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PROVAS NO PROCESSO DO TRABALHO

1.1 Princípios das provas

As provas processuais são essenciais no estabelecimento do desenrolar da relação


jurídico-processual, visto que elas se destinam a moldar o entendimento e a decisão do órgão
julgador da demanda e são constituídas como uma garantia fundamental processual.

O direito à prova transcende o aspecto individual para adquirir feição


publicista, pois não interessa somente às partes do processo, mas também a toda a
sociedade, que os fatos discutidos em juízo sejam esclarecidos. Além disso, na fase
probatória do processo, devem ser observados, com muita nitidez, os princípios do
contraditório, da ampla defesa e do acesso à justiça.1

Faz-se necessário, para o devido entendimento do instituto prova, que sejam


demonstrados os princípios que lhe abarcam, haja vista que esses são ideias basilares e
fundamentais do Direito, dando base à construção legal da atividade jurídica.

O Direito vigente está impregnado de princípios até as suas últimas


ramificações. Eles estão presentes na sua elaboração, interpretação, aplicação e
integração. Pode-se dizer que os princípios dão consistência ao Direito, enquanto os
valores lhe dão sentido. Ao se elaborar uma norma jurídica, deve-se antes escolher
os valores e princípios que se deseja consagrar.2

Assim, alguns princípios norteiam a natureza probatória no Direito do Trabalho. De


início, o Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa, Corolário Constitucional, descrito no
artigo 5º, inciso LV da nossa Constituição Federal de 1988, que são intrinsecamente
interligados com o Princípio do Devido Processo Legal e consagram-se na exigência de um
processo formal e regular3. O contraditório é o direito do interessado de ser notificado de
alegações da parte contrária e poder apresentar defesa, de modo a auxiliar para a decisão final
do julgador. Por sua vez, a ampla defesa garante que o cidadão utilize de todos os meios
legais disponíveis, amparando o direito de defesa. Dentro da teoria das provas, o contraditório
e a ampla defesa garantem aos litigantes o direito recíproco de trazer seus elementos
probatórios e de se manifestarem reciprocamente acerca de tais4.
Adiante, o princípio da necessidade da prova determina que apenas as alegações das
partes processuais não se fazem suficiente para tomada de decisão final do julgador, devendo
cada parte comprovar suas alegações, já que fatos não provados são inexistentes no processo5.

1
Mauro Schiavi. Teoria Geral Da Prova No Processo Do Trabalho À Luz Do Novo Cpc. P.259
2
Ana Carolina Moura Targueta, Guilherme Paulo Garulo e Marina Ribeiro de Freitas. Princípios gerais do
Direito. Disponível em:
https://anacarolinatargueta.jusbrasil.com.br/artigos/307654998/principios-gerais-do-direito
3
Caio César Soares Ribeiro Patriota. Princípio da contraditório e da ampla defesa. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/56088/principio-da-contraditorio-e-da-ampla-defesa
4
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.2
5
Amanda Fagundes. Princípio da necessidade da prova no processo do trabalho. Disponível em:
http://estudojustrabalhista.blogspot.com/2013/01/principio-da-necessidade-da-prova-no.html
A necessidade da prova depende do encargo probatório das partes no processo e da avaliação
das razões da inicial e da contestação, como expressa o art. 818, da CLT.6 Assim, o ônus da
prova é das partes que alegam os fatos e o julgador não pode se deixar convencer apenas por
meras alegações7, mesmo que essas sejam convincentes, devendo sua decisão ser respaldada
pelo arcabouço comprobatório.
O princípio da unidade da prova, por sua vez, designa que a prova deve ser analisada
em seu conjunto, e não separadamente. Do contrário, seria admitir-se o exame isolado de
provas contraditórias entre si, gerando instabilidade jurídica no processo de composição da
lide8. É o que podemos ver nesse julgado do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região:

INOVAÇÃO RECURSAL. VEDAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO.Não se


conhece de matéria arguida somente nas razões recursais, por se tratar de inovação à
lide, prática vedada pelo ordenamento jurídico (art. 460 do CPC). VALORAÇÃO
DA PROVA. NULIDADE DO JULGADO. NÃO CONFIGURAÇÃO. A decisão
que analisa o conjunto probatório para, ao
final, concluir pela improcedência do pedido objeto da ação, não se atendo
a determinada prova não pode, por isso, ser declarada nula, porquanto nenhuma
prova serve sozinha para evidenciar a satisfação de um direito ou o cumprimento de
uma obrigação, já que a sua valoração deve ser feita em confronto com os demais
elementos existentes nos autos (princípio da unidade da prova). PROVA
TESTEMUNHAL INCONSISTENTE. SUPERIORIDADE DA PROVA
DOCUMENTAL. HORAS EXTRAS INDEVIDAS. Deve prevalecer a prova
documental, quando a prova testemunhal é insuficiente para afastá-la. Indevido,
portanto, o pedido de condenação em horas extras.460CPC (1050200900222003 PI
01050-2009-002-22-00-3, Relator: ARNALDO BOSON PAES, Data de
Julgamento: 22/02/2010, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJT/PI, Página
não indicada, 19/3/2010).

Prosseguindo, o Princípio da proibição da prova obtida ilicitamente, abordado no


artigo 5º inciso LVI da Constituição Federal, define que o direito à produção de prova não
pode ser absoluto, sendo proibido o uso de provas adquiridas por meios ilícitos. Luiz
Guilherme Marinoni9 define prova ilícita como: "A prova é ilícita quando viola uma norma,
seja de direito material, seja de direito processual". Entretanto, admite ponderações quando
visado à luz da proporcionalidade e razoabilidade10. São palavras de Paulo Osternack do
Amaral, a respeito do tema:

o ordenamento jurídico brasileiro veda o aproveitamento no processo de


provas obtidas por meios ilícitos (CF/1988, art. 5, LVI). Trata-se da imposição pela
constituição de um limite moral ao direito à prova, que norteia a conduta das partes
e a atividade do juiz no processo. O código de processo civil contemplou em sede

6
Amanda Fagundes. Princípio da necessidade da prova no processo do trabalho. Disponível em:
http://estudojustrabalhista.blogspot.com/2013/01/principio-da-necessidade-da-prova-no.html
7
FILHO, Manoel Antonio Teixeira. A Prova no Processo do Trabalho. 8 ed. São Paulo: LTr, 2003.
8
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.2
9
Marinoni, Luiz Guilherme; Arenhart, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. São Paulo: RT, 3ª.
Edição, 2006. p. 325.
10
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.2
infraconstitucional a proibição de provas ilícitas a contrario sensu, ao admitir a
produção de provas atípicas desde que sejam legais e moralmente legítimas11

O Princípio do livre convencimento e da persuasão racional garante que o juiz forme


o seu convencimento de maneira livre, embora tenha que fundamentar suas decisões no
processo. Reporta-se à reflexão valorativa livre do magistrado, quando da aferição do grau de
veracidade dos fatos através dos elementos probatórios trazidos aos autos, nos termos dos
artigos 765 e 832 da CLT12. Cintra, Grinover e Dinamarco13, em sua obra, descrevem que o
princípio do livre convencimento “regula a apreciação e avaliação das provas existentes nos
autos, indicando que o juiz deve formar livremente sua convicção. Situa-se entre o sistema da
prova legal e o julgamento secundumconscientiam”.
Outro princípio essencial no Processo do Trabalho é o Princípio da Oralidade. Esse
tem o condão de simplificar o procedimento, dando uma maior celeridade ao mesmo e
efetividade da jurisdição, solucionando conflitos e realizando a prestação jurisdicional de
maneira eficaz14. Encontrado nos artigos 845, 848, 852 e 852-H da CLT, esse princípio
sustenta a a da produção de provas na audiência de instrução e julgamento15. A oralidade
corresponde a um direito fundamental determinado pelo diálogo processual, ou seja, pela
comunicação entre as partes. Podemos observar o que diz Cleber Lúcio de Almeida:

Vale esclarecer, em relação à identidade física do juiz, que, com a extinção


da representação classista nos órgãos da Justiça do Trabalho e passando o
julgamento do dissídio a ser realizado, em Primeira Instância, por um único juiz, o
entendimento esposado pelo TST na Súmula n.136 deve ser revisto, uma vez que o
processo do trabalho procura estabelecer um real diálogo entre as partes e o juiz e
entre este e as pessoas que tenham que prestar depoimento (testemunhas e peritos).
Para que esse diálogo produza o resultado que se pretende – conduzir à verdade e à
realização da justiça- é imperioso que julgue o dissídio o juiz que colheu a prova em
audiência, salvo as hipóteses mencionadas no art. 132 do CPC.16

Adiante, o Princípio da Imediação permite ao magistrado colher diretamente e


determinar as provas cuja produção entende necessárias17. É o princípio da imediatidade ou
da imediação que permite um contato direto do juiz com as partes, testemunhas, peritos,
terceiros e com a própria coisa litigiosa, objetivando firmar o seu convencimento, mediante a
busca da verdade real. No processo trabalhista esse princípio vem indicando o privilegiar da
interpretação que o juiz de 1º grau dá aos fatos demonstrados de forma oral (prova oral),
como podemos ver nos seguintes julgados, de forma exemplificativa:

11
Amaral, Paulo Osternack. Provas. São Paulo: RT, 2015. p. 190.
12
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.2
13
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. GRINOVER. Ada Pelegrini. DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. 24 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.
14
Maria Luiza Oliveira. Princípios no direito processual trabalhista. Disponível em:
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/12141/Principios-no-direito-processual-trabalhista
15
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.2
16
ALMEIDA, Cleber Lúcio de, 2009, p.72
17
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.2
TRT 3 Região. Prova. Valoração. Princípio da imediatidade da prova.
Prestígio à avaliação probatória efetuada em primeiro grau de jurisdição. A tarefa de
se atribuir novo valor à prova oral em sede de recurso é bastante complexa, porque
o juiz que preside ao interrogatório, em contato direto com as partes, prepostos e
testemunhas, detém, em regra, maior possibilidade para valorar os depoimentos
colhidos, pois possui melhores condições de observar o modo dúbio ou esquivo
como elas respondem às perguntas, bem assim suas expressões corporais, o que lhe
permite chegar bem mais próximo da verdade. No corpo do acórdão: “É oportuno
lembrar que a tarefa de se atribuir novo valor à prova oral em sede de recurso é
bastante complexa, porque o juiz que preside ao interrogatório, em contato direto
com as partes e testemunhas, detém, em regra, maior possibilidade para valorar o
depoimento colhido, pois possui melhores condições de observar o modo dúbio ou
esquivo como elas respondem às perguntas, bem assim sua expressões corporais, o
que lhe permite chegar bem mais próximo da verdade. De tal modo, deve ser
prestigiado, como regra, o convencimento do juiz que colheu a prova. Ele, afinal, é
que manteve o contato vivo, direto e pessoal com as partes e testemunhas,
mediu-lhes as reações, a segurança, a sinceridade, a postura. Aspectos, aliás, que
nem sempre se exprimem, que a comunicação escrita, dados os seus acanhados
limites, não permite traduzir. O juízo que colhe o depoimento" sente "a testemunha.
É por assim dizer um testemunho do depoimento. Seu convencimento, portanto,
está melhor aparelhado e, por isso, deve ser preservado, salvo se houver elementos
claros e contundentes a indicar que a prova diz outra coisa. Destarte, não emergindo
dos autos nenhum elemento que induza à convicção de que se equivocou o Juízo
monocrático na valoração da prova coligida aos autos, deve prevalecer o
convencimento por ele firmado, com base nas vivas impressões colhidas por
ocasião da produção das provas. É que o critério de valoração da prova atende,
também, ao princípio da imediatidade do contato com a prova produzida.18

Ainda se tratando de princípios do Direito Processual do Trabalho, há o Princípio da


aquisição processual, que impossibilita a livre disposição dos elementos de prova pelas partes
quando estes já estão incorporados ao processo (autos)19. Dessa forma, uma vez
disponibilizado no processo, não é permitido o desentranhamento da prova dos autos, visto
que essa se torna pertencente ao processo em curso. Portanto, uma prova produzida dentro
do processo passa a gerar efeitos para todos os sujeitos processuais, não sendo possível ao
juiz valorar uma prova de forma diferente para sujeitos processuais diferentes somente
porque um foi o responsável por sua produção e o outro não20. Sobre o tema, há muito já
havia se manifestado o magistrado Portanova:

Sendo o fim da prova levar a certeza à mente do juiz, para que possa falar
conforme a justiça, diz Echandia, há um interesse indubitável e manifesto em razão
da função que desempenha no processo. É o princípio do interesse público na
função da prova. É evidente, cada parte persegue, com suas próprias forças, um
benefício próprio e imediato. Contudo, há de se considerar, ainda, o interesse

18
BRASIL. Jurisprudência. TRT-3 - RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA : RO 00547201214303007
0000547-73.2012.5.03.0143
19
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.3
20
Maria Eduarda Sangalli Silva. O princípio da comunhão da prova e o processo eletrônico. Disponível em:
https://egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-princ%C3%ADpio-da-comunh%C3%A3o-da-prova-e-o-processo-eletr%
C3%B4nico
público mediato que está acima dos benefícios específicos das partes. Em
consequência, a prova nunca pertence a uma ou outra parte, mas ao juízo. Por igual,
o benefício que se retira do elemento probatório não se vincula somente ao interesse
da parte que produziu tal prova. É o princípio da comunhão ou comunidade da
prova, também chamado de aquisição.21

Por fim, o Princípio in dúbio pro misero, é aplicado em harmonia com o princípio da
Livre Persuasão racional, autoriza ao juiz, presente dúvida razoável na valoração da prova,
interpretá-la em benefício do trabalhador22. Assim, quando houver a hipótese de uma norma
comportar mais de uma interpretação possível, em respeito ao princípio da proteção e do in
dubio pro misero, o aplicador da lei deve optar pela hipótese mais favorável ao trabalhador.
Dessa forma, o princípio do in dubio pro misero é uma forma de garantir o direito dos
empregados (considerado mais frágil) em casos de dúvida do processo pelo julgador ou juiz,
como quando ocorre algum tipo de conflito referente a normas23. É necessário destacar,
porém, que existe grande divergência doutrinária sobre a possibilidade de aplicação da regra
do in dubio pro operario no âmbito processual, sobretudo em se tratando de matéria
probatória.

21
PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 3. ed. Campinas: Livraria do Advogado, 1999.
22
Tiago Fernandes De Souza. Provas No Processo Do Trabalho. P.3
23
JOÃO VITÓRIO NETTO. Princípio do In Dubio Pro Misero. Disponível em:
https://vitorionetto.com.br/principio-do-in-dubio-pro-misero/
ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do Trabalho. 3°ed.Belo Horizonte: Del Rey,
2009.

AMARAL, Paulo Osternack. Provas. São Paulo: RT, 2015. p. 190.

BRASIL. Jurisprudência. TRT-3 - RECURSO ORDINARIO TRABALHISTA : RO


00547201214303007 0000547-73.2012.5.03.0143

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. GRINOVER. Ada Pelegrini. DINAMARCO, Cândido


Rangel. Teoria Geral do Processo. 24 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.

FAGUNDES, Amanda. Princípio da necessidade da prova no processo do trabalho.


Disponível em:
http://estudojustrabalhista.blogspot.com/2013/01/principio-da-necessidade-da-prova-no.html

FILHO, Manoel Antonio Teixeira. A Prova no Processo do Trabalho. 8 ed. São Paulo: LTr,
2003.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de


conhecimento. São Paulo: RT, 3ª. Edição, 2006. p. 325.

NETTO, João Vitório. Princípio do In Dubio Pro Misero. Disponível em:


https://vitorionetto.com.br/principio-do-in-dubio-pro-misero/

OLIVEIRA, Maria Luiza. Princípios no direito processual trabalhista. Disponível em:


https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/12141/Principios-no-direito-processual-trabalhis
ta

PATRIOTA, Caio César Soares Ribeiro. Princípio da contraditório e da ampla defesa.


Disponível em: https://jus.com.br/artigos/56088/principio-da-contraditorio-e-da-ampla-defesa

PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 3. ed. Campinas: Livraria do Advogado,


1999.

SCHIAVI, Mauro. Teoria Geral Da Prova No Processo Do Trabalho À Luz Do Novo Cpc.
P.259. Disponível
em:https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/93951/2016_schiavi_mauro_te
oria_geral.pdf?sequence=1&isAllowed=y

SILVA, Maria Eduarda Sangalli. O princípio da comunhão da prova e o processo eletrônico.


Disponível em:
https://egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-princ%C3%ADpio-da-comunh%C3%A3o-da-prova-e-
o-processo-eletr%C3%B4nico

SOUZA, Tiago Fernandes de. Provas No Processo Do Trabalho. Disponível em:


http://www.montedehollanda.com.br/artigos/TiagoC.pdf

TARGUETA, Ana Carolina Moura; GARULO, Guilherme Paulo; FREITAS, Marina Ribeiro
de. Princípios gerais do Direito. Disponível em:
https://anacarolinatargueta.jusbrasil.com.br/artigos/307654998/principios-gerais-do-direito

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