indeferidas, a atuação processual da parte


prejudicada dependerá do procedimento adotado pelo juiz em audiência. Se
o juiz proferir sentença em audiência, na forma do art. 403, caput, do CPP,
restará ao prejudicado apelar da sentença, arguindo, em preliminar,
nulidade processual por cerceamento de acusação ou de defesa, conforme o
caso.

Se, no entanto, relegar o juiz a prolação da sentença para


momento posterior, na forma do que lhe é autorizado pelo art. 403, § 3.º,
do CPP, poderá o interessado, nesse interregno entre o encerramento da
audiência e a publicação da sentença, deduzir impugnações como o habeas
corpus, o mandado de segurança e a própria correição parcial para tentar
modificar a decisão judicial que indeferiu as diligências oportunamente
requeridas.

11
Ainda hoje na praxe forense, chamados popularmente de Alegações Finais.
12 Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: (...)
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar
presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; (...).

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Observação: Conforme se percebe do art. 403, havendo mais de


um réu, o tempo destinado em alegações finais orais para a defesa de cada
um será considerado individualmente. Para sustentação relacionada a dois
réus, por exemplo, terá o advogado o tempo estipulado em 40 minutos (20
min. + 20 min.). Há divergência na doutrina se a acusação teria acesso ao
mesmo prazo.

A SENTENÇA

Como se viu, se realizadas as alegações finais em audiência, de


forma oral, poderá o juiz, na própria solenidade judicial, proferir sentença
(art. 403, caput).

Se entender o magistrado por substituir as alegações orais por


memoriais escritos em face da complexidade do caso, do número de
acusados (art. 403, § 3.º) ou da necessidade de serem realizadas diligências
(art. 404, parágrafo único), faculta-se ao juiz o prazo de dez dias, após lhe
serem conclusos os autos, para prolatar a sentença.

Conforme já explicitado, em relação à sentença, importante


inovação foi estatuída pelo Código no art. 399, § 2.º, ao instituir, no
processo penal, o princípio da identidade física do juiz.

LAVRATURA DO TERMO DE AUDIÊNCIA: estabelece o art. 405


do CPP que, do ocorrido em audiência, será lavrado termo assinado pelo
juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos
no curso da solenidade.

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ANEXO I

QUADRO SINÓTICO PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO

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