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FACULDADE CESMAC DO SERTÃO

ALUNOS (AS): ISABELLE DA SILVA MENDES;

MARCOS ANDRÉ OMENA PAULINO;

MATHEUS FERREIRA DE FARIAS.

DIREITO CIVIL VII

PALMEIRA DOS ÍNDIOS/AL

2022
Sustenta o Pedro Jr. que seu pai, Pedro Américo, ex-combatente da “Força de
Democratização”, grupo militante existente entre 1975 – 1981 cuja missão profícua era
difundir, através de folhetins, toda atrocidade realizada pelo Governo instalado no
Brasil.
Em 1979, Pedro é seqüestrado em sua casa, sendo retirado à força por forças do
Governo que o levou para lugar incerto e não sabido, sem que sua família soubesse seu
paradeiro.
Após a redemocratização, a mãe do agravante, Aline Melo, fez buscas
incessantes em todos os órgãos púbicos para saber se seu marido estava ou não vivo.
Lamentavelmente, todas suas incursões se fadaram em insucesso, deixando essa família
com um eco eterno.
Em 2000 Aline faleceu!
Em 2018, Pedro Jr., médico formado e especializado em geriatria, é convocado
a assumir um posto médico em Brasília, voltado a tratar ex-militares idosos.
Durante o atendimento, Pedro Jr se depara com um paciente atípico, pois o
mesmo quando estava sozinho com este senhor, era comum o mesmo declinar ações de
combate contra o exército, ao passo que relatara inúmeras violações de direitos
humanos, tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes que recebera em virtude de ser
considerado um desertor.
No primeiro instante, Pedro Jr achou que fosse delírio daquele senhor,
decorrente a gama de remédios ministrados.
Mas, com o tempo, a concretude como este “senhor” explicava suas
“aventuras” intrigou Dr. Pedro. Instigando-o a relatar, com mais percuciência, outras
ações, o “senhor-aventura” aferiu que conseguiu fugir das autoridades e se inserir no
hospital do exército e desde 2002 vem sendo tratado como tal.
Aturdido com este relato, às escondidas, o Dr. Pedro procurou investigar a vida
deste paciente e para sua surpresa fica estupefato ao descobrir que aquele senhor
realmente não constava nos arquivos do Exército Brasileiro.
Ampliando os termos de sua investigação, para sua arguta surpresa, ficou
atônito que aquela “figura impoluta” era, na verdade, seu pai desaparecido.
Para certificar dessa atestação, agindo à surdina, Dr. Pedro coleta sangue do
senhor, fazendo o exame de DNA que asseverou a relação de parentesco em 1º grau.
 
Pedro Jr imediatamente promove demanda de obrigação de fazer no intuito de
extrair seu pai daquele local, levando-o a sua residência para cuidar, curtir e amar seu
tão esperado pai.
Urge lembrar que incidentalmente a demanda de obrigação de fazer o autor
pugna danos morais pelas conseqüências das subversões realizadas pelo Estado durante
o período da ditadura militar.
Em defesa, a União não se insurge em face da obrigação de fazer, mas,
preliminarmente, alega que o prazo prescricional para promoção da demanda em face
do Estado se expirou, logo pugnando que este Juízo julgasse liminarmente extinto (com
resolução de mérito) esta demanda por força dos artigos art. 332, § 1ºc/c 487, II, do
CPC.
1.      No caso em comento, o Estado poderia responder pelos danos decorrentes de sua
ação e omissão? Explique sua resposta. No caso, se a responsabilização do Estado
advier da ação e omissão qual espécie de responsabilidade deve ensejar? Objetiva ou
subjetiva. Explique.

Atualmente o Supremo Tribunal Federal tem entendido que a responsabilidade


civil por conduta omissiva depende da análise da omissão no caso concreto, se genérica
ou específica. Diante disso precisamos observar cada caso, no caso de Pedro por
exemplo, quando a Administração Pública deixa de executar uma atividade a que estava
obrigada e vem a causar danos aos administrados, responderá de forma objetiva. Porém,
se não estava obrigada a impedir a ocorrência do evento danoso e este decorrer
indiretamente da omissão estatal, responderá de modo subjetivo.

Segundo Cavalieri Filho, "Haverá omissão específica quando o Estado, por omissão


sua, crie a situação propícia para a ocorrência do evento em situação em que tinha o
dever de agir para impedi-lo" (2009, p. 240, grifo nosso). Nesse caso, o Estado
responderá objetivamente, já que o evento danoso se deu excepcionalmente em virtude
de sua inação, quando deveria agir e não agiu.

Logo, O Estado responderá objetivamente por atos comissivos (ação)


independente de dolo ou culpa, já se tratando de atos omissivos, o Estado responderá de
forma subjetiva quando a omissão for genérica, no caso em apresso trata-se de uma
omissão específica o estado tinha o dever de proteção de Pedro ex combatente, portanto
por ser específica responderá objetivamente.

Logo, concluímos que a responsabilidade do Estado é objetiva, fundamentada


pela teoria do risco administrativo; é objetiva porque o Estado responde pela simples
existência de nexo causal entre a atividade administrativa e o dano sofrido.

2.       Se for localizado o agente que praticou as condutas em face de Pedro


Américo seria possível abrir demanda administrativa? Nesse caso a condenação na
esfera cível obriga o julgador administrativo a se enveredar nesse sentido?
Explique.

Neste contexto há um grande impasse jurídico a ser analisado:


I - A responsabilidade civil do Estado é neste caso objetiva (TEORIA DO RISCO
ADMINISTRATIVO). É objetiva porque o Estado responde pela simples existência de
nexo causal entre a atividade administrativa e o dano sofrido.

O dever de reparação oriundo de uma conduta comissiva do Estado é aquele que


decorre da teoria do risco administrativo fundamentado na Constituição Federal artigo
37, § 6°, onde para sua configuração exige apenas que três requisitos estejam presentes
na relação, sendo eles: a ação do Estado, o nexo de causalidade e o resultado lesivo

A responsabilidade civil pode ser tida como a sanção imputada àquele que por
um motivo ou outro (ato ilícito) causa lesão à terceiro e por tal motivo tem o dever de
repará-lo moral ou materialmente. A responsabilidade estatal não se resume tão somente à
indenização patrimonial decorrente de conduta objetiva. Faz-se pertinente a distinção das
condutas do Estado e das responsabilidades por elas geradas.

II - A Lei da Anistia de 28 /08/1979.

A anistia considerou apenas os atos ocorridos entre 02 de setembro de 1961 e 15


de agosto de 1979, e valeu para pessoas nas seguintes situações:

(a) - Quem cometeu “crime político ou conexo”,

(b) - Quem cometeu crime eleitoral,

(c) - Pessoas que tiveram direitos políticos suspensos,

(d) - Servidores públicos, militares e sindicalistas punidos por atos institucionais da


ditadura

III - No contexto que envolve as questões referentes aos atos atentatórios aos direitos
humanos, a Lei 9.140 de 1995 é taxativa ao reconhecer a responsabilidade do Estado.

A Constituição Federal de 1988 consagrou em seu texto no Art. 37, XXI, §6º o
princípio de que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos, responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Na
prática, a Lei de Anistia atingiu perseguidos políticos e ex-guerrilheiros, mas também
beneficiou os militares, que desse modo não puderam ser julgados após a
redemocratização.
Se por um lado o STJ tem entendido que não há prescrição para essas graves
violações de direitos humanos para reparações cíveis (indenizações), a responsabilidade
civil do Estado é objetiva, sendo assegurado o direito de regresso contra o responsável que
neste caso os militares torna-se inviável devido à Lei nº 6.683 (Lei de Anistia).

Em 2008, o primeiro houve o primeiro caso de um militar brasileiro a ser


reconhecido como torturador pela Justiça. A família acusou o Coronel Brilhante Ustra
de chefiar torturas no DOI-Codi quando era seu comandante na capital paulista, entre
1970 e 1974. No total, são cinco os autores: um casal de membros do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB), a irmã da mulher – à época, grávida de sete meses – e os filhos do
casal, então com cinco e quatro anos. O coronel teria praticado pessoalmente atos de
tortura contra eles. O militar foi condenado por denúncias apresentadas pela família
Teles, que o acusaram de seqüestro e tortura, porém morreu aos 83 anos de idade sem
nunca ter cumprido pena alguma.

Em outro caso a Justiça de São Paulo extinguiu 2018, o processo que havia
condenado o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em
2015, ao pagamento de uma indenização de R$ 100 mil à família do jornalista Luiz
Eduardo Merlino, assassinado em julho de 1971 durante a ditadura militar.
Na decisão de primeira instância da ação por danos morais movida pela família
de Merlino, o coronel Ustra havia sido condenado à indenização por ter participado e
comandado sessões de tortura que mataram o jornalista. No entanto, a defesa de Ustra
recorreu da ação e conseguiu a extinção.
Para o procurador regional da República Marlon Weichert,

“a decisão do TJ [ao extinguir a ação de Merlino] é equivocada,


[porque] ela está em desconformidade com todos os fundamentos da
Corte Interamericana [de Direitos Humanos] e com a jurisprudência
do STJ [Superior Tribunal de Justiça]”. Foram casos movidos contra a
União, mas também nós entendemos que se aplica aos responsáveis
diretos, que são as pessoas que praticaram a violação”, disse. Ele citou
que a família do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975, também
durante a ditadura civil-militar, entrou com ação cível na década de 90
contra a União e ganhou a reparação pela Justiça.

Representantes do Ministério Público Federal disseram na ocasião que a forma


como se organizou a repressão política no Brasil consistia em um ataque sistemático e
generalizado contra a população, o que caracteriza crime contra a humanidade, e que
isso foi confirmado com a sentença da Corte.

Para a diretora do Centro de Justiça e Direito Internacional (Cejil), Beatriz


Affonso,

“a decisão da corte vale para outros crimes cometidos durante a


ditadura militar no Brasil porque as características do caso Herzog se
repetem nos demais crimes ocorridos durante o período de repressão” .

Ela disse, na época da decisão da corte interamericana, que todas as violações


praticadas por militares e civis a mando da ditadura militar, de 1964 a 1985, ocorreram
no contexto de crime contra a humanidade, tornando-as imprescritíveis.

Com o exposto acima é possível afirmar que é possível abrir demanda


administrativa, porém independentemente de condenação na esfera cível, o julgador
administrativo, neste caso, o Estado brasileiro, deverá ou deveria responder pelas ações
ou omissões, por configurar crimes contra a humanidade e contra a dignidade humana.

3.      Nesse caso, caso Pedro Américo denuncie tais transgressões a esfera penal, a
decisão de condenação envereda a esfera cível? Explique. Se decisão for colhida na
esfera do Tribunal do Júri sua decisão deve enveredar o juízo cível? No caso da
decisão absolutória esta tem o condão de gerar repercussão na esfera cível?
Explique.

A sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível; constitui, pois, título
executivo judicial (CPC, art. 515, VI; CP, art. 91, I), razão pela qual, uma vez transitada
em julgado, já não caberá discussão sobre o cometimento do crime e sua autoria. Como
título executivo judicial a sentença será submetida apenas à execução forçada na forma
da lei. Ou, como diz o 63 do CPP, transitada em julgado a sentença condenatória,
poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o
ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.

Normalmente haverá necessidade de liquidação da decisão (total ou parcial), a


fim de apurar-se o valor exato da indenização (CPP, art. 63, parágrafo único).

Como regra, a sentença penal absolutória (definitiva ou sumária) não faz coisa
julgada no cível. Significa dizer que, salvo casos excepcionais, a sentença penal não
produzirá efeito extrapenal algum, ou seja, é irrelevante para fins não penais. Assim, por
exemplo, a sentença que absolver o réu por insuficiência de prova não trará restrição
alguma ao juízo cível, nem impedirá a vítima ou seus sucessores de postular
indenização naquele juízo.

Casos há, porém, em que a sentença penal absolutória resolve (parcialmente,


em geral) também a questão cível, produzindo efeitos extrapenais. Esses casos
excepcionais são os seguintes: 1)a sentença que reconhece, categoricamente, a não
ocorrência do fato; 2)a sentença que reconhece, categoricamente, que o acusado não é o
autor, coautor ou partícipe do crime; 3)a sentença que reconhecer ter sido o fato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de
dever legal ou no exercício regular de direito.

Os itens 1 e 2 tratam de casos raríssimos de absolvição, visto que dificilmente


um juiz ou tribunal afirmará, na sentença ou acórdão, de modo peremptório, que o fato
não aconteceu ou que, tendo acontecido, o réu não foi o seu autor. A tese mais comum é
a absolvição por insuficiência de prova ou com base no in dubio pro reo. Afinal, é
muito raro se dispor de prova tão contundente de inocência.

De todo modo, se a decisão disser, de modo categórico, que o crime não


ocorreu (v.g., a suposta vítima do homicídio está viva e residindo em outro país) ou que
não foi o acusado o autor da infração penal, mas um homônimo, tal fará coisa julgada
no cível, impedindo a rediscussão da matéria.

Incide aqui o artigo 935 do Código Civil: A responsabilidade civil é


independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou
sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo
criminal.

Também fará coisa julgada no cível a sentença absolutória que reconhecer


excludentes de ilicitude, já que são casos em que o agente atua conforme a lei, não
apenas conforme a lei penal. Logo, como a ilicitude é a relação de contrariedade entre a
conduta (ação ou omissão) e o ordenamento jurídico como um todo, segue-se que a
sentença que admitir a excludente produzirá efeitos extrapenais.

Incide aqui o artigo 65 do CPP: Faz coisa julgada no cível a sentença penal que
reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Fazer coisa julgada no cível significa aqui apenas que já não caberá discutir,
no juízo cível, se o autor agiu ou não amparado por causas de justificação, visto que tal
questão já foi resolvida no juízo criminal competente. Não significa, entretanto, que a
vítima ou seu representante legal não tenha efetivo direito à reparação do dano.

Com efeito, como a responsabilidade civil é fundada em critérios distintos e


mais flexíveis que a criminal, admitindo-se, inclusive, a responsabilidade civil objetiva,
por ato de terceiro e mesmo por ato lícito ou, ainda, apesar do reconhecimento de
excludentes legais de ilicitude, nada impedirá a discussão do direito à reparação do dano
no juízo cível. Em síntese, a decisão penal cria apenas um indício (precário) de não
responsabilização civil. Nada mais.

Ou seja, com ou sem o reconhecimento da legítima defesa ou do estado de


necessidade no juízo penal, por exemplo, o juízo cível poderá acolher ou rejeitar pedido
de reparação do dano. O que o juízo cível não poderá fazer é questionar ou contrariar a
decisão penal quanto ao acerto ou desacerto relativamente ao reconhecimento da
excludente legal de ilicitude. A jurisdição penal impõe aqui um limite temático.

Em suma, saber se a vítima ou seus representantes legais têm ou não direito à


reparação do dano não é um problema do direito penal, mas do direito civil (e de outros
ramos do direito), que trabalha com critérios distintos de responsabilização.

Nesse sentido escreve Fernando da Costa Tourinho Filho:

A excludente de ilicitude e a ação civil. O dispositivo em exame (art. 65 do


CPP) não significa que a sentença penal que reconheça uma dessas
excludentes de ilicitude impeça a propositura da ação civil. Houve excesso na
linguagem. O legislador disse mais do que queria. Observa-se, por exemplo,
que, no caso de estado de necessidade, ocorrendo a hipótese prevista no art.
188, II, do CC, aplicar-se-á a regra do art. 929 do mesmo Código. Basileu
Garcia, com acerto, afirmava que o contido no art. 65 do CPP não tinha nem
tem outro efeito que o de denunciar a impossibilidade de reabrir-se, no cível,
a discussão sobre a intercorrência dessas justificativas no caso concreto. Mas
o legislador processual não dispôs – nem era de sua missão fazê-lo – acerca
de caber ou não caber ressarcimento em havendo algumas daquelas
justificativas (Curso de direito penal, v.1, t.2,p.578). Assim também
Frederico Marques (Instituições de direito processual civil, v.3. p.306). Por
isso mesmo trasladou ele, do CPP para o seu anteprojeto do CPP, o art. 65,
com essa roupagem, que devia ter sido a desejada pelo legislador de 1941:

“Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhece ter sido o ato
praticado em legítima defesa, estado de necessidade, excludente de crime,
exercício regular de direito ou estrito cumprimento de dever legal. Os efeitos
civis de qualquer uma dessas excludentes penais ficam subordinados ao
que dispuser a legislação de direito privado”.
De acordo com o art. 23 do Código Penal, excluem a ilicitude: a)o estado de
necessidade; b)a legítima defesa; c)o estrito cumprimento de dever legal; d)o exercício
regular de direito.

Esse dispositivo só é aplicável às excludentes reais, não às putativas. Nada


impedirá, por isso, a discussão da matéria no cível quando a sentença reconhecer que
houve erro de tipo permissivo (descriminantes putativas), isto é, legítima defesa putativa
etc., pois, nessas hipóteses, o agente atuará contrariamente ao direito, mas a lei penal
considera que o fato não é punível. O erro de tipo permissivo não é uma excludente de
ilicitude, mas de tipicidade ou de culpabilidade (para alguns autores). O reconhecimento
dessas duas espécies de excludentes de crime não tem repercussão cível alguma.

Assim, quem, ao encontrar em lugar escuro e ermo um criminoso que há


tempos o ameaçava de morte, supondo equivocadamente que ele iria matá-lo naquele
dia, atira contra ele, matando-o, é absolvido pelo tribunal do júri alegando legítima
defesa putativa, poderá ser acionado civilmente para efeito de reparação do dano. Idem,
se o réu for absolvido com base na coação moral irresistível, no erro de proibição
inevitável ou na obediência a ordem não manifestamente ilegal etc., que são excludentes
de culpabilidade, não de ilicitude.

Também não há coisa julgada no cível quando houver o reconhecimento de


excesso na legítima defesa e outras excludentes de ilicitude ou aberratio ictus. Dá-se o
excesso quando a vítima, na legítima defesa, por exemplo, vai além do necessário à
proteção do direito, hipótese em que responderá a título doloso ou culposo. E
haverá aberratio ictus ou erro na execução quando o ofendido, ao proteger legítimo
interesse, atingir terceiro inocente, lesionando-o.

Releva notar, ainda, que a doutrina atual diverge sobre a exata posição
sistemática de algumas dessas excludentes. Há quem defenda, por exemplo, que o
exercício regular de direito e o estrito cumprimento do dever legal não são excludentes
de ilicitude, mas de tipicidade. Além disso, a doutrina admite causas supralegais de
justificação, isto é, não previstas em lei4.

Por fim, há certos institutos que em geral afetam os efeitos penais, mas não os
efeitos civis da sentença penal condenatória, tais como: a)abolição do crime (abolitio
criminis), seja por lei, seja por decisão judicial; b)a anistia, a graça e o indulto. De
acordo com a Súmula 631 do STJ, o indulto extingue os efeitos primários da
condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou
extrapenais.

Quando houver prescrição da pretensão punitiva (retroativa ou superveniente),


que desconstitui a condenação, a sentença já não valerá como título executivo. No
entanto, a eventual decretação da prescrição da pretensão executória não afetará a
execução da res judicata penal.

A sentença concessiva de perdão judicial, que tem natureza declaratória, não


faz coisa julgada no cível (Súmula 18 do STJ5), segundo a doutrina majoritária.

4.      Se operou o prazo para promoção da demanda como anunciou a União?


Explique o porquê de sua resposta.

Obviamente não. A responsabilidade civil do estado em indenização por danos


morais a terceiros que sofreram atos, abusos, torturas, dentre outros crimes que feriram
seus direitos e dignidade de pessoa humana, cometidos pelo Estado durante o período da
ditadura militar são imprescritíveis.

O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um


período (regime militar) em que a ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de
exceção, tendo havido, sem dúvida, incontáveis abusos e violações dos direitos
fundamentais, mormente do direito à dignidade da pessoa humana.

Fundamentações:

I - As ações indenizatórias por danos morais decorrentes de atos de tortura


ocorridos durante o Regime Militar de exceção são imprescritíveis. Não neste caso há a
inaplicabilidade do prazo prescricional do art. 1º do Decreto 20.910/1932.

Decreto nº 20.910 de 06 de Janeiro de 1932


Regula a Prescrição Quinquenal

Art. 1º - As Dividas Passivas Da União, Dos Estados E Dos Municípios,


Bem Assim Todo E Qualquer Direito Ou Ação Contra A Fazenda Federal,
Estadual Ou Municipal, Seja Qual For A Sua Natureza, Prescrevem Em
Cinco Anos Contados Da Data Do Ato Ou Fato Do Qual Se Originarem.

O prazo quinquenal previsto no Decreto n. 20.910/1932 é inaplicável às ações


que objetivam reparação por danos morais ocasionados por torturas sofridas durante o
período do regime militar, demandas que são imprescritíveis, tendo em vista as
dificuldades enfrentadas pelas vítimas para deduzir suas pretensões em juízo.

Precedentes do STJ.

Súmula 647 STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e
materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos.

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