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RODRIGO ARANTES CAVALCANTE

Advogado militante e sócio-fundador do escritório Do Val & Cavalcante Sociedade de Advogados. Pós-Graduado em
Direito Médico e da Saúde, Pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Pós-graduado em Direito Público:
Tributário. Professor e palestrante. Membro efetivo da Comissão Especial de Direito Material do Trabalho da OAB São Paulo
(Triênio 2016/2018; 2019/2021). Membro da Comissão de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho da OAB Subseção
Tatuapé (Triênio 2019/2021). Membro efetivo da Comissão Especial de Direito à Adoção da OAB São Paulo (Triênio
2016/2018). — Autor das obras: Manual de Iniciação do Advogado Trabalhista; O vínculo de emprego dos corretores de
imóveis; Reforma Trabalhista Comentada Artigo por Artigo – De acordo com Princípios, Constituição Federal e Tratados
Internacionais; e da obra Audiência Trabalhista Teoria e Prática com modelos, de acordo com a Reforma Trabalhista. Autor
de diversos artigos jurídicos. http://lattes.cnpq.br/6074761031825648 E-mail: rodrigo_arantescavalcante@yahoo.com.br

RENATA DO VAL
Advogada militante e sócia-fundadora do escritório Do Val & Cavalcante Sociedade de Advogados. Mestranda em
Direito. Pós-Graduada em Direito Médico e da Saúde; Pós-graduada em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho;
Pós-graduada em Direito Público: Tributário. Professora e palestrante. Membro efetivo da Comissão Especial de Direito
Material do Trabalho da OAB São Paulo (Triênio 2016/2018; 2019/2021). Membro da Comissão de Direito do Trabalho e
Processo do Trabalho da OAB Subseção Tatuapé (Triênio 2019/2021). Membro efetivo da Comissão Especial de Direito
à Adoção da OAB São Paulo (Triênio 2016/2018). — Autora das obras: Manual de Iniciação do Advogado Trabalhista;
O vínculo de emprego dos corretores de imóveis; Reforma Trabalhista Comentada Artigo por Artigo — De acordo com
Princípios, Constituição Federal e Tratados Internacionais; e da obra Audiência Trabalhista Teoria e Prática com modelos,
de acordo com a Reforma Trabalhista. Autora de diversos artigos jurídicos. http://lattes.cnpq.br/5990185958279452
E-mail: renata_doval@yahoo.com.br
Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
© Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val
EDITORA MIZUNO 2021
Revisão: Gal Correia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

C376m Cavalcante, Rodrigo Arantes.


Direito médico e da saúde / Rodrigo Arantes Cavalcante, Renata Do Val. – Leme, SP: Mizuno,
2021.

303 p. : 17 x 24 cm

Inclui bibliografia.
Inclui índice alfabético remissivo.

ISBN 978-65-5526-171-4

1. Direito médico. 2. Medicina – Legislação – Brasil. I. Val, Renata Do. II. Título.

CDD 344.81041

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
apresentação
Obra que possibilita ao profissional do direito, ao profissional da área da
saúde ou outros que tenham interesse em estudar e se aprofundar em direito
médico e da saúde ampliar seus conhecimentos, seja nas relações privadas ou
nas relações públicas.
Neste livro o leitor encontrará de forma simples e didática conhecimentos
em responsabilidade civil na área da saúde, desde sua configuração até sua fixa-
ção, as causas excludentes de dano. Também as questões de cobertura de trata-
mentos e medicamentos. Aumento abusivo dos planos de saúde. Documentos
obrigatórios e seu regramento como o prontuário, termo de consentimento
informado, anotações de enfermagem entre outros. Os procedimentos éticos
disciplinares e judiciais da teoria à prática.
Logo, a obra é indicada desde profissionais que iniciam nesta área àqueles
que pretendem se atualizar.
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL................................................................................................................ 11
1.1 Conceito de responsabilidade civil médica ou da saúde........................................................... 11
1.2 Aplicação do direito do consumidor nas relações abrangidas pelo direito médico e da saúde. 12
1.3 Elementos da responsabilidade civil......................................................................................... 14
1.4 Espécies de danos. .................................................................................................................. 16
1.4.1 Dano material . ............................................................................................................... 16
1.4.2 Dano moral . .................................................................................................................... 21
1.4.3 Dano estético ................................................................................................................. 30
1.5 Redução do valor dos danos..................................................................................................... 30
1.6 Prescrição aplicada nas ações de responsabilidade civil por erro médico............................... 31
1.7 Justiça competente para as ações de responsabilidade civil por erro médico ou da saúde . .. 33
1.8 Do polo passivo das ações envolvendo erro médico ............................................................... 33
1.9 Dos direitos de personalidade dos pacientes . ......................................................................... 37
1.10 Do sigilo.................................................................................................................................. 38
1.11 Iatrogenia................................................................................................................................. 43
1.12 Erro escusável . ...................................................................................................................... 45
1.13 Culpa exclusiva da vítima........................................................................................................ 46
1.14 Fato de terceiro....................................................................................................................... 47
1.15 Caso fortuito ou força maior.................................................................................................... 47
1.16 Cirurgia Plástica...................................................................................................................... 48
1.17 Prontuário e termo de consentimento informado.................................................................... 51
1.18 Erro de diagnóstico e o prognóstico . ..................................................................................... 55
1.19 Recusa terapêutica pelo paciente........................................................................................... 56
1.20 Violência Obstétrica e a responsabilidade civil....................................................................... 58
1.21 Tutela Provisória de Urgência no Direito Médico e da Saúde................................................. 60
1.22 Produção antecipada de provas.............................................................................................. 62
1.23 Da perícia................................................................................................................................ 64
1.23.1 Possibilidade do Advogado (a) acompanhar a perícia................................................... 68
1.23.2 A importância de parecer médico e/ou indicação de médicos assistentes pela(s)
parte(s)................................................................................................................................. 70
1.24 Responsabilidade civil do médico anestesiologista ............................................................... 71
1.25 Responsabilidade civil do ato extra médico............................................................................ 74
1.26 Infecção hospitalar responsabilidade civil do hospital............................................................. 75

CAPÍTULO 2
ALGUNS PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS......................................................................................... 81
2.1 Cirurgia Bariátrica . ................................................................................................................... 81
2.2  Home Care – internação domiciliar.......................................................................................... 84

CAPÍTULO 3
DOS PLANOS DE SAÚDE LEI 9.656/98.. ........................................................................................... 87
3.1 Espécies de planos de saúde.................................................................................................... 87
3.2 Carência ................................................................................................................................... 88
3.3 Cobertura e exclusão de cobertura........................................................................................... 89
3.4 Carência e doença pré-existente ............................................................................................. 96
3.5 Reembolso................................................................................................................................ 99
3.6 Da vigência e renovação do plano contratado.......................................................................... 99
3.7 Prazos para atendimento do consumidor.................................................................................. 100
3.8 Aumento abusivo das mensalidades dos planos de saúde coletivos e empresariais por adesão..... 101

CAPÍTULO 4
DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS .................................. 111

CAPÍTULO 5
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PERANTE O CONSELHO DE CLASSE..................................... 115
5.1 Código de Ética Médica – Responsabilidade Ética Administrativa do Médico e diretor clínico. 115
5.2 O processo ético-disciplinar nos Conselhos Regionais de Medicina........................................ 117

CAPÍTULO 6
RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO.......................................................................................... 127
6.1 Os tipos penais.......................................................................................................................... 127
6.2 Prescrição.................................................................................................................................. 127

CAPÍTULO 7
DAS CLÍNICAS VETERINÁRIAS E PETS SHOPS................................................................................... 129
7.1 Responsabilidade civil............................................................................................................... 129
7.2 Dos locais de atendimento veterinário...................................................................................... 133
7.3 Dos pets Shops......................................................................................................................... 137

CAPÍTULO 8
DAS CLÍNICAS ODONTOLÓGICAS E DOS DENTISTAS.. ...................................................................... 141
8.1 Do Código de ética . ................................................................................................................. 141

CAPÍTULO 9
DA SAÚDE PÚBLICA.......................................................................................................................... 145
9.1 Base legal, fornecimento de tratamento e medicamento.......................................................... 145
9.2 Responsabilidade civil dos hospitais públicos........................................................................... 149
9.3 Mandado de segurança em face do Estado.............................................................................. 152

CAPÍTULO 10
DO BIODIREITO................................................................................................................................. 153
10.1 Direitos do nascituro . ............................................................................................................. 153
10.2 Reprodução Assistida . ........................................................................................................... 156
10.3 Canabidiol .............................................................................................................................. 160

CAPÍTULO 11
PRÁTICA E MODELOS DE PETIÇÕES.................................................................................................. 163
11.1 Prontuário médico, termo de consentimento informado e anotações de enfermagem........... 163
11.1.1 Modelo de pedido da cópia do prontuário médico, termo de consentimento informado e
anotações de enfermagem.................................................................................................. 163
11.2 Petição inicial . ........................................................................................................................ 165
11.2.1 Modelo de inicial com pedido de tutela provisória para tratamento médico - menor
portador de Transtorno do Espectro Autista........................................................................ 166
11.2.2 Modelo inicial erro médico - perfuração de útero em cirurgia de histeroscopia e alta
médica (óbito) ..................................................................................................................... 176
11.2.3 Modelo de inicial de infecção hospitalar......................................................................... 203
11.3 Da contestação........................................................................................................................ 217
11.3.1 Modelo de contestação.................................................................................................. 217
11.4 Modelo de Réplica – Infecção Hospitalar................................................................................ 222
11.5 Quesitos médicos e indicação de assistente técnico por parte do autor da ação................... 237
11.5.1 Modelo de petição de quesitos médicos e indicação de assistente técnico por parte do
autor..................................................................................................................................... 237
11.6 Contrarrazões.......................................................................................................................... 240
11.6.1 Modelo de contrarrazões à apelação da seguradora..................................................... 240
11.6.2 Modelo de contrarrazões ao recurso de apelação da operadora de saúde................... 250
11.7 Modelo de Recurso Especial (Majoração – Danos morais e aplicação de juros da data do
evento danoso) ......................................................................................................................... 271
11.8 Representação ao CRM.......................................................................................................... 295
11.8.1 Modelo de representação para o CRM.......................................................................... 295

REFERÊNCIAS. .................................................................................................................................. 297

ÍNDICE ALFABÉTICO REMISSIVO....................................................................................................... 299


CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL
1
1.1 Conceito de responsabilidade civil médica ou da saúde.
A responsabilidade civil médica advém da responsabilidade civil em geral,
logo tem relação com o dano-prejuízo e com o ato ilícito.
Assim, a responsabilidade civil médica no erro médico está ligada ao ato
ilícito, já que este gera dano que pode ser moral ou material.
O ato ilícito está previsto no caput do art. 927 do Código Civil.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo.

Dessa forma, o ato ilícito médico é aquele praticado de forma culposa,


contrária as normas, e que lhe causa danos morais ou materiais.
Contudo, a responsabilidade civil do profissional da saúde possui diferen-
ças, como veremos ao longo desta obra.

Erro médico versus de erro do médico


O erro médico ou erro clínico é praticado por qualquer profissional da
saúde; o erro do médico é praticado apenas por médicos.
Tal diferenciação é apenas de nomenclatura doutrinária e/ou literatura
médica.
Apenas para fins de conhecimento: o médico assistente presta auxílio ao
paciente, também pode ser chamado de facultativo ou esculápio.
Assim, a responsabilidade civil médica vem a ser obrigação imposta àque-
les que, no exercício de sua profissão, cause algum dano ao paciente por negli-
gência, imprudência ou imperícia.
Para que haja a responsabilização na área da saúde é necessário o preen-
chimento dos pressupostos do art. 186 do Código Civil, que traz os elementos
da responsabilidade civil.
Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Dessa forma, havendo a responsabilidade civil teremos a indenização pelo


prejuízo material, moral e de ordem estética, a depender da esfera atingida.

1.2 Aplicação do direito do consumidor nas relações abrangidas pelo di-


reito médico e da saúde.
Nas ações envolvendo erro médico é comum a aplicação de diversos dis-
positivos do Código Civil, como também do Código de Defesa do Consumidor,
sendo que o STJ já decidiu no REsp. N.º 267.530 sobre a aplicação do CDC às
operadoras de serviços e assistência à saúde, vejamos:

“A operadora de serviços de assistência à saúde que presta serviços remunerados à popu-


lação tem sua atividade regida pelo Código de Defesa do Consumidor, pouco importando
o nome ou a natureza jurídica que adota.” (RECURSO ESPECIAL 2000/0071810-6, REsp
n.º 267.530, Quarta Turma, Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior, data do julga-
mento: 11.12.2000, DJ: 12.03.2001).

No mesmo sentido, temos a Súmula 608 do STJ que prevê a aplicação do


Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os
administrados por entidades de autogestão.

Súmula 608 - Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saú-
de, salvo os administrados por entidades de autogestão. (Súmula 608, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 11/04/2018, DJe 17/04/2018).

Temos, no entanto, jurisprudência no sentido de não aplicação do Código


de Defesa do Consumidor na saúde pública, ou seja, quando o serviço é presta-
do diretamente pelo Estado (no âmbito de seus hospitais ou postos de saúde) ou
quando delegado à iniciativa privada (seja por convênio ou contrato com a admi-
nistração pública, para prestá-lo a expensas do SUS o serviço de saúde constitui
serviço público social, não sendo nesta hipótese aplicado o CDC conforme já
decidiu o STJ através do REsp N.º 1.771.169 - SC (2018/0258615-4), tendo por
Relatora a Ministra Nancy Andrighi, acórdão este proferido pela Terceira Turma
do C. STJ julgado em 26/05/2020. Vejamos a ementa do voto:

RECURSOS ESPECIAIS. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANO MORAL. FUNDAMEN-


TAÇÃO DEFICIENTE. SÚM. 284/STF. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AU-
SÊNCIA. MORTE DE PACIENTE ATENDIDO EM HOSPITAL PARTICULAR CONVENIADO

12
CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL

AO SUS. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO


INDIVISÍVEL E UNIVERSAL (UTI UNIVERSI). NÃO INCIDÊNCIA DO CDC. ART. 1º-C DA
LEI 9.494/97. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL. ALEGADA MÁ VALORAÇÃO DA
PROVA. CULPA DOS MÉDICOS E CARACTERIZAÇÃO DO DANO MORAL. SÚMULA 07/
STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. JULGAMENTO: CPC/15. 1.
Ação de compensação de dano moral ajuizada em 06/09/2011, da qual foram extraídos
os presentes recursos especiais interpostos em 16/03/2018, 10/04/2018 e 13/04/2018, e
atribuídos ao gabinete em 25/10/2018. 2. O propósito recursal consiste em decidir sobre:
(i) a prescrição da pretensão deduzida, relativa à responsabilidade civil dos médicos pela
morte do paciente, em atendimento custeado pelo SUS; (ii) a valoração da prova quanto à
culpa dos médicos e à caracterização do dano moral; (iii) o valor arbitrado a título de com-
pensação do dano moral. 3. Os argumentos invocados pela recorrente não demonstram
como o Tribunal de origem ofendeu os dispositivos legais indicados, o que importa na in-
viabilidade do recurso especial (súm. 284/STF). 4. É inviável o recurso especial em que não
se aponta violação de qualquer dispositivo infraconstitucional (súm. 284/STF). 5. A mera
referência à ocorrência de omissão e contradição, sem demonstrar, concreta e efetivamen-
te, em que consistiriam tais vícios, não é apta a anulação do acórdão por negativa de pres-
tação jurisdicional. 6. Segundo estabelecem os arts. 196 e seguintes da CF/1988, a saúde,
enquanto direito fundamental de todos, é dever do Estado, cabendo à iniciativa privada
participar, em caráter complementar (art. 4º, § 2º, da Lei 8.080/1990), do conjunto de
ações e serviços que visa a favorecer o acesso universal e igualitário às atividades voltadas
a sua promoção, proteção e recuperação, assim constituindo um sistema único – o SUS
–, o qual é financiado com recursos do orçamento dos entes federativos. 7. A participação
complementar da iniciativa privada na execução de ações e serviços de saúde se formaliza
mediante contrato ou convênio com a administração pública (parágrafo único do art. 24
da Lei 8.080/1990), nos termos da Lei 8.666/1990 (art. 5º da Portaria n.º 2.657/2016
do Ministério da Saúde), utilizando-se como referência, para efeito de remuneração, a
Tabela de Procedimentos do SUS (§ 6º do art. 3º da Portaria n.º 2.657/2016 do Ministério
da Saúde). 8. Quando prestado diretamente pelo Estado, no âmbito de seus hospitais ou
postos de saúde, ou quando delegado à iniciativa privada, por convênio ou contrato com
a administração pública, para prestá-lo a expensas do SUS, o serviço de saúde constitui
serviço público social. 9. A participação complementar da iniciativa privada – seja das
pessoas jurídicas, seja dos respectivos profissionais – na execução de atividades de saúde
caracteriza-se como serviço público indivisível e universal (UTI universi), o que afasta, por
conseguinte, a incidência das regras do CDC. 10. Hipótese em que tem aplicação o art.
1º-C da Lei 9.494/97, segundo o qual prescreverá em cinco anos o direito de obter indeni-
zação dos danos causados por agentes de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
de serviços públicos. 11. Não há como alterar as conclusões do Tribunal de origem, rela-
tivas à configuração da conduta culposa dos médicos e à caracterização do dano moral,
sem o vedado reexame de fatos e provas (súmula 07/STJ). 12. As circunstâncias que levam
o Tribunal de origem a fixar o valor da condenação a título de compensação por dano
moral são de caráter personalíssimo, de modo que, ainda que haja grande semelhança
nas características externas e objetivas, no aspecto subjetivo, os acórdãos serão sempre
distintos, o que impossibilita a comparação para efeito de configuração da divergência,
com outras decisões assemelhadas. Precedentes. 13. Entre os acórdãos trazidos à colação,
não há o necessário cotejo analítico nem a comprovação da similitude fática, elementos
indispensáveis à demonstração da divergência (arts. 1.029, § 1º, do CPC/15 e 255, § 1º,

13
Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val

do RISTJ). 14. Recurso especial de JOSÉ ARNALDO DE SOUZA e RITA DE CASSIA MORAIS
DE MENDONÇA não conhecidos. Recurso especial de RODRIGO HENRIQUE CANABAR-
RO FERNANDES conhecido e desprovido.

1.3 Elementos da responsabilidade civil


Temos como elementos da responsabilidade civil aqueles descritos no art.
186 do Código Civil.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Assim, o ato ilícito é aquele praticado por uma pessoa e no caso do erro
do médico, seria este o agente causador do ato ilícito.
Quanto à ação, vem a ser o dolo do agente, e omissão voluntária consiste
na culpa deste, que agiu com negligência, imprudência ou imperícia.
A negligência é a omissão ou o não fazer; a imprudência consiste em assu-
mir o risco um agir sem o cuidado necessário; e a imperícia vem a ser a falta de
aptidão técnica.
Na doutrina existe uma discussão no seguinte sentido: O médico legal-
mente habilitado pode ser considerado imperito?
Para parte da doutrina, como Genival Veloso de França, o médico por
possuir diploma que lhe confere o grau de doutor não pode ser considerado
imperito. No entanto, para Miguel Kfouri Neto e José de Aguiar Dias, o médico
pode ser considerado imperito.
Resta mencionarmos que em alguns acórdãos é possível observar que al-
gumas câmaras de Tribunais do país têm entendido pela imperícia do médico.

“(...) Neste sentido, observa-se que a responsabilização da ré se dá em virtude de erro


médico ocorrido durante a cirurgia do autor, consistente na má técnica empregada pelo
cirurgião quando da realização do procedimento a que foi submetido o autor. Deste modo,
a ocorrência do nexo causal entre a conduta médica e o dano gerado restou con-
figurada, caracterizando a evidente ofensa moral e estética sofrida pelo autor, ante a
imperícia do profissional médico responsável, conforme observado pelo Douto Perito,
a fls. 457/470. Isso é suficiente para caracterizar a responsabilidade civil da ré pelo fato do
serviço, pois há evidente nexo causal entre as consequências da cirurgia e o dano causado
no corpo do autor. (...)” (Processo n.º 1045259-81.2018.8.26.0224. Órgão Julgador: 2ª
Câmara de Direito Privado TJ/SP. Desembargadora Relatora. HERTHA HELENA DE OLI-
VEIRA” (Grifo nosso).

“APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA. ERRO MÉDICO. Pretensão de ressarcimento de


danos morais, em razão de falha na prestação de serviço médico. Perfuração de intestino

14
CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL

durante cirurgia de retirada de ovário. Sentença de parcial procedência. Insurgência da


requerida. Cerceamento de defesa pelo julgamento antecipado da lide. Desacolhimento.
O juiz é o destinatário das provas, cabendo a ele decidir pela necessidade de sua produção.
Conjunto probatório constante nos autos suficiente para deslinde da ação. Desnecessida-
de de produção de outras provas. Princípio da livre apreciação das provas e convencimento
motivado do juiz (art. 370, do CPC). Preliminar afastada. Mérito. Laudo pericial que
constatou a ocorrência de erro médico. Negligência e imperícia demonstra-
das. Responsabilidade objetiva. Dano moral. Ocorrência, na medida em que, houve a
perfuração de intestino da paciente em uma primeira cirurgia, não visualizada em segunda
cirurgia realizada por complicações no pós-operatório, sendo necessários mais dois pro-
cedimentos cirúrgicos, que resultaram em retirada de todo o intestino grosso da paciente
e sequela permanente, consistente em diarreia crônica. Por conseguinte, há danos que
reverberam no foro íntimo da parte autora. Peculiaridades do caso concreto, contudo, que
recomendam a redução do quantum indenizatório para R$ 35.000,00. Sentença reforma-
da apenas para reduzir o valor da indenização. Recurso parcialmente provido.” (Apelação
Cível n.º 1000978-51.2015.8.26.0125. TJ/SP. 6ª Câmara de Direito Privado. Desembarga-
dor Relator RODOLFO PELLIZARI) (Grifo nosso).

Importa anotar que os pressupostos da responsabilidade civil são três


cumulativos: ação ou omissão; dano; e nexo de causalidade.
O dano pode ser caracterizado por aquele já ocorrido ou mesmo aquele
que ocorrerá no futuro, por exemplo, por conta de um erro médico o paciente
necessitará, em futuro próximo, se submeter a uma nova cirurgia que colocará
sua vida em risco, implicando na violação ao art. 15 do Código Civil.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento
médico ou a intervenção cirúrgica.

Para que haja a responsabilidade civil, além do dano, também se faz neces-
sária a existência do nexo causal, ou seja, ligação entre o prejuízo e a conduta
lesante.
Assim, deve se atentar que para que seja configurado o nexo causal deve
ser realizado a causa de pedir de forma a demonstrar o mesmo, posto que se
da causa de pedir não se verificar o nexo causal adequado pode haver a impro-
cedência da ação.
Dessa forma, se faz necessária a indicação correta do dano e do nexo
causal.
Estando presentes os elementos da responsabilidade civil podemos ingres-
sar com a ação indenizatória em face do médico ou profissional da saúde, sendo
que a responsabilidade deste é subjetiva nos termos do art. 14 § 4º do CDC.

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Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val

Isso se dá pelo fato de que, geralmente, se trata de obrigação de meio e


não de resultado, salvo casos especiais como no caso dos cirurgiões plásticos
estéticos, e a responsabilidade da clínica ou hospital é objetiva, mas decorre da
comprovação da culpa do médico ou profissional da saúde.

1.4 Espécies de danos.


Podemos ter danos de ordem moral, estético e/ou material, sendo este
último subdividido em dano emergente (aquele que gastou) ou lucro cessante
(deixou de receber/ganhar).
Todas essas formas de danos podem ser requeridas de forma cumuladas
ou isoladamente.
Neste sentido:

Súmula 387 STJ - É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral. 
Súmula 37 STJ - São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral
oriundos do mesmo fato.

1.4.1 Dano material


O dano patrimonial vem a ser aquele que causa lesão a universalidade
jurídica dos bens da pessoa, sejam eles materiais ou imateriais, como os morais,
imagem, os direitos de personalidade aqui também se englobam.
O dano material, positivo ou emergente, vem a ser a lesão concreta que afeta
o patrimônio dos bens materiais da vítima, e que é possível de aferição pecuniária
para fins de indenização pelo responsável do dano. A indenização deve observar o
previsto no art. 944 do Código Civil, medindo-se pela extensão do dano.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

O dano negativo ou lucro cessante se refere aquilo que a pessoa deixou de


ganhar ou aferir em razão do dano sofrido.
Em ambos os casos, tanto o dano emergente como os lucros cessantes,
devem ser comprovados de forma documental para se realizar o pedido.
A previsão do dano emergente e lucro cessante estão previstas no art. 402
do Código Civil.

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao
credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

16
CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL

Outrossim, nos termos do art. 949 do Código Civil há previsão específica


quanto às indenizações materiais na área da saúde.

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de al-
gum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Dessa forma, nas ações de lucros cessantes por erro médico deve se rea-
lizar o pedido de cobertura dos danos pelo período de convalescença e, se após
a perícia ficar constatada a incapacidade permanente, deve-se requer a pensão
vitalícia em razão da dignidade da pessoa humana nos moldes do inciso III, art. 1º
da Constituição Federal combinado com o art. 950 do Código Civil.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que
ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada
e paga de uma só vez.

Nos moldes do previsto no artigo transcrito, se do erro médico ocasionar


redução ou inabilitação ao trabalho para viabilizar o pedido de indenização é ne-
cessário se fazer provas documentais do dano causado e do quanto, por exem-
plo, pode se basear na remuneração daquele trabalhador e sua projeção futura.
Para o pedido de pensão mensal vitalícia é necessário que se tenha sequela
permanente, mas é possível, em caso de inexistência de sequela permanente,
o pedido de pensão mensal pelo período de convalescença sendo uma pensão
mensal provisória.
Segundo o parágrafo único o art. 950 do Código Civil, é possível pleitear
o valor da indenização de uma única vez.
Há corrente contrária no sentido de que não se deve requerer a aplicação
do permissivo legal, tendo em vista a possibilidade de o requerente ultrapassar
a expectativa de vida e haver redução no quanto indenizatório, inclusive por
ausência de atualização dos valores mensais no decorrer dos anos e por conta
do valor dado a causa.
Contudo, não concordamos com tal pensamento ante o risco de se manter
os pagamentos mensais e ao decorrer do tempo faltar patrimônio dos requeri-
dos para os pagamentos, podendo haver prejuízos muito maiores ao requerente

17
Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val

nessa espécie de demanda, sendo possível neste pedido se requerer a projeção


de atualização dos valores para trazê-los ao valor presente.
Muito embora tenhamos a previsão do art. 533 do Código de Processo
Civil que prevê constituição de capital.

Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao
executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o paga-
mento do valor mensal da pensão.
§ 1º O capital a que se refere o caput, representado por imóveis ou por direitos reais sobre
imóveis suscetíveis de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em
banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do executado,
além de constituir-se em patrimônio de afetação.
§ 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha
de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento
do executado, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato
pelo juiz.
§ 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme
as circunstâncias, redução ou aumento da prestação.
§ 4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.
§ 5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o
desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.

Importa anotar que quanto a pensão mensal vitalícia decorrente de erro


médico não há compensação com eventual pensão vitalícia recebida pela parte
do órgão previdenciário, nem mesmo há abatimento de valores, são institutos
diversos.
O dano patrimonial pode ser direto ou indireto. Sendo que o direto se
refere ao dano ocasionado ao patrimônio direito da vítima, e o indireto é aquele
que atinge bens jurídicos imateriais da vítima, mas que refletem de forma indire-
ta em perdas patrimoniais.
Temos que é possível a formulação de pedido de indenização por dano
material genérico, quando for de difícil sua mensuração. Neste sentido:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDI-


CO. DANOS MATERIAIS. PEDIDO GENÉRICO. AUSÊNCIA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA
PRETENSÃO AUTORAL. PREJUÍZO AO DIREITO DE DEFESA DA PARTE ADVERSA. JUROS
DE MORA. TERMO INICIAL. DATA DA CITAÇÃO. AGRAVO INTERNO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. “Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a deci-
sões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibili-
dade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça” (Enunciado 2 do Plenário do STJ). 2. Somente é possível a
formulação de pedido genérico quando for extremamente difícil a imediata mensuração do

18
CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL

quantum devido a título de dano material. Entretanto, a pretensão deve ser devidamente
individualizada de modo a permitir sua correta compreensão para que não haja prejuízo
ao direito de defesa da parte adversa. Precedentes. 3. Nos casos de responsabilidade
contratual decorrente de erro médico, os juros moratórios devem fluir a partir da citação.
Precedentes. 4. Agravo interno a que se dá parcial provimento. Vistos e relatados estes
autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma, por unanimidade,
dar parcial provimento ao agravo interno de NEUSA MARIA BONATTO, nos termos do
voto do Senhor Ministro Relator. Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos
Ferreira (Presidente) e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justifi-
cadamente, o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão. (STJ - AgInt nos EDcl no REsp 1390086 /
PR 2013/0188115-9, Relator: Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CON-
VOCADO DO TRF 5ª REGIÃO) (8400), Data do Julgamento: 14/08/2018, Data da Publi-
cação: 20/08).

No caso de óbito, também são indenizáveis os danos decorrentes desse,


como enterro; é possível, ainda, o pedido de fixação de pensão de alimentos aos
dependentes do de cujus, vide art. 948 do Código Civil:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta
a duração provável da vida da vítima.

Neste sentido, pedimos licença para transcrevermos trecho do Acórdão


da 07ª Câmara de Direito Privado, tendo por Desembargador Relator Rômulo
Russo nos autos do processo n.º Apelação Cível n.º 1069962-02.2014.8.26.0100:

“(...) A esse respeito, deflui do r. julgado de primeiro grau, verbis:“Quanto aos danos ma-
teriais, a parte autora comprova nas notas fiscais exibidas em fls. 245/247 os gastos que
teve com o funeral da autora em R$ 1.751,46.Analisando o conteúdo das notas, observo
que os produtos adquiridos estão relacionados ao tratamento da autora, de modo que pro-
cede o pedido de ressarcimento” (fls. 1.092).Na peculiaridade dos autos, os apelados efe-
tivamente comprovaram o dispêndio dos seguintes valores:- R$ 1.250,00 (tanatopraxia)
fls. 242;- R$ 1.522,55 (serviço funerário) fls. 245;- R$ 11.780,00 (jazigo) fls. 246/247.
Sobreleva marcar que a reparação do dano material, consistente nas despesas havidas
com o funeral é devida, nos moldes do art. 948, I, do Código Civil. De qualquer forma,
note-se que a recorrente não impugna as despesas elencadas, mas tão somente a falta de
fundamentação da r. sentença, detalhe processual que não desnatura a respectiva exigibi-
lidade do reembolso determinado, sobretudo à míngua de qualquer mácula ao adequado
entendimento tocante à solução jurídica ofertada.
Seja como for, não se vislumbra desrespeito à garantia constitucional da fundamentação
das decisões judiciais (art. 93, IX, da CF), afastando-se, portanto, a preliminar suscitada.
A concisão e a brevidade dessa parte da fundamentação, portanto, não importam em
desvalia processual do julgado atacado. (...)”

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Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val

Quanto à indenização dos dependentes, é possível nos moldes descritos,


como também a indenização aos pais no caso do óbito de um filho, ante a perda
da possibilidade de que este um dia prestasse auxílio pessoal ou econômico aos
pais.
Neste sentido é a Súmula 491 do STF:

Súmula 491 - É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não
exerça trabalho remunerado.

No mesmo sentido, é a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de


Justiça sobre este tema.

“(...) No caso de se tratar de filho adulto há jurisprudência no sentido de que deve se


demonstrar a dependência econômica. Contudo, é possível se demonstrar que no futuro
quando os pais estivessem idosos necessitariam da pensão, logo há perda de uma possi-
bilidade.
Quando tratamos de perda de filho menor, via de regra, a indenização por dano material
decorrente de pensão mensal vitalícia pela perda de filho vem sendo arbitrada na justiça a
partir dos 18 anos ante ser essa a idade laborativa no Brasil e no valor de 1 salário mínimo
já que não se sabe quando o filho é menor quanto receberia no futuro incerto.
Ainda quando se completa o tempo de 24 anos desse menor a jurisprudência vem reduzin-
do para 2/3 do salário mínimo até a idade de expectativa de vida. Neste sentido:
No que pertine à indenização devida a título de danos materiais, a jurisprudência desta
Corte e do STF, pacificada pela Súmula 491, reconhece o direito dos pais ao pensionamen-
to devido pela morte de filho menor, independentemente de este exercer ou não atividade
laborativa, quando se trate de família de baixa renda, como na hipótese dos autos. “CIVIL.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ATROPELAMENTO FATAL. MORTE DE MENOR. FAMÍLIA DE
BAIXA RENDA. PENSIONAMENTO DEVIDO. PERÍODO. REDUÇÃO DO VALOR PARA 1/3
APÓS OS 25 ANOS DE IDADE DA VÍTIMA. DANO MORAL. RAZOABILIDADE. I. Em se
tratando de família de baixa renda, é devido o pensionamento pela morte de filho menor
em acidente causado por coletivo da empresa ré, equivalente a 2/3 do salário mínimo dos
14 anos até 25 anos de idade da vítima, reduzido para 1/3 até a data em que o de cujus
completaria 65 anos II. Manutenção do valor fixado a título de danos morais, por não
se verificar excesso, na espécie. III. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.”
(RESP 514384/CE, Relator Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJ de 10.05.2004). No que
pertine aos danos morais, esta Corte, aplicando o princípio da razoabilidade, tem reco-
nhecido o direito à referida indenização, nestes termos: “ADMINISTRATIVO – RESPON-
SABILIDADE CIVIL DO ESTADO – DANOS MORAIS E MATERIAIS – INDENIZAÇÃO. 1. A
jurisprudência do STJ sedimentou-se no sentido de fixar a indenização por perda de filho
menor, com pensão integral até a data em que a vítima completaria 24 anos e, a partir
daí, pensão reduzida em 2/3, até a idade provável da vítima, 65 anos. 2. Razoabilidade na
fixação dos danos morais em 300 (trezentos) salários mínimos. 3. Recurso parcialmente
provido.” (RESP 507120/CE, Relatora Ministra Eliana Calmon, DJ de 10.11.2003).
Ex positis, cumprindo a função uniformizadora desta Corte, DOU PROVIMENTO ao re-

20
CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL

curso especial para: a) determinar que a pensão mensal seja paga desde o falecimento da
vítima, à razão de 2/3 do salário mínimo, até a data em que completaria 25 anos de idade;
a partir daí, à base de 1/3 do salário mínimo, até a data em que a vítima completaria 65
anos de idade e b) fixar a indenização por danos morais em 300 salários mínimos. Inverti-
dos os ônus de sucumbência.” (RECURSO ESPECIAL N.º 674.586 - SC (2004/0096228-0)
MINISTRO LUIZ FUX. Publicação DJ 02/05/2006).

Importa anotar que as indenizações em razão do óbito de familiar se fun-


dam em dano reflexo ou ricochete, informação esta importante no tocante a
fixação do termo inicial dos juros de mora e correção monetária.

1.4.2 Dano moral


O dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa
física ou jurídica. Esse dano pode ser afeto aos direitos de personalidade da
pessoa física.
O dano moral na área da saúde, em geral, se trata de dano moral in re ipsa,
ou seja, o dano a moral é presumido, não necessitando de prova, ele vem a ser
a consequência do ato danoso.
No REsp 86.271-SP temos o entendimento de que não há que se falar na
prova do dano moral, mas sim na prova do fato que gerou a dor, o sofrimento,
entre outros sentimentos.

“Não há falar na prova do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o sofri-
mento, sentimentos íntimos que o ensejam”. (REsp. 86.271-SP, 30 T., DJ 9.12.97).

Isso porque o dano moral não é a dor, angústia, desgosto ou aflição em


si, mas a violação aos direitos ou bens legalmente protegidos. Logo, a dor e o
sofrimento devem vir acompanhados do ato ilícito previamente praticado, com
a existência do nexo causal.
O dano moral é subjetivo, mas deve ser indicado no valor da causa, tendo
em vista tratar-se da pretensão do requerente, sendo que inexistindo a indica-
ção e o embasamento para seu pedido, o juízo pode indeferir o pedido ou ainda
determinar a emenda à petição inicial.
No entanto, observamos algumas decisões, inclusive no C. STJ, de que é
possível que:

“O autor da ação de indenização por danos morais deixe ao arbítrio do juiz a especificação
do quantum indenizatório” (REsp 1.704.541).

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Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val

O Código de Processo Civil no art. 292, inciso V é claro no sentido de que


o valor da causa, inclusive na ação fundada em danos morais, deve ser no valor
pretendido pela parte, vejamos:

Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:


(...)
V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;

Assim, faz-se necessário, de acordo com o CPC, que a parte indique o


valor que se pretende a título de danos morais.
Importa anotar que o dano moral pode ser de caráter direto ou indireto.
O dano moral direto consiste na lesão de direito ligado aos direitos de personali-
dade a partir do art. 11 do Código Civil, tais como a vida, a integridade corporal,
a honra, a dignidade da pessoa humana, entre outros.
Dignidade da pessoa humana está consagrada no inciso III, do art. 1º da
Constituição Federal, e pode ser definido como:

“(...) Com efeito, a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento da Repú-
blica, associada ao objetivo fundamental de erradicação da pobreza e da marginalização,
e de redução das desigualdades sociais, juntamente com a previsão do § 2º do art. 5º no
sentido da não exclusão de quaisquer direitos e garantias, mesmo que não expressos, des-
de que decorrentes dos princípios adotados pelo texto maior, configuram uma verdadeira
cláusula geral de tutela e promoção da pessoa humana, tomada como valor máximo pelo
ordenamento (…)”1

No que tange ao dano moral indireto, também conhecido como refle-


xo ou dano moral por ricochete, trata-se, em síntese, de dano que não atinge
propriamente a vítima e/ou paciente, mas as pessoas que estão vinculadas às
vítimas, como cônjuge, pai, filho, avós, neto e, até mesmo parentes em linha
colateral como irmãos, tios, sobrinhos.
Vejamos entendimento do Colendo STJ:

“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MO-


RAIS. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTENTE. ADMINISTRAÇÃO DE
MEDICAÇÃO. ERRO MÉDICO. ESTADO VEGETATIVO IRREVERSÍVEL. ÓBITO PRECOCE
DA GENITORA. DANO MORAL EM RICOCHETE. ARBITRAMENTO. SÚMULA 7/
STJ. VALOR IRRISÓRIO. REVISÃO. POSSIBILIDADE. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL.
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. DATA DA CITAÇÃO. 1. Ação ajuizada em 04/02/10.
Recurso especial interposto em 18/06/15 e atribuído ao gabinete em 25/08/16. Julgamento:

1 TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Rio de janeiro: Renovar, 1999, p. 48.

22
CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE CIVIL

CPC/73. 2. O propósito recursal consiste em definir: i) se há negativa de prestação juris-


dicional; ii) se o valor arbitrado a título de danos morais é ínfimo; iii) qual o termo inicial
dos juros de mora do valor dos danos morais. 3. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC,
rejeitam-se os embargos de declaração. 4. A revisão do valor da compensação por danos
morais demanda a reanálise do conjunto fático-probatório dos autos, circunstância ve-
dada a esta Corte pelo óbice da Súmula 7/STJ. Tão somente em hipóteses excepcionais,
quando os valores arbitrados na origem forem irrisórios ou exorbitantes, o STJ passa à
análise do mérito para restabelecer a razoabilidade e proporcionalidade no particular.
5. A responsabilidade civil por erro médico tem natureza contratual, pois era dever da
instituição hospitalar e de seu corpo médico realizar o procedimento cirúrgico dentro dos
parâmetros científicos. 6. Entretanto, nas hipóteses em que ocorre o óbito da vítima e a
compensação por dano moral é reivindicada pelos respectivos familiares, o liame entre os
parentes e o causador do dano possui natureza extracontratual, nos termos do art. 927,
do CC e da Súmula 54/STJ. Termo inicial dos juros de mora, portanto, é a data do evento
danoso, ou seja, a data em que configurado o erro médico causador do dano. 7. Hipótese
em que o erro médico configurado no particular foi concausa para concretos elementos de
aflição moral, tais como: i) a parada cardiorrespiratória na paciente, ii) período de inter-
nação hospitalar, em coma, de cento e cinquenta dias; iii) estado vegetativo irreversível; iv)
quatro anos de cuidados ininterruptos em casa; iv) óbito precoce aos 58 anos de idade da
genitora dos recorrentes. Compensação por danos morais fixada em 150 salários mínimos
para cada recorrente. 8. Recurso especial conhecido e parcialmente provido” (REsp. N.º
1.698.812 - RJ (2016/0104842-4) RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI. Terceira
Turma do STJ” (Grifo nosso).

A base legal para as ações que envolvam erro médico ou do médico, em


que se pleiteia danos morais, estão no art. 5º, incisos V e X, da Constituição
Federal, que asseguram a reparação por danos morais, além disso, em referidas
ações observamos que trata de um direito social, previsto na própria constitui-
ção (art. 6º).

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;
(...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegura-
do o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Além da norma constitucional mencionada acima, é importante em refe-


ridas demandas fundamentar a pretensão com respaldo no art. 1º, inciso III,
da Constituição Federal, isto porque a dignidade das pessoas vítimas de erro
médico geralmente é violada.

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Direito Médico e da Saúde - Manual Prático
Rodrigo Arantes Cavalcante e Renata Do Val

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana;

Além dos dispositivos acima, é interessante que o profissional que for atu-
ar em processo de erro médico conheça o Código de Ética Médica, isto porque
em referida legislação observamos que o médico deve guardar absoluto respeito
pela vida humana, atuando em benefício do paciente.
Além disso, entendemos que em referidos processos, principalmente de
óbito por erro médico, é perfeitamente possível fundamentar no art. 3º da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU), de 1948.

“Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”

Além desses dispositivos, é comum em processos de erro médico fun-


damentar nos arts. 186, 187 e 927 do Código Civil, isto porque aquele que
comete dano a outrem, incluindo o dano moral, está obrigado a reparar o dano,
sendo que no art. 186 do Código Civil observamos menção à questão da impru-
dência, negligência, ação e omissão voluntária.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede ma-
nifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Além disso, nos termos do parágrafo único do art. 927 do Código Civil
observamos a responsabilidade objetiva, isto porque segundo tal dispositivo
haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Repisa-se que a responsabilidade objetiva também se dá por defeito na
prestação de serviços.

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