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V.

ANÁLISE LEGAL DO CASO

1. EXCEÇÕES PRELIMINARES

01. No art. 61 da CADH, está estipulado que somente os Estados-parte e a própria

Comissão é que podem submeter um caso à CIDH 1. Logo, de pronto, cabe concluir que o

Egrégio Tribunal possui a competência para julgar o caso sub litis. Vale lembrar, contudo, que

a apresentação de um caso por um Estado-parte não significa, necessariamente, na renúncia das

exceções preliminares, que serão apresentadas, conforme o estoppel2, e a vontade estatal de ser

prioritário de defesa na audiência pública.

a. Da ilegitimidade ativa da CAPM para peticionar à CIDH

02. A CAPM não possui legitimidade ativa para realizar o peticionamento, afinal, conforme

previsto no art. 44 da CADH, unicamente pessoas, grupos de pessoas ou entidades não

governamentais legalmente reconhecidas por Estados da OEA são legítimos de fazê-lo3. A

CAPM, a saber, jamais individualizou seus membros, não é consagrada por nenhum membro

da OEA e não possui, nem mesmo, um estatuto, devendo a aplicação do precedente ser

afastada.

b. Do não esgotamento dos recursos internos

03. O esgotamento dos recursos internos é um princípio/requisito internacional de defesa do

Estado salvaguardado pelo direito internacional4, e, por ser subsidiária5, a esfera internacional,

quer seja, a Corte, só pode ser provocada se já houver sido esgotada a jurisdição interna.

1Corte IDH. Caso Lori Berenson Meíja Vs. Perú. Fondo, Reparaciones y Costas. 2004. Serie C. No. 119, §238;
Corte DH. Assunto Viviana Gallardo Vs. Costa Rica. 1981. Serie A. No. 101, §1; GARCIA RAMÍREZ, Sergio. La
jurisdicción interamericana de derechos humanos. México. 2006, p. 93.
2Corte IDH. Caso Masacres de Río Negro Vs. Guatemala. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas.

2012. Serie C. No. 250, §25.


3FAÚNDEZ LEDESMA, Héctor. El Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos: aspectos

institucionales y procesales. IDH: San José de Costa Rica, 2004, p. 243


4Corte IDH. Asunto de Viviana Gallardo y otras Vs. Costa Rica. Ibidem, §26.
5Corte IDH. Caso Velásquez Rodríguez Vs. Honduras. Fondo. Serie C. No. 04. 1988, §61; Corte IDH. Caso

Godínez Cruz Vs. Honduras. Fondo. 1989. Serie C. No. 5, §64; Corte IDH. Caso Fairén Garbi y Solís Corrales Vs
Honduras. Fondo. Serie C. No. 06. 1989. §85.
Assertivamente, conforme a norma do estoppel, Malbecland demonstrou o recurso a ser

utilizado, vez que não se esgotaram os recursos internos 6, qual seja, o recurso de apelação

interposto. Esse recurso é acessível às aparentes vítimas, vez que possuam a representação da

CAPM e a ajuda da AMI7, o que impede a renúncia tácita da exceção preliminar e inverte o

ônus da prova acerca da existência de uma exceção do art. 46, parágrafo 2º, da CADH.

2.2. Da não violação aos art. 5 da CADH em relação aos arts. 1.1 e 2 da CADH

04. Pelos critérios de verificação do grau de ofensa ao direito do art. 5 da CADH serem

complexos, o Egrégio Tribunal tem entendimento posto que se deve analisar casuisticamente 8.

Aqui, não há o que se falar em lesão à integridade física, especificamente sobre o direito de

inviolabilidade do corpo frente a influências exteriores mal conduzidas 9, ou mesmo em

denúncia de tortura e exposição a tratamento desumano, degradante ou cruel. Afinal, nem no

ferimento da mão direita do Sr. Estrella, nem na pancada sofrida por Walter Alberto, o Estado

ou qualquer agente estatal produziram ou deixaram realizar ações que pudessem causar os

danos corporais nas aparentes vítimas.

05. Tampouco havia motivos para exigir que Malbecland evitasse o mencionado dano10,

pois o que lhe causou foi uma fatalidade 11, e, ao revés, acabaria culminando em outorgar uma

6Corte IDH. Caso Masacres de Río Negro Vs. Guatemala. Excepción Preliminar, Fondo, Reparaciones y Costas.
2012. Serie C. No. 250, §25; Corte IDH. OC 11/90. Excepciones al agotamiento de los recursos internos. 1990.
Serie A. No. 11, §41; Corte IDH. Caso Godínez Cruz. Ibidem, §90; Corte IDH. Caso Velásquez Rodríguez. Serie
C. No. 04. Ibidem, §88.
7
Corte IDH. OC-11/90. Ibidem, §33

8
Corte IDH. Caso Loayza Tamayo Vs. Perú. Fondo.1997. Serie C. No. 33, §57; Corte IDH. Caso Bueno Alves Vs.
Argentina. Fondo, Reparaciones y Costas. 2007. Serie C. No. 164, §83; Corte IDH. Caso Ximenes Lopes. Ibidem,
§127; Corte EDH. Case of Selmouni v. France. no 25803/94. 1999. §95;
9 CANOSA USERA, Raúl. El derecho a la integridad personal. 1ª Ed. Valladolid: Lex Nova, 2006. p. 287.
10Corte IDH. Caso Valle Jaramillo y otros vs. Colombia. Fondo, Reparaciones y Costas. 2008. Serie C. No. 192,

§77; Corte IDH. Caso Masacre de Pueblo Bello vs. Colombia. 2006. Serie C. No. 140, §113. Corte IDH. Caso
"Masacre de Mapiripán" vs. Colombia. Fondo, Reparaciones y Costas. 2005. Serie C. No. 134, §111.
2
carga impossível e desproporcional ao Estado, atitude frontalmente desaprovada pela Casa 12.

Pelo contrário, eles foram auxiliados com acesso irrestrito ao sistema público de saúde, e com

qualidade, como pede o art. 1.1 da CADH, tanto que Walter jamais argumentou acerca de

medida provisional diante do SIDH, o que demonstra a ausência de urgência, gravidade e

necessidade de se prevenir aparente dano irreversível 13.

06. Em seguida, também as integridades morais e psíquicas das aparentes vítimas foram

contempladas. Afinal, não se tem notícia de sentimentos de humilhação e degradação ou

exposição a danos psíquicos, menos ainda ao ponto de estimular, conforme entendido no art. 2

da CIPPT, a verificação de tortura psicológica 14. Em síntese, permite-nos concluir que não só a

vida, mas a vida digna e, inclusive, o projeto de vida salvaguardado pelo art. 5 da CADH,

foram mantidas e, principalmente, reconstruídas. Nesse sentido, o conceito que, para a Corte,

advém da exegese do art. 4 da CADH15, não sofre violação de direito algum, conforme alegado,

afinal, foi Malbecland que concedeu a Walter o acesso à educação pública de qualidade e ao Sr.

Estrella oportunidade no mercado de trabalho.

11ROXIN, Claus. Derecho Penal. Tomo I. Fundamentos. La estructura de la teoria Del delito. Madrid: Civitas,
1997.p.363.
12Corte IDH. Caso Masacre de Pueblo Bello. Ibidem, §124; Corte EDH. Case of Öneryildiz vs. Turkey. N.

48939/99. 2004. §93; Corte EDH. Case of Kiliç vs. Turkey. N. 22492/33. 2000. §§ 62-63;
13FAÚNDEZ LEDESMA. Ibidem, p. 377
14Corte IDH. Caso del Penal Miguel Castro Vs. Perú. Excepciones Preliminares, Fondo, Reparaciones y Costas.

2006. Serie C. No. 160, §278-279.


15Corte IDH. Caso Loayza Tamayo. Serie C No. 42. Ibidem § 148.

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