Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Este bloco introduzirá o tema “Direitos Fundamentais”. Para trabalhar com os direitos fundamentais, é
importante introduzir o tema falando da dignidade da pessoa humana, que pode ser conceituada como
sendo uma qualidade inerente e exclusiva de todo ser humano. Antigamente, a dignidade da pessoa humana
beirava o campo filosófico, mas com a evolução da sociedade, ela começou a ser registrada em textos
constitucionais e até em leis. Houve indiscutível evolução.
A dignidade da pessoa humana tem um aspecto formal e um material. No aspecto formal, a intenção é limitar
o abuso do poder estatal, enquanto que no aspecto material, a dignidade da pessoa humana visa garantir o
mínimo existencial. Mas esse princípio, que acaba por ser também o fundamento da república federativa do
Brasil, é praticamente uma cláusula geral, sendo plurissignificativo, e o STF o tem utilizado como cerne de
várias decisões que visam estabelecer uma proteção aos direitos fundamentais.
Adotando técnicas de hermenêutica constitucional, o STF sempre estará, na verdade, baseando suas decisões
na dignidade da pessoa humana. Por exemplo: a união de pessoas do mesmo sexo sendo reconhecida como
entidade familiar → nesse caso específico, não existe na Constituição Federal nenhuma redação que
estabelece que a entidade familiar pode ser formada por pessoas do mesmo sexo1, porém o STF, aplicando
técnicas de hermenêutica constitucional tendo como referencial a dignidade da pessoa humana, garantiu o
reconhecimento da união de pessoas do mesmo sexo como entidade familiar.
2 Princípio da Alteridade
Dentro do estudo da dignidade da pessoa humana, destaca-se o princípio da alteridade (mas não é a
alteridade do direito penal, que tem um conceito específico de que, via de regra, a auto lesão não é punível, a
não ser que essa auto lesão atinja terceiros) Ex: quem que se auto lesiona para receber um seguro.
Porém, a alteridade dentro do perfil do direito constitucional, e até mesmo dentro do campo dos direitos
humanos, envolve a questão da compreensão de uma determinada situação, ou seja, consiste em você se
colocar no lugar da pessoa para melhor compreendê-la.
Imagine a seguinte situação hipotética: há um indivíduo de aparência feminina, porém após conversar com o
mesmo, percebe-se que, geneticamente, é um indivíduo do sexo masculino. Utilizando o princípio da
alteridade, deve-se, agora, se colocar no lugar dessa pessoa: seria proporcional e razoável essa pessoa utilizar
o banheiro masculino, uma vez que possui toda a aparência feminina, tanto nas roupas como nos traços?
Isso não seria proporcional, o que seria proporcional é essa pessoa utilizar o banheiro feminino.
1
A Constituição fala no seu artigo 226, §3° que: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre
o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.”
1
Esse exemplo trata-se de um caso concreto que foi analisado pelo STF, que se valeu deste princípio da
alteridade (se colocando no lugar do indivíduo para melhor compreendê-lo), e acabou por entender que não
haveria nenhum tipo de violação essa pessoa específica utilizar o banheiro feminino, uma vez que toda sua
aparência é do sexo feminino.
Esse tipo de situação é que acabará por introduzir os direitos fundamentais, porque sejam os direitos
humanos ou os direitos fundamentais, ambos tem por base o princípio da dignidade da pessoa humana.
2
A) proibição de mulher transexual utilizar banheiro público feminino.
B) arbitramento de indenização por danos morais contra pessoa jurídica.
C) violação de correspondência alheia.
D) impedimento do exercício do direito de livre associação.
E) uso da força para coibir manifestação violenta.
Gabarito: Letra A
Gabarito: Certo
O direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito e expressão de uma ideia-força,
consoante decisão do Supremo Tribunal Federal, deriva do princípio da:
A) livre concorrência.
B) igualdade jurídica.
C) cidadania.
D) dignidade da pessoa humana.
E) soberania.
Gabarito: Letra D
Comentários à questão: a busca da felicidade por meios lícitos envolve a sexta geração de direitos
fundamentais. E essa busca da felicidade decorre da dignidade da pessoa humana, uma vez que toda pessoa
tem direito de buscar a felicidade, não importando as imposições sociais.
No próximo bloco será vista a diferença entre direitos fundamentais e direitos humanos.
3
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
Dando sequência ao estudo de direito constitucional objetivo, deve-se iniciar a aula recordando o que foi
visto na aula passada. Foi trabalhada que a diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais estão
na fonte de produção, ou seja, se há uma fonte de produção internacional, protegendo a dignidade da
pessoa humana, haverá ali direitos humanos. Por outro lado, havendo uma fonte de produção interna
(protegendo da dignidade da pessoa humana), haverá direitos fundamentais.
Muitos direitos fundamentais são considerados também direitos humanos e vice-versa, pois existe uma linha
de intercessão entre os conceitos.
Tudo isso foi mostrado no bloco passado, e pode ser relembrado por meio deste gráfico:
Quando se fala, então, em proteção à vida, seja nos documentos internacionais relacionados à direitos
humanos, ou nos documentos internos que falam em direitos fundamentais, a proteção à vida é considerado
tanto um direito humano quanto um direito fundamental.
Porém, existem peculiaridades dos direitos fundamentais (CRFB, art. 5°, LVIII)2, ou seja, situações peculiares a
respeito dos direitos fundamentais que só existem no direito brasileiro.3 Por outro lado, situações que
existem apenas no direito estrangeiro e não encontram uma versão própria no direito interno é o duplo grau
de jurisdição (Ex: Pacto de San Jose da Costa Rica, em seu artigo 8°)4.
2
CRFB, Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
3
A título de curiosidade, denomina-se esse fenômeno como “direito jabuticaba”, em analogia ao fruto que só existe em
solo brasileiro.
4
Artigo 8º - Garantias judiciais
4
Após a análise deste gráfico, deve-se falar agora a respeito das gerações (ou dimensões) dos direitos
fundamentais.
A 1° Geração visa coibir o abuso do Poder Estatal, é a geração da liberdade negativa, clássica, formal. Dentre
os documentos importantes desta fase, pode-se citar a Carta Magna da Inglaterra (com o Rei João Sem Terra),
Bill of Rights, Declaração de Virgínia, Paz de Vestfália. Todos são documentos datados entre os anos de 1500 à
1700.
No que diz respeito à inserção dos direitos fundamentais dentro do direito brasileiro, qual foi a primeira
Constituição no Brasil a estabelecer proteção aos direitos fundamentais? A resposta é que a primeira
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou
Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação
penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de
qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente
comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a
língua do juízo ou tribunal;
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa;
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se,
livremente e em particular, com seu defensor;
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a
legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou
peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos;
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos
fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça.
5
Constituição Brasileira Monárquica. (de 1824), ainda que de forma modesta, estabeleceu direitos
fundamentais. Eis uma questão de concurso que trabalha este tema:
Gabarito: Errado
A seguir será visto o histórico dos direitos fundamentais nas Constituições brasileiras.
Veja que, quando o Brasil torna-se independente, havia um Estado Unitário, ou seja, um Poder Central que
controlava todo o território nacional, e o Brasil era dividido em províncias. Já na segunda Constituição (de
1891), houve uma evolução, com o sistema de governo passando a ser o presidencialista, e a partir desse
sistema, foram criados os Estados-Membros, organizados em Constituições Estaduais, que obedeciam
hierarquicamente à Constituição Federal Brasileira de 1891.
A terceira Constituição (de 1934) também foi promulgada.
A seguir, após todo esse histórico, há a Constituição de 1988, que estabelece a abertura da redemocratização
política:
6
A Constituição de 88 estabelece a tripartição dos Poderes de forma harmônica, ou seja, os Poderes são
independentes e harmônicos entre si5 (CRFB, art 2°). É preciso tomar cuidado com algumas questões em
relação a essa questão. Primeiramente, deve-se lembrar que não existe Poder Judiciário a nível municipal. E
A Constituição de 88 fala apenas em relação aos Poderes da União, nada dizendo em âmbito estadual,
municipal e DF. Logo, se o examinador perguntar em uma questão objetiva utilizando a expressões como
“Conforme a Constituição Federal”, deve-se ter em mente apenas este artigo 2°.
Após a análise do histórico a respeito dos direitos fundamentais, deve-se agora buscar entender o que se
entende por direito fundamental.
Antes disso, é preciso conhecer alguns sinônimos de “direitos fundamentais” que podem aparecer em provas,
dependendo do contexto, o examinador pode chamar os direitos fundamentais de “direitos individuais”,
“direitos subjetivos públicos”, “liberdades públicas”, ou “liberdades fundamentais”. Então deve-se tomar certo
cuidado, porque se for muito ao pé da letra, a depender do contexto, esses termos podem gerar confusão.
Assim como o legislador constituinte já se equivocou na Constituição, conforme escrito no art. 60, §4°, que
está escrito assim:
A verdade é que o legislador quis, nesse artigo, foi estabelecer a proteção como cláusula pétrea dos direitos
fundamentais.
Na tabela a seguir, são listados os diversos sinônimos para “direitos fundamentais:
5
CRFB, Art. 2º: São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário
7
MPE-SC – Promotor de Justiça/2016
Conceitualmente, os direitos humanos são os direitos protegidos pela ordem internacional contra as
violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição. Por sua vez, os
direitos fundamentais são afetos à proteção interna dos direitos dos cidadãos, os quais encontram-se
positivados nos textos constitucionais contemporâneos.
• Certo
• Errado
Gabarito: Certo
CESPE/CEBRASPE – Agente de Polícia/2016
Acerca dos princípios fundamentais que regem as relações do Brasil na ordem internacional conforme as
disposições da CF, julgue o item a seguir.
Em casos de profunda degradação da dignidade humana em determinado Estado, o princípio fundamental
internacional da prevalência dos direitos humanos sobrepõe-se à própria soberania do Estado.
• Certo
• Errado
Gabarito: Correto.
Comentário à questão: para acertar essa questão, é preciso compreender um determinado aspecto histórico.
No período pós 2° Guerra Mundial, quando as atrocidades praticadas por Hitler na Alemanha tornaram-se
notórias em âmbito mundial, viu-se a necessidade de se mudar o paradigma de proteção dos direitos
humanos, uma vez que todas as atrocidades praticadas na Alemanha durante a 2° Guerra Mundial eram
lícitas, ou seja, através da persuasão, um indivíduo conseguiu convencer o legislativo e os demais poderes que
as pesquisas envolvendo a raça ariana eram lícitas, e deveriam ser (e foram) aprovadas.
A comunidade internacional não intervia diante todas essas barbáries porque a soberania, até então, era
tratada como uma “caixa blindada” e, quando todas essas barbáries tornaram-se notórias após a 2° Guerra
Mundial, viu-se a necessidade de se flexibilizar o conceito de soberania e trazer um movimento chamado
de “cristalização da soberania”, ou seja, a partir da 2° Guerra Mundial, se um país violar a dignidade da
8
pessoa humana, ele sofrerá sanções internacionais. A soberania de um país só é assegurada até o ponto em
que o Estado não viole direitos humanos fundamentais.
Na próxima aula será vista a eficácia dos direitos fundamentais nos planos horizontais, verticais e diagonais.
9
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
10
Visto a parte teórica, deve-se compreender como este tema é cobrado em prova:
A eficácia dos direitos fundamentais trabalhistas é vertical, quando se trate da relação entre o particular e o
Estado, horizontal, quando se trate de relação entre particulares, e diagonal, quando se trate de relação entre
particulares em que um deles estiver em situação de supremacia sobre o outro.
• Certo
• Errado
Gabarito: Certo
I- A eficácia vertical dos direitos fundamentais foi desenvolvida para proteger os particulares contra o arbítrio
do Estado, de modo a dedicar direitos em favor das pessoas privadas, limitando os poderes estatais.
II- A eficácia horizontal trata da aplicação dos direitos fundamentais entre os particulares, tendo na
constitucionalização do direito privado a sua gênese.
III- A eficácia diagonal trata da aplicação dos direitos fundamentais entre os particulares nas hipóteses em
que se configuram desigualdades fáticas.
Gabarito: E
Gabarito: A
Comentários à questão: essa questão possui uma “pegadinha”, uma vez que o examinador utilizou a palavra
“básica” no enunciado, limitando desta forma o alcance dos direitos humanos a aquilo que lhe é mais
essencial. Assim sendo, os direitos humanos também servem para coibir abusos dos indivíduos, porém, esta
não é sua finalidade básica.
11
I Em um processo judicial, o Estado deve assegurar a observância do contraditório e da ampla defesa. II Nas
relações entre a imprensa e os particulares, a imprensa deve observar o direito à honra, sob pena de
consequências como direito de resposta e indenização por dano material ou moral.
As afirmações I e II contemplam situações que exemplificam a
A) eficácia horizontal dos direitos fundamentais.
B) eficácia externa dos direitos fundamentais.
C) eficácia diagonal dos direitos individuais.
D) eficácia vertical e a eficácia horizontal dos direitos individuais, respectivamente.
E) eficácia externa e a eficácia vertical dos direitos individuais, respectivamente.
Gabarito: D
Comentários à questão: Na CRFB, artigo 5°, inc. LV é dito que “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;”, logo, a primeira afirmativa está correta. Já no inciso II, é preciso ter cuidado uma
vez que, o fato de que a imprensa deve respeitar o direito à honra (sob pena de receber direito de resposta
acompanhado de indenização por dano moral e material), dependerá do contexto fático, uma vez que
evidentemente a imprensa possui limites no que diz respeito a matérias publicadas, especialmente aquelas
que violem a honra e a intimidade, uma vez que a CRFB, no seu artigo 5°, inc. X, afirma que “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”, e é evidente que a mesma Constituição também diz no artigo
5° inc. IV que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, deste modo, tanto a
liberdade de imprensa quanto o direito à intimidade são protegidas pela mesma Constituição, então será
preciso analisar o contexto em que esses princípios são confrontados para saber se há violação fática de um
ou de outro. Assim sendo, ambos os itens estão corretos.
Quando a primeira afirmativa fala em “assegurar a observância do contraditório e da ampla defesa”, isso deve
se dar em relação ao Estado, de modo que se trata da eficácia vertical dos direitos fundamentais, enquanto
isso, na segunda afirmativa, a violação da imagem diz respeito à eficácia horizontal.
Tendo em vista a importância dos direitos fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro, é correto afirmar
que a expressão eficácia diagonal tem sido utilizada para designar a aplicação de direitos fundamentais às
relações contratuais entre particulares onde há desequilíbrio fático.
• Certo
• Errado
Gabarito: Certo
12
3. Eficácia Direta ou Imediata:
Há, ainda, dentro da eficácia horizontal a “eficácia direta” ou “imediata”, como sendo aquela em que os
direitos fundamentais são aplicados sem que haja uma diferença no tratamento entre dois particulares ou
entre o Estado com o particular.
Esse conceito pode ser melhor compreendido no quadro abaixo:
Assim sendo, entende-se que na relação entre particulares, há a presença da autonomia privada. Para melhor
compreender essa questão deve-se ilustrar através de um exemplo: em um contrato, às vezes o indivíduo
pode vir a se submeter a uma arbitrariedade, porque se ele não assinar o contrato nos termos em que está
escrito, ele não terá um determinado direito. Esse tipo de cláusula abusiva que não pode ser modificada é
denominada “cláusula leonina”, sendo muito recorrente em contratos bancários.
13
Dentro deste contexto, pergunta-se: se, em um determinado processo, o advogado do banco defende a tese
de que o cliente apenas assinou aquele contrato “porque ele quis”, será uma tese facilmente rechaçada, uma
vez que a autonomia da vontade possui um determinado limite até o momento em que não haja violação
aos direitos fundamentais.
Um caso verídico ocorrido na França, que envolve os direitos humanos, ajudam a explicar essa questão: em
uma determinada casa noturna, um dos entretenimentos da casa noturna consistia no arremesso de anões, e
essa atividade foi contestada judicialmente.
Na defesa dos anões, estes se defenderam dizendo que gostavam desta prática e ganhavam dinheiro com
aquilo, estavam melhorando sua situação econômica e social, de modo que aquilo não violava sua dignidade.
Entretanto, outros anões (que não trabalhavam neste estabelecimento noturno), também estavam sendo
arremessados na rua, violando de forma clara sua dignidade da pessoa humana.
No Brasil, situação semelhante ocorreu: o programa humorístico “Pânico” possuía um quadro onde um anão
negro levava tapas no pescoço e dizia-se “Pedala, Robinho” e o mesmo dilema é repetido, ou seja, ainda que
o ator do Programa “Pânico” realizasse essa atividade por livre e espontânea vontade, recebendo dinheiro
para realizá-la, esse tipo de comportamento era repetido em outros anões fora do ambiente humorístico do
programa, ferindo a dignidade dos mesmos.
Em ambos os casos, a autonomia de vontade dos anões que aceitavam trabalhar nesse tipo de serviço
gerava reflexos negativos aos demais portadores de nanismo.
Em síntese: a eficácia direta diz que há autonomia de vontade entre particulares, contudo, esta autonomia
deve respeitar determinados limites, como não violar direitos fundamentais ou a dignidade da pessoa
humana.
A seguir, será visto como este tema é cobrado em provas:
De acordo com a doutrina e a jurisprudência dos tribunais superiores acerca da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, julgue:
O efeito horizontal indireto obriga o Poder Judiciário a observar a normatividade dos direitos fundamentais
ao decidir conflitos interindividuais.
• Certo
• Errado
Gabarito: Certo
14
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
Em relação a esta temática, duas importantes correntes devem ser conhecidas, a começar pela defendida
pelo Prof. Pedro Lenza:
15
Na visão do Prof. Pedro Lenza, a eficácia horizontal indireta ou mediata, tendo uma dimensão proibitiva, ou
seja o legislador estará proibido de criar lei que viole direitos fundamentais. Por exemplo: uma lei que
autorize pena de morte em tempos de paz.
De acordo ainda com esta corrente, em uma dimensão dita positiva, o legislador terá que criar leis que
implementem direitos fundamentais.
Há, ainda, uma segunda corrente defendida pelo Prof. João Trindade, conforme tabela abaixo:
De acordo com esta corrente, se os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, significa que
tais direitos fundamentais não precisam estar expressos em uma relação entre particulares, até porque a
autonomia privada é o cerne da relação entre particulares. Então, dentro do Direito Privado, existem
cláusulas gerais (ordem pública, liberdade contratual, boa fé, etc), onde os direitos fundamentais estão
implícitos.
Uma prova trabalhou com o seguinte exemplo concreto, conforme quadro abaixo:
16
Explicando a situação apresentada: um indivíduo ingressou em uma determinada associação, e o estatuto
desta associação possuía uma cláusula que permitia a exclusão sumária de qualquer indivíduo. Assim, caso
este indivíduo assine este contrato para ingressar nesta associação, ele estará aderindo à possibilidade de
exclusão sumária. Contudo, há de se concordar que esta cláusula de exclusão sumária é violadora dos direitos
fundamentais mas, ao mesmo tempo esta cláusula também decorre do princípio da autonomia privada (o
que é admitido pelo Direito Civil).
A conclusão que se chega é que, em uma relação contratual, existe uma característica que é a boa fé
(princípio este que rege a relação entre particulares dentro de um contrato).
Há violação à boa-fé a partir do momento em existe um contrato que permite a exclusão sumária sem direito
ao contraditório e ampla defesa? Sim.
Então, em decorrência da violação dessa cláusula geral do Direito Civil, que refletirá na Constituição
Federal, esta cláusula do contrato pode ser considerada inválida. Este entendimento pode ser melhor
compreendido no quadro abaixo:
Visto isso, agora se trabalhará a eficácia direta ou imediata dos direitos fundamentais, que pode ser melhor
compreendida no quadro abaixo:
17
Este tema já foi questão de prova oral do TJ de Goiás em 2015, conforme imagem abaixo:
Resposta: Sim. Ao estudar controle de constitucionalidade incidental (ou concreto), a análise é sempre de um
caso concreto, logo, quando se tem um controle de constitucionalidade na relação entre particulares, abre-
se um incidente dentro do processo para discutir aquela tese jurídica. Isso ocorre muito quando se fala em
ADPF.
Existe uma ADPF que analisa, em decorrência da análise do caso concreto, pode surgir uma discussão de
tese jurídica, e o processo em andamento é interrompido para que a tese jurídica seja analisada por meio
da ADPF. Foi isso que aconteceu em relação às pesquisas com células-tronco.
Esse tipo de situação é denominada como ADPF incidental.
Assim sendo, a aplicabilidade direta e imediata dos direitos fundamentais permite sim que seja atribuído o
controle de constitucionalidade entre particulares.
No quadro a seguir, será vista à resposta padrão em relação à questão de prova oral do TJ de Goiás em 2015:
18
A seguir, será visto como estes temas são cobrados em prova:
A retirada de um dos sócios de determinada empresa, quando motivada pela vontade dos demais, deve ser
precedida de ampla defesa, pois os direitos fundamentais não são aplicáveis apenas no âmbito das relações
entre o indivíduo e o Estado, mas também nas relações privadas. Essa qualidade é denominada eficácia
horizontal dos direitos fundamentais.
• Certo
• Errado
Gabarito: Certo
No direito brasileiro prevalece a teoria da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais sobre as
relações privadas, da qual é exemplo a incidência da cláusula do devido processo legal no procedimento de
exclusão de associado, no âmbito de associações privadas, por decorrência de conduta contrária aos
estatutos (questão adaptada)
• Certo
• Errado
Gabarito: Certo
Segundo a teoria da eficácia horizontal indireta os direitos fundamentais geram direitos subjetivos somente
na esfera privada.
• Certo
• Errado
Gabarito: Errado
De acordo com a teoria da eficácia horizontal direta os direitos fundamentais podem ser aplicados
diretamente às relações entre particulares. Entretanto, necessita de instrumentos para a sua aplicação
• Certo
• Errado
Gabarito: Errado
O Supremo Tribunal Federal, em recentes julgados, tem negado a aplicação da teoria da eficácia horizontal
direta em âmbito interno.
• Certo
• Errado
19
Gabarito: Errado
Gabarito: Certo
Gabarito: Certo
Gabarito: A
No próximo bloco, a seguinte pergunta será respondida: O que é eficácia vertical com repercussão lateral dos
direitos fundamentais?
20
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
1. Introdução
Na última aula, a seguinte pergunta foi feita: o que é eficácia vertical com repercussão lateral dos direitos
fundamentais?
Em decorrência do Poder Legislativo ser omisso, o Poder Judiciário tem agido se valendo de uma técnica
chamada de “ativismo judicial”. Isso significa que, utilizando técnicas de hermenêutica constitucional,
tentando atender às demandas sociais que estão sendo lesadas ao longo dos anos em decorrência da
inércia das autoridades públicas, o Poder Judiciário tem agido de forma pró-ativa para garantir direitos
fundamentais.
Então, uma eficácia vertical com repercussão lateral dos direitos fundamentais nada mais é do que a seguinte
situação: o Estado não legislou, então, utilizando as técnicas de hermenêutica constitucional, o Poder
Judiciário tomará uma decisão que estabeleça proteção desses direitos fundamentais.
Recentemente o STF, utilizando-se dessas técnicas de hermenêutica constitucional, conseguiu adequar a
homofobia às questões de racismo. Na lei de racismo, não há nenhum termo que esteja relacionado à
homofobia mas, adotando-se as técnicas de interpretação constitucional, o STF entendeu que a homofobia
seria uma forma similar ao racismo, e que a legislação do racismo seria adequada para as questões que
envolvessem homofobia.
Então, a partir deste momento, mostra-se um exemplo de ativismo judicial. Não é o judiciário preenchendo
lacuna legislativa, neste caso, é o poder judiciário utilizando-se das técnicas de hermenêutica
constitucional.
Então, tendo em vista que este assunto está sendo muito comentado, é preciso tomar cuidado porque, se na
prova falar em “eficácia vertical com repercussão lateral dos direitos fundamentais”, tudo isso estará
relacionado ao ativismo judicial.
Agora, se buscará entender o que seria titularidade de direitos fundamentais e destinatário de direitos
fundamentais.
Deve-se iniciar esse tema com o seguinte questionamento: a pessoa jurídica de direito público, ou seja, o
Estado, pode ser titular ou destinatário de direitos fundamentais? Ele pode ser os dois, dependendo da
análise do caso concreto.
21
Exemplo: a CRFB destaca a “proteção à intimidade, à vida privada, a honra e a imagem”. A pergunta é: neste
caso específico de proteção à honra, caso a pessoa viole a honra, além de ser um crime (de injúria ou
difamação, dependendo se a honra for objetiva ou subjetiva), o Estado-juiz pode ser acionado para que haja
uma proteção a esta honra, justamente porque a Constituição garante isso. Trata-se, neste caso, de uma
relação entre particulares.
Só que pessoas jurídicas também possuem uma “honra”, só que objetiva, ou seja, uma honra perante a
sociedade.6 Logo, a partir do momento em que é analisado o titular dos direitos fundamentais, sendo
particular ou pessoa jurídica de direito privado, o destinatário pode ser um outro particular, uma pessoa
jurídica de direito privado ou até o Estado.
Agora deve-se notar o seguinte: os direitos fundamentais foram criados para proteger o indivíduo em face
do Estado, será que o Estado também pode se valer dos direitos fundamentais para se proteger perante o
indivíduo?
A resposta é negativa, uma vez que isso seria “subverter a ordem”, em um julgado emblemático do STJ em
que um determinado apresentador de TV emitiu uma opinião denegrindo a imagem de um determinado
município, porém todas as informações dadas pelo apresentador (péssima educação, ruas sujas, alto índice
de violência, etc.), são informações mentirosas. Poderia o município ingressar com uma ação pleiteando
indenização por danos morais e materiais em decorrência do pronunciamento deste apresentador?
A resposta é negativa, de acordo com o STJ, isso seria subverter a ordem dos direitos fundamentais, ou seja,
representando o Estado, o Município estaria se valendo de direitos fundamentais para proteger sua honra
em face de um particular.
O julgado em questão é:
6
Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”
22
incisos V e X do art. 5º da Constituição Federal. 2. A inspiração imediata da positivação de direitos fundamentais resulta
precipuamente da necessidade de proteção da esfera individual da pessoa humana contra ataques tradicionalmente
praticados pelo Estado. [...] 3. Em razão disso, de modo geral, a doutrina e jurisprudência nacionais só têm reconhecido às
pessoas jurídicas de direito público direitos fundamentais de caráter processual ou relacionados à proteção constitucional
da autonomia, prerrogativas ou competência de entidades e órgãos públicos, ou seja, direitos oponíveis ao próprio Estado
e não ao particular. Porém, ao que se pôde pesquisar, em se tratando de direitos fundamentais de natureza material
pretensamente oponíveis contra particulares, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal nunca referendou a tese de
titularização por pessoa jurídica de direito público. [...]
(STJ - REsp: 1258389 PB 2011/0133579-9, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 17/12/2013, T4 -
QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/04/2014 RDDP vol. 136 p. 142 RSTJ vol. 234 p. 419)”
O “indivíduo” cujos direitos fundamentais devem ser protegidos pode ser tanto uma pessoa natural quanto
uma pessoa jurídica de direito privado em face do Estado.
Isso não significa, todavia, que o Estado não pode ser titular de direitos fundamentais, isso é possível, desde
que o destinatário dos direitos fundamentais também seja o Estado.
Exemplo: é possível que um município ingresse com mandado de segurança em face à União para que receba
uma verba que já tenha sido autorizada. Logo, o mandado de segurança faz parte dos direitos fundamentais.
O quadro a seguir permite melhor compreensão do tema:
( )Certo ( )Errado
Gabarito: Certo
( )Certo ( )Errado
Gabarito: Certo
( )Certo ( )Errado
Gabarito: Certo
FUNCAN -Atividade Técnica de Suporte da Agência Nacional de Saúde Complementar – 2015 (questão
adaptada)
Acerca de direitos e garantias fundamentais, julgue a seguinte questão:
As pessoas jurídicas são titulares de direitos fundamentais, naquilo em que for compatível com a sua
natureza. Ratifica essa assertiva a súmula 365 do Supremo Tribunal Federal que aduz que a pessoa jurídica
não tem legitimidade para propor ação popular.
( )Certo ( )Errado
Gabarito: Certo
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte
”
Ou seja, direitos fundamentais podem ser encontrados tanto do artigo 5° até o artigo 17, como também
podem ser encontrados em outros dispositivos da Constituição, e até mesmo fora da Constituição Federal, em
leis ou tratados internacionais.
Outro ponto importante a ser destacado:
“Dos direitos fundamentais” (art. 5° ao 17), os únicos que podem ser delegados por resolução do Congresso
Nacional para o Presidente da República editar lei delegada são os direitos sociais. Mas, no que diz respeito às
medidas provisórias, elas podem versar tanto sobre direitos sociais quanto sobre direitos individuais, não
podem dispor sobre os demais direitos fundamentais.
24
Para se responder a esta pergunta, é preciso retomar ensinamento do direito constitucional, de que “os
direitos fundamentais são relativos”. Porém, deve-se tomar algum cuidado em relação à esta afirmativa. Em
2017, em uma prova deu a entender que, conforme posicionamento da doutrina, que existem direitos
fundamentais de caráter absoluto, que não podem ser relativizados.
Deve-se pensar no seguinte: a CRFB destaca no artigo 5°, inc. III que “ninguém será submetido à tortura ou a
tratamento desumano ou degradante”, inclusive o Brasil é signatário de tratados e convenções internacionais
que vedam a tortura e o tratamento desumano ou degradante, tanto tratados internacionais que façam parte
do sistema global de proteção aos direitos humanos quanto tratados internacionais que façam parte do
sistema regional de proteção aos direitos humanos.
Existe alguma possibilidade do artigo 5°, inc. III ser relativizado? Ou seja, é possível que uma pessoa seja
submetida à tortura ou a tratamento desumano ou degradante de uma forma que seja em harmonia com o
ordenamento jurídico?
Não existe tal possibilidade. Muitos podem pensar que isso é possível em tempos de guerra, mas isso não é
verdade. Inclusive, nas convenções internacionais que vedam a tortura e o tratamento desumano ou
degradante, há textos escritos tanto no sistema global quanto regional, dizendo que a tortura não será
admitida em nenhuma hipótese, inclusive em tempos de guerra, porque para estas convenções, existe uma
certa indefinição se o procedimento de tortura será eficiente ou não (indivíduos com pouca tolerância à dor,
por exemplo, dirão aquilo que esperam ouvir dela, apenas para que a tortura cesse). Por isso que a tortura
jamais será admitida no Estado Brasileiro, seja em tempos de guerra ou não.
Logo, existem direitos fundamentais de caráter absoluto, especialmente aqueles que trazem um grau de
proteção em relação à dignidade da pessoa humana.
Toda essa explicação dependerá da análise da questão de prova.
Outro direito fundamental ajudará a compreender melhor esta questão: a proteção em face da pena de
morte em tempos de paz. Se é dito que os direitos fundamentais são relativos, se faz o seguinte
questionamento: é possível que uma pessoa seja condenada, em tempos de paz, à pena de morte e ser esta
pena compatível com a CRFB? A resposta é negativa.
O STF, em julgado, estabeleceu que o art. 5°, inc. III possui perfil de caráter absoluto. Assim, deve-se ter
cuidado com a afirmativa que diz que o STF afirmou que os direitos fundamentais possuem caráter absoluto,
uma vez que existem julgados isolados que desmentem esta ideia.
25
Obs: quando se fala em “teoria dos limites dos limites” que trata da relativização dos direitos fundamentais,
essa relativização deve observar o núcleo essencial da norma.
Para isso, deve-se falar nas cláusulas pétreas. O art. 60, §4° da CRFB diz: “”. Logo, uma cláusula pétrea pode
ser modificada, desde que não atinja seu núcleo essencial, contudo, cláusula pétrea não pode ser revogada
por meio de emenda constitucional.
Exemplo: a cláusula pétrea pode ser modificada visando ampliar a proteção à democracia? Isso é possível.
Porém, quando se trata à proteção de direitos fundamentais, essa restrição não pode atingir o núcleo
essencial da norma, deve ser uma restrição genérica e abstrata, e deve ser uma restrição que atinja o perfil
dos subprincípios do princípio da proporcionalidade e razoabilidade (necessidade, adequação, medida certa e
proporcionalidade em sentido estrito)
No quadro a seguir, serão vistos os parâmetros de aplicação da teoria dos limites dos limites:
26
Quais as fontes e fundamentos do princípio da proporcionalidade?
Na próxima aula, serão vistas algumas questões de prova envolvendo este tema
27
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
Conforme dito na última aula, agora serão vistas questões de prova em relação aos temas trabalhados na
última aula.
Antes de adentrar as questões, é preciso dar atenção ao seguinte entendimento: a letra da lei pode possuir
um entendimento quando lida isoladamente e outro entendimento quando lida dentro de um contexto de
uma questão de prova.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Certo
Comentários à questão: muitos erraram essa questão marcando “errado”, alegando que, de acordo com o art.
60, §4° da CRFB: “A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: Não será objeto de deliberação a
proposta de emenda tendente a abolir: os direitos e garantias individuais”. Alegando, deste modo, que
direitos fundamentais não são considerados cláusulas pétreas. Todavia, é preciso ter em mente que a
Constituição de 1988 foi criada sem nenhum rigor técnico, justamente para atender as classes mais
necessitadas, não foram utilizados termos técnicos e jurídicos.
Um exemplo ilustrará este entendimento: competência privativa é delegável ou indelegável? Isso irá
depender de qual tema se está referindo em relação ao Direito Constitucional: competência privativa da
Câmara e competência privativa do Senado Federal são competências indelegáveis. Agora, competência
privativa no tema “organização do Estado” são competências delegáveis (ao Estado, por meio de lei
complementar, para que tratem de questões específicas). As competências privativas do Presidente da
República são 27 incisos no total (onde apenas 3 são delegáveis, inciso VI, XII e XXV, primeira parte), então, 24
incisos da competência privativa do Presidente da República são indelegáveis.
Logo no tema “competência privativa”, a delegação vai depender do tema que está sendo tratado.
28
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Certo
Gabarito: D
No que concerne aos direitos e garantias fundamentais, julgue o item que se segue.
O direito à vida, assim como todos os demais direitos fundamentais, é protegido pela CF de forma não
absoluta.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito:Certo
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Certo
Gabarito: Errado
Para que direitos e garantias expressos em tratados internacionais ratificados pelo Brasil sejam formalmente
reconhecidos no sistema jurídico brasileiro, é necessária a aprovação de cada Casa do Congresso Nacional,
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Errado
No próximo bloco, será trabalhada a dimensão objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais.
30
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
1. Aspectos Gerais
Agora, serão trabalhadas as dimensões objetivas e subjetivas dos direitos fundamentais.
Como dimensão objetiva, os direitos fundamentais estão envolvidos por valores que nortearão a vida em
sociedade, apresentando deste modo efeito irradiante, inspirando o legislador a criar normas que
estabelecerão a proteção do indivíduo em face do Estado e a ação pró ativa do Estado. Logo, a dimensão
objetiva dos direitos fundamentais é sempre mais abrangente, ou seja, em uma situação genérica, os direitos
fundamentais estabelecerão a relação horizontal entre os direitos fundamentais que é a relação entre
particulares, decorre da sua dimensão objetiva.
Quando se trata, por outro lado, da dimensão subjetiva dos direitos fundamentais, deve-se prender mais à
análise do caso concreto, que terá como parâmetro a primeira e segunda geração ou seja, limitar o abuso do
poder estatal e exigir do Estado uma atuação pró-ativa.
O quadro a seguir sistematiza esta diferenciação:
Logo, a partir do momento que se entende o que é dimensão objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais,
será possível responder a seguinte questão de prova:
VUNESP – Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – 2018
31
Assinale a alternativa que corretamente contempla um exemplo de aplicação do conceito de dimensão
objetiva dos direitos fundamentais.
Decisão do Supremo Tribunal Federal em que foi firmado o entendimento de que a revista íntima em
mulheres em fábrica de lingerie, ou seja, empresa privada, constitui constrangimento ilegal.
a) Habeas Corpus que se fundamenta no argumento de que a liberdade de um indivíduo suspeito da prática
de infração penal somente pode sofrer restrições se houver decisão judicial devidamente fundamentada.
b) A previsão da Constituição Federal que afirma que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
c) Propositura de ação, com pedido de tutela de urgência, por indivíduo que pleiteia que o Poder Público
forneça medicamentos dos quais necessita e não possui condições de adquirir.
d) Mandado de injunção em que é questionada omissão normativa que inviabiliza o exercício de prerrogativas
inerentes à nacionalidade, pleiteando-se decisão judicial que afaste as consequências da inércia do legislador.
Gabarito: A
Comentário à questão: Na questão correta (letra A), percebe-se uma característica da eficácia horizontal dos
direitos fundamentais, logo, os direitos fundamentais sendo analisados em teses abstratas dentro de uma
eficácia horizontal, refletirá na dimensão objetiva dos direitos fundamentais. Logo, quando o STF entende, no
caso concreto, que a revista íntima de trabalhadoras em uma fábrica de lingerie deveriam ser revistadas, isso
automaticamente viola a dignidade da pessoa humana. Então, na relação horizontal, em tese abstrata de
proteção à dignidade da pessoa humana, toda essa questão envolve a dimensão objetiva.
A letra “B” traz, em seu enunciado, a proteção do indivíduo em face do Estado por meio do habeas corpus,
logo, faz parte da dimensão subjetiva dos direitos fundamentais (ou seja, a aplicação concreta dos direitos
fundamentais com teor de subjetividade).
A letra “C” traz novamente a dimensão subjetiva dos direitos fundamentais, uma vez que, em tempos
pretéritos, o Estado praticava censura e exigia licença em face de atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação.
As letras “D” e “E” são análises de caso concreto, englobando deste modo a dimensão subjetiva dos direitos
fundamentais.
Os direitos fundamentais cumprem a função de direito de defesa dos cidadãos, sob dupla perspectiva, por
serem normas de competência negativa para os poderes públicos, ou seja, que não lhes permitem a
ingerência na esfera jurídica individual, e por implicarem um poder, que se confere ao indivíduo, não só para
que ele exerça tais direitos positivamente, mas também para que exija, dos poderes públicos, a correção das
omissões a eles relativas.
( ) Certo ( )Errado
Gabarito: Certo
Efeito irradiante dos direitos fundamentais é o atributo que confere caráter eminentemente subjetivo a esses
direitos, garantindo proteção do indivíduo contra o Estado
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Errado
32
A dimensão subjetiva dos direitos fundamentais está atrelada, na sua origem, à função clássica de tais
direitos, assegurando ao seu titular o direito de resistir à intervenção estatal em sua esfera de liberdade
individual.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Certo
Gabarito: Errado
Na dimensão objetiva, os direitos fundamentais são qualificados como princípios estruturantes do Estado
democrático de direito, de modo que sua eficácia irradia para todo o ordenamento jurídico.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Certo
33
O quadro a seguir esquematiza estes quatro status:
Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ – Analista Legislativo da Câmara Municipal do Rio de Janeiro – 2014
Conforme a Teoria Geral dos Direitos Fundamen- tais, no final do Século XIX, Jellinek desenvolveu a doutrina
dos quatro status, segundo a qual:
a) os direitos fundamentais também se aplicam às relações privadas, configurando o que a doutrina
convencionou chamar de eficácia horizontal dos direitos fundamentais
b) o status civilitais, supremo em relação aos demais status, autoriza que o indivíduo desfrute de um espaço
de liberdade com relação a ingerência dos Poderes Públicos.
c) em uma situação ideal, sob o “véu da ignorância”, poderia o indivíduo atuar em relação ao Estado, por
abstenção, atuação, implementação imediata de direitos fundamentais e observância dos direitos humanos
d) o indivíduo pode encontrar-se em face do Estado por 4 status: status passivo, ativo, negativo ou positivo
Gabarito: D
Comentários à questão: A letra “A” está errada, por ser incompatível com o enunciado (o enunciado fala
sobre a teoria dos quatro status de Jellinek).
A letra “B” está errada ao falar que o “status civilitais” é supremo em relação aos demais status, uma vez que
não há supremacia em relação aos quatro status de Jellinek
A letra “C” não fala em nenhum momento sobre os quatro status de Jellinek
Consoante a teoria dos status dos direitos fundamentais, de autoria de Jellinek, o direito à saúde, tal como
previsto na Constituição Federal, é considerado fundamental de status:
a) ativo.
b) negativo.
c) passivo.
34
d) positivo.
Gabarito: D
Comentário à questão: o direito à saúde exige uma atuação pró ativa por parte do Estado para garantir a
saúde, fazendo parte do status positivo dos direitos fundamentais.
O grande publicista alemão Georg Jellinek, na sua obra "Sistema dos Direitos Subjetivos Públicos" (Syzstem
der subjetktiv öffentlichen), formulou concepção original, muito citada pela doutrina brasileira no estudo da
teoria dos direitos fundamentais, segundo a qual o individuo, como vinculado a determinado Estado,
encontra sua posição relativamente a este cunhada por quatro espécies de situações jurídicas (status), seja
como sujeito de deveres, seja como titular de direitos. Assinale qual das altenativas abaixo contém um item
que NÃO corresponde a um dos quatro status da teoria de Jellinek:
a) status passivo (status subjectionis).
b) status negativus.
c) status civitatis.
d) status socialis.
e) status activus.
Gabarito: D
Gabarito: Errado
35
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
Nesta aula de Direito Constitucional Objetivo, se falarão a respeito das características doutrinárias dos
direitos fundamentais:
- Universalidade: Os direitos fundamentais são universais, ou seja, alcançam todas as pessoas. Essa regra
possui exceções, no que diz respeito à pessoas jurídicas, isso significa que pessoas jurídicas só terão direitos
fundamentais que forem compatíveis com sua natureza.
É sabido por todos que uma pessoa jurídica pode impetrar habeas corpus, desde que essa pessoa jurídica
tenha por intenção deste habeas corpus beneficiar uma pessoa natural, ou seja, uma pessoa jurídica jamais
poderá ser a beneficiada de uma ação de habeas corpus, porém ela pode impetrar habeas corpus, desde que
a pessoa natural seja a beneficiada. Justamente porque o habeas corpus é o remédio constitucional que visa
proteger a liberdade de locomoção e, em tese, a pessoa jurídica não se locomove.
O quadro a seguir resume esta ideia:
36
Comentários à questão: não são todos os indivíduos que são titulares de todos os direitos fundamentais,
exemplificadamente, uma criança de 6 anos de idade não pode impetrar uma ação popular, uma vez que é
necessário estar em pleno exercício de sua capacidade eleitoral ativa para ser legitimado ativo deste tipo de
ação, e uma criança de 6 anos não possui esta capacidade.
- Inalienabilidade: significa que os direitos fundamentais não podem ser negociados, e são intransponíveis e
intransponíveis. Exemplificadamente, não se pode “vender” sua liberdade de locomoção a determinado
indivíduo que se encontre encarcerado, uma vez que os direitos fundamentais são inalienáveis,
intransponíveis e intransferíveis.
No quadro abaixo serão vistas outras características doutrinárias dos direitos e garantias fundamentais:
Inviolabilidade: significa que os direitos fundamentais estarão protegidos em uma relação vertical, ou seja,
uma proteção do indivíduo em face do Estado em decorrência do abuso do Poder Estatal. Existe ainda o
direito fundamental que protege a relação entre particulares, no qual esta relação pode ser horizontal (desde
que não haja hierarquia), ou diagonal (que se dá entre dois particulares que possuem hierarquia entre si,
muito comum na relação empregado/empregador).
Sendo os direitos fundamentais invioláveis, isso significa que há proteção nas três esferas (horizontal, vertical
e diagonal)
- Irrenunciabilidade / Indisponibilidade: significa que não se podem abdicar direitos fundamentais, contudo,
essa irrenunciabilidade deve ser analisada conforme o caso concreto, uma vez que é possível a renúncia de
direitos fundamentais, desde que não se atinja a dignidade da pessoa humana.
Exemplificadamente, ao participar de um reality show, o participante escolhe abdicar de sua intimidade e vida
privada, assim, há uma autonomia da vontade que permitirá que a intimidade e a vida privada seja mitigada e
relativizada.
Um exemplo permite melhor compreensão deste conceito: em uma determinada casa de espetáculos na
França havia, como atração principal, o lançamento de anões, e essa questão foi contestada perante o Poder
37
Judiciário Europeu e, ao escutar as duas partes, o Judiciário averiguou que os anões prestavam testemunho
em defesa da casa de shows, alegando que este emprego lhes permitiam ter um emprego, uma renda
mensal, uma vida social saudável, dentre outras alegações. Do outro lado, a parte da acusação alegou que
existiam outros indivíduos portadores de nanismo que, devido a esta atração, estavam sendo vítimas de
brincadeiras maliciosas.
Situação semelhante ocorreu em programa de humor televisivo brasileiro denominado “Pânico”, no qual um
ator anão e negro era alvo de brincadeiras, todavia, outros indivíduos portadores das mesmas características
físicas estavam recebendo o mesmo tipo de tratamento na rua.
Nos dois casos narradas há indiscutível violação à dignidade da pessoa humana, de modo que a autonomia da
vontade ao abrir mão de determinados direitos fundamentais é limitada pela dignidade da pessoa humana.
Os quadros seguintes esquematizam o que foi dito:
38
A irrenunciabilidade dos direitos humanos deve ser harmonizada com a autonomia da vontade, donde se
conclui que a pessoa civilmente capaz pode se despojar da proteção de faceta de sua dignidade, a exemplo
do famoso caso francês do “arremessamento de anões”.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Errado
39
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
- Historicidade: os direitos fundamentais possuem caráter histórico, ou seja, eles apresentam uma evolução.
Isso tanto é verdade que há o estudo das gerações (ou dimensões) de direitos fundamentais.
Uma questão que pode ser feita é a seguinte: se os direitos fundamentais possuem a característica de
historicidade, quando a proteção dos direitos fundamentais é iniciada? Esta questão não é pacífica na
doutrina, porém, em decorrência do Direito Canônico (do Catolicismo), se tem o início da proteção dos
direitos fundamentais, ou seja, as ações do Estado eram limitados pelas questões bíblicas, logo, a partir daí é
que se começou a ter a noção de proteção dos direitos fundamentais, o que foi evoluindo até os dias de hoje.
- Indivisibilidade: os direitos fundamentais são indivisíveis, isso significa dizer que os direitos fundamentais
gozam da mesma proteção, não existindo hierarquia entre direitos fundamentais, existe sim, um certo
conflito no caso concreto de direitos fundamentais, e esse conflito pode ser resolvido por uma tentativa de
harmonização, ou uma valorização de um perante o outro. Logo, a indivisibilidade significa que todos os
direitos fundamentais possuem a mesma proteção jurídica que existirá para todos os direitos fundamentais.
- Não-exaurabilidade: significa que os direitos fundamentais não são taxativos, mas meramente
exemplificativos. Esta característica possui previsão constitucional no seu art. 5°, §2°:
“Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte”
A partir de agora, é possível que seja feita uma associação entre a evolução dos direitos fundamentais com as
gerações/dimensões dos direitos fundamentais:
A primeira geração/dimensão dos direitos fundamentais relaciona-se aos direitos individuais, civis e políticos.
Esta geração exige a limitação do abuso do poder estatal. Essa geração trata da denominada liberdade
negativa, clássica ou formal. Os documentos mais importante deste período são a Carta Magna da Inglaterra,
Paz de Vestfália, Bill of Rights e a Constituição Americana.
A segunda geração/dimensão dos direitos fundamentais relaciona-se aos direitos sociais, econômicos e
culturais. Esta geração exige uma atuação pró-ativa do Estado, através de normas programáticas previamente
estabelecidas. Os documentos mais importante deste período são a Constituição de Weimar (Alemanha), a
Constituição Mexicana e a criação da OIT através do Tratado de Versalhes.
Esse assunto será aprofundado no seguinte exercício:
42
a) A imprescritibilidade implica o reconhecimento de que os direitos humanos podem ser reivindicados a
qualquer tempo, com exceção dos direitos humanos de terceira geração que prescrevem nos termos da
legislação nacional.
b) A indivisibilidade é caracterizada pela primazia conferida aos direitos civis e políticos em relação aos
direitos econômicos, sociais e culturais.
c) A interdependência ou interrelação transmite a ideia de que a dignidade da pessoa humana pode ser
protegida de forma fragmentada em algumas situações, na medida em que há direitos humanos mais
essenciais que outros.
d) A inexaurabilidade representa a taxatividade, ou seja, a limitação na consagração de novos direitos
humanos.
Gabarito: A
Comentário à questão: é possível a renunciabilidade de um determinado direito fundamental, desde que não
haja violação à dignidade da pessoa humana. Exemplificadamente, um indivíduo que deseja participar de um
programa de reality show abdica de sua privacidade espontaneamente.
No próximo bloco se trabalhará as gerações (ou dimensões) dos direitos fundamentais
43
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
Introdução
Nessa aula serão trabalhadas as gerações (ou dimensões) dos direitos fundamentais.
Há uma discussão doutrinária a respeito da correta terminologia (gerações ou dimensões dos direitos
fundamentais), porém é uma discussão irrelevante para fins de concurso público.
Historicamente, o que era fundamental no passado pode não ser considerado fundamental nos dias atuais,
uma vez que a sociedade evolui e os valores se modificam com o passar do tempo.
Exemplificadamente, quando uma mulher era estuprada, caso o estuprador se casasse com a vítima,
extinguia-se a punibilidade. Isso acontecia porque, à época, o peso da honra familiar era superior à dignidade
da pessoa humana, e o conceito de “mulher honesta” envolvia também a característica da mesma ser virgem.
Assim, quando uma mulher era estuprada, isso não só desonrava a vítima, como a família dela também.
Nesse contexto, uma forma encontrada pelo legislador para proteger a honra familiar foi estabelecer um
benefício ao criminoso no art. 107 do Código Penal (que trata das excludentes de punibilidade), através de
um dispositivo (que só em 2005 foi revogado), que dizia que, caso o estuprador se casasse com a vítima,
extinguia-se a punibilidade dele. Assim, em tempos pretéritos, a honra familiar era mais importante do que a
dignidade da pessoa humana da vítima (lembrar, ainda, que até 2009, somente mulheres poderiam ser
vítimas de estupro).
Atualmente não se fala mais no conceito de “mulher honesta” pelo seu elevado grau de abstração.
Assim, ao se estudar as gerações/dimensões dos direitos fundamentais, se está estudando a evolução dos
direitos fundamentais de acordo com o seu tempo.7
7
Uma dica para se lembrar das três primeiras gerações de direitos fundamentais é lembrar os ideais da revolução francesa:
liberdade (1ª geração), igualdade (2ª geração) e fraternidade (3ª geração)
44
Esse tema pode ser melhor compreendido através da seguinte questão de concurso:
CESPE/CEBRASPE – Analista Legislativo da Câmara dos Deputados - 2014
Os direitos de primeira dimensão, ou direitos de liberdades, têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao
Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa, ostentando a subjetividade como traço
característico, e são considerados direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.
( ) Certo ( ) Errado
Gabarito: Certo
46
As três dimensões da reserva do possível
A reserva do possível possui três dimensões:
- Dimensão Fática: significa que o Poder Público deve trabalhar com prioridade aquilo que é essencial.
Exemplificadamente, o Poder Público não pode gastar milhões em propaganda sendo que a saúde, que é um
mínimo existencial, está debilitada em determinada localidade.
- Dimensão Jurídica: aqui, a reserva do possível está relacionada à distribuição de competências e receitas. Ou
seja, não pode um determinado ente federativo alegar que a competência não será mais dele sendo que é, e
o ente federativo tenta “empurrar” a competência para outro ente. Isso é tão verdade que a pouco tempo o
Supremo decidiu que as questões envolvendo saúde são competência concorrente, logo todos os entes
federativos são competentes.
- Dimensão Pessoal: é a real possibilidade do jurisdicionado, no caso concreto, exigir uma prestação do Estado
a luz dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Exemplificadamente, um indivíduo está pleiteando
determinado tratamento em país estrangeiro, sendo que o SUS fornece tratamento similar, e o tratamento
que estava sendo pleiteado no país estrangeiro não apresentava provas de ser mais eficiente ao tratamento
fornecido pelo SUS.
O quadro a seguir resume o entendimento a respeito das três dimensões da reserva do possível:
47
A seguir, será visto como estas questões são cobradas em provas:
48
Curso: Direito Constitucional Objetivo
Resumo
Introdução
Nesse bloco se trabalhará com a terceira geração (ou dimensão) dos direitos fundamentais. Essa terceira
geração fala dos direitos transindividuais (também considerados coletivos em sentido amplo). Relembrando
os ideais da revolução francesa (liberdade na primeira geração, igualdade na segunda geração e a
fraternidade na terceira geração), quando há essa terceira geração (ou dimensão), se quer deixar claro que
esses direitos de terceira geração são direitos transindividuais (pois transcendem o indivíduo), então a ideia
não é só analisar o direito para aquele indivíduo especificamente, e sim para um grupo indeterminado de
indivíduos (ou, pode ser também para um grupo determinado de indivíduos).
E aí que nascem os direitos difusos, os direitos coletivos em sentido estrito e os direitos individuais
homogêneos ou acidentalmente coletivos, mas antes de explicar isso, deve ficar claro que essa terceira
geração é a geração que envolve direito do meio ambiente, solidariedade, fraternidade, comunicação,
autodeterminação dos povos, dentre outros.
Mas o que deve ficar claro é que essa terceira geração é a geração que vai inaugurar a proteção internacional
dos direitos humanos (esquecendo que a proteção dos direitos humanos envolvia grupo determinado,
porque antigamente só tinha direitos humanos determinados grupos, outros grupos não recebiam nenhuma
proteção como, por exemplo, os negros).
Então viu-se a necessidade de estabelecer uma proteção mais ampla para todas as pessoas, então a terceira
geração é a geração que vai inaugurar a proteção internacional dos direitos humanos.
Vamos analisar, a seguir, quais seriam essas “proteções dos direitos humanos”.
49
Direitos Difusos são direitos que não vão alcançar grupos determinados nem pessoas determinadas, são
direitos indivisíveis. Exemplo: basta pensar em uma praia, será que há grupos determinados que podem
usufruir da praia ou todas as pessoas, sem nenhum tipo de discriminação? São todas as pessoas, sem
nenhum tipo de discriminação.
Então nos direitos difusos há um grupo de pessoas indeterminado, é um direito indivisível, há uma situação
de fato (não há uma relação jurídica), então esses direitos difusos, com pessoas e grupos indeterminados
possuem essas características.
Direitos Coletivos em sentido estrito são direitos em que se consegue identificar o grupo, mas não é possível
identificar as pessoas. Há uma relação jurídica e trata-se de um direito indivisível. Então, exemplificadamente,
caso você seja policial de uma determinada classe e preencheu todos os requisitos para preencher uma classe
superior você será promovido, assim como seus colegas que também atingiram esses objetivos.
Direitos individuais homogêneos ou acidentalmente coletivos: são aqueles direitos em que se consegue
identificar o grupo mas não as pessoas que serão beneficiadas pelo grupo. Esse direito tem uma relação de
fato, não havendo efetivamente uma relação jurídica e, diametralmente oposto às características dos demais
direitos estudados, esse direito individual homogêneo ou acidentalmente coletivo é divisível (porque se
consegue entrar com a ação em conjunto ou de forma isolada) e há uma relação de fato. Um exemplo clássico
é o direito dos consumidores.
Essa classificação de direitos pode ser melhor vista no quadro abaixo:
50
Esse tema será melhor compreendido no exercício abaixo:
A sexta geração trata da busca da felicidade por meios lícitos. O cidadão é formado e tem suas tradições
arraigadas pela sociedade que a forma, e é comum que se julguem atos contrários a essa cultura como se
fossem errados. Basta pensar na seguinte situação: o fato de duas pessoas do mesmo sexo terem um
relacionamento errado é considerado errado por muitas pessoas, e acham isso errado com base na sua
cultura, religião e tradição. Mas quem pensa desta forma está praticando algum ato ilícito, contrário à lei?
Não! Então porque existem pessoas que praticam crimes de ódio? Não se sabe a resposta, uma vez que as
pessoas do mesmo sexo decidem formar um relacionamento, elas estão buscando alcançar a felicidade por
meios lícitos, e isso faz parte da sexta geração dos direitos fundamentais.
51
O quadro abaixo esquematiza esse ponto da aula:
FUNCAB – Agente Penitenciário da Secretaria de Estado da Gestão, Patrimônio e Assistência dos Servidores
do Maranhão – 2016
O direito à busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implícito e expressão de uma ideia-força,
consoante decisão do Supremo Tribunal Federal, deriva do princípio da:
a) livre concorrência.
b) igualdade jurídica.
c) cidadania.
d) dignidade da pessoa humana.
e) soberania.
Gabarito: Letra D
52
d) Sob a égide da estatalidade mínima do Estado Liberal, os direitos negativos de defesa dotados de natureza
absenteísta são corretamente classificados como direitos de primeira dimensão.
Gabarito: Letra D
53