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Módulo 6

6. LICENCIAMENTO AMBIENTAL, ATIVIDADES


E EMPREENDIMENTOS

Quando atividades ou empreendimentos atuam sem uma licença ambiental


exigida, haverá responsabilização de três formas distintas e cumulativas em
decorrência da ação. A administrativa, a criminal e a civil.
A administrativa diz respeito a autuações, multas, etc, pelo órgão ambiental e
proibições do exercício de direitos junto à administração pública, como o da
obtenção de certos benefícios ou incentivos junto a órgãos públicos, como bancos,
etc. A título exemplificativo, o Decreto 6.514 de 2008, responsável por regulamentar
as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, diz1:

Art. 66. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar


estabelecimentos, atividades, obras ou serviços utilizadores de recursos
ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, sem
licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, em desacordo
com a licença obtida ou contrariando as normas legais e regulamentos
pertinentes:

Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de


reais).

Parágrafo único. Incorre nas mesmas multas quem:


(…)

1 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6514.htm
II – deixa de atender a condicionantes estabelecidas na licença ambiental.

Havendo qualquer tipo de dano ambiental decorrente da ação sem licença,


ocorrerá crime. A Lei dos Crimes Ambientais, nº 9.605 de 1998, apresenta diversas
tipificações de condutas e suas respectivas penas para situações de atuação sem
licença ambiental, por exemplo2:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e


penalmente conforme o disposto nesta Lei (...)

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das


pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.

(…)

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às


pessoas jurídicas (…) são:

I – multa;
II – restritivas de direitos;
III – prestação de serviços à comunidade.

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:

I – suspensão parcial ou total de atividades;


II – interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III – proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter
subsídios, subvenções ou doações.

2 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
Por sua vez, a responsabilização na esfera civil impõe a obrigação de
recuperação da área degradada, buscando-se garantir o retorno ao estado anterior à
degradação e também a indenização financeira pelos danos causados que não
possam ser recuperados, como danos à coletividade, à comunidade, etc.
A lei não determina um valor máximo que poderá ser exigido. Na verdade, o
montante a ser estipulado tanto a título de investimento na recuperação quanto no
que se refere às indenizações está diretamente ligado à extensão dos danos e à
amplitude dos impactos ambientais negativos gerados. Em determinadas situações,
há até mesmo a possibilidade de inviabilização econômica das atividades da própria
empresa. Neste sentido:

Constituição Federal de 19883:

Art. 225. (…)

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

Política Nacional do Meio Ambiente4:

Art. 14. (…)

§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o


poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá

3 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938compilada.htm
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.

Deste modo, é muito importante a estrita atuação respaldada pelas licenças


exigíveis. Além da adequação às normas ambientais vigentes no país, o
licenciamento ambiental garante que o negócio cumpra sua responsabilidade com a
preservação e a manutenção dos recursos naturais, assegurando bem-estar e
qualidade de vida à sociedade.
O negócio que está com a licença regularizada elimina o risco de multas e
melhora seu desempenho ambiental. Em termos econômicos, isso pode significar
redução de custos, além de aumento da competitividade e da possibilidade de
obtenção de crédito e linhas de financiamento.
Quanto aos custos que envolvem um processo de licenciamento ambiental,
todos eles devem ser arcados pela parte interessada na obtenção da licença, ou seja,
pelo empreendimento ou pelo detentor da atividade.
E quando falamos em custos não estamos falando apenas nas taxas que serão
cobradas pelo órgão público, mas sim todos aqueles que sejam necessários à
realização do licenciamento em si, como os honorários dos profissionais técnicos
responsáveis pela realização dos estudos ambientais, gastos com deslocamento,
material necessário para realização de análises, perícias, etc. A Resolução 237/1997
do Conama diz5:

Art. 11. Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser


realizados por profissionais legalmente habilitados, às expensas do
empreendedor.

Parágrafo único. O empreendedor e os profissionais que subscrevem os


estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas

5 http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=237
informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e
penais.

Os profissionais que atuarão em licenciamentos ambientais deverão estar


legalmente habilitados em suas respectivas áreas de formação técnica. Esta
habilitação diz respeito, por exemplo, à inscrição nos respectivos órgãos de classe,
quando houver, como Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA),
Conselho Regional de Biologia (CRBIO), Conselho Regional de Química (CRQ), Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), etc.
Uma questão importantíssima é a responsabilidade dos profissionais quanto
aos estudos produzidos. Tudo aquilo que seja apresentado em um estudo ambiental
é de inteira responsabilidade de seu idealizador técnico, sujeitando o profissional
fornecedor de informações e dados falsos ou incorretos a sanções administrativas,
penais e civis.
A norma ambiental elenca diversas atividades que estão, irrefutavelmente,
sujeitas ao licenciamento ambiental para seu exercício. São atividades
presumidamente poluidoras, que causam significativa degradação ambiental e,
portanto, de imprescindível submissão às licenças ambientais.
Um importante rol encontra-se na Resolução 237/97 do CONAMA, Anexo 1. As
atividades ali previstas possuem caráter exemplificativo. Deste modo, não se trata de
uma lista fechada, mas sim orientadora.
Atividades que não estejam listadas, mas que exerçam ou possam exercer
significativo impacto ambiental estão também sujeitas ao licenciamento ambiental.
Segue a íntegra do anexo mencionado6:

ANEXO 1

6 https://cetesb.sp.gov.br/licenciamento/documentos/1997_Res_CONAMA_237.pdf
ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS SUJEITAS AO LICENCIAMENTO
AMBIENTAL

Extração e tratamento de minerais: Pesquisa mineral com guia de


utilização. Lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem
beneficiamento. Lavra subterrânea com ou sem beneficiamento. Lavra
garimpeira. Perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural.

Indústria de produtos minerais não metálicos: Beneficiamento de minerais


não metálicos, não associados à extração. Fabricação e elaboração de
produtos minerais não metálicos tais como: produção de material
cerâmico, cimento, gesso, amianto e vidro, entre outros.

Indústria metalúrgica: Fabricação de aço e de produtos siderúrgicos.


Produção de fundidos de ferro e aço / forjados / arames / relaminados com
ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Metalurgia dos
metais não-ferrosos, em formas primárias e secundárias, inclusive ouro.
Produção de laminados / ligas / artefatos de metais não-ferrosos com ou
sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Relaminação de
metais não-ferrosos , inclusive ligas. Produção de soldas e anodos.
Metalurgia de metais preciosos. Metalurgia do pó, inclusive peças
moldadas. Fabricação de estruturas metálicas com ou sem tratamento de
superfície, inclusive galvanoplastia. Fabricação de artefatos de ferro / aço e
de metais não-ferrosos com ou sem tratamento de superfície, inclusive
galvanoplastia. Têmpera e cementação de aço, recozimento de arames,
tratamento de superfície.

Indústria mecânica: Fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e


acessórios com e sem tratamento térmico e/ou de superfície.

Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações: Fabricação de


pilhas, baterias e outros acumuladores. Fabricação de material elétrico,
eletrônico e equipamentos para telecomunicação e informática. Fabricação
de aparelhos elétricos e eletrodomésticos.

Indústria de material de transporte: Fabricação e montagem de veículos


rodoviários e ferroviários, peças e acessórios. Fabricação e montagem de
aeronaves. Fabricação e reparo de embarcações e estruturas flutuantes.

Indústria de madeira: Serraria e desdobramento de madeira. Preservação


de madeira. Fabricação de chapas, placas de madeira aglomerada,
prensada e compensada. Fabricação de estruturas de madeira e de móveis.

Indústria de papel e celulose: Fabricação de celulose e pasta mecânica.


Fabricação de papel e papelão. Fabricação de artefatos de papel, papelão,
cartolina, cartão e fibra prensada.

Indústria de borracha: Beneficiamento de borracha natural. Fabricação de


câmara de ar e fabricação e recondicionamento de pneumáticos.
Fabricação de laminados e fios de borracha. Fabricação de espuma de
borracha e de artefatos de espuma de borracha , inclusive látex.

Indústria de couros e peles: Secagem e salga de couros e peles. Curtimento


e outras preparações de couros e peles. Fabricação de artefatos diversos de
couros e peles. Fabricação de cola animal.

Indústria química: Produção de substâncias e fabricação de produtos


químicos. Fabricação de produtos derivados do processamento de petróleo,
de rochas betuminosas e da madeira. Fabricação de combustíveis não
derivados de petróleo. Produção de óleos/gorduras/ceras vegetais-
animais/óleos essenciais vegetais e outros produtos da destilação da
madeira. Fabricação de resinas e de fibras e fios artificiais e sintéticos e de
borracha e látex sintéticos. Fabricação de
pólvora/explosivos/detonantes/munição para caça-desporto, fósforo de
segurança e artigos pirotécnicos. Recuperação e refino de solventes, óleos
minerais, vegetais e animais. Fabricação de concentrados aromáticos
naturais, artificiais e sintéticos. Fabricação de preparados para limpeza e
polimento, desinfetantes, inseticidas, germicidas e fungicidas. Fabricação
de tintas, esmaltes, lacas , vernizes, impermeabilizantes, solventes e
secantes. Fabricação de fertilizantes e agroquímicos. Fabricação de
produtos farmacêuticos e veterinários. Fabricação de sabões, detergentes e
velas. Fabricação de perfumarias e cosméticos. Produção de álcool etílico,
metanol e similares.

Indústria de produtos de matéria plástica: Fabricação de laminados


plásticos. Fabricação de artefatos de material plástico.

Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos:


Beneficiamento de fibras têxteis, vegetais, de origem animal e sintéticos.
Fabricação e acabamento de fios e tecidos. Tingimento, estamparia e
outros acabamentos em peças do vestuário e artigos diversos de tecidos.
Fabricação de calçados e componentes para calçados.

Indústria de produtos alimentares e bebidas: Beneficiamento, moagem,


torrefação e fabricação de produtos alimentares. Matadouros,
abatedouros, frigoríficos, charqueadas e derivados de origem animal.
Fabricação de conservas. Preparação de pescados e fabricação de
conservas de pescados. Preparação , beneficiamento e industrialização de
leite e derivados. Fabricação e refinação de açúcar. Refino / preparação de
óleo e gorduras vegetais. Produção de manteiga, cacau, gorduras de origem
animal para alimentação. Fabricação de fermentos e leveduras. Fabricação
de rações balanceadas e de alimentos preparados para animais. Fabricação
de vinhos e vinagre. Fabricação de cervejas, chopes e maltes. Fabricação de
bebidas não alcoólicas, bem como engarrafamento e gaseificação de águas
minerais. Fabricação de bebidas alcoólicas.

Indústria de fumo: Fabricação de cigarros/charutos/cigarrilhas e outras


atividades de beneficiamento do fumo.
Indústrias diversas: Usinas de produção de concreto. Usinas de asfalto.
Serviços de galvanoplastia.

Obras civis: Rodovias, ferrovias, hidrovias, metropolitanos. Barragens e


diques. Canais para drenagem. Retificação de curso de água. Abertura de
barras, embocaduras e canais. Transposição de bacias hidrográficas. Outras
obras de arte.

Serviços de utilidade: Produção de energia termoelétrica. Transmissão de


energia elétrica. Estações de tratamento de água. Interceptores, emissários,
estação elevatória e tratamento de esgoto sanitário. Tratamento e
destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos).
Tratamento/disposição de resíduos especiais tais como: de agroquímicos e
suas embalagens usadas e de serviço de saúde, entre outros. Tratamento e
destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aqueles provenientes de
fossas. Dragagem e derrocamentos em corpos d’água. Recuperação de
áreas contaminadas ou degradadas.

Transporte, terminais e depósitos: Transporte de cargas perigosas.


Transporte por dutos. Marinas, portos e aeroportos. Terminais de minério,
petróleo e derivados e produtos químicos. Depósitos de produtos químicos
e produtos perigosos.

Turismo: Complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e


autódromos.

Atividades diversas: Parcelamento do solo. Distrito e pólo industrial.

Atividades agropecuárias: Projeto agrícola. Criação de animais. Projetos de


assentamentos e de colonização.
Uso de recursos naturais: Silvicultura. Exploração econômica da madeira
ou lenha e subprodutos florestais. Atividade de manejo de fauna exótica e
criadouro de fauna silvestre. Utilização do patrimônio genético natural.
Manejo de recursos aquáticos vivos. Introdução de espécies exóticas e/ou
geneticamente modificadas. Uso da diversidade biológica pela
biotecnologia.

Importa aqui mencionar a Resolução 001/86 do CONAMA, mais precisamente


seu artigo 2º, o qual determina:7

Artigo 2º – Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e


respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à
aprovação do órgão estadual competente (…) o licenciamento de atividades
modificadoras do meio ambiente, tais como:

I – Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II – Ferrovias;

III – Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV – Aeroportos (…)

V – Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de


esgotos sanitários;

VI – Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;

VII – Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:


barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de

7 http://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/legislacao/MMA/RE0001-230186.PDF
irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação,
retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras,
transposição de bacias, diques;

VIII – Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);

IX – Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de


Mineração;

X – Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou


perigosos;

Xl – Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia


primária, acima de 10MW;

XII – Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,


siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo
de recursos hídricos);

XIII – Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;

XIV – Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de


100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;

XV – Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de


relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e
estaduais competentes;

XVI – Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade


superior a dez toneladas por dia.

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