Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2022
Sustenta o Pedro Jr. que seu pai, Pedro Américo, ex-combatente da “Força de
Democratização”, grupo militante existente entre 1975 – 1981 cuja missão profícua era
difundir, através de folhetins, toda atrocidade realizada pelo Governo instalado no
Brasil.
Em 1979, Pedro é seqüestrado em sua casa, sendo retirado à força por forças do
Governo que o levou para lugar incerto e não sabido, sem que sua família soubesse seu
paradeiro.
Após a redemocratização, a mãe do agravante, Aline Melo, fez buscas
incessantes em todos os órgãos púbicos para saber se seu marido estava ou não vivo.
Lamentavelmente, todas suas incursões se fadaram em insucesso, deixando essa família
com um eco eterno.
Em 2000 Aline faleceu!
Em 2018, Pedro Jr., médico formado e especializado em geriatria, é convocado
a assumir um posto médico em Brasília, voltado a tratar ex-militares idosos.
Durante o atendimento, Pedro Jr se depara com um paciente atípico, pois o
mesmo quando estava sozinho com este senhor, era comum o mesmo declinar ações de
combate contra o exército, ao passo que relatara inúmeras violações de direitos
humanos, tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes que recebera em virtude de ser
considerado um desertor.
No primeiro instante, Pedro Jr achou que fosse delírio daquele senhor,
decorrente a gama de remédios ministrados.
Mas, com o tempo, a concretude como este “senhor” explicava suas
“aventuras” intrigou Dr. Pedro. Instigando-o a relatar, com mais percuciência, outras
ações, o “senhor-aventura” aferiu que conseguiu fugir das autoridades e se inserir no
hospital do exército e desde 2002 vem sendo tratado como tal.
Aturdido com este relato, às escondidas, o Dr. Pedro procurou investigar a vida
deste paciente e para sua surpresa fica estupefato ao descobrir que aquele senhor
realmente não constava nos arquivos do Exército Brasileiro.
Ampliando os termos de sua investigação, para sua arguta surpresa, ficou
atônito que aquela “figura impoluta” era, na verdade, seu pai desaparecido.
Para certificar dessa atestação, agindo à surdina, Dr. Pedro coleta sangue do
senhor, fazendo o exame de DNA que asseverou a relação de parentesco em 1º grau.
Pedro Jr imediatamente promove demanda de obrigação de fazer no intuito de
extrair seu pai daquele local, levando-o a sua residência para cuidar, curtir e amar seu
tão esperado pai.
Urge lembrar que incidentalmente a demanda de obrigação de fazer o autor
pugna danos morais pelas conseqüências das subversões realizadas pelo Estado durante
o período da ditadura militar.
Em defesa, a União não se insurge em face da obrigação de fazer, mas,
preliminarmente, alega que o prazo prescricional para promoção da demanda em face
do Estado se expirou, logo pugnando que este Juízo julgasse liminarmente extinto (com
resolução de mérito) esta demanda por força dos artigos art. 332, § 1ºc/c 487, II, do
CPC.
1. No caso em comento, o Estado poderia responder pelos danos decorrentes de sua
ação e omissão? Explique sua resposta. No caso, se a responsabilização do Estado
advier da ação e omissão qual espécie de responsabilidade deve ensejar? Objetiva ou
subjetiva. Explique.
A responsabilidade civil pode ser tida como a sanção imputada àquele que por
um motivo ou outro (ato ilícito) causa lesão à terceiro e por tal motivo tem o dever de
repará-lo moral ou materialmente. A responsabilidade estatal não se resume tão somente à
indenização patrimonial decorrente de conduta objetiva. Faz-se pertinente a distinção das
condutas do Estado e das responsabilidades por elas geradas.
III - No contexto que envolve as questões referentes aos atos atentatórios aos direitos
humanos, a Lei 9.140 de 1995 é taxativa ao reconhecer a responsabilidade do Estado.
A Constituição Federal de 1988 consagrou em seu texto no Art. 37, XXI, §6º o
princípio de que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos, responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Na
prática, a Lei de Anistia atingiu perseguidos políticos e ex-guerrilheiros, mas também
beneficiou os militares, que desse modo não puderam ser julgados após a
redemocratização.
Se por um lado o STJ tem entendido que não há prescrição para essas graves
violações de direitos humanos para reparações cíveis (indenizações), a responsabilidade
civil do Estado é objetiva, sendo assegurado o direito de regresso contra o responsável que
neste caso os militares torna-se inviável devido à Lei nº 6.683 (Lei de Anistia).
Em outro caso a Justiça de São Paulo extinguiu 2018, o processo que havia
condenado o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em
2015, ao pagamento de uma indenização de R$ 100 mil à família do jornalista Luiz
Eduardo Merlino, assassinado em julho de 1971 durante a ditadura militar.
Na decisão de primeira instância da ação por danos morais movida pela família
de Merlino, o coronel Ustra havia sido condenado à indenização por ter participado e
comandado sessões de tortura que mataram o jornalista. No entanto, a defesa de Ustra
recorreu da ação e conseguiu a extinção.
Para o procurador regional da República Marlon Weichert,
3. Nesse caso, caso Pedro Américo denuncie tais transgressões a esfera penal, a
decisão de condenação envereda a esfera cível? Explique. Se decisão for colhida na
esfera do Tribunal do Júri sua decisão deve enveredar o juízo cível? No caso da
decisão absolutória esta tem o condão de gerar repercussão na esfera cível?
Explique.
A sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível; constitui, pois, título
executivo judicial (CPC, art. 515, VI; CP, art. 91, I), razão pela qual, uma vez transitada
em julgado, já não caberá discussão sobre o cometimento do crime e sua autoria. Como
título executivo judicial a sentença será submetida apenas à execução forçada na forma
da lei. Ou, como diz o 63 do CPP, transitada em julgado a sentença condenatória,
poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o
ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Como regra, a sentença penal absolutória (definitiva ou sumária) não faz coisa
julgada no cível. Significa dizer que, salvo casos excepcionais, a sentença penal não
produzirá efeito extrapenal algum, ou seja, é irrelevante para fins não penais. Assim, por
exemplo, a sentença que absolver o réu por insuficiência de prova não trará restrição
alguma ao juízo cível, nem impedirá a vítima ou seus sucessores de postular
indenização naquele juízo.
Incide aqui o artigo 65 do CPP: Faz coisa julgada no cível a sentença penal que
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Fazer coisa julgada no cível significa aqui apenas que já não caberá discutir,
no juízo cível, se o autor agiu ou não amparado por causas de justificação, visto que tal
questão já foi resolvida no juízo criminal competente. Não significa, entretanto, que a
vítima ou seu representante legal não tenha efetivo direito à reparação do dano.
“Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhece ter sido o ato
praticado em legítima defesa, estado de necessidade, excludente de crime,
exercício regular de direito ou estrito cumprimento de dever legal. Os efeitos
civis de qualquer uma dessas excludentes penais ficam subordinados ao
que dispuser a legislação de direito privado”.
De acordo com o art. 23 do Código Penal, excluem a ilicitude: a)o estado de
necessidade; b)a legítima defesa; c)o estrito cumprimento de dever legal; d)o exercício
regular de direito.
Releva notar, ainda, que a doutrina atual diverge sobre a exata posição
sistemática de algumas dessas excludentes. Há quem defenda, por exemplo, que o
exercício regular de direito e o estrito cumprimento do dever legal não são excludentes
de ilicitude, mas de tipicidade. Além disso, a doutrina admite causas supralegais de
justificação, isto é, não previstas em lei4.
Por fim, há certos institutos que em geral afetam os efeitos penais, mas não os
efeitos civis da sentença penal condenatória, tais como: a)abolição do crime (abolitio
criminis), seja por lei, seja por decisão judicial; b)a anistia, a graça e o indulto. De
acordo com a Súmula 631 do STJ, o indulto extingue os efeitos primários da
condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou
extrapenais.
Fundamentações:
Precedentes do STJ.
Súmula 647 STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e
materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos.