ambientais cometidos na Hidrelétrica Belo Monte/Al e na construção de estaleiro em Coruripe/Al, apresentado ao Professor Sandro Henrique Calheiros Lobo, matéria Direito Ambiental, empregada como requisito para obtenção de nota para segunda Avaliação Formativa, nono
período, curso de Direito.
PALMEIRA DOS ÍNDIOS/AL
2022 1 DISCRICIONARIEDADE OU VINCULAÇÃO DA LICENÇA AMBIENTAL.
A licença ambiental como espécie de ato administrativo
Segundo Tamaoki e Tebar ( 2012, p. 178) a doutrina tem levado a efeito
a discussão acerca da natureza jurídica da licença ambiental sempre de forma comparativa com os institutos da licença e autorização, ambos do Direito Administrativo. Para contrapor as várias espécies de atos administrativos e classificar a licença ambiental, utiliza-se os critérios da precariedade ou definitividade do ato, que relaciona-se com sua revisão ou invalidação, e seu caráter vinculado ou discricionário, ligado a possibilidade de denegação por oportunidade e conveniência administrativas.
1.1 A discricionariedade da licença e da autorização
No âmbito do Direito Administrativo, Meireles (2014, p. 204) e Mello
(2014, p. 444), definem autorização e licença ao mesmo tempo que as diferencia: enquanto a primeira espécie seria ato discricionário e precário, a última, vinculado e definitivo.
Nesse contexto, três correntes se destacam: há quem entenda que a
licença ambiental é, na realidade, uma espécie autorização; outros dizem que é mesmo uma licença nos termos do Direito Administrativo e, por fim, há os que defendem, a exemplo de Coutinho e Farias (2005. p. 105) trata-se de uma espécie sui generis, composta por características dos dois institutos.
A discricionariedade é a possibilidade da Administração Pública negar a
concessão do ato, por conveniência, conforme ensina Meirelles (2014, p. 205), mesmo que o pretendente satisfaça as exigências administrativas. Por outro lado, sendo vinculado o ato, a Administração Pública está obrigada a sua concessão sempre que preenchidos os requisitos legais, não cabendo falar em decisão discricionária.
Essa tradicional vinculação da licença administrativa é vista por Milaré
(2011, p. 518) com restrições na licença ambiental: nesta, há sempre uma discricionariedade técnica, fundamentada na análise dos estudos ambientais, que pode levar ao deferimento ou não da pretensão do empreendedor, mesmo que cumpridas as exigências legais. Ademais, o mesmo autor lembra que cabe ao Poder Público decidir acerca da compatibilidade do empreendimento com os planos governamentais.
Realmente, não há legislação especifica vinculando a decisão do órgão
ambiental à aceitação ou não das técnicas, soluções ou métodos escolhidos pelo empreendedor e apontadas nos estudos. É possível, por exemplo, que as medidas mitigadoras dos impactos negativos ou equipamentos de controle, conforme previsto no art. 6o. III, da Resolução CONAMA no. 01, de 23 de janeiro de 1986 (BRASIL, 1986), sejam consideradas pela entidade licenciadora, ultrapassados, ou insuficientes. Nesse aspecto, a decisão é discricionária
Machado (2014, p. 320) entende ser a licença ambiental verdadeira
autorização administrativa, posto não poder ser tida por definitiva, já que a Lei Federal nº 6.938/81, previu sua revisão, além do que, o texto constitucional, em seu art. 170, parágrafo único, utiliza a expressão “autorização” nos seguintes termos: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente de autorização de órgão público, salvo nos casos previsto em lei” (BRASIL, 1988).
O fato de a Constituição Federal utilizar a expressão “autorização” em seu
art. 170, em nada pode influenciar para definir a natureza jurídica da licença ambiental. Isso porque, como entende Oliveira (2005. p. 308), a utilização da expressão “autorização” no dispositivo constitucional mencionado, não tem o rigor técnico trazido à baila pelo Direito Administrativo, traduzindo, tão somente, o sentido de concordância ou permissão , em sentido amplo.
1.2. A definitividade da licença ambiental e sua invalidação.
A precariedade contrapõe-se à definitividade e é caracterizada pela
possibilidade do Poder Público invalidar o ato, a qualquer momento, por conveniência, e sem necessidade de indenização. É o que ocorre com a autorização administrativa.
Machado (2014, p. 320) entende ser a licença ambiental verdadeira
autorização administrativa, posto não poder ser tida por definitiva, já que a Lei Federal nº 6.938/81, previu sua revisão, além do que, o texto constitucional, em seu art. 170, parágrafo único, utiliza a expressão “autorização” nos seguintes termos: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente de autorização de órgão público, salvo nos casos previsto em lei” (BRASIL, 1988).
O fato de a Constituição Federal utilizar a expressão “autorização” em
seu art. 170, em nada pode influenciar para definir a natureza jurídica da licença ambiental. Isso porque, como entende Oliveira (2005. p. 308), a utilização da expressão “autorização” no dispositivo constitucional mencionado, não tem o rigor técnico trazido à baila pelo Direito Administrativo, traduzindo, tão somente, o sentido de concordância ou permissão , em sentido amplo.
2 O CASO BELO MONTE/AL.
Idealizada ainda no governo militar (1975), em plena época da ditadura,
o projeto do complexo Kararaô (o primeiro nome de Belo Monte) tinha dimensões maiores em relação ao atual. Na ocasião, a Ditadura Militar pretendia uma obra com seis barragens entre os rios Xingu e Iriri, configuração que não poupava sequer o Parque Nacional do Xingu, onde vivem comunidades indígenas. Nesse período vigorava a ideologia do crescimento econômico rápido e a qualquer custo. O projeto inicial previa a construção de um complexo hidrelétrico com capacidade instalada de 20.000 MW (maior do que a Usina Hidrelétrica de Itaipu) e o alagamento de um território de 18.000 quilômetros quadrados, uma área 12 vezes maior do que a cidade de São Paulo
O projeto foi retomado a partir de 2001, devido à necessidade de energia
do país, que sofria então com racionamentos. Críticas de ambientalistas, tendo em vista outros grandes projetos de infraestrutura como as hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí e novas leis de crimes ambientais, fizeram com que o projeto original do Complexo Belo Monte fosse revisto e reduzido a partir do governo do presidente Lula, não obstando, porém que o setor elétrico utilizasse todo o potencial dos rios amazônicos para a geração de energia. 2.1 Órgãos Licenciadores e Procedimentos adotados.
Instrumentos legais, muitas vezes resultantes da pressão de
movimentos sociais e da sociedade civil organizada, são muito importantes para a implementação de uma justiça ambiental. Porém, é necessário perceber que esses instrumentos são na realidade, o resultado da própria dinâmica do sistema capitalista, que se apropria do discurso da proteção socioambiental, adequando-o à sua realidade e controlando o processo histórico e social em andamento.
As liberações de licenciamentos ambientais de projetos, como o da
Usina de Belo Monte entre outros, ocorrem apenas em função de um desejável crescimento econômico do país.
Conclui-se, portanto, que no sistema ambiental habilitado pela repartição
de competências comuns entre os entes da Federação, todos os órgãos componentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente serão legalmente competentes para promover as fases do licenciamento administrativo, bastando que o empreendedor faça-as nos termos estipulados pelos critérios, para que os seus empreendimentos não estejam passíveis de incorrer em conflitos de competência. No caso em tela o Ministério Público Federal tem tido um papel preponderante no que tange aos diversos pedidos de paralização da obra que até o momento continua a pleno vapor.
2.2 Posição da sociedade civil sobre os impactos ambientais x
posição do Estado.
A região em que foi implantada a UHE tem precária presença do Estado
e é sensível a qualquer mudança da bacia hídrica a qual é abastecida. Quem construísse a Hidrelétrica deveria trazer também várias melhorias para a população, como, por exemplo, o mínimo de saneamento básico, inexistente até então. Aí reside a atuação contundente do Ministério Público no sentido de garantir que o desenvolvimento não se restrinja somente aos cofres da concessionária de energia elétrica, mas aos habitantes em geral. Com investimentos girando em torno de 31 bilhões de reais e num cenário de grande ineficiência estatal, a NORTE ENERGIA S/A ficou obrigada a atender diversos requisitos para obtenção de licenças, sendo esse o cerne da disputa entre o IBAMA e o MPF. O IBAMA, mesmo sendo o órgão responsável pela fiscalização adequada e atenta dos requisitos necessários à instalação da Represa, agiu diversas vezes com frouxidão, concedendo licenças sem a devida contraprestação da concessionária.
Não é somente ao não atendimento das condicionantes e fiscalização
precária do IBAMA que se devem diversos problemas vistos na região do Xingu, onde foi implantada a UHE. A falta de cooperação entre as esferas do Executivo também tornam lentas as obras de melhorias nas cidades envolvidas e os investimentos nas comunidades que vivem ao longo do rio. Conforme a advogada Carolina Reis, do Instituto Socioambiental de Altamira, o que existe é “uma priorização na execução do cronograma da obra e esse mesmo esforço não é investido no atendimento das condicionantes, grande parte delas que prepararia a região para uma obra desse porte”.
2.3 Decisões judiciais sobre o caso.
A construção da usina de Belo Monte só foi possível porque ainda subsiste
entre nós o instrumento processual da Suspensão de Segurança (SS).
Criado pela lei 4.348 de junho de 1964 com o intuito de controlar
politicamente as decisões judiciais contrárias ao regime militar, esse entulho autoritário permite a tribunais suspenderem decisão de instância inferior diante do perigo de “ocorrência de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas”. Em resumo, permite aos Presidentes dos Tribunais cassarem decisões que julguem impertinentes, mesmo que estas não façam mais do que aplicar a lei em vigor no país.
Podemos afirmar que Belo Monte só foi implantada porque existe a
Suspensão de Segurança. Em 2006, a presidente do STF à época, Ministra Ellen Gracie, suspendeu decisão da 3ª turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) que determinava que os povos indígenas atingidos pela usina fossem ouvidos, como determina a Constituição Federal e a Convenção 169 da OIT, da qual o Brasil é signatário. Ela, no entanto, acolhendo recurso da Advocacia Geral da União (AGU) entendeu que a continuidade do licenciamento, mesmo que viciado, era importante para a manutenção da “ordem e economia públicas”. Em 2012 o Ministro Ayres Britto reiterou essa decisão, quando o mesmo assunto voltou à sua mesa, novamente por meio da SS. Nessa ocasião, o presidente do STF prometeu que o julgamento de mérito da ação resolveria as controvérsias. Passados 15 meses, a ação sobre oitivas indígenas sequer foi novamente pautada pelo STF.
Entre outros diversos casos, em 2021 a Justiça Federal manteve uma
liminar de Altamira que garantia a quantidade de água necessária para a sobrevivência das comunidades, animais e plantas da região, porém o governo conseguiu a suspensão de segurança junto à presidência do TRF1. O Tribunal Regional Federal da 1ª região atendeu a pedidos da União e da Norte Energia e suspendeu a liminar que determinava a redução da vazão da hidrelétrica Belo Monte, no rio Xingu (PA), para a geração de energia, conforme decisão do desembargador Francisco de Assis Betti vista pela Reuters.
3. O ESTALEIRO EM CORURIPE/AL
Em 2015 o Estaleiro Ilha S.A. (Eisa), que construiria uma unidade de
construção de navios em Coruripe, no litoral sul da Alagoas, anunciou abertura em processo de recuperação judicial um dia após demitir três mil funcionários. Segundo a empresa, controlada pelo grupo Synergy, a justificativa para o corte de pessoal foi consequência dos impactos da recessão econômica e da Lava-Jato, "que paralisou as atividades da indústria naval e de offshore".
3.1 Órgãos Licenciadores e Procedimentos adotados.
A Secretataria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento
Econômico de Alagoas (Seplande) em 01/09/2014 que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) havia concedido a licença de implantação para a construção do Estaleiro do Nordeste (Enor). A licença foi assinada pelo presidente do Ibama, Volney Zanardi, após a análise de estudos de impactos. Ainda sim, a empresa encontrou problemas no tocante à obtenção de licença ambiental definitiva para a implantação do estaleiro, em virtude de exigências do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 3.2 Posição da sociedade civil sobre os impactos ambientais x posição do Estado.
A população de Coruripe manifestou apoio à instalação do Estaleiro
durante Audiência Pública
“A vinda do Estaleiro vai resolver o problema social da evasão escolar.
Muitos alunos não frequentam as salas de aula por não terem perspectiva de crescimento profissional. Assim como querem conservar a natureza, eu quero conservar os meus adolescentes nas escolas”, desabafou a gestora escolar e moradora do município de Coruripe, Betânia Vasconcelos, nesta quinta-feira (07), durante a audiência pública para discussão dos estudos complementares da nova alternativa locacional do Estaleiro Eisa Alagoas.
Lideranças políticas, representantes de organizações e entidades de
proteção ambiental, do poder executivo, do setor empresarial, pescadores e estudantes somaram mais de 500 pessoas que estavam presentes na audiência pública que durou cerca de quatro horas e meia. O ato ocorreu no Centro Assistencial Barreiras, Rua Luís Lima Beltrão, no povoado de Barreiras.
3.3 Decisões judiciais sobre o caso.
O Ibama analisou a viabilidade ambiental do projeto, quando uma decisão
judicial invalidou o licenciamento estadual para a obra. Em junho de 2011, o instituto solicitou alterações no projeto.
De acordo com o Ibama, os ajustes foram apresentados pela empresa sete
meses depois. O IBAMA comprou briga com parlamentares de Alagoas, que disseram que pretendem prejudicar os projetos do Ibama que passarem pelas comissões no Congresso.
Antes de ser viabilizado, o projeto naufragou com o início da operação
Lava Jato. Diante da demora na concessão da licença ambiental pelo Ibama e dos imbróglios para liberação do financiamento do Fundo de Marinha Mercante. O projeto seria tocado pelos irmãos Efromovich, presos em 19 de agosto de 2020 em uma operação da Polícia Federal. 4. CONCLUSÃO:
Podemos com isto concluir que o procedimento de licenciamento ambiental
não foi respeitado, tão pouco as normas que regem a legislação ambiental brasileira, a sociedade civil não foi efetivamente ouvida, o jogo de toma lá dá cá da política e de interesses econômicos prevaleceu na maioria dos casos. A construção da Usina de Belo Monte na região acarretou uma gama de externalidades negativas para as populações locais, sobretudo a indígena e aquelas que dependem das terras afetadas.
Observa-se que a construção da usina é uma tentativa de implantar um
projeto de sociedade, visando impor uma “civilização” à região amazônica. Projeto este que já existe na intenção política brasileira desde a segunda metade do século XX, em que o exército era responsável por realizar expedições ao norte do país, e, hoje, devido à demanda energética crescente, vê-se a oportunidade de se tornar realidade e ocupar a região com grandes empreendimentos.
A negativa do Ibama de dar a licença prévia para a construção do Estaleiro
Eisa Alagoas no município de Coruripe, em Alagoas, abriu a porta para discussão sobre a forma de fazer política no Brasil.
O IBAMA comprou briga com parlamentares de Alagoas, que disseram que
pretendem prejudicar os projetos do Ibama que passarem pelas comissões no Congresso.
O deputado federal Givaldo Carimbão, líder do PSB na Câmara, foi o
primeiro a repudiar a decisão do Ibama e a ameaçar: “Não está descartado ve- tar os projetos enviados pelo Ibama por intermédio do Ministério do Meio Ambiente”.
Desse modo podemos perceber claramente o embate entre política,
Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições