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Fui conversar com Kimeru, mas este, com raiva, me mandou embora.
Wahare não deu bola. Jemedi olhava para mim e Kimeru, chorando.
A criança estava salva e era nossa filha. No outro dia, Kimeru e seus
filhos regressaram da pescaria. Veio direto me agredindo, avançando
com um pedaço de pau contra mim e contra a criança. Era outra cena
de ameaça.
Não ia acontecer mais nada (...) As moças contaram que naquela noite
Wahare ia cortar a criança com terçado (...) Nos próximos dias nosso
trabalho consistiu em dar cobertura à unidade de identificação da
criança entre zuruaha-made e jara-made, isto é, analisar e discutir com
eles sobre o novo status da criança rejeitada pelos Zuruahá e aceita por
nós brancos, mostrando a nova relação da criança com seu povo.
Não apresenta seqüelas físicas, mas é rejeitada por tudo e por todos. O
que ganha é tomado pelas demais e se alimenta de restos”. Em
resumo, pergunta: o que fazer agora, já que a outra paciente pode
entrar em trabalho de parto a qualquer momento? Ocultar o
nascimento de duas crianças, mostrando só uma delas, como propõe o
programa indigenista?
Que critérios usar para a escolha? É justo arriscar a vida do bebê que
mora com a mãe, se esta vir a descobrir que o outro sobrevivera? Ou o
ideal seria mostrar os dois bebês, mesmo sabendo que um deles vai
morrer na primeira oportunidade? Cabe relembrar: a sugestão de
ocultar o nascimento de uma das crianças partiu de programa
indigenista, fruto de parceria entre empresa e a própria Fundação
Nacional do Índio (Funai), órgão governamental, que responde ao
Ministério da Justiça. Por si só, o ato de atender a um pedido do
Programa respaldaria o médico quanto a uma eventual infração ética?
(Ayer-de-Oliveira), 2008, p. 187-8. Grifamos).
CONCLUSÃO
Respeitadas essas condições, e depois dos povos envolvidos manifestarem seu
interesse e disposição em participar, poderá uma reflexão bioética engajada colaborar
com os processos de construção ou contestação de proposições legislativas; programas
ou políticas governamentais; projetos desenvolvidos pororganizações não
governamentais; universidades e outros que tenham por finalidade dialogar sobre as
práticas de interditos de vida existentes em algumas comunidades indígenas. Insistimos
em afirmar que essa demanda hoje posta foi construída por grupos externos, estranhos
morais dos povos indígenas, porém não podemos ignorá-la.
Dos quatro casos descritos, apenas um poderia ser compreendido como uma
tentativa de diálogo bem sucedida, o da criança lábio leporina. Nos demais não houve
consideração da vontade das pessoas ou grupos étnicos diretamente envolvidos.
O problema torna-se mais grave ainda quando não se tem consciência dessa
violação, não sendo possível ao autor da intromissão medir as conseqüências de seu ato.
Se na condição de Kroemer, com longo tempo de convivência com o povo e possuidor
de conhecimento antropológico, sua atitude provocou uma série de desdobramentos
violentos e “desestruturantes” na vida da comunidade, podemos supor quanto maior e
mais grave poderá ser a conseqüência de uma ação empreendida por alguém que
desconhece a cultura do respectivo povo. É a situação do médico que “se viu obrigado a
agir” em relação às crianças gêmeas, seguindo recomendação dos profissionais de saúde
e funcionários da Funai. Nesse caso, por se tratar de gravidez gemelar, o problema é
muito mais complexo, pois os gêmeos ocupam lugar de destaque na cosmologia
indígena amazônica:
Os apapalutápa-mina, ou “bichos´”, são seres que hesitam, por assim
dizer, entre os humanos e os espíritos. [...] os gêmeos Sol e Lua, pais
dos humanos e filhos do jaguar arquetípico, nasceram na aldeia dos
apapalutápa-mina, chefiada por esse mesmo jaguar. O surgimento da
humanidade está associado a uma disjunção entre os gêmeos e a tribo
do pai: os primeiros índios, feitos de caniço de taquara pelo Sol,
mataram todos os animais (Viveiros de Castro, 2002, p. 47).
Tomamos conhecimento de outro caso semelhante onde a criança, aos quatro
anos, ainda não falava e era motivo de piadas, chingamentos e, em algumas ocasiões,
chegava a ser apedrejada pelos colegas da aldeia. “morto social”
O mito
Édipo nasceu príncipe da cidade de Tebas, filho do rei Laio e da rainha Jocasta. Ao nascer, foi
levado ao oráculo de Delfos onde foi profetizado que Édipo se tornaria um herói, após matar o pai e
desposar a mãe, desencadeando uma cadeia de desgraças, que causariam a ruína da casa real.
Segundo as versões de Ésquilo e Eurípedes, no entanto, o oráculo antecedeu a concepção, para
impedir que Laio tivesse um filho; Laio desconsiderou o aviso, e Édipo nasceu.
Aterrorizados e querendo frustrar a profecia, Laio e Jocasta resolveram encarregar um servo de
deixar o filho na encosta da montanha de Cinterão, com os pés amarrados e trespaçados por uma
correia na altura dos tornozelos, para ser devorado pelos lobos. O servo, no entanto, apiedou-se do
bebê e o entregou a um pastor que levou a criança para a cidade de Corinto. Ao chegar, Édipo foi
recebido e adotado pelo rei Pólibo, pois a rainha Mérope havia recentemente gerado um natimorto.
Édipo cresce como príncipe em Corinto, acreditando ser um filho legítimo.
Anos mais tarde, já adulto, Édipo procurou o oráculo de Delfos para saber mais a respeito do seu
parentesco. O oráculo repetiu a profecia, de que viria a matar seu pai e casar-se com sua mãe. Sem
conhecer sua verdadeira filiação, Édipo acreditou que estava destinado a assassinar Polibo e se
casar com Mérope.
Procurando evitar seu destino, Édipo deixou Corinto e partiu em direção a Tebas. Num trecho
estreito da estrada, encontrou o rei Laio, que estava indo a Delfos consultar novamente o oráculo,
pois havia sentido presságios de que seu filho estava retornando para matá-lo. Os lacaios de Laio
ordenaram que Édipo desse passagem à carruagem do rei. Como Édipo se recusou, Laio bateu-lhe
com seu chicote. Tomado pela fúria, Édipo matou Laio e todos os seus homens, exceto um,
acreditando serem um bando de malfeitores.
Ao chegar a Tebas, Édipo soube que o rei da cidade havia sido morto recentemente e que a cidade
estava à mercê da Esfinge, um monstro que devorava todos os que não resolvessem seu enigma.
Édipo respondeu corretamente às duas questões propostas pela Esfinge e assim a derrotou. Por
esse feito, conquistou o trono do rei morto, fazendo jus a casar-se com sua viúva.
Anos depois, para acabar com uma praga em Tebas, Édipo procurou investigar quem havia matado
Laio e acabou descobrindo, por intermédio do adivinho Tirésias, que ele mesmo era o responsável.
Jocasta, ao perceber que havia se casado com o próprio filho, se enforcou. Em desespero, Édipo
retirou dois alfinetes de vestido da mãe e com eles perfurou os próprios olhos, afirmando ter sido
cego por não reconhecer o verdadeiro presságio anunciado pelo oráculo .
Esta passagem do mito é o mais conhecido, mas a vida de Édipo segue em frente, com ele
tornando-se um mendigo e esmolando por Tebas, guiado por sua filha Antígona. Mais tarde o cego
assiste os filhos Etéocles e Polinices brigarem pelo trono das duas cidades, Tebas e Corinto.
Em meados do século 6 a.C., o rei da Lídia, Creso, estava se sentindo ameaçado pelo
avanço do Império Persa, e pediu para o Oráculo Delfos se deveria enfrentar os persas
em batalha. O Oráculo respondeu que, se houvesse uma batalha, um império iria cair.
Acreditando que o império condenado era o persa, Creso atacou e descobriu que havia
se enganado. Os persas venceram e o império que deixou de existir foi o seu.