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Universidade do Estado da Bahia


Faculdade de Direito
Disciplina: Processo Penal I
Docente: Prof. Fernando Pimentel
Discente: Pedro Augusto Bernardo Lima Ferreira

Iº Questionário

Questão 01: Explique os princípios descritos no artigo 8º da Convenção


Americana de Direitos Humanos.
Resposta: Podem ser extraídos do Artigo 8º da Convenção Americana de
Direitos Humanos os seguintes princípios processuais: a) contraditório (1, 2.a.) ; b)
direito de defesa (2.b., 2.c, 2.d., 2.e., 2.f, 2.g., 3); c) garantia do estado de inocência
(2, caput); d) duplo grau de jurisdição (2.h); e) Ne Bis In Idem (4); f) publicidade dos
atos processuais (5).

Questão 02: A Constituição da República garante expressamente o


princípio da imparcialidade do juiz? Explique.
Resposta: Os princípios constitucionais são normas norteadoras do
próprio texto da Carta Magna, por isso muitas vezes não constam expressamente
desta. É o caso do princípio da imparcialidade do juiz. O que está explícito na
Constituição Federal é a igualdade de todos perante a lei (art. 5, caput) e a
necessidade de motivação dos atos judiciais (art. 93, IX). Ora, se o juiz deve
reconhecer que as partes são formalmente iguais, deve se abster de preferir e preterir
qualquer delas e, portanto, deve ser imparcial. Da mesma forma, só é necessário que
o juiz motive todas as suas decisões para permitir que o próprio Estado e a população
possam monitorar e agir caso o magistrado distoe da imparcialidade. Outras normas
explícitas que indicam a submissão da Constituição Federal a este princípio são as
garantias e vedações aos membros do poder judiciário e a garantia de juiz natural.

Questão 03: Diferencie imparcialidade objetiva e subjetiva.


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Resposta: O Tribunal Europeu de Direitos Humanos tem firmado


sucessivas jurisprudências acerca do tema da imparcialidade do juiz. De um lado, há
a imparcialidade subjetiva, ligada à formação de convicção do magistrado, que deve
ser despida de preferências e preconceitos; de outro, a imparcialidade objetiva, que
diz respeito às garantias que o juiz deve fornecer para excluir dúvidas sobre sua
imparcialidade. Se o juiz, por exemplo, antecipar seu convencimento sobre a culpa do
réu, atribuindo a ele a autoria de crime antes da sentença, é razoável suspeitar de sua
imparcialidade. Acreditar que está sendo imparcial não é, portanto, suficiente para o
magistrado, é necessário que a sociedade também o enxergue desse modo.

Questão 04: Existe juiz neutro? Explique.


Resposta: Badaró não acredita em juiz neutro. Afirma que o juiz “bouche
de la loi”, pretendido por Montesquieu, nunca existiu, pois todo juiz vive em
coletividade, sendo impossível expurgar dele o que entende por política, economia e
sociedade. O Poder Judiciário, formado pela sociedade, reflete seu pluralismo jurídico
e ideológico.

Questão 05: Explique o conceito de contraditório de Joaquim Canuto


Mendes de Almeida.
Resposta: Almeida considera que princípio do contraditório tem dois
elementos constitutivos. O primeiro refere-se à informação, ou seja, as partes devem
ter ciência dos atos da parte contrária na lide. O segundo refere-se à possibilidade (e
não à obrigatoriedade) de reação à informação. Assim, Almeida resume seu conceito
de contraditório na frase: “A ciência bilateral dos atos e termos processuais e a
possibilidade de contrariá-los”.

Questão 06: O conceito de igualdade formal é suficiente para


compreender a garantia de igualdade de partes? Explique.
Resposta: O conceito de igualdade formal não é suficiente para
compreender a garantia de igualdade de partes, pois consiste em submeter todos às
mesmas leis, independentemente de suas características individuais. A Constituição
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Federal erige como objetivos garantir o bem de todos. Evidentemente que conferir
tratamento idêntico a todos não coaduna com uma garantia equitativa do bem estar,
pois as necessidades, as oportunidades e os recursos são irregularmente distribuídos
à população. Assim, para mitigar a desigualdade real entre as partes, reconhece-se,
por exemplo, a condição desfavorável do réu no processo penal frente ao Estado, que
à época da audiência inicial já investiu amplos recursos seja no Inquérito Policial ou
no Procedimento Investigatório Preliminar do Ministério Público, sem falar da denúncia
e demais atos. Garante-se, através dos princípios da presunção de inocência, da
irretroatividade da lei penal prejudicial ao réu e outros, contrapartidas que visam atingir
uma igualdade real, material, no decorrer do processo.

Questão 07: Explique o conceito de presunção de inocência relacionando


com a última decisão do STF sobre o tema.
Resposta: O Supremo Tribunal Federal tem retificado reiteradas vezes seu
posicionamento acerca da constitucionalidade das prisões após condenação em
segunda instância. Badaró já protestava contra o entendimento firmado antes da
última decisão de novembro de 2019. O STF, que antes entendia que a prisão, quando
não temporária ou preventiva, só poderia ser decretada após esgotadas todas as
possibilidades de recursos, passou a considerar que, após a segunda instância, não
se discute mais o mérito, ou seja, já há confirmação da culpa do réu. Os demais
recursos atingiriam apenas o procedimento e não haveria justificativa para conceder-
lhes efeito suspensivo. Recentemente, em Ação Direta de Inconstitucionalidade, o
STF retificou o erro cometido e, em votação apertada, afirmou a constitucionalidade
do artigo 283 artigo do Código Penal, que enumera taxativamente as hipóteses de
prisão.

Questão 08: Explique o caráter extraprocessual da garantia da motivação.


Resposta: O caráter endoprocessual da garantia da motivação está
relacionado às possibilidades de impugnação da decisão pelas partes e de revisão
pelo próprio Estado. O caráter extraprocessual está voltado para a opinião popular,
que através dos argumentos, fatos e normas expostos na motivação das decisões,
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pode avaliar se, no julgamento, foi respeitada a legalidade, a imparcialidade e a


Justiça.

Questão 09: A sala secreta no Tribunal do Júri ofende a garantia da


publicidade? Explique.
Resposta: A sala secreta no Tribunal do Júri não ofende a garantia da
publicidade dos atos processuais, pois seu único objetivo é conferir tranquilidade aos
juízes leigos para deliberar. Há, tão somente, uma publicidade restrita, pois os
defensores e o Ministério Público acompanham o momento da votação.

Questão 10: Explique o caso Mohamed x Argentina da Corte


Interamericana de Direitos Humanos.
O artigo 8º da Convenção Americana de Direitos Humanos trata das
garantias processuais, dentre as quais o direito de recorrer a juiz ou tribunal superior
(1.h). No caso Mohamed x Argentina, a Corte Interamericana de Direitos Humanos
decidiu que, quando um réu é condenado em segunda instância, em razão de recurso
do Ministério Público contrário à sua absolvição pelo juízo de primeira instância, tem
o direito a recorrer a uma terceira instância. Nesse caso, os magistrados devem avaliar
tanto o procedimento quanto o mérito, porque ainda não fora concedido ao réu o direito
de recorrer. Para Badaró (2019), esse entendimento tem sido negligenciado pela
Justiça brasileira.

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